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Alergia alimentar

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SOI IV “Bom que não é bom” 
 
 
 As alterações vasculares iniciais que ocorrem 
durante as reações de hipersensibilidade imediata são 
demonstradas pela reação de pápula e eritema à 
injeção intradérmica de um alérgeno. 
 
 Quando um indivíduo que encontrou previamente 
um alérgeno e produziu anticorpo IgE é desafiado pela 
injeção intradérmica do mesmo antígeno, o sítio de 
injeção se torna avermelhado em consequência dos 
vasos sanguíneos localmente dilatados ingurgitados de 
hemácias. 
 
 O sítio então incha rapidamente como resultado do 
extravasamento plasmático das vênulas. 
 Esse leve inchaço é denominado pápula e pode 
envolver uma área cutânea que mede alguns 
centímetros de diâmetro. 
 Subsequentemente, os vasos sanguíneos nas 
margens da pápula dilatam e se tornam ingurgitados 
com hemácias, produzindo uma borda vermelha 
característica chamada eritema. A reação completa de 
pápula e eritema pode surgir em 5-10 minutos após a 
administração do antígeno e geralmente desaparece 
em menos de 1 hora. 
 
 Hipersensibilidade Imediata (Tipo I) 
 
 Hipersensibilidade imediata ou do tipo I é uma 
reação imunológica rápida que ocorre em um 
indivíduo previamente sensibilizado, e que é 
impulsionada pela ligação de um antígeno ao 
anticorpo IgE na superfície dos mastócitos. 
 Essas reações são frequentemente chamadas de 
alergia e os antígenos que as induzem são os 
alérgenos. 
 
 A hipersensibilidade imediata pode ocorrer como um 
distúrbio sistêmico ou como uma reação local. 
 A reação sistêmica ocorre mais frequentemente 
após a injeção de um antígeno em um indivíduo 
sensibilizado (p. ex., por um ferrão de abelha), mas 
também pode ocorrer após a ingestão de antígenos (p. 
ex., alérgenos do amendoim). 
 Algumas vezes, em minutos, o paciente entra em 
estado de choque, que pode ser fatal. 
 
 As reações locais são diversas e variam dependendo 
da porta de entrada do alérgeno. 
 Elas podem assumir a forma de erupções cutâneas 
localizadas ou bolhas (alergia cutânea, urticária), 
descarga nasal e conjuntival (rinite e conjuntivite 
alérgicas), febre do feno, asma brônquica ou 
gastroenterite alérgica (alergia alimentar). 
 
 Muitas reações de hipersensibilidade tipo I 
localizadas têm duas fases bem definidas. 
 
 A reação imediata caracteriza-se por vasodilatação, 
extravasamento vascular e, dependendo da 
localização, espasmo muscular liso ou secreções 
glandulares. 
 Essas alterações geralmente se tornam evidentes em 
minutos após a exposição a um alérgeno e tendem a 
retroceder em poucas horas. 
 
 Em muitos casos (p. ex., rinite alérgica e asma 
brônquica), estabelece-se uma segunda reação de fase 
tardia, 2 a 24 horas depois sem exposição adicional ao 
antígeno, e que pode durar vários dias. 
 Essa reação de fase tardia se caracteriza por 
infiltração dos tecidos com eosinófilos, neutrófilos, 
basófilos, monócitos e células T CD4+, bem como por 
destruição tecidual, tipicamente sob a forma de lesão 
celular epitelial da mucosa. 
 
 A maioria das desordens por hipersensibilidade 
imediata é causada por respostas TH2 excessivas e 
essas células possuem um papel fundamental por 
estimular a produção de IgE e promover a inflamação. 
 Essas desordens mediadas por TH2 apresentam uma 
sequência de eventos característica, descrita a seguir. 
 OBJETIVOS 
• Relembrar a reação de hipersensibilidade do 
tipo 1, com foco na alergia alimentar 
(alérgenos alimentares) (resposta a toxina é a 
mesma entre o amendoim ou camarão) 
• Compreender a etiologia, fisiopatologia, 
manifestações clinicas e diagnóstico da reação 
alérgica alimentar 
• Entender as condutas adotadas diante da 
alergia alimentar (opcional) 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 
Ativação das Células TH2 e Produção do 
Anticorpo IgE 
 
