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- -1
LITERATURA BRASILEIRA I
APRESENTAÇÃO
- -2
BEM-VINDO(A) À DISCIPLINA ONLINE: LITERATURA BRASILEIRA |
A disciplina Literatura Brasileira | tem por objetivo apresentar aos alunos os textos literários produzidos em
nosso país, a partir de 1500 até meados do século XIX.
Considerando o contexto histórico colonial, em cujo berço nasceram os nossos primeiros escritos, torna-se
necessário introduzir uma reflexão acerca da especificidade de nossa produção artística.
Em cada aula você terá oportunidade de tomar contato com textos literários acompanhados de trechos de
estudos críticos, privilegiando a análise e relacionando-a ao conteúdo artístico e histórico em que se insere o/a
autor/a e sua obra.
AULA 01:A Periodização Literária e História da Literatura Brasileira
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer os critérios epistemológicos escolhidos para a abordagem da disciplina literatura brasileira;
2. distinguir o critério histórico do critério periodológico do estudo da literatura brasileira;
3. identificar o conceito de geração literária;
4. analisar e comparar literatura a outras modalidades artísticas. 
AULA 02:Textos de Informação e Contribuição Jesuítica
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer o panorama histórico, político e social vigente no século XVI no Brasil e em Portugal;
2. interpretar a Carta, de Pero Vaz de Caminha, a partir do contexto histórico de sua elaboração e sua
importância para a Literatura;
3. verificar os textos de Pero Magalhães de Gandavo;
4. analisar a obra do padre José de Anchieta.
AULA 03:O Barroco e o Brasil do Século XVII
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer as condições propícias que levaram ao aparecimento do Barroco na Europa;
2. identificar as características da estética barroca;
3. verificar o marco da literatura barroca no Brasil e suas especificidades;
4. relacionar os sermões de Padre Antônio Vieira com a estética barroca;
5. analisar a poesia de Gregório de Matos.
AULA 4: O Barroco – Contexto: tensões e expressões.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
- -3
1. Identificar o Neoclassicismo e Arcadismo e as principais características das correntes confluentes no século
XVIII;
2. conhecer na poesia de Cláudio Manuel da Costa: a presença da natureza brasileira;
3. apreciar a obra de Tomás Antônio Gonzaga
AULA 5: A poesia inaugural de Bento Teixeira e a parenética de Padre Antônio Vieira.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer o panorama histórico contemporâneo ao Romantismo no Brasil e na Europa;
2. relacionar as características do Romantismo europeu à realidade da literatura brasileira;
3. verificará a presença do Romantismo na obra romanesca de José de Alencar.
AULA 06:Gregório de Matos: Irreverência e contradição.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Identificar as principais características peculiares de cada uma três gerações românticas;
2. relacionar os temas e técnicas a poetas representativos das gerações;
3. verificará a atualidade dos temas na literatura brasileira.
AULA 07:Neoclassicismo ou Arcadismo: Introdução.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer o contexto que propiciou a reação antirromântica: Identificar os aspectos que fundamentaram o
gosto do final do século XIX;
2. verificar a emergência de uma nova estética;
3. analisar quadros do período realista;
4. relacionar aspectos das artes plásticas às manifestações literárias da época;
5. comparar trechos de romances de Machado de Assis e Aluísio Azevedo.
AULA 08: Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama – A poética da paisagem e da conciliação.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Relacionará seus conhecimentos sobre o Realismo à poesia;
2. verificará as principais características do Parnasianismo ;
3. analisará poemas da tríade parnasiana: Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac
AULA 09:Gonzaga, Santa Rita Durão e Silva Alvarenga: Lirismo e Sátira.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecerá o Simbolismo: suas origens e principais características;
2. identificará as características do Simbolismo na poesia de Cruz e Souza;
3. relacionará a influência de Baudelaire à poesia de Cruz e Sousa;
- -4
4. conhecerá a poesia de Alphonsus de Guimaraens;
5. experimentará a verve poética em linguagem científica de Augusto dos Anjos.
AULA 10: O Romantismo: A invenção / renovação das origens.
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer as principais características da obra de Machado de Assis;
2. identificará a técnica de escrita palimpséstica machadiana;
3. reconhecer a ironia machadiana;
4. analisar diferentes gêneros, mediante trechos escolhidos da obra de Machado de Assis.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
TERRA, Sandra Salviato. Literatura Brasileira I. Rio de Janeiro: SESES, 2016.
FACINA, Adriana. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
GASPARETTI, A.M.(Org.) Literatura brasileira I. São Paulo: Pearson, 2015.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
OGLIARI, I. et.al. Literatura brasileira: do quinhentismo ao romantismo. Curitiba: Intersaberes, 2013.
LIMA, Caroline Costa Nunes et al. Textos fundamentais de poesia em língua portuguesa. Porto Alegre: SER -
SAGAH, 2018.
OLIVEIRA, S. Análise de textos literários: poesia. Curitiba: Intersaberes, 2017.
HANSEN, J.A.; MOREIRA, M. Para que todos entendais: poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra: letrados,
manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII. v.5. Belo Horizonte: Autêntica,
2013.
KAVISKI, E.; FUMANERI, M.L.C. Literatura brasileira: uma perspectiva histórica. Curitiba: Intersaberes, 2014.
AVALIAÇÃO:
A avaliação é continua, integradora, com ênfase nos aspectos colaborativos, incluindo tarefas coletivas, e
contempla o diagnóstico, o processo e os resultados alcançados por intermédio de avaliações diagnósticas,
formativas e somativas, considerando os aspectos da autoavaliação.
A avaliação somativa da aprendizagem e realizada presencialmente pelo aluno e segue a normativa da
Universidade. A(s) prova(s) presencial(is) segue(m) o calendário acadêmico divulgado para o aluno.
Durante o Curso, os alunos realizam atividades propostas, compostas de questões objetivas e discursivas
referentes ao conteúdo estudado, podendo ser elas de autodiagnóstico ou de discussão.
A disciplina é de fundamental importância na medida em que apresenta noções gerais de períodos literários e de
linguagem literária, somados a informações sobre os processos de constituição da literatura como sistema, à
produção de discursos fundadores, à criação de códigos contrastivos diferenciadores em relação à matriz
- -5
colonial e à diversidade de apropriações de estilos de escrever, sempre em confronto com matrizes canônicas.
Para o curso, é determinante a apresentação do conteúdo, pois ao mesmo tempo em que propõe o debate acerca
da formação da literatura brasileira, sinalizando as principais teses sobre o tema, também se ocupa da produção
literária do Brasil colônia à República, discutindo a obra de autores significativos desse período.
Ocupa-se, assim, da produção de poesia e prosa no Brasil do século XVII aos primeiros anos do século XX,
considerando os critérios de relevância dos autores para os períodos estéticos.
Fique Atento(a) e Bom Estudo!
- -1
LITERATURA BRASILEIRA I
PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA E HISTÓRIA 
DA LITERATURA BRASILEIRA
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer os critérios epistemológicos escolhidos para a abordagem
da disciplina Literatura Brasileira; 2. distinguir o critério histórico do critério periodológico do estudo da
Literatura Brasileira; 3. identificar o conceito de geração literária; 4. analisar e comparar literatura a outras
modalidades artísticas.
1
A primeira referência à literatura brasileira registra-se no ensaio “Bosquejo da história da poesia e língua
portuguesa”, como introdução da antologia Parnaso Brasileiro,de Almeida Garret (1799-1854), publicada em
1826. Embora a Independência do Brasil já houvesse sido declarada desde 1822, a Literatura Brasileira ainda
era entendida como um apêndice da literatura da metrópole, Portugal.
A Independência teria sido fator determinante para o surgimento da literatura brasileira? Em que medida os
fatos políticos e econômicos afetam a produção artística de uma nação?
