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audicao na vida intra utero

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CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
FATORES QUE INTERFEREM NA AUDIÇÃO DO
BEBÊ DURANTE A GESTAÇÃO
“Uma proposta de prevenção”
VIVIAN KELEN TAVARES DE MELO AMORIM
RECIFE
1998
RESUMO
A presente pesquisa tem o propósito de esclarecer a população a
origem da surdez e alertá-la das precauções e providencias a serem tomadas
visando a prevenção deste problema antes e durante a gravidez, pois sabe-se
que as causas da deficiência auditiva são várias podendo, em muitos casos,
ocorrer durante a gestação.
Diante desta realidade este trabalho constitui-se na aplicação prática
da prevenção com implantação de um programa de orientação materna onde
será realizada palestras, trabalho de orientação com as que estão realizando
pré – natal e distribuição de folhetos explicativos.
Esta proposta de prevenção com objetivo prático será realizada
inicialmente na APAMI, maternidade de Vitória de Santo Antão, interior de
Pernambuco e apesar de suas limitações pretende enfatizar a importância da
prevenção conscientizando a população de sua importância.
Possui como base um levantamento bibliográfico que abrange desde
as causas da surdez, sua prevenção , perfil clínico, custo do tratamento até a
importância da detecção precoce para amenizar as conseqüências da surdez.
ABSTRACT
This research has the purpose to explain the origin of the deafness to
the population and alert her to the precautions and providences to be taken
intending the prevention of this problem before and during the pregnancy,
before there are many causes of the hearing deficiency that can happen during
the pregnancy.
In front of this reality, this work is the pratice aplication of the
prevention with implantation of a maternal orientation program where will have
debate, orientation booklet and work with the women that are doing ante-natal
care.
This proposal of prevention with pratical purpose will be first realized
at APAMI, Vitória de Santo Antão’s maternity, interior of Pernambuco and, in
spit of the limitations, intends to emphasize the importance of the prevention by
the population’s consciousness.
It has as a base a bibliographic survey that comprises the deafness
causes, its prevention, clinical side, treatment expense and the importance of
the precious detections to decrease the deafness consequences.
Dedico esta pesquisa a todas as gestantes
que estão realizando o pré-natal e que com
muito amor e carinho já se preocupam com
o futuro de seus filhos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Professora Mirian Goldenberg, pela valiosa orientação
que conduziu os passos deste trabalho;
 Aos meus pais por tudo que me ensinaram e por estarem sempre
ao meu lado me dando força para eu seguir minha caminhada;
Ao meu namorado, Ricardo Veras, que vivenciou junto comigo todo
o processo deste trabalho com muito companheirismo;
A minha amiga, Claudia Longman, por ter me incentivado com
otimismo desde o início da pesquisa;
À Dra. Isla Queiroz por ter me fornecido condições técnicas para
realização deste trabalho;
A todos que de alguma forma colaboraram com paciência e
dedicação.
“ Os problemas da surdez são muito profundos e
complexos, mais importantes talvez do que os da
cegueira. A surdez é um infortúnio muito maior.
Representa a perda do estímulo mais vital - o som
da voz - que veicula a linguagem, agita os
pensamentos e nos mantém na companhia
intelectual do homem.”
Helen Keller
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................. 1
2. Discussão Teórica ................................................................................ 3
 2.1 Causas da Surdez no período gestacional ..................................... 3
 2.2 Caracterização das patologias ........................................................ 6
 2.3 Conseqüências da Perda Auditiva .................................................. 11
 2.4 Desenvolvimento da Audição ......................................................... 14
 2.5 Prevenção da Surdez ..................................................................... 15
3. Considerações finais ............................................................................. 20
4. Referencias Bibliográficas ..................................................................... 21
4
CAUSAS DA SURDEZ NO PERÍODO GESTACIONAL
Segundo a Organização Mundial de saúde 1,5 da população
brasileira é portadora de algum grau de deficiência auditiva e este número
cresce a cada ano, possuindo causas variadas.
Encontramos diferentes etiologias as surdez, com base no propósito
deste trabalho vamos destacar principalmente as causas do período pré-natal,
ou seja que ocorrem antes do nascimento.
