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1 2 Este conteúdo tem por objetivo apresentar uma compreensão sobre a psicopatologia e os comportamentos desviantes, bem como, da Psicologia Criminal, a fim de elucidar as principais aplicações da Psicologia no campo do Direito. O título deste nosso módulo, Psicologia Jurídica, certamente suscita expectativas e curiosidades. Seguramente uma dessas expectativas encontra-se diretamente relacionada à aplicação da Psicologia à área criminal, que faz parte do nosso conteúdo, conforme vimos na apresentação do módulo. Entretanto, a psicologia está presente em outras importantes áreas do Direito, como é o caso do Direito Civil, do Direito de família e do Direito do Trabalho. Todavia, se é assim, então por que logo pensamos na Psicologia Criminal? Muitos podem ser os motivos para isso, um deles diz respeito à relação da Psicologia com a Psiquiatria, com os manuais diagnósticos, com os testes psicológicos e psicopatológicos, muito utilizados em perícias clínicas e criminais. No Brasil, a trajetória da Psicologia tem uma longa história com a área criminal. Foi ampla e largamente utilizada na política manicomial e hoje luta ferrenhamente contra essa política. Foi comum a presença dos psicólogos nos manicômios judiciários, e ainda é, mesmo que as práticas tenham mudado significativamente. Todavia, esse não é o único motivo, pois no ideário popular, que chamamos de senso comum, ou, se adotarmos a perspectiva Jungiana, no inconsciente coletivo, há, além dessa transmissão histórica, conteúdos advindos da mídia, que se constituiu como um poderoso veículo de transmissão de pensamentos e de modos de ver o mundo. Nesse sentido, séries como “CSI – Investigação Criminal” e as outras muitas séries e filmes em que vemos psicólogos desempenhando papéis de peritos criminais, quando não são eles mesmos os investigadores, corroboram o pensamento de que deve ser, de fato, a área criminal o campo de maior atuação da ciência psicológica no âmbito do Direito e que, certamente, é a área que goza de maior prestígio. Entretanto, será isso verdade? É possível dizer, com todo o grau de certeza, que a Psicologia Criminal é a mais importante e privilegiada área da Psicologia no âmbito do Direito? 3 Estou certo que, neste momento, você já tenha conhecimento que lhe possibilita inferir se esse pensamento é falso ou verdadeiro e tenho certeza que a final desse módulo, você terá segurança em sua resposta ou, pelo menos, maior confiança no arcabouço teórico que lhe permite conjecturar, dialogar com propriedade e propor diferentes modos de pensar o tema, que, de alguma forma, tragam mudanças ao paradigma vigente. Em uma adaptação livre do cogito de Descartes, “existo e conheço, logo, penso sobre o modelo de existência”. Vamos lá, “CSI”, vamos iniciar a nossa trajetória do conhecimento. Podemos definir psicopatologia como área da ciência que trata, essencialmente, da natureza da doença mental e suas formas de manifestação, com a finalidade de conhecer suas causas, bem como as mudanças estruturais e funcionais que estão associadas a ela. Entretanto, podemos também dizer que a psicopatologia é o conjunto de conhecimentos produzidos sobre o adoecimento mental do homem. O conhecimento psicopatológico não inclui critérios de valor, isto é, não utiliza juízo de valor, assim como, não admite dogmas ou verdades a priori, pelo contrário, esforça- se em ser um conhecimento sistemático, elucidativo e desmistificante. Isso quer dizer que o atendimento ao paciente em sofrimento psíquico, mesmo que seja aquele que supostamente comentou um crime ou alguma infração legal, deve ser realizado com atenção integral, sem o uso do senso moral, que é o conhecimento que antecede o comportamento, mas com a adoção da consciência moral e ética por parte do profissional. O campo de estudo e atuação da psicopatologia compreende um vasto número de fenômenos humanos especiais, que estão associados à historicidade da doença mental. Trata-se de estados mentais, vivências e padrões de comportamento, com especificidades psicológicas, que são próprias da doença mental e complexas conexões com a normalidade, pois a doente mental também experimenta vivências semelhantes às vivências daqueles ditos normais. Embora as raízes da psicopatologia estejam em grande parte nas ciências de tradições médicas, como, por exemplo a neurologia, ela também absorveu conhecimentos de tradição humanista, advindos da Filosofia, da Literatura, das Artes e da Psicanálise. Contudo, ela não é e não deve ser encarada como um 4 prolongamento da Neurologia ou da Psicologia, mas, sim, como uma ciência autônoma. Enquanto conhecimento, a psicopatologia é uma ciência básica, que apoia a psicologia e a psiquiatria e quando há esse auxílio, torna-se um conhecimento aplicado a uma pratica social e profissional concreta. Contudo, mesmo que a psicopatologia considere o homem em sua totalidade, sendo esse o seu objeto de estudo, o homem e sua patologia, há de se admitir que os conceitos psicopatológicos não dão conta de compreender e explicar tudo o que compõe o homem. Você percebeu a complexidade que é definir o homem em sua totalidade como objeto de estudo e paradoxalmente ter ciência que não se pode apreender a totalidade desse objeto por meio dos conceitos produzidos pela ciência que o toma? Por exemplo, ao se realizarmos uma análise psicopatológica da biografia de Salvador Dalí, podemos diagnosticá-lo como esquizofrênico, maníaco ou qualquer outro diagnóstico possível, mas isso não dará conta de explicar a vida e a obra do artista em sua totalidade, pois na complexidade do homem, esse sujeito multideterminado, sempre restará algo que transcende à ciência e sendo a psicopatologia uma ciência, haverá sempre algo a explicar, que permanecerá