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COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR AULA 1 Prof. Ademir Bueno 2 CONVERSA INICIAL Entender a origem do empreendedorismo e as formas como os empreendimentos foram organizados em seus primórdios é uma necessidade para futuros administradores, pois assim podem entender as mudanças, as evoluções e as necessidades de atuação na atualidade de forma mais contextualizada. Os objetivos desta aula são apresentar o histórico do empreendedorismo, correlacionando-o ao surgimento do sistema capitalista de produção; apresentar conceitos e diferenças entre empreendedorismo, empreendimento, empreendedor e intraempreendedor; diferenciar os tipos de empreendedores existentes; conceituar e distinguir as funções do administrador, empreendedor e gestor; e, por fim, discutir as características do empreendedor e intraempreendedor. CONTEXTUALIZANDO Você sabia que, como estudante, você é considerado um empreendedor? Sabe por quê? Todo aquele que tem projetos e dedica-se a iniciá-los e concluí- los é considerado empreendedor. Logo, iniciar e terminar um curso superior é algo para poucos, para aqueles que possuem garra, determinação e muita dedicação, que são características do empreendedor. Mas qual é o seu perfil enquanto empreendedor? Esperamos que o conteúdo desta aula o aproxime dessa resposta. TEMA 1 – HISTÓRICO DO EMPREENDEDORISMO A história do empreendedorismo no mundo se confunde com o surgimento, crescimento e desenvolvimento do capitalismo, pois, com essa forma de organização da produção da vida na terra, muda-se a configuração dos negócios, como são iniciados, como são geridos, para quem estão voltados, o que e como são produzidos os bens e serviços, bem como seus impactos na vida e na organização social. Antes do capitalismo, era o feudalismo o sistema de organização social que se desenvolveu. Tratou-se de um sistema econômico, político e social fundamentado na posse da terra. O senhor feudal era dono de uma grande faixa de terra em suas cercanias e admitia vassalos que se sujeitavam a produzir nas 3 terras do feudo pagando com trabalho, produção e impostos para ali permanecer. O senhor feudal possuía sobre seu feudo poderes jurídicos e políticos. Produzia-se para a subsistência, não havendo grandes excedentes, mas quando estes existiam, fazia-se permuta ou escambo, em que se trocava um produto pelo outro com vistas a satisfazer as necessidades de ambos. A terra era dividida em setores ou partes, conforme podemos observar na Figura 1: Figura 1 – Organização de um feudo Crédito: Magnon Almeida A tentativa de integrar-se a um feudo deu-se no sentido de buscar proteção e segurança, coisa que já não se podia encontrar nos povoados da época. Mas, aos poucos, a terra foi perdendo seu vigor, pelo uso constante sem o devido tratamento e correções, pelas enchentes e por causa dos desmatamentos e uso contínuo do solo. A produção era artesanal: o vassalo ia à natureza, retirava elementos que lhe fossem úteis para a produção de algum objeto ou produto e fazia todo o processo até ter em suas mãos o que havia planejado. O desgaste da terra, a baixa produção e o aumento de impostos contribuíram para o descontentamento dos vassalos, que começaram a migrar 4 para os povoados e cidades mais próximas. Nesses espaços, a sobrevivência era tão ou mais complicada que na área rural. As necessidades de itens básicos, como roupas e comida, não era mais como no passado. Não era possível produzir tudo o que se precisava, muito menos trocar uma coisa pela outra. Aos poucos, a forma de organização social, econômica e política vai se transformando e surge, a partir do século XVII, o capitalismo. Nesse novo sistema, os donos do capital possuem os meios de produção (local, máquinas e utensílios e o capital, é claro) e ao homem “comum” só lhe resta a venda de sua força de trabalho para apresentá-la como moeda de troca com o capitalista. Assim, um tem o poder financeiro para adquirir a força de trabalho do outro e dela se apropriar, mediante salário e dela fazer o uso que lhe aprouver. O capitalismo baseia-se na posse e na administração do capital. Aqueles que o possuem têm o poder dos meios de produção e, por isso, controlam como irão organizá-lo para obter lucro, o que é algo novo na relação homem/trabalho, pois no feudalismo o pagamento era feito com parte do que se produzia e por meio do pagamento impostos; agora, o trabalhador tem de vender sua força de trabalho em troca de um salário. Ele não é mais o dono dos meios de produção, como quando era o artesão, que dominava o processo do início, meio e fim. Agora lhe resta vender sua força de trabalho, sujeitar-se ao capitalista que, por meio de seu esforço, produz o lucro. Vários foram os fatores que contribuíram para o surgimento e a estruturação do capitalismo como organização social, econômica e política, mas com certeza as revoluções industriais constituíram em marcos, em fatores que impulsionaram essa nova forma de organização. As revoluções industriais foram mudanças significativas advindas de invenções ou melhorias em máquinas, utensílios, equipamentos, fontes de energia, processos e especialmente na organização do trabalho que possibilitaram o surgimento e a estruturação do capitalismo como forma de organização da produção da vida material na terra. A seguir, apresentamos as características e respectivas influências dessas Revoluções sobre a forma de organização de produção. Para tanto, utilizaremos das descrições feitas por Chiavenato, em seu livro Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações, de 2003. 5 O autor inicia sua explanação destacando que foi a invenção da máquina a vapor por James Watt e sua utilização junto aos processos produtivos que levaram a uma nova concepção de trabalho. Segundo ele, esse equipamento “modificou completamente a estrutura social e comercial da época, provocando profundas e rápidas mudanças de ordem econômica, política e social” (Chiavenato, 2003, p. 33). Essas alterações não se processaram do dia para a noite, mas foram profundas e marcaram uma nova forma de utilização da energia, não mais à mercê do tempo, em termos climatológicos, pois sim deu ao homem a supremacia de poder ter à sua mão outra forma de energia, a qual podia ser controlada, condicionada à vontade humana, e não como ocorria até então, em que um navio se movimentava graças ao vento, que se não fosse forte o suficiente, deixava a embarcação parada. Os moinhos sofriam do mesmo mal: quando os rios tinham seus níveis reduzidos, as atividades eram prejudicadas. Com o advento dessa importante máquina para a história humana, há um controle maior sobre o fornecimento de energia. Segundo Chiavenato (2003, p. 33), a Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra e pode ser dividida em duas épocas: • 1780 a 1860: 1ª Revolução Industrial ou revolução do carvão e do ferro; • 1860 a 1914: 2ª Revolução Industrial ou do aço e da eletricidade. Quadro 1 – Quatro fases distintas da Revolução Industrial Fase Data Acontecimentos relevantes 1ª Fins do século XVIII Máquina de fiar – Hargreaves (1767) Tear hidráulico – Arkwright (1769) Tear Mecânico – Cartwright (1785) Descaroçador de algodão – Whitney (1792) Todas substituíram o trabalho muscular do homem, do animal ou da roda de água. Aumentaram em muitas vezes a produtividade. 2ª Meados de 1776 Invenção da máquina a vapor por Watt Aplicação do vapor às máquinas. De oficinas a fábricas. Relevantes transformações nos transportes, nas comunicações e na agricultura. 3ª Final do século XVIII e início do XIX Desenvolvimento do sistema fabril. Sai de cena o artesão e entra em seu lugar o operário. Surgimento de fábricas e usinas baseadas na divisão do trabalho. Novas indústrias em detrimento da atividade rural. Migraçãodas áreas agrícolas para as proximidades das fábricas levando à urbanização. (continua) 6 (continuação do Quadro 1) 4ª Início do século XIX Aceleramento dos transportes e das comunicações. Surgimento da navegação a vapor – Robert Fulton (1807) Surgimento da Estrada de Ferro na Inglaterra (1825) Telégrafo elétrico – Morse (1835) Telefone – Graham Bell (1876) Aparecem os efeitos do enorme desenvolvimento econômico, social, tecnológico e industrial. Fonte: Chiavenato, 2003. Como já descrito, a partir de 1860, a Revolução Industrial passa para a segunda fase, influenciada pelos seguintes eventos: • Aparecimento do processo de fabricação do aço (1856); • O aperfeiçoamento do dínamo (1873); • Invenção do motor de combustão interna (1873). Segundo Chiavenato (2003), as características da 2ª Revolução Industrial foram as seguintes: • Substituição do ferro pelo aço como material industrial básico; • Substituição do vapor pela eletricidade e derivados de petróleo como fontes de energia; • Desenvolvimento da maquinaria automática e da especialização do trabalhador; • Crescente domínio da indústria pela ciência; • Transformações radicais nos transportes e nas comunicações; • Desenvolvimento de novas formas de organização capitalista, que sai do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro. Chiavenato (2003, p. 34) ainda afirma que “A calma produção do artesanato – em que os operários se conheciam e eram organizados em corporações de ofício regidas por estatutos –, foi substituída pelo regime de produção por meio de máquinas, dentro de grandes fábricas. Em função disso, houve uma súbita transformação”. A transformação foi o surgimento das empresas capitalistas, que reuniam no mesmo espaço físico máquinas, equipamentos, utensílios, matéria-prima e especialmente os trabalhadores, que agora deveriam seguir regras e normas impostas pelos capitalistas, como quantidade de horas trabalhadas, quantidade a ser produzida, atendimento a padrões a serem produzidos. 