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FACULDADE EVANGÉLICA DE SENADOR CANEDO - FESCAN DIREITO MICHEL DE AGUIAR ROSA TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE: TEORIAS E TRATAMENTOS PELA CIÊNCIA JURÍDICA E RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO HUMANO E OS SISTEMAS JURÍDICOS SENADOR CANEDO 2022 FACULDADE EVANGÉLICA DE SENADOR CANEDO - FESCAN DIREITO MICHEL DE AGUIAR ROSA TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE: TEORIAS E TRATAMENTOS PELA CIÊNCIA JURÍDICA E RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO HUMANO E OS SISTEMAS JURÍDICOS Estudo apresentado como requisito para obtenção de aproveitamento de matéria por adaptação. Docente: Leandro Rodrigues de Sousa SENADOR CANEDO 2022 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 TIPOS DE TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 3 TRATAMENTOS DOS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE PELA CIÊNCIA JURÍDICA 5 RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS JURÍDICOS E O COMPORTAMENTO HUMANO 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 3 INTRODUÇÃO Personalidade é a maneira de pensar, sentir e se comportar que torna uma pessoa diferente das outras. A personalidade de um indivíduo é influenciada por experiências, ambiente (ambiente, situações de vida) e características herdadas. A personalidade de uma pessoa normalmente permanece a mesma ao longo do tempo. Um transtorno de personalidade é uma maneira de pensar, sentir e se comportar que se desvia das expectativas da cultura, causa angústia ou problemas de funcionamento e dura ao longo do tempo. Quando a personalidade interfere no bom funcionamento da sociedade e nas relações interpessoais, a ciência jurídica atua como uma ferramenta mediadora que possibilita a melhor adequação desse indivíduo, seja dentro do convívio social ou fora dele. Neste presente estudo, analisaremos os tipos de transtornos de personalidade, bem como os tratamentos pela ciência jurídica. A partir desse estudo será possível estabelecer a relação entre os sistemas jurídicos e o comportamento humano. TIPOS DE TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE Existem 10 tipos específicos de transtornos de personalidade. Os transtornos de personalidade são padrões de comportamento e experiências internas de longo prazo que diferem significativamente do esperado. O padrão de experiência e comportamento começa no final da adolescência ou início da idade adulta e causa angústia ou problemas no funcionamento. Sem tratamento, os transtornos de personalidade podem ser duradouros. Os transtornos de personalidade afetam pelo menos duas dessas áreas: ○ Modo de pensar sobre si mesmo e sobre os outros ○ Maneira de responder emocionalmente ○ Maneira de se relacionar com outras pessoas ○ Maneira de controlar o comportamento A partir dessas relações, é possível identificar ao menos dez tipos de transtornos de personalidade. São elas: ○ Transtorno de personalidade antissocial : um padrão de desrespeito ou violação dos direitos dos outros. Uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial pode não estar em conformidade com as normas sociais, pode mentir ou enganar os outros repetidamente ou pode agir impulsivamente. 4 ○ Transtorno de personalidade esquivo : um padrão de extrema timidez, sentimentos de inadequação e extrema sensibilidade à crítica. Pessoas com transtorno de personalidade esquiva podem não estar dispostas a se envolver com outras pessoas, a menos que tenham certeza de serem apreciadas, estar preocupadas em ser criticadas e rejeitadas, ou podem se ver como não sendo boas o suficiente ou socialmente inaptas. ○ Transtorno de personalidade borderline: um padrão de instabilidade nas relações pessoais, emoções intensas, baixa auto imagem e impulsividade. Uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe pode fazer de tudo para evitar ser abandonada, ter repetidas tentativas de suicídio, demonstrar raiva intensa inadequada ou ter sentimentos contínuos de vazio. ○ Transtorno de personalidade dependente: um padrão de necessidade de ser cuidado e comportamento submisso e pegajoso. As pessoas com transtorno de personalidade dependente podem ter dificuldade em tomar decisões diárias sem a garantia de outras pessoas ou podem se sentir desconfortáveis ou desamparadas quando estão sozinhas devido ao medo da incapacidade de cuidar de si mesmas. ○ Transtorno de personalidade histriônica : um padrão de emoção excessiva e busca de atenção. Pessoas com transtorno de personalidade histriônica podem se sentir desconfortáveis quando não são o centro das atenções, podem usar a aparência física para chamar a atenção para si mesmas ou ter emoções que mudam rapidamente ou são exageradas. ○ Transtorno de personalidade narcisista : um padrão de necessidade de admiração e falta de empatia pelos outros. Uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista pode ter um senso grandioso de auto-importância, um senso de direito, tirar vantagem dos outros ou não ter empatia. ○ Transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo : um padrão de preocupação com ordem, perfeição e controle. Uma pessoa com transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva pode ser excessivamente focada em detalhes