no domínio do mistério. É necessário que essa compreensão fique bem clara, para que não venhamos a acreditar que essa ou qualquer outra ciência dará conta de apreender o fenômeno em sua totalidade. Nesse sentido, os sintomas psicopatológicos são estudados em dois aspectos básicos: A forma (dos sintomas) – refere-se à estrutura básica dos sintomas, isto é, aquilo que é semelhante nos diversos pacientes. Por exemplo: Ideias obsessivas, pensamentos compulsivos, labilidade afetiva, delírio, alucinação, etc. O conteúdo (dos sintomas) – é relativo ao que preenche a estrutura da alteração. O conteúdo de um sintoma costuma ser algo mais pessoal, que diz respeito à história de vida, ao universo cultural e de personalidade do doente, antes do seu adoecimento, como por exemplo um conteúdo religioso, de perseguição ou de culpa. De acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 29), de maneira geral: Os conteúdos dos sintomas são relacionados aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), 5 religiosidade, entre outros”. Tais temas representam “uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. No estudo da doença mental, deve-se observar com cuidado e rigor as suas manifestações. Essa observação deve ser dialeticamente articulada com a ordenação dos fenômenos, o que implica dizer que para se observar, também será necessário produzir, definir, classificar, interpretar e ordenar logicamente cada fenômeno observado. Dalgalarrondo (2008) destaca que para a psicopatologia, classicamente, distinguem- se 3 (três) tipos de fenômenos humanos. São eles: Aqueles que são semelhantes a todas as pessoas. Sentir fome, sono, sede, medo de algo perigoso, ansiedade diante de uma situação difícil e desejo sexual são exemplos de experiências que são basicamente partilhadas por todos os humanos. Fenômenos em parte semelhantes e em parte distintos – são aqueles que, embora sejam partilhadospelo homem comum, são partilhados apenas em parte com o doente. Exemplo: É comum ao homem sentir tristeza, mas a tristeza experienciada pelo depressivo possui um grau diferente do que a maioria das pessoas vivenciam. Fenômenos diferentes, qualitativamente novos – são aqueles praticamente exclusivos a certas patologias ou estados mentais. Exemplo: Fenômenos psicóticos como turvação da consciência, delírio, alucinação, alteração cognitiva em decorrência de doenças degenerativas ou demências. Você reparou que, inevitavelmente, a psicopatologia trabalha com o conceito de normalidade? Sim, para se definir o que é patológico, doente, é necessário adotar um critério de normalidade, o que implica definir o que é doença e o que é saúde mental. Para nós, interessa-nos saber que a definição aplicada pela psiquiatria e psicologia legal ou jurídica, pode ter importantes determinações legais, criminais e éticas, pois se pode definir o destino legal, social e institucional de uma pessoa, como ocorre nos casos em que se realiza perícias psicopatológicas para determinar de um sujeito é imputável ou inimputável em decorrência de uma possível doença mental. É possível de adotar mais de um critério de normalidade e, por conseguinte, de anormalidade. Essa opção, entre outras coisas, depende das opções ideológicas, 6 filosóficas e pragmáticas do profissional. São 9 (nove) os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia: 1. Normalidade por ausência de doença – refere-se à ausência de sintomas. Se não há sintomas, não há doença. 2. Normalidade ideal – estabelecimento social arbitrário, supostamente sadio, evoluído. Temos, por exemplo, a Eugenia, que acreditava que a raça ariana era o ideal de saúde. 3. Normalidade estatística – refere-se àquilo que se observa com mais frequência na população, analisando-se dados estatísticos, como peso, altura, quantidade de sintomas ansiosos, hora de sono, tensão arterial. 4. Normalidade biopsicossocial – por determinação da Organização Mundial de Saúde – OMS, a saúde deve ser definida não apenas como a ausência de doença, mas como o completo bem-estar físico, mental e social. Esse conceito enfrenta críticas por se impreciso e difícil de ser definido objetivamente. 5. Normalidade funcional – para ser considerado patológico o fenômeno deve produzir sofrimento, ou seja, deve ser disfuncional para om próprio indivíduo ou para o grupo. 6. Normalidade como processo – é o mais utilizado em psicologia e psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica, pois se considera os aspectos dinâmicos do desenvolvimento, psicossocial, das estruturas e reestruturações que ocorrem ao longo do tempo, das crises e dos conflitos, bem como das mudanças próprias de cada período etário. 7. Normalidade subjetiva – a ênfase é dada à percepção do próprio sujeito, acerca de seu estado de saúde, portanto, à subjetividade desse estado. O problema é que muitas pessoas podem se dizer e até se sentir saudáveis, quando, na verdade, estão doentes, como é o caso de um paciente com transtorno mental grave ou em mania. 8. Normalidade como liberdade – alguns autores de orientação existencial e fenomenológica, a doença mental é conceituada como perda de liberdade. Dessa forma, deseja-se que o paciente possa relativizar as limitações e o 7 sofrimento, próprios do ser humano e, assim, desfrutar do que lhe resta da liberdade e do prazer que a existência lhe oferece. 