2
A tendência primeira, ao se estudar o conjunto de obras de um determinado país, manifesta-se pela associação
da história da literatura à história dos acontecimentos, como se os fatos fossem determinantes para as
manifestações literárias. Deve-se deixar bastante claro que o estudo da literatura não é um apêndice da história.
“Com ser de natureza estética, o fato literário é histórico, isto é, acontece num tempo e num espaço
determinados. Há nele elementos históricos que o envolvem como uma capa e o articulam com a
civilização –personalidade do autor, língua, raça, meio geográfico e social, momento; e elementos
estéticos, que constituem o seu núcleo, imprimindo-lhe ao mesmo tempo características peculiares,
que o fazem distinto de outro fato da vida (econômico, político, moral, religioso): tipo de narrativa,
enredo, motivos, ponto de vista, personagens, linha melódica, movimento, temática, prosódia, estilo,
ritmo, métrica, etc., diferindo conforme o gênero literário e, ao mesmo tempo, contribuindo para
diferenciá-lo” (COUTINHO, 2004, p. 9).
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 7.ed. São Paulo: Global, 2004. vol. 1. p. 9)
- -3
3
O método adotado para o estudo das obras é fundado em um sistema que não se propõe a abolir os referenciais
cronológicos, mas que considera como indicador de compilação, segundo René Wellek, o como unidadeperíodo 
de análise.
“O período é definido como uma “secção de tempo dominada por um sistema de normas, convenções
e padrões literários, cuja introdução, difusão, diversificação, integração e desaparecimento podem
ser seguidos por nós”
WELEK, René. apud AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. . 8.ed. Coimbra: Almedina,Teoria da Literatura
1979. p.350.
4
Dessa forma, o período literário possui uma natureza que é cronológica, mas orientada pelo predomínio de
valores estéticos específicos em determinada época e, por essa razão, não é adequado que demarquemos datas
balizadoras para seu início ou fim, pois os períodos se interpenetram, algumas vezes dialogam ou se contrapõem.
ATENÇÃO!
Como dissemos, o sistema periodológico é um dos vários métodos possíveis, e não é raro que seja contestado
também.
5
Hans Robert Jauss, em uma conferência apresentada na Universidade de Constança, em 1967, chamava a atenção
para outros aspectos que devem ser considerados quando do estudo da história da Literatura e segundo ele: “A
história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos
literários por parte do leitor que os recebe, do escritor, que se faz novamente produtor, e do crítico, que sobre
eles reflete. A soma – crescente a perder de vista – de ‘fatos’ literários conforme os registram as histórias da
literatura convencionais é um mero resíduo desse processo, nada mais que passado coletado e classificado, por
isso mesmo não constituindo história alguma, mas pseudo-história”
Fonte: JAUSS, Hans Robert. Trad. Sergio Tellaroli.A história da literatura como provocação à teoria literária.
São Paulo: Ática, 1994. p. 25.
- -4
6
Então, onde ficamos? Será o escritor um porta-voz de seu tempo? Representaria ele, por meio de suas obras, a
sociedade? Ou a obra deveria ser apenas a expressão do “espírito do autor”?
Quais seriam os critérios para definir a representatividade das obras dentro de um conjunto?
Essas e muitas outras questões são interpostas àqueles que pretendem estudar a História da Literatura.
Essas indagações estão presentes na obra de Dominique Maingueneau.
(MAINGUENEAU, Dominique. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 4)O contexto da obra literária.
7
Segundo Dominique Maingueneau, existem duas atitudes dominantes entre os analistas da Literatura: “a da
história literária”, considerando a obra a expressão de seu tempo, e a de “orientação mais estilística”, que prefere
apreender a obra como um universo fechado.
Por outro lado, não se pode ignorar que o autor manifesta, por meio de seu estilo, a distribuição de papéis dentro
de uma sociedade e a ideologia que sustenta a divisão de classes. Tal posicionamento identifica a postura crítica
marxista, que deve a Lucien Goldmann, seguidor de G. Lukács, estudos importantes sobre a relação entre a arte e
a ideologia.
“Qualquer grande obra literária ou artística é a expressão de uma visão do mundo. Esta é um
fenômeno de consciência coletiva que atinge o máximo de clareza conceitual ou sensível na
consciência do pensador ou do poeta. Os últimos exprimem-no por sua vez na obra estudada pelo
historiador, que se serve do instrumento conceitual que é a visão do mundo” (GOLDMANN, L. Lê
. Paris: Gallimard,1964, p. 218-219 apud MAINGUENEAU, D. p.8).Dieu cachê
8
A aproximação de posturas entre a crítica marxista e a crítica filológica é patente, uma vez que, de certa maneira,
a obra de arte seria considerada como um reflexo de uma “visão de mundo”. Assim, a história seria determinante
de uma determinada forma de expressão em um determinada época.
- -5
Os laços que unem a história literária à história dos acontecimentos são estreitos, até porque “a obra é
indissociável das instituições que a tornaram possível” e, assim, “as obras falam efetivamente do mundo, mas sua
enunciação é parte integrante do mundo que pretensamente representam”.
O trecho foi extraído da obra já citada de Dominique Maingueneau, O contexto da obra literária. p.19).
Outro aspecto relevante a se considerar é o próprio ato de leitura. Para Umberto Eco, o leitor tem um importante
papel na decifração dos signos, à medida que ele é presentificado, desde o momento em que a obra é constituída.
A obra só adquire sentidos na medida em que é lida em contextos variados.
Assim, são múltiplos e variados os aspectos que norteiam a compilação das obras que compõem a história
literária: a condição social do escritor na sociedade de seu tempo também é um deles, bem como a identificação
do lugar do qual ele enuncia o seu texto. Por isso, seria correto pensar na importância da biografia do autor, ou
bio/grafia, para compreender todos os sentidos que a obra sugere ou que nela estão implícitos.
“Para Maingueneau ao comentar os Ensaios de Montagne “Bio/grafia' que se percorre nos dois
sentidos: da vida rumo à grafia ou da grafia rumo à vida. (...) a vida do escritor está à sombra da
escrita, mas a escrita é uma forma de vida. O escritor 'vive' entre aspas a partir do momento em que
sua vida é dilacerada pela exigência de criar, em que o espelho já se encontra na existência que deve
refletir.” (MAINGUENEAU, D. O contexto da obra literária. P. 46-47)
9
Um expediente muito eficiente quando estudamos a arte de um determinado período é a comparação. É por
meio dela que se observam as convergências ou divergências entre a Literatura e as outras artes em uma
determinada época. Esses estudos configuram a Literatura Comparada, uma disciplina que se propõe a
estabelecer e analisar esses confrontos.
10
Vejamos o caso de um estilo de época, o Realismo.
Contrapondo-se aos exageros emotivos do Romantismo, o Realismo é um estilo que se manifesta nas produções
artísticas a partir de meados do século XIX. Na Literatura, há a predominância da narração em terceira pessoa, a
objetividade e a busca pela descrição o mais fiel possível da realidade.
- -6
11
Você observou o quadro do pintor francês Gustave Coubert
e observe agora um trecho do conto A cartomante, de Machado de Assis, ambos do período realista.
“Deu por si na calçada, ao pé da porta: disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo
corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés,o corrimão pegajoso; mas
ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer; mas era
tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas,
três pancadas. Veio uma mulher, era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar.
Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma
salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes
sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.”
- -7
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000257.pdf
Mesmo não recorrendo ao enredo do conto de Machado de Assis para nos ajudar, podemos perceber algumas
semelhanças entre o quadro e o conto:
• A descrição da realidade é feita de maneira bastante minuciosa, os detalhes são privilegiados.
• A temática das duas obras se concentra em experiências do cotidiano, observadas pela ótica de uma 
terceira pessoa.
À primeira vista, que semelhanças podemos encontrar entre os dois textos?
