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MED UNIFTC 2022.1 – 6º semestre | Anna Beatriz Fonseca INTRODUÇÃO O ouvido externa, devido a sua peculiar localização, anatomia e fisiologia, está sujeita a uma ampla gama de afecções, que variam desde quadros pouco sintomáticos e autolimitados até infecções agressivas, com alto índice de mortalidade. O pavilhão auricular tem cartilagem contínua com a cartilagem do conduto, tornando a dor contínua nessas duas regiões. OTITE EXTERNA DIFUSA Também chamada de “orelha do nadador”. Inflamação difusa do conduto auditivo externo (CAE) que pode atingir também o pavilhão auricular e a membrana timpânica e que geralmente tem início agudo; Epidemiologia: É muito comum em locais quentes e úmidos (clima tropical e subtropical); Fatores de risco: Orelhas traumatizadas: Cotonóides e/ou introdução de objetos diversos; Lavagens excessivas (banhos de mar/piscinas): Remove a camada de cerúmen, elevando o pH e macerando a pele, levando a acúmulo de restos epiteliais, que associado ao clima tropical, favorecem a proliferação de patógenos e infecção. Agentes causadores: Pseudomonas aeruginosa (bactéria mais comumente associada ao ouvido externo); Outras: Proteus mirabilis, staphilococcus aureus, estreptococos e bacilos Gram-negativos. Quadro Clínico: Sintomatologia: Otalgia e dor à manipulação do pavilhão auricular, perda auditiva condutiva (quando há presença de edema: dificulta a passagem do ar e do som), zumbido e otorréia (densa, só é percebida com cotonete – não escorre); Sinais: Edema de con, hiperemia e secreção espessa com debris epiteliais. Figura 1: Otite externa (OE) difusa. Vê-se característica de pele úmida, descamação (debris epiteliais) e edema, com secreção grumosa e até mesmo eczema em concha. Tratamento: Limpeza adequada – extremamente importante: Nem sempre é indicado na primeira consulta, mas não pode deixar de limpar a região. Em alguns pacientes, a dor é tão grande que não se consegue fazer a limpeza. Analgesia; ATB tópico e corticoide tópico (na forma de gotas ou curativos otológicos); Corticoide oral pode ser usado, mas é melhor indicado em casos de edema importante; ATB oral em casos de edema que ultrapassa limites do CAE; Proteção otológica (não molhar o ouvido). Recomenda-se pingar gotas de óleo no algodão, apertar para retirar o excesso e colocar nos ouvidos durante o banho para não penetrar a água. OTITE EXTERNA LOCALIZADA Também chamada de otite externa circunscrita ou furunculose. É uma infecção do conjunto folículo piloso – glândula sebácea, localizado no ⅓ externo do CAE –, que tem os mesmos fatores desencadeantes da otite média difusa, mas resulta da obstrução da unidade pilossebácea. Agente causador: Germes Gram-positivos, principalmente Staphilococcus aureus - que é o principal causador de furunculose; O principal agente causador da OE localizada é diferente das outras patologias que são as Pseudomonas aeruginosa. Quadro Clínico: Patologias do ouvido externo Otorrinolaringologia MED UNIFTC 2022.1 – 6º semestre | Anna Beatriz Fonseca Sintomatologia: Otalgia e dor à manipulação do pavilhão auricular e perda auditiva condutiva; Sinais: Edema circunscrito de CAE (bem localizado), hiperemia e flutuação local (“olho” do furúnculo). Figura 2: OE localizada. Vê-se um processo bem localizado, formando o ponto de flutuação (amarelado). Tratamento: Limpeza adequada; Analgesia; Calor local (compressas por 15min, 3 a 4x/dia); ATB tópico e corticoide tópico (na forma de curativos otológicos e cremes); ATB oral (de primeira, diferente da OE difusa); Em casos de persistência: Incisão e drenagem. OTITE EXTERNA NECROSANTE Também chamada de otite externa maligna. É uma doença infecciosa que se inicia no conduto auditivo externo e se dissemina para o restante do osso temporal e ossos da base do crânio, tendo caráter progressivo e potencialmente fatal, mas, pelos avanços diagnósticos e terapêuticos, possui menor morbimortalidade atualmente; Fatores de risco: Imunocomprometidos: Em especial idosos e diabéticos (80%), principalmente insulinodependentes; Outras doenças que causam comprometimento imunológico: Desnutrição, neoplasias, quimioterapia, radioterapia, SIDA e deficiências primárias de imunoglobulinas. No perfil de risco, mesmo