9. Normalidade operacional – define-se a priori o que é normal e o que é patológico. Busca-se trabalhar operacionalmente a partir do que está estabelecido nos manuais (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM – IV / V e Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - CID – 10). A variedade dos critérios de normalidade e de doença em psicopatologia ocorrem não somente em função das especificidades dos fenômenos com os quais se trabalha ou de acordo com as posições ideológicas e filosóficas do profissional, mas também, em alguns casos, de acordo com o objetivo que se tem em mente, pode-se utilizar a associação de critérios de normalidade e de doença. Inicialmente, precisamos definir transtorno. Esse pode ser compreendido como um comportamento da criança, do adolescente ou do adulto, que provoca deterioração ou privação, em decorrência de falha de algum mecanismo interno, levando-se em conta as normas sociais. O termo transtorno é muito utilizado para se referir ao comportamento desviante da criança e do adolescente. No entanto, precisamos ter clareza que a existência de oscilações é natural no desenvolvimento infanto-juvenil, o que significa que a criança não é, mas está. Essas oscilações podem aproximar características de determinados sintomas. Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 268): O transtorno de personalidade foi ao longo dos séculos, nomeado de diversas formas: insanidade moral [...], monomania moral, transtorno ou neurose de caráter, etc. Entretanto, o termo que mais se popularizou entre os profissionais de saúde foi psicopatia. O termo foi frequentemente utilizado como sinônimo de sociopatia, isto é, foi comumente utilizado para designar personalidade sociopática, da mesma forma que também foi utilizado de modo impreciso, ou seja, identificando psicopatia com os demais transtornos de personalidade. 8 Podemos dizer que um sujeito com transtorno de personalidade é aquele que sofre e faz com que a sociedade sofra, sem, no entanto, aprender com sua experiência. Nesse sentido, é possível afirmar que o transtorno de personalidade é marcado por uma desarmonia, que se reflete tanto no plano intrapsíquico, quanto nas relações interpessoais. Contudo, embora os transtornas de personalidade produzam consequências penosas e desagradáveis ao sujeito, aos familiares e pessoas próximas e sociedade, eles costumam permanecer estáveis por toda a vida do sujeito, o que implica dizer que são pouco e dificilmente modificáveis por meio de experiências da vida. Considerando a classificação atual dos transtornos mentais, da OMS, a CID-10, apresenta as seguintes características, para definir os transtornos de personalidade: • Surgem com frequência na infância e tendem a permanecer estáveis por toda a vida do sujeito. • Nos vários aspectos da vida do sujeito, manifestam um conjunto de reações afetivas e comportamentos claramente desarmônicos. • É permanente, isto é, de longa duração e não apenas limitado ao episódio da doença mental, o padrão de comportamentos e de respostas afetivas desadaptativas. • O padrão disfuncional, desadaptativo, de comportamento inclui vários aspectos do psiquismo e da vida social do sujeito. • O padrão comportamental desadaptativo produz inúmeras dificuldades para o indivíduo. • As condições não estão diretamente relacionadas a lesão cerebral, embora lesões cerebrais possam causar alterações secundárias de personalidade. • Gera algum grau de sofrimento; solidão, angústia, sensação de fracasso pessoal, dificuldades no relacionamento vividas com amarguras. Todavia, tal sofrimento pode não se aparente para o sujeito, que poderá se dar conta dele apenas tardiamente. • De modo gera, o transtorno de personalidade, seja qual for, contribui positivamente para o mau desempenho ocupacional, seja no trabalho, nos 9 estudos ou qualquer outra área produtiva. Todavia, o desempenho precário não é condição obrigatória. De acordo com Dalgalarrondo (2008), considerando-se a CID-10 e o DSM-IV, pode- se agrupar os transtornos de personalidade em 3 (três) grandes subgrupos, a saber: A – esquisitos e/ou desconfiados; B – instáveis e/ou manipuladores; C – ansiosos e/ou controlados-controladores, conforme quadro a seguir: Quadro 1 – Transtornos de personalidade segundo a CID-10 e o DSM -IV Agrupamento A Agrupamento B Agrupamento C Esquisiticee/ou desconfiança Impulsividade e/ou manipulação Ansiedade e/ou controle Paranoide Desconfiança constante; Sensível às decepções e às críticas; Rancoroso, arrogante; Culpa os outros; Reivindicativo; Sente-se frequentemente prejudicado nas relações. Borderline Relações pessoais muito instáveis; Atos autolesivos repetitivos; Humor muito instável; Impulsivo e explosivo; Graves problemas de identidade; Sentimentos intensos de vazio e aborrecimento crônico. Ansiosa Dificuldade em descontrair-se; Preocupa-se facilmente; Teme situações novas; Atento a si próprio; Muito sensível à rejeição; Extremamente inseguro. Esquizoide Frio (indiferente); Distante, sem relações íntimas; Esquisito (estranho); Vive no seu próprio mundo; Solitário (isola-se); Não se emociona (imperturbável). Sociopática Irresponsável, inconsequente Frio, insensível; Sem compaixão; Agressivo, cruel; Não sente culpa ou remorsos; Não aprende com a experiência; Mente de forma recorrente; Aproveita-se dos outros. Anancástica/obsessiva Rígido, metódico, minucioso; Não tolera variações ou improvisações; Perfeccionista e escrupuloso; Muito convencional, segue rigorosamente as regras; Controlador (dos outros e de si); Indeciso. Esquizotípica Ideias e crenças estranhas e de autorreferência; Desconforto nas relações interpessoais Pensamento muito vago e excessivamente metafórico Aparência física excêntrica. Histriônica Dramatiza, é muito teatral; Sugestionável e superficial; Necessita de atenção; Manipulador; Infantil e pueril; Erotiza situações não comumente erotizáveis. Dependente Depende extremamente de outros; Necessita muito agradar; Desamparado quando sozinho; Sem iniciativa e sem energia; Sem autonomia pessoal. Fonte: Dalgalarrondo (2008, p. 269). Quanto ao plano de tratamento dos transtornos de personalidade, geralmente é empregada a Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, que