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DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO – HIPERCINÉTICOS Os distúrbios do movimento (algumas vezes denominados distúrbios extrapiramidais) comprometem a regulação de atividades motoras voluntárias, sem afetar diretamente a força, a sensibilidade ou a função cerebelar. Eles incluem os distúrbios hipercinéticos, associados a movimentos involuntários anormais, e os distúrbios hipocinéticos, caracterizados pela pobreza de movimentos. Os distúrbios do movimento resultam da disfunção de estruturas profundas de substância cinzenta subcortical, denominadas núcleos da base. Embora não exista uma definição anatômica universalmente aceita dos núcleos da base, pode-se considerar, para propósitos clínicos, que compreendem o núcleo caudado, o putame, o globo pálido (GPi), o núcleo subtalâmico e a substância negra. O putame e o globo pálido são denominados coletivamente núcleo lentiforme; a combinação de núcleo lentiforme e núcleo caudado é denominada corpo estriado. O circuito básico dos núcleos da base consiste em três alças neuronais que interagem. A primeira é uma alça corticocortical, que passa do córtex cerebral, pelo núcleo caudado e putame, o segmento interno do globo pálido e o tálamo, voltando então ao córtex cerebral. A segunda é uma alça nigroestriatal, conectando a substância negra com o caudado e o putame. A terceira, uma alça estriadopalidal, projeta- se do caudado e do putame para um segmento externo do globo pálido, depois para o núcleo subtalâmico e, finalmente, para o segmento interno do globo pálido. TIPOS DE MOVIMENTOS ANORMAIS A categorização de um movimento anormal é, em geral, o primeiro passo em direção ao diagnóstico neurológico. Os movimentos anormais podem ser classificados como tremor, coreia, atetose ou distonia, balismo, mioclonia ou tiques. Tais movimentos podem se originar em diversos contextos, como em distúrbios degenerativos ou com lesões estruturais. Em muitos distúrbios, os movimentos anormais são a única característica clínica. TREMOR Um tremor é um movimento oscilatório rítmico, melhor caracterizado por sua relação com a atividade motora voluntária, ou seja, se ocorre em repouso, durante a manutenção de uma postura particular ou durante o movimento. O tremor é intensificado pelo estresse emocional e desaparece com o sono. Um tremor que ocorre quando o membro está em repouso geralmente é conhecido como tremor estático ou tremor de repouso. Se estiver presente durante a manutenção de uma postura, é denominado tremor postural; embora possa continuar durante o movimento, os movimentos não aumentam sua gravidade. Quando o tremor está presente durante o movimento, mas não durante o repouso, em geral é denominado tremor intencional ou cinético. Tremor postural Tremor fisiológico exacerbado O tremor fisiológico pode estar exacerbado por medo ou ansiedade. Um tremor postural mais evidente também pode ser encontrado após atividade física excessiva ou privação do sono. Ele pode complicar o tratamento com certos fármacos (em especial lítio, antidepressivos tricíclicos, valproato de sódio e broncodilatadores), sendo evidente em pacientes alcoolistas ou durante a abstinência alcoólica ou de outras drogas. É comum na tireotoxicose, podendo também resultar do envenenamento com várias substâncias, incluindo mercúrio, chumbo, arsênico e monóxido de carbono. Não existe tratamento medicamentoso específico. Outras causas O tipo mais comum de tremor postural anormal é o tremor essencial benigno, que tem uma base familiar. O tremor postural também pode ser evidente em pacientes com doença de Wilson ou distúrbios cerebelares. Tremor postural das mãos, que é indistinguível do tremor essencial, pode ocorrer em pacientes com distonia. A designação tremor distônico refere-se a um tremor postural ou de intenção, que ocorre em uma parte do corpo já afetada por distonia. Asterixe A asterixe pode estar associada a tremor postural, mas é considerada uma forma de mioclonia do que um tremor. Essa condição costuma ser observada em pacientes com encefalopatia metabólica, como ocorre na insuficiência hepática ou renal. Para detectar a asterixe, o examinador pede ao paciente que mantenha os braços estendidos, com os dedos e os punhos em extensão. A cessação episódica da atividade muscular causa uma flexão súbita do punho, seguida por um retorno à extensão, de modo que as mãos batem em um ritmo regular ou, mais frequentemente, irregular. A asterixe desaparece com a melhora da encefalopatia metabólica. Tremor intencional (cinético) O tremor intencional ou cinético ocorre durante a atividade. Quando se pede ao paciente que toque o próprio nariz com um dedo, por exemplo, o braço apresenta um tremor durante o movimento, mais acentuado assim que o alvo é atingido. Esta forma de tremor algumas vezes é interpretada erroneamente como uma ataxia de membro, mas esta última não apresenta um componente oscilatório rítmico. O tremor intencional resulta de uma LESÃO AFETANDO O PEDÚNCULO CEREBELAR SUPERIOR. Como este tremor é muito grosseiro, pode levar a incapacidade funcional grave Não existe tratamento medicamentoso satisfatório, mas a cirurgia estereotática do núcleo ventrolateral contralateral do tálamo, ou a estimulação do tálamo com alta frequência por meio de um dispositivo implantado, algumas vezes, é útil quando os pacientes estão gravemente incapacitados. O tremor intencional também pode ocorrer – juntamente com outros sinais de envolvimento cerebelar – como manifestação de toxicidade de certos fármacos sedativos ou anticonvulsivantes (p. ex., fenitoína) ou álcool; este tremor é observado em pacientes com a doença de Wilson. COREIA A palavra COREIA refere-se a abalos musculares irregulares e rápidos que ocorrem involuntariamente e de modo imprevisível em diferentes partes do corpo. Nos casos mais exuberantes, os movimentos voluntários intensos dos membros e da cabeça, além das caretas faciais e dos movimentos da língua, são inconfundíveis. Os movimentos voluntários podem estar distorcidos pelos movimentos involuntários