12 Vamos fazer um teste?
Os painéis a seguir compõem o mural da ONU, Guerra e Paz, de nosso genial pintor Candido Portinari. A obra foi
pintada entre os anos de 1952 e 1956. Observe atentamente os detalhes, as figuras humanas, as diferenças entre
os dois painéis, as cores etc.
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido e não pela
gramática.
“O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas
geométricas, com o predomínio de linhas restas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos
ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos
visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes”.
•
•
- -8
Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/cubismo.html
E na literatura, quais seriam os traços principais?
Na poesia, o Cubismo é perceptível pela simplicidade, por uma sintaxe orientada pelo sentido e não pela
gramática.
Cidade
Foguetes pipocam o céu quando em quando
Há uma moça magra que entrou no cinema
Vestida pela última fita
Conversas no jardim onde crescem bancos
Sapos
Olha
A iluminação é de hulha branca
Mamães estão chamando
A orquestra rabecoa na mata
Oswald de Andrade
13
Convém mencionar outro conceito literário importante: a Geração.
Geração, segundo Afrânio Coutinho, pode definir-se como “um grupo de escritores de idades aproximadas que,
participando das mesmas condições históricas, defrontando-se com os mesmos problemas coletivos,
compartilhando de idêntica concepção do homem, da vida e do universo e defendendo valores estéticos afins,
assumem lugar de relevo na vida literária de um país mais ou menos na mesma data. Trata-se de um conceito
suplementar em nossos estudos da periodicidade literária.
No caso específico da Literatura Brasileira, a determinação do ponto de partida do estudo das histórias da
literatura é dado com a publicação de História da Literatura Brasileira, de Silvio Romero, em 1888. Antes dessa
obra, houve referências, como já mencionamos, à literatura produzida no Brasil. Entretanto, esta ainda era
compreendida como colônia e, por isso, constante do capitulo ultramar da literatura portuguesa.
Observa Marisa Lajolo que as histórias literárias surgem a partir dos processos de afirmação das nacionalidades
europeias e não foi diferente com o caso brasileiro. Desde o primeiro momento, existe uma forte aliança entre a
- -9
produção literária e o “projeto de construção nacional”. Os efeitos dessa visão se refletem diretamente sobre a
construção do que podemos chamar de cânon da Literatura Brasileira, que não pode ser compreendido como
uma sequência, mas como sistema:
“(...) trata-se de uma sequência cujo estabelecimento passa pela mediação de inúmeras leituras
seletivas que, pautando-se por igualmente seletivos protocolos (de leitura literária), foram
aprovando certas obras e rejeitando outras, num gigantesco processo de seleção e combinação, cujo
resultado constitui o cânon da literatura brasileira”.
O ensino da literatura brasileira nas escolas vigora desde os tempos da monarquia, fazendo parte de antologias
escolares. Sua importância ultrapassa o mero conhecimento dos bons autores, pois reside principalmente no
conhecimento mais profundo de nosso povo, de nossa cultura e de nossa história. O contato com as obras deve
sempre ser guiado, merecendo grupos de debates e discussão, para que a apreensão transborde os momentos de
leitura e venha a compor a bagagem do cidadão.
A Literatura produzida no Brasil é um patrimônio cultural, manifestação genuína do povo brasileiro. Sua força é
sentida além do mundo Lusófono, como potência artística representativa de nossa identidade.
14
Deleite-se agora com trechos de nossa poesia brasileira, para entrar no clima:
Canção do exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(...)
Não permita Deus que eu morra,
- -10
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
( )Coimbra – julho 1843
O navio negreiro
‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? Qual o oceano?...
Castro Alves
Língua Portuguesa
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma.
Olavo Bilac
Vou-me embora pra Pasárgada
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei–
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira
As sem razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
- -11
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Carlos Drummond de Andrade
Reinvenção
(...)
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles
Extravio
Onde começo,
onde acabo,
se o que está fora está dentro
como num círculo cuja
periferia é o centro?
Ferreira Gullar
O que vem na próxima aula
• Os cronistas e a “literatura” de informação.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu os critérios para reunir e analisar os textos que compõem a Literatura Brasileira.
•
•
- -1
LITERATURA BRASILEIRA I
O BARROCO E O BRASIL DO SÉCULO XVII
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer o teor de denúncia das Cartas do padre Manuel da
Nóbrega; 2. Distinguir diferentes características, técnicas e temáticas na obra do padre José de Anchieta.
1
Boa parte das expedições que cruzaram o Oceano Atlântico receberam estímulos da Igreja Católica, preocupada
em expandir a fé cristã, devido à perda considerável de fiéis com o advento da Reforma Religiosa, promovida por
Lutero. Assim, compunham também a tripulação da esquadra membros da igreja, missionários dispostos a
propagar a fé cristã.
Dois deles se destacaram no Brasil pelo pioneirismo de suas produções: Pe. Manuel de Nóbrega e Pe. José de
Anchieta.
A obra de Nóbrega constitui-se de Cartas e o Diálogo sobre a conversão do Gentio (1557 ou 1558), texto em que
discorre sobre aspectos da conversão do indígena por uma perspectiva objetiva.
“O primeiro padre geral não é propriamente um homem de letras: sua Informação das terras do
Brasil (1551) tem sobretudo interesse etnológico e catequético. Mas as Cartas, que da Bahia e de
Pernambuco, a partir de 1549, ele envia ao provincial e aos coirmãos da Companhia em Lisboa, têm o
sabor das coisas vividas: logo traduzidas para o italiano (...), levam para a Europa da Contrarreforma
o ecode uma experiência missionária das mais aventurosas.”
(Stegagno-Picchio, L. História da literatura brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. P.77)
Vamos ler um trecho de uma de suas cartas?
“E dahi_vem o pouco credito que .gozam os Christãos entre os Gentios, os quaes não estimam mesmo nada, sinão
vituperam aos que de primeiro chamavam santos e tinham em muita veneração e já tudo o que se lhes diz
acreditam ser manha ou engano e tomam á má parte. Esses e outros grandes males fizeram os Christãos com o
mau exemplo de vida e a pouca verdade nas palavras e novas crueldades e abominações nas obras.
- -3
Os Gentios desejam muito o commercio dos Christãos pela mercancia que fazem entre si do ferro e disto nascem
da parte destes tantas cousas illicitas e exorbitantes que nunca as poderei escrever, e não pequena dôr sinto
n'alma, maxime considerando em quanta ignorância vivem aquelles pobres gentios e que pedem o pão de Deus e
da santa Pé...”
Observe, na Carta de Padre Manuel da Nóbrega, a denúncia da exploração dos índios pelos “cristãos”,
expondo seu desagrado e desacordo com as práticas aviltadoras do gentio.
José de Anchieta (1534- 1597) notabilizou-se por uma variada produção de textos. Sua verve foi registrada em
latim, português e espanhol ( sua língua materna, pois nasceu em Tenerife, uma das Ilhas Canárias) em obras
que vão da poesia aos autos. É de sua autoria, igualmente, a primeira Gramática de Tupi – Arte de gramática da
língua mais usada na costa do Brasil.
Os autos anchietanos são peças produzidas com o objetivo tanto de introduzir o indígena nos rudimentos da fé
cristã, quanto para os colonos que se estabeleciam próximos às missões. Dentre os mais conhecidos estão: o Auto
da Representação na Festa de São Lourenço, Na Vila de Vitória e Na Visitação de Santa Isabel.
Auto é uma palavra de origem latina que tem o significado de ação, ato. Trata-se de uma pequena peça de teatro,
geralmente de tema religioso. Surgiu no final do século XII, na Peninsula Ibérica.