adota o modelo cognitivo 10 dos transtornos de personalidade, proposto por Beck e Freeman, pois esse modelo dialoga fácil e amplamente com as neurociências, com a psiquiatria e com o Direito. O referido modelo propõe uma compreensão e identificação dos transtornos de personalidade por meio de alguns padrões de esquemas mentais: a visão de si; a visão dos outros e as crenças centrais. No quadro seguinte, você poderá analisar as características dos transtornos de personalidade, segundo esse modelo: Quadro 2 – Perfil das características dos transtornos de personalidade Transtorno de Personalidade Cluster Visão de si Visão dos outros Principais crenças Principal estratégia Esquizoide A Autossuficient e; Solitário. Intrusivos. Os outros não são gratificantes; Relacionamentos são confusos e indesejáveis. Manter distância. Antissocial B Solitário; Autônomo; Forte. Vulneráveis; Exploráveis. Tenho o direito de infringir regras; Os outros são otários, trouxas; Os outros são exploráveis. Atacar, roubar, enganar, manipular. Narcisista B Especial, único; Merecedor de regras especiais; Superior; Acima das regras. Inferiores; Plateia. Visto que sou especial, mereço regras especiais; Estou acima das regras; Eu sou melhor que os outros. Usar os outros; Transcender as regras; Manipular; Competir. Histriônico B Glamoroso; Impressionant e. Seduzíveis; Receptíveis; Admiradores. As pessoas estão aí para me servir ou admirar; Elas não têm o direito de negar meus justos direitos; Eu posso seguir os meus sentimentos. Usar a dramaticidade e o charme; Ter excessos temperamentai s, choro. Ter gestos suicidas. Borderline B Vulnerável; Inaceitável; Impotente. Perigosos; Malvados. Posso ser abandonado ou agredido; Manipular; Seduzir; Cometer atos suicidas e parassuicidas. 11 Devo ficar vigilante para que os outros não me maltratem; Não consigo reverter quadros desfavoráveis. Esquiva C Vulnerável à depreciação, rejeição; Socialmente incapaz; Incompetente. Críticos; Depreciadores; Superiores. É terrível ser rejeitado; Se as pessoas conhecerem meu verdadeiro eu, me rejeitarão; Não consigo tolerar sentimentos desagradáveis. Evitar situações de avaliação; Evitar sentimentos ou pensamentos desagradáveis. Dependente C Carente; Fraco; Indefeso; Incompetente. Idealizados; Provedores; Apoiadores; Competentes. Necessito das pessoas para sobreviver, ser feliz; Necessito de um fluxo contínuo de apoio e encorajamento. Cultivar relacionamento s de dependência. Obsessivo- compulsivo C Responsável; Confiável; Obstinado; Competente. Irresponsáveis; Negligentes; Incompetentes; Autoindulgentes. Eu sei o que é melhor; Os detalhes são cruciais; As pessoas deveriam fazer melhor, tentar com mais afinco. Aplicar regras; Ser perfeccionista; Avaliar, controlar “deveres”, criticar, punir. Fonte: Cordioli et al. (p. 371). As estratégias básicas de tratamento serão aplicadas a partir da identificação e compreensão dos padrões de esquemas mentais. Contudo, segundo Cordioli et al. (2008, p. 370), embora o modelo proposto por Beck e Freeman comprovadamente obtenha “alguma diminuição na sintomatologia mais aguda, bem como uma melhor adequação do sujeito com transtorno de personalidade ao seu contexto de vida”, os estudos, até então produzidos, não demonstram um resultado empiricamente validado, quando se trata da modificação dos padrões de personalidade do paciente. Esse pensamento corrobora com o proposto nos manuais diagnósticos. Você está lembrado que, segundo esses manuais, a personalidade tende a se manter constante ao longo de toda a vida? Isso não quer dizer que não se posso propor um tratamento, mas que se deve considerar suas limitações. 12 Não somente os transtornos de personalidade, mas os transtornos mentais como um todo, têm início na infância e na adolescência e podem persistir por toda a vida do sujeito. Dessa forma, a prevalência de transtornos mentais em crianças e adolescentes é significativamente alta. Atualmente, considerando-se a população mundial, os transtornos mentais afetam aproximadamente 15% de crianças e adolescentes. Na investigação etiológica dos transtornos mentais, analisa-se as determinantes ambientais, genéticas, etiológicas e comportamentais. Como sabemos, considerando- se os subgrupos, os transtornos mentais são grandemente responsáveis por gerar incapacidade, dependência e sofrimento social. Nesse sentido, a investigação da prevalência e identificação da evolução e dos fatores etiológicos, auxiliam no tratamento precoce, que apresenta significativo potencial para a redução dos custos sociais referentes a esse tipo de transtorno. De acordo com a APA (1994), pode-se conceituar um transtorno mental como uma síndrome, padrão comportamental ou psicológico, com importância clínica, que ocorre em um sujeito e se mostra associado ao sofrimento ou incapacitação, bem como, com um risco significativamente aumentado de sofrimento atual, morte, dor, deficiência ou perda significativa da liberdade. A prevalência é a medida de frequência de doenças mais utilizada na investigação dos transtornos mentais em crianças e adolescentes. Quando analisamos a frequência dos casos de uma determinada doença, em uma determinada população e em um dado momento, estamos, na verdade, investigando a prevalência dessa doença. A prevalência geral expressa a quantidade de sujeitos que já apresentaram a doença investigada em qualquer momento da vida, desde o nascimento até o momento do estudo. Entretanto, devido aos casos episódicos de muitos transtornos psiquiátricos, a medida de prevalência no período é mais utilizada, isto é, a frequência de uma doençaao longo de um período determinado de tempo. Calcula-se a prevalência dos transtornos mentais na população por meio inquéritos e levantamentos populacionais, que são estudos