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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
Unidade II
5 DO NEGÓCIO JURÍDICO
O conceito de negócio jurídico é: espécie de fato jurídico, decorrente da atividade humana, lícito, 
capaz de gerar aquisição, modificação, transferência ou extinção de direito, e que tem como elemento 
substancial a manifestação de vontade.
Para Gagliano e Pamplona Filho:
Negócio jurídico é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus 
pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir 
efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019, p. 165).
Seu objetivo é produzir direitos e deveres. No negócio jurídico revela‑se o princípio da autonomia 
da vontade, ou seja, os sujeitos de direto podem autorregular os seus interesses legais, nos limites 
estabelecidos pela lei.
Com relação à origem, o negócio jurídico nasce da vontade humana, ou seja, pressupõe a presença 
de um elemento volitivo que se materializa numa declaração da vontade através da qual se realiza uma 
ação ou um ato, o qual está vinculado a uma intenção. 
Ressaltamos ainda que o princípio da autonomia da vontade é relativo, uma vez que é reduzido 
pela supremacia das normas de ordem pública (normas absolutamente cogentes). Nas últimas 
décadas, verificou‑se uma “publicização” do direito civil, com a evidência de muitas normas públicas 
no direito privado.
A declaração da vontade ocorre de modo expresso, por escrito ou verbalmente, ou através do 
comportamento (manifestação tácita da vontade). Há manifestação de vontade por gestos ou sinais. 
5.1 Do silêncio
O silêncio, juridicamente considerado, é nada. Quem cala não consente. O silêncio somente poderá 
gerar efeito, quando for qualificado ou circunstanciado, de acordo com a lei (art. 111, CC/2002).
É o caso da doação pura, prevista no artigo 539 do CC/2002:
O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita, ou não, 
a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça dentro 
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Unidade II
dele, a declaração, entender‑se‑á que aceitou, se a doação não for sujeita a 
encargo (BRASIL, 2002).
Nesse caso, o silêncio do donatário significa que aceitou a doação. Trata‑se de exceção à regra de 
que o silêncio não indica consentimento, no direito.
A declaração da vontade pode ser receptícia (endereçada) ou não receptícia (não endereçada).
A declaração da vontade endereçada ou receptícia é dirigida a pessoa determinada, seja com o 
propósito de levar‑lhe o conhecimento da intenção do agente, seja com a finalidade de ajustar a 
declaração de vontade oposta com o objetivo de concretizar o negócio jurídico. Exemplo: proposta e 
aceitação (art. 427 e seguintes, CC/2002).
Declaração de vontade não endereçada ou não receptícia é aquela em que basta tão somente a 
manifestação do declarante, sem que tal declaração tenha que ser conhecida pela outra parte para 
a produção de efeitos jurídicos. Exemplo: seguro de vida em nome de terceira pessoa.
5.2 Classificação dos negócios jurídicos
Quanto à manifestação da vontade, o negócio jurídico pode ser bilateral ou unilateral. O negócio 
jurídico bilateral é aquele que envolve dois centros de interesse – manifestação de vontade em dois 
sentidos, como nos contratos.
É importante complementar com a proposição de que existem contratos unilaterais e contratos 
bilaterais, chamados, esses últimos, de sinalagmáticos.
Todo contrato é negócio jurídico bilateral, considerando‑se que depende de pelo menos dois centros 
de interesse, contrapondo‑se aos negócios jurídicos unilaterais, em que a manifestação de vontade se 
dá em um só vetor.
Ocorre que os contratos unilaterais, com dois centros de interesse, são aqueles que geram 
obrigações para somente uma das partes, como, por exemplo, o mútuo, o comodato, o depósito 
gratuito e a doação pura.
Contratos bilaterais ou sinalagmáticos, chamados também de contratos de prestações recíprocas ou 
correspectivas, são os que geram obrigações para os dois centros de interesse, como a locação, a venda 
e compra, a permuta e a prestação de serviços, por exemplo.
Nos contratos bilaterais, há sempre uma condição resolutiva, qual seja, caso ocorra o evento futuro 
e incerto de uma das partes deixar de cumprir com a sua prestação, independentemente de culpa, o 
contrato se extingue. 
Isso ocorre porque, nos contratos bilaterais, cada prestação tem como causa e razão de ser a 
contraprestação a ser ofertada pelo outro contratante.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
Desse modo, temos negócios jurídicos bilaterais que, por gerar obrigações somente para uma das 
partes, são chamados de contratos unilaterais. Caso crie o contrato de prestações recíprocas, será 
denominado contrato bilateral ou sinalagmático.
O negócio jurídico unilateral é aquele cujo aperfeiçoamento depende da manifestação da vontade 
de somente um centro de interesse. Exemplo: reconhecimento de paternidade, gestão de negócios, 
testamento, promessa de recompensa.
Quanto ao sacrifício patrimonial gerado, o negócio jurídico pode ser:
• Oneroso: é aquele que gera sacrifício para ambas as partes. É sempre bilateral quanto ao número de 
partes (há, pelo menos, dois centros de interesses). Exemplo: permuta, locação, seguro, compra e venda.
• Gratuito: é aquele em que somente uma das partes sofre sacrifício patrimonial, sem vislumbrar qualquer 
contraprestação. Sofre desfalque patrimonial e não espera recompensa. Exemplo: doação pura.
Essa classificação é importante porque os contratos onerosos têm interpretação equilibrada, em 
favor dos contratantes, desde que não se trate de contrato de adesão, interpretado em favor do aderente. 
Já os contratos gratuitos têm interpretação restritiva, em favor do autor da liberalidade (como é o caso 
de comodante, doador, fiador).
Quanto ao tempo da produção dos efeitos, o negócio jurídico pode ser:
• Inter vivos: os efeitos serão produzidos durante a vida dos emitentes da vontade. Exemplo: compra 
e venda.
• Causa mortis: o pressuposto para a produção de efeitos jurídicos é a morte do emitente da 
vontade. Exemplo: testamento que estabelece legados e herança.
Quanto à solenidade, a forma do negócio jurídico pode ser ad solemnitaten (solene) e ad probationem 
tantum (não solene). 
Importante destacar que, em relação à forma dos negócios jurídicos, vigora a regra geral da liberdade 
de forma. Entretanto, às vezes, a lei exige forma solene, sob pena de nulidade absoluta. É o caso, na 
compra e venda de imóvel, da escritura pública, salvo se o valor do imóvel for inferior a trinta salários 
mínimos (art. 108, CC/2002) e do registro no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1227, CC/2002). 
Se o negócio jurídico exigir forma solene, esta deve ser obedecida sob pena de nulidade absoluta, 
nos termos dos artigos 104, III, CC/2002 e 166, IV do CC/2002.
Já com relação aos negócios reciprocamente considerados, é importante mencionar que eles se 
dividem em dois tipos:
• Principal: existe por si só. Exemplo: contrato de locação entre locador e locatário.
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Unidade II
• Acessório: depende do principal. Exemplo: o contrato de fiança entre o locador e o fiador não 
existe por si só, pois depende do contrato principal.
Quantos aos efeitos, o negócio jurídico pode ser:
• Constitutivo: ex nunc: passa a ter efeitos a partir da conclusão. Exemplo: adoção, compra e venda.
• Declaratório: ex tunc: os efeitos do negócio jurídico retroagem à data que se operou o fato a que 
se vincula a vontade. Exemplo: reconhecimento de filho. 
A declaração da vontade deve ser interpretada com a finalidade de buscar o sentido e o alcance das 
expressões. Consoante o artigo 112 do CC/2002, nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção 
nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da linguagem.
Assim, quando se interpreta a vontade, leva‑se em conta mais a intenção manifestada no contrato 
do que a sua literalidade.
Havendo contradição, dúvida, obscuridade ou omissão, deve‑se buscar a intenção das partes.
Caso haja disparidade entrea vontade e a declaração, só valerá a vontade, anulando‑se o negócio 
jurídico, se essa anulação não causar prejuízo a terceiro de boa‑fé (teoria da confiança).
Observe‑se que a reserva mental, convicção íntima de que não deseja aquilo que se declara, não tem 
eficácia jurídica. Ainda que o declarante saiba, por exemplo, que não tem recursos para honrar a prestação 
avençada, deve prevalecer a declaração da vontade, para que não haja prejuízo a terceiro de boa‑fé. 
Nos termos do artigo 110 do CC/2002, acerca da reserva mental:
Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja 
feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o 
destinatário tinha conhecimento (BRASIL, 2002).
Como afirma Sílvio de Salvo Venosa:
A reserva mental ou reticência ocorre, em princípio, quando o declarante faz 
a ressalva de não querer o negócio objeto da declaração. Na reserva mental, 
o declarante emite conscientemente declaração discordante de sua vontade 
real, com intenção de enganar o declaratário (VENOSA, 2013, p. 164).
É na interpretação de cláusulas testamentárias que mais se privilegia a teoria da vontade, de modo 
que a intenção do testador é buscada por uma gama de dispositivos legais, para o alcance da sua última 
vontade. Conforme o artigo 113 do CC/2002 “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a 
boa‑fé e os usos do lugar de sua celebração” (BRASIL, 2002).
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A boa‑fé é presumida, a má‑fé deve ser provada, conforme o artigo 114 do CC/2002 “Os negócios 
jurídicos benéficos e a renúncia interpretam‑se restritivamente” (BRASIL, 2002).
Nos contratos benéficos, apenas um dos contratantes se obriga, enquanto o outro aufere um 
benefício. Um exemplo é o comodato, depósito gratuito, doação pura, que deve ter interpretação 
restrita, pois importa renúncia de direitos.
Há poucas normas de interpretação contratual no CC/2002, daí o uso dos princípios gerais do 
direito, com a “importação”, pela via doutrinária, de regras do código civil italiano, por exemplo, com 
fundamento no artigo 4º da LINDB/1942.
