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AULAS DE ANTROPOLOGIA CULTURAL1

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Fundamentos das Ciências Sociais: introdução geral 
 Constituição e desenvolvimento das Ciências Sociais 
1. O INDIVIDUO E A SOCIEDADE
Tal qual os seres vivos, que são formados por elementos, as células, as organizações são, também, conjuntos de elementos participantes, quer sejam prisões, clubes recreativos, fabricas, bancos ou associações de condomínios. Tais participações, enquanto indivíduos isolados, são estudadas por uma
ciência, a Psicologia, mas, em Colectividade, por outra, a Sociologia, pois as pessoas agem diferentemente quando associadas, porque os comportamentos de uma pessoa são influenciados pelos das demais. A Sociologia é considerada uma ciência por estar voltada para explicações de fenómenos, ficando ao lado da Psicologia, da Historia, da Economia, da Filosofia, etc., todas chamadas de ciências humanas e sociais por terem como finalidade o melhor conhecimento
do homem. Nesse sentido, as ciências sociais têm um objecto bem definido, que é o entendimento da vida social humana, cujos fenómenos procuram explicar de forma sistemática por meio da pesquisa.
Para tais pesquisas, são utilizados métodos, quer dizer, regras comuns às ciências de investigação e; também técnicas, ou seja,
Para tais pesquisas, são utilizados métodos, quer dizer, regras comuns às ciências de investigação social e, também técnicas, ou seja, formas peculiares de aplicar os métodos gerais a seu campo especifico.
Segundo Aranha e Martins (1986), as ciências humanas começam a surgir a partir do final do século XIX, mais ainda hoje se encontra
dilaceradas na tentativa de estabelecer o método adequado à compreensão dos fenómenos do comportamento humano.
Enquanto todas as outras ciências têm como objecto de estudo algo que se encontra fora do sujeito cognoscente (sujeito que conhece ou busca conhecer), as ciências humanas têm como objecto o próprio ser que conhece. 
Desde modo, é fácil imaginar as dificuldades da economia, da Sociologia, da Psicologia, da Geografia Humana ou da Historia para estudar com objectividade aquilo que diz respeito ao ao próprio homem tão directamente.
DIFERENÇAS ENTRE CIENCIAS SOCIAIS E CIENCIAS NATURAIS
Da Matta (1987) apresenta uma importante consideração a respeito das diferenças entre o modo de construir o conhecimento na área das ciências naturais como a Física, a Química, a Biologia, a Astronomia, a Matemática, etc. e as disciplinas voltadas para o estudo da realidade humana e social, denominadas de
"ciências da sociedade“, "ciências sociais“ ou ainda, as “ciências humanas“.
Ciências Naturais: têm por matéria-prima todo o conjunto de factos que se repetem e têm uma constante e podem ser reproduzidos dentro de condições de controlo razoáveis, num laboratório. A condição de testagem é
aquela que pode ser repetida indefinidamente até que todas as condições e exigências dos observadores estejam preenchidas satisfatoriamente. Assim,
O laboratório assegura de certo modo tal condição de objectividade, um outro elemento critico na definição da ciência e da ciência natural. Assim, um cientista natural pode presenciar os modos de
de reprodução de formigas (já que pode ter um formigueiro no seu laboratorio), pode estudar os efeitos de um dado conjunto de anticorpos em ratos e pode, ainda, analisar o quanto quiser a composição de um dado raio luminoso (DaMatta, 1987, P.18).
Seria possível adoptar este mesmo tipo de procedimento de pesquisa nas ciências sociais?
A matéria-prima das “ciências sociais ”são os eventos com determinações complicadas e
que podem ocorrer em ambientes diferenciados tendo, por causa disso, a possibilidade de “mudar seu significado de acordo com o actor, as relações existentes num dado momento e, ainda, com a sua posição numa cadeia de eventos anteriores e posteriores” (DaMatta, 1987, p.19). Assim, reproduzamos o exemplo do autor:
É possível que um pesquisador reproduza um evento como, por exemplo, uma festa de aniversário?
Mesmo que fosse possível reunir o mesmo grupo de pessoas no local, reproduzir o cenário com decoração e escolha do mesmo dia da semana em que o evento ocorreu, ainda sim não seria o mesmo evento, não seria o mesmo fenómeno social.
A partir deste exemplo, é possível identificar os principais aspectos diferenciadores entre
estes dois campos de estudos.
 1. As situações sociais são complexas e de difícil controle;
2. Os fenómenos nas ciências sociais não podem ser reproduzidos, pois são eventos que ocorrem num determinado tempo e espaço.
Embora os fenómenos sociais não possam ser reproduzidos, podem ser observados pelo pesquisador e, é nessa tarefa de observar os fenómenos que reside a qualidade da pesquisa na área de ciências sociais.
A qualidade em interpretar os fenómenos dentro de enquadramentos conceituais objectiva a construção de uma explicação das razões e motivações do individuo para agir do modo como agiu. 
A Sociedade humana é um conjunto de grupos sociais, compostos de pessoas unidas por laços de interdependência e sociabilidade, cujo comportamento predominante é regulado por uma estrutura social dinâmica, resultante das ações dos vários agrupamentos que a constituem.
Processo de socialização: “Podemos definir socialização como sendo a aquisição das maneiras de agir, pensar e sentir próprias dos grupos, da sociedade ou da civilização em que o indivíduo vive. Esse processo tem início no momento em que se nasce, continua ao longo de toda a sua vida e só acaba quando a pessoa morre” (DIAS, 2004, p.38).
Por que ciências sociais?
A constituição das ciências humanas ou sociais é uma conquista recente, embora a preocupação em estudar o ser humano seja antiga. A cientificidade do ser humano como objeto de estudo é uma ideia que surge apenas no século XIX. Segundo Chaui (1999, p. 271), a expressão ciências humanas (ou sociais) refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano como objeto de estudo. 
Essas ciências estudam áreas da realidade social extremamente diversas. Um cientista social é capaz de refletir sobre qualquer aspecto da sociedade, fazendo-se necessário que cada um se concentre em um determinado fator da vida das sociedades, para fazer dele uma especialidade.
Por exemplo: há sociólogos que se dedicam a estudar as indústrias, a religião, a saúde, a política, a economia, o lazer, o envelhecimento, a juventude; antropólogos, a antropologia social, cultural, urbana, física; politólogos, a política, filosofia política, políticas públicas etc. Assim, tornou-se necessário entender as bases da vida social humana e da organização da sociedade, por meio de um modelo 
 
Do século XV à atualidade, período em que o entendimento da vida social passou do senso comum à filosofia e desta à ciência, uma longa história do pensamento se desenvolveu. Com a formulação das demais áreas do conhecimento científico estabeleceu-se o debate constante
entre os pensadores e as principais teorias explicativas da sociedade, exigindo aprofundamento, experimentação, desenvolvimento metodológico e comprobatório. Criou-se, também, um jargão científico – vocabulário próprio com conceitos que designam aspectos importantes da sociedade. 
Assim, passamos a entender a realidade social na qual vivemos não como obra do acaso e da sorte, mas como resultado de forças que são próprias da vida coletiva que a regula. Entretanto, com o desenvolvimento e avanço do conhecimento na sociedade, tornou-se necessário a divisão das Ciências Sociais para facilitar a sistematização de seus estudos e pesquisas. Essa divisão em grandes áreas do conhecimento corresponde às áreas de Sociologia, Antropologia e Ciência Política.