ou horários, pode trabalhar excessivamente, não permitindo tempo para lazer ou amigos, ou pode ser inflexível em sua moralidade e valores. ( Isso NÃO é o mesmo que transtorno obsessivo-compulsivo . ) ○ Transtorno de personalidade paranoide : um padrão de suspeitar dos outros e vê-los como mesquinhos ou maldosos. As pessoas com transtorno de personalidade paranoica geralmente assumem que as pessoas vão machucá-las ou enganá-las e não confiam nos outros ou se aproximam delas. ○ Transtorno de personalidade esquizóide: estar distante das relações sociais e expressar pouca emoção. Uma pessoa com transtorno de personalidade esquizóide normalmente não busca relacionamentos íntimos, escolhe ficar sozinha e parece não se importar com elogios ou críticas dos outros. ○ Transtorno de personalidade esquizotípica: um padrão de ser muito desconfortável em relacionamentos íntimos, com pensamento distorcido e 5 https://www-psychiatry-org.translate.goog/patients-families/ocd?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc comportamento excêntrico. Uma pessoa com transtorno de personalidade esquizotípica pode ter crenças estranhas ou comportamento ou fala estranhos e peculiares ou pode ter ansiedade social excessiva. TRATAMENTOS DOS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE PELA CIÊNCIA JURÍDICA No Brasil, a reforma da saúde mental (chamada pejorativamente de 'reforma psiquiátrica' pelos ativistas anti psiquiátricos) tem dois temas principais: mudança do modelo de assistência hospitalar para assistência comunitária; e a regulamentação da internação psiquiátrica involuntária. A mudança do modelo de atenção psiquiátrica começou, de fato, em alguns estados (os mais desenvolvidos e mais ricos) na década de 1960. No entanto, no final da década de 1980, a maioria dos estados ainda possuía grandes hospitais psiquiátricos, cujas principais funções eram 'alimentar e abrigar' pacientes com problemas de saúde mental persistentes, em vez de tratar pacientes psiquiátricos agudos internados. Os fundamentos para internação psiquiátrica involuntária estão previstos em lei desde 1934 (Decreto 24.559/34, Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, evidência dos serviços psiquiátricos e outras providências; Diário Oficial da União , 03/jul/1934). No entanto, não havia especificação do devido processo legal para privar o paciente de sua liberdade: a internação involuntária foi simplesmente acordada entre o médico e os familiares do paciente. Em 1989, um projeto de lei federal sobre saúde mental, de autoria de um membro da Câmara dos Deputados do Partido dos Trabalhadores, foi proposto ao Parlamento brasileiro. Naquela década o Brasil estava emergindo de um regime militar que já durava 20 anos. O mesmo havia acontecido em outros países da América Latina. Uma nova Constituição Federal foi promulgada em 1988. Assim, o clima político era intenso e um clamor geral por liberdade se espalhava por todo o país. No campo da saúde, o alvo mais evidente da luta política foi a psiquiatria e a saúde mental.Um ativista antipsiquiátrico afirmou que "a luta pelos loucos faz parte da estratégia geral de luta da sociedade pela mulher, pelo índio, pelo negro, pelo homossexual e outras minorias" (Amarante, 1998 ). Assim, não surpreende que o projeto tenha um viés contra a psiquiatria e a assistência psiquiátrica, entre eles a determinação de fechar todos os hospitais psiquiátricos do país, sem levar em consideração a qualidade do atendimento. Este projeto de lei foi tão radical que provocou uma reação. Finalmente, 12 anos depois, em 2001, foi rejeitado e substituído por um projeto sem princípios anti psiquiátricos. Esse projeto de lei tornou-se a Lei Federal 10.216/01, de 2001 (Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e 6 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/pmc/articles/PMC6735106/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc#r1 redirecionamento o modelo assistencial em saúde mental) modelo assistencial]; Diário Oficial da União , 09/abr/2001). A Lei 10.216 determina que é direito das pessoas com transtornos mentais 'ser, preferencialmente, atendidas em serviços comunitários de saúde mental', que 'será permitida a internação quando esgotados os recursos do ambulatório' e que ' o tratamento psiquiátrico deve visar a reintegração social do paciente em seu ambiente de origem'. Essas disposições são diretrizes gerais para direcionar as políticas públicas de saúde mental. Não há previsão que proíba a instalação de hospitais psiquiátricos ou unidades psiquiátricas em hospitais gerais, nem ordena o fechamento dos já existentes. A Lei 10.216 não dispõe sobre tratamento involuntário, apenas sobre 'hospitalização involuntária'. A implicação é que o último inclui o primeiro e que um paciente internado involuntário não tem o direito de recusar o tratamento. No entanto, para tratamentos potencialmente mais arriscados (como terapia eletroconvulsiva), é necessário o consentimento do representante do paciente, exceto quando houver 'risco de vida iminente' e não houver tempo para entrar em contato com o representante. No Brasil não há ordens de tratamento ambulatorial ou comunitário involuntárias, exceto aquelas que se aplicam a infratores com transtorno mental e outros pacientes