sobrepostos. Nos casos leves, no entanto, os pacientes podem demonstrar somente inquietação e desajeitamento persistentes. A força em geral está mantida, mas pode existir dificuldade em manter a contração muscular, de modo que, por exemplo, um aperto de mão é relaxado intermitentemente (pegada em ordenha, também conhecida como mão de ordenha ou sinal de ordenha). A marcha se torna irregular e instável, e o paciente mergulha ou balança de um lado para o outro (marcha dançante). A fala se torna irregular em volume e tempo, podendo ter um caráter explosivo. Em alguns pacientes, existem movimentos atetóticos ou postura distônica proeminente. A coreia desaparece com o sono. A base patológica da coreia não está clara, mas, em alguns casos, pode estar associada à perda celular no núcleo caudado e no putame, podendo ser provocada por agonistas dopaminérgicos. Quando a coreia é decorrente de um distúrbio médico tratável, como policitemia vera ou tireotoxicose, o tratamento adequado do distúrbio primário abole a discinesia. HEMIBALISMO Hemibalismo é uma coreia unilateral especialmente violenta, pois os músculos proximais dos membros estão envolvidos. Essa condição em geral é decorrente de doença vascular no NÚCLEO SUBTALÂMICO CONTRALATERAL, e costuma ocorrer resolução espontânea nas semanas que seguem seu início. DISTONIA E ATETOSE O termo atetose geralmente significa movimentos anormais que são lentos, sinuosos e parecem contorções. Quando os movimentos são tão mantidos que mais parecem posturas anormais, usa-se o termo distonia e, atualmente, muitos usam os termos como sinônimos. Na distonia, a contração muscular excessiva ou inapropriada (frequentemente músculos agonistas e antagonistas) leva a posturas anormais mantidas da região corporal afetada. Os movimentos e as posturas anormais podem ser generalizadosou têm uma localização restrita, como no pescoço (torcicolo), na mão e no antebraço (cãibra do escritor), ou na boca (distonia oromandibular). A distonia generalizada pode ser idiopática ou secundária. Fatores que influenciam a distonia Os movimentos anormais não estão presentes durante o sono. Eles costumam ser mais evidentes durante estresse emocional ou atividade voluntária. Em alguns casos, movimentos ou posturas anormais ocorrem somente durante atividade voluntária e, algumas vezes, somente durante atividades específicas como escrever, falar ou mastigar. Etiologia Anoxia perinatal, traumatismo de parto e kernicterus decorrente de hiperbilirrubinemia são as causas mais comuns. Nessas circunstâncias, os movimentos anormais geralmente se desenvolvem antes dos cinco anos de idade. Um questionamento cuidadoso costuma revelar uma história de desenvolvimento precoce anormal e, frequentemente, convulsões. O exame pode revelar sinais de disfunção cognitiva ou déficit piramidal, além de distúrbio do movimento. A distonia lateralizada ocasionalmente pode estar relacionada a doença intracraniana focal. MIOCLONIAS Movimentos mioclônicos são contrações musculares rápidas, súbitas e espasmódicas. As mioclonias podem ser classificadas de acordo com sua distribuição, sua relação com estímulos precipitantes ou sua etiologia. As mioclonias generalizadas têm uma distribuição ampla, enquanto as mioclonias focais ou segmentares estão restritas a uma parte do corpo em particular. As mioclonias podem ser espontâneas ou originar de estimulação sensorial, do despertar ou da iniciação de um movimento (mioclonia de ação). As mioclonias podem ocorrer como um fenômeno normal (mioclonia fisiológica) em pessoas sadias, como uma anormalidade isolada (mioclonia essencial), ou como uma manifestação de epilepsia (mioclonia epiléptica). A mioclonia também pode ocorrer com vários distúrbios degenerativos, infecciosos e metabólicos (mioclonia sintomática), afetando o córtex cerebral, o tronco cerebral ou a medula espinal. Essa condição algumas vezes se manifesta não como uma contração muscular súbita e espasmódica, mas com a perda súbita da atividade muscular (mioclonia negativa). Esta é mais bem observada na asterixe: o paciente tenta manter os punhos hiperextendidos com os braços estendidos, mas o relaxamento transitório, intermitente e súbito dos músculos extensores, seguido pelo retorno da contração, leva a um “tremor tipo flapping ”. Mioclonias segmentares A mioclonia segmentar pode se originar de lesões afetando o córtex cerebral, o tronco cerebral ou a medula espinal. Por exemplo, o envolvimento da via dentatorrubro-olivar por acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, tumores ou outros distúrbios pode produzir mioclonia do palato, que pode estar associada a um clique audível ou a movimentos sincrônicos dos músculos oculares, faciais ou outros músculos bulbares. Ocorre uma oscilação vertical rítmica do palato mole, que é considerada como um tremor. Distúrbios metabólicos, como hiperglicemia hiperosmolar não cetótica, podem causar epilepsia parcial contínua. A mioclonia segmentar geralmente não é afetada por estímulos externos e persiste durante o sono. Mioclonias propriospinais A mioclonia propriospinal origina-se na medula espinal e, então, dissemina-se para cima e para baixo da medula espinal, levando a uma contração rápida do corpo. Tratamento Embora a mioclonia seja difícil de tratar, ela algumas vezes responde a fármacos anticonvulsivantes como ácido valproico, ou a benzodiazepínicos, como clonazepam. TIQUES Tiques são movimentos súbitos, recorrentes, rápidos e coordenados de modo anormal que em geral podem ser imitados sem dificuldade. O mesmo movimento ocorre de modo repetitivo e pode ser voluntariamente suprimido por curtos períodos, embora essa supressão possa causar ansiedade. Os tiques tendem a piorar com estresse, diminuem durante atividade voluntária ou concentração metal e desaparecem durante o sono. CLASSIFICAÇÃO Os tiques podem ser classificados em quatro grupos, dependendo de serem simples, múltiplos e transitórios ou crônicos. 1. Tiques transitórios simples são muito comuns em crianças, em geral desaparecendo dentro de um ano (frequentemente em algumas semanas) e não requerendo tratamento. 