epidemiológicos, baseados em um 13 expressivo número de entrevistas domiciliares. Por sua vez, a avaliação diagnóstica dos transtornos mentais em crianças e adolescentes deve utilizar critérios padronizados e aceitos mundialmente, como os critérios estabelecidos na CID-10 e no DSM-IV. Quando se trata dos cuidados públicos e/ou privados das crianças e dos adolescentes, pode-se considerar que a legislação brasileira, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990) e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE (2004), mudou o paradigma jurídico do modo de interpretar as diretrizes básicas contidas no artigo 227 da Constituição da República Federativa de Brasil de 1988, apresentando, entre outras novidades, a redefinição do sujeito de cuidados, do conflito com a lei na juventude e do atendimento correspondente. Por conta disso, instituições públicas brasileiras responsáveis pelo acolhimento de adolescentes em conflito com a lei e que cumprem medidas judiciais, têm enfrentando problemas na implantação dos “novos” dispositivos legais, por uma série de fatores, tais como, a morosidade, o sucateamento do aparelhamento público, a dificuldade de transpor o que está prescrito para uma prática equivalente, etc. Contendo, há no Brasil, exemplos positivos de tentativas de implementar o paradigma legal atual. Nesse sentido, a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – FEBEM, de São Paulo, em 2006, mudou seu nome para Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente – Fundação CASA. Essa mudança de linguagem é essencialmente importante, pois revela uma nova forma de olhar os sujeitos que se encontram sob o cuidado público. Pode verificar essa mudança conceitual também na linguagem jurídica. Por exemplo, o termo “menor” infrator, antes utilizado juridicamente para designar a incapacidade legal, foi atualmente substituído pelo termo “adolescente”, que melhor representa a uma fase decisiva do processo de desenvolvimento humano, que inclui amadurecimento e crescimento biopsicossocial. As mudanças verificadas evidenciam a reformulação da natureza do cuidado desses jovens. A ética da tutela foi paulatinamente substituída pela ética da escuta e do cuidado integral, trata-se, portanto, de um atendimento, semelhante ao que ocorre nas 14 práticas terapêuticas, de onde se originou o termo, e não apenas de medidas assistencialistas. Mudou-se também os objetivos e procedimentos, na medida em que a ideia jurídico- política de provisão de bem-estar foi abandonada e substituída pela ação socioeducativa, que visa uma readaptação desses adolescentes à sociedade. O espaço físico também foi ressignificado, ao se chamar as instalações de casa, busca- se redefinir o ambiente social, no qual se prioriza o oferecimento de um atendimento mais qualificado, considerando-se as possibilidades. Por se considerar a fase do desenvolvimento da criança e do adolescente e as possíveis oscilações comportamentais, mesmo que características de transtornos de personalidade, como psicopatia e sociopatia sejam preliminarmente consideradas, não se pode atribuir esse tipo de diagnóstico ou “rótulo” a uma criança ou adolescente, antes, se fala em transtorno de conduta ou delinquência infanto-juvenil, esse último, se adotarmos a compreensão de Winnicott, que considerou uma relação entre privação e delinquência. A CID-10 enquadra o transtorno de conduta no código F91 - Distúrbios de conduta, no qual determina que os transtornos de conduta são caracterizados por padrões persistentes de conduta dissocial, agressiva ou desafiante. Tal comportamento deve comportar grandes violações das expectativas sociais próprias à idade da criança; deve haver mais do que as travessuras infantis ou a rebeldia do adolescente e se trata de um padrão duradouro de comportamento (seis meses ou mais). Quando as características de um transtorno de conduta são sintomáticas de uma outra afecção psiquiátrica, é este último diagnóstico o que deve ser codificado. O diagnóstico se baseia na presença de condutas do seguinte tipo: manifestações excessivas de agressividade e de tirania; crueldade com relação a outras pessoas ou a animais; destruição dos bens de outrem; condutas incendiárias; roubos; mentiras repetidas; cabular aulas e fugir de casa; crises de birra e de desobediência anormalmente frequentes e graves. A presença de manifestações nítidas de um dos grupos de conduta precedentes é suficiente para o diagnóstico, mas atos dissociais isolados não o são. 15 Quanto ao DSM-V, os critérios para diagnóstico e a especificação dos sintomas são mais elaborados, elencando uma série de itens que necessariamente devem ser avaliados no momento do diagnóstico. O referido manual inclui o Transtorno de Conduta no grupo dos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, os quais incluem condições que envolvem problemas do autocontrole de emoções e de comportamentos. Esses problemas se manifestam em comportamentos que violam os direitos dos outros (p. ex., agressividade, destruição de propriedade) e/ou colocam o indivíduo em conflito significativo com normas sociais ou figuras de autoridade. O DSM-V considera como “Transtorno de Conduta” um padrão de comportamento repetitivo e persistente no qual são violados direitos básicos de outras pessoas ou normas e regras sociais relevantes e apropriadas para a idade, tal como manifestado pela presença de ao menos três dos quinze critérios seguintes, nos últimos 12 meses, de qualquer uma das categorias adiante, com ao menos um critério presente nos últimos seis meses: a) Agressão a pessoas e animais: frequentemente provoca, ameaça ou intimida os outros; frequentemente inicia brigas físicas; usou alguma arma que pode causar danos físicos graves a outros; foi fisicamente cruel com pessoas; foi fisicamente