A prevalência da deficiência auditiva em recém nascidos, para
Domingues ( 1997 ), se estima entre 1,5 e 6,0 casos para 1000 nascidos , o
que é um grande número. Para o autor as principais causas no período pré-
natal são causa genéticas:
Autossomicas recessivas, que origina hipoacusia profunda bilateral,
neste caso destacamos as Síndromes de Lange-gerevell, Nielsen, Pendred,
Usher. Autossomicas dominantes, apresentando hipoacusia profunda bilateral,
destacando-se as Síndromes de Wanderburg, Treacher-Collins e Alport.
Recessivas ligadas ao cromossomo X causando hipoacusia profunda
associada com daltonismo o que ocorre na Síndrome de Alport.
Segundo o Joint Committee que possui representantes da American
Speech, Language e Hearing Association, os principais fatores de risco
congênitos são : história familiar de surdez congênita, infecção intra-uterina
( TORCHS) toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis,
ototóxidade. As anomalias craniofaciais também estão incluídas quando
5
atingem o canal auditivo, há ainda um grande risco em medicamentos
ototóxicos ingeridos pela mãe como, aminiglicosídeos e alguns diuréticos.
Lichtg ( 1997), cita em um estudo realizado por Saleno et al (1985 ),
com setenta e dois indivíduos com idade entre 0 e 15 anos, este estudo provou
que a hereditariedade, consangüinidade e a rubéola as principais causa pré-
natal da deficiência auditiva. Ainda é citado que muitas causas ainda são
desconhecidas, mostrando que é necessário realizar investigação mais
profunda.
Para Hungria (1995 ), as causas pré-natais podem ser genopatia, ou
seja defeitos genéticos dos pais, ou embriopatias, lesões do embrião por
diferentes causas como síndrome rubélica, medicamentos teratogênicos,
talidomida , sífilis congênita, toxemia gravídica que acarreta impregnação
tóxica dos elementos neurosensoriais e cocleares.
Numa pesquisa realizada em 1989 na Dinamarca, a Hereditariedade
é citada como o fator mais freqüente da deficiência auditiva, destacando ainda
a infecção fetal como uma importante causa. (Tucker, 1995).
 A mais conhecida dentre as infecções fetais é a rubéola, apesar da
incidência da deficiência auditiva causada por rubéola já ter reduzido bastante
nas duas últimas décadas, devido às propostas de vacinação.
Esta pesquisa cita ainda os cuidados com o citomegalovírus e
outras infecções que sempre devem ser enfatizadas; as melhorias nos
cuidados neonatais também são lembradas, pois certas dificuldades que os
recém nascidos apresentam podem resultar em deficiência auditiva, com ou
sem incapacitações adicionais.
6
Segundo Tucker, os fatores de alto risco para a deficiência auditiva
são: história de antecedentes hereditários, infecções peri-natais, anomalias de
cabeça e pescoço, peso ao nascimento, inferior a 1500g, elevados níveis de
bilirrubina neonatal, asfixia ou baixo índice de APGAR ao nascimento e
meningite. Ainda outros fatores possíveis são : sífilis neonatal, hipertensão
pulmonar persistente, internação na Unidade de Tratamento Intensivo neonatal
( UTI - Neonatal). Segundo Bess, Humes 1998, todos os distúrbios auditivos
podem ser divididos em duas classificações principais: não genéticas -
exógenos egenéticas - endógenos.
As deficiências auditivas endógenas podem ser hereditárias e
congênitas. Devido à proposta temática da presente pesquisa, iremos nos deter
principalmente nas perdas auditivas congênitas.
Bess e Humes 1998, afirmam que há uma série de complicações
que podem surgir antes, durante ou logo após o nascimento. As infecções
virais e bacterianas estão inseridas neste contexto e podem variar em graus e
padrões da perda auditiva. As doenças infecciosas podem ser transmitidas à
criança pela mãe, no útero ( pré-natal ). Para eles várias doenças pré-natais
são classificadas como parte do complexo “TORSCHS”, que é uma sigla
utilizada para identificar as principais infecções que podem ser contraídas
ainda na vida intra-uterina e que significa: T- toxoplasmose, O - outras, R -
rubéola, S - sífilis , C - citomegalovírus, H - herpes simples. Quaisquer destas
doenças são consideradas como fatores de risco para a perda auditiva.