2. Tiques crônicos simples podem se desenvolver em qualquer idade, mas frequentemente começam na infância, e o tratamento é desnecessário na maioria dos casos. A natureza benigna do distúrbio deve ser explicada ao paciente. 3. Tiques persistentes simples ou múltiplos da infância ou adolescência, em geral com início antes dos 15 anos. Podem se manifestar como tique motor único ou tiques motores múltiplos e, frequentemente, ocorrem tiques vocais, mas a remissão completa ocorre no final da adolescência. 4. A síndrome dos tiques motores e vocais múltiplos crônicos em geral é conhecida como síndrome de Gilles de la Tourett. Os tiques podem ocorrer após o uso de levodopa ou anfetamina e após o uso crônico de neurolépticos (tique tardio), após traumatismo de crânio ou encefalite viral e em crianças autistas. Eles podem ocorrer em associação com distúrbios degenerativos dos núcleos da base, como a doença de Huntington, e são bem descritos na neuroacantocitose, na qual podem ter um caráter automutilador. BRADICINESIA E HIPOCINESIA Bradicinesia (movimento lento) e hipocinesia ou acinesia (pobreza ou ausência de movimento) são as principais características do parkinsonismo e podem ser mais incapacitantes que a presença de movimentos anormais. As manifestações incluem uma expressão facial fixa (a assim chamada fácies em máscara, com redução do piscamento, fissuras palpebrais ampliadas e um aspecto aparentemente impassível) e uma pobreza de movimentos espontâneos dos membros (p. ex., redução nos movimentos associados dos braços durante o caminhar). Alguns pacientes apresentam “congelamento”, que significa dificuldade de iniciar ou manter uma atividade rítmica repetitiva, como andar. Estes fenômenos são testados clinicamente, por exemplo, solicitando ao paciente que faça movimentos alternantes repetitivos, cada membro de uma vez. Redução progressiva da amplitude ou da velocidade dos movimentos, irregularidade no ritmo ou parada de movimento são indicativas de anormalidade. A atividade deve ser mantida por pelo menos 15 repetições, algumas vezes por tempo mais longo. AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES HISTÓRIA DE INÍCIO Idade de início A idade de início de um distúrbio do movimento pode sugerir uma causa subjacente. Por exemplo, o início na tenra idade ou na infância precoce sugere traumatismo de parto, kernicterus, anoxia cerebral ou um distúrbio hereditário; movimentos faciais anormais que se desenvolvem na infância têm maior probabilidade de representar tiques e não movimentos involuntários de outro tipo, e o tremor que se apresenta na idade adulta jovem é mais provável de uma variedade essencial benigna do que devido a doença de Parkinson A idade de início também pode influenciar o prognóstico. Na distonia de torção idiopática, por exemplo, a progressão até uma incapacitação grave é mais comum quando os sintomas se desenvolveram na infância do que nos casos que se desenvolveram mais tardiamente. Por outro lado, a discinesia tardia tem maior probabilidade de ser permanente e irreversível quando se desenvolve em indivíduos mais idosos do que aquela que se desenvolve na idade adolescente. Modo de início O início abrupto de uma postura distônica em uma criança ou adulto jovem sugere a possibilidade de uma reação induzida por fármacos; um início mais gradual das posturas e dos movimentos distônicos sugere a possibilidade de um distúrbio crônico, como distonia de torção idiopática ou doença de Wilson. De modo similar, o início abrupto de coreia ou balismo grave sugere uma causa vascular, e umadoença de Parkinson grave de início súbito sugere uma causa neurotóxica; um início mais gradual e insidioso sugere um processo degenerativo. Evolução O modo de progressão do distúrbio desde seu início também pode ser útil para o diagnóstico. Por exemplo, a coreia de Sydenham geralmente melhora em seis meses após seu início e, portanto, não deve ser confundida com outras variedades de coreia que podem ocorrer na infância. História médica História medicamentosa É importante obter uma relação de todos os fármacos usados pelo paciente durante vários anos, pois muitos distúrbios do movimento são iatrogênicos. Os fármacos fenotiazina e butirofenona podem levar ao desenvolvimento de movimentos anormais enquanto o paciente os toma, ou após sua suspensão, e a discinesia pode ser irreversível. Uma discinesia reversível pode se desenvolver em pacientes que tomam determinados medicamentos, incluindo contraceptivos orais, levodopa e fenitoína. Vários medicamentos, em especial lítio, antidepressivos tricíclicos, ácido valproico e broncodilatadores, podem causar tremor. Inibidores da recaptação da serotonina foram associados com vários distúrbios do movimento, incluindo parkinsonismo, acatisia, coreia, distonia e bruxismo. História médica geral 1. A coreia pode ser sintomática de doença em pacientes com uma história de febre reumática, doença da tireoide, lúpus eritematoso sistêmico, policitemia, hipoparatireoidismo ou cirrose hepática. 2. Distúrbios do movimento, incluindo tremor, coreia, hemibalismo, distonia e mioclonia, foram descritos em pacientes com a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Infecções oportunistas, como a toxoplasmose cerebral, parecem ser causais em alguns casos, mas a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) também pode desempenhar um papel patogênico direto. 3. Uma história de traumatismo de parto ou desconforto perinatal pode sugerir a causa de um distúrbio de movimento que se desenvolve durante a infância. EXAME O exame clínico irá indicar a natureza dos movimentos anormais e do déficit motor, a extensão do envolvimento neurológico e a presença de doenças coexistentes; esses fatores, por sua vez, podem sugerir o diagnóstico. O exame do estado mental pode sugerir uma doença psiquiátrica, levantando a possibilidade de os movimentos anormais estarem relacionados ao distúrbio psiquiátrico ou a seu tratamento com fármacos psicoativos – ou de o paciente ter um distúrbio caracterizado por movimentos anormais e distúrbios comportamentais, como doença de Huntington ou doença de Wilson. Déficits motores ou sensoriais focais levantam a possibilidade de uma lesão estrutural que ocupa espaço, assim como o papiledema. INVESTIGAÇÕES Diversas investigações podem ser úteis para o diagnóstico. Exames de sangue e urina 1. Os níveis séricos e urinários de cobre e os níveis séricos de ceruloplasmina são importantes no diagnóstico da doença de Wilson. 