uma otite externa difusa deve ser cuidadosamente tratada, visto que há risco real de atingir um quadro maligno. Agentes causadores: Pseudomonas aeruginosa (bactéria mais comumente associada ao ouvido externo); Outras: Staphilococcus aureus, staphilococcus epidermidis, proteus mirabilis, aspergillus fumigattus e candida albicans. Patogênese: Inicia-se como uma otite externa normal e o microrganismo se instala na junção ósteocartilaginosa, seguindo para o osso temporal; Pode se propagar também, através das fissuras de Santorini, do forame estilomastoideo ou da sutura tímpanomastoidea, causando osteíte, osteomielite (processos inflamatórios que “comem” o osso) e necrose dos tecidos moles. Se não diagnosticado, pode envolver a base do crânio através de canais vasculares, fossa infratemporal, músculos, mastoide parótida e articulação temporomandibular (ATM). Pode envolver os pares cranianos VII, IX, X, XI e XII, pode envolver o ápice petroso, acometendo V e VI e pode levar à trombose, acometendo III, IV e VI. Quadro clínico: Sintomatologia: Otalgia e otorréia em imunocomprometidos que não melhoram ao tratamento, piora da otalgia, cefaleia e dor em ATM, piora da otorréia (torna-se piosanguinolenta), hipoacusia, hiperemia e edema de pavilhão, raramente febre e sinais de toxemia (em imunocomprometidos); Otoscopia: Edema de CAE, hiperemia; tecido de granulação (pólipo) na junção osteocartilaginosa, secreção fluida e sinais de mastoidite, trombose de seio sigmoide, abscesso cerebral e paralisia dos nervos podem surgir. Figura 3: OE necrosante. Vê-se zona de necrose com secreção fluida e pólipos (tecido de granulação). Diagnóstico: História clínica (uma boa anamnese pode tornar o exame físico complementar); Cultura com antibiograma - geralmente quando o paciente em internamento; Anatomopatológico para diferenciação de carcinoma; Tomografia com contraste para avaliação de acometimento ósseo e extensão; Ressonância magnética para avaliação de acometimento intracraniano e trombose de seios e grandes vasos – para complicação de partes moles; Exames laboratoriais: VHS e PCR; Cintilografia com tecnécio e gálio para avaliação de osteomielite – difícil técnica: MED UNIFTC 2022.1 – 6º semestre | Anna Beatriz Fonseca Tecnécio: Positiva rapidamente, porém demora para normalizar (para diagnóstico): Gálio: Normaliza assim que há resposta ao tratamento (para avaliação do quadro). Primeiro realiza-se o tecnécio para depois o gálio. Tratamento: Em caso inicial, usa-se ATB oral. Já em hospitalização com ATB endovenoso; Limpeza e retirada de tecidos desvitalizados por cauterização química: queima de tecido inflamatório; Curativos (1-2x por semana para cauterizar e fazer o curativo); Cirurgia (a depender do caso e complicação). OTITE EXTERNA FÚNGICA “Otomicose”, que pode ser isolada (menos frequente) ou associada à infecção bacteriana (mais frequente) e é favorecida por umidade e temperatura elevadas. Comum em otite média crônica (OMC), uso de AAS, mastoide aberta (pós-cirúrgico), uso prolongado de gotas, antecedente de micose em outro local, DM e imunodeficiência; Fungos são isolados em 31% dos sadios, como saprófitas; Agentes causadores: Aspergillus: Flavus: Amarelo-esverdeado; Niger: Escuro ou negro; Fumigatus: Cinza esverdeado ou azulado. Candida (albicans e parapsilosis): Branco. Quadro Clínico:Geralmente é pobre, mas os sintomas são mais exuberantes em casos associados à infecção bacteriana: Sintomatologia: Prurido (principal sintoma), plenitude aural e otorréia; Sinais: Presença de fungo, umidade e otorréia e perfuração pode estar presente. Figura 4: OE fúngica e seus causadores. Tratamento: Limpeza adequada; Fungicidas tópicos; Proteção otológica (em forma oral não funciona bem). MIRINGITE BOLHOSA Também chamada de otite externa bolhosa ou hemorrágica. Difere das outras pois é encontrado uma vesícula com conteúdo hemorrágico na membrana timpânica ou no 1/3 do CAE; Etiologia e epidemiologia: É causada por vírus ou pelo Micoplasma pneumoniae, sendo muito frequente no inverno; Quadro clínico: Sintomatologia: Otalgia importante; Otoscopia: Vesícula com conteúdo hemorrágico em MT ou em ⅓ interno do CAE. Tratamento: Analgesia (controle da dor sistêmica) e gotas anestésicas locais. A ruptura das vesículas/bolhas