 Sociologia como objecto de estudo 
Após a Revolução Francesa e Industrial, modificam-se as formas do homem compreender a sociedade, a natureza e a si próprio. Com o advento do sistema capitalista e ascensão da burguesia ao poder, modificam-se as relações sociais, econômicas e políticas. Os pensadores da época, representantes
intelectuais da nova sociedade, buscam através do conhecimento compreender essas modificações.Para organizar a nova sociedade moderna industrial, sentem a necessidade de instituir uma ciência da sociedade, surge a Sociologia.
Racionalismo:
O pensamento que permitisse a observação, o controle e a formulação de explicações plausíveis, que tivessem credibilidade num mundo pautado pelo racionalismo.
A realidade é muito complexa para ser explicada em sua totalidade apenas por um domínio da ciência. Embora cada uma das Ciências Sociais estude um aspecto da realidade social, não existe uma divisão nítida entre elas, pois são complementares entre si. Assim, para aprofundar a compreensão dos fenômenos sociais, é necessária a conjugação de todos os saberes. 
 por que é importante estudarmos a sociedade? 
As ciências sociais são um excelente instrumento para a compreensão das situações com que nos defrontamos na vida cotidiana. Nesse sentido, através de conceitos, teorias e métodos da abordagem sociológica, é possível rompermos com a visão superficial que temos da realidade.
As três áreas das ciências sociais 
Nesta unidade, desenvolveremos o significado das Ciências Sociais e suas três áreas do conhecimento: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. Discutiremos ainda seus respectivos objetivos de estudo e sua importância na tarefa de compreendermos a complexa sociedade em que vivemos. 
Noções introdutórias pressupostos do conhecimento nas ciências humanas sociais 
A sociologia é uma forma de conhecimento científico originada no século XIX. Como qualquer ciência, não é fruto de um mero acaso, mas responde às necessidades dos homens de seu tempo. Portanto, a sociologia também tem as suas causas históricas e sociais. Logo, compreender o contexto no qual ela nasce é fator fundamental para entendermos suas características atuais. 
O surgimento da sociologia está ligado a um processo que envolve fatores históricos e epistemológicos. Mas, do ponto de vista histórico-social, inúmeros fatores impulsionaram as transformações no pensamento.
No entanto, três acontecimentos podem ser destacados como fundamentais para esse processo, pois afetaram diretamente as bases sociais de convivência humana: Revolução Francesa de 1798, a Revolução Industrial de 1950 e Revolução Científica marcada pelo Iluminismo e Renascimento. 
Epistemologia:
conjunto de mecanismos teóricos utilizados pelo pesquisador para analisar as transformações na maneira de pensar e analisar a realidade social.
 o renascimento 
Considerado como um dos mais importantes momentos da história do Ocidente, entendido por muitos estudiosos como a ruptura entre o mundo medieval, com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária, e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. No que pôde ser verificado, mudanças significativas ocorrem na Europa a partir de meados do século XV, lançando as bases do que viria a ser, séculos depois, o mundo contemporâneo. 
A Europa medieval, relativamente estável e fechada, inicia um processo de abertura e expansão comercial e marítima. A identidade das pessoas, até então baseada no clã, no ofício e na propriedade fundiária, encontra outra fonte de referência no racionalismo e no cultivo da individualidade. Uma mentalidade mais laica foi se desenvolvendo mediante um distanciamento gradual do sagrado e das
questões transcendentais para dar lugar a preocupações mais imediatistas e materiais, centradas principalmente no homem.
Tais transformações no pensamento provocaram alterações econômicas que se achavam em curso no Ocidente europeu, provocando modificações na forma de conhecer a natureza e na cultura dos indivíduos.
A INDAGAÇÃO DEIXA DE SER NATURAL para ser RACIONAL: 
O ‘homem comum’ dessa época também deixava, cada vez mais, de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutáveis, submetidos a forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da actividade humana, portanto possíveis de serem conhecidos e transformados. (MARTINS, 2004, p. 22-23). 
O Renascimento representou uma nova postura do homem ocidental diante da natureza e do conhecimento. Juntamente com a perda da hegemonia da igreja como instituição e o consequente aparecimento de novas doutrinas e seitas conclamando seus seguidores a uma leitura interpretativa dos textos sagrados, o homem renascentista redescobre a importância da dúvida e do pensamento especulativo.
 Assim, como destaca Costa (2005), o conhecimento deixa de ser encarado com uma revelação, proveniente do ato de contemplação e da fé, para voltar a ser, como o fora para os gregos e romanos, o resultado de uma bem conduzida atividade do pensamento humano de modo que a ciência voltou-se para realidade concreta do mundo numa ânsia por conhecê-la, descrevê-la, analisá-la, medi-la, por intermédio de instrumentos e de técnicas
É neste ambiente propício de curiosidade, dúvida e valorização humana que o pensamento científico adquire nova importância e, com ele, o interesse pelo conhecimento da vida social. Contudo, embora o Renascimento tenha sido mais forte no campo das artes, ele tinha como intenção geral colocar o homem
(antropocentrismo) no lugar de Deus (teocentrismo). Assim, o Renascimento foi o momento de transição da sociedade medieval para o capitalismo moderno – sistema econômico focado na produção e na troca, na expansão comercial, na circulação crescente de 
mercadorias e de bens materiais. Por conta de tais fatores, novos valores, sentimentos e atitudes passaram a reger a vida e o comportamento social que podem ser sintetizados nos princípios do iluminismo os quais animaram este novo homem europeu.
E sobre a base do individualismo e da laicidade
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(conhecimento livre dos pressupostos religiosos), estimulados no Renascimento e defendidos pelos Iluministas, a curiosidade cientifica se dirige, de forma inusitada, para compreensão da sociedade, que passa a ser vista como uma realidade diferente e própria, sobre a qual interferem os homens como agentes. Da ação consciente e interes
estimulados no Renascimento e defendidos pelos Iluministas, a curiosidade cientifica se dirige, de forma inusitada, para compreensão da sociedade, que passa a ser vista como uma realidade diferente e própria, sobre a qual interferem os homens como agentes. Da ação consciente e interessada sobre a sociedade resultam diversos modelos de organização política (a República, 
modelos de organização política (a República, a Monarquia) que devem ser defendidos e implementados como formas possíveis de intervenção e não como resultado do acaso ou do destino da humanidade. Neste contexto, um importante acontecimento ocorre na França no ano de 1789, como marco histórico, no dia 14 de junho.
como marco histórico, no dia 14 de junho. A prisão da bastilha é tomada pelos insurgentes que animados pelos ideais iluministas modificam radicalmente a estrutura da sociedade francesa influenciando, na sequência dos anos, a Europa
O objetivo da revolução de 1789 não era apenas mudar a estrutura do Estado, mas abolir radicalmente a antiga forma de sociedade, com suas instituições tradicionais, seus costumes e hábitos arraigados, e ao mesmo tempo promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural etc. (MARTINS, 1994, p. 24).
Neste contexto, também na esfera econômica, verifica-se o fortalecimento de um poderoso mercado internacional com o avanço na produção massiva de produtos (início da Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII) e a consolidação do lucro como uma atividade desejável e justa. Estes foram fatores que estimularam a intelectualidade burguesa a avançar para a elaboração de um pensamento próprio.
A burguesia já se sentia suficientemente forte e confiante em seus propósitos para dispensar o absolutismo, regime que havia permitido a consolidação do capitalismo. Fortalecida, propunha agora formas de governo baseadas na legitimidade popular, dentre as quais surgia preponderante a ideia de República. Inspiradas nela, ergueram-se bandeiras conclamando o povo a aderir à defesa da igualdadejurídica, da democracia, ainda que restrita, e da liberdade de manifestação política.