2. Hemograma completo e taxa de hemossedimentação são úteis para excluir policitemia, vasculite ou lúpus eritematoso sistêmico, que ocasionalmente podem levar a um distúrbio do movimento. Um esfregaço de sangue pode revelar ACANTÓCITOS CIRCULANTES. 3. Bioquímica sanguínea pode revelar disfunção hepática relacionada a doença de Wilson ou degeneração hepatocerebral adquirida; hipertireoidismo ou hipocalcemia como uma causa da coreia, ou variedade de distúrbios metabólicos associados, com mioclonias. 4. Testes sorológicos são úteis para diagnosticar distúrbios do movimento causados por lúpus eritematoso sistêmico ou síndrome anticoagulante do lúpus. Neurossífilis e infecção por HIV1 podem se manifestar clinicamente de diversas formas e sempre devem ser excluídas por testes sorológicos adequados em pacientes com doença neurológica de etiologia incerta. Exames eletrofisiológicos Um eletroencefalograma (EEG) pode ser útil no diagnóstico de pacientes com mioclonias e para distinguir discinesias paroxísticas de convulsões; por outro lado, tem utilidade limitada. Eletromiografia e potenciais evocados somatossensoriais podem ajudar a determinar o nível de envolvimento neural na mioclonia. Exames de imagem Estudos radiológicos ocasionalmente são úteis na avaliação de pacientes com distúrbios do movimento. Em alguns casos, pode ser encontrada calcificação intracraniana nas radiografias de crânio ou na tomografia computadorizada (TC); a significância desse achado, no entanto, não está clara. Exames de TC ou ressonância magnética (RM) também podem revelar tumor ou outra lesão associada à discinesia focal ou distonia, ou à mioclonia sintomática, atrofia do núcleo caudado decorrente de doença de Huntington ou anormalidades de núcleos da base associadas com doença de Wilson. A tomografia por emissão de pósitrons (PET, de positron emission tomography) usando 18F-dopa pode monitorar a perda das projeções nigroestriatais na doença de Parkinson e pode ser útil no diagnóstico de pacientes com síndromes parkinsonianas incompletas, mas não está amplamente disponível. Neuroimagem do transportador de dopamina usando tomografia computadorizada com emissão de fóton único (SPECT, de single-photon emission computed tomography) beta-CIT também pode ser usada para este propósito. DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO SELECIONADOS TREMOR FAMILIAR OU TREMOR ESSENCIAL BENIGNO PATOGÊNESE Um tremor postural pode ser proeminente em indivíduos normais. Embora a base fisiopatológica desse distúrbio seja incerta, ele costuma ter uma base familiar, com modo de hereditariedade autossômico dominante. O distúrbio está relacionado com um polimorfismo no gene receptor D3 da dopamina (DRD3). Achados clínicos Os sintomas podem se desenvolver em adolescentes ou na idade adulta precoce, mas frequentemente só aparecem mais tardiamente. O tremor envolve principalmente uma ou ambas as mãos, ou a cabeça e a voz, enquanto as pernas tendem a ser poupadas. O exame geralmente não revela outras anormalidades grosseiras, mas alguns pacientes podem apresentar ataxia ou distúrbios da personalidade. Embora o tremor possa se tornar mais evidente com o tempo, ele em geral leva somente a deficiência estética e constrangimento social. Ocasionalmente, o tremor interfere com a capacidade de realizar tarefas finas ou delicadas com as mãos; a escrita algumas vezes está seriamente prejudicada. A fala é afetada quando existe envolvimento dos músculos laríngeos. Os pacientes costumam relatar que uma pequena quantidade de álcool proporciona uma melhora notável, porém transitória; o mecanismo não é conhecido. TRATAMENTO Quando o tratamento está justificado, pode ser prescrito propanolol, mas deve ser tomado por um período indefinido. Outros betabloqueadores, como atenolol e sotalol, também têm sido usados. A primidona também é eficaz, mas pacientes com tremor essencial frequentemente são muito sensíveis a esse fármaco, de modo que ela deve ser introduzida mais gradualmente do que quando usada para o tratamento da epilepsia. Em alguns casos, há resposta ao alprazolam. Alguns pacientes relatam benefícios com o uso de gabapentina, topiramato, zonisamida, ou injeções intramusculares de toxina botulínica. Alguns pacientes apresentam um tremor incapacitante que não responde às medidas farmacológicas. A talamotomia pode ser útil, mas existe uma morbidade significativa associada a procedimentos bilaterais. A estimulação talâmica com alta frequência por meio de um eletrodo implantado é uma alternativa eficaz à talamotomia e tem menor morbidade. Ela pode ser particularmente útil para o tratamento do lado não operado em pacientes submetidos a uma talamotomia unilateral. O benefício é mantido durante anos na maioria dos pacientes com incapacidade grave. DOENÇA DE HUNTINGTON Epidemiologia A doença de Huntington é um distúrbio hereditário do sistema nervoso central caracterizado porinício gradual e progressão subsequente para coreia e demência. Sua taxa de prevalência é de 5 por 100.000 habitantes. Os sintomas em geral não aparecem antes da idade adulta (normalmente entre os 30 e 50 anos). Genética A doença de Huntington é um distúrbio autossômico dominante, decorrente de uma mutação no gene da huntingtina (HTT). A doença apresenta uma penetrância completa, de modo que os descendentes de um indivíduo afetado têm 50% de chance de desenvolvê-la. As características adicionais da hereditariedade da doença de Huntington incluem antecipação, que significa uma tendência a um início mais precoce em gerações sucessivas, e descendente paterno, que se refere à tendência de antecipação mais pronunciada em indivíduos que herdaram a doença de