Na tabela abaixo temos a caracterização das patologias e os seus
perfis clínicos:
7
CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS - PERFIL CLÍNICO
Patologia Principais Sintomas Transmissão
TOXOPLASMOSE Coriorretinite, hidrocefalia,
calcificação intracraniana, perda
auditiva
Causada por um organismo é
transmitida para a criança através da
placenta. Supõe--se que a infecção é
contraída através de ingestão de
alimentos cozidos e contato com fezes
de gato.
RUBÉOLA Defeito no coração e nos rins,
anormalidades nas orelhas, retardo
mental, perda auditiva.
Infecta a mãe por via respiratória e é
transmitida para o feto através da
placenta, por corrente sangüínea.
CITOMEGALO-
VÍRUS
Retardo mental, defeitos visuais e
perdas auditivas. Doença viral mais
comum causadora de perda auditiva.
Transmitida ao feto através de via
sangüínea.
HERPES
SIMPLES
Aumento do fígado, erupção
cutânea, anomalias da visão, retardo
psicomotor, encefalias e perda
auditiva.
É uma doença sexualmente
transmissível e o vírus adquirido é
transmitido ao feto no útero ou durante
o parto.
SÍFILIS Aumento do fígado e do baço,
erupção cutânea, coriza e perda
auditiva.
Transmitida ao bebê pela mãe através
de infecção intra-uterina. Sua
manifestação é em qualquer momento
da 1ª à 6ª década da vida.
8
Abaixo temos alguns achados audiológicos e otológicos do
complexo TORCHS:
ACHADOS AUDIOLÓGICOS E OTOLÓGICOS
TOXOPLASMOSE : Perda auditiva neurosensorial bilateral,
moderada a severa, pode ser progressiva.
EXEMPLO –
AUDIOGRAMA
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10
20
30
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250 500 1000 2000 4000 8000
Freqüência em Hertz (Ciclos por segundo)
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30
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50
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RUBÉOLA: perda auditiva neurosensorial profunda, pode ser
progressiva.
EXEMPLO :
AUDIOGRAMA
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30
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50
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250 500 1000 2000 4000 8000
Freqüência em Hertz (Ciclos por segundo)
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20
30
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70
80
90
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CITOMEGALOVÍRUS: perda auditiva neurosensorial bilateral, leve a
profunda, pode ser progressiva.
EXEMPLO -
 
AUDIOGRAMA
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20
30
40
50
60
70
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250 500 1000 2000 4000 8000
Freqüência em Hertz (Ciclos por segundo)
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HERPES SIMPLES: perda auditiva neurosensorial unilateral ou
bilateral, moderada a severa.
EXEMPLO –
AUDIOGRAMA
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250 500 1000 2000 4000 8000
Freqüência em Hertz (Ciclos por segundo)
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SÍFILIS : Perda auditiva neurosensorial bilateral, severa a profunda,
a configuração e o grau variam.
EXEMPLO -
AUDIOGRAMA
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60
70
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250 500 1000 2000 4000 8000
Freqüência em Hertz (Ciclos por segundo)
0
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30
40
50
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70
80
90
100
110
A surdez do tipo congênita é aquela que podemos constatar no
nascimento, pode ser de origem embriopata, que atinge o embrião ou fetopatia,
que atinge o feto a partir do terceiro mês.( Lafon 1989 ).
O autor ainda afirma que a origem pode ser genética o que ocorre
geralmente de modo recessivo e raramente de modo dominante; para ele a
surdez leve e moderada representam 3% da população, ou seja, 300 000
crianças de três anos no fim da escolaridade. A surdez severa a profunda
representam 2 por mil da população, ou seja, 25 000 crianças do nascimento
aos 18 anos. Já a surdez de transmissão, freqüentemente temporária, é
sempre leve ou média. A causas destes tipo de surdez são : hereditárias
isoladas, embriopatia rubeólica, hemorragias da gravidez, síndrome
11
polimalformativa, prematuridade, anoxia neo-natal, meningites, caxumbas,
encefalites etc.