2
No entanto, o processo de familiarização à crença e sua simbologia própria encontrou entraves. Um obstáculo
considerável à catequese, segundo Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, consistiu na ausência do conceito
de “alma” para o silvícola, o que exigia do pregador a utilização de mecanismos de adaptação para transpor as
diferenças culturais:
“O projeto de transpor para a fala do índio a mensagem católica demandava um esforço de penetrar no
imaginário do outro(...)Na passagem de uma esfera simbólica para a outra Anchieta encontrou óbices por vezes
incontornáveis. Como dizer aos tupis, por exemplo, a palavra pecado, se eles careciam até mesmo de sua noção,
ao menos no registro que esta assumira ao longo da Idade Média europeia?”
As soluções encontradas basicamente consistiram em introduzir a palavra da língua portuguesa no idioma tupi
ou buscar uma semelhança entre as duas línguas. Dessa forma, o sagrado transformava-se em uma “mitologia
paralela” ou uma invenção de um “imaginário estranho sincrético” , como nos ensina Alfredo Bosi:
“Bispo é Pai-guaçu, quer dizer, pajé maior. Nossa Senhora às vezes aparece sob o nome de Tupansy, mãe de
Tupã. O reino de Deus é Tupãretama, terra de Tupã. Igreja, coerentemente é tupãóka, casa de Tupã. Alma é anga,
que vale tanto para toda sombra quanto para o espírito dos antepassados.”
- -4
(BOSI, A. Dialética da colonização. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 65).
3
O trabalho de adequação dos textos dramáticos ao público a que se dirigiam demonstra a preocupação
pedagógica das peças, que em última análise corroboravam com o processo de aculturação.
“Os textos teatrais de Anchieta, de maneira geral, têm uma estrutura em comum, e seu principal objetivo era a
catequese do índio e, em menor escala, a instrução dos colonos. Dentro de um projeto maior, o projeto
colonizador português, a preocupação era em formar intencionalmente o homem necessário àquela época
histórica, àquele contexto em específico. Foi para educar e manter o projeto colonizador, a “missão civilizadora”,
que o padre José de Anchieta escreveu suas peças. Afinal, a Companhia de Jesus era a ordem oficial da Coroa
portuguesa no Brasil colônia, uma vez que igreja e Estado estavam unidos pelos laços do padroado.
Disponível em: <amp.br/art03_25.pdf> .
Assim, a atuação dos padres jesuítas acabou por contribuir para a formação da própria cultura brasileira, tanto
por meio dos escritos de José de Anchieta, como de outros jesuítas, como os padres Manoel da Nóbrega e Antônio
Vieira.”
TOLEDO, C. A. A; RUCKSTADTER, F. M. M.; RUCKSTADTER, V. C. M. O teatro jesuítico na Europa e no Brasil no
século XVI. Universidade Estadual de Maringá – UEM. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br
/art03_25.pdf>. 
4
A poesia de Anchieta elaborada nos moldes medievais deixa conhecer a alma doce e fervorosa do jesuíta. Como
se lê na singela A Santa Inês:
“Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.
Cordeirinha santa,
de Iesu querida,
vossa santa vinda,
o diabo espanta.
- -5
Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.”
Comentário:
O poema foi escrito nos moldes medievais, isto é, empregando a medida velha e recursos estilísticos sonoros,
como o refrão.
Medida velha é a técnica por meio da qual o poeta estrutura os versos em redondilha menor, ou seja, versos
com cinco sílabas poéticas, ou redondilha maior, versos com sete sílabas.
Mas por que medida velha? Existe uma medida nova?
Dá-se o nome de medida velha aos versos que têm métrica de cinco ou sete silabas poéticas. Essa métrica era
comum nas cantigas do Trovadorismo português.
A medida nova foi uma métrica que surgiu no Renascimento e consiste em versos de dez silabas, ou decassilabos.
Tais versos são chamados de heroicos, quando são acentuados na sexta e na décima silabas.
Refrão corresponde a um fragmento de verso ou a versos inteiros que se repetem ao final de cada estrofe ou de
estrofes alternadas.
5
Vale acrescentar ainda como obras que compõem o conjunto de textos de informação: o Diário de Navegação, de
Pero Lopes e Sousa (1530); a Narrativa Epistolar e os Tratados da Terra e da Gente do Brasil, do padre jesuíta
Fernão Cardim (1583); o Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587); os Diálogos das
Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618); a História do Brasil, de Frei Vicente de Salvador
(1627), etc.
6
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e tentar
compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado contemplará com mais
atenção a sociedade europeia e a sua história, tendo em vista a sua força-matriz e impondo-se sobre a nossa
situação colonial.
- -6
7
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi marcado por
grandes transformações. O Feudalismo, sistema social e econômico, estava consolidado a esse tempo. Isso
significa dizer que a sociedade medieval era dividida em estamentos: os nobres, o clero e os servos. E, por isso,
quase não havia possibilidade de ascensão social.
Os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, estes concediam a segurança contra invasores. O
clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e igreja nesse tempo. Dessa forma, cabia-
lhe o papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema. Durante muito
tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas, no entanto, essa expressão é equivocada e
preconceituosa, já que o período foi também marcado, entre outros fatos, pela criação das Universidades e pela
preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges copistas.
8
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itátia para toda a Europa,
o movimento manteve caracteristicas comuns, como a valorizaçãoda Antiguidade clássica, a recuperação dos
modelos estéticos gregos e romanos e o prestígio do equilibrio e da razão. No entanto, em países em que o
espirito medieval estava mais arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das ideias novas ganhou matizes
diferenciados.
9
Os países da Peninsula Ibérica conheceram o apogeu no século XVI, devido à centralização politica e econômica
precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido investimento estrangeiro.
O Brasil não vivenciou o Feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país não tinha sido
encontrado pelos colonizadores ainda. Na idade Média, os indígenas ocupam o protagonismo histórico em
nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui habitavam.
Após 1500, pouco a pouco Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia, que se prolongou até
1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias que concorressem com os produtos
da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa última.
- -7
10
A partir de 1530, iniciou-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o objetivo de deter
as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana-de-açúcar. Para tanto, o pais foi dividido
em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o direito de explorar a
terra, mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana-de-açúcar.
O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549, instituiu o primeiro Governo-Geral,
a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da Costa e Mem de Sá, cujo fim do mandato se
deu em 1572.
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, devido ao
desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos produtos à Europa, já que é uma
cidade litorânea.
11
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento da relação entre
Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o primeiro oferecia apoio militar e
diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os portos de seu pais e das colônias para os produtos
manufaturados produzidos pelos ingleses. Essa aliança tornou Portugal dependente comercial, politica e
economicamente da Inglaterra.
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores de engenho,
detentores do poder político e econômico, as camadas médias, constituída pelos profissionais liberais,
comerciantes, religiosos e militares e os escravos, principalmente negros de origem africana.
12
Você poderia se perguntar: por que preciso saber de História para estudar Literatura?
Fique por dentro
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento sobre a contexto social
em que viveram os artistas, assim como entender as referências a fatos e personagens. Isso nos auxilia a
interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os anseios do homem de uma determinada época.
- -8
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade circundante pode auxiliar na
sua compreensão.
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As relações sociais
acompanharam essas mudanças.
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou adaptar-se aos novos
tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero propôs o debate sobre as indulgências
católicas e promoveu um movimento de grande proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana.
Esse movimento foi conhecido como Reforma.
Lutero
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que,
através da publicação de suas 95 teses, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica,
propondo uma reforma no catolicismo. Os principios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos
como os Cinco solas.
Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus, provocando uma revolução religiosa, iniciada
na Alemanha,
e estendendo-se pela Suiça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu,
principalmente os Paises Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido
como Contrarreforma ou Reforma Católica, iniciada no Concilio de Trento.
O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os
reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.
Fonte:
. Adaptado e revisado,http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras religiões e, em
decorrência disso, criou um movimento chamado Contra-Reforma.
Contrarreforma, também denominada Reforma Católica, é o nome dado ao movimento criado no seio da Igreja
Católica em resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de 1517.