cruel com animais; roubou durante o confronto com uma vítima; forçou alguém a atividade sexual. b) Destruição de propriedade: envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndios com a intenção de causar danos graves; destruiu deliberadamente propriedade de outras pessoas. c) Falsidade ou furto: invadiu a casa, o edifício ou o carro de outra pessoa; frequentemente mente para obter bens materiais ou favores ou para evitar obrigações; furtou itens de valores consideráveis sem confrontar a vítima. d) Violações graves de regras: frequentemente fica fora de casa à noite, apesar da proibição dos pais, com início antes dos 13 anos de idade; fugiu de casa, passando a noite fora, pelo menos duas vezes enquanto morando com os pais ou em lar substituto, ou uma vez sem retornar por longo período; com frequência falta às aulas, com início antes dos 13 anos de idade. 16 Você percebeu que há critérios previamente estabelecidos para o diagnóstico de um transtorno de conduta? Mas, e quanto ao tratamento, quais modelos se costuma utilizar e quais são as características deles? Vamos estudá-los agora!? Quando se trata de transtorno de conduta, um dos modelos de tratamento frequentemente utilizado é o modelo proposto pela Terapia Cognitiva Comportamental – TCC. Esse modelo considera que, entre os objetivos de trabalho está a participação ativa dos pais assim como da criança ou do adolescente. A psicoeducação dos pais visa favorecer o desenvolvimento do modelo moral e da monitoria positiva, que se utilize de reforços positivos e consequências lógicas, evitando-se a punição, assim como a omissão e distanciamento afetivo. O acompanhamento psicoterapêutico da criança ou do adolescente requer avaliações constantes, que devem ocorrer ao longo do tratamento. Além disso, está envolvida a psicoeducação, o desenvolvimentode habilidades cognitivas para que aprenda a discriminar os eventos externos e a relação com seus próprios comportamentos, o treino de habilidades sociais para que possa aumentar o repertório de comportamentos pró-sociais e diminuir os comportamentos antissociais. O automonitoramento está relacionado ao desenvolvimento da autonomia da criança ou do adolescente, ou seja, refere-se à capacidade de enfrentamento das situações conflitivas, das quais deve resultar comportamentos mais adequados e esperados para uma criança ou adolescente. Segundo Barletta (2011), os estilos parentais, ou seja, as estratégias usadas pelos pais nas vivências com os filhos podem resultar em comportamentos pró-sociais ou comportamentos antissociais. Desta forma, entende-se que o melhor plano de tratamento para a demanda de crianças ou adolescentes com transtorno de conduta e/ou em conflito com a lei deve envolver os pais ou cuidadores. O treinamento com os pais se justifica pelo fato de a falta de supervisão dos pais, a monitoria inconsistente ou negativa e a personalidade antissocial dos cuidadores estarem relacionadas ao transtorno de conduta. Além disso, a literatura aponta a presença paterna como um importante preditor de tais comportamentos. 17 O treino de habilidades sociais deve ocorrer em conjunto com o treino de habilidades cognitivas, para que as crianças ou adolescentes com esse perfil possam desenvolver estratégias que lhe permitam lidar satisfatoriamente com situações conflitivas. Além do modelo cognitivo comportamental, há também o método psicodinâmico, no qual se destaca o modelo de atendimento aos adolescentes em conflito com a lei, proposto pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana, que se baseia nos pressupostos teóricos e práticos do na prática do pediatra, psicanalista e agente social inglês Donald Woods Winnicott (1986-1971). De acordo com Dias e Loparic (2008, p. 49), o: MODELO WINNICOTT de atendimento aos adolescentes em conflito com a lei começou a ser elaborado em 2008, no quadro das atividades do Núcleo de Prevenção e de Atendimento da Tendência Antissocial da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW). A aplicação desse modelo tem por objetivo geral o mesmo definido pelo SINASE, isto é, possibilitar a esses adolescentes que cometeram infrações, a oportunidade de reconstruírem o seu projeto de vida, por meio do desenvolvimento de uma experiência autêntica. À luz da teoria winnicotiana, interpreta-se projeto de vida, como o estabelecimento de um projeto de “vir a ser”, que envolve componentes mentais e conscientes, mas que não é meramente uma operação mental e consciente. Para a reconstrução, deve-se retomar, em primeiro lugar, o processo de amadurecimento e considerar a autenticidade da experiência vivida por esses jovens, no seu processo de desenvolvimento. Atualmente, a Psicologia é considerada indispensável para as muitas soluções buscadas pelos juristas e, por conta disso, tem se tornado presente e essencialmente importante em várias áreas do Direito, entre elas temos o Direito Civil, o Direito de Família, o Direito Penal ou Criminal e o Direito Trabalhista. O papel do psicólogo nessas áreas não é apenas aquele esperado, que se refere a atuação de perito na Criminologia, na vara de família e da infância ou perito do trabalho em casos de doenças ocupacionais de ordem psicológica ou, ainda, em situações que envolve assédio moral e sexual no ambiente ocupacional. Nessas 18 mesmas áreas, o psicólogo também apoia o judiciário, na prestação de serviços profissionais de qualidade às vítimas e aos seus familiares, que passaram por traumas em decorrência de crimes contra elas cometidos. Contudo, antes de concentrarmos a nossa atenção na aplicação da Psicologia no âmbito do Direito, cabe diferenciá-la enquanto ciência básica da ciência aplicada. Você deve estar se perguntando: Como assim ciência básica e ciência aplicada? Bom, você está lembrado que a