Malformações do ouvido externo ou médio, fatores genéticos,
doenças adquiridas pela mãe na época da gestação e que passam para o feto,
afetando o desenvolvimento do ouvido ( rubéola, citomegalovírus,
toxoplasmose ), exposição da mãe a droga ototóxicos ( medicamentos que
afetam a audição, como por exemplo a talidomida ), alterações congênita do
sistema nervoso central, uso de drogas, pela mãe, que afetam o sistema
nervoso central, todos estes casos são exemplos de etiologias da surdez que
podem originar perdas do tipo condutiva, neurosensorial ou até mesmo perda
auditiva central. ( Bevilacqua, 1998 ).
Após o nascimento da criança é realizado um exame físico
detalhado, que inclui análise da orelha, observando a forma, nível de
implantação, tamanho, presença de traumas obstétricos, como escoriações,
cortes ou hematomas, malformação e permeabilidade do ouvido, para detectar
qualquer tipo de alteração. Estas observações analisam a orelha externamente
e quanto ao seu caráter anatômico, observando sua integridade; apenas
posteriormente poderá ser feita uma avaliação fisiológica do sistema auditivo ,
através de situação específica e adequada. ( Brock, 1998).
Lichtig 1997, cita um estudo realizado por Saleno et al 1985, com
setenta e dois (72) indivíduos com idades entre 0 e 15 anos , que ilustra
claramente os contrastes do país. Este estudo provou que a hereditariedade é
a principal causa pré-natal de deficiência auditiva, sendo a consangüinidade a
causa contribuinte com 54%, logo após vem a rubéola com 30%. Ainda é citado
um estudo realizado por Barbui 1989, onde encontra-se os seguintes valores
12
percentuais: 37.81% de toda a amostra constituída de 119 indivíduos, possui
causa desconhecida, o que nos mostra que é necessário realizar uma
investigação mais profunda em relação às causas da surdez. De acordo com
Santos et al 1987, citado também em Lichtig 1997, nestes achados,
provavelmente 25% das perdas auditivas neurosensoriais, classificadas como
desconhecidas, são conseqüentes da rubéola, baseando-se na literatura.
Andrade 1996, cita Marge que apresenta uma divisão das patologias
segundo suas diferentes causas e coloca como fatores preveníveis e não
preveníveis.
Para a autora quanto a audição os fatores preveníveis pré-natal são:
doenças sexualmente transmissíveis, traumas, alguns fatores genéticos,
prematuridade, incompatibilidade de Rh, drogas ototóxicas, contato pré-natal
com drogas e doenças infecciosas. Apresenta como patologia auditiva não
preveníveis os fatores constitucionais, alguns fatores genéticos e idade.
São várias os défices que a perda auditiva pode originar e para
melhor entendermos a importância da prevenção dos fatores que causam a
surdez destacamos adiante algumas conseqüências da surdez na criança.
CONSEQUÊNCIAS DA PERDA AUDITIVA
Em relação as conseqüências da surdez temos diversos prejuízos
ao desenvolvimento normal da criança.
Lichtig 1997, afirma que deficiência auditiva em criança acarreta
graves conseqüências em relação a aquisição e ao desenvolvimento da fala e
13
da linguagem. A fala e a linguagem por sua vez influencia o desenvolvimento
do processo cognitivo, escolar e nas relações sociais do ser humano.
Reconhece-se que os três primeiros anos da vida são básicos ao
desenvolvimento geral da criança, especialmente no quediz respeito à
comunicação.
Segundo Azevedo 1997, as conseqüências da surdez congênita
profunda pré-lingual são :
- Dificuldade do conhecimento do idioma, oralização e fala difíceis;
- Dificuldade de compreender a fala;
- Dificuldade para a leitura e escrita;
- Dificuldade de abstração e ainda implicações psicológicas onde os
comportamentos mais comuns são rigidez, egocentrismo, dificuldade ou falta
de controle, impulsividade, dentre outros.
