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Apostila M3 Direito e Psicologia

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2 
 
Este conteúdo tem por objetivo apresentar uma compreensão sobre a psicopatologia 
e os comportamentos desviantes, bem como, da Psicologia Criminal, a fim de elucidar 
as principais aplicações da Psicologia no campo do Direito. 
O título deste nosso módulo, Psicologia Jurídica, certamente suscita expectativas e 
curiosidades. Seguramente uma dessas expectativas encontra-se diretamente 
relacionada à aplicação da Psicologia à área criminal, que faz parte do nosso 
conteúdo, conforme vimos na apresentação do módulo. Entretanto, a psicologia está 
presente em outras importantes áreas do Direito, como é o caso do Direito Civil, do 
Direito de família e do Direito do Trabalho. 
Todavia, se é assim, então por que logo pensamos na Psicologia Criminal? Muitos 
podem ser os motivos para isso, um deles diz respeito à relação da Psicologia com a 
Psiquiatria, com os manuais diagnósticos, com os testes psicológicos e 
psicopatológicos, muito utilizados em perícias clínicas e criminais. 
No Brasil, a trajetória da Psicologia tem uma longa história com a área criminal. Foi 
ampla e largamente utilizada na política manicomial e hoje luta ferrenhamente contra 
essa política. Foi comum a presença dos psicólogos nos manicômios judiciários, e 
ainda é, mesmo que as práticas tenham mudado significativamente. 
Todavia, esse não é o único motivo, pois no ideário popular, que chamamos de senso 
comum, ou, se adotarmos a perspectiva Jungiana, no inconsciente coletivo, há, além 
dessa transmissão histórica, conteúdos advindos da mídia, que se constituiu como um 
poderoso veículo de transmissão de pensamentos e de modos de ver o mundo. 
Nesse sentido, séries como “CSI – Investigação Criminal” e as outras muitas séries e 
filmes em que vemos psicólogos desempenhando papéis de peritos criminais, quando 
não são eles mesmos os investigadores, corroboram o pensamento de que deve ser, 
de fato, a área criminal o campo de maior atuação da ciência psicológica no âmbito 
do Direito e que, certamente, é a área que goza de maior prestígio. Entretanto, será 
isso verdade? É possível dizer, com todo o grau de certeza, que a Psicologia Criminal 
é a mais importante e privilegiada área da Psicologia no âmbito do Direito? 
3 
 
Estou certo que, neste momento, você já tenha conhecimento que lhe possibilita inferir 
se esse pensamento é falso ou verdadeiro e tenho certeza que a final desse módulo, 
você terá segurança em sua resposta ou, pelo menos, maior confiança no arcabouço 
teórico que lhe permite conjecturar, dialogar com propriedade e propor diferentes 
modos de pensar o tema, que, de alguma forma, tragam mudanças ao paradigma 
vigente. Em uma adaptação livre do cogito de Descartes, “existo e conheço, logo, 
penso sobre o modelo de existência”. Vamos lá, “CSI”, vamos iniciar a nossa trajetória 
do conhecimento. 
Podemos definir psicopatologia como área da ciência que trata, essencialmente, da 
natureza da doença mental e suas formas de manifestação, com a finalidade de 
conhecer suas causas, bem como as mudanças estruturais e funcionais que estão 
associadas a ela. Entretanto, podemos também dizer que a psicopatologia é o 
conjunto de conhecimentos produzidos sobre o adoecimento mental do homem. 
O conhecimento psicopatológico não inclui critérios de valor, isto é, não utiliza juízo 
de valor, assim como, não admite dogmas ou verdades a priori, pelo contrário, esforça-
se em ser um conhecimento sistemático, elucidativo e desmistificante. Isso quer dizer 
que o atendimento ao paciente em sofrimento psíquico, mesmo que seja aquele que 
supostamente comentou um crime ou alguma infração legal, deve ser realizado com 
atenção integral, sem o uso do senso moral, que é o conhecimento que antecede o 
comportamento, mas com a adoção da consciência moral e ética por parte do 
profissional. 
O campo de estudo e atuação da psicopatologia compreende um vasto número de 
fenômenos humanos especiais, que estão associados à historicidade da doença 
mental. Trata-se de estados mentais, vivências e padrões de comportamento, com 
especificidades psicológicas, que são próprias da doença mental e complexas 
conexões com a normalidade, pois a doente mental também experimenta vivências 
semelhantes às vivências daqueles ditos normais. 
Embora as raízes da psicopatologia estejam em grande parte nas ciências de 
tradições médicas, como, por exemplo a neurologia, ela também absorveu 
conhecimentos de tradição humanista, advindos da Filosofia, da Literatura, das Artes 
e da Psicanálise. Contudo, ela não é e não deve ser encarada como um 
4 
 
prolongamento da Neurologia ou da Psicologia, mas, sim, como uma ciência 
autônoma. 
Enquanto conhecimento, a psicopatologia é uma ciência básica, que apoia a 
psicologia e a psiquiatria e quando há esse auxílio, torna-se um conhecimento 
aplicado a uma pratica social e profissional concreta. Contudo, mesmo que a 
psicopatologia considere o homem em sua totalidade, sendo esse o seu objeto de 
estudo, o homem e sua patologia, há de se admitir que os conceitos psicopatológicos 
não dão conta de compreender e explicar tudo o que compõe o homem. 
Você percebeu a complexidade que é definir o homem em sua totalidade como objeto 
de estudo e paradoxalmente ter ciência que não se pode apreender a totalidade desse 
objeto por meio dos conceitos produzidos pela ciência que o toma? Por exemplo, ao 
se realizarmos uma análise psicopatológica da biografia de Salvador Dalí, podemos 
diagnosticá-lo como esquizofrênico, maníaco ou qualquer outro diagnóstico possível, 
mas isso não dará conta de explicar a vida e a obra do artista em sua totalidade, pois 
na complexidade do homem, esse sujeito multideterminado, sempre restará algo que 
transcende à ciência e sendo a psicopatologia uma ciência, haverá sempre algo a 
explicar, que permanecerá no domínio do mistério. 
É necessário que essa compreensão fique bem clara, para que não venhamos a 
acreditar que essa ou qualquer outra ciência dará conta de apreender o fenômeno em 
sua totalidade. Nesse sentido, os sintomas psicopatológicos são estudados em dois 
aspectos básicos: 
A forma (dos sintomas) – refere-se à estrutura básica dos sintomas, isto é, aquilo 
que é semelhante nos diversos pacientes. Por exemplo: Ideias obsessivas, 
pensamentos compulsivos, labilidade afetiva, delírio, alucinação, etc. 
O conteúdo (dos sintomas) – é relativo ao que preenche a estrutura da alteração. O 
conteúdo de um sintoma costuma ser algo mais pessoal, que diz respeito à história 
de vida, ao universo cultural e de personalidade do doente, antes do seu adoecimento, 
como por exemplo um conteúdo religioso, de perseguição ou de culpa. 
De acordo com Dalgalarrondo (2008, p. 29), de maneira geral: 
Os conteúdos dos sintomas são relacionados aos temas centrais da 
existência humana, tais como sobrevivência e segurança, 
sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), 
5 
 
