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Fundamentos Sócio-antropológicos 2

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FUNDAMENTOS SÓCIO- ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
PRINCIPAIS CONCEITOS EM SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA
1. Principais conceitos das ciências sociais 
Toda ciência possui um conjunto de termos, ideias e expressões que permitem compreender seus principais enunciados.
Várias ciências podem compartilhar um mesmo termo, mas, de maneira geral, cada disciplina costuma ter uma forma própria para empregá-lo em suas organizações teóricas. Assim é com as ciências sociais, com as ciências humanas, com as ciências naturais etc.
A clarificação dos conceitos de uma ciência permite que se compreenda boa parte de seus achados e explicações. Os conceitos devem ser definidos de forma simples e clara, a fim de facilitar a compreensão e aplicação.
Vejamos, então, que conceitos são fundamentais para que possamos entender algumas das principais discussões em ciências sociais.
Sem dúvida, a maioria dos conceitos você já ouviu falar, e mesmo se utiliza deles em seu dia a dia. Mas, como disse, precisamos saber como são concebidos e empregados pela ciência.
Vamos apresentar alguns dos conceitos fundamentais da sociologia e da antropologia e procurar “descobri-los” no mundo real.
Se estamos falando de ciências sociais e, como vimos, as disciplinas que a compõem (sociologia, antropologia e ciência política) têm como ponto de partida as sociedades humanas, nada mais natural que comecemos pelo conceito de sociedade. 
1.1 Definições de sociedade 
Responda rapidamente: o que caracteriza uma sociedade? Inicialmente, podemos pensar a sociedade como: 
- Um conjunto de indivíduos organizados. A característica de organização é fundamental para que se defina o grupo como social;
- Conjunto ou rede de instituições sociais.
Será que existe diferença entre a primeira e a segunda definição? 
Primeira definição: A primeira definição diz que sociedade é um conjunto organizado de indivíduos.
Será individuo sinônimo de pessoa? Não! Indivíduo é qualquer representante de uma dada espécie viva.
O dicionário Houaiss Eletrônico apresenta como uma das acepções possíveis para indivíduo “organismo único, distinguível dos demais do grupo”. Será que esta definição nos permite pensar em sociedades não humanas? A resposta é: sim! Sociedade não é uma característica exclusivamente humana.
Segunda definição: A segunda definição fala de conjunto ou rede de instituições sociais. Se a primeira definição não se refere exclusivamente ao mundo humano, a segunda tem características exclusivamente humanas.
De qualquer forma, o que nos interessa no momento é pensar as sociedades humanas e a sociologia humana (poderíamos pensar em uma sociologia animal também). Então, podemos dizer que sociedade (humana) é um conjunto de indivíduos organizados em grupos, formando as instituições sociais.
É a partir da definição de sociedade que as ciências sociais constituem seus demais conceitos. A sociologia, assim, será a ciência que estuda a estrutura das sociedades, ou dos homens organizados em grupo. 
1.1 Definições de sociedade 
Responda rapidamente: o que caracteriza uma sociedade? Inicialmente, podemos pensar a sociedade como: 
- Um conjunto de indivíduos organizados. A característica de organização é fundamental para que se defina o grupo como social;
- Conjunto ou rede de instituições sociais.
Será que existe diferença entre a primeira e a segunda definição? 
Primeira definição: A primeira definição diz que sociedade é um conjunto organizado de indivíduos.
Será individuo sinônimo de pessoa? Não! Indivíduo é qualquer representante de uma dada espécie viva.
O dicionário Houaiss Eletrônico apresenta como uma das acepções possíveis para indivíduo “organismo único, distinguível dos demais do grupo”. Será que esta definição nos permite pensar em sociedades não humanas? A resposta é: sim! Sociedade não é uma característica exclusivamente humana.
Segunda definição: A segunda definição fala de conjunto ou rede de instituições sociais. Se a primeira definição não se refere exclusivamente ao mundo humano, a segunda tem características exclusivamente humanas.
De qualquer forma, o que nos interessa no momento é pensar as sociedades humanas e a sociologia humana (poderíamos pensar em uma sociologia animal também). Então, podemos dizer que sociedade (humana) é um conjunto de indivíduos organizados em grupos, formando as instituições sociais.