Acredita-se na Audiologia que a perda da audição é um sinal /
sintoma que deve ser considerado como resultado de um ou mais fatores
lesivos que afetam a audição. Segundo Jeffer 1993, uma perda auditiva que
não é identificada, pode ter grandes conseqüências sobre o desenvolvimento
da palavra e a linguagem da criança e também de seu ajuste social.
 Por todos estes fatores a detecção precoce tem sido um desafio.
A participação familiar no processo terapêutico da criança deficiente
auditiva tem sido amplamente discutida na literatura, abordando principalmente
aspectos de educação e orientação familiar. Para que ocorra interação com
uma criança que utiliza uma prótese auditiva, requer que os pais aprendam
manobras específicas, desde o manuseio da prótese até à forma com que se
deve falar com a criança. Isto requer que a reabilitação, além de outros
14
aspectos, dê também aos pais este tipo de orientação, que muitas vezes pode
nos parecer clara.
A possibilidade do diagnóstico da deficiência auditiva desde os
primeiros dias de vida, levou o fonoaudiólogo a atuar com bebês e crianças
muito pequenas. O trabalho fonoaudiológico se dá a partir de diversos aspectos
que vão refletir a singularidade de cada criança e de sua família. É no processo
de escuta desta família e do comportamento da criança, que vai se formando a
atuação do fonoaudiólogo.
Testes variados podem ser realizados para a detecção da
deficiência auditiva. Graças à tecnologia, estes testes tornam-se cada vez
mais confiáveis e objetivos. Partindo do pressuposto de que a aquisição da
linguagem está diretamente relacionada à audição, o desenvolvimento da
linguagem encontra-se estritamente ligado ao desenvolvimento da audição.
Sabemos que o desenvolvimento da função auditiva ocorre nos primeiros
períodos de maturação da vida infantil. Por isso é que quanto mais tardia for
feita a estimulação auditiva , menor será a habilidade lingüística da criança.
Sendo assim, faz-se necessário que se detecte e trate o mais precocemente os
problemas auditivos.
Alguns sinais podem indicar possível perda auditiva de grau variado,
que podem ser observados pelos pais, responsáveis ou até mesmo
educadores:
- O balbuciar da criança que possui deficiência auditiva é reduzido
ou pouco nítido, e pára subitamente aos 6 a 8 meses, sendo substituído por
gritos;
- A criança não obedece a comandos de ordens simples;
15
- A criança possui atraso ou dificuldades na evolução lingüistica;
- A criança não reage quando é chamada;
Em termos de curiosidades no próximo capítulo falaremos um pouco
sobre o desenvolvimento auditivo da criança desde sua vida intra-uterina.
DESENVOLVIMENTO DA AUDIÇÃO
Hall 1992, relata que o desenvolvimento do sistema auditivo inicia-se
na vida intra-uterina, encerra-se durante o primeiro ano de vida da criança.
Existem assim duas fases de maturação neurológica: a primeira fase encerra-
se por volta do sexto mês de gestação quando ocorre a maturação das vias
auditivas periféricas ( ouvido externo até o nervo coclear ), na Segunda ocorre
a maturação das vias auditivas em todo sistema nervoso central. Tais
informações são importantes no que se refere a avaliação do recém-nascido.
Sabemos que no quinto mês de gestação o feto já possui as
estruturas do ouvido médio e do ouvido interno já formadas, sendo inclusive
possível demonstrar suas funções cocleares; as fibras do nervo auditivo
começam a se mielenizar durante o sexto mês de gestação. (Elliot 1964).
Klaus e Klaus 1989, afirmam que meses antes do nascimento o feto
já é capaz de ouvir e até de destinguir diferentes tipos de sons, como por
exemplo: vozes familiares e não familiares, altura, intensidade e até determinar
de onde vem o som.