religiosidade, entre outros”. Tais temas representam “uma espécie de 
substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da 
experiência psicopatológica. 
No estudo da doença mental, deve-se observar com cuidado e rigor as suas 
manifestações. Essa observação deve ser dialeticamente articulada com a ordenação 
dos fenômenos, o que implica dizer que para se observar, também será necessário 
produzir, definir, classificar, interpretar e ordenar logicamente cada fenômeno 
observado. 
Dalgalarrondo (2008) destaca que para a psicopatologia, classicamente, distinguem-
se 3 (três) tipos de fenômenos humanos. São eles: 
Aqueles que são semelhantes a todas as pessoas. Sentir fome, sono, sede, medo de 
algo perigoso, ansiedade diante de uma situação difícil e desejo sexual são exemplos 
de experiências que são basicamente partilhadas por todos os humanos. 
Fenômenos em parte semelhantes e em parte distintos – são aqueles que, embora 
sejam partilhadospelo homem comum, são partilhados apenas em parte com o 
doente. Exemplo: É comum ao homem sentir tristeza, mas a tristeza experienciada 
pelo depressivo possui um grau diferente do que a maioria das pessoas vivenciam. 
Fenômenos diferentes, qualitativamente novos – são aqueles praticamente 
exclusivos a certas patologias ou estados mentais. Exemplo: Fenômenos psicóticos 
como turvação da consciência, delírio, alucinação, alteração cognitiva em decorrência 
de doenças degenerativas ou demências. 
Você reparou que, inevitavelmente, a psicopatologia trabalha com o conceito de 
normalidade? Sim, para se definir o que é patológico, doente, é necessário adotar um 
critério de normalidade, o que implica definir o que é doença e o que é saúde mental. 
Para nós, interessa-nos saber que a definição aplicada pela psiquiatria e psicologia 
legal ou jurídica, pode ter importantes determinações legais, criminais e éticas, pois 
se pode definir o destino legal, social e institucional de uma pessoa, como ocorre nos 
casos em que se realiza perícias psicopatológicas para determinar de um sujeito é 
imputável ou inimputável em decorrência de uma possível doença mental. 
É possível de adotar mais de um critério de normalidade e, por conseguinte, de 
anormalidade. Essa opção, entre outras coisas, depende das opções ideológicas, 
6 
 
filosóficas e pragmáticas do profissional. São 9 (nove) os principais critérios de 
normalidade utilizados em psicopatologia: 
1. Normalidade por ausência de doença – refere-se à ausência de sintomas. 
Se não há sintomas, não há doença. 
2. Normalidade ideal – estabelecimento social arbitrário, supostamente sadio, 
evoluído. Temos, por exemplo, a Eugenia, que acreditava que a raça ariana era 
o ideal de saúde. 
3. Normalidade estatística – refere-se àquilo que se observa com mais 
frequência na população, analisando-se dados estatísticos, como peso, altura, 
quantidade de sintomas ansiosos, hora de sono, tensão arterial. 
4. Normalidade biopsicossocial – por determinação da Organização Mundial de 
Saúde – OMS, a saúde deve ser definida não apenas como a ausência de 
doença, mas como o completo bem-estar físico, mental e social. Esse conceito 
enfrenta críticas por se impreciso e difícil de ser definido objetivamente. 
5. Normalidade funcional – para ser considerado patológico o fenômeno deve 
produzir sofrimento, ou seja, deve ser disfuncional para om próprio indivíduo ou 
para o grupo. 
6. Normalidade como processo – é o mais utilizado em psicologia e psiquiatria 
infantil, de adolescentes e geriátrica, pois se considera os aspectos dinâmicos 
do desenvolvimento, psicossocial, das estruturas e reestruturações que 
ocorrem ao longo do tempo, das crises e dos conflitos, bem como das 
mudanças próprias de cada período etário. 
7. Normalidade subjetiva – a ênfase é dada à percepção do próprio sujeito, 
acerca de seu estado de saúde, portanto, à subjetividade desse estado. O 
problema é que muitas pessoas podem se dizer e até se sentir saudáveis, 
quando, na verdade, estão doentes, como é o caso de um paciente com 
transtorno mental grave ou em mania. 
8. Normalidade como liberdade – alguns autores de orientação existencial e 
fenomenológica, a doença mental é conceituada como perda de liberdade. 
Dessa forma, deseja-se que o paciente possa relativizar as limitações e o 
7 
 
sofrimento, próprios do ser humano e, assim, desfrutar do que lhe resta da 
liberdade e do prazer que a existência lhe oferece. 
9. Normalidade operacional – define-se a priori o que é normal e o que é 
patológico. Busca-se trabalhar operacionalmente a partir do que está 
estabelecido nos manuais (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais - DSM – IV / V e Classificação Estatística Internacional de Doenças e 
Problemas Relacionados à Saúde - CID – 10). 
A variedade dos critérios de normalidade e de doença em psicopatologia ocorrem não 
somente em função das especificidades dos fenômenos com os quais se trabalha ou 
de acordo com as posições ideológicas e filosóficas do profissional, mas também, em 
alguns casos, de acordo com o objetivo que se tem em mente, pode-se utilizar a 
associação de critérios de normalidade e de doença. 
 