É a partir da definição de sociedade que as ciências sociais constituem seus demais conceitos. A sociologia, assim, será a ciência que estuda a estrutura das sociedades, ou dos homens organizados em grupo. 
1.3 Outros conceitos importantes 
Vejamos agora os demais conceitos, de forma mais sucinta: 
• Grupo social 
Refere-se a um “conjunto de indivíduos que agem de maneira coordenada, autorreferida ou recíproca, isto é, numa situação na qual cada membro leva em consideração a existência dos demais membros do grupo e em que o objetivo de suas ações é, na maior parte das vezes, dirigido aos outros” (COSTA, 2005, p. 394). 
Vemos que a definição de grupo social permite pensar em outros grupos além do humano. Entretanto, a capacidade que o homem tem de ter consciência de pertencimento a um grupo faz com que se diferencie das demais espécies. Os grupos sociais são classificados em: 
Primários (família, vizinhança), onde há forte vínculo emocional; Secundários (trabalho, exército etc.), mais formais e menos íntimos; De referência, que servem de modelo para ações individuais. 
• Socialização 
Processo pelo qual o indivíduo assimila os valores, as normas e as experiências sociais de um grupo ou de uma sociedade” (COSTA, 2005, p. 405). Como um processo de aprendizagem, através da socialização, nos tornamos efetivamente humanos, à medida que aprendemos como nos relacionar com os demais membros do grupo e da sociedade. 
Divide-se em socialização primária, onde a transmissão dos valores e da cultura é feita pela família; e em socialização secundária, onde a transmissão é assumida por outros grupos, como a escola e os grupos de referência. 
Em antropologia, um conceito semelhante à socialização é endoculturação. Por este conceito, entende- se que o comportamento dos indivíduos depende de um processo de aprendizagem. Assim, se um menino e uma menina agem de forma distinta, isto não acontece em função de seus hormônios, mas é resultado de maneiras diversas de educação. 
• Normas sociais 
“São mecanismos que asseguram a regularidade da vida social e a existência de suas instituições...” (COSTA, 2005, p. 402). As normas sociais são aprendidas (introjetadas) pelos indivíduos ao longo de seu processo de socialização. Não é possível a existência de uma sociedade sem normas sociais. A ausência de normas e regras sociais, ou o não reconhecimento delas, chama-se anomia. 
Para que as normas sociais possam ser introjetadas e a socialização ocorra, é necessária certa “pressão” da sociedade sobre os indivíduos. Esta pressão é exercida por diversos dispositivos sociais e resume-se no conceito de coerção social. 
É importante notar que a coerção social não é, a princípio, algo ruim ou negativo, como poderíamos pensar, mas a possibilidade de existência e manutenção da sociedade. Através dos vários sistemas coercitivos, a sociedade se mantém coesa, isto é, unida e funcionando adequadamente. Já pensou se cada indivíduo resolvesse fazer o que bem lhe viesse à cabeça, sem qualquer regulação ou controle externo (ou interno)? 
• Papel social 
"Conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que envolvem uma pessoa no desempenho de uma função junto a um grupo ou dentro de uma instituição” (COSTA, 2005, p. 403). Assim, através dos papéis sociais, que podem ser atribuídos, ou seja, designados aos indivíduos independentemente de sua escolha (filho, por exemplo) ou conquistados (escolhido ou decidido pelo indivíduo),nos localizamos e desempenhamos ações nos grupos sociais. 
Na aprendizagem e exercício dos diversos papéis sociais que desempenhamos na sociedade, vamos construindo e desenvolvendo valores. Organizando o sentido das ações humanas, os valores “são os juízos e as avaliações que os indivíduos desenvolvem por si mesmos e em grupos e que lhes permitem julgar, escolher e orientar seu comportamento. [...] Os valores sociais se traduzem na conduta humana por preferências, gostos e atitudes pelos quais os agentes sociais manifestam uma apreciação da realidade. São elementos dos mais importantes no processo de socialização pelo qual um indivíduo é assimilado a uma cultura” (COSTA, 2005, p. 407-408). 