alivia a dor, mas predispõe à infecção. Figura 5: Otite externa hemorrágica. OTITE EXTERNA GRANULOSA Infecção da porção interna do CAE. Pode ser definida como uma desepitelização da membrana timpânica com formação de tecido de granulação sem envolvimento da fenda da orelha média. Podem se formar granulações na pele da membrana timpânica e também do CAE (difusas ou circunscritas) espontaneamente ou secundárias a otite externa e cirurgias prévias; Quadro clínico: Sintomatologia (escassa): Leve otorréia, plenitude aural e hipoacusia: Otoscopia: Tecido de granulação de membrana timpânica ou CAE. Tratamento: Limpeza; Cauterização química; Gotas ou creme com ATB e corticoide. MED UNIFTC 2022.1 – 6º semestre | Anna Beatriz Fonseca Figura 6: Otite externa granulosa. É possível observar apenas tecido de granulação. HERPES ZOSTER Em pessoas que já tiveram catapora, o vírus varicela-zoster é reativado (ex. imunodeficiência ou estrese) o qual fica nos gânglios da raiz dorsal dos nervos da pele, que formam vesículas dolorosas com base inflamada em um dermátomo, respeitando a linha média, mas podem ser disseminadas em pacientes com HIV ou fazendo quimioterapia. Quadro clínico (doloroso e autolimitado): Sintomatologia: Otalgia, cefaleia; Otoscopia: Vesículas em concha e parede superior de CAE, que depois se rompem e viram uma crosta. Figura 7: Herpes Zoster. Síndrome de Ransay-Hunt: Quando acomete o nervo facial podendo levar a paresia ou paralisia. Tratamento: Cuidados locais; Curativos; Analgesia e uso de corticoides; Uso de antivirais. PERICONDRITE E CONDR ITE Consiste na inflamação do pericôndrio e da cartilagem respectivamente. Pode ocorrer após traumas ou infecção de pele (ex.: otite externa - ou seja, tem patógenos em comum com as otites -, celulite e piercings); Quadro clínico: Sintomatologia: Eritema, calor e induração do pavilhão, edema, pontos de flutuação, febre e linfonodomegalia (lóbulo é poupado). Ponto de flutuação indica separação do pericôndrio, reduzindo aporte nutricional e necrose da cartilagem em horas, o que leva à deformidade. Tratamento (os agentes patogênicos são os mesmos da otite externa): ATB oral; Drenagem e desbridamento; Hospitalização em casos de piora. Figura 8: Orelha com e após pericondrite e condrite. DERMATITE IRRITATIVA E ALÉRGICA DE CONTATO Ocorre em pacientes susceptíveis que produzem resposta cutânea local, irritativa ou alérgica após contato com alguns agentes. São causadores de dermatite alérgica o níquel dos brincos, a borracha do fone, corante de shampoos e cosméticos, medicamentos como neomicina. A alérgica de contato geralmente não ocorre no primeiro contato, diferente da irritativa. Dermatite eczematosa infecciosa é uma inflamação cutânea do CAE pelo contato com secreção purulenta da otite média; Tratamento: Controle da otite média; Cuidados com o conduto. Figura 9: Dermatite eczematosa infeciosa. Por onde escorre o liquido purulento vai irritando. DERMATITE SEBORRE ICA Doença inflamatória crônica em CAE e pavilhão, associada a lesões em couro cabeludo, pálpebras e testa. Quadro clínico: Glândulas sebáceas numerosas e ativas, que levam à descamação, exsudação e prurido; Tratamento: Shampoo a base de enxofre e selênio, alternados com corticoides tópicos. MED UNIFTC 2022.1 – 6º semestre | Anna Beatriz Fonseca CERUMEN Figura 10: Presença de Cerúmen no ouvido externo. Torna-se cada vez mais negra quando endurece. CORPO ESTRANHO Figura 11: Presença de algum corpo estranho no ouvido externo, seja inseto, caroços de alimentos, papel, esponja, dentre outros. ESTENOSE DE CONDUTO Pode haver estenose de conduto, em que o conduto começa a se fechar. Figura 12: Estenose de CAE pós otite externa. Exemplos de estenose: Exostose: Protuberâncias ósseas (ou seja, mais de uma) nas paredes do conduto auditivo; (Figura 13: Osteoma: Quando há apenas uma protuberância óssea advindo de uma única parede. MAL FORMAÇÕES Exemplos: Microtia: Desenvolvimento incompleto do pavilhão auricular; Anotia (sem ouvido externo). Figura 14: Respectivamente miocrotia e anotia. NEOPLAS IA MALIGNA Figura 15: Carcinoma de pavilhão. Referências: Aula de Otorrinolaringologia com Bruno Lessa; Tratado de Otorrinolaringologia – 3ª edição.
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