Inicialmente, precisamos definir transtorno. Esse pode ser compreendido como um 
comportamento da criança, do adolescente ou do adulto, que provoca deterioração ou 
privação, em decorrência de falha de algum mecanismo interno, levando-se em conta 
as normas sociais. 
O termo transtorno é muito utilizado para se referir ao comportamento desviante da 
criança e do adolescente. No entanto, precisamos ter clareza que a existência de 
oscilações é natural no desenvolvimento infanto-juvenil, o que significa que a criança 
não é, mas está. Essas oscilações podem aproximar características de determinados 
sintomas. 
Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 268): 
O transtorno de personalidade foi ao longo dos séculos, nomeado de 
diversas formas: insanidade moral [...], monomania moral, transtorno 
ou neurose de caráter, etc. Entretanto, o termo que mais se 
popularizou entre os profissionais de saúde foi psicopatia. 
O termo foi frequentemente utilizado como sinônimo de sociopatia, isto é, foi 
comumente utilizado para designar personalidade sociopática, da mesma forma que 
também foi utilizado de modo impreciso, ou seja, identificando psicopatia com os 
demais transtornos de personalidade. 
8 
 
Podemos dizer que um sujeito com transtorno de personalidade é aquele que sofre e 
faz com que a sociedade sofra, sem, no entanto, aprender com sua experiência. 
Nesse sentido, é possível afirmar que o transtorno de personalidade é marcado por 
uma desarmonia, que se reflete tanto no plano intrapsíquico, quanto nas relações 
interpessoais. Contudo, embora os transtornas de personalidade produzam 
consequências penosas e desagradáveis ao sujeito, aos familiares e pessoas 
próximas e sociedade, eles costumam permanecer estáveis por toda a vida do sujeito, 
o que implica dizer que são pouco e dificilmente modificáveis por meio de experiências 
da vida. 
Considerando a classificação atual dos transtornos mentais, da OMS, a CID-10, 
apresenta as seguintes características, para definir os transtornos de personalidade: 
• Surgem com frequência na infância e tendem a permanecer estáveis por toda 
a vida do sujeito. 
• Nos vários aspectos da vida do sujeito, manifestam um conjunto de reações 
afetivas e comportamentos claramente desarmônicos. 
• É permanente, isto é, de longa duração e não apenas limitado ao episódio da 
doença mental, o padrão de comportamentos e de respostas afetivas 
desadaptativas. 
• O padrão disfuncional, desadaptativo, de comportamento inclui vários aspectos 
do psiquismo e da vida social do sujeito. 
• O padrão comportamental desadaptativo produz inúmeras dificuldades para o 
indivíduo. 
• As condições não estão diretamente relacionadas a lesão cerebral, embora 
lesões cerebrais possam causar alterações secundárias de personalidade. 
• Gera algum grau de sofrimento; solidão, angústia, sensação de fracasso 
pessoal, dificuldades no relacionamento vividas com amarguras. Todavia, tal 
sofrimento pode não se aparente para o sujeito, que poderá se dar conta dele 
apenas tardiamente. 
• De modo gera, o transtorno de personalidade, seja qual for, contribui 
positivamente para o mau desempenho ocupacional, seja no trabalho, nos 
9 
 
estudos ou qualquer outra área produtiva. Todavia, o desempenho precário não 
é condição obrigatória. 
De acordo com Dalgalarrondo (2008), considerando-se a CID-10 e o DSM-IV, pode-
se agrupar os transtornos de personalidade em 3 (três) grandes subgrupos, a saber: 
A – esquisitos e/ou desconfiados; B – instáveis e/ou manipuladores; C – ansiosos e/ou 
controlados-controladores, conforme quadro a seguir: 
Quadro 1 – Transtornos de personalidade segundo a CID-10 e o DSM -IV 
Agrupamento A Agrupamento B Agrupamento C 
Esquisiticee/ou 
desconfiança 
Impulsividade e/ou 
manipulação 
Ansiedade e/ou controle 
Paranoide 
Desconfiança constante; 
Sensível às decepções e às 
críticas; 
Rancoroso, arrogante; 
Culpa os outros; 
Reivindicativo; 
Sente-se frequentemente 
prejudicado nas relações. 
Borderline 
Relações pessoais muito instáveis; 
Atos autolesivos repetitivos; 
Humor muito instável; 
Impulsivo e explosivo; 
Graves problemas de identidade; 
Sentimentos intensos de vazio e 
aborrecimento crônico. 
Ansiosa 
Dificuldade em descontrair-se; 
Preocupa-se facilmente; 
Teme situações novas; 
Atento a si próprio; 
Muito sensível à rejeição; 
Extremamente inseguro. 
Esquizoide 
Frio (indiferente); 
Distante, sem relações íntimas; 
Esquisito (estranho); 
Vive no seu próprio mundo; 
Solitário (isola-se); 
Não se emociona (imperturbável). 
Sociopática 
Irresponsável, inconsequente 
Frio, insensível; 
Sem compaixão; 
Agressivo, cruel; 
Não sente culpa ou remorsos; 
Não aprende com a experiência; 
Mente de forma recorrente; 
Aproveita-se dos outros. 
Anancástica/obsessiva 
Rígido, metódico, minucioso; 
Não tolera variações ou 
improvisações; 
Perfeccionista e escrupuloso; 
Muito convencional, segue 
rigorosamente as regras; 
Controlador (dos outros e de si); 
Indeciso. 
Esquizotípica 
Ideias e crenças estranhas e de 
autorreferência; 
Desconforto nas relações 
interpessoais 
Pensamento muito vago e 
excessivamente metafórico 
Aparência física excêntrica. 
Histriônica 
Dramatiza, é muito teatral; 
Sugestionável e superficial; 
Necessita de atenção; 
Manipulador; 
Infantil e pueril; 
Erotiza situações não comumente 
erotizáveis. 
Dependente 
Depende extremamente de outros; 
Necessita muito agradar; 
Desamparado quando sozinho; 
Sem iniciativa e sem energia; 
Sem autonomia pessoal. 
Fonte: Dalgalarrondo (2008, p. 269). 
Quanto ao plano de tratamento dos transtornos de personalidade, geralmente é 
empregada a Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, que adota o modelo cognitivo 
10 
 