 O primeiro passo para a geração das células TH2 é a 
apresentação do antígeno às células T auxiliares CD4+ 
naive, provavelmente por células dendríticas que 
capturam o antígeno do seu local de entrada. 
 Por motivos que ainda não são compreendidos, 
apenas alguns antígenos ambientais geram fortes 
respostas TH2 e, portanto, exercem a função de 
alérgenos. 
 Em resposta ao antígeno e a outros estímulos, 
incluindo citocinas como a IL-4 produzida no local, as 
células T diferenciam-se em células TH2. 
 As células TH2 recém-criadas produzem uma série 
de citocinas como consequência do encontro com um 
antígeno; como mencionado, as citocinas sinalizadoras 
desse subgrupo são a IL-4, IL-5 e IL-13. 
 A IL-4 age nas células B estimulando a troca de 
classe para a IgE e promove o desenvolvimento de 
mais células TH2. 
 A IL-5 está envolvida no desenvolvimento e na 
ativação dos eosinófilos, os quais são importantes 
efetores da hipersensibilidade tipo I (ver adiante). 
 A IL-3 aumenta a produção de IgE e age nas células 
epiteliais estimulando a secreção do muco. Além 
disso, as células TH2 (bem como os mastócitos e as 
células epiteliais) produzem quimiocinas que atraem 
mais células TH2, bem como outros leucócitos, para o 
local da reação. 
 
 Sensibilização e Ativação dos Mastócitos 
 
 Como os mastócitos são fundamentais para o 
desenvolvimento da hipersensibilidade imediata, 
primeiramente nós vamos rever algumas de suas 
características mais relevantes. 
 Mastócitos são células derivadas da medula óssea 
que estão amplamente distribuídas nos tecidos. 
 São abundantes perto dos vasos sanguíneos e 
nervos e em tecidos subepiteliais, o que explica 
porque as reações de hipersensibilidade imediata 
locais costumam ocorrer nessas áreas. 
 
 Os mastócitos têm grânulos citoplasmáticos ligados 
à membrana que contêm vários mediadores 
biologicamente ativos, descritos posteriormente. 
 Os grânulos também contêm proteoglicanas ácidas 
que se ligam a corantes básicos, como o azul de 
toluidina. (Mast, em alemão, refere-se à engorda de 
animais, e o nome dessas células vem da crença 
errônea de que seus grânulos alimentariam o tecido 
onde essas células estão localizadas.) 
 
 Como será detalhado a seguir, os mastócitos (e sua 
contraparte circulante, os basófilos) são ativados por 
ligação cruzada de alta afinidade a receptores Fc da 
IgE; além disso, os mastócitos também podem ser 
ativados por vários outros estímulos, como os 
componentes do complemento C5a e C3a (chamados 
anafilatoxinas porque desencadeiam reações que 
simulam a anafilaxia), que atuam através da ligação a 
receptores na membrana dos mastócitos. 
 Outros secretagogos dos mastócitos incluem 
algumas quimiocinas (p. ex., IL-8), fármacos como a 
codeína e a morfina, adenosina, melitina (presente no 
veneno das abelhas) e estímulos físicos (p. ex., calor, 
frio, luz do sol). 
 
 Os basófilos são semelhantes aos mastócitos em 
muitos aspectos, incluindo a presença de receptores Fc 
da IgE na superfície celular e grânulos citoplasmáticos. 
 Ao contrário dos mastócitos, porém, os basófilos não 
estão normalmente presentes nos tecidos, mas 
circulam no sangue em número extremamente 
pequeno. 
 Como os outros granulócitos, os basófilos podem ser 
recrutados para os locais de inflamação. 
 
 Os mastócitos e basófilos expressam um receptor de 
alta afinidade, chamado Fc RI, que é específico para a 
porção Fc da IgE e, portanto, liga-se avidamente aos 
anticorpos IgE. 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 Mastócitos revestidos por IgE são ditos 
sensibilizados, pois são sensíveis ao encontro 
subsequente com o antígeno específico. 
 
 Quando um mastócito carregado com anticorpos 
IgE previamente produzidos em resposta a um 
antígeno é exposto ao mesmo antígeno, a célula é 
ativada, resultando na liberaçãode um arsenal de 
mediadores potentes responsáveis pelos aspectos 
clínicos das reações de hipersensibilidade imediata. 
 