2 Conceitos de cultura 
É na dinâmica da vida social que vamos aprendendo a ser humanos, no sentido pleno do termo. Pelo contato com os diversos dispositivos e sistemas sociais, vamos incorporando e compreendendo o mundo. O conceito de cultura dá conta deste “conjunto de significados partilhados por um grupo” (COSTA, 2005, p. 391).
Inicialmente concebida de forma mais concreta, cultura relaciona-se a hábitos, costumes e formas de vida que diferenciam um grupo de outro. Também pode referir-se às produções materiais como ferramentas, técnicas, alimentos etc. 
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Hoje, pensa-se que a cultura como “um conjunto de interpretações da realidade” (Clifford Geertz apud COSTA, 2005, p. 391). De tudo isto, devemos ter claro que a cultura é fruto do pensamento humano e que todos os grupos humanos são produtores de cultura, nenhuma sendo melhor ou superior a outra.
O etnógrafo Edward Tylor (1832-1917) define cultura como “(...) todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (apud LARAIA, 2003, p. 25). 
3 Etnocentrismo, Evolucionismo cultural (darwinismo social) e Relativismo cultural 
• Etnocentrismo 
Quando entramos em contato com grupos ou pessoas diferentes de nós, tendemos a avaliá-los de acordo com nossa perspectiva cultural. Assim, o etnocentrismo pode ser definido como uma “visão de mundo na qual o centro de tudo é o próprio grupo a que o indivíduo pertence; tomando-o por base, são escalonados e avaliados todos os outros grupos” (SUMMER, 1906, p. 13, apud Dicionário de Ciências Sociais, 1987. p. 437). 
No etnocentrismo, temos a identificação pelo indivíduo com a cultura do seu grupo e a suposição de que os padrões por ele exibidos são os melhores e os mais corretos. Embora possa ser entendido com uma atitude “natural” dos sujeitos no processo de relacionamento com o outro, pelo menos em uma primeira aproximação, traz consequências negativas importantes, quando não permitem que o outro seja positivamente reconhecido. 
Que importância esse conceito adquire na vida real e, especialmente na área da saúde? Já pensou nas consequências de não considerar positivas as diferenças sociais e culturais? Lembra-se das definições de cultura? Existe alguma cultura superior ou mais verdadeira do que outra? 
• Evolucionismo cultural 
O etnocentrismo tem um “primo” muito próximo: o evolucionismo cultural. Consequência de uma concepção típica do século XIX, o evolucionismo cultural, também chamado de darwinismo social, utiliza-se da lógica das ciências naturais, particularmente da biologia, para fazer entender a diversidade social e cultural. Como entender as evidentes diferenças entre sociedades e culturas espalhadas pelo mundo? 
Inspirado nos achados de Darwin sobre a evolução das espécies, o darwinismo social procurou compreender as diferenças sociais e culturais dos diversos grupos humanos. 
Mas, como afirma Costa (2005, p. 67), “A transposição de conceitos físicos e biológicos pra o estudo das sociedades e do comportamento humano promoveu desvios interpretativos graves, que acabaram por emprestar uma garantia de cientificismo a ações guiadas por preconceito e interesses particulares. Um desses desvios ocorreu com a aplicação do conceito de espécie em Darwin para o estudo das diferentes sociedades e etnias”. 
A lógica evolucionista (cultural) supõe que existam grupos humanos mais evoluídos, social e culturalmente, que outros, “justificando” a intervenção nas culturas e sociedades julgadas inferiores. Desde muito sabemos que não existem culturas superiores ou inferiores. Cada grupo humano apresenta padrões que lhes são próprios e que estão em função de sua história e interesses. 
Se os conceitos de etnocentrismo e evolucionismo cultural não permitem compreender corretamente as diferenças entre os grupos humanos, como explicar a diversidade sociocultural? 
• Relativismo cultural 
O relativismo cultural “designa a ideia de que qualquer parte do comportamento deve ser julgada primeiramente em relação ao lugar por ela ocupado na estrutura da cultura em que ocorre e em termos do sistema de valor específico daquela cultura. Encerra, deste modo, um princípio de contextualismo” (Dicionário de Ciências Sociais, 1987, p. 1057). 