dos transtornos de personalidade, proposto por Beck e Freeman, pois esse modelo 
dialoga fácil e amplamente com as neurociências, com a psiquiatria e com o Direito. 
O referido modelo propõe uma compreensão e identificação dos transtornos de 
personalidade por meio de alguns padrões de esquemas mentais: a visão de si; a 
visão dos outros e as crenças centrais. No quadro seguinte, você poderá analisar as 
características dos transtornos de personalidade, segundo esse modelo: 
Quadro 2 – Perfil das características dos transtornos de personalidade 
Transtorno de 
Personalidade 
Cluster Visão de si Visão dos 
outros 
Principais crenças Principal 
estratégia 
Esquizoide A Autossuficient
e; 
Solitário. 
Intrusivos. Os outros não são 
gratificantes; 
Relacionamentos são 
confusos e 
indesejáveis. 
Manter 
distância. 
Antissocial B Solitário; 
Autônomo; 
Forte. 
Vulneráveis; 
Exploráveis. 
Tenho o direito de 
infringir regras; 
Os outros são otários, 
trouxas; 
Os outros são 
exploráveis. 
Atacar, roubar, 
enganar, 
manipular. 
Narcisista B Especial, 
único; 
Merecedor de 
regras 
especiais; 
Superior; 
Acima das 
regras. 
Inferiores; 
Plateia. 
Visto que sou 
especial, mereço 
regras especiais; 
Estou acima das 
regras; 
Eu sou melhor que os 
outros. 
Usar os outros; 
Transcender as 
regras; 
Manipular; 
Competir. 
Histriônico B Glamoroso; 
Impressionant
e. 
Seduzíveis; 
Receptíveis; 
Admiradores. 
As pessoas estão aí 
para me servir ou 
admirar; 
Elas não têm o direito 
de negar meus justos 
direitos; 
Eu posso seguir os 
meus sentimentos. 
Usar a 
dramaticidade 
e o charme; 
Ter excessos 
temperamentai
s, choro. 
Ter gestos 
suicidas. 
Borderline B Vulnerável; 
Inaceitável; 
Impotente. 
Perigosos; 
Malvados. 
Posso ser 
abandonado ou 
agredido; 
Manipular; 
Seduzir; 
Cometer atos 
suicidas e 
parassuicidas. 
11 
 
Devo ficar vigilante 
para que os outros 
não me maltratem; 
Não consigo reverter 
quadros 
desfavoráveis. 
Esquiva C Vulnerável à 
depreciação, 
rejeição; 
Socialmente 
incapaz; 
Incompetente. 
Críticos; 
Depreciadores; 
Superiores. 
É terrível ser rejeitado; 
Se as pessoas 
conhecerem meu 
verdadeiro eu, me 
rejeitarão; 
Não consigo tolerar 
sentimentos 
desagradáveis. 
Evitar 
situações de 
avaliação; 
Evitar 
sentimentos ou 
pensamentos 
desagradáveis. 
Dependente C Carente; 
Fraco; 
Indefeso; 
Incompetente. 
Idealizados; 
Provedores; 
Apoiadores; 
Competentes. 
Necessito das 
pessoas para 
sobreviver, ser feliz; 
Necessito de um fluxo 
contínuo de apoio e 
encorajamento. 
Cultivar 
relacionamento
s de 
dependência. 
Obsessivo-
compulsivo 
C Responsável; 
Confiável; 
Obstinado; 
Competente. 
Irresponsáveis; 
Negligentes; 
Incompetentes; 
Autoindulgentes. 
Eu sei o que é melhor; 
Os detalhes são 
cruciais; 
As pessoas deveriam 
fazer melhor, tentar 
com mais afinco. 
Aplicar regras; 
Ser 
perfeccionista; 
Avaliar, 
controlar 
“deveres”, 
criticar, punir. 
Fonte: Cordioli et al. (p. 371). 
As estratégias básicas de tratamento serão aplicadas a partir da identificação e 
compreensão dos padrões de esquemas mentais. Contudo, segundo Cordioli et al. 
(2008, p. 370), embora o modelo proposto por Beck e Freeman comprovadamente 
obtenha “alguma diminuição na sintomatologia mais aguda, bem como uma melhor 
adequação do sujeito com transtorno de personalidade ao seu contexto de vida”, os 
estudos, até então produzidos, não demonstram um resultado empiricamente 
validado, quando se trata da modificação dos padrões de personalidade do paciente. 
Esse pensamento corrobora com o proposto nos manuais diagnósticos. Você está 
lembrado que, segundo esses manuais, a personalidade tende a se manter constante 
ao longo de toda a vida? Isso não quer dizer que não se posso propor um tratamento, 
mas que se deve considerar suas limitações. 
12 
 
Não somente os transtornos de personalidade, mas os transtornos mentais como um 
todo, têm início na infância e na adolescência e podem persistir por toda a vida do 
sujeito. Dessa forma, a prevalência de transtornos mentais em crianças e 
adolescentes é significativamente alta. Atualmente, considerando-se a população 
mundial, os transtornos mentais afetam aproximadamente 15% de crianças e 
adolescentes. 
Na investigação etiológica dos transtornos mentais, analisa-se as determinantes 
ambientais, genéticas, etiológicas e comportamentais. Como sabemos, considerando-
se os subgrupos, os transtornos mentais são grandemente responsáveis por gerar 
incapacidade, dependência e sofrimento social. Nesse sentido, a investigação da 
prevalência e identificação da evolução e dos fatores etiológicos, auxiliam no 
tratamento precoce, que apresenta significativo potencial para a redução dos custos 
sociais referentes a esse tipo de transtorno. 
De acordo com a APA (1994), pode-se conceituar um transtorno mental como uma 
síndrome, padrão comportamental ou psicológico, com importância clínica, que ocorre 
em um sujeito e se mostra associado ao sofrimento ou incapacitação, bem como, com 
um risco significativamente aumentado de sofrimento atual, morte, dor, deficiência ou 
perda significativa da liberdade. 
A prevalência é a medida de frequência de doenças mais utilizada na investigação 
dos transtornos mentais em crianças e adolescentes. Quando analisamos a 
frequência dos casos de uma determinada doença, em uma determinada população 
e em um dado momento, estamos, na verdade, investigando a prevalência dessa 
doença. A prevalência geral expressa a quantidade de sujeitos que já apresentaram 
a doença investigada em qualquer momento da vida, desde o nascimento até o 
momento do estudo. Entretanto, devido aos casos episódicos de muitos transtornos 
psiquiátricos, a medida de prevalência no período é mais utilizada, isto é, a frequência 
de uma doençaao longo de um período determinado de tempo. 
Calcula-se a prevalência dos transtornos mentais na população por meio inquéritos e 
levantamentos populacionais, que são estudos epidemiológicos, baseados em um 
13 
 
expressivo número de entrevistas domiciliares. Por sua vez, a avaliação diagnóstica 
dos transtornos mentais em crianças e adolescentes deve utilizar critérios 
padronizados e aceitos mundialmente, como os critérios estabelecidos na CID-10 e 
no DSM-IV. 
 
