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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA NELSON LOPES DE SOUZA JUNIOR TRABALHO DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA – AVA 2 Rio de Janeiro 2021 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA NELSON LOPES DE SOUZA JUNIOR TRABALHO DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA – AVA 2 Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em História da Universidade Veiga de Almeida, como requisito parcial para aprovação na disciplina História Medieval: Colônia e Império. ORIENTADORA: PROF.ª. ELISA GOLDMAN Rio de Janeiro 2021 RESUMO Este trabalho destina-se a apresentar um estudo de caso sobre a cultura esportiva das regatas de remo no Rio de Janeiro do século XIX, referenciando suas particularidades, convenções sociais e propagação como esporte de público amplo. Palavras-chave: Trabalho acadêmico. História Regional. Colônia. Império. Características. Remo. Regatas. Esporte. ABSTRACT This work is intended to present a case study on the sporting culture of rowing regattas in Rio de Janeiro in the 19th century, referring to its particularities, social conventions and propagation as a sport with a wide audience. Keywords: Academic work. Regional History. Colony. Empire. Characteristics. Rowing. Regattas. Sport. Em vários momentos, ouvimos falar das histórias sobre o século XIX e suas implicações na modernização do Rio de Janeiro, desde a chegada da Família Imperial Portuguesa em 1808, até o fim da monarquia e criação da república no fim deste mesmo século. O Rio de Janeiro sofreu diversas mudanças com a chegada da família real. De cidade sem saneamento, socialização e com péssimas condições de pavimentação, tornou-se a capital do império português, tendo que se adequar aos costumes e necessidades da corte portuguesa. Caminhando junto a isso, veio o fortalecimento das teorias higiênicas, que impulsionavam os médicos a debater sobre a importância das atividades físicas na saúde em geral. Mesmo com o receio da população na época para a disseminação das práticas esportivas, as práticas ao ar livre aos poucos foram ganhando força, ocupando praças, terrenos baldios, parques e praias. Dessa forma, essas novidades eram visíveis e puderam ser inseridas na comunidade local. Mas vamos falar aqui, e desbravar nas informações que mereçam destaque, de um ponto que foi uma prática bem-vista e, de certo, famosa por ser saudável naquele período: as regatas de remo. Obviamente não podemos falar das regatas de remo sem nos estendermos um pouco quanto às mudanças culturais e estruturais ocorridas na cidade no período, mas nesses assuntos iremos apenas levantar certas observações, não os esmiuçar. Como informação, o uso das canoas já erma vistos desde o convívio com grupos indígenas da região amazônica, desde o século XVII, que foram as primeiras especializações no uso das canoas: os regatões. Pequenas canoas de comerciantes ambulantes que navegavam pelos rios vendendo artigos ou realizando permutas. Já no século XIX, a prática das regatas remonta, inicialmente, das canoas que eram utilizadas para fins mais contemplativos do mar e da praia. Os esportes eram de acesso privilegiado das elites, usando dessa representação para popularização e viabilização das atividades, além de marcar quem eram essas elites. Entretanto, não só de ideais se arquitetava a ideaia da popularização do esporte, como proposto por Victor Andrade de Melo: “Sem negar a priori a importância do aspecto econômico no desenvolvimento do campo esportivo, podemos verificar que tais hipóteses não são linearmente identificáveis, não s6 no Brasil como em muitos outros países. Os esportes se desenvolvem de forma diferenciada em realidades diversas, mesmo dentro de um único país. De fato, aquelas suposições de caráter econômico serão possivelmente falhas se uma condição básica não for observada: deve existir um mínimo de predisposição e possibilidade de aceitação do esporte por parte da população, sem o que os esforços serão duplicados e/ou inférteis.” (Melo, 1999). As corridas de canoas foram as precursoras não estruturadas do remo. As competições entre barcos foram muito populares no século XIX. Uma corrida de canoas foi realizada em 1846, entre as canoas Lambe Água e Cabocla, com grande participação de público, que assistiu a vitória da Cabocla na prova que ia da Praia de Jurujuba, em Niterói, até a Praia