7 1.1 Fases do capitalismo 1.1.1 Capitalismo comercial Nessa fase, o que se busca é expandir os territórios de comercialização dos produtos manufaturados. É a época das grandes navegações e expansão de negócios para outros continentes, bem como do domínio de outros territórios e países, conhecido como a busca e domínio de novas colônias. 1.1.2 Capitalismo industrial É uma das marcas do final do século XIX e início do XX. É o momento das grandes corporações, conglomerados e empresas. Graças às revoluções industriais, foi possível a organização de grandes estruturas fabris. Os produtos industrializados eram comercializados nos centros urbanos, que só cresceram nessa época e também serviram para exportação e comercialização junto às colônias dos países centrais, das quais provinham as matérias-primas e metais preciosos. 1.1.3 Capitalismo financeiro Segundo alguns autores, ele é fruto da junção do capitalismo industrial, grandes conglomerados, com o capital financeiro proveniente da abertura do capital em bolsa, de financiamentos para a estruturação de grandes negócios e perdurou durante quase todo o século passado. 1.1.4 Capitalismo informacional Resultado das novas tecnologias, especialmente o advento e o desenvolvimento da internet e sistemas computacionais. O controle do mundo dos negócios é possível hoje na palma da mão com os smartphones, computadores, tablets e notebooks. As novas tecnologias levaram as relações do capital com o mercado para novos patamares. 1.1.5 Capitalismo contemporâneo Ainda têm forte impacto as novas tecnologias desenvolvidas nas últimas décadas, com níveis de controles nunca vistos, com possibilidades de controle 8 e comando presentes nas mãos de quem tem o capital ou seus representantes. Esse momento também é marcado por novos modelos de negócios, inovadores e diferentes, que, segundo alguns observadores de tendências, pode ser o início de uma nova fase, do consumo consciente, do compartilhamento, dos negócios sustentáveis, da economia criativa e também solidária, temas que veremos posteriormente. A seguir apresentaremos conceitos de empreendimento, empreendedores e empreendimento. TEMA 2 – CONCEITOS E CONTEXTO Vamos iniciar pelo conceito que dá nome à área da administração que estuda a estruturação de negócios, o perfil de quem os inicia, seus motivos, a conjuntura em que esses negócios têm origem e são geridos: trata-se do campo do empreendedorismo, que se preocupa e cuida desses assuntos. Para Biagio (2012, p. 13), “empreendedorismo é a área de conhecimento dedicada a estudar os processos de idealização de empreendimentos, destacando tanto o valor de uma ideia como a sua capacidade de agregar valor ao que já existe (produto e processo)”. Já empreendedor é toda pessoa que possui um projeto, dedica tempo e energia, podendo gastar dinheiro para tornar seu projeto uma realidade. Podemos usar como exemplo aquele que busca um curso superior para aumentar sua qualificação, quem se planeja para comprar um automóvel, fazer uma viagem importante, realizar um projeto em sua comunidade, melhorar sua capacitação por meio de algum curso específico. Tudo isso é empreender, pois sem planejamento, organização, dedicação e comprometimento nenhum desses projetos sairá da mente ou do papel. Ele não é somente um fundador de novas empresas, o construtor de novos negócios ou o consolidador e impulsionador de negócios atuais. Ele é muito mais do que isso, pois proporciona a energia que move toda a economia, alavanca as mudanças e transformações, produz a dinâmica de novas ideias, cria empregos e impulsiona talentos e competências. Mais ainda: ele é quem fareja, localiza e rapidamente aproveita as oportunidades fortuitas que aparecem ao acaso e sem pré-aviso, antes que outros aventureiros o façam. (Chiavenato, 2012, p. 3) O conceito clássico do que é ser empreendedor é aquela pessoa que inicia um novo negócio ou compra um já existente, dedicando-se para que o 9 empreendimento seja um sucesso. As características do empreendedor e sua forma de atuação passaram por grandes transformações nos últimos 200 anos. E o empreendimento, o que é? É todo e qualquer projeto do empreendedor, que possa ser a modelagem de um negócio, a elaboração de um plano de negócios, o início de um negócio em si, a compra de uma empresa já existente, uma viagem, a construção de uma casa, a compra de um carro. Assim, fica claro que o empreendimento é o que move o empreendedor na direção de seus objetivos. Os conceitos são diversos e alguns bastante amplos, mas em geral tratam de uma figura reconhecível quando estamos diante dela, seja por seu comportamento, seja pela sua motivação e empolgação, seja pela paixão que demonstra por seus projetos. Mas quando conhecemos de fato os empreendedores, vemos que, além dessas características, essas pessoas são também racionais e com visão de longo prazo. São empreendedores, mas não iguais em seu perfil, pois existem tipos diferentes, e é a esse tema que nos dedicamos a seguir. TEMA 3 – TIPOS DE EMPREENDEDORES A depender do autor que se consulte, teremos a apresentação de alguns tipos de empreendedores, pois esses podem variar, a depender de quem escreve e no que se baseia. Quando optamos em descrever perfis, estamos apenas destacando algumas características que se evidenciam em umas pessoas e não em outras, pois somos resultantes dos aspectos biopsíquicosociais, e esses perfis podem apresentar variações, a depender justamente desses fatores. A seguir, apresentamos diversos tipos de empreendedores, descritos por Dornelas (2015) em seu livro Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso: 10 Quadro 2 – Tipos de empreendedores Tipo Descrição do perfil Empreendedor informal (necessidade) É aquele que criaseu empreendimento por necessidade, como meio de subsistência, está desempregado faz tempo, busca uma fonte de renda para manter a si e sua família. São negócios que pouca contribuição ao desenvolvimento econômico oferece. Eles são resultantes das políticas econômicas-sociais dos governos centrais, mas são muito esforçados e guerreiros, pois sabem que o prato de comida seu e o de sua família dependem de seu empreendimento e desempenho. Empreendedor cooperado É mais um associado que se uniu a outras com vistas a ganhar força, a se organizar melhor, a ter algum tipo de apoio. Pode ser um cooperado de periferia que está atuando numa panificadora comunitária, uma empresa de costura, de catadores de recicláveis, entre outros. É uma porta para deixar de ser empreendedor por necessidade e ganhar mais força e autonomia. Muitos destes estão na categoria da economia solidária. Empreendedor individual É o antigo empreendedor informal ou mesmo cooperado que avançou e conseguiu se formalizar, tornando-se um MEI. Aumenta seu faturamento e sua organização e estrutura podem dar passos mais largos com o decorrer do tempo, ou permanecer pequeno, mas estruturado. A grande vantagem é que tem alguma segurança em caso de imprevisto ou doença. Empreendedor franqueado Ele torna-se empresário por meio de uma marca já conhecida no mercado, que se transformou em franquia, pois cresceu e estruturou-se tendo condições de ter outros profissionais tocando seu negócio, mantendo as características e padrões estabelecidos. Há vantagens e desvantagens desse tipo. Uma coisa é certa: trabalha-se tanto ou mais do que ao começar um negócio do zero. Empreendedor social Seu foco maior é o mundo que o cerca. Dedica-se fortemente a construir um mundo melhor, com vistas a fazer a diferença para pessoas, meio ambiente ou animais. É um altruísta. Por vezes, faz sacrifícios pessoais para ajudar os outros e não mede esforços, tempo ou mesmo recursos próprios para fazer o bem. E o que é mais impressionante é que faz tudo isso sem esperar nada em troca. Não busca o lucro, mas resultados financeiros que são aplicados na manutenção do empreendimento e/ou reinvestidos na causa, para fazê-la crescer e prosperar. Empreendedor corporativo (intraempreendedor) É uma figura que se destaca entre os colaboradores por seu grau de motivação, de iniciativa, de disposição para o novo, para superar dificuldades e atuar para fazer a diferença para a corporação e para sua carreira. Ele olha e trata o negócio como se fosse o dono. Empreendedor público São servidores no sentido mais amplo da palavra. Estão dispostos a fugir do estereótipo do típico funcionário público. Tem energia e disposição para servir, para colocar-se no lugar do contribuinte; tem iniciativa e criatividade para fazer a diferença, mesmo com recursos mínimos ou frente às resistências típicas do serviço público. Empreendedor do conhecimento São figuras de destaque em sua área de atuação, mas geralmente não fazem parte de uma empresa; são a própria empresa, como um advogado, psicólogo, médico, atleta, músico. Esses, com base em conhecimentos adquiridos ou que buscaram com seu esforço e dedicação ganham destaque frente aos seus pares. Fonte: Dornelas, 2015 Há alguns subtipos que, conjugados com os descritos acima, podem melhorar nossa percepção sobre os tipos de empreendedores. 