Diferentemente dos conceitos de etnocentrismo e evolucionismo cultural, a perspectiva relativista procura compreender os eventos socioculturais presentes nos diversos grupos e sociedades a partir do próprio grupo. 
Dito de outra maneira, um olhar relativista permite que se compreenda a realidade social de um grupo “como se fosse” alguém do próprio grupo. Ao nos colocarmos no lugar do outro, buscamos ver o mundo como o grupo vê. 
Esse descentramento que devemos fazer permite que a diferença (social, cultural, étnica, de gênero etc.) não seja valorada negativamente. Ao contrário, podemos reconhecer, apesar das diferenças, que o outro é possível e coerente, como nós. 
O que isto tem a ver com saúde? 
Sendo parte das produções sociais, as ideias de saúde e doença devem ser compreendidas a partir dos significados próprios que cada grupo lhes atribui. O que isto quer dizer? Que saúde e doença não estão apenas referidas a uma dimensão orgânica ou fisiológica. Mais do que isso, estão intimamente relacionadas com a forma como os grupos humanos e a sociedade significam suas vivências. 
Podemos ver com clareza que o que é considerado doença (ou sinal de saúde) em uma sociedade, pode não ser em outra. 
Uma criança gordinha pode representar, para um grupo, sinal de bons cuidados e boa nutrição, ao passo que, para outro, pode indicar descontrole ou alimentação inadequada. 
Outro exemplo poderá esclarecer melhor este pensamento: até muito pouco tempo atrás, o que hoje é chamado de “síndrome de tensão pré-menstrual” (TPM) não era reconhecido como disfunção ou doença.
As mulheres que tinham seu humor alterado no período que antecedia a menstruação eram vistas como “nervosinhas”, e suas queixas sobre sintomas somáticos e psicológicos avaliados como “frescura”. 
Em dado momento, por conta de um novo olhar sobre este evento, o que não passava de simples queixa injustificada passa a ser considerado motivo de atenção em saúde, justificando, por exemplo, dispensa médica. Temos aqui não apenas uma questão de compreensão dos processos orgânicos, mas uma forma de significação social e cultural de um determinado fenômeno. 
Apesar de se admitir hoje a TPM como um evento de saúde, ainda é considerada em diversos grupos nada mais do que “frescura”. Este raciocínio serve para praticamente todos os eventos em saúde. Pense nisso. 
Faça um exercício de reflexão e busque exemplos que demonstrem a relatividade da compreensão dos processos saúde-doença utilizando grupos sociais diferentes. 
4 Natureza e cultura 
Nosso estudo até agora permite que se chegue a uma importante conclusão: não existe uma oposição entre Natureza e cultura. Os determinantes orgânicos, inatos ou hereditários não são os únicos a organizar o desenvolvimento humano e os eventos de saúde e doença. As disposições fisiológicas, necessariamente, se relacionam com os elementossociais e culturais, dando significação e sentido às experiências humanas. 
Sobre uma primeira natureza – orgânica, fisiológica – o homem constrói uma segunda natureza, que é social e cultural.
Você tem cultura?
Esta pergunta, que ouvimos com frequência, subentende que existem pessoas que não têm cultura. Ou – o que é mais ou menos a mesma coisa – considera que algumas pessoas possuem conhecimentos que são reconhecidamente marcas da cultura e outras cujos conhecimentos que possuem não são considerados cultura. Temos aí uma grande confusão sobre o que é cultura. 
Como vimos anteriormente, cultura é tudo que se produz socialmente, material e imaterial, fruto do exercício do convívio social e do pensamento humano. Podemos classificar as produções culturais em eruditas ou populares, por exemplo, mas isto não implica em valoração, isto é, não significa que uma seja melhor do que a outra ou que uma seja cultura e a outra não. 
Escolarização ou conhecimento acadêmico é uma forma possível de produção cultural, o que não exclui outras formas de conhecimento. Dona Maria, mesmo sem ter participado um dia sequer das aulas em uma escola, possui tanta cultura quanto um doutor com diploma universitário.

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