Quando se trata dos cuidados públicos e/ou privados das crianças e dos 
adolescentes, pode-se considerar que a legislação brasileira, por meio do Estatuto da 
Criança e do Adolescente – ECA (1990) e do Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo – SINASE (2004), mudou o paradigma jurídico do modo de interpretar 
as diretrizes básicas contidas no artigo 227 da Constituição da República Federativa 
de Brasil de 1988, apresentando, entre outras novidades, a redefinição do sujeito de 
cuidados, do conflito com a lei na juventude e do atendimento correspondente. 
Por conta disso, instituições públicas brasileiras responsáveis pelo acolhimento de 
adolescentes em conflito com a lei e que cumprem medidas judiciais, têm enfrentando 
problemas na implantação dos “novos” dispositivos legais, por uma série de fatores, 
tais como, a morosidade, o sucateamento do aparelhamento público, a dificuldade de 
transpor o que está prescrito para uma prática equivalente, etc. 
Contendo, há no Brasil, exemplos positivos de tentativas de implementar o paradigma 
legal atual. Nesse sentido, a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor – FEBEM, 
de São Paulo, em 2006, mudou seu nome para Fundação Centro de Atendimento 
Socioeducativo ao Adolescente – Fundação CASA. Essa mudança de linguagem é 
essencialmente importante, pois revela uma nova forma de olhar os sujeitos que se 
encontram sob o cuidado público. Pode verificar essa mudança conceitual também na 
linguagem jurídica. Por exemplo, o termo “menor” infrator, antes utilizado 
juridicamente para designar a incapacidade legal, foi atualmente substituído pelo 
termo “adolescente”, que melhor representa a uma fase decisiva do processo de 
desenvolvimento humano, que inclui amadurecimento e crescimento biopsicossocial. 
As mudanças verificadas evidenciam a reformulação da natureza do cuidado desses 
jovens. A ética da tutela foi paulatinamente substituída pela ética da escuta e do 
cuidado integral, trata-se, portanto, de um atendimento, semelhante ao que ocorre nas 
14 
 
práticas terapêuticas, de onde se originou o termo, e não apenas de medidas 
assistencialistas. 
Mudou-se também os objetivos e procedimentos, na medida em que a ideia jurídico-
política de provisão de bem-estar foi abandonada e substituída pela ação 
socioeducativa, que visa uma readaptação desses adolescentes à sociedade. O 
espaço físico também foi ressignificado, ao se chamar as instalações de casa, busca-
se redefinir o ambiente social, no qual se prioriza o oferecimento de um atendimento 
mais qualificado, considerando-se as possibilidades. 
 
Por se considerar a fase do desenvolvimento da criança e do adolescente e as 
possíveis oscilações comportamentais, mesmo que características de transtornos de 
personalidade, como psicopatia e sociopatia sejam preliminarmente consideradas, 
não se pode atribuir esse tipo de diagnóstico ou “rótulo” a uma criança ou adolescente, 
antes, se fala em transtorno de conduta ou delinquência infanto-juvenil, esse último, 
se adotarmos a compreensão de Winnicott, que considerou uma relação entre 
privação e delinquência. 
A CID-10 enquadra o transtorno de conduta no código F91 - Distúrbios de conduta, 
no qual determina que os transtornos de conduta são caracterizados por padrões 
persistentes de conduta dissocial, agressiva ou desafiante. Tal comportamento deve 
comportar grandes violações das expectativas sociais próprias à idade da criança; 
deve haver mais do que as travessuras infantis ou a rebeldia do adolescente e se trata 
de um padrão duradouro de comportamento (seis meses ou mais). Quando as 
características de um transtorno de conduta são sintomáticas de uma outra afecção 
psiquiátrica, é este último diagnóstico o que deve ser codificado. 
O diagnóstico se baseia na presença de condutas do seguinte tipo: manifestações 
excessivas de agressividade e de tirania; crueldade com relação a outras pessoas ou 
a animais; destruição dos bens de outrem; condutas incendiárias; roubos; mentiras 
repetidas; cabular aulas e fugir de casa; crises de birra e de desobediência 
anormalmente frequentes e graves. A presença de manifestações nítidas de um dos 
grupos de conduta precedentes é suficiente para o diagnóstico, mas atos dissociais 
isolados não o são. 
15 
 
Quanto ao DSM-V, os critérios para diagnóstico e a especificação dos sintomas são 
mais elaborados, elencando uma série de itens que necessariamente devem ser 
avaliados no momento do diagnóstico. 
O referido manual inclui o Transtorno de Conduta no grupo dos transtornos 
disruptivos, do controle de impulsos e da conduta, os quais incluem condições que 
envolvem problemas do autocontrole de emoções e de comportamentos. Esses 
problemas se manifestam em comportamentos que violam os direitos dos outros (p. 
ex., agressividade, destruição de propriedade) e/ou colocam o indivíduo em conflito 
significativo com normas sociais ou figuras de autoridade. 
O DSM-V considera como “Transtorno de Conduta” um padrão de comportamento 
repetitivo e persistente no qual são violados direitos básicos de outras pessoas ou 
normas e regras sociais relevantes e apropriadas para a idade, tal como manifestado 
pela presença de ao menos três dos quinze critérios seguintes, nos últimos 12 meses, 
de qualquer uma das categorias adiante, com ao menos um critério presente nos 
últimos seis meses: 
a) Agressão a pessoas e animais: frequentemente provoca, ameaça ou intimida 
os outros; frequentemente inicia brigas físicas; usou alguma arma que pode 
causar danos físicos graves a outros; foi fisicamente cruel com pessoas; foi 
fisicamente cruel com animais; roubou durante o confronto com uma vítima; 
forçou alguém a atividade sexual. 
b) Destruição de propriedade: envolveu-se deliberadamente na provocação de 
incêndios com a intenção de causar danos graves; destruiu deliberadamente 
propriedade de outras pessoas. 
c) Falsidade ou furto: invadiu a casa, o edifício ou o carro de outra pessoa; 
frequentemente mente para obter bens materiais ou favores ou para evitar 
obrigações; furtou itens de valores consideráveis sem confrontar a vítima. 
d) Violações graves de regras: frequentemente fica fora de casa à noite, apesar 
da proibição dos pais, com início antes dos 13 anos de idade; fugiu de casa, 
passando a noite fora, pelo menos duas vezes enquanto morando com os pais 
ou em lar substituto, ou uma vez sem retornar por longo período; com 
frequência falta às aulas, com início antes dos 13 anos de idade. 
16 
 