A seguir elencamos exemplos de entendimento doutrinário e jurisprudencial relativo à interpretação 
dos negócios jurídicos:
• Nos contratos com palavras que admitem dois sentidos, deve‑se preferir o que mais convier a 
sua natureza.
• Nos contratos de compra e venda, no que se refere à extensão do bem alienado, deve‑se interpretar 
a favor do comprador. As dúvidas são interpretadas contra o vendedor.
• As estipulações obrigacionais devem ser interpretadas de modo menos oneroso ao devedor.
• A interpretação do contrato de consumo será sempre a favor do consumidor (art. 47, CDC/1990).
• Nas cláusulas duvidosas, prevalece o entendimento de que se deve favorecer quem se obriga.
A lei determina que, nos contratos de adesão, a interpretação deve ser em favor do aderente. 
As cláusulas manuscritas têm mais valor que as cláusulas impressas. E a renúncia a direito deve ser 
proposta pelo aderente ou assinada em apartado. Assim, por exemplo, cláusula de arbitragem e foro 
de eleição podem ser previstos, mas desde que propostos pelo aderente ou assinados em apartado, 
evidenciando que foram objeto de atenção específica do aderente.
5.3 Dos requisitos do negócio jurídico
Elementos essenciais (elementos constitutivos): vontade, idoneidade do objeto e forma (declaração).
Os elementos essenciais (ou constitutivos) do negócio jurídico se referem à própria substância do 
negócio. São vontade, idoneidade do objeto e forma (declaração). Caso tais elementos não se apresentem, 
ocorre a inexistência do negócio. Negócio jurídico inexistente não produz efeitos jurídicos. A lei não 
prevê os elementos constitutivos ou elementos essenciais, a doutrina e a jurisprudência é que se referem 
a tais elementos.
Se uma pessoa pratica qualquer ato jurídico em virtude de coação física, a vontade inexiste. Se o 
ato é praticado em face de coação moral, a vontade é viciada (coação é vício do consentimento que 
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torna anulável o negócio jurídico no prazo de quatro anos, por pleito da parte prejudicada, qual seja, o 
declarante que sofreu a ameaça. O prazo começa a correr do momento em que cessa a ameaça). 
A idoneidade do objeto é diferente de ilicitude do objeto. Um objeto pode ser lícito, mas ser inidôneo 
para a relação jurídica em questão. Objeto idôneo é aquele que se presta para determinado fim. 
Por exemplo, a coisa fungível é objeto idôneo para figurar no contrato de mútuo (empréstimo de coisa 
fungível), mas não o é em relação ao contrato de comodato (empréstimo de coisa infungível). Comodato 
que tenha por objeto dinheiro é ato inexistente.
A mera vontade não produz negócio jurídico. Independentemente de a lei prever ou não forma 
específica, como faz em negócios ditos solenes, para a sua existência, o negócio deve contar com a 
declaração (exteriorização) da vontade. 
 Observação
Requisitos de validade: agente capaz (e legitimado); objeto lícito, 
possível, determinado ou determinável e forma. 
Os requisitos de validade estão previstos no artigo 104 do CC/2002.
Tais requisitos determinam se o negócio é válido, ou seja, indicam a maior ou menor possibilidade 
de produzir efeitos jurídicos. Negócio jurídico válido é ato eficaz, ou seja, capaz de produzir a aquisição, 
modificação ou extinção de efeitos jurídicos.
Agente capaz – A capacidade é a regra e a incapacidade, nos termos dos artigo 3º e 4º do CC, é a exceção. 
Os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes podem praticar os atos da vida civil, desde 
que devidamente representados, mediante o instituto da representação, no primeiro caso (absolutamente 
incapazes), ou assistidos, no segundo (relativamente incapazes).
Vimos que a representação pode ser legal (pais, tutores e curadores); judicial (síndico é o representante 
da massa falida) ou convencional (decorrente de um contrato de mandato).
Ainda, para o negócio ter validade, necessária também a legitimação para a sua prática. 
A legitimação é relativa e se refere a determinadas pessoas, que, em virtude de determinados 
vínculos, não podem praticar certos negócios, ou devem praticá‑los sob certas condições impostas pela 
norma jurídica. 
Ex. Os ascendentes não podem vender aos descendentes, sem que os demais descendentes e o 
cônjuge do alienante expressamente consintam. Sem o devido consentimento a venda é anulável – 
artigo 496 do CC. Há a dispensa do consentimento do cônjuge, se o regime de bens for o da separação 
obrigatória. – parágrafo único – artigo 496 do CC. Outro exemplo: curadores não têm legitimação 
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para comprar bens dos curatelados. Não se trata de capacidade (discernimento, maturidade), mas de 
legitimação (poder suficiente para a prática de certo ato jurídico).
Nos termos do artigo 104, II, do CC/2002, o objeto do negócio jurídico deve ser lícito (permitido pelo 
Direito) e possível. Saliente‑se, ainda, que o objeto deve ser física e juridicamente possível. Por exemplo, 
não pode ser objeto de compra e venda um terreno na Lua (impossibilidade física). Não pode ser objeto 
de compra e venda herança de pessoa viva – pacto corvina (impossibilidade jurídica). O objeto deve 
ser determinado ou pelo menos determinável (exemplo: obrigação de dar coisa incerta, que deve ser 
indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Como regra, há liberdade de forma para a prática do negócio jurídico. Porém, determinados negócios 
reclamam forma solene, sob pena de nulidade absoluta. Exemplo: fiança, hipoteca, compromisso arbitral, 
testamento, casamento, doação. 
 Lembrete
Requisitos de validade: agente capaz (e legitimado); objeto lícito, 
possível, determinado ou determinável e forma. 
5.4 Das modalidades ou elementos acidentais do negócio jurídico
As modalidades ou elementos acidentais são previstos em cláusula acessória e têm relação com os 
efeitos do negócio jurídico. Não são indispensáveis para a constituição do negócio jurídico, mas podemexistir para alterar as consequências jurídicas que ordinariamente produzem.
Tais elementos acidentais são inseridos no negócio jurídico por intermédio de cláusulas e, dessa 
forma, possuem a denominação de cláusulas acessórias acidentais (ou modalidades) dos negócios 
jurídicos. São eles: condição, encargo (modo) e termo.
Além dos elementos essenciais, que constituem requisitos de existência e de validade do negócio 
jurídico, pode este conter outros elementos meramente acidentais, introduzidos pela vontade das partes.
Tais elementos acidentais somente são admitidos nos atos jurídicos de natureza patrimonial, com 
algumas exceções, e não podem ser inseridos em atos jurídicos de caráter extrapatrimonial.
Casamento, emancipação, adoção e reconhecimento de paternidade não admitem condição. 
A renúncia e a aceitação da herança, para a garantia do princípio da segurança jurídica, também não 
podem estar sujeitas aos elementos acidentais, que modificariam os seus efeitos.
O elemento acidental deve ser lícito. Assim, é incabível, por exemplo, uma doação de uma casa com 
o encargo de servir de cárcere privado ou prostíbulo.
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O elemento acidental não pode ser da essência do negócio jurídico. Exemplo: a venda de um terreno 
somente produzirá efeitos após a lavratura da escritura pública e do competente registro no Cartório 
de Registro de Imóveis. Tal cláusula não é elemento acidental, uma vez que é da essência do negócio 
jurídico da compra e venda de imóveis (forma prescrita em lei – art. 104, III, CC/2002).
5.4.1 Da condição
De acordo com o artigo 121 do CC/2002: “Considera‑se condição a cláusula que, derivando 
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto” 
(BRASIL, 2002).
A condição pode ser resolutiva, quando o negócio jurídico gera efeitos de imediato, e o evento 
futuro e incerto encerra esses efeitos, dissolvendo o ato; ou suspensiva, quando o evento futuro e 
incerto desencadeia os efeitos do negócio jurídico. Na condição suspensiva, o ato não gera efeitos até 
que ocorra o evento futuro e incerto. 
A condição deve ser jurídica e fisicamente possível (arts. 123 e 124, CC/2002). Se for impossível e 
resolutiva, tem‑se por inexistente. Se for impossível e suspensiva, invalida o negócio a ela subordinado. 
Exemplo: será extinta a doação se tocar a lua com os dedos sem tirar os pés do chão. 
A condição é fisicamente impossível e resolutiva, portanto, tida como não escrita. O negócio a 
ela subordinado permanece. 
Em caso de doação que só gerará efeito caso o donatário cometa um crime, a condição é juridicamente 
impossível e suspensiva, e invalida o ato jurídico a ela subordinado.
São lícitas, em geral, todas as condições as quais a lei não vedar expressamente (art. 122, CC/2002). 
Entre as condições proibidas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem 
ao arbítrio de uma das partes, as chamadas condições puramente potestativas.
Um exemplo disso é a locação que será desfeita quando e se o locador manifestar a sua vontade – 
condição resolutiva puramente potestativa, considerada, portanto, não escrita.
Condições que violam direitos fundamentais, como a liberdade, são ilícitas: a condição de não se 
casar, não trabalhar, mudar de religião ou não exercer direitos políticos.
O implemento da condição depende da natureza, do acaso, do alheio ou do fortuito. Trata‑se de 
condição válida, mas não usual. Exemplo: se gear num imóvel acima de certa quantidade, no prazo 
de três meses, fica extinta a venda e compra.
Condição potestativa decorre da vontade de uma das partes, ou seja, os efeitos do negócio jurídico 
subordinam‑se à vontade de uma das partes, que pode impedir ou permitir sua ocorrência. 
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A condição potestativa pode ser puramente potestativa (art. 122, parte final, CC/2002) ou 
simplesmente potestativa. Essa última mescla a vontade de uma das partes com a vontade de terceiros, 
ou fatos alheios à vontade.
Exemplo de condição puramente potestativa (vedada): o contrato de locação será renovado se o 
locador assim o quiser. 