Dentre as principais conquistas advindas da Revolução Francesa destacam-se o voto por sufrágio universal, a constituição dos direitos dos indivíduos e uma maior participação dos cidadãos na esfera de decisões.
As ideias de progresso, racionalismo e cientificismo que animaram os homens iluministas prepararam o caminho para o amplo progresso científico que aflorou no final do século XIX. Este pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza, intervir sobre ela e transformá-la. 
Por associação, a sociedade entendida então, como parte da natureza, poderia também ser conhecida e transformada, submetendo-se ao domínio do conhecimento humano proveniente do método científico. Segundo Sell (2006) os intelectuais da época dispunham de um instrumento radicalmente novo para entender a sociedade e enfrentar os dilemas que o mundo moderno trazia. 
Assim, a ciência da sociedade tinha pela frente três questões essenciais para a compreensão das transformações sociais:
identificar as causas das transformações sociais; 
a apontar as características da sociedade moderna e
 discutir o que fazer diante dos problemas Sociais.
Para tentar responder a esse conjunto de indagações, em 1830, Augusto Comte apresentou, no livro Curso de Filosofia Positiva, a ideia de fundar uma “Física Social” que estaria encarregada de aplicar o método científico para o estudo da sociedade.
o positivismo de Augusto Comte
As características de uma ciência assim compreendida seriam fundamentadas na pesquisa empírica, na formulação de leis universalmente válidas, como a “lei da gravidade universal” de Issac Newton, e na expressão matemática dos fenômenos.
A visão que Comte tinha das ciências correspondia ao modelo da física, considerada, em sua época, a mais desenvolvida delas.
Foi Comte o primeiro a definir precisamente o objeto do pensamento sociológico, ao estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação e, além disso, a definir a especificidade do estudo científico da sociedade, distinguindo-o de outras áreas do conhecimento, instituindo um espaço próprio à ciência da sociedade.
O nome “positivismo” tem sua origem no adjetivo “positivo”, que significa certo, seguro, definitivo. A escola filosófica derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder dominante e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis que seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza e do próprio universo. Com esse conhecimento, pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais, até então, o homem explicava a realidade e sua participação nela. 
Essa filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural.
A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integrantes e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso, o positivismo foi chamado também de “organicismo”.
No contexto político que se insere, o positivismo foi o pensamento que glorificou a sociedade europeia do século XIX, em franca expansão. Seu aspecto conceitual procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação da coesão, da harmonia natural entre os indivíduos; e promover o bem-estar do todo social.
As três áreas do conhecimento nas ciências sociais:
 objeto de estudo e suas preocupações teóricas
Toda ciência possui um objeto de estudo. Objeto de Estudo significa a área ou campo do saber e/ou de estudo a que as ciências se dedicam. No caso das Ciências Sociais, sua área de estudo explica as razões que tornam possível os homens (com seus diferentes sistemas políticos, econômicos, crenças, valores, formas de agir, pensar e sentir) viverem em sociedade.
A concepção do objeto das ciências sociais depende da resposta que se dá à questão sobre o que torna possível a organização social das relações entre os homens em sociedade.
As ciências sociais estão divididas em três grandes áreas do conhecimento: a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política.
Assim, as páginas a seguir destinam-se a descrever sucintamente as características gerais de cada área do conhecimento. É importante mencionar que cada área será mais bem discutida nas disciplinas teóricas nos semestres subsequentes.
SINTESE: constituição e desenvolvimento das sociais
Nas Ciências Sociais, o esquema «Ciência fundamental — Ciências especializadas», com que se depara nas Ciências Exactas e Naturais, não tem ainda aplicação. Nenhuma das Ciências Sociais desempenha actualmente, nem jamais desempenhou, o papel de Ciência fundamental a que as demais se ligariam como outros tantos ramos especializados. 
 As diversas Ciências Sociais (e Humanas) estudam uma só realidade: que é a condição humana considerada sob uma certa luz e tornada objecto de um método específico, de uma unidade sob a diversidade (ou diferenciação) das disciplinas, unidade que exprime a da própria realidade, que «é uma só». 
Essa unidade do objecto real das Ciências Sociais começou a ser reconhecida com base na noção de fenómeno social total.
Era comummente aceite: a de que a cada uma das Ciências Sociais caberia investigar um distinto campo do real, isto é: um conjunto de fenómenos reais perfeitamente separados ou separáveis de quaisquer outros. A Economia ocupar-se-ia da realidade económica (ou dos fenómenos económicos), a Demografia, da realidade demográfica (ou dos fenómenos demográficos) 
a Ciência Política, da realidade política (ou dos fenómenos político>s), e assim por diante. A tal concepção opõe-se agora a de que, no domínio do humano e do social, não existem campos de realidade e fenómenos que dessa forma se distingam uns dos outros, como se fossem compartimentos estanques: o campo da realidade sobre o qual as Ciências Sociais se debruçam ê, de facto, um só (o da realidade humana e social) e todos os fenómenos desse campo são fenómenos sociais totais,
quer dizer: fenómenos que — seja na sua estrutura própria, seja nas suas relações e determinações — têm implicações simultaneamente em vários níveis e em diferentes dimensões do real-social, sendo portanto susceptíveis, pelo menos potencialmente, de interessar a várias, quando não a todas as Ciências Sociais. 
A pluralidade das Ciências Sociais: Princípios lógicos de diferenciação empírica das Ciências Sociais 
Não é, por se ocuparem de diferentes «fenómenos» ou «realidades» que as diversas Ciências Sociais «nomotéticas» se distinguem umas das outras. De facto, todas se ocupam da mesma «realidade»: a «realidade» social. Nem sequer a Linguística se furta a esta regra
que mais facilmente se poderia julgar que tem por objecto de investigação um campo do real-soeial, a linguagem, perfeitamente distinto e isolável de qualquer outro.
Com efeito, a linguagem é apenas um dos muitos sistemas de «signos» através dos quais se efectua a intercomunicação social; processo social básico, condição «sine qua non» da própria existência de sociedades humanas7. Deste modo, a Linguística não será, em rigor, senão um dos ramos especializados da Semiologia (ou Semiótica), Ciência geral dos «signos», cujo objecto real de pesquisa é de facto coextensivo à realidade social total.
Sendo assim, a distinção entre as várias Ciências Sociais só pode provir das próprias Ciências Sociais, e não pode ter outro significado que não seja o de cada uma dessas disciplinas encarar, abordar, analisar de uma forma diferente aquela mesma «realidade». A Economia, a Demografia e a Ciência Política por exemplo, diferem entre si porque encaram, abordam, analisam de maneiras
diferentes os mesmos «fenómenos» sociais, os mesmos grupos, as mesmas sociedades. Por outras palavras: cada uma das Ciências Sociais «nomotéticas» adopta, em relação à «realidade» social,uma óptica de analise diferente.