seus pais. Ambos os fenômenos estão relacionados com a instabilidade da mutação responsável pela doença de Huntington – expansão de uma repetição de trinucleotídeo CAG, que codifica para um trato poliglutamina. Indivíduos normais apresentam entre 9 e 37 repetições CAG, enquanto praticamente todos os pacientes com doença de Huntington apresentam mais de 40. A idade de início da doença depende do comprimento da repetição CAG, mas polimorfismos genéticos também estão relacionados com a idade de início. Patologia O exame post-mortem de pacientes com doença de Huntington revela perda celular, particularmente no córtex cerebral e no corpo estriado. Na última região, neurônios espinhais de tamanho médio, que contêm ácido g-aminobutírico (GABA, de g-aminobutyric acid) e encefalina e que se projetam para o segmento externo do globo pálido, são os primeiramente afetados, mas outras classes neuronais também estão eventualmente envolvidas. Estudos bioquímicos demonstraram que as concentrações do neurotransmissor inibitório GABA, sua enzima biossintética ácido glutâmico-descarboxilase (GAD, de glutamic acid decarboxylase) e a acetilcolina e sua enzima biossintética acetilcolina-transferase estão reduzidas nos núcleos da base de pacientes com doença de Huntington. A concentração da dopamina é normal ou está levemente aumentada. Achados clínicos Os sintomas costumam iniciar na quarta ou quinta década de vida, e a doença é progressiva, com uma sobrevida média após o início do quadro de cerca de 15 anos. Sintomas iniciais Movimentos anormais ou alterações intelectuais podem ser o sintoma inicial, mas finalmente ambos estão presentes. A neurodegeneração começa muitos anos antes e pode ser acompanhada de alterações cognitivas sutis, psiquiátricas ou motoras que, em retrospectiva, são somente aparentes. 1. Demência – As alterações mentais mais precoces frequentemente consistem em irritabilidade, mau humor e comportamento antissocial, porém uma demência mais óbvia se desenvolve subsequentemente. Em um estágio inicial, esta se caracteriza pelo comprometimento seletivo e progressivo da atenção e da função executiva, consistente com patologia frontoestriatal. 2. Coreia – Distúrbio do movimento que inicialmente pode ser caracterizado por uma inquietude aparente ou agitação, mas eventualmente podem ser observados movimentos coreiformes anormais e grosseiros. 3. Formas atípicas – Principalmente nos casos que se desenvolvem durante a infância (algumas vezes nos casos que iniciam na idade adulta), o quadro clínico é dominado pela rigidez e acinesia progressiva, com pouca ou nenhuma coreia. Esta variante é conhecida como a variante de Westphal, e o diagnóstico correto é sugerido pela demência acompanhante e por história familiar positiva. Epilepsia e ataxia cerebelar são características frequentes na forma juvenil, mas não na forma adulta. Exames por imagem A TC ou a RM muitas vezes demonstram atrofia do córtex cerebral e núcleo caudado nos casos estabelecidos. Uma redução na taxa metabólica estriatal pode ser demonstrada por PET. Diagnóstico diferencial A discinesia tardia, que é a condição mais comum, geralmente pode ser identificada a partir da história. Estudos laboratoriais podem excluir a maior parte dos distúrbios médicos associados com coreia. Os distúrbios semelhantes à doença de Huntington (HDL, de Huntington disease-like) lembram a doença de Huntington, mas não estão associados a um número anormal de repetições trinucleotídeo CAG do gene huntingtina. Foram descritas formas autossômicas dominantes (HDL1 e HDL2) e formas recessivas (HDL3). A coreia hereditária benigna é herdada de modo autossômico dominante ou ocorre de novo, sendo caracterizada por movimentos coreiformes que se desenvolvem na tenra infância, não progridem durante a idade adulta e não estão associados com demência. Também pode existir uma forma autossômica recessiva. Em pacientes com mutações no gene codificador para o fator-1 de transcrição tireoide, também podem estar presentes hipotireoidismos e anormalidades pulmonares (síndrome cérebro-tireoide-pulmão). Coreoatetose paroxística pode ocorrer com uma base familiar, mas a natureza intermitente dos sintomas e sua relação com o movimento ou o estresse emocional geralmente distinguem esse distúrbio da doença de Huntington. Doença de Wilson pode ser distinguida da doença de Huntington pelo modo de hereditariedade, pela presença dos anéis de Kayser-Fleischer e por níveis séricos anormais de cobre e ceruloplasmina. Atrofia dentatorrubropalidoluisiana, outro distúrbio com repetição CAG, herdado de modo dominante e clinicamente similar à doença de Huntington, é distinguida por exame genético. Tratamento e prognóstico Não existe cura para a doença de Huntington, que, via de regra, termina de modo fatal 10 a 20 anos após seu início clínico. Não existe tratamento para a demência, mas o distúrbio do movimento pode responder a fármacos que interferem com a inibição dopaminérgica de neurônios estriatais de saída. O tratamento inclui fármacos que promovem a depleção da dopamina nas terminações nervosas, como a reserpina, 0,5 a 5 mg/dia via oral, ou a tetrabenazina, 12,5 a 50 mg via oral três vezes ao dia, e fármacos bloqueadores do receptor D2 da dopamina, como o haloperidol, 0,5 a 4 mg por via oral três vezes ao dia, ou agentes antipsicóticos atípicos como a quetiapina (aumentada de 25 mg ao dia até 100 mg duas vezes ao dia, quando tolerada). A quetiapina também é usada para o tratamento da psicose ou do comportamento disruptivo, assim como a olanzapina ou a risperidona. Em alguns pacientes, a clozapina pode ser tentada, mas requer hemogramas semanais de controle. Os fármacos que potencializam a neurotransmissão GABAérgica ou colinérgica geralmente são ineficazes. O papel da estimulação cerebral profunda é incerto. Inibidores da recaptação seletiva da serotonina podem ajudar a reduzir a depressão, a agressividade e a agitação. COREIA DE SYDENHAM E PANDAS A coreia de Sydenham ocorre principalmente em crianças e adolescentes como uma complicação de uma infecção estreptocócica hemolítica do