As condições puramente potestativas caracterizam‑se pelo uso de expressões 
como: “se eu quiser”, “caso seja do interesse deste declarante”, “se na data 
avençada, este declarante considerar‑se em condições de prestar” etc. Todas 
elas traduzem arbítrio injustificado, senão abuso de poder econômico, em 
franco desrespeito ao princípio da boa‑fé objetiva.
Por outro lado, as condições simplesmente potestativas, a par de derivarem 
da vontade de uma das partes apenas, aliam‑se a outros fatores, externos 
ou circunstanciais, os quais amenizam eventual predomínio da vontade de 
um dos declarantes sobre a do outro. Tome‑se a hipótese do indivíduo que 
promete doar vultosa quantia a um atleta, se ele vencer o próximo torneio 
desportivo. Nesse caso, a simples vontade do atleta não determina a sua 
vitória, que exige, para a sua ocorrência, a conjugação de outros fatores: 
preparo técnico, nível dos outros competidores, boa forma física etc. 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019, p. 208).
Exemplo de condição simplesmente potestativa (permitida): o contrato de locação será extinto caso 
seja alterado o local de trabalho do locatário. 
Assim, a condição puramente potestativa depende exclusivamente do arbítrio de uma das partes, 
sendo vedada. Por sua vez, a condição simplesmente potestativa depende também da vontade, mas 
aliada, essa vontade, a uma situação externa, não sendo vedada.
5.4.2 Do termo (art. 131, CC/2002)
Termo é elemento acidental do negócio jurídico, previsto em cláusula acessória, que subordina a 
sua eficácia a acontecimento futuro e certo. Por termo endente‑se o início ou o fim da eficácia de um 
negócio jurídico, ou seja, o dia do início ou do fim de sua eficácia. 
Ele tem como características a certeza e a futuridade. O termo inicial ou suspensivo é denominado 
Dies a quo e o termo final ou resolutivo é denominado Dies ad quem. 
O termo pode nascer da vontade das partes, denominado termo convencional, ou da vontade da lei, 
denominado termo legal. 
Saliente‑se também que existe a possibilidade da ocorrência do termo de graça, que consiste na 
dilação do prazo concedido pelo credor ao devedor.
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O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito (art. 131 do CC/2002). 
Difere da condição, pois esta suspende o exercício e a aquisição do direito. O termo só protela o 
exercício do direito.
Termo incerto é futuro e certo quanto à sua ocorrência, mas a sua data é desconhecida. Como 
exemplo, podemos mencionar a morte ou a próxima chuva na cidade de São Paulo.
Prazo é o período de tempo transcorrido entre o termo inicial e o termo final. A sua previsão se encontra 
no artigo 132 do CC/2002, e seu estudo é importante para o direito civil e para o direito processual.
Em se tratando de relação jurídica obrigacional, o prazo é fixado, em regra, em favor do devedor. 
O devedor em geral pode cumprir prestação antes do vencimento do prazo, já que é o favorecido, 
salvo se das circunstâncias ou de cláusula contratual decorre que o prazo se estabeleceu em benefício 
do credor ou de ambos.
Já o credor, antes do prazo, não pode exigir prestação. Antes do vencimento, é como se a prestação 
inexistisse para o credor.
Há atribuição de responsabilidade civil ao credor que cobra a prestação antes do seu vencimento.
A lei contempla a possibilidade de antecipação de vencimento de prestação, em situações de 
diminuição das condições de solvência do devedor (art. 333, CC/2002).
5.4.3 Encargo (ou modo) (arts. 136 e 137, CC/2002)
Encargo é a cláusula acessória que tem por finalidade diminuir vantagens auferidas em negócios 
jurídicos gratuitos, benéficos. 
Estabelece, para o beneficiário, certo ônus, em contratos originariamente gratuitos, como a doação; 
ou em cláusulas testamentárias que determinam o recebimento de legado ou herança.
O encargo limita a liberalidade, quer por imporo destino do objeto da relação jurídica, quer por 
impor uma contraprestação. O encargo é cláusula acessória comum nos negócios jurídicos gratuitos, 
também denominados liberalidades.
Diferentemente da condição suspensiva e do termo inicial, o encargo não impõe gravame à aquisição 
e ao exercício do direito. Dessa forma, aberta à sucessão, a posse e o domínio são transmitidos desde 
logo aos herdeiros, com a obrigação de cumprir o encargo a eles imposto. 
Caso o encargo não seja cumprido, a liberalidade poderá ser revogada. Exemplo: doa‑se uma quantia 
em dinheiro a um hospital, mas o doador estabelece à instituição donatária o encargo de colocar placa 
em certo local, com o nome da família do doador. 
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O encargo torna a doação negócio jurídico oneroso, pelo menos no que concerne ao valor do encargo, 
impactando em seu modo de interpretação, a caracterização de fraude contra credores (em negócio 
jurídico oneroso, além do eventos damni, a insolvência, deve ser provado o conluio fraudulento) etc.
A doação é um típico contrato unilateral nos efeitos, cuja característica é a irrevogabilidade. Entretanto 
este rigor é afastado em duas situações: ingratidão do donatário e não implemento do encargo pelo 
donatário. Assim, o não cumprimento do encargo pode gerar a revogação da doação modal. 
5.5 Dos atos meramente lícitos
Tanto os atos meramente lícitos quanto o negócio jurídico são fatos jurídicos que decorrem da 
atividade humana, e estão em conformidade com a lei – são lícitos.
Aos atos meramente lícitos, como o achado de tesouro, aplicar‑se‑ão as normas concernentes aos 
negócios jurídicos, sempre que cabíveis.
O negócio jurídico se trata de manifestação da vontade destinada à produção de efeitos 
queridos pelas partes, podendo haver ou não correspondência entre o desejado pelas partes e o 
determinado pela norma. 
Nesse caso, prevalecerá a vontade das partes, uma vez que a regra disposta na norma jurídica é 
meramente supletiva. 
A norma dispositiva, primeiro, é permissiva (as partes podem dispor da vontade). Caso os declarantes 
não manifestem a vontade, valerá o disposto na regra, que é supletiva, ou seja, valerá a norma somente 
no silêncio das partes. 
5.6 Dos defeitos (vícios) dos negócios jurídicos
São defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão (vícios de consentimento) 
e fraude contra credores (vício social).
Os vícios de consentimento provocam uma manifestação da vontade não correspondente ao 
íntimo e verdadeiro querer da pessoa que a manifestou. Há discrepância entre a vontade manifestada 
e a real intenção. 
No vício social isso não ocorre, haja vista que a vontade manifestada corresponde exatamente 
à intenção do agente. Tal vontade é manifestada com a intenção de prejudicar terceiros (credores 
quirografários, que não têm garantia real).
A simulação, antes tratada como vício social (CC/1916), hoje é fator de nulidade absoluta, posto que 
objetiva iludir terceiros e burlar a lei ou o fisco. Está disciplinada no capítulo que trata da invalidade do 
negócio jurídico; é causa de nulidade absoluta.
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A nulidade absoluta, decorrente da simulação, é mais grave, pois atinge interesse social. O juiz pode 
decretar nulo, de ofício, o negócio jurídico simulado. O MP também pode requerer a sua nulidade, que 
é declarada por sentença com efeito ex tunc (retroativo).
Os demais defeitos – vícios do consentimento e vício social – podem gerar a anulabilidade (nulidade 
relativa) (art. 171, II, CC/2002). O negócio jurídico é anulável, sendo de quatro anos o prazo decadencial 
para o prejudicado pleitear a anulação, nos termos do artigo 178, I e II do CC/2002. 
5.6.1 Do erro
Consoante artigo 138 do CC/2002 é a ideia falsa da realidade, o engano espontâneo que leva o 
declarante a uma manifestação de vontade livre, mas não consciente, que jamais ocorreria caso ele 
tivesse plena noção das características do negócio jurídico que estava realizando.
O negócio jurídico é anulável, em quatro anos (salvo na hipótese do casamento por erro, anulável 
em três anos).
Por causa da teoria da confiança, e para que se resguarde a segurança jurídica, prestigiando‑se 
a boa‑fé, somente se anula por erro o negócio jurídico se o beneficiário, como é o caso do outro 
contratante, em negócio oneroso, sabia, ou poderia, com alguma diligência, dele ter conhecimento.
O erro deve ser substancial e escusável (art. 138, CC/2002). O erro suficiente para anular o negócio 
jurídico é aquele de tal importância que, se fosse conhecida a verdade, o consentimento não se externaria 
ou manifestar‑se‑ia de outra forma.
O erro substancial é, geralmente, o erro de fato, por recair sobre circunstância de fato, ou seja, sobre 
qualidades essenciais da pessoa ou da coisa, objeto do negócio jurídico. Excepcionalmente, pode ocorrer 
erro de direito.
Escusável é o erro perdoável, posto que o erro grosseiro se equipara à negligência, que não alcança 
a tutela por parte do ordenamento jurídico.
O erro grosseiro, facilmente perceptível pelo comum dos homens, não pode 
ser idôneo para autorizar a anulação do ato. O princípio geral é do homem 
médio. Por essa razão, o Código reporta‑se ao erro que pode ser percebido por 
pessoa de diligência normal para as circunstâncias do negócio. Trata‑se do 
conceito do homem médio para o caso concreto. Assim, poderá ser anulável 
o negócio para um leigo em um negócio, para o qual não se admitiria o erro 
de um técnico da matéria (VENOSA, 2013, p. 206‑207).
A seguir elencamos algumas hipóteses de erros substanciais (art. 139, CC/2002):
• Erro que interessa à natureza do negócio jurídico: o negócio jurídico pode ser oneroso ou gratuito. 
Há erro quando uma das partes pensa que está vendendo algo e a outra pensa que está recebendo 
algo em virtude de uma doação.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
• Erro sobre o objeto todo do negócio jurídico: o comprador pensa que está comprando a brasília 
amarela dos Mamonas Assassinas, mas está comprando uma brasília amarela qualquer.
• Erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto: o comprador pensa que está adquirindo 
um candelabro de bronze, mas na verdade está comprando, por erro, um candelabro de latão.
• Erro sobre uma qualidade essencial da pessoa: o doador contempla alguém que lhe salvou a vida 
em uma enchente, mas, na realidade, o salvador é um terceiro.
• Erro de direito, desde que não implique recusa à aplicação da lei e seja o único ou principal motivo 
do negócio jurídico: a pessoa contrata a importação de determinada mercadoria ignorando existir 
lei que proíba tal importação. A ignorância da lei pode ser alegada para anular o contrato. 
Do erro como fator de anulação do casamento
O erro substancial e escusável pode ser alegado em ação de anulação de casamento, no prazo de 
três anos. O CC/2002 contempla hipóteses de erro essencial quanto à pessoa em matéria de casamento:
Art. 1.557. Considera‑se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro 
tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao 
cônjuge enganado.
II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, 
torne insuportável a vida conjugal.
III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável 
que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por 
contágio, ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge 
ou de sua descendência (BRASIL, 2002).
A ação anulatória de casamento já foi mais importante, e muito mais frequente, quando não havia a 
possibilidade de dissolução do casamento pelo divórcio, ou seja, antes da Lei n. 6.515, de 26 de dezembro 
de 1977.
Hoje, mormente após a Emenda Constitucional n. 66, de julho de 2010, que extingue a necessidade 
de prazo prévio de separação para fins de divórcio, é mais célere e muitas vezes menos onerosa a opção 
pelo divórcio.
O divórcio pode, ainda, caso nãohaja gravidez, nem filhos menores ou maiores incapazes, ser feito 
por escritura pública, no cartório de notas, diante de mútuo consentimento e desde que as partes 
estejam representadas por advogado.
88
Unidade II
Assim, o divórcio pode ser extrajudicial, nos termos da Lei n. 11.441, de 11 de janeiro de 2007, 
enquanto a ação anulatória, mais cara e demorada, deve ser sempre um procedimento judicial.
A escolha pela ação anulatória do casamento por erro essencial quanto à pessoa pode se dar por 
questões pessoais; por vezes, de ordem religiosa, ou para que o casamento não gere efeitos para o 
cônjuge de má‑fé, posto que, diante da anulação, os efeitos de casamento putativo somente favorecem 
a prole e o cônjuge de boa‑fé.
Note‑se, ainda, que a anulação de casamento sob alegação de erro, como vício de vontade, depende 
de prova de insuportabilidade nos casos previstos nos dois primeiros incisos do mencionado artigo 1.557 
do CC/2002.
A insuportabilidade somente é presumida de forma irrefragável quando se prova alguma das 
situações previstas no inciso III, como é o caso, por exemplo, de moléstia grave e transmissível, por 
contágio ou por herança, capaz de colocar em risco a saúde da prole ou do outro cônjuge.
O erro acidental diz respeito à circunstância acessória do objeto ou da pessoa, e, desta forma, é 
incapaz de viciar o negócio jurídico. Um exemplo disso é alguém comprar uma casa pensando que ela 
tem quatro janelas frontais e, na verdade, o imóvel possuir apenas três janelas frontais.
O artigo 140 do CC/2002 determina que a falsa causa (ou falso motivo), em regra, não vicia o 
negócio jurídico, salvo se nele figurar expressamente, como razão essencial ou determinante, caso em 
que torna o negócio anulável. 
Exemplo: pessoa que doa ao governo para a construção de uma ponte, sendo a construção da ponte 
a única causa que o levou a manifestar a sua vontade em doar. Descobrindo ser falsa essa causa, pleiteia 
então a anulação do negócio jurídico da doação.
Os erros podem ocorrer de forma pessoal ou através de outros meios de comunicação: e‑mail, 
carta, televisão etc. Nos termos do artigo 141, CC/2002, havendo disparidade entre a vontade 
declarada e a vontade interna, o erro poderá ser alegado nas mesmas condições em que a 
manifestação da vontade pessoal.
O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração da vontade (art. 143, CC/2002).
O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa a quem a manifestação da 
vontade se dirige, se oferecer para executá‑la na conformidade da vontade real do manifestante. 
Tal artigo protege, por exemplo, o vendedor que entrega, em lugar do candelabro de latão, o 
candelabro de bronze, para evitar que seja anulado o negócio jurídico sob alegação de erro por parte 
do comprador. O contratante, então, pode evitar a anulação, oferecendo‑se para executar o contrato na 
conformidade da vontade real do manifestante.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
5.6.2 Dolo
Nos termos do artigo 145 do CC/2002, dolo é o comportamento astucioso do contratante ou de 
terceiro para alcançar do declarante manifestação de vontade livre, mas não consciente, que prejudica 
o próprio declarante (ou terceiros) e leva, indevidamente, vantagens ao autor do dolo ou a terceiros.
É o artifício empregado para induzir alguém à prática de um ato prejudicial ao seu autor e que 
representa benefício ao autor do dolo ou à terceira pessoa. O erro é um ato espontâneo. A própria 
pessoa tem uma falsa percepção da realidade, ou seja, se engana. O erro é pessoal.
O dolo, por sua, vez, é vício (defeito de vontade) provocado por alguém. No dolo há a interferência 
de uma terceira pessoa que frauda documento, declara afirmações mendazes, cria uma situação na qual 
a pessoa é levada ao equívoco. 
No dolo, há má‑fé de terceiro, ainda que essa má‑fé decorra do silêncio de contratante que deveria 
revelar certa característica, importante, do negócio jurídico que irá se realizar.
O dolo pode ser de várias espécies. Vamos mencioná‑las a partir de agora.
O dolus bonus é aquele tolerável, ou seja, que não acarreta a anulabilidade do negócio jurídico. 
Tal espécie de dolo pode ser visualizada na conduta do vendedor que exalta as qualidades do produto. 
O corretor que ressalta as qualidades de um imóvel e intermedia a sua alienação não dá causa à 
anulação do negócio jurídico firmado; atua com dolus bonus.
O dolus malus é aquele que gera ou poderá gerar a anulabilidade do negócio jurídico, uma vez que 
é praticado com o objetivo de prejudicar alguém, com má‑fé. Essa espécie de dolo sempre decorre da 
utilização de manobras astuciosas com o fim primordial de prejudicar alguém.
Ressalte‑se que a diferença entre o dolus malus e o dolus bonus deve ser analisada no caso concreto, 
submetido à apreciação do juiz, levando‑se em conta a inexperiência e o nível de informação da vítima.
O dolo principal (dolus causam) é aquele que se revela como sendo a causa determinante do ato. 
Por sua vez, tem‑se dolo acidental quando o ato seria praticado independentemente de sua existência. 
O dolo acidental (dolus incidens) é ato ilícito e pode levar ao pleito de indenização, em razão de 
danos morais e materiais. 
Esse dolo acidental pode alterar as circunstâncias do negócio jurídico que já iria se realizar, como o 
índice de correção monetária, sua garantia, a data de sua realização. Contudo, não enseja a anulação do 
ato, porque não se trata da causa do ato.
Conclusão: o dolo apto a gerar a anulabilidade do negócio jurídico deve ser ou o malus ou o principal. 
O dolo acidental, quando muito, pode gerar o dever de indenizar por perdas e danos.
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Unidade II
O dolo por ação é o dolo positivo, que se compõe de um artifício astucioso que se revela por 
afirmações falsas a respeito da qualidade da coisa.
O dolo por omissão (ou negativo) também se compõe de manobras astuciosas que se revelam por 
ocultações sobre a qualidade de uma coisa, que, uma vez conhecida da outra parte, impediria que o 
negócio fosse concluído. 
Exemplo: o vendedor sabe que o objeto do negócio é uma casa cheia de trincas e esconde, 
dolosamente, tal fato, do comprador.
Imagine a situação: alguém, ao sair de uma joalheria, encontra‑se com seu amigo e lhe diz: “Vi na 
joalheria um relógio de ouro, maravilhoso, preço campeão... Não comprei porque não tinha dinheiro”. 
O amigo vai até a joalheria e adquire o relógio. O dono da loja não tem conhecimento da conversa entre 
os amigos.
Nos termos do artigo 148, CC/2002, o dolo de terceiro, para acarretar a anulabilidade do negócio 
jurídico, exige o conhecimento de uma das partes contratantes. Não sendo o dolo de terceiro conhecido 
pelo beneficiado, dará lugar a uma indenização (perdas e danos), mas não ensejará a anulação do negócio.
Quando o dolo é de terceiro, o outro contratante (não o declarante, vítima do dolo), não pode ser 
prejudicado com a anulação do negócio jurídico se não sabia da conduta dolosa do terceiro. 
Trata‑se de preservação da segurança jurídica, através da lei, que assegura os efeitos do negócio em 
favor da pessoa que é diligente e age de boa‑fé em negócios onerosos, confiando nessa contratação.
O dolo do representante legal torna anulável o negócio jurídico, mas só obriga o representado a 
responder civilmente até a importância do proveito que teve (art. 149, 1ª parte, CC/2002).
Dolo do representante convencional (contrato de mandato)
O dolo do representado torna anulável o negócio jurídico e ainda obriga o representado a responder 
solidariamente com o representante pelas perdas e danos. Isso porque, no caso do representante 
convencional, a lei presume a culpa in eligendo (art. 149, parte final, CC/2002).
Princípio basilar do direito: “A ninguém é dado alegar a própria torpeza para dela tirar proveito”. 
Se ambas as partes procederam com dolo, nenhuma delas pode alegar o dolo da outra para anular o 
ato, ou reclamar indenização. Exemplo: o vendedor induziu o comprador a comprar gato por lebre, 
sendo que o compradorescondeu maliciosamente o fato de ter 17 anos de idade. Se ambas as partes 
procedem com dolo, o negócio é mantido. A lei não prevê a sua anulação; não há boa‑fé a defender.
