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Maria Accioly - Odontologia CESMAC 2022.1 Odontologia Infantil I Hábitos Bucais na Infância Profa. Patrícia Mendes Hábito é a repetição de um ato com um determinado fim tornando-se com o tempo resistente às mudanças. A instalação do hábito pode ser agradável e trazer satisfação ao indivíduo, inicialmente, há participação consciente, mas em função da sua respiração, torna-se inconsciente. 1. Instalação do Hábito Teoria psicanalítica (distúrbios emocionais) – Segundo Freud, se existe uma frustração das necessidades orais durante a infância, a conduta da criança sofrerá algum dano no futuro. A etiologia dos hábitos bucais, em geral, contém um aspecto psicológico muito forte. 2. Hábitos x Psicologia O hábito bucal quase sempre está associado a uma alteração emocional do paciente. Geralmente, o hábito está mais presente nos momentos de angústia e ansiedade. Fatores psicoafetivos; Problemas vividos pela criança no ambiente familiar: Maus tratos, separação dos pais, nascimento de um irmão, negligência dos pais, carência afetiva, mudança de babá, de escola. Problemas vividos pela criança no ambiente escolar: competição ou discriminação pelos colegas, esportes que incitam à competições. 3. Hábitos bucais na infância a. Hábitos normais: participam do processo de crescimento e desenvolvimento normais do complexo craniofacial. b. Hábitos anormais: podem estar relacionados a fatores etiológicos de maloclusão, na maioria das vezes. Hábitos bucais nutritivos: aleitamento natural e aleitamento artificial. Hábitos bucais funcionais: respiração, deglutição e mastigação. Hábitos bucais deletérios: a. Não nutritivos: chupetas, sucção digital, morder lábios e objetos, e onicofagia. b. Funcionais: respiração bucal, deglutição atípica, interposição de língua. c. Não funcionais: bruxismo. 4. Ciclo evolutivo do bebê Três (3) funções importantes: 1. Respiração; 2. Sucção; 3. Deglutição. Sucção: Processo Fisiológico; Primeiro reflexo de alimentação; Fins alimentares e psicológicos; Reflexo primitivo, inato; Importante para o desenvolvimento craniofacial; Padrão de comportamento mais complexo do recém-nascido. 13ª semana de viu – 29ª semana viu; Madura ao 8º mês. Lambendo a placenta e o cordão umbilical; chupando o dedo e deglutindo o líquido amniótico. 5. Importância da Amamentação: A amamentação é fundamental para o desenvolvimento estomatognático, o exercício físico exigido durante o aleitamento materno, conduz a um crescimento e desenvolvimento normal das estruturas faciais. Maria Accioly - Odontologia CESMAC 2022.1 Odontologia Infantil I Ao nascer, o bebê tem o maxilar inferior muito pequeno, que irá alcançar equilíbrio no tamanho em relação ao maxilar superior, tendo seu crescimento estimulado pela sucção do peito. Ao mamar, a criança deve satisfazer sua necessidade alimentar e de sensação de prazer proporcionada pela sucção. Tempo: 20 a 30 minutos. Quando o prazer da sucção não for satisfeito, a criança se torna irritada e passa fazer sucção de dedo e/ou chupeta. A amamentação por períodos de aproximadamente 6 meses diminui a incidência de hábitos de sucção de dedo e/ou chupeta. No recém-nascido, a sucção é uma das funções mais desenvolvidas e com o aleitamento natural, há benefícios emocionais: aconchego, segurança e aceitação. Bebês sugam para satisfazer instinto, mesmo sem fome. Toda a musculatura bucal é desenvolvida, músculos externos e internos, que solicitados, desenvolvem os ossos. Mamar no peito não é fácil, daí o bebê ficar bastante transpirado. Esse exercício é o responsável inicial no crescimento harmonioso da face e dentição. E quando o aleitamento materno não é possível? O que fazer? O bebê alimentado por mamadeira deve fazê-lo de forma mais similar ao seio materno; Bico de mamadeira: não deve ser cortado; mães facilitam o processo de sucção: o bebê não faz os “esforços” necessários para mamar; não deve ficar deitado (risco de o leite extravasar para ouvidos) – otite. Sucção com mamadeira: Tempo médio de 5 a 10 minutos; Pequena estimulação motora-oral: flacidez dos músculos perioral e língua, gerando instabilidade na deglutição e disfunções respiratórias. MAMADEIRA: Menor estimulação dos músculos das face; Posição deitada e conteúdo açucarado: cárie; Diminui a sensação de plenitude alimentar: hábitos nocivos. CÁRIE DE MAMADEIRA: Afeta crianças muito jovens; Evolução rápida; Envolve vários dentes, afeta primeiramente incisivos superiores; Associado: alimentação noturna e ausência de limpeza; Casos mais graves: afeta incisivos inferiores. 