 Na primeira etapa da sequência da ativação dos 
mastócitos, o antígeno liga-se aos anticorpos IgE 
previamente fixados aos mastócitos. 
 
 Antígenos multivalentes ligam-se e fazem ligação 
cruzada com anticorpos IgE adjacentes. 
 
 Os receptores Fc subjacentes são reunidos, o que 
ativa as vias de transdução de sinal a partir da porção 
citoplasmática dos receptores. 
 
 Esses sinais resultam na produção dos mediadores 
que são responsáveis pelos sintomas iniciais, algumas 
vezes explosivos, da hipersensibilidade imediata e 
também colocam em ação os eventos que levam à 
reação de fase tardia. 
 
 Mediadores da Hipersensibilidade Imediata 
 
 A ativação dos mastócitos leva à degranulação, com 
a descarga de mediadores pré-formados (primários) 
que estão armazenados nos grânulos, e à síntese e 
liberação de mediadores secundários, incluindo 
produtos lipídicos e citocinas. 
 
 
 
 
 Os mediadores contidos nos grânulos dos 
mastócitos são os primeiros a serem liberados e 
podem ser divididos em três categorias: 
 
• Aminas vasoativas. A amina derivada dos mastócitos 
mais importante é a histamina. 
 A histamina causa intensa contração de músculo liso 
e aumento da permeabilidade vascular e da secreção 
de muco pelas glândulas nasais, brônquicas e 
gástricas. 
 
• Enzimas. Estão contidas na matriz dos grânulos e 
incluem proteases neutras (quimase, triptase) e várias 
hidrolases ácidas. 
 As enzimas causam dano tecidual e levam à 
produção de cininas e de componentes do 
complemento ativados (p. ex., C3a), através da atuação 
sobre suas proteínas precursoras. 
 
• Proteoglicanas. Estas incluem a heparina, 
anticoagulante bem conhecido, e o sulfato de 
condroitina. 
 As proteoglicanas servem para empacotar e 
armazenar as aminas nos grânulos. 
 
 
 Os principais mediadores lipídicos são os produtos 
derivados do ácido araquidônico. 
 Reações nas membranas dos mastócitos resultam na 
ativação da fosfolipase A2, uma enzima que converte 
os fosfolipídios da membrana em ácido araquidônico. 
 
 Esse é o composto original a partir do qual são 
produzidos os leucotrienos e as prostaglandinas pelas 
vias da 5-lipoxigenase e ciclo-oxigenase, 
respectivamente. 
 
• Leucotrienos. Os leucotrienos C4 e D4 são os agentes 
vasoativos e espasmódicos conhecidos mais potentes. 
Com base na molaridade, eles são vários milhares de 
vezes mais ativos do que a histamina no aumento da 
permeabilidade vascular e na promoção da contração 
da musculatura lisa brônquica. 
 O leucotrieno B4 é altamente quimiotático para 
neutrófilos, eosinófilos e monócitos. 
 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
• Prostaglandina D2. Esse é o mediador mais 
abundante produzido nos mastócitos pela via da ciclo-
oxigenase. 
 Ela causa intenso broncospasmo, bem como 
aumento da secreção de muco. 
 
• Fator ativador de plaquetas (PAF). O PAF é um 
mediador lipídico produzido por algumas populações 
de mastócitos, mas não é derivado do ácido 
araquidônico. 
 Ele causa agregação plaquetária, liberação de 
histamina, broncospasmo, aumento da 
permeabilidade vascular e vasodilatação. 
 Seu papel nas reações de hipersensibilidade 
imediata não está bem estabelecido. 
 
 
 Os mastócitos são fonte de muitas citocinas, as 
quais desempenham um papel importante em vários 
estágios das reações de hipersensibilidade imediata. 
 
 As citocinas incluem: TNF, IL-1 e quimiocinas, que 
promovem o recrutamento de leucócitos (típico da 
reação de fase tardia); IL-4, que amplifica a resposta 
TH2, e muitas outras. 
 
 As células inflamatórias recrutadas pelo TNF e 
quimiocinas derivados dos mastócitos são fontes 
adicionais de citocinas e fatores liberadores de 
histamina que causam degranulação de mastócitos 
adicional. 
 Esses mediadores são responsáveis pelas 
manifestações das reações de hipersensibilidade 
imediata. 
 