11 Quadro 3 – Subtipos de empreendedores Tipo Características Empreendedor nato São populares e bem conhecidos. São criadores de grandes impérios. São visionários e otimistas. São comprometidos em realizar seus sonhos e não medem esforços para isso. Têm como referência seu pai ou mãe e se inspiraram em grandes empreendedores. Empreendedor que aprende Não planejou muito, mas se deparou com uma oportunidade de negócio e resolveu investir. É um aproveitador de oportunidades. Vê-se obrigado a aprender a lidar com sua nova escolha e com as consequências disso. Pode ser aquele que está em busca de uma alternativa para sua aposentadoria. Empreendedor serial Apaixonado não apenas pelas empresas que cria, mas também pelo ato de empreender. Vive criando novos negócios e não fica até se tornarem grandes empreendimentos. É uma pessoa de muito networking. Cria negócios, estrutura equipe e busca financiamento para suas ideias. Motiva-se pelo novo, pois o desafio é o que o move. Empreendedor herdeiro Sua missão é levar à frente o legado de sua família. O desafio do empreendedor herdeiro é multiplicar o patrimônio recebido. Isso tem sido cada vez mais difícil. O empreendedor herdeiro aprende a arte de empreender com exemplos da família, e geralmente segue seus passos. Mais recentemente, os próprios herdeiros e suas famílias, preocupados com o futuro de seus negócios, têm optado por buscar mais apoio externo, através de cursos de especialização, MBAs, programas especiais voltados para empresas familiares. Fonte: Dornelas, 2015. E você, identificou-se com qual tipo e subtipo? Quais são suas características como empreendedor? Qual seu estilo? Isso não importa, pois o mais relevante é que tenha energia para sempre se lançar aos seus projetos e torná-los realidade. Se um de seus objetivos é constituir uma empresa, um empreendimento, cabe a você conhecer melhor algumas semelhanças e diferenças entre o conceito e papel do administrador, do gestor e empreendedor, temas da próxima seção. TEMA 4 – ADMINISTRADOR, EMPREENDEDOR E GESTOR Esses três papéis podem ser desempenhados por uma mesma pessoa, ao mesmo tempo ou ao longo de sua carreira. Isso dependerá das suas características pessoais, de sua formação, da carreira que desenvolveu e do mercado em que estiver. É considerado administrador o profissional que se sujeitou a uma formação de nível superior, cursando todas as disciplinas ofertadas no curso que foram baseadas nas DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais, que, para o curso de Administração, se deu por meio da Resolução n. 4, de 13 de julho de 2005, a qual descreve as seguintes competências que devem ser alcançadas: 12 Art. 4º O Curso de Graduação em Administração deve possibilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: I. Reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão; II. Desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações interpessoais ou intergrupais; III. refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, compreendendo sua posição e função na estrutura produtiva sob seu controle e gerenciamento; IV. Desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos produtivos, administrativos e de controle, bem assim expressando-se de modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais; V. Ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das implicações éticas do seu exercício profissional; VI. Desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável; VII. desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações; e VIII. desenvolver capacidade para realizar consultoria em gestão e administração, pareceres e perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e operacionais. Art. 5º Os cursos de graduação em Administração deverãocontemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem inter-relações com a realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e contextualizada de sua aplicabilidade no âmbito das organizações e do meio através da utilização de tecnologias inovadoras. (Brasil, 2005) O administrador, ao passar por esse curso superior, deverá ter condições de fazer a gestão de pequenas, médias ou grandes empresas e poderá atuar em suas principais áreas: gestão de pessoas, marketing, logística, produção, estratégia e financeira. Pode ocupar cargos iniciais na estrutura organizacional, como o de estagiário, podendo desenvolver sua carreira e avançar para outros patamares, como assistente, analista, coordenador, gerente e, a depender de suas competências e resultados alcançados em cargos anteriores, chegar à posição máxima, o cargo de diretor. Já para se tornar um empreendedor não se requer formação específica, pois basta ter o espírito voltado a novos projetos, estar disposto a encarar desafios e dificuldades para colocar em prática seus projetos, o que pode ser inclusive o início de um novo negócio, mas não necessariamente. Pode propor melhorias nas empresas em que atua, resolver problemas em sua comunidade, auxiliar outro empreendedor em seus projetos, ou seja, ser empreendedor tem 13 mais a ver com visão e comportamentos do que com uma formação específica. O que nos faz reconhecer um empreendedor é sua energia para o novo, para se lançar a novos projetos, a se desafiar constantemente, ter coragem para transformar em realidade sonhos. Sua automotivação contagia, arrasta as pessoas em sua direção, agrega conhecimentos e novos olhares para seus projetos. Mas sem formação, sem capacitação e preparação, todo empreendedor sofrerá as consequências disso, pois não obterá o mesmo sucesso em seus projetos ou alcançará resultados pífios. Assim, nada substitui uma formação sólida e de qualidade, a qual dará condições para ele fazer a gestão de seu projeto de forma racional e estruturada, aumentando as chances de sucesso. Essa formação poderá ser na área de gestou ou não, isso dependerá dos objetivos que se pretende alcançar. O gestor, por sua vez, é todo aquele que administra projetos e organizações, atuando nas mais diversas áreas da administração. Ele pode ser formado em administração ou não, mas, por força das circunstâncias, pelas escolhas que fez ou pela busca de objetivos de sua carreira, direcionou-se para a área de gestão, podendo ser apenas um executor das diretrizes tomadas pelo empreendedor ou administrador do negócio ou responsável por uma ou mais áreas dentro de uma empresa. Para Dornelas (2008, p. 18), “existem muitos pontos em comum entre o administrador e o empreendedor. Ou seja, o empreendedor é um administrador, mas com diferenças consideráveis em relação aos gerentes ou executivos de organizações tradicionais, pois os empreendedores são mais visionários que os gerentes”. Assim, seja qual for seu objetivo de carreira, independentemente de aonde pretende chegar, o mais importante é a disposição para superar sempre desafios, estando atento para novos projetos e feitos. O empreendedor sempre estará em destaque em comparação às demais posições e cargos por suas características que o diferenciam dos demais, e é justamente sobre elas que nos dedicamos a seguir. 14 TEMA 5 – CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E INTRAEMPREENDEDOR São inúmeras as características que podem ser citadas, pois o empreendedor é um homem/mulher comum que está entre nós em nosso dia a dia, mas tem comportamentos e atitudes que os diferenciam dos demais. São várias também a possibilidade de autores que tratam do tema, bem como, algumas entidades, como o Sebrae, por exemplo. Segundo Dornelas (2008) essas são as características dos empreendedores: • São visionários: veem à frente de seu tempo, pois são informados e comprometidos com seus projetos e têm capacidade de realizá-los; • Sabem tomar decisões: escolhem sempre o caminho que sua razão, emoção e conhecimentos lhes indicam. Implementam suas decisões; • Fazem a diferença: porque aproveitam e desenvolvem o potencial que tem. São incansáveis, comprometidos e dedicados, por tudo isso é que se diferenciam dos demais; • Exploram ao máximo as oportunidades: sempre enxergando além das aparências, são criativos e fazem ligações e conexões inesperadas; • São determinados e dinâmicos: não se cansando diante dos primeiros obstáculos, conseguem cuidar de várias coisas ao mesmo tempo, sabem administrar seu tempo; • São dedicados: sabem que sem essa entrega não chegarão aonde planejaram; • São otimistas e apaixonados: procuram ver sempre o que se pode tirar de bom de uma situação, ainda que negativa; não desistem frente ao primeiro não e contagiam as pessoas à sua volta pela energia que empregam em seus projetos; • São independentes: tomam decisões que julgam serem as melhores para concretizarem seus projetos; • São líderes: se não desenvolverem essa competência, não terão condições de agregar pessoas aos seus projetos. Conseguem unir pessoas em torno de um objetivo; 15 • São bem relacionados: ampliam constantemente sua rede de contatos e a alimentam, procuram ampliar sua rede e estão sempre dispostos a contribuir com os outros; • Planejam, planejam, planejam: dedicam-se ao antes, para que, na hora de executar, possam saber por onde caminhar, por isso usam ferramentas disponíveis para realizar o planejamento de seus projetos; • Possuem conhecimento: adquirido através da dedicação e esforço, porque sabem que o conhecimento impõe respeito e os aproxima do sucesso; • Assumem riscos: por planejarem sempre seus passos, sabem os riscos que correm e estão dispostos a arriscar para se diferenciarem dos demais; • Criam valor para a sociedade: por meio dos projetos que implementam, das suas criações e sua atuação junto ao seu meio. Algumas das características destacadas Tajra (2014): • Iniciativa: não espera as circunstâncias o forçarem a agir, está sempre alerta e atento às ações que devem implementar para garantir a realização de seus projetos; • Persistência: ser empreendedor não é algo fácil, logo, se não persistir e desistir, não concretizará nenhum projeto; • Persuasão: desenvolve, por meio de estudos, vivência e exercício diário, o poder de convencer o outro com argumentos; • Autoconfiança: sabe que se não confiar em sua capacidade de realização e potencial, ninguém o fará. Busca em suas realizações e feitos a referência para autoafirmar que é capaz; • Automotivação: às vezes chega até a exagerar e isso o impede de fazer uma leitura mais racional da realidade, pois se energiza e se motiva constantemente com vistas a manter-se disposto a superar os desafios que enfrentará para chegar aonde planejou; • Criatividade: consegue pensar em coisas inimagináveis, fazer conexões inesperadas, pensar por outros ângulos e encontrar soluções simples, mas efetivas para resolver problemas do dia a dia até aqueles mais complexos. Uma última característica: o empreendedor é humano. Essa afirmação é importante para que não esqueçamos que, acima de tudo, ele tem a mesma 16 natureza que nós, a mesma origem, é da mesma espécie. Ele é um ser comum, que desenvolveu algumas qualidades que, se bem empregadas, lhe possibilitam feitos por vezes de destaque. A seguir, discutiremos intraempreendedorismo, cuja origem, características e fatores influenciam seu desenvolvimento dentro das organizações. 