Em 1543, a igreja Católica Romana convocou o Concilio de Trento estabelecendo, entre outras medidas, a
retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index Librorum Prohibitorum, com uma relação
de livros proibidos pela igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas
ordens religiosas dedicadas a essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus. Outras medidas
incluiram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e seminários e a
supressão de abusos envolvendo indulgências.
- -9
Fonte:
. Adaptado e revisado,http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma
13
A Europa, nesse periodo, foi sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de uma e de outra parte,
sendo criado um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte da época.
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro do interesse e discussão, provocados
pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e pelas incertezas quanto à fé, à
transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse periodo recebeu o nome de Barroco.
A Literatura brasileira foi inaugurada, por assim dizer, nesse periodo histórico. Não vivenciamos o Barroco em
concomitância com a Europa, mas recebemos os ecos do movimento, que encontrou no Brasil três vozes: Bento
Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra.
14
Para você entender como se sentia o homem barroco, veja a imagem a seguir:
- -10
O painel de azulejos acima se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”.
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas em um fila. Essas
pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro Caronte (veja ao fundo da
imagem) figura mitológica que as levará ao reino dos mortos.
Disponivel em:
« . itaucultural.org.br/barroco/obra1.html>.http://www
Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre ( o homem com a coroa), o camponês ( o que
está com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa para todos, não há escapatória.
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca.
Veja que, nessa representação, temos a inequivoca certeza de que todos nos igualamos na morte. Essa é a
mensagem transmitida pelo painel.
A morte é tematizada pelo barroco com muita frequência porque o homem dessa época sentia--se dividido entre
a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne.
A angústia dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte.
15
Para Afrânio Coutinho,
“O Renascimento caracterizou-se pelo predomínio da linha reta e pura, pela clareza e nitidez dos contornos. O
Barroco tenta aconciliação, a incorporação, a fusão do ideal medieval, espiritual, supraterreno, com os novos
valores que o Renascimento pôs em voga: o humanismo, o gosto das coisas terrenas, as satisfações mundanas e
carnais. A estratégia pertenceu à Contrarreforma, no intuito, consciente ou inconsciente, de combater o moderno
espirito absorvendo-o no que tivesse de mais aceitável. Daí nasceu o Barroco, novo estilo de vida, que traduz em
suas contradições e distorções o caráter dilemático da época, na arte, filosofia, religião, literatura(...) São, por
isso, o dualismo, a oposição ou as oposições, contrastes e contradições, o estado de conflito e tensão, oriundos do
duelo entre o espirito cristão, antiterreno, teocêntrico, e o espirito secular, racionalista, mundano, que
caracterizam a essência do espirito barroco. Dai uma série de antiteses — ascetismo e mundanidade, carne e
espirito, sensualismo e misticismo, religiosidade e erotismo, realismo e idealismo, naturalismo e ilusionismo, céu
e terra, verdadeiras dicotomias” (COUTINHO, 2001, p. 99).
COUTINHO, Afrânio. . 17. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 99Introdução à literatura no Brasil
- -11
16
Na Literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como antitese, paradoxo,
hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também o vocabulário rebuscado, hermético,
que recobre a violência de um estado de alma em permanente conflito.
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco:
Cultismo
Entende-se por cultismo o jogo de palavras, proveniente do uso excessivo de figuras de linguagem. Trata-se de
influência do poeta espanhol Luis de Gôngora e, por isso, também denominamos gongorismo esse aspecto do
Barroco. Na poética de Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência.
Conceptismo
Por conceptismo compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal característica é o jogo
de ideias, expresso por meio de silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da
influência quevedista.
17
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, podemos afirmar que
houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia aqui a configuração de um movimento
propriamente dito.
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue dois momentos
nesse periodo:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...)
b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a
exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d'El Rei,
Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro”
(BOSI, 2003, p. 35).
BOSI, A. . 41. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)História concisa da literatura brasileira
18
Em 1601, a publicação de , de Bento Teixeira, é considerada o marco inicial do Barroco no Brasil.Prosopopeia
- -12
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com intenções encomiásticas,
pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. A influência
de Os Lusíadas, de Camões, é nitida na epopeia escrita em oitavas heroicas, principalmente nas inversões
sintáticas peculiares. No entanto, em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma no poema, na
referência à cidade de Olinda e na “Descrição do Recife de Pernambuco”.
Vejamos a seguir uma estrofe ilustrativa:
“É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a Ffária esquiva.
Entre a praia e pedra descomposta,
O estanhado elemento se diriva
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.”
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
19
Também de origem portuguesa, nascido em Lisboa, figura Antônio Vieira, que se radicou ainda menino no Brasil,
trazido pelos pais. Estudou na Bahia, mas foi cedo para Olinda com a incumbência de ensinar no seminário de
Olinda.
Tomou-se pregador em 1634 e o brilho de seus sermões ultrapassaram os púlpitos brasileiros, concedendo-lhe
um papel político de relevância na Colônia e na Metrópole.
A influência conceptista sobressai na de Vieira, cuja verve argumentativa concilia “duas realidadesparenética 
historicamente dispares: o sistema nacional mercantil, de um lado; e as propostas de fraternidade contidas no
Evangelho, de outro”
BOSI, A. Vieira ou a cruz da desigualdade. In: _______. dialética da colonização. 3. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000. p, 128.
20
Leia agora o trecho do Sermão da Epifania, pregado em 1662 e, em seguida, a análise de Alfredo Bosi sobre o
trecho:
- -13
“As nações, umas são mais brancas, outras mais pretas, porque umas estão mais vizinhas, outras mais remotas
do sol. E pode haver maior inconsideração do entendimento, em maior erro do juizo entre os homens, que cuidar
eu que hei-de ser vosso senhor, porque nasci mais longe do sol, e que vôs haveis de ser meu escravo, porque
nascestes mais perto?!“ (Vieira apud BOSI, A. Dialética da colonização. p.135).
Veja também um belo trecho do Sermão do Mandato:
“É pois o quarto e último remédio do amor, e com o qual ninguém deixou de sarar: o melhorar de objeto. Dizem
que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga. Assim como dois contrários
em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito, assim no mesmo coração não podem caber dois amores,
porque o amor que não é intenso não é amor. Ora, grande coisa deve de ser o amor, pois, sendo assim, que não
bastam a encher um coração mil mundos, não cabem em um coração dois amores. Daqui vem que, se acaso se
encontram e pleiteiam sobre o lugar, sempre fica a vitória pelo melhor objeto. É o amor entre os afetos como a
luz entre as qualidades. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as
trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. As estrelas no meio das trevas luzem e
resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas.”
(http:// www. dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000018pdf.pdf)
“O sermão é exemplar como xadrez de conflitos sociais, dados os interesses em jogo, obrigando o discurso ora a
avançar até posições extremas, ora a compor uma linguagem de compromisso. No fundo, o pregador acha-se
dividido entre uma lógica maior, de raiz universalista, tendencialmente igualitária, e uma retórica menor(...)
particularista e interesseira. O efeito é um misto de ardor e diplomacia, veemência e sinuosidade, que define a
grandeza e os limites de nosso jesuita.”
(BOSI, A. . P.134)Dialética da colonização
21 Triste Bahia
Gregório de Matos e Guerra, nascido em 1633, na Bahia, foi inegavelmente, o primeiro poeta brasileiro. A sua
biografia revela um personagem extremamente controvertido, tão paradoxal e surpreendente quanto a sua
poesia.
Saiba mais
Gregório de Matos Estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo para
o Brasil quando contava perto de cinquenta anos. Atuou como juiz.
Voltou ao Brasil em 1681, ocupando o cargo de vigário-geral.
