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PSICOPATOLOGIA ESPECIAL Professor Tom Rodrigues AULA 5: Neuroses e Síndromes Neuróticas. Origem e desenvolvimento do Eu (ontogenia do Eu) ● No início da vida não há, entre o Eu e o mundo exterior, discriminação e delimitação claras; ◦ Aos 4 anos, o autoconceito já é mais abrangente. ● Esta diferenciação vai sendo construída ao longo da primeira infância; ● O Eu, para a psicanálise, é formado como um mosaico de identificações que dão o efeito de um sujeito único idêntico a si mesmo. ◦ A atribuição de um nome próprio e a própria imagem corporal refletida no espelho ajudam nessa função ao darem a impressão de um mesmo que continua “igual”. Aspectos que envolvem a formação do Eu: ● Contato contínuo com a realidade (Teste de realidade); ● Investimento amoroso e narcísico sobre a criança; ● Projeção dos desejos inconscientes dos pais sobre a criança; ● Identificações da própria criança (introjeções do Outro). “O Eu é um Outro” (Arthur Rimbaud) No início... ● Um corpo erógeno que conhece a falta; ● Desta forma, desde o princípio o Eu surge como uma instância intermediária entre o Isso e a realidade. Ou seja, o Eu surge como um mecanismo de sobrevivência, como uma defesa; ◦ Princípio do prazer x princípio de realidade: princípio do prazer possível. ● Para a psicanálise, importam bastante os conflitos e as contradições: geradores de marcas e traumas. Traumas e a constituição subjetiva do Eu ● Psicanálise: ressignifica o conceito “Trauma psíquico”: encontro com o traumático. ● Para a psicanálise, todo sujeito humano não apenas passará por traumas psíquicos como será moldado por eles. ● Ou seja, somos o resultado do modo como enfrentamos nossos traumas: ◦ Encontro com a própria sexualidade (auto-erotismo e masturbação); ◦ Encontro com a sexualidade dos pais (cuidadores); ◦ Surgimento de irmãos e outros interesses dos pais; ◦ Encontro com a própria agressividade; ◦ Encontro com os limites impostos pela realidade. ● Na neurose, pensar sobre o Outro e seu desejo é fundamental. ● A dúvida é critério diagnóstico fundamental para a Neurose. ● Nós humanos somos estranhos; ● Nós humanos somos absurdos; ● Nós humanos somos indefesos, incapazes de sobreviver sozinhos; ● Nós humanos somos completamente dependentes um dos outros; ● Nós humanos construímos a linguagem e um complexo mundo social justamente por dependerem um dos outros; Como a psicanálise busca compreender a subjetividade? ● Necessidade: exigência relacionada à sobrevivência cuja satisfação se dá com um objeto concreto (o alimento, por exemplo) e não com uma fantasia. ● Desejo: Expressão da pulsão, se satisfaz parcialmente com uma fantasia. ◦ A fantasia inconsciente (ou o “fantasma”) tem grande importância na compreensão dos sintomas psicopatológicos em Psicanálise. ● Vontade: O que queremos conscientemente, reconhecemos e admitimos. ● Desejo é o que nos torna o que somos; ● Os caminhos (também inconscientes) que percorremos na busca por nosso desejo é que nos fazem singulares; ● Pensar o sintoma como experiências de repetição. O que é desejo ics? O Eu e seus mecanismos de Defesa ● DEFESA em psicanálise: ◦um conjunto de operações que, agenciadas pelo Eu de um sujeito, tem por finalidade “reduzir ou suprimir qualquer modificação suscetível de pôr em perigo a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico” (Laplanche & Pontalis, 1967/2008, p. 107). ◦Ou seja, o Eu se “defende” daquilo que é lido como mau, anormal, incoerente com seus ideais e exigências morais, etc. Grandes questões que “perturbam” o “Eu”: ● Cena primária: “De onde eu vim?”; ● Complexo de castração: “No que consiste a diferença sexual?”; ● Sedução/Complexo de Édipo: “De onde vem a sexualidade?”. “É fácil verificar que é precisamente a vida sexual que traz em si as mais numerosas oportunidades para o surgimento de representações incompatíveis” (Freud, 1894, p. 59) O Eu e seus mecanismos de Defesa ● Alguns dos principais mecanismos de defesa do Eu: ◦Negação; ◦Repressão; ◦Projeção; ◦Deslocamento; ◦ Formação de reação; ◦Regressão; ◦ Intelectualização; ◦ Identificação; ◦ Sublimação. MECANISMOS DE DEFESA • repressão, deslocamento, formação reativa • isolamento, somatização, conversão.neuróticos • dissociação, identificação projetiva • introjeção, negaçãoprimitivos • supressão, altruísmo • Sublimação (criação artística e intelectual), humor. maduros 15 A Neurose ● Conflito entre o Eu (ego) e o Isso (Id). ◦ Principal mecanismos de defesa utilizados: ⚫ repressão/recalque; deslocamento; formação reativa; isolamento; anulação; somatização; conversão. ◦Há um fator econômico (força pulsional) envolvido; ◦Na neurose, desejos reprimidos encontram forma de se expressar: no sintoma; ◦O recalque é o que bota o desejo para fora da consciência e a resistência é o que o mantém lá. A Neurose ● Com a repressão, há uma divisão entre o afeto e a ideia; ◦Quando este afeto deslocado é deslocado para o corpo: neurose histérica; ◦Quando este afeto deslocado se volta a um objeto ou situação fóbica: fobia; ◦Quando este afeto deslocado encontra uma ideia substitutiva e, posteriormente, em compulsões: neurose obsessiva (TOC). ● De acordo com Dalgalarrondo (2008): “O constructo neurose fornece