5.1 Intraempreendedor Esse termo está presente na literatura nas últimas duas décadas e até então não era mencionado. Ele faz referência ao empregado que tem uma visão e atuação diferenciada. É aquele que se destaca dos demais por sua iniciativa e disposição para pensar, planejar e executar novos projetos, pois,segundo Hirich; Peters; Shepherd (2009, p. 38), “Na atual era da hipercompetição, a necessidade de novos produtos e o espírito empreendedor tornaram-se tão grandes que cada vez mais as empresas estão desenvolvendo um ambiente intraempreendedor, frequentemente na forma de unidades estratégicas de negócios”. Características das empresas que promovem e valorizam o intraempreendedorismo: • Tem gestão moderna e contemporânea: usam das técnicas e visões mais modernas de gestão para atrair e reter talentos; • Sistemas de recompensas: possuem um programa de recompensas formalizado e divulgado para que os colaboradores saibam o que podem ter em troca de seu comprometimento e ideias; • Patrocinadores disponíveis: têm em seus gestores figuras que incentivam a busca pelo novo; • Comprometimento da alta direção: com criatividade, inovação e implementação das ideias; • Programas de melhorias implementados: para que, de forma organizada e estruturada, cada um possa oferecer sua contribuição; • Pouca burocracia: na análise de projetos inovadores. A análise preliminar não é focada em limitar a criatividade, mas incentivá-la; • Política de Gestão de Pessoas: atual e moderna, estruturada para valorizar o colaborar e lhe dar condições gerais para que ofereça o melhor de si; 17 • Remuneração e benefícios: no mínimo, dentro da média de mercado, para que talentos sejam atraídos e retidos; • Cultura organizacional: focada na liberdade de expressão, na valorização da criatividade, no respeito à diversidade, em lideranças motivadoras e foco em resultados com base nas pessoas; Não é fácil para uma empresa ser considerada uma incentivadora e promotora do intraempreendedorismo, mas é possível, desde que haja boa vontade da direção, dos gestores e da área de gestão de talentos. TROCANDO IDEIAS Leia o trecho de texto a seguir: O intraempreendedorismo influencia diretamente na satisfação do colaborador, auxiliando ainda na retenção de talentos, otimização de recursos e manutenção do capital intelectual. É possível afirmar ainda que essa modalidade de empreendedorismo pode estar condicionada a três aspectos: o perfil dos colaboradores, o ambiente e a cultura organizacional e, finalmente, o papel da liderança. (Krummenauer, 2016, grifos do autor) Na empresa em que você trabalha ou faz estágio, como a cultura organizacional e as lideranças contribuem ou não para o desenvolvimento do intraempreendedorismo? NA PRÁTICA O administrador, com base nos conhecimentos adquiridos nesta aula, poderá pautar seus projetos de carreira e atuação profissional, escolhendo de forma mais consciente qual caminho quer dar à sua vida como empresário ou optará por ser empregado/intraempreendedor. FINALIZANDO Nesta aula discutimos a história e a origem do empreendedorismo, conceitos e contexto, os tipos de empreendedores possíveis, o conceito e diferenças entre administrador, empreendedor e gestor, além das características do empreendedor e intraempreendedor. Cabe ao estudante refletir sobre tudo isso e analisar com qual tipo de empreendedor se identifica mais e buscar desenvolver melhor suas características com vistas a ter maior sucesso. https://endeavor.org.br/lideranca 18 REFERÊNCIAS BIAGIO, L. A.; Empreendedorismo: construindo seu projeto de vida. Barueri, SP: Manole, 2012. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução n. 4, de 13 de julho de 2005. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 19 de julho de 2005. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces004_05.pdf>. Acesso em 26 abr. 2019. CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2012. _____. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. _____. Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. HISRICH, R. D.; PETERS, M. P.; SHEPHERD, D. A. Empreendedorismo. Tradução de Teresa Cristina Felix de Souza. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. KRUMMENAUER, A. Como o intraempreendedorismo pode impulsionar a inovação em sua empresa. Endeavor, 6 maio 2016. Disponível em: <https://endeavor.org.br/pessoas/intraempreendedorismo-inovacao- empresa/#>. Acesso em: 26 abr. 2019. TAJRA, S. F. Empreendedorismo: conceitos e práticas inovadoras. São Paulo: Érica, 2014. Prof. Ademir Bueno COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR AULA 2 2 CONVERSA INICIAL O empreendedor precisa ter um espírito de pesquisador e se dedicar a buscar informações em órgãos públicos, na internet – maior fonte de dados e informações na atualidade –, em suas redes de contatos, prováveis fornecedores e clientes e também em seus concorrentes diretos e indiretos. Realizando essas pesquisas terá condições de fazer as melhores escolhas e tomar as melhores decisões. O objetivo desta aula é discorrer sobre as fórmulas para identificar oportunidades de negócios, o que deve levar o futuro empreendedor a ver que não existem meios mágicos e é com muita disposição e criatividade que ele encontrará possiblidades de negócios viáveis. Em seguida, apresentamos os fatores que devem ser observados na escolha do negócio e para verificar a viabilidade prévia do negócio. A seguir, apresentamos os diversos tipos de negócios/empresas existentes para que o empreendedor se direcione ao que tenha mais a ver com sua ideia e estrutura. E, para finalizar, discutimos os aspectos legais que devem ser observados e seguidos a fim de formalizar o empreendimento. CONTEXTUALIZANDO Atualmente, ainda temos muitos empreendedores que estão na informalidade, isto é, que não registraram suas empresas, o que acontece especialmente por falta de condições financeiras ou mesmo desinformação. Estar à margem dos aspectos legais traz mais desvantagens do que ganhos, e o empreendedor deve ter essa consciência. Diante de tantas informações, o futuro empreendedor por vezes fica perdido quanto a aonde ir, o que pesquisar e quais fatores são mais relevantes para escolher o melhor negócio, o caminho para formalizá-lo, e como analisar sua viabilidade diante de um mercado tão competitivo. Percorrer uma trajetória que o leve a fazer a melhor escolha é a missão desta aula, e apresentaremos alguns caminhos possíveis para que as escolhas e decisões sejam as melhores. 3 TEMA 1 – IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS As duas principais fontes de identificação de oportunidades de negócios são: disposição e criatividade. A primeira diz respeito à energia da qual o empreendedor sempre deve dispor para trabalhar um pouco mais, ler mais, investigar mais, ser mais curioso, mais observador e, com tudo isso junto, deparar-se com inúmeras situações que demandam novo negócio, seja para criar algo novo ou para melhorar algo que já existe. Com disposição para descobrir oportunidades, entra em cena a criatividade, elemento essencial na busca de respostas aos problemas ou necessidades identificadas. Ela, a criatividade, é a condição para se ter ideias inesperadas, fazer conexões únicas e pensar por um ângulo ainda não visto. Colocada em prática, propicia excelentes resultados ao empreendedor. Para Hisrich (2009), existem várias fontes de novas ideias: Consumidores: estar atento ao que os consumidores querem, seus desejos, necessidades, reclamações e expectativas em relação a novos produtos e serviços pode fazer com que o empreendedor se antecipe e saia na frente dos concorrentes. Pesquisas realizadas por outras empresas e pesquisas informais são uma fonte rica de informações. Produtos e serviços existentes: observar aquilo que o mercadojá oferece, sua estrutura, vantagens, desvantagens, defeitos, deficiências, preço, forma de entrega, embalagem, como funciona o pós-venda, garantia etc. serve de base para se ter ideias de novos negócios, produtos e serviços. Canais de distribuição: como os produtos dos concorrentes são vendidos? Quais canais estão disponíveis para aquisição e depois para entrega? Essas informações podem levá-lo(a) a pensar em formas diferentes de venda e entrega. Você já fez uma assinatura para receber chocolates em sua casa? Recebe algum produto regularmente em sua residência? Hoje há inúmeros produtos que podem ser adquiridos via assinatura. Legislação: o que está mudando (ou mudou) e demanda novos produtos ou serviços? Estar atento à legislação pode fazer com que o empreendedor se antecipe ou aja rapidamente para responder a uma nova necessidade. 