 Alguns, como a histamina e os leucotrienos, são 
liberados rapidamente a partir de mastócitos 
sensibilizados e são responsáveis pelas reações 
imediatas intensas, caracterizadas por edema, 
secreção de muco e espasmo da musculatura lisa; 
outros, exemplificados pelas citocinas, incluindo as 
quimiocinas, preparam o ambiente para a resposta de 
fase tardia recrutando leucócitos adicionais. 
 
 Essas células inflamatórias não somente liberam 
novas ondas de mediadores (incluindo citocinas), mas 
também causam lesão em células epiteliais. 
 As próprias células epiteliais não são espectadoras 
passivas nesta reação; elas também podem produzir 
mediadores solúveis, como as quimiocinas. 
 
 Reação de Fase Tardia 
 
 Na reação de fase tardia, os leucócitos são 
recrutados para ampliar e sustentar a resposta 
inflamatória sem exposição adicional ao antígeno 
desencadeante. Eosinófilos geralmente são uma 
população de leucócitos abundante nessas reações. 
 Eles são recrutados para locais de 
hipersensibilidade imediata através das quimiocinas, 
como a eotaxina e outras que são produzidas por 
células epiteliais, células TH2 e mastócitos. 
 
 A IL-5 do TH2 é a citocina ativadora de eosinófilos 
conhecida mais potente. 
 Como consequência da sua ativação, os eosinófilos 
liberam enzimas proteolíticas, bem como duas 
proteínas únicas chamadas proteína básica principal e 
proteína catiônica do eosinófilo, que danificam os 
tecidos. 
 
 Atualmente acredita-se que a reação de fase tardia 
seja a principal causa dos sintomas em alguns 
distúrbios de hipersensibilidade tipo I, como a asma 
alérgica. 
 Portanto, o tratamento dessas doenças requer o uso 
de medicamentos anti-inflamatórios de amplo 
espectro, como esteroides, em vez de medicamentos 
anti-histamínicos, que são benéficos na reação 
imediata, como a que ocorre na rinite alérgica (febre 
do feno). 
 
 Desenvolvimento de Alergias 
 
 A suscetibilidade a reações de hipersensibilidade 
imediata é geneticamente determinada. 
 Uma predisposição aumentada para o 
desenvolvimento das reações de hipersensibilidade 
imediata é chamada de atopia. 
 Os indivíduos atópicos tendem a ter níveis séricos 
de IgE mais elevados e mais células TH2 produtoras de 
IL-4 que a população geral. Uma história familiar 
positiva de alergia é encontrada em 50% dos indivíduos 
atópicos. 
 
 A base da predisposição familiar não está clara, mas 
estudos em pacientes com asma revelam sua ligação a 
polimorfismos em diversos genes. 
 Alguns desses genes estão localizados na região 5q31 
do cromossomo; eles incluem genes codificadores das 
citocinas IL-3, IL-4, IL-5, IL-9, IL-13 e GM-CSF. 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 Esse locus tem atraído grande atenção em razão dos 
papéis conhecidos de muitas dessas citocinas na 
reação alérgica, mas ainda não se sabe como os 
polimorfismos associados à doença influenciam no 
desenvolvimento de alergias. 
 Também se observou ligação com o 6p, próximo ao 
complexo do HLA, sugerindo que a herança de certos 
alelos do HLA permite a reatividade a certos alérgenos. 
 
 Os fatores ambientais também são importantes no 
desenvolvimento de doenças alérgicas. 
 A exposição a poluentes ambientais, que é comum 
nas sociedades industrializadas, é um fator 
predisponente importante para a alergia. 
 De fato, sabe-se que os cães e gatos se afastaram dos 
seres humanos há cerca de 95 milhões de anos e os 
chimpanzés apenas há cerca de 4-5 milhões de anos, 
sugerindo que os chimpanzés compartilham mais 
genes conosco do que os cães e gatos. 
 No entanto, os cães e gatos que vivem no mesmo 
ambiente que os seres humanos desenvolvem alergiase os chimpanzés, não. 
 