6. Hábitos de sucção não-nutritiva A sucção sem fins alimentares ou de nutrição (sucção de dedo e/ou chupeta) – Pode acarretar algumas alterações no sist. Estomatognático, sendo relacionados como fatores etiológicos das má-oclusões. Após o aleitamento inadequado, a criança pode atingir a plenitude alimentar, mas a necessidade de sucção persiste e parar obter satisfação, a criança passa a sugar dedos, chupetas ou objetos. • Uso de Chupeta Uma espécie de mamilo de borracha com que se entretêm as crianças. Este pequeno objeto parece estar relacionado a fatores sociais e culturais e pode ser considerável aceitável nos primeiros meses de vida, como complemento da necessidade de sucção. - Procure utilizar a mais adequada para o tamanho do bebê. - Relação com mordida aberta -posição da língua/ alteração na fonação/ palato mais atrésico. A chupeta é bastante utilizada pelos pais como instrumento para acalmar a criança, Maria Accioly - Odontologia CESMAC 2022.1 Odontologia Infantil I levá-la a um bem-estar, e não com a intenção de prover experiência extra de sucção. Aos 3 anos, no máximo, a chupeta deve ser evitada. Se o hábito permanece, podem ocorrer: desvios na direção de crescimento maxilar; impedir o contato entre os lábios; ocupação do espaço funcional da língua. A chupeta é um importante sítio de colonização e proliferação fúngica da cavidade bucal. (uma alta porcentagem de fungo – cândida albicans – foi encontrada em crianças que faziam uso de chupetas. • Sucção de dedo Ao sugar a mamadeira com bico convencional, o bebê não necessita fazer esforço, tendo sua fome satisfeita rapidamente. É neste momento que sugar o dedo pode se tornar um hábito. O dedo é intracorpóreo, tem calor, odor e consistência muito aproximados aos do mamilo materno. Geralmente é o polegar, mas existem casos com outros dedos da mão e do pé. A remoção é mais difícil do que a chupeta. É indicada a tentativa de substituição do dedo pela chupeta; Língua – entre as gengivas ou dentes – deforma a arcada dentária, altera a fala ou se torna refúgio em situações emocionais. Melhor prevenção: incentivar a amamentação natural. A sucção digital promove diversas alterações na dentição: pode acarretar algumas alterações no sistema estomatognático, como retrognatismo mandibular, prognatismo maxilar, musculatura labial sub. Hipotônica, atresia do palato, interposição de língua e respiração bucal. - Nunca criticar, ridicularizar ou aplicar punições por seu filho estar sugando dedo. - Não tente chamar atenção para o ato de sucção, simplesmente mude a atenção para outra coisa. - Esqueça receitas como colocar pimenta ou substâncias amargas no dedo. 7. Deglutição Atípica A deglutição normal é fundamental para o bom desenvolvimento e relação entre as arcadas. Ato coordenado e complexo de todos os órgãos fono-articulatórios. Apresenta três fases: Fase bucal; Fase faríngea; Fase esofágica. PRIMEIRA FUNÇÃO – Deglutição. As crianças portadoras de deglutição atípica, apresentam lábios, língua, bochechas e músculos elevadores da mandíbula hipotônicos. – Lábios evertidos; bochechas flácidas; boca entreabertae língua apresenta volume maior do que o normal. Causas: Macroglossia; Anquiloglossia; Perda precoce dos dentes decíduos anteriores; Diastemas anteriores; Sucção digital; Amigdalites; Abaixamento da língua e projeção anterior. 