forenses. Quando os réus são considerados inocentes por motivo de insanidade, eles devem receber um compromisso criminal chamado 'medida de segurança'. A medida de segurança pode consistir em tratamento psiquiátrico hospitalar em um hospital psiquiátrico forense ou em tratamento psiquiátrico ambulatorial. Em relação a este último, caso o paciente não cumpra o plano de tratamento médico, a medida de segurança pode ser transformada em internação. RELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS JURÍDICOS E O COMPORTAMENTO HUMANO A interpretação jurídica sempre foi considerada como uma atividade que visa extrair o melhor entendimento dos textos jurídicos para uma aplicação justa do direito. O Behaviorismo se propõe a estabelecer uma ciência do comportamento, que também possa lidar com a interpretação jurídica, atividade adequada ao modelo de análise comportamental de Skinner. No entanto, perguntas diferentes serão feitas, e será enfatizado por exemplo, a importância das consequências para a aprendizagem e manutenção do comportamento, incluindo o comportamento interpretativo. A partir dessa análise, a interpretação jurídica é mais uma forma de comportamento e, por isso, também pode ser analisada à luz da filosofia behaviorista de Skinner, cuja ideia fundamental é a de que “os maiores problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão sobre o comportamento humano” (SKINNER, 2006, p. 11). 7 Se a interpretação jurídica pode ser um dos objetos do behaviorismo, então essa atividade pode ser estudada sob uma nova perspectiva, centrada no sistema de punição e recompensa enfrentado pelo intérprete. Para Skinner, o comportamento nada mais é do que uma atividade de um organismo: "É parte do funcionamento de um organismo que envolve agir ou interagir com o mundo externo" (Skinner, 1938, p. 6). Esta é uma definição muito ampla, abrangendo uma gama de situações, porém, tem um eixo comum de que o comportamento é regido por consequências. Nesse modelo, "a interpretação ou aplicação da lei" pode ser colocada no conceito de comportamento. Aliás, a hermenêutica jurídica reforçou a ideia de que mesmo quando um texto jurídico é óbvio, os intérpretes precisam "esclarecer as coisas" (MAXIMILIANO, 2007, pp. 30-31). Assim, mais precisamente, a interpretação e a aplicação da lei são consistentes com o que o behaviorismo chama de comportamento de "resolução de problemas". Nessa perspectiva, a interpretação jurídica pode ser entendida como uma forma de resolver problemas. Os advogados precisam encontrar apoio para seus clientes no sistema jurídico. O parecerista precisa responder a uma pergunta. Os juízes precisam resolver um conflito. Também é conhecido o comportamento habitual dos juristas, ou seja, o comportamento que visa gerar o "contexto" (estímulos discriminativos complexos) que tornam uma solução mais provável: estudar a jurisprudência dos tribunais em que o litígio é contestado, consultar doutrinas especializadas, verificar se os argumentos da defesa são consistentes. Assim, quando o intérprete descreve oralmente os "passos" que deu para resolver o problema hermenêutico, a fórmula que descreve prevê uma série de reforços posteriores que acabam por conduzir à resolução. Portanto, se é um ato, a lei é interpretada como objeto da análise behaviorista. CONSIDERAÇÕES FINAIS É evidente que o comportamento humano está diretamente atrelado à ciência jurídica. As características que definem alguns tipos de personalidades, somadas aos seus transtornos, denotam a necessidade de leis que atendam essa parcela da população. Os transtornos mentais, vistos hoje com menos preconceitos - não completamente isentos - possuem algum respaldo na lei para que essas pessoas vivam com dignidade e respeito, não sendo obrigadas a tratamentos forçados ou prejudiciais de maneira indiscriminada ( salvo alguns casos). A perspectiva do Behaviorismo sobre o comportamento é um dos estudos mais próximos do comportamento humano atrelado à ciência jurídica como todo, baseando-se em comportamentos que são moldados majoritariamente a partir da vivência individual que busca uma recompensa. Os padrões de comportamento que frequentemente são repetitivos, fazem com que cada indivíduo possua comportamento previsível, o que permite a criação de leis baseadas na cultura local de um povo, uma vez que cada pessoa saiba mensurar qual a recompensa ou punição será oferecida em cada ação individual ou coletiva que essa ou essas pessoas farão. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amarante, P. (1998) Loucos Pela Vida: A Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil [ Loucos pela Vida: Reforma Psiquiátrica no Brasil ] (2ª ed.). FIOCRUZ. Organização Mundial da Saúde (1992) A CID-10 Classificação de Transtornos Mentais e Comportamentais (10ª revisão) (CID-10). WHO SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. Tradução de J. C. Todorov & R. Azzi. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. SKINNER, Burrhus Frederic. Contingências de reforço. Tradução de Rachel Moreno. São Paulo: Abril Cultural, 1980. SKINNER, Burrhus Frederic. Sobre o behaviorismo. Tradução de Maria da Penha Villalobos. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. 9
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