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se
- -14
22
Composta por sátiras, poemas religiosos, líricos e amorosos, a obra de Gregório revela sua mestria técnica e
agilidade verbal, inclusive empregando palavras da língua tupi, como podemos observar no poema a seguir:
AOS CARAMURUS DA BAHIA
Um calção de pindoba, a meia zorra,
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó arco e taquara
Penacho de guarás em vez de gorra.
Furado o beiço, e sem temor que morra
O pai, que lho envasou cuma titara
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra.
Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis quea do gosto, quando erra
De Paiaiá tornou-se em abaité.
Não sei onde acabou, ou em que guerra:
Só sei que deste Adão de Massapé
Procedem os fidalgos desta terra.
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se
que teria deixado o dinheiro largado em casa e gastado desmedidamente.
“Conta-se que teria, em certo momento da vida, abandonado tudo para vagar como
“cantador itinerante, convivendo com todas as camadas da população” (MATOS, Gregório de.
Poemas escolhidos/ Gregório
de Matos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p.
20)
No entanto, embora tenhamos notícia de que sua produção poética foi bastante extensa, não se
conhece nenhum poema assinado por ele ou impresso em vida. Reunidos, ao longo do tempo,
por colecionadores, há casos de um mesmo poema apresentar versões bastante distintas.
Além da dificuldade de se estabelecer a originalidade do texto do autor, há que se considerar
as traduções livres de Quevedo e Gôngora, que aumentam a sua bibliografia. Como vemos, a
obra de Gregório suscita, por si só, grande polêmica. No entanto, é importante destacar que a
noção de autoria não tinha no século XVII o mesmo valor que tem hoje.
- -15
No poema, observa-se a critica dura e impiedosa aos “nobres” da Colônia, os “caramurus”, os novos-ricos que
detinham o poder econômico e político no Brasil colonial. A verve do esgrimista impiedoso das palavras rendeu-
lhe o apelido Boca do Inferno.
Note também que o ponto de vista de Gregório é o de um descendente nobre de uma família de proprietários de
terras e engenho, cujos bens foram se perdendo, restando-lhes apenas a memória de fidalguia. O poeta assume,
assim, o tom amargo ao expor as suas criticas à mestiçagem, mas também à corrupção e tematiza o rancor de um
reinol de alta estirpe, injustiçado pela ralé que governa a Colônia.
À BAHIA
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh! Se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
“Uma primeira aproximação ao texto, de caráter abrangente, encontra dois movimentos de sentido oposto. Pelo
primeiro, o eu lírico entra em simpatia com o tu, a cidade da Bahia, animada e personalizada. Pelo segundo, vem
a separação: o eu, agora juiz, invoca um castigo para o outro, chamando a intervenção de uma terceira pessoa,
Deus, mediador poderoso e capaz de executar a pena merecida. A primeira onda de significação move os
quartetos; a segunda, os tercetos”(BOSI, 1992, p. 94-95).
BOSI, Alfredo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 94-95.Dialética da colonização.
TEMPO A CIDADE DA BAHIA
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
- -16
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia
(BUENO, Alexei. . Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 2007. p. 25)Uma história da poesia brasileira
23
Destacam-se, na obra gregoriana os poemas religiosos cujos matizes barrocos podem ser assinalados.
Embora a autoria seja questionada devido à semelhança com poemas de outros autores da época, a beleza dos
versos e a riqueza estilística merecem atenção. Como no poema .A Jesus Cristo Nosso Senhor
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirma na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
- -17
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Nesse soneto, é perceptível a tensão barroca mediante o uso de figuras de linguagem como os pares antitéticos:
pecar /perdoar e Lisonja/ofensa. No entanto, a força do poema reside no tom argumentativo com que pretende
convencer Deus de sua salvação.
O eu lírico vai buscar nas sagradas escrituras o exemplo que servirá de precedente: o episódio da ovelha
desgarrada. Por analogia, a salvação de sua alma pecadora seria motivo de glória para Deus; e se pecava tanto,
era por acreditar que seria perdoado, já que a condenação poderia significar a perda da glória divina.
Veja que o tom de oração recobre a petição do “advogado”, cujo talento argumentativo se coloca a serviço da
salvação da alma, conscientemente pecadora.
A lírica amorosa e filosófica de Gregório de Matos conta com significativa produção, em sua maioria de sonetos
de inspiração camoniana. São temas comuns: a transitoriedade da vida, considerações sobre o ciume, o silêncio e
as declarações amorosas.
BUENO, Alexei. . Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 2007. p. 31.Uma história da poesia brasileira
24
AOS AFETOS E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal em chamas derretido.
Se és fogo como passas brandamente,
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.
- -18
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/ Gregório de Matos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 222.
A beleza da descrição da lágrima metaforizada
A beleza da descrição da lágrima metaforizada em fogo e neve, expressões antitéticas, desenvolve, ao Longo do
soneto, o lamento do eu lírico que pondera sobre o paradoxo do sentimento amoroso.
A primeira estrofe apresenta, nos dois últimos versos, a estrutura quiasmástica que reforça o contraste,
mediante o espelhamento:
Quiasmátca provém de quiasma, que trata-se de uma figura estilística pela qual pode-se perceber o cruzamento,
formando um movimento semelhante à letra X. (qui, letra do alfabeto grego).
O mesmo procedimento se percebe também nos dois últimos versos da segunda estrofe, onde o vocativo “tu”, a
quem se dirige o poeta, são as lágrimas que sintetizam essa dualidade.
Na terceira estrofe, o questionamento do eu lirico se responde, pois é o Amor que torna possível o paradoxo do
fogo, que simboliza a paixão e o desejo, a ser sublimado pelo sentimento amoroso de castidade e pureza,
representada pela neve - como se lê na quarta estrofe.
Como vimos, a importância da poesia de Gregório de Matos se consolida não apenas pela variedade ou volume de
obras, mas principalmente por apresentar os traços da literatura que inaugura: a hibridez, a intensidade e a
conciliação.
Pensar a literatura brasileira é também refletir sobre a maneira especial, própria da cultura do nosso povo, de
compreender e expressar os sentimentos e angústias humanas. Assim como fizeram os autores do século XVII e
como fazemos nós no século XXI.
- -19
O que vem na próxima aula
• O Barroco no Brasil, ecos da tradição europeia;
• Bento Teixeira e poesia fundadora.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceuo panorama histórico anterior e contemporâneo ao Barroco;
• aprendeu os principais traços característicos do Barroco;
• analisou textos de Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.
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LITERATURA BRASILEIRA I
O BARROCO – CONTEXTO: TENSÕES E 
EXPRESSÕES
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer as condições propícias que levaram ao aparecimento do
Barroco na Europa; 2. identificar as características da estética barroca; 3. distinguir as duas correntes estéticas
barrocas: o cultismo e o conceptismo.
1 Sobre a Idade Média
Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e tentar
compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado contemplará com mais
atenção a sociedade européia e a sua história, tendo em vista a sua força- matriz impondo-se sobre a nossa
situação colonial.
Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi marcado por
grandes transformações. O feudalismo, sistema social e econômico, estava consolidado a esse tempo. Isso
significa dizer que a sociedade medieval era dividida em estamentos: os nobres, o clero e os servos. E, por isso,
quase não havia possibilidade de ascensão social.
O Clero
Os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, esses concediam a segurança contra invasores.
Os Servos
O clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e igreja a esse tempo. Dessa forma, cabia-
lhe o papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema.
2 Idade das Trevas?
Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas.
No entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já que o período foi também marcado, entre outros
fatos, pela criação das Universidades e pela preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges
copistas.
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3 Renascimento
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itália para toda a Europa,
o movimento manteve características comuns, como a valorização da Antiguidade clássica, a recuperação dos
modelos estéticos gregos e romanos, o prestígio do equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito
medieval estava mais arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das ideias novas ganhou matizes
diferenciados.