4 Pesquisa e desenvolvimento: são fontes inesgotáveis de novas ideias, pois levam à criação de elementos ou produtos que podem revolucionar o mercado. O post-it é um exemplo disso, um case mundial de sucesso, que apenas foi possível por intermédio da pesquisa e desenvolvimento que faz parte dos investimentos da 3M e de sua cultura organizacional. Tendências: não são uma fonte de único acesso; existem inúmeras possibilidades de o empreendedor manter-se informado sobre as tendências e saber para onde o mundo está indo, o que é importante para o mercado e para o consumidor no futuro. Isso pode ser feito pelo empreendedor observando, lendo, conversando com especialistas, participando de feiras, congressos e eventos, não somente de sua área de atuação, mas de todas que estiverem ao seu alcance. Segundo Dornelas (2008, p. 37), negócio junto a clientes em potencial, empreendedores mais experientes (conselheiros), amigos próximos, antes que a paixão pela ideia cegue sua visão analítica do negócio. Uma ideia sozinha não vale nada; em empreendedorismo, elas surgem diariamente. O que importa é saber desenvolvê-las e construir um negócio de sucesso. De acordo com Degen (1989), existem algumas fórmulas para identificar oportunidades de negócios, e, embora sua obra seja da década de 1980, os pontos apresentados a seguir continuam valendo para se vislumbrar novos negócios: Identificação de necessidades: essa é uma fórmula clássica; a maior parte dos negócios deve ser planejada e iniciada para atender às necessidades de seu público-alvo. Mas a área de marketing da empresa pode trabalhar para que um produto inovador seja desejado e percebido pelo consumidor como importante e necessário à sua vida. Observação de deficiências: estar atendo ao que o mercado oferece e entender quais são suas deficiências, em termos de funcionalidade, canais de vendas e entrega, prazos, preço, qualidade, durabilidade e/ou atendimento oferecido, pode levar o futuro empreendedor a pensar em algo que sane parte das deficiências observadas e tenha a preferência do consumidor. Derivação da ocupação atual: aproveitar a experiência que se tem em um segmento como empregado para iniciar um novo negócio é uma 5 possibilidade interessante. Mas, antes disso, faz-se necessária uma autoanálise para ver se todas as áreas da empresa serão atendidas pela experiência do empreendedor. Caso contrário, ou ele se qualifica para tal ou terá de contratar alguém para suprir sua deficiência, que pode ser na área de produção, comercial, gestão de pessoas ou mesmo financeira. Procura de outras aplicações: é colocada em prática por intermédio da criatividade, ou seja, trata-se de olhar para um produto ou serviço e vê-lo transposto para outra utilidade. Exemplo: utilizar a lógica de funcionamento do plano de saúde humana para um plano de saúde pet. Exploração de hobbies: se você gosta de pescar, pedalar, tocar instrumentos musicais etc., você não é o(a) único(a). Aproveitar seu hobby para transformá-lo em negócio é uma possibilidade. Mas tenha claro que hobby é diferente de empreendimento. Deve-se tomar cuidado para que um prazer não se transforme em um lamento. Lançamento de moda: pensar em algo inusitado e fazer com que caia no gosto popular é possível, mas não é fácil. Sem ajuda da mídia ou de alguém famoso, os planos podem não se concretizar. As novelas e programas populares geralmente dão o pontapé inicial, divulgando e valorizando um produto ou serviço. Imitação do sucesso alheio: o raciocínio aqui é o seguinte, se está dando certo para fulano, pode dar certo comigo também. Mas essa análise deve ser abrangente e cuidadosa, pois se não conhecer a trajetória do empreendimento analisado pode deixar de considerar aspectos importantes que fizeram o sucesso acontecer. Por exemplo, tempo de mercado do empreendimento, capacidade financeira , entre outros fatores que pode comprometer um novo negócio. Identificadas as oportunidades de negócios, faz-se necessário estudá-las para fazer a escolha mais adequada e, com isso, minimizar as possibilidades de falhas e possível fechamento precoce do empreendimento. Esse é o tema que discutiremos a seguir. TEMA 2 – FATORES A CONSIDERAR NA ESCOLHA DO NEGÓCIO Existem dois níveis de análise que o futuro empreendedor deve considerar na escolha de seu negócio: nível pessoal e do negócio em si. 6 No primeiro nível – pessoal –, deve-se questionar sobre seus gostos e preferências, aproximações e distanciamentos, prazer e desprazer, satisfação e desmotivação. Ao responder aspectos ligados à personalidade, será possível saber quais negócios se adaptariam melhor ao seu estilo que outros. Se a pessoa gosta de dormir até tarde, curtir o final de semana com amigos, jogar futebol no domingo de manhã e viajar muito, tudo isso pode ser empecilho para um negócio na área de alimentação, um restaurante por exemplo, que exige disponibilidade de horários, finais de semana e sacrifícios pessoais para que funcione adequadamente e tenha sucesso. Se gosta da área técnica, de consertar coisas, de viver no meio de cabos e ferramentas, talvez deva pensar em loja de materiais elétricos, de construção, de consertos residenciais, entre outros. Quando se tem uma ideia de negócio, é praticamente a mesma coisa quando estamos apaixonados, pois diminuímos nossa percepção, analisamos superficialmente as coisas e não colocamos a razão ao nosso serviço. E depois do ponto alugado, será preciso trabalhar muito para transformar uma ideia bonita em um negócio de sucesso. Segundo Chiavenato (2012), algumas perguntas devem ser respondidas: Que volume de capital pretende investir? Em quanto tempo? Que retorno quer (ou precisa) obter? Qual a natureza das atividades de trabalho envolvidas? Quais são suas experiências profissionais? Quais são seus objetivos? Quais são suas atitudes e opiniões a respeito de negócios? Quais são suas características de personalidade? Quais são seus conhecimentos e habilidades? Quanto tempo pode ficar sem receber remuneração mensal? Portanto, não deixe de considerar suas características pessoais na escolha do negócio. Veja os prós e contras, se está disposto a mudar completamente sua rotina, se consegue se adaptar a coisas e hábitos diferentes do quais tem hoje. Se a resposta a todos esses questionamentos forem sim, passe para o segundo nível, a análise do negócio em si. Na análise do negócio, não se deve deixar de considerar os seguintes pontos: 7 Estruturar um novo negócio ou comprar um já existente: se o negócio existente já tiver alcançado sucesso fica mais fácil a decisão, mas se está no vermelho precisará de mais empenho por parte do futuro empreendedor e de análises mais detalhadas e profundas para tomar a decisão. Se for iniciar um novo negócio, não pode abrir mão de fazer a modelagem via BMG Canvas e depois elaborar um plano de negócios. Isso consome tempo e disposição, mas é necessário. Se optar por uma franquia, não deixe de fazer muita pesquisa, da marca, de franqueados de sucesso e insucesso, de ouvir quem já foi cliente, de observar uma unidade em funcionamento. E tenha claro que, ao optar por franquia, o sucesso não vem como brinde pelo valor pago, ele deve ser conquistado, com muito trabalho e dedicação. Optando por um negócio em andamento, saiba que virtudes e vícios virão junto, e terá de trabalhar arduamente para manter e aumentar os pontos positivos e minimizar os negativos. Toda empresa à venda tem segredos que são descobertos só depois da compra, por isso, seja minucioso(a) na análise de fatos e especialmente dados. Cuide com financiamentos e dívidas existentes; eles podem ser uma dor de cabeça constante para o novo gestor. A empresa pode estar desatualizada e desconectada com o mercado, por isso, evite se apaixonar por ela e limitar seu olhar para entender seus aspectos positivos e negativos. Conheça o que os clientes, fornecedores e competidores pensam a respeito da empresa que pretende adquirir. Não abra mão de fazer uma negociação espetacular para você ter a vantagem do seu lado. Esprema ao máximo o vendedor. Caso opte por estruturar um negócio do zero, não deixe de analisar os seguintes fatores: Tenha um olhar para o todo primeiro; veja como está a situação econômica, social e política do país, e se é a hora certa de investir. Analise as macrotendências: veja para onde o mundo está indo em relação ao segmento de seu interesse, segmentos correlatos e alguns que não tenham nada a ver com a sua ideia. 