5.6.3 Da coação
Conforme artigo 151 do CC (BRASIL, 2002), a coação é pressão moral, vis compulsiva, exercida sobre 
o paciente, que o leva a uma declaração de vontade consciente, mas não livre, tornando anulável o 
negócio jurídico no prazo de quatro anos, a contar do momento em que cessa a ameaça.
91
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
Nas palavras de Gagliano e Pamplona Filho: 
Entende‑se como coação capaz de viciar o consentimento toda violência 
psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio jurídico que a 
sua vontade interna não deseja efetuar (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 
2019, p. 173).
A ameaça é violência, ou seja, alguém é obrigado a manifestar a vontade, sob pena de sofrer uma 
consequência danosa. 
A violência pode ser materializada de duas formas: violência física ou absoluta e violência moral ou 
relativa. A violência física significa ausência de vontade, ou seja, diante da violência física o ato inexiste. 
Na coação, a violência é moral, vis compulsiva, a vontade existe, mas é viciada, porque não é livre.
Assim, a coação, como vício de consentimento, deve ser entendida como toda e qualquer pressão 
exercida sobre um indivíduo para determiná‑lo a concordar com o ato. 
A coação exige a presença de violência na sua forma relativa, ou seja, a chamada violência moral ou 
psicológica, haja vista que se houver violência física não haverá manifestação da vontade, inexistindo o ato.
5.6.4 Pressupostos da coação (art. 151, CC/2002)
Para a configuração da coação, deve haver a relação de causalidade, ou seja, deve haver ligação 
causal entre a violência psicológica e vontade declarada. Dessa forma, deve ser utilizado o raciocínio 
da exclusão, ou seja, se excluída a violência moral (causa) assim mesmo ocorreria a manifestação da 
vontade, inexiste a causalidade. 
A pressão psicológica deve ser grave, isto é, a coação deve provocar temor que viciará a vontade. 
Assim, a ameaça de mal injusto deve ser revestida de gravidade suficiente. 
Utiliza‑se o critério concreto, subjetivo: se uma determinada situação será ou não considerada como 
grave, dependerá da análise das situações particulares da pessoa ameaçada, se é mais fraca, doente, 
idosa etc.
Antes, era usado o critério abstrato, averiguando‑se se a ameaça seria suficiente para atemorizar o 
“homem médio”.
Esse critério é visto, atualmente, como injusto. Por vezes, a ameaça não é suficiente para aterrorizar o 
homem médio, mas pode ter sido suficiente para viciar a vontade do declarante naquele caso concreto, 
por se tratar de idoso, doente ou pessoa extremamente crente em certa fé. 
A ameaça deve ser injusta, ou seja, não se considerará como tal a ameaça que consiste em exercício 
regular de um direito (art. 153, CC/2002). 
92
Unidade II
O locador que ameaça ajuizar a ação de despejo por falta de pagamento cumulada com a cobrança 
de alugueres, caso não ocorra o recolhimento do aluguel, atua em conformidade com o exercício regular 
do direito.
Cobrar os alugueres atrasados do inquilino, desde que não seja em público, sem constrangimento, 
não se caracteriza como ameaça.
A ameaça deve incutir o temor atual, no momento da declaração de vontade. Ainda que a ameaça 
seja de mal no futuro, o temor deve existir no momento em que é declarada a vontade.
A ameaça deve trazer justo receio de prejuízo. O receio deve ser de prejuízo mais grave que aquele 
decorrente do ato que aceita realizar para evitá‑lo.
A ameaça pode recair sobre a pessoa ou o patrimônio do próprio declarante, de seus familiares e até 
de pessoas que nem pertencem à família do declarante, se esse for o entendimento do juiz.
Em relação à pessoa que não pertence à família do coagido, o juiz, com base nas circunstâncias, 
decidirá se houve coação.
Temor reverencial
Trata‑se do receio de desgostar os pais, familiares, ou da obediência aos superiores na relação 
empregatícia. Em regra, não gera a coação moral (art. 153, parte final do CC/2002). Assim, o negócio 
jurídico praticado por conta de temor reverencial é plenamente válido.
Deve‑se averiguar se não ocorrera, de fato, a ameaça moral, caracterizando‑se, assim, a coação 
como vício do consentimento. Se esse não for o caso, o mero temor reverencial não é suficiente para 
tornar anulável o negócio jurídico.
Da coação de terceiro
Assim como ocorre na hipótese de dolo de terceiro, não pode a coação de terceiro viciar o negócio 
jurídico se não for a ameaça de conhecimento do outro contratante, em negócio oneroso.
Vale a teoria da confiança, para a preservação dos efeitos o ato em favor daquele que age de boa‑fé, 
considerando‑se a necessidade de segurança jurídica e levando‑se em conta a função social do contrato 
(art. 421, CC/2002).
Como no caso de dolo, a coação de terceiro só vicia o ato se a pessoa a quem aproveita sabe (ou 
deveria, com alguma diligência, saber) que a anuência ou manifestação de vontade é viciada por coação.
5.6.5 Do estado de perigo
Conforme disposto no artigo 156 do CC, configura‑se estado de perigo quando alguém, premido 
pela necessidade de salvar‑se, ou salvar pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra 
parte, assume obrigação excessivamente onerosa. 
93
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
O parágrafo único do artigo 156, do CC/2002, dispõe que em se tratando de pessoa não pertencente 
à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
O negócio jurídico efetivado em estado de perigo pode ser anulado, conforme disposto no artigo 
171, II, do CC/2002. O prazo decadencial para se pleitear a anulação do negócio jurídico, nos termos do 
artigo 178, II, do CC/2002, é de quatro anos a partir do dia em que se realizou.
Exemplos de negócios jurídicos celebrados em estado de perigo: alguém que, para custear uma 
cirurgia urgente de pessoa da família, assina contrato de seguro ou termo aditivo que lhe dê cobertura 
para o tratamento; pessoa que, em um incêndio, faz promessa de recompensa com valor exorbitante a 
quem salvá‑lo.
Situações de naufrágio, enchente, incêndio, doença e sequestro são exemplos de circunstâncias que 
podem levar à manifestação de vontade viciada: vontade consciente, mas não livre.
Para que exista possibilidade de o negócio jurídico ser anulado, a outra parte deve ter conhecimento 
do estado de perigo, aproveitando‑se da situação. O perigo pode não ser real, mas o declarante deve 
acreditar que seja. 
Por outro lado, havendo perigo real que o declarante ignora, ou entende como não sendo grave, não 
se configura o defeito de consentimento. 
A alta recompensa ou prestação assumida em valores exorbitantes é entendida como ciência, por 
parte do outro contratante, ou do beneficiário, de que se trata de manifestação de vontade viciada, 
por estado de perigo. 
Trata‑se do chamado dolo de aproveitamento, que permite a anulação do negócio jurídico por 
descaracterizar a boa‑fé do terceiro.
Anulado o negócio jurídico por estado de perigo, o juiz deve fixar, em favor do terceiro, valores 
a serem pagos a título de: indenização por prejuízos (perdas e danos); remuneração por serviços 
prestados e reembolso de despesas efetuadas para que não ocorra em favor do autor da ação anulatória 
o enriquecimento ilícito.
5.6.6 Da lesão
A lesão, embora não prevista como vício de consentimento no CC/1916, surge em 1938, com o 
Decreto‑lei n. 869, de 18 de novembro de 1938, que tipificou os crimes contra a economia popular. 
No passado, a lesão existia como vício no direito romano:
O Código de Justiniano autorizava expressamente a rescisão do contrato de 
compra e venda de bem imóvel sempre que o vendedor alienasse o bem por 
preço “menor que a metade do seu valor” (SCHREIBER, 2018, p. 256).
94
Unidade II
Nos termos do artigo 157, do CC/2002, ocorre a lesão quando uma pessoa assume, em contrato 
comutativo, prestação muito mais alta do que a contraprestação aser recebida, causando grave 
desproporcionalidade entre as prestações, por necessidade ou inexperiência. A vontade é viciada: é livre, 
mas não consciente.
São requisitos para caracterização da lesão:
• O contrato deve ser oneroso, sinalagmático e comutativo. Há prestação e contraprestação e deveria 
haver certa equivalência, ainda que subjetiva, entre elas. Em contrato aleatório, a diferença entre 
as prestações e até a inexistência de prestação, como no contrato de seguro em que o sinistro não 
ocorre, faz parte da essência da convenção.
• A desproporção deve ser grave, substancial, muito embora não diga a lei atualmente em vigor 
qual diferença é grave (o dobro, o triplo, o décuplo). O juiz com discricionariedade vai analisar 
cada caso.
• Deve haver desproporção com relação ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. 
A desvalorização de bens a posteriori não permite a alegação de lesão para fins de anulabilidade 
do negócio jurídico.
• A lesão deve ser objeto de ação judicial em que o prejudicado, aquele que oferece prestação 
muito alta, com relação à contraprestação que vislumbra receber, pleiteia a anulação do negócio. 
O prazo é de quatro anos.
 Observação 
Na ação anulatória, conforme dispõe o artigo 157, § 2º, do CC/2002, não 
haverá decretação da anulação do negócio, se for oferecido suplemento 
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
A lesão é, pois, o prejuízo que uma das partes sofre na conclusão de um contrato comutativo, em 
razão da desproporção existente entre as prestações dos contraentes, sendo essa grave diferença o seu 
elemento objetivo.
O elemento subjetivo é a premente necessidade ou inexperiência da parte, gerando lucro exorbitante 
ou desproporcional em proveito do outro contratante.
A lesão se caracteriza ainda que o contratante favorecido com a prestação muito alta não tenha 
ciência da desproporcionalidade. 
Nesse caso, não se preserva o direito do terceiro de boa‑fé, que também pode ter confiado no 
negócio por inexperiência. Isso ocorre para se dar lugar à proteção mais relevante, a do equilíbrio entre 
os contratantes. A lei não aceita o enriquecimento sem causa. 