Quatro níveis da forma como as diversas Cincias Sociais «nomotéticas» se diferenciam umas das outras:
— os fins ou objectivos que comandam a investigação, ou seja: o que interessa aos investigadores analisar, explicar, compreender: — a natureza, condicionada por esses fins, dos problemas de investigação que os investigadores definem como sendo aqueles sobre os quais a sua pesquisa deve incidir; — os critérios utilizados pelos investigadores, a fim de seleccionarem as variáveis relevantes para o estudo desses problemas;
— os critérios utilizados pelos investigadores, a fim de seleccionarem as variáveis relevantes para o estudo desses problemas;
— os métodos e técnicas de pesquisa empírica e de interpretação teórica que os investigadores consideram adequados para trabalhar com as variáveis escolhidas, resolver os problemas de investigação com que se defrontam e atingir os fins ou objectivos visados.
a atribuição de destinos fins ou objectivos à pesquisa científica determinará a definição de distintos problemas de investigação; esta levará, por sua vez, a seleccionar distintas variáveis relevantes para o estudo de tais problemas; e será por fim essa selecção de variáveis relevantes que conduzirá à adopção de distintos métodos e técnicas, ou seja: dos métodos e técnicas de pesquisa que mais adequadamente sirvam para trabalhar sobre (e com) as variáveis seleccionadas, em ordem a resolver os problemas previamente definidos e a atingir assim os fins ou objectivos em última análise visados.
poderíamos dizer que as Ciências Sociais diferem umas das outras, basicamente por o «centro de interesse» da investigação ser, para cada uma delas, diferente do de todas as restantes disciplinas. «É sempre o centro de interesse que distingue de qualquer outra uma Ciência Social
RUPTURA COM O SENSO COMUM
«Ciência». Como diz Jean-Jacques SALOMON, na acepção mais vulgar uma Ciência é «um corpo de conhecimentos e de resultados que, por se basearem nos métodos da experimentação e da verificação, se encontram submetidos a um reconhecimento em teoria universal»
Noutro sentido, porém, «a Ciência é a actividade a que se dedicam os investigadores (...) no quadro dos conhecimentos, métodos, procedimentos e técnicas sancionados pela experimentação e pela verificação».
As teorias e os mètodos de uma qualquer Ciência fazem, constróem, «objectos». Toda Ciência, seja qual for, só está propriamente constituída como tal — isto é: como «corpo de conhecimentos e de resultados» — a partir do momento em que seja possível afirmar que o «sistema de produção» que a produz já construiu o seu próprio «objecto teórico». Esta ideia só será difícil de apreender se não nos
apercebermos de que os «objectos» que nos rodeiam e com os quais deparamos ou de que nos servimos na nossa existência quotidiana, também só existem (enquanto «objectos» que somos capazes de reconhecer e identificar) na medida em que na nossa mente existem formas ou imagens «construídas», que precisamente nos permitem reconnecê-los e identificá-lo.
Uma sala, um anfiteatro, uma mesa, uma cadeira, um caderno de apontamentos têm evidentemente a sua realidade ou materialidade própria, existem fora do nosso espírito como «objectos reais». Mas nós só os reconhecemos e classificamos como sala, anfiteatro, mesa, cadeira ou caderno de apontamentos, se as impressões — ou melhor: as
«mensagens» — que, acerca desses «objectos reais» os nossos sentidos conseguem recolher para em seguida as transmitir ao nosso sistema nervoso central, correspondem adequadamente às propriedades de «formas» ou «imagens» que, na nossa mente, têm o significado de sala, anfiteatro, mesa, cadeira ou caderno de apontamentos.
No seu conjunto, essas inúmeras «formas» ou «imagens», de que somos portadores, constituem um «código de leitura» do real, um código que nos permite, não apreendê-lo na sua realidade ou materialidade própria, mas atribuir a cada um dos «objectos reais» que nele apercebemos, um certo significado, o significado de que para nós se reveste, ou seja: que nós lhe imputamos.
Tudo, na verdade, se passa como se o real que nos envolve e do qual nós mesmos fazemos parte, fosse para nós um texto que não podemos deixar de constantemente ler — e, portanto, de «saber» ler—, sob pena de a nossa vida quotidiana se nos tornar inviável. E nós «sabemos» de facto lê-lo; mas de uma certa maneira. Lêmo-lo através do «código de leitura» que, na nossa mente, interpreta, reelabora e configura sob a forma de
interpreta, reelabora e configura sob a forma de «objectos» reconhecíveis, significantes e dotados de determinadas características, as «mensagens» que, a respeito do real, os nossos sentidos logram captar. Que essa maneira de «ler» o real — a do senso-comum — e esse «código de leitura» nos sirvam, com elevada eficácia, na nossa existência quotidiana, nada nos diz sobre o seu grau de adequação à estrutura e dinâmica do real. 
Durante séculos, a Terra, o Sol e as suas relações foram «lidos» como se, sendo a Terra um «objecto» imóvel, o Sol fosse um «objecto» dotado de movimento e girando à volta dela — e não foi por se ter descoberto ser a Terra que se move sobre o seu próprio eixo e circula ao redor do Sol, que a vida quotidiana se alterou. 
E apesar de, para a ciência Física, os corpos serem «objectos» de que peso não é uma propriedade, o facto de continuarmos a «ler» a realidade que nos circunda como sendo constituída por «objectos» uns mais «pesados» do que outros continua, na prática, a ser-nos extremamente útil.
A Ciência, ou antes: urna Ciência, representa uma outra maneira de «ler» o real, diferente da do senso-comum. 
Implica um, outro «código de leitura»; implica, portanto, a construção de outros «objectos», que não os que nos servem para «ler» o real do dia-a-dia.
A Ciência pressupõe ruptura com as «evidências» do senso-comum (ou da ideologia) — seja a evidência de que o Sol gira ao redor da Terra, seja a de o peso ser uma propriedade intrínseca dos corpos, 
seja a de que «no poupar é que vai o ganho» e de que por conseguinte o espírito de poupança é a «virtude» que melhor assegura a um povo possibilidades de progresso, seja a de que o louco é um indivíduo que «perdeu a razão», seja enfim a de que a perfeita igualização das condições económicas no acesso à instrução garantiria a todos os indivíduos oportunidades iguais para
atingir todo e qualquer grau de educação formal. Mas para romper com tais «evidências» — o que só por si a não estabelece, como é óbvio, no plano da cientificidade—, a Ciência tem de romper simultaneamente com o «código de leitura» do real de que elas decorrem e que o senso-comum (ou a ideologia) lhe propõem. Tem, portanto, de inventar um
novo «código» — o que significa que, recusando e contestando o mundo dos «objectos» do senso-comum (ou da ideologia), tem de construir um novo «universo conceptual», ou seja: todo um corpo de novos «objectos» e de novas relações entre «objectos», todo um sistema de novos conceitos e de relações entre conceitos. . Como diz Manuel CASTELLS, «uma Ciência define-se, antes do mais, pela existência de um objecto teórico próprio, ele mesmo suscitado por uma necessidade social de conhecimento de uma parte do real concreto. O objecto científico de uma determinada disciplina é constituído pelo conjunto conceptual construído com o fim de se dar conta de uma multiplicidade de objectos reais que, por hipótese, essa ciência tem em vista analisar» 
uma necessidade social de conhecimento de uma parte do real concreto. O objecto científico de uma determinada disciplina é constituído pelo conjunto conceptual construído com o fim de se dar conta de uma multiplicidade de objectos reais que, por hipótese, essa ciência tem em vista analisar».
Antropologia cultural no domínio das ciências sociais 
1.Definição, objecto e campos de abordagem: 1.1. Etimologia: do grego “anthropos”quer dizer homem; “logia” vem de logos, referindo-se à razão ou estudo, ciência.
1.2. Definição: o estudo do homem emseu sentido mais profundo e amplo, por outras palavras o estudo do homem e de suas actividades e comportamento.