essa moldura conceitual e classificatória que abarca a grande sobreposição e o intercâmbio de sintomas da série da ansiedade, da fobia, da obsessão, da frustração, da dissociação e da somatização” (p. 319). No centro de todas as neuroses, está a angústia. O que a angústia? ● A palavra “angústia” tem a sua origem no grego “ANGOR”, que no latim derivou “ANGUSTUS” que, por sua vez, significa 'estreitamento'. Para a psicologia, por que uma compreensão psicodinâmica dos diagnósticos é importante? HISTERIAS Histerias ● Pela pluralidade de fragmentações realizada pela CID-10 dos quadros histéricos, estes serão melhor abordados na próxima aula. NEUROSES OBSESSIVAS Neuroses Obsessivas ● Na CID-10 e no DSM-V apresenta-se como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) [F42]; ● Caracterologia Obsessiva: presença permanente e predominante dos conhecidos traços de meticulosidade, controle, dúvida, intolerância, etc. ● Para Freud (1907): “a religião é uma neurose obsessiva universal, enquanto a neurose obsessiva é uma religião em particular”; Neuroses Obsessivas ● Enquanto o termo obsessão refere-se aos pensamentos que infiltram-se na mente e atormentam o indivíduo, o termo compulsão designa os atos motores que o sujeito executa como uma forma de contra-arrestar a pressão dos referidos pensamentos; ● Muitas vezes, criam-se relações bizarras entre fatos no pensamento (Ex: “Se eu me ajoelhar agora, minha mãe não morrerá”); ● Negação do desejo e controle. Possíveis etiologias: (Zimerman, 1999) ● Excessivas exigências paternas; ● Estreita relação com a fase sádico-anal do desenvolvimento infantil. ● Para Freud, ideias obsessivas vem ocupar o lugar de outras ideias reprimidas, que são inaceitáveis para o sujeito; ◦ Ou seja, elas substituem o pensamento considerado imoral. ◦ Quando estas ideias aproximam-se da consciência, tendem a surgir os rituais compulsivos (que com o tempo tornam-se cada vez mais complexos). FOBIAS Fobias ● Síndromes fóbicas caracterizam-se por medos, intensos e irracionais, de situações, objetos ou animais que objetivamente não oferecem perigo real ou proporcional à intensidade deste medo; ● No DSM, situa-se entre os Transtornos de Ansiedade; ● Quadros fóbicos são frequentes e comuns na infância (relacionam-se principalmente com a “fase fálica” do desenvolvimento infantil); ● Etiologia: Há um deslocamento e uma simbolização projetiva da “angústia de castração” para o objeto ou situação fobígenos; ◦ Ansiedades de “engolfamento” (função materna) e de “separação” (função paterna). Exemplos da CID-10 (1993): ● Agorafobia [F40.0]: medo e angústia relacionam-se a espaçosamplos ou com muitas pessoas (não há possível “fuga”). ● Fobias sociais [F40.1]: medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam expor-se ao contato interpessoal. ● Fobias específicas [F40.2]: medo intenso, persistente, desproporcional e irracional, como medo de animais (barata, sapo, etc), medo de ver objetos como seringas, sangue, faca, etc. A exposição ao objeto fobígeno geralmente deflagra uma crise de angústia ou mesmo de pânico. Fobia Social - Ansiedade antecipatória; - Criação de fantasias envolvendo a fobia; - Redução das possibilidades existenciais; - Dificuldades em manter uma vida funcional; - Abuso de substâncias psicoativas; - Sintomas físicos (sudorese, rubor das faces, taquicardia). Diferenciando sintomas fóbico-ansiosos de sintomas obsessivo-compulsivos ● O que diferencia estes quadros sintomáticos é o foco em que se dá a angústia: ◦ Nos sintomas fóbicos a ansiedade é evocada por certas situações ou objetos bem definidos e que se encontram no ambiente externo ao indivíduo (como locais cheios ou animais) ◦ Nos quadros obsessivo-compulsivos o foco da ansiedade está em pensamentos obsessivos que quase invariavelmente são angustiantes (porque são violentos e obscenos ou simplesmente porque são percebidos como sem sentido para os sujeitos). CASOS CLÍNICOS DE SIGMUND FREUD (1956-1939) Caso Dora Um caso de Histeria O Homem dos Ratos Um caso de Neurose Obsessiva O Pequeno Hans Um caso de Fobia Infantil Sugestões ● Cafés-filosóficos: ◦ As transformações do sofrimento psíquico – Christian Dunker; ◦ O paciente psiquiátrico e seus lugares na cena contemporânea – Alfredo Simonetti. ● Filmes: ◦ O Aviador – Martin Scorsese (2004); ◦ O cheiro do ralo – Heitor Dhalia (2006); ◦ Dirigindo no Escuro – Woody Allen (2002); ◦ Toc Toc - Vicente Villanueva (2017). Bibliografia de Freud: ● Estudos sobre a histeria (1893-1895); ● Fragmento da análise de um caso de Histeria (1905); ● Atos obsessivos e práticas religiosas (1907); ● Análise de uma Fobia de um menino de cinco anos (1909); ● Notas sobre um caso de Neurose Obsessiva (1909); ● Tipos de desencadeamento da neurose (1912); ● A disposição à Neurose Obsessiva (1913); ● História de uma Neurose Infantil (1918); ● Neurose e Psicose e A perda da realidade na Neurose e na Psicose (1924); ● Inibições, Sintomas e Ansiedade (1926); ● A divisão do Ego no processo de Defesa (1940). Próxima Aula ● Transtornos neuróticos relacionados ao estresse e somatoformes ● Leitura base: ◦ OMS. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993 (F40-F48), p. 130-170.
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