95
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
Assim, dispensa a verificação de má‑fé da parte que tirou proveito do negócio em que ocorreu a 
lesão. A regra ordena a anulabilidade do ato negocial (art. 171, II, CC/2002) ou a possibilidade de a parte 
favorecida concordar com a redução do proveito (art. 157, § 2º, CC/2002). 
Por exemplo, se o aluguel é exorbitante, o locador pode concordar com a sua diminuição. O prazo 
decadencial para a anulação do negócio jurídico celebrado com o defeito da lesão é de quatro anos, 
conforme disposto no artigo 178, II, do CC/2002, contados da data da celebração do contrato.
5.6.7 Da fraude contra credores (art. 158, CC/2002)
Ocorre quando devedor insolvente ou na iminência de tornar‑se insolvente pratica atos suscetíveis 
de diminuir seu patrimônio, reduzindo, desse modo, a garantia que ele (patrimônio) representa para 
resgate de suas dívidas, em favor de credores quirografários.
Afirmam Gagliano e Pamplona Filho:
O progresso material e espiritual dos povos consagrou o reconhecimento do 
princípio segundo o qual é o patrimônio do devedor (e não a sua pessoa) 
a garantia da satisfação dos créditos. Portanto, a previsibilidade legal desse 
vício traduz um instrumento normativo de proteção conferido aos credores 
quirografários em geral (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019, p. 184).
O negócio jurídico com fraude contra credores é anulável por ação pauliana, ou revocatória, proposta 
por credor quirografário (sem garantia real), no prazo de quatro anos.
Para a caracterização da fraude contra credores, em se tratando de negócio jurídico oneroso, é 
necessária a presença de dois requisitos:
• Requisito subjetivo: consilium fraudis. É a má‑fé do devedor e da terceira pessoa. Ambos devem 
ter a intenção de prejudicar os credores.
• Requisito objetivo: eventus damni. Trata‑se de qualquer ato prejudicial ao credor por tornar o 
devedor insolvente ou por ter sido praticado num estado de insolvência, agravando esse estado.
A legislação brasileira exige para a caracterização da fraude contra credores, oriunda de atos de 
transmissão a título oneroso, a presença de um ato capaz de prejudicar o credor, quer por levar o 
devedor ao estado de insolvência, quer por ter sido praticado quando tal estado já existia. Deve, ainda, 
existir a má‑fé, ou seja, a intenção de afastar os efeitos da cobrança.
Isso ocorre porque se o terceiro em negócio oneroso age de boa‑fé, o negócio é mantido para a 
preservação da segurança jurídica (teoria da confiança). 
Em negócio gratuito, basta o eventos damni. Exemplo: a doação pura. O pai que passa bens para 
o nome do filho para não responder por suas dívidas é réu em ação pauliana, e a doação será anulada 
independentemente da boa‑fé do filho, posto que se trata de ato gratuito.
96
Unidade II
São negócios jurídicos em que ocorre a fraude contra credores:
• contratos gratuitos, como a doação;
• contratos onerosos, como a venda e compra;
• remissão (perdão) de dívidas;
• pagamento antecipado de dívidas.
A constituição de garantia real ou privilégio pelo devedor insolvente (ou prestes a se tornar insolvente) 
em favor de credor quirografário, em prejuízo dos demais credores, é passível de anulação por fraude 
contra credores.
 Observação 
Permitem‑se gastos e também a garantia outorgada por devedor 
insolvente ou na iminência de se tornar insolvente, se essa garantia é 
necessária para a preservação da economia doméstica ou essencial para 
tomar empréstimo indispensável para a continuidade de trabalho, que 
garante a renda e a mantença da família, como no caso do produtor rural, 
por exemplo. 
Ação judicial: determinada a fraude, há a possibilidade de o negócio jurídico ser anulado através 
de ação pauliana ou revocatória. Essa ação não é de interesse de credores que tenham garantia real, 
como os credores hipotecários ou pignoratícios. 
Deve ser proposta por credores comuns, os quirografários, que somente podem contar com o ativo 
patrimonial composto por bens penhoráveis do devedor para o resgate de seus créditos (princípio de 
que o ativo patrimonial do devedor responde pelas obrigações contraídas na ordem do direito privado, 
com exceção da prisão civil em caso de devedor de pensão alimentícia, no âmbito do direito de família).
Na fraude contra credores, o devedor insolvente ou na iminência de se tornar insolvente se antecipa, 
alienando ou onerando bens para prejudicar os credores comuns, quirografários, antes do ajuizamento 
de ação judicial.
Já na fraude à execução, ocorre fato mais grave, por se caracterizar a violação de ordem pública. 
Trata‑se de situação em que já está em curso uma ação judicial capaz de reduzi‑lo à insolvência e, ainda 
assim, age ilicitamente, alienando ou onerando o seu patrimônio. 
Com a fraude à execução, os credores não são os únicos prejudicados, pois o processo está em 
andamento e ocorre violação ao Estado. Assim, a fraude à execução é instituto de direito processual, 
com a presunção de má‑fé, constituindo ato atentatório à dignidade da Justiça – tipificando ainda 
ilícito penal.
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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
A fraude contra credores, como vício social capaz de anular o negócio jurídico por pleito de credores 
quirografários, é instituto de direito material e de interesse particular.
Por fim, a fraude à execução por ser declarada incidentalmente; já a fraude contra credores depende 
de ação pauliana, autônoma.
5.7 Da simulação como fator de nulidade absoluta
A simulação, antes tratada como vício social – no CC/1916 –, é hoje causa de nulidade absoluta, 
consoante artigo 167 do CC/2002. Atualmente, o juiz pode decretar de ofício a nulidade absoluta de ato 
simulado, bem como pode o MP pleitear a sua anulação.
A simulação é uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeitos diversos dos 
ostensivamente ostentados.
A simulação requerum ajuste de vontade entre as partes contratantes com o objetivo de obter 
efeito diverso daquele que o negócio aparenta conferir. Ocorre para burlar a lei e, com muita frequência, 
o fisco, acarretando a sonegação de impostos.
Simular é fingir, mascarar, camuflar, esconder a realidade. Juridicamente, 
é a prática de ato ou negócio que esconde a real intenção. A intenção 
dos simuladores é encoberta mediante disfarce, parecendo externamente 
negócio que não é espelhado pela vontade dos contraentes. As partes não 
pretendem originalmente o negócio que se mostra à vista de todos; objetiva 
tão só produzir aparência. Trata‑se de declaração enganosa da vontade 
(VENOSA, 2013, p. 257).
5.7.1 Duas são as espécies de simulação: absoluta e relativa
Na simulação absoluta, as partes não têm a intenção de celebrar o negócio, mas fingem celebrá‑lo para 
criar uma ilusão externa. O negócio que se pratica na realidade, e não nas aparências, é absolutamente 
nulo, ilícito.
É o caso do marido que, na iminência do divórcio e da partilha de bens, simula celebrar negócio 
jurídico (o negócio inexiste) com um amigo, que lhe deixa com o patrimônio negativo, sob o argumento 
de estar pagando dívidas. 
A finalidade da simulação absoluta – no caso anterior, prejudicar a esposa na futura partilha, em ação 
de divórcio – deve ser frustrada, com a declaração de nulidade absoluta. Outro exemplo é a doação a 
cúmplice de adultério através de interposta pessoa, quando se simula ato lícito (doação a um parente, por 
exemplo), para se alcançar finalidade que a lei proíbe. Trata‑se de negócio jurídico absolutamente nulo.
Na simulação relativa, o ato ocultado é lícito, mas simula‑se condição diferente para o alcance 
indevido de vantagens. Como exemplo, podemos mencionar valor menor que o real, em cláusula 
contratual referente ao preço do negócio, para burlar a lei e o fisco, com a sonegação de impostos.
98
Unidade II
Nesse caso, de simulação relativa, o negócio sofre retificação para constar e gerar os seus devidos 
efeitos, as reais características do ato.
A simulação praticada pelas partes contratantes prejudica terceira pessoa, ou viola imperativo legal. 
Assim, para despistar o efetivo negócio, as partes fingem celebrar outro negócio. Na simulação relativa, 
observa‑se a presença de dois negócios: o aparente (simulado) e o oculto (dissimulado).
Conforme artigo 167, do CC/2002, é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se 
dissimulou, se válido for na substância e na forma.
Então, a simulação absoluta é nula, mas na simulação relativa o negócio dissimulado pode ser válido, 
passando a constar as suas reais características (preço, data, condições).
Da simulação inocente
A simulação inocente é a ostentação de negócio jurídico diverso daquele praticado na realidade, mas 
em situação em que o ato ocultado não viola a lei. 
A sustentação ostensiva de fato diverso do efetivamente ocorrido se dá para não magoar terceiro, 
como no caso do tio que faz doação lícita a um dos sobrinhos e simula uma venda e compra, para não 
desgostar os demais sobrinhos.
No direito brasileiro, a simulação inocente não gera efeitos jurídicos, como a anulação do ato. Como 
afirma Sílvio de Salvo Venosa (2013, p. 260):
Na simulação inocente, a declaração não traz prejuízo a quem quer que seja, 
sendo, portanto, tolerada. É o caso do homem solteiro que, por recato, simula 
compra e venda a sua concubina ou companheira, quando, na verdade, faz 
doação. Na simulação maliciosa, existe intenção de prejudicar por meio do 
processo simulatório.
5.8 Da Invalidade do Negócio Jurídico
O negócio jurídico é um ato de vontade que produz os efeitos na ordem civil. Todo negócio jurídico 
deve apresentar os requisitos essenciais gerais (art. 104, CC/2002) e especiais (respectivos a cada espécie 
de negócio jurídico). Os requisitos naturais são implícitos e requisitos acidentais são inseridos para 
modificar os efeitos do negócio jurídico.
Geralmente, a inobservância de algum dos requisitos de validade do negócio jurídico acarreta a sua 
nulidade absoluta.