dos Cavalos, em Santa Luzia, no Rio de Janeiro. Seu destaque foi tanto, que foi noticiada no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, na edição de 20/08/1846, incentivando a realização de novos desafios de barcos a remo e à vela. Até então, a ocupação das praias tinha apenas caráter de lazer, de contemplação. Mas logo isso mudou. Em 1850, a Câmara Municipal lançou um edital com conselhos para se evitar epidemias, entre eles o banho de mar. Entrava aí o uso dos banhos e exposição ao sol para fins de cuidados medicinais. O mar passava a ser visto como fonte de diversão, para vir a ser solução de saúde. Em 1860, foram tomadas ações de higiene para uso do mar, reduzindo o despejo de excrementos e lixo. Essas ações foram fundamentais para que a prática de esportes saudáveis ao mar se popularizasse. Ao longo da segunda metade do século XIX, temos, em 1851, a fundação do Grupo dos Mareantes, clube de remo do Rio de Janeiro, para estimular a prática do esporte. No mesmo ano, a primeira regata registrada foi na enseada de Botafogo. Era comum, à época, organizarem regatas para celebração de datas importantes. Em 1852, em Niterói, houve o naufrágio de uma das embarcações do Grupo dos Mareantes e morte do remador Américo Silva, por afogamento. Nesse mesmo ano, ocorreu a dissolução do centro náutico. Em 1855 foi realizada a primeira regata de barcos a seis remos, na enseada de Botafogo. Outras datas podem ser referenciadas, como em 1874, da fundação do Club de Regatas Guanabarense. Em 1876, da fundação do Grupo de Botafogo para prática do remo. Em 1880, foi promovida uma regata pelo Club de Regatas Guanabarense em comemoração ao tricentenário de morte de Luís de Camões. Em, 1885, a fundação do Clube de Regatas Cajuense e, em setembro do mesmo ano, uma Regata promovida pelo Club de Regatas Guanabarense com participação de marinheiros ingleses e norte-americanos e assistida pelo Imperador D. Pedro II. Em 1887, fundado o Club de Regatas Internacional. Em 1888, Regata da Abolição, na enseada de Botafogo, comemorando a abolição da escravidão no Brasil. Em 1892, foi fundada a Union des Canotiers, logo conhecida como Sociedade dos Franceses, além dos Grupo de Regatas Botafogo e Club de Regatas Fluminense. Em 1894, foi fundado o Club de regatas Botafogo, que faria sua fusão em 1942 com o Botafogo Foot-Ball Club, surgindo assim o Botafogo de Futebol e Regatas. Em 1895, fundado o Clube de Regatas do Flamengo. Também nesse ano, no jornal diário O Paiz, surgiu a primeira seção exclusiva aos esportes náuticos, com redação de Benjamin Motta. Em dezembro desse ano, foram proibidas apostas nas regatas. Em 1898, a comunidade portuguesa, comemorando o quarto centenário da chegada de Vasco da Gama às Índias, criou o Club de Regatas Vasco da Gama. Nesse ano foi disputado pela primeira vez o Campeonato Náutico Brazileiro, instituído em 1897 pela União de Regatas Fluminense, que contava com programa de nove páreos, prestigiada com a presença do Dr. Prudente José de Moraes Barros, Presidente da República do Brasil. Em 1899, foram fundados o Club de Regatas Guanabara e o Club de Regatas São Christovão, que em 1943 faria a fusão com o São Christovão Athletico Clube, surgindo assim o São Cristóvão Futebol e Regatas. O sucesso das regatas foi tão grande no Riode Janeiro que, em 1900, o então prefeito Pereira Passos construiu o Pavilhão de Regatas na Praia de Botafogo. Desde o início, o remo foi desenvolvido atrelado aos ideais de saúde, progresso e moralidade. Sua presença foi parte do projeto de modernização da época: a substituição de práticas consideradas atrasadas, não-civilizadas, segundo o padrão das elites. A popularização das regatas trouxe grande participação das camadas populares. Muitos grupos de remadores se inscreviam nas regatas por conta própria nas regatas, sem representar nenhum clube. Tal prática não perdurou, pois logo exigiu-se que os remadores fossem afiliados aos clubes, o que excluía a possibilidade dos remadores das camadas mais populares de participação. Aos poucos, a elite foi construindo suas casas ao lado das residências simples das camadas populares. Depois, compravam ou desapropriavam essas simples residências. Por fim, regulamentaram as práticas de banho no mar e restringiram a possibilidade de participar dos eventos de remo, devido ao regulamento dos clubes. Claro, a massa popular não foi passiva a essas mudanças, com pouca interferência