8. Respirador Bucal Um padrão de respiração bucal pode mudar a postura da cabeça, mandíbula e língua. - Obstrução das vias aéreas superiores; desvios de septo nasal; inflamação dos cornetos; asma brônquica; alergias; amígdalas e adenóides hipertrofiadas. Ocorre: estreitamento do arco dentário superior e intalação de mordida cruzada posterior. a. Face adenoidiana: Rosto alongado e estreito; Olheiras profundas; lábios entreabertos/ hipotônicos; hiperemia gengival; projeção dos dentes anteriores; arco superior atrésico/ profundo. Etiologia: Desvio de septo nasal; hipertrofia da adenóide, hipertrofia das tonsilas, atresia congênita das coanas e estenose das narinas. Maria Accioly - Odontologia CESMAC 2022.1 Odontologia Infantil I • Fonação Anormal Os problemas de fonação não são propriamente causas de má oclusão, mas são um sinal evidente que existe uma alteração no binômio forma-função. A dicção defeituosa mostra que a língua não se encontra na posição correta no ato da fala e da deglutição. 9. Outros hábitos - Postura: A criança adquire hábito de postura, que espontaneamente, quer por imitação. O hábito de postura resulta em uma mordida cruzada posterior unilateral verdadeira (sem desvio da linha média). - Onicofagia: durante a anamnese já pode ser observada; psicólogos acreditam que pode se tratar de um individuo com ansiedade ou personalidade mal ajustada. Nenhuma má oclusão específica ela causa. As vezes causa retração gengival. Etiologia: Componente emocional, stress, imitação, falta de cuidado no trato das unhas, transferência do hábito de sucção e hereditariedade. Rara em crianças com menos de 3 anos de idade; grande aumento a partir dos 10 anos de idade. Tratamento: Remoção das causas que levam ao stress. Terapia multidisciplinar. - Quilofagia: sucção dos lábios; altera o alinhamento dos dentes, intrusão dos incisivos superiores, pode ocorrer uma mordida aberta anterior e línguo-versão dos incisivos inferiores. - Bruxismo: é encontrado em crianças que apresentam alergia, asma, distúrbio digestivo, tensão nervosa. O uso de placa de mordida na dentição decídua apenas é indicado nos casos severos. Etiologia: multifatorial; Locais (contatos prematuros; interferências oclusais); Sistêmicos (portadores de asma; rinite; distúrbios do S.N.C.) Psicológicos (estresse, ansiedade). Ocupacionais (esportes de competição) Hereditários; Distúrbios do sono ou as parassomias. O tratamento do bruxismo é individualizado e varia de acordo com o fator etiológico. – Terapia multidisciplinar. 10. Remoção do Hábito A aceitação da criança ao tratamento é fundamental para o seu sucesso e para prevenir ou amenizar os possíveis efeitos psicológicos envolvidos. • Quando o hábito deixa de ser normal? Físico x psíquico x social. • Quando não tratar o hábito? Crianças com menos de 5 anos e/ou crianças que estão doentes, perturbadas, aflitas, feridas, opõem-se ao tratamento. Todo tipo de tratamento deve ser apropriado ao desenvolvimento, compreensão e capacidade de colaboração da criança. - Reduzir ou eliminar o hábito e seus efeitos deletérios ao complexo craniofacial e à dentição da criança. • Métodos de motivação: Mostrar a criança as consequências do hábito por meio de fotos e modelos de maloclusões e, também, de arcos saudáveis, rostos bonitos. Recursos: pastas de motivação; filmes/ slides; internet e modelos de gesso ou pré- fabricados. Explorar a vaidade da criança – “como se vê mais bonita, com ou sem o dedo/ chupeta?” – sensibilidade de perceber que ainda não é o momento adequado para a remoção do hábito. Maria Accioly - Odontologia CESMAC 2022.1 Odontologia Infantil I Tática da Suspensão e Reforço positivo: explicação minuciosa do hábito e suas consequências; Pedimos para que a criança tente se lembrar das explicações sempre que tiver vontade de praticar o hábito. *Importante: Elogio e incentivo dentista quando a criança conseguir abandonar o hábito. Conversa com os pais – são parte integrante do tratamento. A recompensa ou incentivo com uma explicação adequada podem ser favoráveis na restrição do hábito. 11. Considerações Finais A aceitação da criança é fundamental para o sucesso do tratamento. Assim preveniremos os possíveis danos psicológicos envolvidos. Os pais têm papel importante no processo de remoção do hábito, através do reforço positivo, atenção e carinho diários, sendo o dentista responsável pela orientação deles. ________________________________________ Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a Ele. I João 3:1
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