Nulidade é vício que contamina o negócio jurídico, ensejando a sua extinção judicial. A nulidade 
é a consequência prevista em lei para o desrespeito aos requisitos do ato, previstos, tais requisitos, no 
próprio ordenamento jurídico.
99
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
A declaração de nulidade absoluta ou da relativa depende de manifestação do Poder Judiciário 
(sentença). Logo, há necessidade de provimento judicial (processo).
5.8.1 Espécies de nulidade
Nulidade absoluta
Nesse caso, o vício é de interesse público, por prejudicar os valores de toda a sociedade, como no 
caso de parte absolutamente incapaz, objeto ilícito, ou desrespeito à solenidade prevista em lei para 
aquele negócio jurídico (art. 166 ao 171, CC/2002).
Ainda que cumpridos todos os requisitos de validade, pode ser absolutamente nulo o ato, por 
determinação da lei. Exemplo: a doação de todos os bens é nula; o casamento entre colaterais em até 
terceiro grau é nulo.
Diante do interesse público, a sentença que declara a nulidade absoluta gera efeitos retroativos, 
é declaratória.
O juiz pode decretar de ofício a nulidade, salvo a hipótese de casamento. E o MP pode propor ação 
declaratória de nulidade, em defesa do interesse de toda a sociedade.
Nulidade relativa 
Diante da nulidade relativa, o vício compromete o interesse de particular. Somente ele, o particular 
prejudicado, pode propor ação que vise à anulação do negócio jurídico. Exemplos: vícios do consentimento, 
vício social da fraude contra credores, agente relativamente incapaz etc. (arts. 171 ao 184, CC/2002).
A sentença decorrente da ação de nulidade relativa não retroage, é constitutiva, seus efeitos são 
ex nunc. Os efeitos produzidos da celebração do negócio até a sentença são mantidos. 
Da ratificação do negócio jurídico
A ratificação é a renúncia da parte em buscar a nulidade do ato praticado com a inobservância dos 
requisitos legais. 
A ratificação só é possível em se tratando de nulidade relativa, por exemplo: relativamente incapaz; 
fraude contra credores, consoante artigo 172 e seguintes do CC/2002.
Quanto ao negócio jurídico nulo (casos de nulidade absoluta), determina o artigo 169 do CC/2002: 
“art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do 
tempo” (BRASIL, 2002).
A ratificação pode ser expressa (por escrito, ou verbalmente) e tácita (o particular que teria 
legitimidade para a propositura da ação anulatória deixa decorrer o prazo que teria para a distribuição 
da ação).
100
Unidade II
Outro exemplo de ratificação tácita comportamental: o filho de 17 anos faz um negócio sem 
assistência do pai. A rigor, o negócio pode ser anulado. Porém, se o pai começar a pagar as prestações 
do filho, ocorre a ratificação tácita, como uma renúncia em se buscar a anulabilidade do negócio.
Em caso de nulidade relativa, os prazos decadenciais para se pleitear a anulação de negócios jurídicos 
variam de 180 dias (para casamento, em certas circunstâncias, consoante art. 1.560 do CC/2002) a 
quatro anos (por exemplo, o previsto no art. 178 do CC/2002).
Há prazos de cento e oitenta dias, dois anos, três anos e quatro anos. Após o decurso do prazo, 
sem a devida propositura da ação, em caso de nulidade relativa (negócio anulável), estará ratificado 
o negócio jurídico.
Os prazos são sempre decadenciais, não podem ser suspensos ou interrompidos, de modo que fluem 
com maior celeridade, se comparados aos chamados prazos prescricionais (o prazo prescricional pode 
ser interrompido, voltando a correr do início; e pode ser suspenso, por exemplo: o prazo para a cobrança 
de uma dívida, que fica suspenso durante o casamento ou a união estável, e, após a sua dissolução, volta 
a correr de onde parou).
São decadenciais os prazos aqui tratados justamente para que se esgote mais rapidamente a chance 
de anulação, pois todo desfazimento de negócio jurídico tem potencial para causar prejuízo à sociedade,sendo mais saudável para a circulação dos bens a sua preservação e a garantia de seus efeitos.
Deve‑se observar, por sua importância, que os prazos decadenciais, assim como os prescricionais, 
não correm para prejudicar o absolutamente incapaz e podem ser decretados de ofício pelo juiz.
Na nulidade absoluta, em tese, a declaração de nulidade é imprescritível. Será sempre possível se 
declarar nulo, por exemplo, o casamento entre irmãos, por serem colaterais em segundo grau, nos 
termos dos artigos 1.521, IV, do CC/2002 e artigo 1.548, II, também do CC/2002.
5.8.2 Ato inexistente
A lei não trata do ato inexistente; restringe as hipóteses a negócios jurídicos nulos e anuláveis. 
A tese é doutrinária e jurisprudencial. Surgiu, historicamente, para a matéria do casamento; e foi adotada 
para o âmbito contratual.
O ato é inexistente quando lhe falta um elemento constitutivo, conforme interpretação doutrinária 
e jurisprudencial. 
A lei prevê os requisitos de validade do negócio jurídico, no artigo 104 do CC/2002, mas não trata 
dos elementos constitutivos (pressupostos de existência) – vontade, declaração e objeto idôneo. 
Um casamento encenado, por exemplo, é um ato inexistente; assim como um contrato celebrado por 
pessoa sem nenhuma possibilidade de discernimento. 
101
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
O relativamente incapaz pode praticar atos da vida civil, desde que assistido, salvo atos e negócios 
jurídicos que possa (por determinação legal expressa) praticar independentemente de assistência 
(exemplo: ser testemunha, votar, etc.).
 Lembrete 
A proteção do Código ao relativamente incapaz não incide se o menor 
oculta a sua idade ou frauda documento, para embasar aleivosias. Fica 
evidenciado o dolo, a má‑fé do relativamente incapaz, que a lei condena.
5.9 Da forma do ato jurídico
Forma é o conjunto de solenidades que devem ser observadas para que a declaração da vontade 
tenha validade e, consequentemente, eficácia jurídica. Assim, a forma consiste na maneira pela qual a 
vontade se exterioriza no sentido de conseguir a produção de efeitos jurídicos.
Como a forma é elemento constitutivo, pressuposto de existência do ato jurídico, ela sempre ocorrerá. 
Mas a regra é de que a forma seja livre. 
Para viabilizar a circulação dos bens, com celeridade e sem custos, vigora a liberdade de forma, verbal 
ou escrita, por instrumento público ou particular.
Somente nos atos solenes será exigida forma especial, por lei, sob pena de nulidade absoluta 
(art. 166, IV, CC/2002). 
Como se observou anteriormente, a maioria dos negócios jurídicos tem forma livre, porque a 
burocracia, o custo e a lentidão das formas solenes são as suas desvantagens. 
Os negócios jurídicos, a venda e compra de coisas móveis e os contratos de transportes, por exemplo, 
estariam inviabilizados por enormes filas e custos, se esses contratos fossem solenes.
Alguns negócios, no entanto, são solenes para:
• Conferir publicidade ao ato e contribuir para a segurança jurídica.
• Garantir a autenticidade do ato.
• Assegurar a livre manifestação da vontade.
• Facilitar a prova.
• Chamar a atenção das partes para a seriedade do ato jurídico.
102
Unidade II
5.9.1 Espécies de forma
A forma pode ser livre: a vontade pode ser exteriorizada através de qualquer modo ou meio. Também 
pode ser especial ou solene: a forma especial pode ser única ou plural. Por exemplo, a lei admite várias 
formas para o reconhecimento de paternidade e para o testamento; a fundação pode ser instituída por 
escritura pública ou testamento (art. 62, CC/2002).
Outra possibilidade ainda é que a forma seja contratual: a rigor, o negócio jurídico que não requer 
forma especial pode ser instrumentalizado por forma livre. Entretanto, se as partes estipularem que o 
negócio jurídico deve ser exteriorizado por instrumento público, vale a vontade das partes expressa na 
cláusula contratual.
Forma ad solemnitaten é aquela que se apresenta como sendo da essência do ato, ou seja, o negócio 
jurídico é absolutamente nulo se não for respeitada a forma prescrita em lei. Alguns exemplos são a 
fiança; compromisso arbitral; transação; doação; testamento; hipoteca; compra e venda de imóveis de 
valor superior a trinta salários mínimos.
Por fim, temos a forma ad probationem tantum: a princípio a vontade poderá ser materializada sem 
a observância de qualquer forma, mas esta é importante como elemento de prova. Exemplo: contrato 
de locação; venda e compra de coisa móvel; comodato.
6 DOS ATOS ILÍCITOS
O ato que está em desconformidade com a norma jurídica regedora da conduta é ilícito. Atos ilícitos 
são espécies de fatos jurídicos decorrentes da atividade humana e contrários ao ordenamento jurídico.
Nas palavras de Roberto Senise Lisboa, o ato ilícito:
É toda conduta pessoal que viola o ordenamento jurídico, causando 
dano a outra pessoa. Trata‑se o ato ilícito de comportamento violador 
do dever jurídico primário que tinha de ser observado pelo agente, 
mas acabou por descumprir aquilo a que se comprometeu por meio de 
declaração unilateral de vontade, negócio jurídico ou, ainda, por força 
de lei (LISBOA, 2008, p. 132).
Seu agente receberá, da lei, uma sanção. Do ato ilícito, voluntário e contrário à lei, surge a obrigação 
de reparar o dano material ou moral.
O ato ilícito tem como requisitos: 
• ação ou omissão;
• dano;
103
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
• culpa (em sentido lato);
• nexo causal entre ação ou omissão e o dano.
Segundo o artigo 186 do CC/2002: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” 
(BRASIL, 2002).
Assim, a violação do dever jurídico absoluto determinado pela norma jurídica que traga prejuízo a 
alguém se configura como ilícito civil capaz de gerar uma obrigação, qual seja: reparar o dano causado 
à vítima.