Você percebeu que há critérios previamente estabelecidos para o diagnóstico de um 
transtorno de conduta? Mas, e quanto ao tratamento, quais modelos se costuma 
utilizar e quais são as características deles? Vamos estudá-los agora!? 
 
Quando se trata de transtorno de conduta, um dos modelos de tratamento 
frequentemente utilizado é o modelo proposto pela Terapia Cognitiva Comportamental 
– TCC. Esse modelo considera que, entre os objetivos de trabalho está a participação 
ativa dos pais assim como da criança ou do adolescente. 
A psicoeducação dos pais visa favorecer o desenvolvimento do modelo moral e da 
monitoria positiva, que se utilize de reforços positivos e consequências lógicas, 
evitando-se a punição, assim como a omissão e distanciamento afetivo. 
O acompanhamento psicoterapêutico da criança ou do adolescente requer avaliações 
constantes, que devem ocorrer ao longo do tratamento. Além disso, está envolvida a 
psicoeducação, o desenvolvimentode habilidades cognitivas para que aprenda a 
discriminar os eventos externos e a relação com seus próprios comportamentos, o 
treino de habilidades sociais para que possa aumentar o repertório de 
comportamentos pró-sociais e diminuir os comportamentos antissociais. 
O automonitoramento está relacionado ao desenvolvimento da autonomia da criança 
ou do adolescente, ou seja, refere-se à capacidade de enfrentamento das situações 
conflitivas, das quais deve resultar comportamentos mais adequados e esperados 
para uma criança ou adolescente. 
Segundo Barletta (2011), os estilos parentais, ou seja, as estratégias usadas pelos 
pais nas vivências com os filhos podem resultar em comportamentos pró-sociais ou 
comportamentos antissociais. Desta forma, entende-se que o melhor plano de 
tratamento para a demanda de crianças ou adolescentes com transtorno de conduta 
e/ou em conflito com a lei deve envolver os pais ou cuidadores. 
O treinamento com os pais se justifica pelo fato de a falta de supervisão dos pais, a 
monitoria inconsistente ou negativa e a personalidade antissocial dos cuidadores 
estarem relacionadas ao transtorno de conduta. Além disso, a literatura aponta a 
presença paterna como um importante preditor de tais comportamentos. 
17 
 
O treino de habilidades sociais deve ocorrer em conjunto com o treino de habilidades 
cognitivas, para que as crianças ou adolescentes com esse perfil possam desenvolver 
estratégias que lhe permitam lidar satisfatoriamente com situações conflitivas. 
Além do modelo cognitivo comportamental, há também o método psicodinâmico, no 
qual se destaca o modelo de atendimento aos adolescentes em conflito com a lei, 
proposto pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana, que se baseia nos 
pressupostos teóricos e práticos do na prática do pediatra, psicanalista e agente social 
inglês Donald Woods Winnicott (1986-1971). 
De acordo com Dias e Loparic (2008, p. 49), o: 
MODELO WINNICOTT de atendimento aos adolescentes em conflito 
com a lei começou a ser elaborado em 2008, no quadro das atividades 
do Núcleo de Prevenção e de Atendimento da Tendência Antissocial 
da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW). 
A aplicação desse modelo tem por objetivo geral o mesmo definido pelo SINASE, isto 
é, possibilitar a esses adolescentes que cometeram infrações, a oportunidade de 
reconstruírem o seu projeto de vida, por meio do desenvolvimento de uma experiência 
autêntica. 
À luz da teoria winnicotiana, interpreta-se projeto de vida, como o estabelecimento de 
um projeto de “vir a ser”, que envolve componentes mentais e conscientes, mas que 
não é meramente uma operação mental e consciente. Para a reconstrução, deve-se 
retomar, em primeiro lugar, o processo de amadurecimento e considerar a 
autenticidade da experiência vivida por esses jovens, no seu processo de 
desenvolvimento. 
Atualmente, a Psicologia é considerada indispensável para as muitas soluções 
buscadas pelos juristas e, por conta disso, tem se tornado presente e essencialmente 
importante em várias áreas do Direito, entre elas temos o Direito Civil, o Direito de 
Família, o Direito Penal ou Criminal e o Direito Trabalhista. 
O papel do psicólogo nessas áreas não é apenas aquele esperado, que se refere a 
atuação de perito na Criminologia, na vara de família e da infância ou perito do 
trabalho em casos de doenças ocupacionais de ordem psicológica ou, ainda, em 
situações que envolve assédio moral e sexual no ambiente ocupacional. Nessas 
18 
 