Psicologia é uma ciência, certo? Pois bem, a ciência se divide entre ciência básica e ciência aplicada. Estamos fazendo ciência básica ou ciência pura quando realizamos uma pesquisa sem interesses imediatos com essa pesquisa. A motriz da nossa pesquisa é a busca da verdade e o desejo de avançar as fronteiras do conhecimento humano. Já a ciência aplicada ocorre quando empregamos um conhecimento científico na solução de um problema de ordem prática ou para um fim utilitário determinado. Assim sendo, podemos dizer que para haja ciência aplicada é necessário que se produza ciência básica. Nesse sentido, abordaremos aqui a Psicologia Aplicada ao campo do Direito, ou seja, conheceremos um pouco mais das possibilidades da aplicação dos saberes produzidos pela ciência psicológica. No Brasil, costuma-se confundir Psicologia Jurídica com Psicologia Judicial, Forense ou legal. A Psicologia Jurídica aborda os fundamentos psicológicos da justiça e do Direito. Esse termo é comumente utilizado no âmbito do Direito, enquanto que os psicólogos frequentemente utilizam a expressão Psicologia Judicial, que se refere ao estudo e à aplicação dos processos psicológicos à prática do jurista. Sabendo disso, voltando-nos à Psicologia Aplicada, é possível que faça mais sentido para você, nos concentrarmos na Psicologia Jurídica. Encontramos na literatura duas possibilidades de contribuição da Psicologia ao universo jurídico. A primeira diz respeito ao assessoramento legislativo, por meio do qual a Psicologia Jurídica pode cooperar para a elaboração de leis mais adequadas ao meio social. Já a segunda se refere ao assessoramento legislativo, no qual a Psicologia Jurídica colabora na organização e no sistema de administração da justiça. 19 Encontramos a Psicologia Jurídica nas seguintes áreas do Direito: Direito Civil, no qual também se compreende o Direito da Família e o Direito da Criança e Adolescente, cujas práticas das ações são ajuizadas em varas diferenciadas; Direito Penal e Direito do Trabalho. Vamos lá “CSI”, vamos investigar a interface existente entre Psicologia e Direito, a partir do aporte teórico de Lago, Amato, Teixeira, Rovinski e Bandeira (2009): 1 – Psicólogo jurídico e o direito civil: • Psicólogo jurídico e o direito de família – a atuação dos psicólogos concentra-se nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas. Quando se trata de separação e divórcio, normalmente quando envolve litígio, os psicólogos buscam auxiliar na resolução dos conflitos, por meio rompimento do o vínculo afetivo-emocional, a fim de que os cônjuges encontrem o consenso para a separação por meio de uma atitude racional. Havendo filhos, o juiz poderá solicitar uma perícia psicológica, com a finalidade de avaliar qual dos genitores tem melhores condições de exercer esse direito. Definida a guarda, o juiz deverá regulamentar as visitas e mesmo após essa, podem surgir conflitos que requeiram a intervenção do judiciário. Diante dessa situação, as contribuições do psicólogo jurídico ocorrem por meio de avaliações com a família, buscando- se elucidar os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente na família avaliada, com sugestões das medidas que poderiam ser tomadas para resolver ou minimizar os conflitos. • Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente – a atuação dos psicólogos concentra-se nos processos de adoção e destituição de poder familiar, bem como, do desenvolvimento e aplicação de medidas socioeducativas dos adolescentes autores de ato infracional. Nos casos de adoção, a atuação dos psicólogos ocorre por meio de uma assessoria constante, isto é, ocorre antes, durante e após a colocação da criança. Quando se trata da destituição do poder familiar, deve-se considerar a seriedade que se encontra na decisão de separar uma criança de sua família e nos possíveis acontecimentosfuturos na vida da criança por conta dessa decisão. No caso de adolescentes autores de atos infracionais, de acordo com o Estatuto da 20 Criança e do Adolescente, deve-se adotar medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza punitiva, que possuam aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção integral. Dessa forma, cabe aos psicólogos, proporcionar aos adolescentes infratores a possibilidade de superar sua condição de exclusão, bem como, oportunizar a formação de valores positivos de participação na vida social. Ainda com o Direito Civil, o psicólogo opera nos processos em que são requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de interdição judicial. Por dano psíquico se compreende os efeitos traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima. Nesses casos, cabe ao psicólogo, avaliar a real presença desse dano, por meio do seu referencial teórico e instrumental técnico. Por interdição, conforme previsto no Código Civil, se compreende a incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil, seja por enfermidade ou deficiência mental, nas quais os sujeitos de direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. O psicólogo, nesses casos, a partir de uma nomeação do juiz, exerce o papel de perito, que realizar avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental. 2 - Psicólogo jurídico e o direito penal – o papel do psicólogo, quando solicitado, consiste na atuação de perito, na averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. Dessa forma, a atuação do psicólogo se encontra junto ao Sistema Penitenciário e aos Institutos Psiquiátricos Forenses. 3 - Psicólogo jurídico e o direito do trabalho – a atuação de perito dos psicólogos também pode ocorrer nos processos trabalhistas. Nesses casos, a realização da perícia psicológica serve para examinar a conexão entre as condições de trabalho e a repercussão na saúde mental do trabalhador. São realizadas vistorias dos possíveis danos psicológicos, supostamente motivados por acidentes e/ou doenças ocupacionais, bem como, verificações em casos de afastamento e aposentadoria por sofrimento psicológico. 