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Reflexões sobre a ideia de Transtornos Mentais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
CURSO DE PSICOLOGIA 
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1
DISCENTE: ANA JÚLIA SOARES SILVA
Reflexões sobre a ideia de Transtorno Mental
Esse trabalho deixa de ser uma forma de introduzir uma simples definição teórica e passa a ser uma crítica ao grande volume de diagnósticos e autodiagnostico que são cada vez mais comuns. É certo que esse excesso de pessoas classificadas como tendo algum transtorno mental provavelmente está relacionado com a dificuldade de definir esse termo.
A fala de Mario Eduardo Costa no Café Filosófico “O que é transtorno mental? ”, muito mais do que introduzir uma simples definição teórica, é uma crítica ao grande volume de diagnósticos e auto diagnósticos que são cada vez mais comuns, que incentivam a medicalização da vida e banalizam um problema de saúde. Com base nessa explanação, surgem inúmeras ponderações e questionamentos sobre o tema, dentre elas, esse texto registra um raciocínio que percorre a questão da saúde e doença mental.
Sendo assim, essa reflexão vai partir da consideração de que transtornos mentais são como as doenças físicas, porém de ordem psíquica. O intuito, entretanto, não será aproximar os transtornos de uma linguagem biológica. Apenas, em comparação com a ideia que temos de saúde e doença, pensar os limites que certas características ou tipos de mal-estar devem ser ter um tratamento diferenciado, por vezes, medicamentoso.
Pensando no conceito mais recente da Organização Mundial de Saúde, a saúde deixa de ser a simples ausência de doença, passando a ser um estado de pleno bem-estar mental, físico e social. Partindo disso, surgem duas questões: 
1- É possível estar completamente bem mental, física e socialmente?
2- Existe algo além da díade saúde-doença? Pode-se estar com saúde, pode-se estar doente e é possível ainda estar em outro ou outros estados que não esses dois?
Quando se acredita que a primeira questão apontada é verdadeira, tem-se a possibilidade desse conceito de saúde estar sendo mal interpretado, afinal, estar completamente bem parece utópico. Talvez seja difícil, pesado e pareça pretensioso dizer que se estar bem em todos os aspectos da vida, e isso pode ser o suficiente para não se considerar saudável. Com o costume de ou estar saudável ou estar doente, resta a todas essas pessoas sem vida perfeita algum distúrbio, e como os transtornos mentais são mais “difíceis” de diagnosticar, no sentido de não haver exames específicos que provem haver ou não um problema, são eles os adotados.
Por outro lado, fazendo uma ponte com os problemas físicos, é fato de que não se precisa estar doente para sentir algumas coisas, não é necessário um diagnóstico específico para vez ou outra, por diferentes motivos, seja estresse ou uma “topada”, sentir dor de cabeça, dores musculares ou aparecer um inchaço ou hematoma. Sendo assim, por que então deve ser diferente quando falamos de questões mentais, emocionais?
Uma possível resposta é: não deve. Qualquer um pode se sentir triste, apático, sem disposição, irritado sem motivo aparente, com dificuldade de prestar atenção nas tarefas cotidianas, com a memória falha, ansioso, com medo, etc., e isso não significa ter um transtorno mental. As pessoas são diferentes em níveis biológico e ontológico, fazem parte de diferentes culturas, convivem em diferentes contextos, são estimulados por incontáveis elementos o tempo todo, e todas essas são razões mais que plausíveis para essas alterações “problemáticas”.
Ainda assim, isso não significa que os transtornos mentais devem ser abolidos. O ponto aqui é que essas variações de emoções e funções psíquicas podem sim aparecer de forma patológica na vida de algumas pessoas, e nesse caso devem haver recursos para amenizar o sofrimento dessas, entretanto, a simples aparição delas não deve ser considerado anormal. 
Isso também não significa que esse segundo grupo não vivencie sofrimento com essas alterações, mas deve-se diferenciar o sofrimento que faz parte de viver, o sofrimento imposto por desigualdades sociais (lembro aqui do Modelo Social da Deficiência[footnoteRef:1]) e o sofrimento por uma falta (não necessariamente biológica) do organismo, que se configuraria aqui o real transtorno mental, sendo cada um desses tratados de acordo com suas causas e características. [1: Resumidamente, não são características individuais que limitam e determinam a deficiência de um indivíduo “tem”, mas a falta de acessibilidade e inclusão da sociedade em que ele vive.] 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1
 
DISCENTE: ANA JÚLIA SOARES SILVA
 
 
Reflexões sobre a ideia de Transtorno Mental
 
 
Esse trabalho d
eixa de ser uma forma de introduzir uma simples definição teórica 
e passa a ser uma crítica ao grande volume de diagnósticos e autodiagnostico que são 
cada vez mais comuns. 
É certo que esse
 
excesso de pessoas classificadas como tendo 
algum transtorno ment
al provavelmente está relacionado com a dificuldade de definir 
esse termo.
 