mesmas áreas, o psicólogo também apoia o judiciário, na prestação de serviços 
profissionais de qualidade às vítimas e aos seus familiares, que passaram por traumas 
em decorrência de crimes contra elas cometidos. 
Contudo, antes de concentrarmos a nossa atenção na aplicação da Psicologia no 
âmbito do Direito, cabe diferenciá-la enquanto ciência básica da ciência aplicada. 
Você deve estar se perguntando: Como assim ciência básica e ciência aplicada? Bom, 
você está lembrado que a Psicologia é uma ciência, certo? Pois bem, a ciência se 
divide entre ciência básica e ciência aplicada. 
Estamos fazendo ciência básica ou ciência pura quando realizamos uma pesquisa 
sem interesses imediatos com essa pesquisa. A motriz da nossa pesquisa é a busca 
da verdade e o desejo de avançar as fronteiras do conhecimento humano. Já a ciência 
aplicada ocorre quando empregamos um conhecimento científico na solução de um 
problema de ordem prática ou para um fim utilitário determinado. Assim sendo, 
podemos dizer que para haja ciência aplicada é necessário que se produza ciência 
básica. 
Nesse sentido, abordaremos aqui a Psicologia Aplicada ao campo do Direito, ou seja, 
conheceremos um pouco mais das possibilidades da aplicação dos saberes 
produzidos pela ciência psicológica. 
No Brasil, costuma-se confundir Psicologia Jurídica com Psicologia Judicial, Forense 
ou legal. A Psicologia Jurídica aborda os fundamentos psicológicos da justiça e do 
Direito. Esse termo é comumente utilizado no âmbito do Direito, enquanto que os 
psicólogos frequentemente utilizam a expressão Psicologia Judicial, que se refere ao 
estudo e à aplicação dos processos psicológicos à prática do jurista. 
Sabendo disso, voltando-nos à Psicologia Aplicada, é possível que faça mais sentido 
para você, nos concentrarmos na Psicologia Jurídica. Encontramos na literatura duas 
possibilidades de contribuição da Psicologia ao universo jurídico. A primeira diz 
respeito ao assessoramento legislativo, por meio do qual a Psicologia Jurídica pode 
cooperar para a elaboração de leis mais adequadas ao meio social. Já a segunda se 
refere ao assessoramento legislativo, no qual a Psicologia Jurídica colabora na 
organização e no sistema de administração da justiça. 
19 
 
Encontramos a Psicologia Jurídica nas seguintes áreas do Direito: Direito Civil, no 
qual também se compreende o Direito da Família e o Direito da Criança e Adolescente, 
cujas práticas das ações são ajuizadas em varas diferenciadas; Direito Penal e Direito 
do Trabalho. Vamos lá “CSI”, vamos investigar a interface existente entre Psicologia 
e Direito, a partir do aporte teórico de Lago, Amato, Teixeira, Rovinski e Bandeira 
(2009): 
1 – Psicólogo jurídico e o direito civil: 
• Psicólogo jurídico e o direito de família – a atuação dos psicólogos 
concentra-se nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e 
regulamentação de visitas. Quando se trata de separação e divórcio, 
normalmente quando envolve litígio, os psicólogos buscam auxiliar na 
resolução dos conflitos, por meio rompimento do o vínculo afetivo-emocional, a 
fim de que os cônjuges encontrem o consenso para a separação por meio de 
uma atitude racional. Havendo filhos, o juiz poderá solicitar uma perícia 
psicológica, com a finalidade de avaliar qual dos genitores tem melhores 
condições de exercer esse direito. Definida a guarda, o juiz deverá 
regulamentar as visitas e mesmo após essa, podem surgir conflitos que 
requeiram a intervenção do judiciário. Diante dessa situação, as contribuições 
do psicólogo jurídico ocorrem por meio de avaliações com a família, buscando-
se elucidar os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente na família 
avaliada, com sugestões das medidas que poderiam ser tomadas para resolver 
ou minimizar os conflitos. 
• Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente – a atuação dos 
psicólogos concentra-se nos processos de adoção e destituição de poder 
familiar, bem como, do desenvolvimento e aplicação de medidas 
socioeducativas dos adolescentes autores de ato infracional. Nos casos de 
adoção, a atuação dos psicólogos ocorre por meio de uma assessoria 
constante, isto é, ocorre antes, durante e após a colocação da criança. Quando 
se trata da destituição do poder familiar, deve-se considerar a seriedade que 
se encontra na decisão de separar uma criança de sua família e nos possíveis 
acontecimentosfuturos na vida da criança por conta dessa decisão. No caso 
de adolescentes autores de atos infracionais, de acordo com o Estatuto da 
20 
 
Criança e do Adolescente, deve-se adotar medidas socioeducativas que 
comportam aspectos de natureza punitiva, que possuam aspectos 
eminentemente educativos, no sentido da proteção integral. Dessa forma, cabe 
aos psicólogos, proporcionar aos adolescentes infratores a possibilidade de 
superar sua condição de exclusão, bem como, oportunizar a formação de 
valores positivos de participação na vida social. 
Ainda com o Direito Civil, o psicólogo opera nos processos em que são requeridas 
indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de interdição 
judicial. Por dano psíquico se compreende os efeitos traumáticos na organização 
psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima. Nesses casos, cabe ao 
psicólogo, avaliar a real presença desse dano, por meio do seu referencial teórico e 
instrumental técnico. Por interdição, conforme previsto no Código Civil, se 
compreende a incapacidade de exercício por si mesmo dos atos da vida civil, seja por 
enfermidade ou deficiência mental, nas quais os sujeitos de direito não tenham o 
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. O psicólogo, nesses 
casos, a partir de uma nomeação do juiz, exerce o papel de perito, que realizar 
avaliação que comprove ou não tal enfermidade mental. 
2 - Psicólogo jurídico e o direito penal – o papel do psicólogo, quando solicitado, 
consiste na atuação de perito, na averiguação de periculosidade, das condições de 
discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. Dessa 
forma, a atuação do psicólogo se encontra junto ao Sistema Penitenciário e aos 
Institutos Psiquiátricos Forenses. 
3 - Psicólogo jurídico e o direito do trabalho – a atuação de perito dos psicólogos 
também pode ocorrer nos processos trabalhistas. Nesses casos, a realização da 
perícia psicológica serve para examinar a conexão entre as condições de trabalho e 
a repercussão na saúde mental do trabalhador. São realizadas vistorias dos possíveis 
danos psicológicos, supostamente motivados por acidentes e/ou doenças 
ocupacionais, bem como, verificações em casos de afastamento e aposentadoria por 
sofrimento psicológico. 
4 – Outros campos de atuação da Psicologia Jurídica, de acordo com Lago et al. 
(2008, p. 489): 
21 
 