8 Destrinche o segmento escolhido, estude números, dados de pesquisas, entrevistas com especialistas, empresários do setor, pessoas do ramo. Analise o negócio em si, fazendo um plano de negócios. Todos sabem que dá trabalho e gasta-se tempo para elaborar um, mas é essencial para tomada de decisão acertada. Ao pensar em seu negócio, considere três cenários: realista, otimista e pessimista, e se pergunte como reverter de uma situação complicada e negativa para uma favorável e rentável. Você pode ter de colocar em prática as respostas que obtiver na teoria. Avalie como está estruturando seu negócio, se é a melhor forma, se funcionará bem como parece no planejamento, e se já ouviu outras pessoas a respeito. Pense no segmento de clientes que pretende atingir e responda, colocando-se no lugar deles: o que os levaria a escolher seu produto ou serviço em detrimento da concorrência? Reflita no mercado fornecedor, está bem estruturado? Não está nas mãos de poucos? As políticas de comercialização e preços estão adequadas à sua realidade? Em relação aos competidores, analise suas forças e fraquezas, seu poder de reação, tempo de mercado e espaço que ocupam. Você está preparado para superá-los? Em quanto tempo? Tem capital para isso? Se tratando de varejo, dê atenção especial ao local onde a empresa será instalada; isso é fundamental para o sucesso do negócio. Não abra mão de um excelente local, espere um pouco mais se for o caso. Faça muitas contas, calcule e recalcule todos os números da empresa, do investimento, necessidade de vendas, faturamento necessário, principais despesas, imprevistos, mal previstos etc. Seja incansável na fase de planejamento e análise para evitar surpresas desagradáveis. Depois que iniciar o empreendimento, o que pode ficar para trás será um rastro de decepção e dívidas. TEMA 3 – VIABILIDADE DE NEGÓCIOS O ideal é que na busca de oportunidades o empreendedor não se limite a pensar apenas em um tipo de negócio; deve listar vários, e aos poucos, conforme 9 vai pesquisando e se inteirando sobre o segmento, descartar os que não considera viáveis para aquele momento. Nos negócios que achar mais interessante, relevante e com potencial para obter sucesso, deve empregar mais energia e disposição para se informar, estudar e verificar com mais calma e de forma mais detalhada e estruturada sua viabilidade. Para Tajra (2014), é necessário que sejam avaliadas várias situações que possam ter impacto positivo ou negativo no futuro negócio. São elas: Sazonalidade: o produto ou serviço que pretende disponibilizar ao mercado possui alterações significativas de demanda? Se for produto, analise se as mudanças climáticas afetam ou não aquele segmento. Exemplo: sorveteria em Curitiba, conhecida nacionalmente por ter temperaturas amenas o ano todo. Se for serviço, reflita se períodos de festas e férias são positivos ou negativos para seu empreendimento. Exemplo: serviços de consultoria e terapia sofrem influências negativas em períodos festivos. Situação econômica: investigue qual a condição econômica de seu público-alvo. Se for trabalhar com foco na classe C, pense que, num momento de recessão, a primeira coisa a ser cortada em seus orçamentos são os supérfluos, cursos, viagens, comidas prontas etc. Controle governamental: alguns segmentos de negócios estão vinculados a legislações específicas, cabendo ao empreendedor estudá- las, buscar ajuda de especialistas na área (advogados, contadores, legisladores), e se informar se há algum projeto em andamento que pode ajudar ou atrapalhar o novo empreendimento. Dependência e disponibilidade dos insumos: conhecer com detalhes o mercado fornecedor antes de dar sequência em um empreendimento é obrigação. Descuidar-se disso pode levar a surpresas desagradáveis, como: não existe matéria-prima de fácil acesso, os preços são controlados por um grupo econômico, o dólar tem grande impacto nos custos. Ciclo de vida do produto/serviço: surgimento, crescimento/ desenvolvimento, estabilidade e declínio; estudar para saber se o momento é favorável pode evitar entrar em um mercado que já está finalizando um ciclo, como empresas de táxi. 10 Lucratividade: quanto você precisa ganhar, retirar de pró-labore após a empresa alcançar o ponto de equilíbrio? Ela será viável financeiramente? Procure ajuda de especialistas se necessário. Para ter sucesso, você deve dominar sua empresa por meio dos números. Mudanças no segmento: além da questão da legislação, também é válido refletir e pesquisar como está o desenvolvimento do segmento em que pretende atuar, em crescimento, estável ou em declínio. Na área de estética e beleza, os números só crescem, já os produtos à base de proteína animal, com altos teores de sódio, estão cada vez mais sendo preteridos por produtos mais naturais e menos nocivos à saúde. Efeitos da evolução científica e tecnológica: o produto ou serviço que está pensando em iniciar já não está sendo feito de outra forma? Mais automatizado, em menor tempo e com custos atrativos em relação ao que pretende fazer? Às vezes novos insumos, elementos e componentes inovadores podem mudar o rumo de um produto ou serviço. Os apps são exemplo disso, eles podem substituir produtos e serviços. Grau de imunidade à concorrência: sua ideia de negócio enfrentará concorrência baixa, média ou alta? O mercado em que está entrando é bem pulverizado ou está concentrado nas mãos de poucos? O tamanho e estrutura financeira de seu empreendimento te dará fôlego para enfrentar seus concorrentes? Por quanto tempo? Atração pessoal: qual o seu grau de identificação com o negócio ou segmento? Tem disponibilidade e interesse no atendimento ao público? Consegue ficar 8 horas sentado em frente a um computador trabalhando? Faça algo que possua identificação com o negócio, produto, segmento de clientes e atividades, para que sejam motivadores de sua ação e não limitadores. Barreiras à entrada: quais obstáculos enfrentará, visíveis ou não, para fazer o negócio acontecer? Somente pesquisas e estudos darão a dimensão das facilidades e dificuldades que terá pela frente. Se o empreendedor não possuir conhecimentos ou habilidades para realizar as análises,deve buscar a ajuda de consultorias especializadas. Sabemos nem sempre há dinheiro para planejar um negócio, mas o Sebrae pode ajudar e contribuir neste processo. O mais relevante é ter dados suficientes para tomar decisões que levem ao sucesso. 11 TEMA 4 – TIPOS DE NEGÓCIOS São várias as possibilidades que o futuro empreendedor tem na escolha da forma jurídica de sua empresa. O mais recomendável é sempre visitar um contador, expor as ideias de negócios, tamanho, público-alvo e segmento, para saber qual é a melhor opção e quais as vantagens e desvantagens de cada constituição jurídica. Segundo Chiavenato (2012, p. 121), A escolha da forma ou espécie de firma ou sociedade a ser utilizada depende de um conjunto de fatores relacionados entre si, tais como a capacidade financeira dos sócios, o volume de capital necessário para o negócio, o tipo de produto/serviço que pretendem produzir, o risco maior ou menor do negócio etc. Assim, com base nesses fatores é que se pode escolher a forma ou a espécie de sociedade a ser utilizada. De acordo com Roveda (2018), estas são as possibilidades jurídicas para a abertura de uma empresa: Empresário individual: a empresa é constituída de apenas um profissional, o qual dá o seu nome à companhia nos documentos oficiais. Ele responde integralmente pela empresa e pode ter seu patrimônio usado para arcar com dívidas. MEI – Microempresário Individual: é similar ao enquadramento de empresário individual; neste, o empresário é responsável sozinho e seus bens pessoais podem ser utilizados para pagamento de dívidas. Seu faturamento não pode ultrapassar R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais) anuais e só pode ter um funcionário. EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada: não é necessário sócio; é preciso investimento em capital social de 100 salários mínimos, os quais são o limite de responsabilidade do empresário em caso de dívidas. Pode usar nome empresarial em lugar de seu nome próprio; seus bens não ficam disponíveis em caso de dívidas. Sociedade limitada (Ltda.): é a constituição empresarial mais comum no Brasil quando há sócios no negócio; tem de ter no mínimo dois sócios e deve ser registrada na junta comercial. A responsabilidade dos sócios está vinculada às cotas que possuem registradas no contrato social. Sociedade anônima (S/A): podem ser de capital aberto ou fechado. O capital da empresa é dividido entre os sócios acionistas. Em caso de 12 capital aberto, as ações são negociadas na bolsa de valores. Em caso de capital fechado, a companhia não emite ações, divide-as entre os sócios. Sociedade simples: os sócios do empreendimento prestam o serviço para o qual a empresa foi aberta, por exemplo, sociedade entre profissionais da área da saúde, jurídica, artística, educacional. Não precisa ser registrada na Junta Comercial, somente no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Conforme Chiavenato (2012, p. 122), estes são os principais atos que devem ser registrados no órgão de empresas: Modificações patrimoniais do empresário (atos que alterem ou possam alterar a situação patrimonial do empresário, tais como separação judicial, doações de herança, pacto antenupcial etc.); Nome ou saída de administrador e gerente; Redução do capital social; Cessão de cotas; Renúncia do administrador; Atas da assembleia ou reunião; Dissolução da sociedade. Outro tipo de associação é a cooperativa, cujo objetivo mais importante é atender aos interesses e necessidades dos cooperados. O capital é formado por quotas-partes, podendo aumentar ou diminuir conforme aumente ou diminua o número de associados. Estes, em assembleia, tomam as decisões sobre os caminhos que a cooperativa deve seguir, elege nova diretoria, decide sobre estatuto, política de preços e diretrizes em geral. A organização do cooperativismo segue uma lógica diferente daquela da empresa capitalista, pois os cooperados são os donos do negócio e participam nas decisões da organização e da divisão dos resultados financeiros. Uma cooperativa é uma sociedade