grupo A. Essa condição é a causa mais comum da coreia de desenvolvimento agudo em crianças. A característica patológica provavelmente seja uma arterite. Em cerca de 30% dos casos, ela aparece 2 ou 3 meses após um episódio de febre reumática ou poliartrite, mas em outros pacientes não se obtém essa história. Geralmente, não há história recente de dor de garganta e febre. O distúrbio pode ter um início agudo ou insidioso, em geral melhorando nos 4 a 6 meses seguintes. No entanto, pode haver recaída durante a gestação (coreia gravídica) ou em pacientes que tomam contraceptivos orais. A coreia de Sydenham se caracteriza por movimentos coreiformes anormais, que algumas vezes são unilaterais e, quando leves, podem ser erroneamente interpretados como inquietude ou agitação. Podem existir alterações comportamentais associadas, quando a criança se torna irritável ou desobediente. Sintomas obsessivos-compulsivos ou labilidade emocional também podem ocorrer. Em 30% doscasos, existe evidência de envolvimento cardíaco. O diagnóstico é apoiado pela presença de outras manifestações de febre reumática e pela ausência de qualquer outra causa para a coreia. Exames PET e SPECT mostram hipermetabolismo reversível dos núcleos da base. O tratamento tradicional é repouso no leito, sedação e tratamento antibiótico profilático, mesmo quando não existem outros sinais de reumatismo agudo. Recomenda-se um ciclo de penicilina por via intramuscular, e penicilina profilática diária por via oral até os 20 anos, aproximadamente, também costuma ser recomendada para prevenir infecções estreptocócicas. Se necessário, a coreia pode ser tratada com ácido valproico, risperidona ou outro fármaco bloqueador do receptor de dopamina, como haloperidol, dependendo de sua gravidade. Em casos graves, não responsivos a outras medidas terapêuticas, um ciclo de corticosteroides pode ser eficaz. O prognóstico é essencialmente o das complicações cardíacas. PANDAS (distúrbios neuropsiquiátricos associados com infecções estreptocócicas) é o acrônimo usado para a associação de distúrbios ou tiques obsessivos- - compulsivos de gravidade variável e infecções estreptocócicas em crianças. Além disso, distonia, coreia e coreoatetose distônica podem ser sequelas de infecção estreptocócica. DOENÇA DE WILSON Patogênese A doença de Wilson é um distúrbio autossômico recessivo do metabolismo do cobre que produz uma disfunção neurológica e hepática. O gene afetado (ATP7B) codifica para o b polipeptídeo da ATPase transportadora de cobre. Como resultado, grandes quantidades de cobre não ligado entram na circulação e, subsequentemente, são depositadas nos tecidos, incluindo o cérebro, o fígado, o rim e a córnea. Achados clínicos Modo de apresentação A doença de Wilson em geral se apresenta na infância ou na idade adulta jovem. A média da idade de início é cerca de 11 anos para pacientes com disfunção hepática e 19 anos para aqueles com manifestações neurológicas iniciais, mas a doença pode começar bem mais tarde, por volta da sexta década de vida. Apresentações raras incluem doença articular, febre, anemia hemolítica e distúrbios comportamentais. Achados não neurológicos Anormalidades oculares e hepáticas são as manifestações mais proeminentes da doença de Wilson. Os achados oculares mais comuns são os anéis de Kayser- -Fleischer: anéis corneanos marrons bilaterais que resultam da deposição de cobre na membrana Descemet. Os anéis estão presentes em quase todos os pacientes com envolvimento neurológico. O envolvimento hepático leva à cirrose crônica, que pode ser complicada por esplenomegalia, varizes esofágicas com hematêmese, ou insuficiência hepática aguda. A esplenomegalia pode causar anemia hemolítica e trombocitopenia. Achado neurológicos Na doença de Wilson, os achados neurológicos refletem o envolvimento desproporcional do núcleo caudado, do putame, do córtex cerebral e do cerebelo. Os sinais incluem tremor residual ou postural, movimentos coreiformes dos membros, caretas, rigidez, hipocinesia, distaria, disfagia, posturas anormais (fletidas) e ataxia. Convulsões também podem ocorrer. Distúrbios patológicos da doença de Wilson incluem demência, caracterizada por lentidão mental, dificuldade de concentração e comprometimento da memória; distúrbios do afeto, do comportamento ou da personalidade e, raramente, psicose com alucinações. Os sintomas podem progredir rapidamente, em especial em pacientes mais jovens, mas costumam se desenvolver de modo mais gradual, com períodos de remissão e exacerbação. Investigações A investigação pode revelar exames sanguíneos de função hepática anormais, além de aminoacidúria como resultado da lesão tubular renal. Os níveis séricos de cobre e ceruloplasmina são baixos, e a excreção urinária de cobre de 24 horas geralmente está aumentada. A biópsia hepática mostra grande excesso de cobre; em geral também pode revelar cirrose hepática. A TC cerebral ou a RM podem mostrar atrofia corticocerebral e anormalidades nos núcleos da base. As anormalidades da RM incluem o sinal de “face do panda gigante” no mesencéfalo e, algumas vezes, “face do panda em miniatura” no tegumento pontino. Tratamento O meio ideal de remoção do cobre a partir do cérebro e de outros órgãos ainda é discutido. A maioria dos médicos usa a penicilamina, um agente quelante do cobre, que promove a retirada do cobre dos locais em que há deposição tecidual, embora tenham sido descritos casos de agravamento induzidos pela penicilamina. Os efeitos colaterais da penicilamina incluem náuseas, síndrome nefrótica, miastenia grave, artropatia, pênfigo, diversas discrasias sanguíneas e uma síndrome semelhante ao lúpus.. A restrição dietética de cobre (inferior a 2 mg ao dia) é importante, mas é insuficiente como tratamento único. A administração de acetato de zinco pode reduzir a absorção de cobre. O tratamento deve continuar por toda a vida do paciente. Na maioria dos casos tratados precocemente, pode haver uma recuperação completa ou quase completa. O transplante hepático pode ser necessário nos casos com insuficiência hepática