2. Objecto:
2.1. objecto material: o estudo do homem, tendo em conta que há mais outras ciências que também se ocupam do homem - genética e psicologia, entre outras.
2.2. objecto formal: a antropologia trata do homem e do seu comportamento como um todo. A antropologia leva em conta todos os aspectos da existência humana, biológica e
cultural, passada e presente, combinando esses diversos materiais, numa abordagem integrada do problema da existência humana.
Antropologia é paradoxal. É mais especializada e ao mesmo tempo é mais generalizada.
Especializada: enquanto trata apenas de assuntos relacionados com o homem enquanto cultural e a sua experiencia;
Generalizada, considera uma variedade incrível de aspectos da realidade humana que envolve temas relacionados com diversos campos da ciência, como por exemplo, a biologia, a psicologia, a sociologia, a história, e outros ramos do saber humano.
CAMPOS DE ABORDAGEM
O termo ANTROPOLOGIA indica coisas diferentes conforme os países em questão:
-na Europa continental, indica o estudo físico do homem, o que corresponde à Antropologia Fisica; e para a Antropologia Cultural usa-se ETNOLOGIA, pelo que há a tendência de considerá-los sinónimos;
-na Inglaterra, usa-se ANTROPOLOGIA SOCIAL como sinónimo de Antropologia Cultural; 
-nos EUA, usa-se ANTROPOLOGIA CULTURAL, que se divide em Etnologia e Etnografia.
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Homem
Ser individual
Ser Social
Ser Cultura
	-Ser Individual
HOMEM -Ser Social
-Ser Cultural	Antropologia Física
Antropologia Social
Antropologia Cultural
HOMEM
	SER INDIVIDUAL			SER CULTURAL		SER SOCIAL		
								
	ANTROPOLOGIA FISICA			ANTROPOLOGIA CULTURAL		ANTROPOLOGIA SOCIAL		
								
	Antropometria
Craniometria
Genética
Paleontografia Humana
Antropologia Racial			Etnografia
Etnologia
Linguística
Arqueologia
Pré-História
Folclore
Etno-musicologia		História
Etno-sociologia
Politica
Estética
Moral
Direito
Economia		
								
	Psicologia Humana					Religião
Mitologia
Arte		
								
						Demografia		
MÉTODO E PESQUISA ANTROPOLÓGICA
1. Princípios do método antropológico
O principio holístico (principio integral, global, relacional). Holismo, do grego, total, completo.
A antropologia examina qualquer temática na globalidade humana. Olha para a humanidade como um todo. Por isso é considerada como a ciência coordenadora do ser humano.
99
Enquanto as outras ciências estudam o homem desde o ponto de vista particular, a antropologia olha mais longe da compreensão de um só ponto de vista.
Exemplo, quatro cegos, que sem conhecer o elefante, cada um toca uma parte diferente do animal e tira conclusões também diferentes.
Todos os aspectos têm de ser postos em relação entre si e vistos em uma única orgânica. Exemplo, o arquitecto de uma casa, que tem em conta todos os aspectos da obra.
Em resumo: - todas e cada uma das características do homem interessam à antropologia;
-interessam os elementos comuns e as diferenças do ser humano;
-interessam os seres humanos de todo o tempo e lugar;
-o conteúdo da pesquisa antropológica é o grupo humano e não o individuo;
-coordenar e integrar as diversas visões cientificas do que significa o ser humano.
Sistemas culturais
Sistemas psicológicos 		 Sistemas sociais 	 SER HUMAMO
Sistemas biológicos
Sistemas físicos
B. Principio histórico
a) Sincrónico (todo o que aconteceu num determinado tempo)
b) Diacrónico (todo o que aconteceu sucessivamente, antes e depois).
Com este principio a antropologia visa colectar o máximo das informações sobre os contactos entre os povos.
Os povos caminham, pelo que as culturas têm um ontem e um hoje…
No século passado aplicaram-se à antropologia as teorias da evolução unilinear, pensando que todos os povos em toda a parte passavam através das mesmas etapas.
A história conjuntural hoje é abandonada. E a evolução unilinear se pode demonstrar falsa
simplesmente com os conhecimentos antropológicos actuais. As populações da terra não são simples arquivos de um passado mais ou menos remoto, mas agentes vivos de processos dinâmicos extremamente complexos.
Os funcionalistas acham que é possível estudar uma população sem conhecimento da sua história, dos seus contactos culturais anteriores. Não é possível tal interpretação.
C. principio comparativo
A metodologia antropológica é essencialmente comparativa. Só através da comparação de formas particulares de cultura se torna possível apurar e esclarecer os conceitos fundamentais de uma cultura.
Ao estudar uma sociedade automaticamente faremos uma comparação entre a cultura que estamos a estudar e as outras culturas que já conhecemos, a começar pela nossa própria cultura. 
Estuda-se as semelhanças e as diferenças entre as varias sociedades. É necessário estudar outros aspectos que possam contribuir a um melhor conhecimento da sociedade em questão.
				
	Cultura a estudar	em comparação	a	Traços culturais internos (com o contexto)
Com toda a cultura
			b	
			c	Com culturas limítrofes
			d	Com a cultura do investigador
				
D. Principio interdisciplinar
O método antropológico é necessariamente interdisciplinar, no sentido de que se serve das técnicas de pesquisa elaboradas por outras disciplinas.
Além disso é necessário ter em conta o estado geral actual dos outros ramos do saber, o que
é que as outras ciencias dizem sobre o homem, especialmente as ciencias humanas: Sociologia, Psicologia, biologia, Historia, Filosofia, etc.
Outro aspecto a considerar. Um antropologo sozinho, individualmente, não esta em situaçao de aprofundar todos os aspectos particulares de uma cultura determinada. É
necessário o trabalho coordenado de varios estudiosos.
Técnicas de investigação em Antropologia: etnografia, trabalho de campo, observação participante, a interpretação. 
a) Atitudes basilares:
Manter-se livres (intelectualmente);
Modéstia necessária;
Escolha livre;
Criar confiança ambiental;
Conhecimento mínimo da língua;
“Fazer o ponto” sobre o andamento do trabalho
Documentação
Conhecimento amplo e actualizado da problemática de base;
Literatura especifica: a pesquisa começa nas bibliotecas e nas livrarias, isto significa conhecimento da literatura existente sobre o assunto;
Preparação imediata: preparar os instrumentos úteis (diário de campo; etc),
Observação participante
O antropólogo se integra no grupo, participando das actividades e das manifestações do grupo. O pesquisador procura pôr-se no lugar dos seus pesquisados. Procura entender a população a partir dos valores nativos. Para tal fim precisa de estar em guarda do etnocentrismo. O antropologo
deve-se integrar-se na vida do grupo. E a co-participação consciente e sistemática tanto quanto as circunstancias permitirem, nas actividades comuns de um grupo de pessoas e, se necessário, nos seus interesses, sentimentos e emoções.
Os contactos directos são o propósito deste método.
Exige uma dedicação exclusiva (vive, alimenta-se, usa e passa a amá-los), permanência prolongada, partilha e relacionamento constante. O antropólogo observa com todos os seus sentidos, com todo o seu ser. O longo período que passa no lugar lhe permite sentir a dinâmica da vida social: conhece as festas; ouve as histórias, mitos e lendas, chora e alegra-se com o povo. 
Neste método não há lugar para o dogmatismo.
Outras técnicas
-registo de dados;
-técnicas de observação:
Entrevistas: é um elemento muito importante; exige arte, sensibilidade e clareza de objectivos.