16
Bench citado por Down 1986, realizou uma pesquisa medindo o
nível de pressão sonora que podia ser captado pelo ouvido do feto através do
líquido aminiótico. Capitou-se o ruído de fundo de 72 dB, que correspondia ao
batimento cardíaco da mãe. Portanto no nascimento a criança já foi exposta
por pelo menos quatro meses a diferentes experiências auditivas, algumas
delas com níveis de intensidade que pode até incomodar. (Downs, 1986).
Pesquisas realizadas por De Casper citado por Klaus 1989,
demonstram que o recém nascido tem reações diferentes ao ouvir a voz de sua
mãe e de outras mulheres, além de reconhecerem histórias e músicas ouvidas
durante a gestação. O que mostra que o recém-nascido já tem experiências
auditivas prévias e que é capaz de reconhece-las.
Diante destes fatores de desenvolvimento da audição enfatizamos
mais uma vez a grande importância da prevenção da surdez durante o período
gestacional, já que sabemos que é neste período que inicia-se seu
desenvolvimento auditivo.
PREVENÇÃO DA SURDEZ
Lichtig 1997, enfatiza as campanhas de esclarecimento à população
e aos profissionais médicos, sobre as causas da deficiência auditiva e sobre os
danos que as drogas ototóxicas podem trazer à audição.
Para o bebê que se encontra acometido da deficiência auditiva,
Northern e Downs citado ainda por Lichtig, propõe que a audiologia preventiva
17
torna-se um caminho viável para prevenir os efeitos prejudiciais que o indivíduo
possivelmente terá que enfrentar. Esta prevenção pode ser obtida apenas
através da detecção o mais cedo possível e do fornecimento de terapia e
educação especializados. Desta forma poderá amenizar as conseqüências
trazidas pela privação da audição.
A OMS ( Organização Mundial de Saúde ) estima que 5% da
população de qualquer país, durante a época de paz, seja portadora de algum
tipo de deficiência, segundo Helander 1993 citado por Lichtig; sendo no Brasil a
deficiência auditiva responsável por 15%.
Em um artigo de revisão sobre danos à audição após meningite
bacteriana, Fortnum, citado em Tucker 1995, salienta os benefícios potenciais
da vacina Haenophilus Influenzae B na prevenção da meningite em crianças,
o que traz redução significativa dos casos de surdez infantil, mas apesar da
meningite nem sempre ser causada pelo Haenophilus Influenzae B, a
imunização contra este agente certamente ajudará a reduzir o número de
casos de perda da audição adquirida na infância, que responde a mais ou
menos 90% dos casos da perda de audição adquirida na infância, segundo
Davis e Wood 1992, citado em Tucker.
A surdez profunda na infância é mais que um diagnóstico médico; é
um fenômeno cultural, em que padrões sociais, emocionais, lingüísticos e
intelectuais, assim como seus problemas estão inextricavelmente ligados.
( Lichtig, 1997).
Concordamos com Andrade 1996, que toda criança tem direito de
nascer o mais saudavelmente possível, o que favorecer em seu
desenvolvimento geral. No entanto para que isto ocorra é necessário que haja
18
uma assistência profissional as mães. Nesta última década esta prática de
prevenção vem sendo amplamente discutida, o que não exclui de forma
alguma a atenção a saúde materno-infantil.
A maternidade é de especial interesse já que envolve a existência de
vida intra-uterina e o nascente. Para a autora é de extrema importância a
assistência multiprofissional durante a gestação, o que significa um processo
contínuo de saúde, uma vez que a qualidade da saúde de cada geração
contribuirá para uma geração subsequente mais sadia. Ela enfatiza ainda a
importância da preparação para a gestação como exames pré-nupciais,
estudos genéticos, consangüinidade o que proporciona uma prevenção de
doenças.
Leavell e Clark, citados em Regina 1996, afirmam que promover a
saúdematerno-infantil, através de medidas preventivas individuais e coletivas
determinam a melhora da qualidade geral de vida dos indivíduos e das
populações.
Desta forma cabe ao Fonoaudiólogo a responsabilidade de
capacitar-se para desenvolver pesquisas, programas educacionais e
intervenção específicas adaptadas a realidade do grupo populacional.