na política, mas muito no cotidiano. A resistência da “reeducação” cultural, nos moldes europeus, imposta pela elite eram vistas no modo de vida do povo, com o carnaval, capoeira, jogos de azar, entre outros. No caso do uso do mar, não estava ligado aos aspectos de saúde, higiene e estética, mas sim das atividades de sobrevivência, tradições, hábitos e festas. Isso tornou-se visível ao contemplarmos como os escritores da época já falavam das praias em suas obras. Essa expansão urbana para região da zona sul do Rio de Janeiro começou a avançar no ramo imobiliário, valorizando a costa com o impulso dado pela ocupação da região pela classe alta, removendo das praias aquele paradigma de sujeira e doenças, inclusive tornando o banho de mar um hábito cotidiano. Essa expansão da burguesia foi deslocando a população de classe baixa para as áreas dos subúrbios. No remo, tornado esporte louvável com prática salutar, com o tempo, os clubes e associações buscavam diversos avanços organizacionais e tecnológicos, que foram marcantes no desenvolvimento do esporte. Sejam os barcos, equipes, locais de competição com suas arquibancadas, comissões e juízes, tudo apresentava um caminho de evolução e adaptação para se afirmar e ganhar seu espaço. Com seu código rígido e promoção de regatas, a União de Regatas Fluminense consolidou cada vez mais sua posição como órgão regulamentador de todas as sociedades de regatas. Em 1900, a União alterou seu nome para Conselho Superior de Regatas, tornando ainda mais rígido o controle e regulamentação, além da entrada de novas associações. Ficava claro sua intenção de controlar não só o remo no Rio de Janeiro, mas de todo Brasil. Como podemos ver, em todo período do século XIX, as regatas de remo foram motivo de busca de um caráter nobre, ao mesmo tempo que também foram um meio da elite colocar-se altiva perante a massa popular. Assim como em outros esportes, essa padronização foi extremamente importante na modernização da cidade e contribuiu, direta e indiretamente, no avanço das práticas de higiene e saúde. Nas décadas posteriores, no início do século XX, a cidade começou a apresentar sua estruturação turística, tornando-se atração para os estrangeiros. Não podemos negar que o crescimento dos clubes e organizações de remo e sua profissionalização foram um dos alicerces para o desenvolvimento e evolução de diversos outros esportes, como o futebol. Foi essa evolução cultural e esportiva que perdurou durante o século XX e dura até hoje no século XXI. Referências Melo, Victor Andrade de. O MAR E O REMO NO RIO DE JANEIRO DO SÉCULO XIX. Artigos, Revista Estudos Históricos. 1999, v. 13 n. 23: Esporte e Lazer. Disponível em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2088>. ISSN 0103-2186. Melo, Victor Andrade de. ENTRE A ELITE E O POVO: O SPORT NO RIO DE JANEIRO DO SÉCULO XIX (1851-1857). Tempo [online]. 2015, v. 21, n. 37 [Acessado 12 Novembro 2021], pp. 208-229. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/TEM-1980-542X2015v213706>. Epub 21 Jul 2015. ISSN 1980-542X. Mascarenhas, Gilmar. CONSTRUINDO A CIDADE MODERNA: A INTRODUÇÃO DOS ESPORTES NA VIDA URBANA DO RIO DE JANEIRO. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, CPDOC (Fundação Getúlio Vargas). Número 23, p, 17- 39, junho de 1999. Licht, Henrique. O REMO ATRAVÉS DOS TEMPOS. Porto Alegre. Corag, 1986, pp. 140-269. Matos, Marcelo da Cunha. 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(2000). https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2501 O RIO DE JANEIRO COMO DISTRITO FEDERAL: A cidade entre regatas e partidas de futebol. MultiRio, Secretaria Municipal de Educação, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do- brasil/rio-de-janeiro/66-o-rio-de-janeiro-como-distrito-federal-vitrine-cartao-postal-e- palco-da-politica-nacional/2924-a-cidade-do-rio-de-janeiro-entre-regatas-e-partidas- de-futebol. Acesso em: 14 de novembro de 2021. SEVCENKO, Nicolau. Um irradiante capital: técnica, ritmos e ritos do Rio. Em: (org.). HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL - VOLUME 3. 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A PRAIA CARIOCA, DA COLÔNIA AOS ANOS 90: UMA (S) HISTÓRIA (S). 2000. Contra Campo; Instituto de Arte e Comunicação Social - UFF. Disponível em: https://doi.org/10.22409/contracampo.v0i04.421 https://doi.org/10.22409/contracampo.v0i04.421
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