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RESENHA CRÍTICA O Alienista

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Resenha Crítica de Caso 
GISELLE DE JESUS ANGELO
202005038382
 Trabalho da disciplina: História da Psiquiatria e a Reforma Psiquiátrica.
 Tutor: Prof. Cristiane Guimarães
	
RJ
2020
O ALIENISTA
Referências 
ASSIS, M. O alienista. São Paulo: Ática, 2000. BENJAMIN, W. O narrador. In: ___ et. al. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os pensadores) p. 57-74.
CARNAÚBA, Raquel Arruda; PELIZZARI, Cláudia Camargo Arthou Santanna; SILVA JÚNIOR, Jorge Ubiratan de Almeida. Normal x Anormalidade: a relatividade dos termos. CES REVISTA | Juiz de Fora | v. 31, n. 2 (2017) | ISSN 1983-1625
RAMALHO. Admirável gado novo: lançada em 1979. Disponível em: https://m.letras.mus.br/ze-ramalho/49361/. Acesso em 31 de maio. 2020.
 O conto ‘’O alienista’’ escrito por Machado de Assis diserta sobre um médico chamado Dr. Simão Bacamarte, Simão ressaltava que a ciência era Sua Majestade e seu único emprego. O médico aos 40 anos se casou com D. Evarista da Costa de 25, sua esposa não apresentava beleza nem simpatia, porém foi escolhida segundo o médico por apresentar indícios fortes de procriação satisfatória como filhos fortes, inteligentes e sãos. No início do texto já podemos notar a fixação do médico pela ciência. Toda via em cinco anos D. Evarista ainda não tinha lhe dado filhos, contrariando a teoria do Dr. Simão que logo se encarregou em pesquisar e proporcionar um cardápio peculiar dotado exclusivamente de carne de porco para estimular a fertilidade de sua mulher, D. Evarista não atendeu as restrições alimentares impostas pelo marido. Sendo assim, Dr. Simão buscou consolo por não possuir filhos fortes nem franzino na ciência. Agora focado na área psíquica e patológica, chamada por ele de ‘’saúde da alma’’ descrita pelo mesmo como a área mais digna dos estudos médicos. 
 Dr. Simão notou que os loucos mais agressivos eram aprisionados em suas próprias casas durante toda sua existência, sem ter a oportunidade de uma cura, mas sim de uma descura. Já os loucos mansos tinham liberdade. Decidiu então trancar todos os loucos em uma única casa, assim nasceu o manicômio Casa Verde. Em pouco tempo a Casa estava com super lotação, no início os critérios de internação eram mais rígidos e aceitos passivamente pela sociedade, depois os critérios passaram a ficar cada vez menos abrangentes, deixando a população em alerta. Costa por exemplo, foi internado na Casa Verde por perder toda sua herança, pois emprestava dinheiro e não sabia cobrar. Dr. Simão 
obcecado via loucura em todo lugar. Havia um barbeiro, seu nome Porfírio, era muito ambicioso, movido pela política, vantagens próprias e poder, decidiu mobilizar a população contra o médico, armou então a Revolta dos Canjicas (assim que o barbeiro era conhecido, Canjica). População revoltada, forças armadas acionadas, ao contrário do que todo mundo pensava, as forças armadas não foi controlar a multidão e sim se juntar a ela. Porfírio, vendo-se cheio de poder como líder da Revolução, dirigiu-se para Câmera do Vereadores, agora com o poder desde o início almejado. Ao invés de despedi o Médico, Porfírio se juntou a ele e o fortaleceu. 50 apoiadores da Revolução Canjica foram internados, Porfírio traiu seu próprio povo. Outro barbeiro, João Pina, fez uma confusão gigantesca que Porfírio foi deposto do seu cargo, então João Pina assumiu o poder. Nesse momento a população estava diante de um novo governo, mas de velhas ações, o barbeiro João Pina também não derrubou a Casa Verde, a fortaleceu mais uma vez. As internações continuaram a todo vapor, 75% da população encarcerada, até D. Evarisca foi presa na Casa Verde por ficar uma noite inteira sem dormir com dificuldade em escolher um vestido adequado para uma ocasião especial. Simões percebeu que sua teoria estava errada, libertou todos aprisionados da Casa Verde e refez sua teoria. Refletiu então que seria o contrário, já que a maioria das pessoas não seguiam uma norma padrão e apresentavam desvios de personalidade, então os loucos eram os que tinham regularidade nas atitudes e firmeza de caráter. Com o passar do tempo Dr. Simão percebeu que sua segunda teoria estava incorreta novamente, como ninguém é perfeito em personalidade exceto ele, concluiu que era o único anormal da cidade e resolveu se trancar para sempre na Casa Verde.
No texto resumido podemos notar pontos importantes de discussão, como principal, a supervalorização do saber médico e a medicalização. De modo geral medicalização é quando abordamos questões não médicas como questões médicas (ROSE,2007a). Por exemplo, quando Simão aprisionou Costa na Casa Verde por gastar toda sua fortuna fazendo empréstimos que não eram cobrados e quando aprisionou a própria esposa por pensar demais em que roupa usaria. A medicina vista como repertório da verdade, especialistas com uma suposta assertiva, clareza e moralidade neutra, dando sentenças de juízos. Assim como Dr. Simões que ao final da crônica era o único com perfeita personalidade e conduta. Peter Conrad (1975; 2007) definia a medicalização quando problemas ou comportamentos não médicos são tratados como transtorno ou doença, sendo
 responsabilidade da profissão médica a ofertar de tratamento. Dentro desse quadro a singularidade dos indivíduos não é respeitada e fica a critério da medicina estabelecer um padrão de normalidade. Ha uma relatividade nos termos normal x anormal, a cultura é uma variável que não pode ser dispensada, pois é influenciadora na forma como a sociedade se expressa e monta suas regras, estabelecendo o que é aceitável e o que é abominoso. As definições de doença mental, loucura, anormal, normal estão relacionadas diretamente com as práticas culturais e são modificáveis ao longo da história. Geertz (2008) observa o homem como um ser preso nas teias de definições que ele mesmo criou, e considera a cultura como sendo essas teias, como uma ciência interpretativa que procura significado. O conto também aborda outro ponto, as relações de poder dentro da sociedade e a população usada como massa de manobra para ganhos pessoais políticos. A música Admirável Gado Novo de Zé Ramalho faz crítica a "vida de gado", a canção serve para descrever quem defende um partido ignorando acusações contra seus políticos e aumentando acusações contra seus adversários, reproduzindo pensamento único, sem questionamentos críticos. Um trecho da letra diz "o povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela e sonham com melhores tempos idos, contemplam esta vida numa cela." Podemos fazer uma analogia com a luta do povo contra o Dr. Simão, quanto mais a sociedade buscava liberdade, mas se aprisionava na Casa Verde, sendo enganada por Porfírio e enganada novamente por João Pina. A revolução Canjica em busca de medir força com o sistema, comicamente estreitou os laços com a ignorância através dos golpes políticos.

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