 * Entrevista livre + organizada
 + não organizada
*Entrevista fechada (respostas alternativas e exclusivas)
*Entrevista repetida:
-questionário;
diário de pesquisas;
recolher objectos;
gravações, fotografias, filmes;
a língua: conhecimento mínimo;
o interprete: cuidado e reservas;
o informador/os informadores: cuidados e reservas (nunca um só, pois nesse caso a sua informação com muita probabilidadepoderá ser seguramente falsa, ou então aceite com pontos interrogativos):
História do pensamento antropológico 
Introdução. Os estudos antropológicos foram desenvolvidos por vários povos e em diferentes épocas. Pelo que, a divisão da História da Antropologia é arbitrária. Porém é sempre necessário adoptar um determinada divisão na exposição histórica desta disciplina para facilitar a
sua compreensão e um mínimo de sistematização das suas abordagens e respectivos autores. Assim, podemos dividir a História do pensamento antropológico em três grandes períodos: a Pré-história, o período de Construção e convergência e período de Críticas e Novas Abordagens (cfr. MARTINEZ, 2014:97-104).
.
A Pré-história (da Antiguidade até ao século XVIII)
Este período abrange a todas as reflexões desenvolvidas sobre o homem e o universo, antes da elevação da Antropologia como ciência. Subdivide-se em quatro fases: 
1.1. Antiguidade
1.1. Antiguidade começa com a própria cultura da humanidade e abrange toda a reflexão do homem sobre si e sobre o universo. Em todos os povos houve sempre questionamentos sobre a origem do homem, seu destino e do seu grupo social – é a chamada Antropologia espontânea, segundo Paul Mercier. 
Contribuições para a constituição da antropologia: gravuras, esculturas, pinturas rupestres, utensílios, etc
Contributo greco-romano:
- Filósofos Naturalistas (sec. VII –VI a. C.): Tales de Miletos, Anaximenes, Anaximandro, etc. questionaram a origem de tudo; - Heródoto (425-499, aC.) historiador e geógrafo grego
considerado Pai da história e da Antropologia (num sentido mais largo da palavra). Viajou muito e procurou conhecer os povos, sua origem, actividades e destino; recolheu vários dados históricos e geográficos, etnográficos. 
No seu livro História, faz a primeira descrição do mundo antigo a escala geral. - Platão (427 a.C. a 347 a.C.): com a sua Teoria das Ideias, influenciou o cristianismo, islamismo e judaísmo. Concebe o homem com composto de duas partes (dualismo): alma e corpo.
Aristóteles (384 a.C. 322 a.C): define o homem como ser racional e político, composto único de corpo e alma, matéria e forma, (hilemorfismo);
- Marco Aurélio (Roma, 120-180, dC), imperador e filósofo, viajante observador.
1.2. Idade Média - Formação e reformulação de culturas e de pensamento científico, preparação do Renascimento; - Surgimento de Universidades, junto de catedrais e mosteiros, que fizeram a conservação, tradução e transcrição de textos; 
Autores: S. Agostinho, Avicena, Averrois, Ibn Khaldum (1332 – 1395), filósofo social, astrónomo, político e estudioso da história, fenómenos e leis da evolução.
1.3. Idade Moderna a) Fase do Renascimento - Francis Bacon, filosofo inglês, usou o método dedutivo e o da observação directa (método experimental); - Montaigne (1533-1592), 
publica os seus Ensaios, onde fala do contacto entre povos, lança os termos da etnografia, questiona o etnocentrismo e a apela a contingência das civilizações. - Iluminismo e o antropocentrismo: concentração nos estudos sobre o homem - Estudos do corpo humano, no seu aspecto morfológico, com Leonardo da
Vinci (14521518); das medidas cranianas, com Durer (1514-1564); da anatomia, com Vessalius e a classificação das raças com Lineu
b) O século das Luzes: séc. XVIII - Emmanuel Kant (1724-1804): na sua teoria de conhecimento, defende que o entendimento (ou intelecto) constrói o seu objecto, pelo que os fenómenos giram em torno da razão (homem); 
Multiplicam-se os contactos entre povos através das viagens de exploração, missões científicas para colher informações e fazer observações; - Elaboram-se relatórios de viagens, documentos bases da Antropologia. - Há disposição do material etnográfico para pesquisas; comparação entre povos e sociedades; - Cultiva-se o método experimental e indutivo; - Surgem as ciências auxiliares da Antropologia: a Pré-história e a Arqueologia.
2.Período de construção/laboração e convergência: séc. XIX
Este é o período em que a Antropologia nasce a como ciência cujo objecto de estudo é o homem primitivo, o exótico, o outro (aquele e aquilo que não é europeu). O homem primitivo/selvagem era estudado com o objectivo de conhecê-lo para melhor dominá-lo. Por isso, diz-se que a Antropologia é filha do colonialismo porque surge como instrumento de legitimação da dominação colonial. 
O pensamento antropológico constrói-se em torno de uma unidade: o conceito de evolução e os destaques deste período são:
- Primeira descoberta do homem fóssil, que com outras descobertas acima mencionadas, deu origem a Antropologia Física, com Johann Blumembach. -Contribuição das missões científicas mais organizadas e sistematizadas
com a participação de cientistas, naturalistas, humanistas, geógrafos, com objectivo de colher informações e fazer observações. - O maior repertório documental existente, o avanço das técnicas induziram à especialização em questões de natureza social e cultural culminando com a fundação da Antropologia Cultural e suas disciplinas auxiliares como a pré-história e a arqueologia. 
Construção do pensamento antropológico a volta de uma unidade: o conceito de evolução, a partir de metade deste século. - - Três objectivos comuns nas formulações sobre a sociedade e cultura: origem, idade e mudança. - Surgimento de revistas e associações científicas: a revista americana Currente Antropology, a britânica Man e a francesa L’homme. Autores de destaque (todos evolucionistas): Charles Darwin, com a sua obra A Origem das Espécies; 
Edward Tylor (1832-1917, na sua obra A Cultura Primitiva, estuda a a evolução da religião); Herbert Spencer (1820-1903); Augusto Comte (1798 -1846) ; Lewis Morgan estuda a evolução da família. -Fundação da Antropologia moderna, com Edward Tylor que procura mostrar, a evolução da religião, utilizando o método comparativo.
- Critica ao evolucionismo: total ausência de pesquisa de campo, que enfraquecia seu rigor metodológico e científico.
3. críticas ao evolucionismo e novas abordagens;
É o período mais fecundo da Antropologia, no qual foram criticados os cânones iniciais desta disciplina, propondo-se novas abordagens e paradigmas. Destacam-se os seguintes factos: Grande progresso da Antropologia e suas ciências auxiliares, com Libertação da Antropologia do servilismo colonial; Libertação da Antropologia do servilismo colonial; Libertação da Antropologia do servilismo colonial;
Os povos antes considerados primitivos e objectos de estudo (americanos, asiáticos e africanos) começam a fazer também seus estudos antropológicos; A interdisciplinaridade; Abertura para novos campos e temáticas: crença, parentesco, mitos, sistemas de pensamento, cultura popular, 
o folclore (tradições, crenças populares). Autores de destaque: James Frazer; Alfred Radcliffe-Brown; Emilie Durkheim; Frans Boas.
II. PRÁTICAS ETNOGRÁFICAS NO MOÇAMBIQUE COLONIAL E PÓSCOLONIAL
Nesta segunda parte da unidade, faremos a descrição dos estudos antropológicos em África e Moçambique, em particular, distinguindo dois grandes períodos: o período colonial e pós-colonial.