Trata‑se da responsabilidade civil, obrigação oriunda do ato lícito, de reparar o dano, tornar indene 
a vítima, sem, contudo, gerar enriquecimento ilícito.
A ação ou a omissão pode ser própria ou de terceiro, posto que há responsabilidade civil objetiva 
(independentemente de culpa) do empregador por ato do empregado; do tutor por ato do tutelado; dos 
pais por atos dos filhos etc.
Afirma Roberto Senise Lisboa:
Responsabilidade pelo fato de terceiro é o dever de reparação do dano 
decorrente da conduta praticada por uma pessoa que possui ligação 
considerada relevante pelo legislador para os fins de imputabilidade do 
pagamento de indenização a outra pessoa.
O principal dispositivo do CC que trata do tema é o art. 932, que impõe a 
responsabilidade, por imputabilidade objetiva (art. 933), às seguintes pessoas:
a) os pais, pelos atos danosos causados por seus filhos menores; [...]
b) o tutor e o curador, pelos atos e danos causados por seu respectivo pupilo;
c) o empregador, pelos atos danosos causados por seu empregado no 
exercício do trabalho.
O mesmo sucede com o comitente em relação a serviçal e preposto.
d) Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos, ainda que 
de ensino, pelos atos danosos causados por seus hóspedes, moradores ou 
educandos; [...]
e) O que gratuitamente obteve o resultado da conduta criminosa (LISBOA, 
2008, p. 142‑143).
104
Unidade II
A ação ou omissão deve violar lei, vontade (que se manifesta por negócio jurídico bilateral, contrato; 
ou por ato unilateral), ou dever social (nessa última hipótese, trata‑se de abuso de direito).
O dano pode ser patrimonial ou extrapatrimonial.
O dano material pode incluir danos emergentes, resultantes da ação ou omissão do agente; e lucros 
cessantes, valores que a vítima deixou de auferir razoavelmente, durante certo período, em razão do dano. 
O dano moral não era mencionado no CC/1916, mas é tratado no artigo 186 do CC/2002.
O dano moral é também fundamentado na CF/1988, quando protege os direitos e as garantias 
fundamentais, no artigo 5º, incisos V e X:
Art. 5º. [...]
V – é assegurado o direitode resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem.
[...]
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral 
decorrente de sua violação (BRASIL, 1988).
O dano moral decorre de violação a direito da personalidade que afete a integridade física, moral ou 
intelectual da vítima. 
A sua finalidade é indenizar a vítima para proporcionar‑lhe certo conforto, que atenue a chamada 
“dor da alma”, pois não há como recompor o dano decorrente de lesão a direitos da personalidade. 
São exemplos de violações que resultam em danos morais, sem prejuízo dos danos materiais, que 
podem ser objeto de pedido cumulativo: perda de parente; dor; tristeza; saudade; humilhação; privação 
de sossego; perda de membro; cicatrizes; violação da imagem ou da honra; prejuízo à privacidade ou à 
intimidade etc.
A Súmula n. 37 do STJ determina que “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano 
moral oriundos do mesmo fato” (STJ, 2007).
O dano pode ser exclusivamente moral, não depende de dano material, como entendia, antes, parte 
da doutrina, ora ultrapassada.
Não há “tabela” que possa estabelecer previamente o valor dos danos morais. A cada caso, o julgador 
levará em conta diversos fatores, por exemplo, a extensão do dano, as condições financeiras do causador 
do dano etc. 
105
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
Como expõe Roberto Senise Lisboa:
O dano moral não possui valor econômico. Fundamenta‑se, por isso, 
a indenização por danos morais no binômio pena civil e desestímulo, 
devendo‑se proceder ao arbitramento do valor a ser pago pelo agente, a 
título de reparação por danos extrapatrimoniais (LISBOA, 2008, p. 138).
Tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica podem sofrer danos morais e materiais.
Com relação à questão da culpa e da responsabilidade civil subjetiva, a regra geral, nos termos do 
artigo 186 do CC/2002 é a da responsabilidade civil subjetiva, que depende da conduta reprovável 
do agente causador do dano. 
Assim, como foi dito, um dos pressupostos para a caracterização da responsabilidade civil como 
obrigação de reparar o mal causado é a culpa (negligência, imprudência ou imperícia) ou o dolo.
O dolo é a intenção de alcançar o resultado lesivo, que desde logo é conhecido pelo agente. 
Este persiste na sua atividade (ato comissivo ou omissivo) para causar o dano a outrem.
A culpa em sentido estrito pode ser por omissão reprovável do agente, caso da negligência; ou ação 
condenável por parte do agente, hipótese de imprudência.
A imperícia torna mais sensível a averiguação da culpa, por se tratar, o agente causador do dano, de 
pessoa perita, preparada para evitar o mal que resultou de sua conduta. 
Assim, em caso de erro médico, por exemplo, a imperícia pode decorrer de negligência ou imprudência 
do médico, analisada com o critério mais apurado, considerando‑se o preparo do profissional, que 
deveria evitar o dano resultante de sua conduta.
6.1 Dos casos de responsabilidade civil objetiva
A responsabilidade civil objetiva, sem o requisito da culpa (componente subjetivo), é exceção no 
direito civil. Tem cabimento por determinação da lei ou por decisão judicial, consoante artigo 927, 
parágrafo único, do CC/2002.
São as duas fontes da responsabilidade civil objetiva: lei e ordem judicial. A responsabilidade civil 
não dependerá de culpa, geralmente, quando for necessária a ampliação da proteção da sociedade: 
situações em que o agente causador do dano assume atividade que coloca em risco o grupo social, ao 
mesmo tempo em que traz, ao seu praticante, lucros muito altos. 
Havendo lucros muito altos e situação potencialmente lesiva à sociedade, é possível falar‑se em 
responsabilidade civil objetiva, desde que assim determine a lei ou decisão judicial. São exemplos de 
determinação de responsabilidade civil objetiva, sem culpa, por força de lei:
106
Unidade II
• A responsabilidade civil do fornecedor por vícios do produto ou do serviço (CDC/1990).
• A responsabilidade civil dos pais por atos dos filhos.
• A responsabilidade daqueles que atuam em atividades com energia nuclear.
• A responsabilidade civil das companhias aéreas e nos contratos de transporte em geral, por danos 
ocasionados às pessoas e aos objetos (bagagens).
• A responsabilidade civil do dono do animal por prejuízos ocasionados (presunção absoluta de 
negligência na guarda do animal).
• A responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes de atos de seus agentes (art. 37, 
parágrafo 6º, CF/1988).
• A obrigação de reparar o dano causado em estado de necessidade, tendo o autor do dano 
ação regressiva contra aquele que deu causa ao estado de necessidade (art. 188, II, 929 e 
930, CC/2002).
 Saiba mais
Leia o artigo: 
ZISMAN, C. R. A responsabilidade patrimonial do Estado em matéria de 
segurança. Revista de Direito Privado, v. 14, n. 56, out./dez. 2013.
A responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual (aquiliana). Na responsabilidade civil 
contratual, existe uma relação jurídica obrigacional entre as partes (relação jurídica originária). 
O eventual descumprimento obrigacional voluntário (absoluto ou relativo – mora) consiste em 
ato ilícito que faz nascer outra relação jurídica derivada, qual seja, a responsabilidade contratual, cuja 
consequência jurídica é a mesma da responsabilidade extracontratual: reparar o dano causado.
Há duas diferenças significativas. Na responsabilidade civil contratual, é a regra a inversão do ônus 
da prova (o inadimplente deve provar que não teve culpa, em razão de presunção relativa de culpa); e 
não se aplica essa responsabilidade ao incapaz.
Já a responsabilidade civil extracontratual pode obrigar o relativamente incapaz e até o absolutamente 
incapaz que tem bens para indenizar a vítima sem prejuízo do próprio sustento e do sustento das 
pessoas que dele dependem.
107
FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL
6.2 Ilícito civil e ilícito penal
Em tese, não há diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal. Entretanto, a diferenciação feita pelo 
direito reside na tutela do bem jurídico violado e também na consequência (sanção).
No ilícito penal, o agente infringe uma norma de direito público, sendo que o interesse lesado é o 
da sociedade. No ilícito civil, o interesse diretamente lesado é o privado, e o prejudicado pode ou não 
pleitear a reparação.
A prática de ilícito penal gera uma consequência, a pena (sanção penal), inclusive de privação da 
liberdade. A prática de ilícito civil gera uma consequência que é a obrigação de reparar o dano causado 
à vítima. No âmbito civil, o ativo patrimonial responde pelo passivo, sendo que a única possibilidade de 
prisão civil é a do devedor inadimplente de pensão alimentícia, no direito de família.
Dessa forma, em regra, a prática de um ilícito penal gera a responsabilidade penal. Por sua vez, a 
prática de um ilícito civil gera a responsabilidade civil.
A responsabilidade penal e a responsabilidade civil proporcionam as respectivas ações (ação penal e 
ação civil). A ação penal é exercível pela sociedade (representada pelo Estado) e tende à punição. A ação 
civil é exercível pela vítima (ou seus representantes) e tende à reparação.
Um mesmo ato ilícito pode ocasionar responsabilidade civil e penal, gerando duas consequências: 
uma de natureza civil (reparação do dano) e outra de natureza penal (pena).
Em regra, a sentença proferida no juízo cível não produz efeito na jurisdição criminal, porém a 
sentença criminal produz efeitos na jurisdição civil.
6.2.1 Sentença penal condenatória
Consoante artigo 935, CC/2002, 1ª parte: a responsabilidade civil é independente da criminal.
Por sua vez, o artigo 91, I, do Código Penal, que trata de um dos efeitos genéricos da condenação, 
determina: “Art. 91. São efeitos da condenação: I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado 
pelo crime” (BRASIL, 1940).
A sentença penal condenatória transitada em julgado é

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