Alguns programas educativos já propostos por Leavell e Clark,
citados em Regina 1996, fornecem informações as mães com o objetivo de
prepará-las quanto: às modificações físicas e emocionais deste período, aos
danos provenientes dos agentes de risco ( fumo, álcool e drogas ), às
possibilidades de atenção e estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor
e lingüístico do bebê.
19
Na Fonoaudiologia, Andrade 1996, afirma que os trabalhos
preventivos na saúde materno-infantil é ainda bastante limitado, principalmente
em nosso país. Apesar disto estudos brasileiros sobre a prevenção em
fonoaudiologia, vem sendo apresentados, entre outros, por Andrade desde o
início dos anos 80.
Um programa de prevenção fonoaudiológico é um empreendimento
que deve seguir uma bem definida estrutura organizacional. Andrade 1996,
sugere que este programa preventivo apresente três etapas: a gestação ( como
parte do pré-natal ), no nascimento ( em berçário normal e de risco ) e no
purpério ( com a necessidade ou não de intervenções específicas ).
Na primeira fase é que esta pesquisa possui maior enfoque, pois é
no período pré-natal que a gestante receberá informações necessárias quanto
ao cuidado com a audição de seu bebê, evitando assim problemas posteriores.
Nosso trabalho abrange aconselhamentos gerais sobre o desenvolvimento da
audição e as providencias específicas para as famílias poderem evitar danos
auditivos.
Sabemos que o período da maternidade e infância são básicos para
a qualidade de saúde em todos as outras fases da vida (incluindo também a
saúde auditiva/ linguística). A preparação para a maternidade deve ser
considerada, segundo Jeffers 1993, a “Frente avançada” das iniciativas de
saúde pública, na vez que delas decorrerão a minimização das condições de
alto risco.
Nos Estados Unidos programas educacionais para o nascimento tem
promovido efetiva ajuda para os pais fazerem mudanças positivas em seus
estilos de vida. Estes programas transmitem a eles o conhecimento, o desejo e
20
a confiança que necessitam para operarem mudanças em prol da qualidade de
vida. ( Andrade, 1996).
Em nosso trabalho tivemos a oportunidade de iniciarmos um
programa de prevenção da surdez que teve enfoque no período gestacional.
Foi realizado a partir de orientação familiar no período pré-natal, palestra
abertas ao público sobre a prevenção da deficiência auditiva e distribuição de
folhetos explicativos ( ver anexo). Pretendemos dar continuidade a esta ação
para que cada vez um maior número de pessoas tenham a consciência que a
deficiência auditiva pode e deve ser evitada.
21
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos então que a surdez é uma patologia que, apesar de
poder ser prevenida em diversos casos, ainda acomete uma porcentagem
significativa de crianças. Isto ocorre devido à desinformação da população
,que se encontra privada de informações básicas sobre as causas da surdez.
O objetivo inicial desta pesquisa foi de esclarecer a população sobre
alguns cuidados que podem ser tomados durante a gestação e que podem
evitar a surdez. Foi realizado um trabalho de prevenção, abordando os
principais aspectos da surdez com: suas causas, cuidados necessários durante
a gravidez, , as doenças que podem causar a surdez, cuidados com o bebê e
até mesmo testes que podem ser realizados em casa para observação da
audição da criança. Tivemos a oportunidade de iniciarmos um programa de
prevenção da surdez que teve ênfase no período gestacional. Foi realizado a
partir de orientação familiar no período pré-natal, palestra abertas ao público
sobre a prevenção da deficiência auditiva e distribuição de folhetos
explicativos. Pretendemos dar continuidade a esta ação para que cada vez um
maior número de pessoas tenham a consciência que a deficiência auditiva
deve ser evitada.
 Pertence a nós, profissionais da área de saúde, e principalmente de
audiologia, esclarecer esta população, evitando desta forma conseqüências
drásticas ao indivíduo no seu desenvolvimento global, nos aspectos
biológicos, psicológicos sociais e educacionais.
22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS Joint Committee on Infant
. Hearing, Position Statement. Pediatrics, 70, p. 496-7, 1982. 
2 – ANDRADE, C. R. Prevenção Auditiva. Fonoaudiologia em Berçário
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