2.1. A Antropologia na África colonial e pós-colonial Depois do seu nascimento como ciência autónoma no século XIX, em intrínseca relação com o colonialismo, a Antropologia em África conheceu quatro períodos distintos no seu desenvolvimento:
1º - Período de 1920-40, marcado pela profissionalização da antropologia e pelas críticas aos paradigmas evolucionistas e difusionistas de seus primeiros anos; 2º - Período de 1940-60, marcado pelos trabalhos funcionalistas e estrutural funcionalistas; 3º - Período de 1960-90, que se inicia com os processos de independência dos países africanos e marca também o início da
142
chamada descolonização da antropologia (libertação do servilismo colonial) e todos os subsequentes ataques aos seus paradigmas instituídos; 4º - Período: de 1990 até os dias actuais - que, ainda em conexão com o anterior, tem marcado o ressurgimento de uma escola africana de africanistas os quais sustentamcríticas interessantes ao conhecimento antropológico tal como concebido no ocidente – entendendo-se este como as escolas britânica, americana e francesa.
2.2. A Antropologia em Moçambique: desenvolvimento histórico e principais áreas de interesse contemporâneas. A Antropologia em Moçambique conheceu dois grandes períodos, sendo cada uma com características típicas do seu contexto histórico. Trata-se do período colonial e do período pós-colonial. Vejamos a seguir a descrição de cada um deles.
1.1. A Antropologia colonial (1850-1960)
A Antropologia surge no século XIX intrinsecamente ligada ao imperialismo europeu. Segundo CERRA, “Se a sociologia nasceu nas cidades europeias para ajudar a organizar e a domesticar a mudança social, a antropologia nasceu nas colónias para ajudar os colonizados apagar Impostos e a trabalhar nas plantações”(http://oficinadesociologia.blogspot.com/2014/01/antropologia-colonial.html). 
Operários, pobres e colonizados foram marcados com a diatribe (critica excessivamente rigorosa, severa) cultural do atraso, da selvajaria, mas, também, do perigo e, até, da loucura. No caso dos colonizados, a categoria de “negro” estabelece-se muito cedo e recebe a homologação filosófica de Hegel e dos racialistas do século XIX. Povos sem história, povos sem espírito, povos frigorificados no hedonismo, no sexo, na bebida, na dança, na magia. Segundo Hegel: “Os negros (..) tal como hoje os vemos, assim foram sempre. Na imensa energia do arbítrio natural que os
habita, o momento moral carece de poder preciso (...) África (....) Carece, pois, propriamente falando, de história (....) Porque não faz parte do mundo histórico, não mostra movimento nem desenvolvimento.” No período colonial, os portugueses preocupados com a dominação das sociedades nas suas colónias, levam a cabo trabalhos etnográficos que numa primeira fase era efectuada por missionários, amostradores e voluntários afins. 
. Este período de recolha de dados dividiuse em duas fases: a fase da antrópologia missionária e a fase da investigação colonial. a) Fase da antropologia missionária (séc. 1880 - 1930) Como dissemos antes, os principais fazedores da antropologia nesta faze eram missionários, militares e funcionários administrativos. Segundo eles, o africano habitava biologicamente a tribo, base da sociedade africana. 
Por isso um dos primeiros esforços empreendidos consistiu em catalogar os colonizados por tribos, ao mesmo tempo que se inventariavam os seus costumes, as suas formas de parentesco, os seus hábitos alimentares, as suas línguas, etc. Esse trabalho foi levado a cabo com a infinita paciência dos entomólogos (biólogos especialistas no estudo de insectos).
Para o século XIX, constituem referência incontornável os estudos de Henri-Alexandre Junod, missionário de origem suíça que, além da leitura de textos de James Georges Frazer (1890), Edward BurnettTylor (1871) e estudos realizados por outros missionários em África (as informações fornecidas por Dom Gonçalo da Silveira e pelo Padre André Fernandes), possuía igualmente uma experiência científica fornecida pela entomologia.”
Nesta época, apenas se escreveu uma monografia sobre as colónias. JUNOD, Henri (1898): The Life of A South AfricanTribe; Sobre os Thonga de Moçambique, Usos e Costumes dos Bantu, um dos clássicos do africanismo. São dele as seguintes palavras, na sua obra clássica que destinou especialmente a administradores e missionários: “a vida de uma tribo do sul de África é um conjunto de fenómenos biológicos que devem ser descritos objectivamente, pois representam uma fase do desenvolvimento humano.
À primeira vista, esses fenómenos biológicos inspiram por vezes uma certa repulsa. A vida sexual dos Bantos, principalmente, fere o nosso senso moral” (Apud CERRA, (http://oficinadesociologia.blogspot.com/2014/01/antropologia-colonial.html).Junod acreditava que sua tarefa etnográfica era a de documentar uma civilização estagnada. “Era possível que estes indígenas, por causa
de quem tínhamos vindo para a África, aproveitassem com um estudo desse género e viessem mais tarde a ser-nos gratos por saberem o que haviam sido na sua vida primitiva” (JUNOD, 1996:21). A partir de 1935, o regime ditatorial instituiu o estudo das colónias, com o objectivo de elaborar mapas etnológicos. Isto foi bem definido no Primeiro Congresso Nacional de Antropologia Colonial (Porto, 1934). 
Um dos seus autores foi Mendes Correia que utilizou um método antropométrico de campo. Foram enviadas missões para todas as colónias portuguesas, nomeadamente para África. Entre os impulsores destas missões destaca-se Joaquim do Santos Júnior (Pereira, 1988). Esta antropologia representava as tendências mais conservadoras das ideologias
coloniais do regime. A partir de finais de 1950 produz-se uma nova antropologia colonial, protagonizada por Jorge Dias, que se distancia, cada vez mais, do grupo de Mendes Correia. Jorge Dias estudou os chopes do Sul de Moçambique, os Bóeres e Bosquímanes do Sul de Angola, mas o seu trabalho central foi dedicado aos macondes do Norte de Moçambique, escolha influenciada pelo facto 
do seu professor, o alemão Richard Thurnwald, ter estudado, nos anos 30, os macondes de Tanganica (Tanzânia tornou-se independente em 1964). A tensão política era intensa e, em 1964, começa o movimento pela independência de Moçambique.
Marvin Harris também trabalhou em Moçambique com os thongas (1959), mas foi expulso, nesse ano. Em 1960, inicia-se, no planalto maconde, o levantamento de Mueda. Nestas circunstâncias, o trabalho etnográfico tornou-se inviável. a. Fase da investigação colonial (1936 – 1960)
Esta fase divide-se em dois períodos: 1. a Missão Etnográfica e Antropológica de Moçambique ( 1936 e1956/2). 2. Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português (1957/1960).  No primeiro período intitulado Missão Etnográfica e Antropológica de Moçambique o governo colonial em Moçambique desenvolveu pesquisas com
objectivo de conhecer os grupos étnicos habitantes em Moçambique, seus hábitos e costumes, com objectivo de dominação
Segundo esta Missão, devia-se obter o “conhecimento dos grupos étnicos de cada um dos nossos domínios ultramarinos, ou seja, a elaboração das respectivas cartas etnológicas” (Decreto-Lei n.º 26 842, de 28 de Julho de 1936). 