cujo o capital é formado pelos associados e que tem a finalidade de somar esforços para atingir objetivos comuns que beneficiem a todos. (Martins, 2017, p. 130) Tipos de cooperativas: Agropecuárias; De consumo; De crédito; Educacionais; 13 Habitacionais; De infraestrutura; De mineração; De produção; De saúde. Depois de identificar uma oportunidade de negócios e estudá-la a fundo, o próximo passo é ver com um contador como optar pelo regime jurídico que melhor se encaixe no tipo de empresa que se quer abrir. Outro passo importante é cuidar dos aspectos legais para a abertura, tema da próxima seção. TEMA 5 – ASPECTOS LEGAIS PARA ABERTURA DE UMA EMPRESA Para realizar a abertura oficial de uma empresa, faz-se necessário inteirar-se de todas as etapas que virão pela frente, mesmo que parte delas seja feita por uma empresa de contabilidade, pois conhecer os passos que virão pode fazer com que tudo saia o mais rápido possível, afinal, todos sabem que o Brasil é um país com nível de burocracia elevado. No portal do Sebrae há uma descrição de cada etapa, bem como documentos necessários para iniciá-las e concluir com êxito a missão da abertura da empresa. Vejamos: Viabilidade do nome: faça uma pesquisa antecipada sobre a existência de empresas constituídas com nomes empresariais idênticos ou semelhantes ao nome pesquisado. A fonte para essa pesquisa é o site da Junta Comercial. Outra ação é dirigir-se à prefeitura onde o empreendimento será instalado e verificar as questões legais para concessão de alvará de funcionamento. Registro de pessoa jurídica: o registro legal de uma empresa é feito na Junta Comercial do estado ou no cartório de registro de pessoa jurídica. Para as pessoas jurídicas, esse passo é equivalente à obtenção da certidão de nascimento de uma pessoa física. A partir desse registro, a empresa existe oficialmente – o que não significa que ela possa começar a operar. Verifique com antecedência a documentação necessária (geralmente contrato social e documentos pessoais do(s) sócio(s)). Contrato social: documento que descreve do que se trata a empresa, seus objetivos, sócios e divisão de cotas, em caso de sociedade. 14 Documentos necessários para inscrição na Junta Comercial ou cartório de registro: se tudo estiver certo, será possível prosseguir com o arquivamento do ato constitutivo da empresa, quando geralmente serão necessários os documentos: Contrato social, requerimento de empresário individual ou estatuto, em três vias; Cópia autenticada do RG e CPF do titular ou dos sócios; Requerimento padrão (capa da Junta Comercial), em uma via; FCN (Ficha de Cadastro Nacional), modelo 1 e 2, em uma via; Pagamento de taxas por meio de DARF; Os preços e prazos para abertura variam de estado para estado. Registrada a empresa, será entregue ao seu proprietário o NIRE (Número de Identificação do Registro de Empresa), que é uma etiqueta ou um carimbo, feito pela Junta Comercial ou cartório, contendo um número que é fixado no ato constitutivo. CNPJ: com o NIRE em posse do empreendedor, é hora de registrar a empresa como contribuinte, ou seja, criar o CNPJ, o qual é feito exclusivamente por meio do site da Receita Federal. Escolha das atividades: no momento da busca do CNPJ deve-se informar a atividade que comporá o objetivo de trabalho da empresa. Essa classificação visa tanto a questão tributária, como para fins de fiscalização das atividades da empresa. Recomenda-se indicar uma atividade principal e no máximo 14 secundárias. Inscrição estadual: se a empresa trabalhará com produção de bens e/ou comercialização de mercadorias, é necessário o registro na Secretaria Estadual da Receita. Certifique-se que esse procedimentoé obrigatório para a sua empresa e busque ajuda de uma assessoria contábil, a qual lhe passará os documentos necessários e devidos tramites e custos. Registro municipal: empresas que atuam no segmento de prestação de serviços precisam ser registradas na prefeitura local. Em algumas cidades basta o registro na Junta Comercial que automaticamente o registro irá para o órgão municipal. Alvará corpo de bombeiros: edificações e áreas de risco de incêndio devem possuir Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio – APPCI, expedido pelo corpo de bombeiros militar do estado. Em municípios de 15 pequeno ou médio porte, esse serviço poderá estar atrelado aos procedimentos da prefeitura. Alvará de funcionamento: todo e qualquer empreendimento precisa obter junto ao município o alvará para seu funcionamento. Cada cidade tem legislação específica sobre o assunto. A depender do segmento da empresa, esse alvará poderá ser concedido sem muita exigência, mas o contrário também pode ser verdadeiro; se a empresa for de certos segmentos o nível burocrático e exigências podem ser mais elevadas. Cadastro na previdência social: após a concessão do alvará de funcionamento, a empresa já está apta a entrar em operação, contudo, é preciso realizar o cadastro junto à previdência social, tendo ou não funcionários. Aparato fiscal: concluídas as etapas anteriores, que não são poucas, deve-se buscar junto à prefeitura autorização para impressão dos blocos de notas e autenticação de livros fiscais. Hoje há possibilidade de emissão de notas fiscais digitais; verifique como proceder para obter esse tipo de ação. Pode-se perceber que o caminho para abertura legal de um empreendimento não é fácil, rápido ou simples, por isso, o empreendedor deve reservar tempo específico para a realização de cada etapa, ou acompanhar o processo feito por uma empresa contratada para esse fim – devendo ter claro que, além das respectivas taxas cobradas por cada órgão ou repartição, a empresa contábil cobra honorários por etapa ou pela realização de todo o processo. Negocie valores justos para que ele seja realizado com êxito. TROCANDO IDEIAS Escolher o negócio no qual investir não é uma missão fácil, mas possível se o empreendedor gastar tempo e energia para levantar informações. Apresente quais caminhos seguiria para buscar informações sobre uma ideia de negócio. Discuta as vantagens e desvantagens dos meios escolhidos. 16 NA PRÁTICA Com base nos conteúdos aqui apresentados, o futuro empreendedor pode escolher as melhores maneiras para identificar oportunidades de negócios, avaliá-las e, a partir daí, tomar decisões. Na etapa de identificação de oportunidades, análise e criação da empresa legalmente, o empreendedor pode e deve buscar ajuda de outros profissionais e entidades, como Sebrae, Junta Comercial e a prefeitura da cidade/município, para que tenha o devido suporte e informações e para que sua escolha seja mais acertada. FINALIZANDO Nesta aula o foco foi apresentar maneiras de identificar oportunidades de negócios, analisar sua viabilidade, escolher o melhor negócio levando em consideração alguns fatores e estando de acordo com aspectos legais. A melhor escolha que o empreendedor pode fazer é aquela que respeite seu perfil pessoal, seus gostos e preferências e sua experiência profissional. O negócio deve ter espaço para ser iniciado e crescer mesmo com muita concorrência, e o empreendedor deve ver, além das projeções numéricas, a viabilidade financeira da ideia que deseja implementar. 17 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito. 4. ed. Barueri: Manole, 2012. DEGEN, R. J. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: Makron Books, 1989. DORNELAS, J. C. A.; Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. HISRICH, R. D. Empreendedorismo. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. MARTINS, J. R. Introdução à sociologia do trabalho. Curitiba: InterSaberes, 2017. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa. Como abrir uma empresa. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ar tigos/passo-a-passo-para-o-registro-da-sua- empresa,665cef598bb74510VgnVCM1000004c00210aRCRD>. Acesso em: 15 mar. 2019. ROVEDA, V. Tipos de empresas: conheça as estruturas de negócios. Conta Azul, 16 maio 2018. Disponível em: <https://blog.contaazul.com/tipos-empresas- brasil/>. Acesso em: 15 mar. 2019. TAJRA, S. F. Empreendedorismo: conceitos e práticas inovadoras. São Paulo: Érica, 2014. COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR AULA 3 Prof. Ademir Bueno 2 CONVERSA INICIAL Existem várias maneiras de se iniciar o planejamento de um negócio, podendo ser mentalmente, com alguns rascunhos sem muita estrutura, baseando-se apenas no conhecimento e experiência que se tem na área. Mas nenhuma delas será efetiva, pois uma ideia de negócio de sucesso passa por um processo até se tornar algo concreto e que produza resultados. A maneira mais prática e objetiva de se organizar uma ideia de negócio é utilizar o BMG Canvas, formulário com nove campos que incitam o empreendedor a pensar o negócio em termos dos aspectos principais, seus diferenciais, público-alvo, canais, parcerias, receitas e despesas, entre outros. É desta preciosa ferramenta que trataremos aqui. Os objetivos deste estudo são: apresentar o BMG Canvas; descrever cada um dos seus campos; explicar o que se espera que contenha em cada um deles; dar exemplos para facilitar a compreensão; fundamentar o bastante para que fique claro e possibilite ao leitor utilizá-lo de forma prática e segura. CONTEXTUALIZANDO O BMG Canvas pode ser utilizado na modelagem/ estruturação de uma ideia de negócio, para tanto basta ao futuro empreendedor estudá-lo, compreendê-lo e colocar em prática. Ele pode ser utilizado para novos negócios, negócios existentes que estejam passando por reestruturação ou modernização, para