• Vitimologia - objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da 
vítima. Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as 
reações das vítimas perante a infração penal. 
• Psicologia do testemunho - os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a 
veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar 
com os operadores da justiça. O chamado fenômeno das falsas memórias tem 
assumido um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. 
• Depoimento sem Dano - objetiva proteger psicologicamente crianças e 
adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam 
graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade. 
Ao analisarmos a performance dos psicólogos jurídicos, verificamos que, 
independentemente da área jurídica, a atuação desses profissionais encontra-se na 
avaliação, elaboração de relatórios e pareceres, assim como, no acolhimento e na 
escuta humanizada, próprios do escopo de atuação profissional da Psicologia. Dessa 
forma, essa ciência psicológica tem se construído e se consolidado como uma grande 
ferramenta de auxílio e suporte às práticas do Direito, em seus mais variados campos 
de atuação. 
Estamos finalizando o nosso módulo e, neste momento, podemos concluir algumas 
reflexões realizadas ao longo do nosso conteúdo. 
Estudamos a psicopatologia, cujas raízes se encontram nas ciências de tradições 
médicas, e que absorveu conhecimentos de tradição humanista, advindos da 
Filosofia, da Literatura, das Artes e da Psicanálise, mas, no entanto, se definiu como 
uma área independente, isto é, distinta da neurologia e da psicologia. 
Conhecemos o conceito psicopatológico e sua relação com os critérios de 
normalidade, bem como os principais transtornos de personalidade e suas 
características. 
Aprendemos sobre a Psicologia Criminal e sua relação com os transtornos de conduta 
e delinquência infanto-juvenil, a partir da investigação dos aspectos legais, da 
22 
 
definição de transtorno de conduta e delinquência, segundo a CID-10 e o DSM-IV e 
os modelos de tratamento psicológico mais utilizados. 
Por fim, mais não menos importante, compreendemos que a Psicologia Jurídica está 
presente na aplicação do Direito Cível, que compreende o Direito da Família e o Direito 
da Criança e Adolescente, didaticamente separados por se considerar que as práticas 
das ações são ajuizadas em varas diferenciadas; Direito Penal e Direito do Trabalho. 
Até a próxima! 
1. Conheça um pouco mais sobre as três principais possibilidades de constituição do 
sujeito na teoria psicanalítica, a partir do vídeo “Psicanálise: Neurose, Perversidade 
e Psicose com Evelyn Disitzer | Philos TV”. No vídeo, a psicanalista Evelyn Disitzer 
discorre sobre as três possibilidades de constituição de um sujeito: neurótico, 
perverso, e psicótico, a partir do conceito psicanalítico de neurose. Você poderá 
assisti-lo acessando o seguinte link: 
<https://www.youtube.com/watch?v=a5PL0O8ZmFQ>. Acesso em: 27 jan. 2018. 
2. Para que possamos refletir sobre o transtorno de conduta e como ele pode se 
manifestar, sugiro o filme “Precisamos Falar Sobre o Kevin”. O filme aborda a difícil 
relação mãe e filho, por parte da mãe nos primeiros anos e por parte do filho nos anos 
seguintes. Você poderá assistir ao trailer desse filme acessando o seguinte link: 
<https://www.youtube.com/watch?v=37Hwj5j6z3Y>. Acesso em: 27 jan. 2018. 
3. Amplie os seus conhecimentos sobre a aplicação da Psicologia Jurídica no Brasil, 
por meio da leitura do artigo “Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus 
campos de atuação”. O artigo apresenta e discute alguns referenciais históricos da 
Psicologia Jurídica no Brasil e apresentar as contribuições da Psicologia Jurídica ao 
campo do Direito. Você poderá lê-lo acessando o seguinte link: 
<http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n4/09.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018. 
 
23 
 
 
Amplie os seus conhecimentos sobre o conceito de 
Psicopatia, as definições, o histórico, a terminologia e 
classificação e a terminologia na literatura psicanalítica, 
disponível na Biblioteca Virtual do UNISAL: 
SHINE, Sidney Kiyoshi. O conceito de psicopatia. In: 
______. Psicopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. 
p. 13-28. 
 
 
Conheça um pouco mais sobre a adolescência e o 
transtorno de conduta, o desenvolvimento da perversidade, 
os dilemas de contato e os ajustamentos defensivos, assim 
como, o caminho terapêutico empregado nesse contexto, a 
partir do estudo do seguinte capítulo disponível na 
Biblioteca Virtual do UNISAL: 
ANTONY, Sheila. O adolescente com transtorno de 
conduta: a carência afetiva por trás da violência. In: 
ZANELLA, Rosana (Org.). A clínica gestáltica com 
adolescentes. São Paulo: Summus, 2013. 
 
American Psychiatric Association. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. 
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2014. 
BANDURA, A.; AZZI, R.G.; POLYDORO, S. A.J. e Cols. Teoria social cognitiva: 
conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
BARLETTA, Janaína Bianca. Avaliação e intervenção psicoterapêutica nos 
transtornos disruptivos: algumas reflexões. Rev. bras. ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 
7, n. 2, dez. 2011. Disponível em: 
24 
 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
56872011000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 jan. 2018. 
CABALLO, V. E.; SIMÓN, M. Á. Manual de psicologia clínica e do adolescente: 
transtornosespecíficos. São Paulo: Santos, 2013. 
CORDIOLI, Aristides Volpato (Org.). Psicoterapias: abordagens atuais. 3. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2008. 
COSTA, A.E.B. Modelação. In: BANDURA, A.; AZZI, R.G.; POLYDORO, S. A. J. e 
Cols. Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos 
mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
DIAS, E. O.; LOPARIC, Z. O Modelo Winnicott de atendimento ao adolescente em 
conflito com a lei. E-prints, série 2, v. 3, n. 1/2, p. 45-58, 2008. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/wep/v3n1e2/v3n1e2a03.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2018. 
LAGO, Vivian de Medeiros et al. Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e 
seus campos de atuação. Estudos de psicologia (Campinas), Campinas, v. 26, n. 
4, p. 483-491, dez. 2009. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2009000400009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 jan. 2018. 
OMS. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde - CID-10. Disponível em: 
<http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em: 27 jan.2018. 
SERAFIM, Antonio de Pádua; SAFFI, Fabiana. Psicologia e práticas forenses. 
Barueri-SP: Manole, 2012. 
_______. Psicologia e práticas forenses. 2. ed. Ver. e ampl. Barueri-SP: Manole, 
2014.

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