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4 Os diferentes cenários
Os países da Península Ibérica conhecem o apogeu no século XVI, devido à centralização política e econômica
precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido investimento estrangeiro.
A Península Ibérica é formada pelos territórios de Gibraltar (britânico), Portugal, Espanha, Andorra.
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O Brasil não vivenciou o feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país não tinha sido
encontrado pelos colonizadores ainda. Na idade Média, os indígenas ocupam o protagonismo histórico em
nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui habitavam.
5 A cronologia das mudanças
• Após 1500, pouco a pouco, Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia que viria a se 
prolongar até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias que viessem a 
concorrer com os produtos da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa última.
• A partir de 1530, inicia-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o objetivo de 
deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana-de-açúcar. Para tanto, o país 
foi dividido em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o 
direito de explorar a terra, mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana-de-
açúcar.
• 1549 - O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549 institui o primeiro 
Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da Costa e Mem de Sá, 
cujo fim do mandato se deu em 1572.
6 A aliança entre Portugal e Inglaterra
Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, devido ao
desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos produtos à Europa, já que é uma
cidade litorânea.
O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento da relação entre
Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o primeiro oferecia apoio militar e
diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os portos de seu país e das colônias para os produtos
manufaturados produzidos pelos ingleses.
Essa aliança torna Portugal dependente comercialmente, politicamente e economicamente da Inglaterra.
7 A Sociedade Brasileira
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores de engenho,
detentores do poder político e econômico; as camadas médias, constituída pelos profissionais liberais,
comerciantes, religiosos e militares; os escravos, principalmente negros de origem africana.
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8 Você poderia se perguntar: por que preciso saber de 
história para estudar literatura?
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento sobre a contexto social
em que viveram os artistas, bem como entender as referências a fatos e personagens. Isso nos auxilia a
interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os anseios do homem de uma determinada época.
Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade circundante pode auxiliar a
compreender os seus sentidos.
9 A Reforma Protestante X Contra-Reforma
Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As relações sociais
acompanharam essas mudanças.
A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou adaptar-se aos novos
tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero propôs o debate sobre as indulgências
católicas e promoveu um movimento de grande proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana.
Esse movimento foi conhecido como Reforma.
Saiba mais
Ecos do Barroco
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue
dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas
e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu
o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou
deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.”
(BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)
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10 O Barroco
A Europa, nesse período, será sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de uma e de outra
parte; criando um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte da época.
Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro de interesse e discussão, provocada
pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e pelas incertezas quanto à fé, à
transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período recebeu o nome de Barroco.
Saiba mais
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras
religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma.
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por
Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, [1] protestou contra diversos
pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.[2] Lutero foi
apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa,
iniciada na Alemanha, e estendendo-sepela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido,
Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a
Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-
Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma
Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os
reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras
religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma.
A Contrarreforma, também denominada Reforma Católica é o nome dado ao movimento criado
no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de
1517[1]. Em 1543, a igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento estabelecendo
entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do "Index
Librorum Prohibitorum", com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à
catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas dedicadas a
essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus[2]. Outras medidas incluíram a
reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e
semináriose, e a supressão de abusos envolvendo indulgências[3].
http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma
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11 A Literatura Brasileira
A literatura brasileira será inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não vivenciamos o Barroco em
concomitância com a Europa, mas recebemos aqui os ecos do movimento, que encontrará no Brasil três vozes: 
Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra.
12 O sentimento do homem barroco
Para você entender como se sentia o homem barroco, veja a imagem a seguir:
O painel de azulejos acima se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.
Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”.
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Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o camponês (o que está
com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa para todos, não há escapatória.
A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas em um fila.
Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca.
Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na morte. Essa é a
mensagem transmitida pelo painel.
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Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro Caronte (veja ao fundo
da imagem) ― figura mitológica ― que as levará ao reino dos mortos.
Saiba mais
O Barraco na visão de Afrânio Coutinho
A morte é tematizada pelo barroco com muita frequência porque o homem dessa época sentia-
se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne. A angústia
dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte.
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13 A literatura no período Barroco
Na literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como antítese, paradoxo,
hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também o vocabulário rebuscado, hermético,
que recobre a violência de um estado de alma em permanente conflito.
Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco: o cultismo e o conceptismo.
Cultismo
Entende-se por cultismo o jogo de palavras, proveniente do uso excessivo de figuras de linguagem. Trata-se de
influência do poeta espanhol Luís de Gôngora, por isso também denominamos gongorismo esse aspecto do
Barroco. Na poética de Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência.
Conceptismo
Por conceptismo, compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal característica é o jogo
de idéias, expressso por meio de silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da
influência quevedista.
14 O marco inicial do Barroco no Brasil
Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, podemos afirmar que
houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia aqui a configuração de um movimento,
propriamente dito.
É considerado o marco inicial do Barroco no Brasil a publicação de , em 1601, de Bento Teixeira.Prosopopéia
Assunto de nossa próxima aula, juntamente com a análise dos sermões de Padre Antônio Vieira.
Saiba mais
Ecos do Barroco
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue
dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas
e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu
o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou
deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.”
(BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)
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O que vem na próxima aula
• Os primórdios da literatura brasileira;
• A poesia de Bento Teixeira;
• A parenética de Padre Antônio Vieira.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu o panorama histórico anterior e contemporâneo ao Barroco;
• Aprendeu os principais traços característicos do Barroco.
• Distinguiu as diferenças entre Cultismo e Conceptismo.
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LITERATURA BRASILEIRA I
A POESIA INAUGURAL DE BENTO 
TEIXEIRA E A PARENÉTICA DE PADRE 
ANTÔNIO VIEIRA
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1- Relacionar as principais características do Barroco às primeiras
manifestações literárias no Brasil; 2- Conhecer a poesia de Bento Teixeira e compreender o contexto cultural e
histórico em que ela surge; 3- Experimentar a verve oratória e argumentativa de Pe. Antônio Vieira.
1 RECAPITULANDO...
O Barroco brasileiro como vimos na aula anterior, não se registra em concomitância com o movimento europeu e
adquiriu aqui características próprias, marcadas pelo processo colonizador e as restrições impostas pela
metrópole. No entanto, algumas vozes já se levantam e merecem que nos detenhamos em sua análise.
Das primeiras manifestações literárias nascidas em nossa terra, a primeira delas foi o longo poema épico
Prosopopeia de Bento Teixeira.
2 BENTO TEIXEIRA
Nascido no Porto, Portugal, em 1561, Bento Teixeira publicou a obra Prosopopeia com intenções encomiásticas ,
pois toma por mote louvar o donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho.
Segundo José Veríssimo, poemas como Prosopopeia eram frequentes na bibliografia da época. Em outras
palavras, a poesia que elogiava os nobres e suas famílias concedia ao poeta um status diferenciado, pois, como
menciona Veríssimo.
3 A ANÁLISE DE JOSÉ VERÍSSIMO DIAS DE MATOS
A influência de Os Lusíadas, de Camões, é nítida na epopeia escrita em oitavas heroicas, principalmente nas
inversões sintáticas peculiares. Define Veríssimo:
“É um poema de noventa e quatro oitavas, em verso hendecassílabo, sem divisão de cantos, nem numeração de
estrofes, cheio de reminiscências, imitações, arremedos e paródias dos Lusíadas. Não tem propriamente ação, e a
prosopopeia donde tira o nome está numa fala de Proteu, profetizando post facto, os feitos e a fortuna,
exageradamente idealizados, dos Albuquerques, particularmente de Jorge, o terceiro donatário de Pernambuco,
ao qual é consagrado.”
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4 CARACTERÍSTICAS DO NATIVISMO
Em dois momentos, a presença da paisagem brasileira assoma o poema, na referência à cidade de Olinda e na
“Descrição do Recife de Pernambuco”, configurando o olhar sobre a nossa terra talvez a primeira semente do
nativismo.