lançamento de nova linha de produto, nova proposta de valor ou novo público-alvo. A questão é: qual é a efetividade deste formulário para se ter uma visão geral do empreendimento? Esperamos que ao longo do texto essa questão seja respondida. TEMA 1 – O BMG CANVAS Quanto mais tempo for gasto no planejamento do negócio, maior será a probabilidade de se ter sucesso. Esse planejamento inicial é feito com o(a) empreendedor(a) gastando tempo e energia para pensar no negócio, suas 3 características mais marcantes, seu público-alvo, canais de relacionamento e comercialização/ entrega, quem serão os parceiros, quais recursos serão necessários, principais atividades, despesas e a tão sonhada receita são aspectos que devem permear o planejamento. Mas só ficar no subjetivo e pensar a respeito não basta. Para avançar, faz-se necessário sair do mundo das ideias e ir para o mundo prático, objetivo, colocar no papel, em um arquivo do computador/ celular. Assim, o planejamento fica objetivado e torna-se uma base, referência para se consultar o que já se produziu e também serve como pontapé inicial para transformar a ideia em realidade. Para contribuir na transição das ideias para o concreto, existe o BMG Canvas. Osterwalder e Pigneur (2011) criaram, em conjunto com profissionais espalhados por todos os continentes, em uma verdadeira rede de relacionamentos, o conceito do BMG (modelo para geração de ideias de negócios), ou, como também é conhecido, o BMG – Canvas, ou ainda Canvas de Modelos de Negócios. Trata-se de um formulário, de uma página com 9 (nove) quadrantes na qual se deve, por meio de palavras e termos e não texto corrido, expressar do que se trata o negócio e todos os aspectos ligados a ele. Para facilitar a compreensão, pense numa massa de modelar: ela não tem forma alguma, é uma junção de váriaspartículas; se não for trabalhada continuará sendo uma massa única. Modelar significa dar forma, ajustar, transformar, montar, juntar, encaixar, trabalhar para que ganhe forma. Ao utilizar o BMG Canvas, o futuro empreendedor(a) fará isso, dará sentido e forma à sua ideia inicial. Ele serve para novas ideias de negócios ou para negócios já existentes que precisem ser renovados, repensados e inovados. Pode ser utilizado para se pensar em modelar um novo negócio, novo produto, um conjunto de produtos/ serviços etc. Ou seja, não serve apenas para futuros negócios. Pode ser usado inclusive para se organizar ideias inovadoras relativas a uma empresa ou produto já existente. Por que ganhou tanta popularidade? Porque é fácil de trabalhar com ele, não exige recursos, somente uma folha A4, uma cartolina ou um quadro negro etc., um espaço no qual se possa escrever os nomes dos campos do BMG e preenchê-los. Seu preenchimento deve ser feito com post-it ou a lápis para ficar fácil de fazer alterações/ mudanças. Pode ser feito por meio de trabalho coletivo com a 4 participação de várias pessoas, inclusive, elas estando em locais distintos, utilizando-se os recursos audiovisuais disponíveis por meio de celulares e notebooks. Após seu preenchimento total, ele serve como base para desenvolvimento de outros documentos como o Plano de Negócios, por exemplo, permitindo ao elaborador verificar as principais características do negócio descritas no BMG, utilizando-as para alimentar as informações solicitadas pelo Plano de Negócios. A seguir, descrevemos os itens do BMG Canvas, seu detalhamento ocorrerá nos próximos itens: 1) Proposta de valor: quais diferenciais sua empresa apresentará ao seu público-alvo que o fará escolher sua empresa e não seus concorrentes? Seriam seus diferenciais. E valor não tem conotação aqui de número ou dinheiro, mas sim no sentido do que o cliente considera importante, relevante para sua escolha. 2) Segmentos de clientes: toda empresa deve ser pensada para atender a um ou mais segmentos de clientes, mas nunca para atender a todos os públicos. Ao se definir para quem vender ou prestar serviço, isso traz junto as características do produto/ serviço, localização da empresa, forma de atendimento, entrega, meio e forma de comunicação e preço que será cobrado pelo produto ou serviço. © 2 0 1 3 . S e rv iç o B ra s ile ir o d e A p o io à s M ic ro e P e q u e n a s E m p re s a s – S e b ra e 5 3) Relacionamento com clientes: quando você tem dúvida sobre algum aspecto de uma empresa/ produto/ serviço você utiliza qual meio para saná-la? A decisão da melhor maneira do cliente se comunicar com sua empresa estará presente neste item quando for detalhado. 4) Canais: eles podem ser de divulgação, comercialização e/ ou entrega. Defini-los adequadamente é importante para que se atenda de forma mais rápida e efetiva ao seu público-alvo. 5) Atividades principais: onde está a essência de sua empresa? O que ela faz melhor que as outras? No que ela quer ser a referência? Isso descrito adequadamente facilita a formação da identidade da empresa para si e para seus clientes. 6) Recursos principais: para tornar realidade as atividades principais, você precisa de quais recursos: humanos, financeiros, tecnológicos e materiais? Isso, claro, dá uma ideia de estrutura necessária, custos, entre outros aspectos. 7) Parcerias principais: para transformar sua proposta de valor perceptível e real para seus clientes, você precisa ter claro com quem precisa contar, de quem precisará para ir adiante. 8) Estrutura de custos: saber quais são os custos, despesas que a empresa terá mês a mês evita desilusões ou mau planejamento financeiro. 9) Fontes de receitas: de onde virão as receitas para fazer de seu projeto de negócio uma empresa de sucesso? Ter claro de onde e como virão é de extrema importância para evitar ilusões e decepções. Todos esses itens serão destrinchados a seguir, conceituando-os, detalhando-os para que o futuro empreendedor(a) possa trabalhar de forma segura e rápida com o BMG Canvas. TEMA 2 – PROPOSTA DE VALOR A pergunta que deve responder neste item é: “O que seu empreendimento irá oferecer aos seus clientes que os farão optar a fazer negócios com sua empresa? Isso deve ser traduzido em palavras ou termos que representem seus diferenciais. 6 Para definir suas propostas de valor, é preciso conhecer para quem serão oferecidas. Não adianta oferecer novidade se o produto ou serviço é utilizado comumente por pessoas conservadoras, pois elas não verão diferencial, não se sentirão atraídas pela empresa. Definir os diferenciais, os pontos de atração de sua marca não é uma tarefa fácil, mas necessária e importante. Toda proposta de valor deve ir na direção de satisfazer necessidades dos clientes. Assim, As empresas atendem a necessidades por meio da emissão de uma proposta de valor, um conjunto de benefícios capazes de satisfazer essas necessidades. A proposta de valor intangível é materializada por uma oferta, que pode ser uma combinação de produtos, serviços, informações e experiências. O valor é a relação da somatória dos benefícios tangíveis e intangíveis proporcionados pelo produto e a somatória dos custos financeiros e emocionais envolvidos na aquisição desse produto. O valor pode ser considerado como uma combinação de qualidade, serviço e preço (psp), denominada tríade de valor para o cliente. As percepções de valor aumentam com a qualidade e o serviço, mas diminuem com o preço. (Kotler, 2012, p. 35) Quais são os ganhos palpáveis ou não que seu negócio proporcionará? O que o cliente verá ou sentirá que lhe encantará? O serviço agregado ao seu produto é de qualidade? Você vende ou proporciona experiências? Essas respostas lhe farão montar mentalmente qual ou quais propostas de valor você elencará para seus negócios. Para objetivar, colocar no papel sua proposta de valor, considere: Público-alvo: entenda quem é seu cliente, mas não aquele que de vez em quando compra ou comprará seu produto ou serviço, mas aqueles que sustentam sua empresa. São sobre esses que deve saber o que pensam, suas necessidades, o que buscam, quais desejos têm, como se comportam em relação ao seu produto/ serviço. Competidores: olhe para o mercado e veja aqueles concorrentes que brigarão com você pelo seu cliente; o que ele vende? Quais seus diferenciais? Como entrega? Quanto cobra? Quais são suas políticas de crédito? Só podemos superar aquilo que conhecemos. Forças internas: quais são os pontos que ao fazer a análise SWOT1 foram destacados como os pontos de destaque da empresa? Eles podem ser revigorados, fortalecidos, trabalhados para que virem sinônimo da proposta de valor. 1 Para mais informações, acesse: <http://www.portal-administracao.com/2014/01/analise-swot-conceito-e- aplicacao.html>. Acesso em 31 mar. 2019. 7 Quais dores quer amenizar ou extirpar? Pense em seus clientes e naquilo que lhe causa sofrimento, ainda que mínimo; pense em como resolver e, mais: em surpreender para que ele se torne fiel. Pesquise seus clientes: não faça apenas pesquisas informais, mas procure a ajuda de um especialista em marketing para lhe auxiliar a estruturar uma pesquisa junto ao seu público-alvo/ clientes, pois os conhecendo terá mais possibilidades de definir adequadamente as propostas de valor. Figura 1 – Questões a serem pensadas para definir sua proposta de valor Fonte: disponível em <https://www.mariaspinola.com/b2b/nao-e-apenas-uma-boa-proposta-de- valor-do-produto-e-diferenciadora-e-muito-relevante/>. Acesso em: 31 mar. 2019. Tipos de Propostas de Valor segundo Osterwalder e Pigneur (2011): Novidade – Oferecer ao mercado algo que nem os clientes sabem que querem ou precisam.
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