No segundo período, intitulado Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português, o governo colonial, especialmente os “administradores”, já estavam imbuídos de novos discursos sobre a população da colónia, onde já eram concordantes no discurso quanto aos povos das colónias, e criam-se decretos de integração dos indígenas no Estado português. 
As atenções ficam viradas aos estudos de culturas locais. “Não se tratava mais de medir índices cranianos ou avaliar provas de esforço físico (robustez para o trabalho); não se tratava mais de conhecer apenas a disposição social e cultural dos povos de Moçambique, tratava-se sobretudo de salvaguardar os interesses fundamentais do colonialismo português com vista a facilitar a gestão social das populações dominadas” (DIAS, 1998: xxvi).
Foi assim que se criou, em Fevereiro de 1957, a Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português, sob o impulso do Professor Adriano Moreira (1922- ), director do Centro dos Estudos Políticos e Sociais. Contudo, longe de constituir uma realidade, o novo estatuto “impôs um sistema de exclusão e violência, baseado no sistema do indigenato”. 
Nas suas duas fases, a Missão Antropológica de Moçambique desenvolveu suas actividades em território nacional durante um período de vinte e três anos (1936-1959) tendo registado 44 trabalhos publicados, dos quais apenas 14 versam sobre a etnografia. Prosperavam “estudos de antropometria, sobretudo aqueles que diziam respeito ao aproveitamento da força de trabalho e cujos objectivos são facilmente descortináveis” (http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=293029097009
A Antropologia em Moçambique do pós-independência e principais áreas de interesse contemporâneas.A história de que dispomos da Antropologia em Moçambique é recente. A produção do conhecimento não se reveste ainda de um carácter sistemático e está, mesmo no âmbito institucional, fortemente marcada pela iniciativa individual ou pela imposição de instituições que financiam os
estudos neste domínio. Tomando particularmente como exemplo os estudos no contexto da Antropologia, a nossa análise situa-se no período pós-independência onde as referências ideológicas ligadas numa primeira fase à «transição socialista» e mais tarde ao «liberalismo» influenciaram o desenvolvimento das ciências sociais em geral
e da Antropologia em particular. 1) Uma Antropologia Marxista (1975-1992). Como a maioria dos países africanos, Moçambique adoptou o marxismo, depois da independência. Assiste-se, assim no nosso país, a criação de lojas do povo, cooperativas do povo, machambas do povo, o salário era único para todos os funcionários, aldeias comunais. A antropologia marxista passou a ser 
maioritariamente do terceiro mundo e foi adoptada pelo 3º congresso da Frelimo realizado em Maputo em 1977, pelo seu determinismo económico e por ser promotora de igualdade de classes. Ela se centra sobre a análise das formas de exploração (sexual – androcentrismo; laboral – eurocentrismo, etc.); para outros, a diferenciação sexual é cultural e não biológica. 
Ela será empregue como expressão da emancipação de uma classe social oprimida. As independências dos países africanos fomentam a formação de um homem novo, caracterizado pela criação de uma nova identidade cultural onde os valores da sociedade tradicional (a etnia, a tribo e a região) são substituídos pelo nacionalismo. As características da nova situação levam assim a
investigar as raízes económicas da exploração, as soluções políticas e revolucionárias da sua eliminação. Emerge uma visão da luta armada idealizada que se vê como uma experiência que enfrentou e ultrapassou, sem grandes problemas, todos os conflitos. O estudo das diversas formas de opressão far-se-ia através do processo de libertação com o objectivo da eliminação das formas de «opressão do homem 
pelo homem». Há um esforço constante de estudar a luta armada porque só através dela se poderá constituir uma tradição de pesquisa e de luta enraizada nas realidades moçambicanas. Porém, é preciso reconhecer que a partir da independência (e cremos que, mesmo, antes) os quadros políticos e intelectuais do Partido desconfiam da Antropologia.
O facto de a Antropologia ter tido necessidade da visão objectivante e redutora leva-os a pôr em causa esta disciplina assim como este tipo de visão; por vezes, menos por causa das suas teses, do que pelo seu estatuto etnocêntrico. Não vendo no colonialismo mais do que a aculturação ou a mudança social, a Antropologia é acusada de justificar o 
colonialismo, visto que oculta o aspecto político da realidade colonial.
2) A Antropologia contemporânea (1992 ate hoje) : A Reflexão Participativa -
Um novo imperativo conduz-nos a tentar elaborar achegas novas em que as nossas sociedades já não são vistas de um ponto de vista reducionista, mas sim na significação que se dão a si próprias. Assim, o grande contributo da pesquisa antropológica ao estudo do desenvolvimento e analisar o impacto das 
políticas a nível mais aprofundado.
O conceito de relações sociais de género tem estado a ganhar, na prática das reflexões da Sociologia e da Antropologia, estatuto de paradigma, ao informar sobre as relações sociais entre homens e mulheres. Neste sentido, esta postura teórica anuncia uma profunda mudança na delimitação do objecto.
Se, até há pouco, o objecto de estudo era a construção social e subordinada do feminino, hoje, remodelado, é a construção das relações sociais entre homens e mulheres, isto é, as relações de género. A pesquisa sabre a família e as formas de família em Moçambique desenvolvida pelo Centro de Estudos Africanos e pela Faculdade de Letras da UEM fornece-nos 
igualmente uma ilustração deste desafio da reconceptualização. O debate entre os investigadores tem levantado algumas questões relativamente à caraterização clássica do conceito de família e sua «operacionalidade», nomeadamente no que respeita às suas funções. Para uma conceptualização da família é forçoso levar-se em linha de conta, tanto os modos que orientam a sua a sua constituição 
e organização, como as representações simbólicas que lhe dão significado. Alguns aspectos do contexto sócio-institucional do ensino: A criação de um novo espaço institucional para a ensino/investigação em ciências sociais e de Antropologia em particular, processa-se na Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais (UFICS). 
Este tipo de ensino permite que as diversas disciplinas apareçam na sua interdependência que a diversidade de perspectivas enriquece. Dá ao conjunto das referidas ciências uma nova legitimidade e impulsiona a formação de cientistas no referido campo. Esta forma integrada de formação e investigação baseia-se 
na reflexão e na experiência internacional cada vez mais contrária a compartimentações - quer entre disciplinas académicas historicamente constituídas, quer entre ensino, formação de docentes e investigação - que se afiguram cientificamente estéreis, pedagogicamente disfuncionais e onerosas do ponto de vista dos recursos exigidos. 
A família nuclear e ocupada pelas disciplinas académicas da Antropologia Social, da Ciência Politica e da Sociologia. A este núcleo agregam-se, servindo-se dele como suporte, três áreas do saber que têm uma orientação clara para a «saber fazer», ou seja, Administração Pública, Acção Social e Relações Internacionais.
Mas o ensino das disciplinas das ciências sociais, designadamente da Antropologia, não se cinge apenas a UEM. Outras instituições de ensino tal como a Universidade Pedagógica, o Instituto Superior de/Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), o Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU) detém no seu currículo cadeiras de Antropologia.
2.1. Principais campos de interesse contemporâneos
A Antropologia hoje, livre do servilismo colonial, já não estuda apenas o exótico, o primitivo, mas aspectos culturais de todos os povos, com destaque para: 
a cultura popular,
o folclore, (conjunto de tradições e manifestações populares constituído por lendas, mitos, provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração. A  
palavra tem origem no inglês, em que folclore significa sabedoria popular. Foik (povo) e lore (sabedoria ou conhecimento).
a globalização,
a vida urbana,
estudos psicológico,
estudos linguísticos, etc.

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