fulminante. SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE A síndrome de Gilles de la Tourette, caracterizada por tiques motores e verbais múltiplos crônicos, costuma ocorrer durante toda a vida. Os sintomas começam antes dos 21 anos, mais frequentemente por volta dos 11 anos, e a evolução é de remissão e recaída. A maior parte dos casos é esporádica, embora ocasionalmente exista uma história familiar, e uma expressão parcial do distúrbio pode ocorrer em irmãos ou filhos de pacientes. O distúrbio ocorre em todos os grupos raciais, sendo mais comum em homens que em mulheres. Achados clínicos Os sintomas geralmente começam entre os 2 e 21 anos. Os primeiros sinais consistem em tiques motores em 80% dos casos e tiques vocais em 20% dos casos; pode existir um único tique ou tiques múltiplos. Quando o sinal inicial é um tique motor, ele envolve mais comumente a face, com fungadas, piscamento ou fechamento forçado dos olhos. Em geral, nesse estágio é impossível fazer o diagnóstico. Todos os pacientes desenvolvem, finalmente, vários tiques motores ou tiques vocais involuntários diferentes, os últimos consistindo em grunhidos, latidos, assobios, pigarros ou tosse, e similares. O exame em geral não revela outras anormalidades, portanto a história é de suma importância. Gravações de vídeo do paciente em seu ambiente domiciliar podem ser úteis. Existe uma incidência mais alta de indivíduos canhotos ou ambidestros. Em cerca de 50% dos casos, o EEG mostra pequenas anormalidades inespecíficas, sem relevância diagnóstica. Complicações A síndrome de Gilles de la Tourette frequentemente não é reconhecida durante anos, e os tiques são atribuídos a doença psiquiátrica ou comportamento para chamar a atenção, ou interpretados erroneamente como outras formas de movimento anormal. Essa síndrome também pode ser interpretada erroneamente como um distúrbio clínico geral, assim como as fungadas e os pigarros podem ser atribuídos a alergias. Na verdade, em muitos casos, o diagnóstico correto é feito pela família, e não pelo médico. Por esse motivo, os pacientes muitas vezes são submetidos a tratamento de alto custo e desnecessário antes que a natureza do distúrbio seja conhecida. Distúrbios psiquiátricos, algumas vezes culminando em suicídio, podem ocorrer em decorrência do embaraço estético e social produzido pelos tiques. O tratamento medicamentoso pode levar a diversos efeitos colaterais, como discutido adiante Tratamento O tratamento é sintomático e, quando eficaz, deve ser continuado indefinidamente. A educação do paciente, dos membros familiares e de professores é importante. Períodos de descanso extra na escola e tempo adicional para um exame são úteis. Um tratamento cognitivo comportamental ou outras formas deintervenção comportamental podem ser úteis. A clonidina, um agonista do receptor a2-adrenérgico, foi relatada como capaz de melhorar os tiques motores ou vocais em cerca de 50% das crianças tratadas. Ela pode atuar por meio da redução da atividade nos neurônios noradrenérgicos, originada no locus ceruleus. O fármaco pode causar uma queda inicial transitória na pressão arterial. O efeito colateral mais frequente é a sedação. Outras reações adversas incluem salivação reduzida ou sialorreia, além de diarreia. A guanfacina também pode ser usada. Estes agonistas a-adrenérgicos têm menos efeitos colaterais problemáticos que os antipsicóticos típicos. Existem relatos de que o topiramato ou a tetrabenazina também possam ser úteis. Antipsicóticos atípicos, incluindo risperidona e aripiprazol, algumas vezes são benéficos e podem ser preferidos em vez dos agentes típicos. Quando um antipsicótico típico é necessário, o haloperidol geralmente é o fármaco de escolha. Os efeitos colaterais incluem movimentos extrapiramidais, sedação, boca seca, visão borrada e distúrbios gastrintestinais. Pimozida, outro antagonista de receptor dopaminérgico, pode ser útil em pacientes não responsivos ou que não toleram o haloperidol. As fenotiazinas, como a flufenazina, algumas vezes são úteis para o tratamento dos tiques, assim como, ocasionalmente, os agonistas da dopamina. A injeção de toxina botulínica A no local dos tiques mais problemáticos pode ser conveniente. DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO RESUMO Extrapiramidais – atividades VOLUNTÁRIAS: Hipercinéticos e hipocinéticos Disfunção da substância cinzenta dos núcleos da base O circuito básico dos núcleos da base consiste em três alças neuronais que interagem: Alça corticocortical, nigroestriatal e estriadopalidal TIPOS DE MOVIMENTOS ANORMAIS Tremor Intensificado pelo estresse Desaparece com o sono Em repouso – tremor estático Manutenção da postural – postural CAUSAS – ansiedade, abstinência, toxicidade, CO, tireotoxicose, doença de Wilson, parkinsonismo, envenenamento por mercúrio, chumbo e arsênico, distúrbios cerebelares Asterixe- forma de mioclonia - encefalopatia metabólica, desaparece com a melhora Tremor intencional – lesão do pedúnculo cerebelar superior, fenitoína ou álcool e wilson Coreia abalos musculares irregulares e rápidos que ocorrem involuntariamente e de modo imprevisível em diferentes partes do corpo. casos leves - inquietação e desajeitamento persistentes pode ter dificuldade em manter a contração – sinal de ordenha marcha irregular e instável – dançante desaparece com o sono perda celular do núcleo caudado e no putame PROVOCADA POR AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS CAUSAS – Huntington, Wilson, encefalopatia estática, sydenham, gravídica, toxicidade (lítio, fenitoína, digoxina, antipsicóticos), hipocalcemia, Policitemia vera, hipo/hipernatremia,LES, AVC Hemibalismo coreia unilateral especialmente violenta * Resolução espontânea Núcleo subtalâmico contralateral Distonia e atetose Atetose- significa movimentos anormais que são lentos, sinuosos e parecem contorções. Se mantidos – distonia. Generalizada ou restrita (torcicolo) CAUSAS – encefalopatia perinatal, Wilson e Huntington, Parkinson, fármacos (agonistas de levodopa e dopamina, antipsicóticos), toxinas (metanol, manganês, CO) Não estão presente no sono