A fala de Mario Eduardo Costa no Café Filosófico “O que é transtorno 
mental? ”, 
muito mais do que introduzir uma simples definição teórica, é uma crítica ao grande 
volume de diagnós
ticos e auto diagnósticos que são cada vez mais comuns, que 
incentivam a medicalização da vida e banalizam um problema de saúde. Com base nessa 
explanação, surgem inúmeras ponderações e questionamentos sobre o tema, dentre elas, 
esse texto registra um raci
ocínio que percorre a questão da saúde e doença mental.
 
Sendo assim, essa reflexão vai partir da consideração de que transtornos mentais 
são como as doenças físicas, porém de ordem psíquica. O intuito, entretanto, não será 
aproximar os transtornos de uma l
inguagem biológica. Apenas, em comparação com a 
ideia que temos de saúde e doença, pensar os limites que certas características ou tipos de 
mal
-
estar
 
devem ser ter um tratamento diferenciado, por vezes, medicamentoso.
 
Pensando no conceito mais recente da O
rganização Mundial de Saúde, a saúde 
deixa de ser a simples ausência de doença, passando a ser um estado de pleno bem
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estar 
mental, físico e social. Partindo disso, surgem duas questões: 
 
1
-
 
É possível estar completamente b
em mental, física e socialmente?
 
2
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Exi
ste 
algo além da díade saúde
-
doença? P
ode
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se estar com saúde, pode
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se estar doente e é possível ainda estar em outro ou ou
tros estados que não esses dois?
 
Quando se acredita que a primeira questão apontada é verdadeira, tem
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se a 
possibilidade desse conceit
o de saúde estar se
ndo mal interpretado
, afinal, estar 
completamente bem parece 
utópico. Talvez seja difícil, pesado e pareça pretensioso dizer 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
DISCIPLINA: PSICOPATOLOGIA I SEMESTRE: 2021.1 
DISCENTE: ANA JÚLIA SOARES SILVA 
 
Reflexões sobre a ideia de Transtorno Mental 
 
Esse trabalho deixa de ser uma forma de introduzir uma simples definição teórica 
e passa a ser uma crítica ao grande volume de diagnósticos e autodiagnostico que são 
cada vez mais comuns. É certo que esse excesso de pessoas classificadas como tendo 
algum transtorno mental provavelmente está relacionado com a dificuldade de definir 
esse termo. 
A fala de Mario Eduardo Costa no Café Filosófico “O que é transtorno mental? ”, 
muito mais do que introduzir uma simples definição teórica, é uma crítica ao grande 
volume de diagnósticos e auto diagnósticos que são cada vez mais comuns, que 
incentivam a medicalização da vida e banalizam um problema de saúde. Com base nessa 
explanação, surgem inúmeras ponderações e questionamentos sobre o tema, dentre elas, 
esse texto registra um raciocínio que percorre a questãoda saúde e doença mental. 
Sendo assim, essa reflexão vai partir da consideração de que transtornos mentais 
são como as doenças físicas, porém de ordem psíquica. O intuito, entretanto, não será 
aproximar os transtornos de uma linguagem biológica. Apenas, em comparação com a 
ideia que temos de saúde e doença, pensar os limites que certas características ou tipos de 
mal-estar devem ser ter um tratamento diferenciado, por vezes, medicamentoso. 
Pensando no conceito mais recente da Organização Mundial de Saúde, a saúde 
deixa de ser a simples ausência de doença, passando a ser um estado de pleno bem-estar 
mental, físico e social. Partindo disso, surgem duas questões: 
1- É possível estar completamente bem mental, física e socialmente? 
2- Existe algo além da díade saúde-doença? Pode-se estar com saúde, pode-
se estar doente e é possível ainda estar em outro ou outros estados que não esses dois? 
Quando se acredita que a primeira questão apontada é verdadeira, tem-se a 
possibilidade desse conceito de saúde estar sendo mal interpretado, afinal, estar 
completamente bem parece utópico. Talvez seja difícil, pesado e pareça pretensioso dizer

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