Vemos a seguir uma estrofe ilustrativa:
A menção à cidade de Olinda, terra da capitania do homenageado, é articulada a Saturno, deus do tempo namitologia greco-romana.
Vale o poema pelo aspecto pioneiro de que se reveste, mas o excesso de referências à mitologia impede a
comoção do leitor.
A SEGUIR...
Da poesia para a prosa, vamos conhecer um pouco da obra de um homem, mais precisamente, um pregador
dessa época. Ele se notabilizou pela força e beleza de seus sermões e cartas: Padre Antônio Vieira.
5 PADRE ANTÔNIO VIEIRA
Antônio Vieira nasceu em Portugal, mas veio para o Brasil ainda menino. Também muito cedo ingressou na
Companhia de Jesus, tornando-se padre. Viveu intensamente conflitos entre brasileiros e holandeses, bem como
foi capaz de analisar com agudeza a situação de indígenas, negros e judeus na sociedade colonial.
6 O DESTAQUE E A ATUAÇÃO DE ANTÔNIO VIEIRA
É importante saber que parenética é a arte de pregar sermões. Trata-se da rica oratória característica dos
padres.
Vieira teve um papel relevante na sociedade de seu tempo. Sua atuação transbordou a atuação religiosa,
estendendo-se aos campos da política da colônia e da metrópole.
Saiba mais
Um aspecto notável em sua obra é a erudição de que se reveste a linguagem em suas
apresentações. No entanto, vale ressaltar que as obras que nos chegaram foram depuradas
pelo próprio autor quando já idoso e que foram reescritas muitas delas.
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Quanto aos seus textos, mais precisamente nos sermões, destaca-se o virtuosismo da linguagem, resultante do
emprego de figuras de retórica refinadas. Característico do Barroco, o conceptismo presente em seus textos se
apura em movimentos argumentativos de grande impacto; por outro lado, no entanto, também lança mão dos
excessos do cultismo, embora o renegue.
7 CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO SEXAGÉSIMA ANTÔNIO
“O caráter polêmico desse sermão delata preliminarmente que há excesso em manifestações. Sem excluir de
modo algum a sinceridade com que combateu as extravagâncias do cultismo, não deixava Vieira de praticar ali
mesmo o que condenava em outros pregadores, veladamente os dominicanos.” (Coutinho, A. A literatura no
Brasil. p. 87)
O Barroco está presente, como se vê no Sermão da Sexagésima. Primeiro, observe o emprego de figuras como a
dubitação, ou seja, as indagações que visam a atrair a atenção do expectador, fazendo-o aderir aos argumentos
apresentados de forma tácita. Depois, o uso de imagens, criadas por meio de símile, como a aproximação entre o
trigo e as palavras do pregador. Por fim, observe o emprego de adjetivos em gradação. Há ainda, do ponto de
vista fônico, repetições de termos no princípio, no meio ou final de orações seguidas.
ATENÇÃO!
Outro recurso bastante frequente na obra de Vieira é o uso de antônimos, criando antíteses com o objetivo de
ampliar os sentidos do exposto e comover sua assistência.
O que vem na próxima aula
• Os primórdios da literatura brasileira;
• A poesia de Bento Teixeira;
• A parenética de Padre Antônio Vieira.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu o panorama histórico anterior e contemporâneo ao Barroco;
• Aprendeu os principais traços característicos do Barroco;
• Distinguiu as diferenças entre Cultismo e Conceptismo.
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LITERATURA BRASILEIRA I
GREGÓRIO DE MATOS: IRREVERÊNCIA E 
CONTRADIÇÃO
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Reconhecer a variada obra do poeta Gregório de Matos Guerra 2.
Identificar as críticas à sociedade da época nos poemas satíricos; 3. Verificar a tensão existencial na lírica
religiosa. 3. Reconhecer aspectos barrocos na lírica amorosa gregoriana.
1 GREGÓRIO DE MATOS
Estudou em Portugal e formou-se pela Universidade de Coimbra, vindo para o Brasil quando contava perto de 50
anos. Atuou como juiz. Voltou ao Brasil em 1681, ocupando o cargo de vigário-geral. No entanto, foi desligado da
função.
Tendo vendido as terras que ganhara como dote ao casar-se com Maria dos Povos, conta-se que teria deixado o
dinheiro largado em casa e gastado desmedidamente.
Conta-se que teria, em certo momento da vida, abandonado tudo para vagar como “cantador itinerante,
convivendo com todas as camadas da população” (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos/ Gregório de
Matos; seleção e organização José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 20)
ATENÇÃO!
Embora tenhamos notícia de que sua produção poética foi bastante extensa, não se conhece nenhum poema
assinado por ele ou impresso em vida. Reunidos, ao longo do tempo, por colecionadores, há casos de um mesmo
poema apresentar versões bastante distintas.
Além da dificuldade de se estabelecer a originalidade do texto do autor, há que se considerar as traduções livres
de Quevedo e Gôngora, que aumentam a sua bibliografia. Como vemos, a obra de Gregório suscita, por si só,
grande polêmica. No entanto, é importante destacar que a noção de autoria não tinha no século XVII, o mesmo
valor que tem hoje.
A SEGUIR...
Veremos alguns poemas e sonetos de Gregório se Matos, destacando trechos que irão revelar sua perspectiva e
as principais características de seu trabalho.
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2 A OBRA
Composta por sátiras, poemas religiosos, líricos e amorosos, a obra de Gregório revela sua mestria técnica e
agilidade verbal, inclusive empregando palavras da língua tupi, como podemos observar no poema a seguir:
OS CARAMURUS DA BAHIA
Um calção de pindoba, a meia zorra,
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó arco e taquara
Penacho de guarás em vez de gorra.
Furado o beiço, e sem temor que morra
O pai, que lho envasou cuma titara
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra
Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis que a do gosto, quando erra
De Paiaiá tornou-se em abaité.
Não sei onde acabou, ou em que guerra:
Só sei que deste Adão de Massapé
Procedem os fidalgos desta terra
ANÁLISE DO POEMA
No poema, observa-se a crítica dura e impiedosa aos “nobres” da Colônia, os “caramurus”, os novos-ricos que
detinham o poder econômico e político no Brasil colonial. A verve do esgrimista impiedoso das palavras rendeu-
lhe o apelido Boca do Inferno.
Note também que o ponto de vista de Gregório é o de um descendente nobre de uma família de proprietários de
terras e engenho, cujos bens foram se perdendo, restando-lhes apenas a memória de fidalguia. O poeta assume,
assim, o tom amargo ao expor as suas críticas à mestiçagem, mas também à corrupção; tematiza o rancor de um
reinol de alta estirpe, injustiçado pela ralé que governa a Colônia.
Destacam-se, na obra gregoriana, os poemas religiosos cujos matizes barrocos podem ser assinalados. Embora a
autoria seja questionada devido à semelhança com poemas de outros autores da época, a beleza dos versos e a
riqueza estilística merecem atenção. Como no soneto:
A Jesus Cristo nosso Senhor
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Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirma na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
(BUENO, Alexei. Uma história da poesia brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakkoff Casa Editorial, 2007. p.
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ANÁLISE DO SONETO
Nesse soneto, é perceptível a tensão barroca mediante o uso de figuras de linguagem como os pares antitéticos:
pecar/perdoar e lisonja/ofensa. No entanto, a força do poema reside no tom argumentativo com que pretende
convencer Deus de sua salvação.
O eu lírico vai buscar nas sagradas escrituras o exemplo que servirá de precedente: o episódio da ovelha
desgarrada. Por analogia, a salvação de sua alma pecadora seria motivo de glória para Deus; e se pecava tanto,
era por acreditar que seria perdoado, já que a condenação poderia significar a perda da glória divina.
Veja que o tom de oração recobre a petição do

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