Pioram com estresse ou atividade voluntária Anoxia perinatal, traumatismo de parto e kernicterus decorrente de hiperbilirrubinemia são as causas mais comuns. – antes dos 5 anos – convulsões. Lateralizadas – doença intracraniana focal MIOCLONIAS Contrações musculares rápidas, súbitas e espasmódicas Generalizadas ou restritas Espontâneas ou por estimulo sensorial – mioclonia de ação Mioclonia negativa – perda súbita da atividade muscular – tremor tipo flapping Tratamento – anticonvulsivantes ou benzodiazepínicos TIQUES Movimentos súbitos, recorrentes, rápidos e coordenados de modo anormal que em geral podem ser imitados sem dificuldade. Pode ser suprimido – causando ansiedade Piora com estresse Desaparecem com o sono Tourette Ocorrer após levodopa ou anfetamina Após TCE ou encefalite viral Crianças autistas Neuroacancitose BRADICINESIA E HIPOSINESIA Movimentos lentos e a pobreza do movimentos Expressão facial fixa – facies em máscara, com recução do piscamento Redução dos movimentos espontâneos (não balançar os braços ao andar) Congelamento – dificuldade de iniciar ou manter uma atividade repetitiva Solicitar ao paciente fazer movimentos repetitivos – redução progressiva ou parada do movimento indica anormalidade AVALIAÇÃO CLÍNICA DO PACIENTE Idade de início Infância precoce – traumatismo de parto, kernicterus, anoxia cerebral ou hereditário movimentos faciais anormais na infância - maior probabilidade de representar tiques modo de início distonia abrupto – sugere fármaco distonia gradual – sugere cronicidade coreia abrupta – causa vascular Parkinson abrupto – neurotóxica e gradual – processo degenerativo Evolução Coreia de sydenham – melhora em 6 meses após seu início História médica HISTÓRIA MEDICAMENTOSA Discinesia irreversível – butirofenona e fenotiazina Discinesia reversível – contraceptivos orais, levodopa, fenitoína tremores - lítio, antidepressivos tricíclicos, ácido valproico e broncodilatadores inibidores de recaptação de serotonina – parkinsonismo, acatisia, coreia, distonia e bruxismo HISTÓRIA MÉDICA GERAL coreia – febre reumática, LES, doença da tireoide, Policitemia, hipoparatireodismo ou cirrose hepática AIDS e toxoplasmose – tremor, coreia, hemibalismo, distonia e mioclonia EXAME Estado mental Possibilidade de estar relacionado aos distúrbios psiquiátricos ou ao seu tratamento Distúrbios de comportamento e movimentos – Huntington e Wilson Défcits motores e sensoriais – lesão estrutural INVESTIGAÇÕES Sangue e urina Níveis séricos e urinários de cobre e ceruloplasmina – WILSON Hemograma e taxa de hemossedimentação – PV, vasculite, LES. Disfunção hepática (Wilson e degeneração hpatocerebral), hipertireoidismo ou hipocalcemia (coreia) Sorologia – LES, HIV e sífilis Exames de imagem RX- calcificação intracraniana RM ou TC- tumor TC com emissão de de prótons - perda das projeções nigroestriatais na doença de Parkinson DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO TREMOR FAMILIAR OU TREMOR ESSENCIAL BENIGNO Patogênese O distúrbio está relacionado com um polimorfismo no gene receptor D3 da dopamina (DRD3). Achados clínicos Pode aparecer na adolescência mas em geral é mais tardio Tremor envolve uma ou ambas as mãos, voz Pernas são poupadas Alguns pacientes apresentam – ataxia ou distúrbio de personalidade Tremor interfere em tarefas finas ou delicadas – escritas Álcool melhora Tratamento BETABLOQUEADORES – propranolol, atenolol e sotalol Primidona Alprazolam Gabapentina, Topiramato, zonisamida Toxina botulínica Talatomia – cirurgia PRINCIPAIS TÓPICOS DOENÇA DE HUNTINGTON Epidemiologia Hereditário Progressão para coreia e demência 30 – 50 anos Genética Autossômico dominante Mutação do gene da huntingtina – HTT Descendentes tem 50 % de desenvolver Início mais precoce em gerações sucessivas Tendência de antecipação quando herdam do pai Expansão da repetição de CAG Idade de início depende do comprimento da repetição Patologia Perda celular, no córtex cerebral e no corpo estriado Achados clínicos 30 – 40 anos Sobrevida média de 15 anos Movimentos anormais ou alterações intelectuais – sintoma inicial Demência – irritabilidade, mau humor Coreia – inquietude ou agitação– movimentos coreiformes Formas atípicas – infância (rigidez e acinesia – westphal) Atrofia do córtex cerebral e núcleo caudado Diagnóstico diferencial Discinesia tardia Coreia hereditária benigna – na infância sem progressão na vida adulta e sem demência Coreoatetose paroxística- Doença de Wilson – anés de kayser-fleischer Tratamento e prognóstico Reserpirina Tetrabenazina Haloperidol Quetiapina Inibidores da recaptação seletiva da serotonina podem ajudar a reduzir a depressão, a agressividade e a agitação. COREIA DE SYDENHAM E PANDAS Crianças e adolescentes Consequência de infecção estreptocócica hemolítica do grupo A Febre reumática e poliartrite Melhorando nos 4 a 6 meses Pode haver recaída na gestação – gravídica Movimentos coreiformes anormais – unilaterais Alterações comportamentais Sintomas obsessivos compulsivos Tr0atamento - Repouso no leito Sedação Antibiótico profilático Ácido valproico Risperidona Haloperidol DOENÇA DE WILSON Autossômico recessivo Metabolismo do cobre – disfunção hepática e neurológica ATP7B Achados clínicos Infância ou adulto jovem Anormalidade hepáticas e oculares – anéis de Kayser-Fleischer tremor residual ou postural, movimentos coreiformes dos membros, caretas, rigidez, hipocinesia, distaria, disfagia, posturas anormais (fletidas) e ataxia. Convulsões também podem ocorrer demência, dificuldade de concentração e comprometimento da memória função hepática anormal níveis de cobre e cerulosplasmina são BAIXOS As anormalidades da RM incluem o sinal de “face do panda gigante” no mesencéfalo e, algumas vezes, “face do panda em miniatura” no tegumento pontino. Penilamina – efeitos colateais - náuseas, síndrome nefrótica, miastenia grave, artropatia, pênfigo Acetato de zinco SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE Tiques motores e verbais Sintomas começam antes do 21 anos Esporádicos Mais comum em homens
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