4 – Outros campos de atuação da Psicologia Jurídica, de acordo com Lago et al. (2008, p. 489): 21 • Vitimologia - objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da vítima. Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as reações das vítimas perante a infração penal. • Psicologia do testemunho - os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com os operadores da justiça. O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. • Depoimento sem Dano - objetiva proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade. Ao analisarmos a performance dos psicólogos jurídicos, verificamos que, independentemente da área jurídica, a atuação desses profissionais encontra-se na avaliação, elaboração de relatórios e pareceres, assim como, no acolhimento e na escuta humanizada, próprios do escopo de atuação profissional da Psicologia. Dessa forma, essa ciência psicológica tem se construído e se consolidado como uma grande ferramenta de auxílio e suporte às práticas do Direito, em seus mais variados campos de atuação. Estamos finalizando o nosso módulo e, neste momento, podemos concluir algumas reflexões realizadas ao longo do nosso conteúdo. Estudamos a psicopatologia, cujas raízes se encontram nas ciências de tradições médicas, e que absorveu conhecimentos de tradição humanista, advindos da Filosofia, da Literatura, das Artes e da Psicanálise, mas, no entanto, se definiu como uma área independente, isto é, distinta da neurologia e da psicologia. Conhecemos o conceito psicopatológico e sua relação com os critérios de normalidade, bem como os principais transtornos de personalidade e suas características. Aprendemos sobre a Psicologia Criminal e sua relação com os transtornos de conduta e delinquência infanto-juvenil, a partir da investigação dos aspectos legais, da 22 definição de transtorno de conduta e delinquência, segundo a CID-10 e o DSM-IV e os modelos de tratamento psicológico mais utilizados. Por fim, mais não menos importante, compreendemos que a Psicologia Jurídica está presente na aplicação do Direito Cível, que compreende o Direito da Família e o Direito da Criança e Adolescente, didaticamente separados por se considerar que as práticas das ações são ajuizadas em varas diferenciadas; Direito Penal e Direito do Trabalho. Até a próxima! 1. Conheça um pouco mais sobre as três principais possibilidades de constituição do sujeito na teoria psicanalítica, a partir do vídeo “Psicanálise: Neurose, Perversidade e Psicose com Evelyn Disitzer | Philos TV”. No vídeo, a psicanalista Evelyn Disitzer discorre sobre as três possibilidades de constituição de um sujeito: neurótico, perverso, e psicótico, a partir do conceito psicanalítico de neurose. Você poderá assisti-lo acessando o seguinte link: <https://www.youtube.com/watch?v=a5PL0O8ZmFQ>. Acesso em: 27 jan. 2018. 2. Para que possamos refletir sobre o transtorno de conduta e como ele pode se manifestar, sugiro o filme “Precisamos Falar Sobre o Kevin”. O filme aborda a difícil relação mãe e filho, por parte da mãe nos primeiros anos e por parte do filho nos anos seguintes. Você poderá assistir ao trailer desse filme acessando o seguinte link: <https://www.youtube.com/watch?v=37Hwj5j6z3Y>. Acesso em: 27 jan. 2018. 3. Amplie os seus conhecimentos sobre a aplicação da Psicologia Jurídica no Brasil, por meio da leitura do artigo “Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação”. O artigo apresenta e discute alguns referenciais históricos da Psicologia Jurídica no Brasil e apresentar as contribuições da Psicologia Jurídica ao campo do Direito. Você poderá lê-lo acessando o seguinte link: <http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n4/09.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018. 23 Amplie os seus conhecimentos sobre o conceito de Psicopatia, as definições, o histórico, a terminologia e classificação e a terminologia na literatura psicanalítica, disponível na Biblioteca Virtual do UNISAL: SHINE, Sidney Kiyoshi. O conceito de psicopatia. In: ______. Psicopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 13-28. Conheça um pouco mais sobre a adolescência e o transtorno de conduta, o desenvolvimento da perversidade, os dilemas de contato e os ajustamentos defensivos, assim como, o caminho terapêutico empregado nesse contexto, a partir do estudo do seguinte capítulo disponível na Biblioteca Virtual do UNISAL: ANTONY, Sheila. O adolescente com transtorno de conduta: a carência afetiva por trás da violência. In: ZANELLA, Rosana (Org.). A clínica gestáltica com adolescentes. São Paulo: Summus, 2013. American Psychiatric Association. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. BANDURA, A.; AZZI, R.G.; POLYDORO, S. A.J. e Cols. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. BARLETTA, Janaína Bianca. Avaliação e intervenção psicoterapêutica nos transtornos disruptivos: algumas reflexões. Rev. bras. ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, dez. 2011. Disponível em: 24 <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808- 56872011000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 jan. 2018. CABALLO, V. E.; SIMÓN, M. Á. Manual de psicologia clínica e do adolescente: transtornosespecíficos. São Paulo: Santos, 2013. CORDIOLI, Aristides Volpato (Org.). Psicoterapias: abordagens atuais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. COSTA, A.E.B. Modelação. In: BANDURA, A.; AZZI, R.G.; POLYDORO, S. A. J. e Cols. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. DIAS, E. O.; LOPARIC, Z. 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