 Essa observação simples sugere que os fatores 
ambientais são mais importantes no 
desenvolvimento de doença alérgica do que a 
genética. 
 As infecções virais das vias aéreas são gatilhos 
importantes para a asma brônquica, uma doença 
alérgica que afeta os pulmões (Cap. 15). Infecções 
bacterianas da pele estão fortemente associadas com 
a dermatite atópica. 
 
 Estima-se que 20% e 30% das reações de 
hipersensibilidade imediata sejam desencadeadas por 
estímulos não antigênicos como extremos de 
temperatura e o exercício e não envolvam células TH2 
ou IgE; tais reações são, por vezes, chamadas de alergia 
não atópica. 
 Acredita-se que, nesses casos, os mastócitos sejam 
anormalmente sensíveis à ativação por vários 
estímulos não imunes. 
 
 A incidência de muitas doenças alérgicas está 
aumentando nos países desenvolvidos e parece estar 
relacionada com a diminuição das infecções durante os 
primeiros anos de vida. 
 Essas observações nos levam a uma ideia, às vezes 
chamada de hipótese da higiene, de que a exposição a 
antígenos microbianos no início da infância e mesmo 
na fase pré-natal educa o sistema imunológico, de 
forma que as respostas patológicas subsequentes 
contra alérgenos ambientais comuns sejam evitadas. 
 Dessa forma, o excesso de higiene na infância 
aumenta as alergias mais tarde na vida. Essa hipótese, 
contudo, é difícil de ser comprovada, e os mecanismos 
subjacentes não estão definidos. 
 Com essa consideração dos mecanismos básicos da 
hipersensibilidade tipo I, voltamo-nos para alguns 
exemplos clinicamente importantes de doenças 
mediadas por IgE. Essas reações podem resultar em um 
amplo espectro de lesões e manifestações clínicas 
(Tabela 6-2). 
 
 A anafilaxia sistêmica caracteriza-se por choque 
vascular, edema generalizado e dificuldade de 
respiração. 
 
 Ela ocorre em indivíduos sensibilizados no ambiente 
hospitalar após a administração de proteínas 
estranhas (p. ex., antissoro), hormônios, enzimas, 
polissacarídeos e medicamentos (p. ex., o antibiótico 
penicilina), ou na comunidade após a exposição a 
alérgenos alimentares (p. ex., amendoins e crustáceos) 
ou a toxinas de insetos (p. ex., as encontradas no 
veneno da abelha). 
 
 Doses extremamente pequenas de antígenos podem 
desencadear a anafilaxia, por exemplo, as diminutas 
quantidades utilizadas no teste cutâneo para várias 
formas de alergia. 
 Em razão do risco de reações alérgicas graves a 
quantidades muito pequenas de amendoim, as 
agências dos EUA estão considerando a proibição de 
lanches com amendoim servidos nas instalações 
restritas dos aviões comerciais. minutos após a 
exposição aparecem o prurido, a urticária e o eritema 
cutâneo, seguidos por uma contração importante dos 
bronquíolos respiratórios e dificuldade respiratória. 
 O edema laríngeo resulta em rouquidão e 
compromete a respiração. Seguem-se vômitos, cólicas 
abdominais, diarreia e obstrução laríngea, o paciente 
evolui para o choque e pode morrer dentro de 1 hora. 
 O risco de anafilaxia deve ser mantido em mente 
quando certos agentes terapêuticos são 
administrados. 
 Embora os pacientes de risco sejam geralmente 
identificados pelo antecedente de alguma forma de 
alergia, a ausência de tal história não afasta a 
possibilidade de uma reação anafilática. 
 
 Reações de Hipersensibilidade Imediata Localizadas 
 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 Cerca de 10% a 20% da população sofre de alergias 
envolvendo reações localizados a alérgenos ambientais 
comuns, como o pólen, pelos de animais, poeira 
doméstica, alimentos e similares. 
 Doenças específicas incluem urticária, rinite alérgica 
(febre do feno), asma brônquica e alergias a alimentos; 
estas serão discutidas em outra parte do texto. 
 
Doenças Alérgicas em Seres Humanos, Patogênese e 
Terapia 
 
 As manifestações de doenças alérgicas dependem 
dos tecidos em que atuam os mediadores dos 
mastócitos e as citocinas do tipo 2, bem como da 
cronicidade do processo inflamatório resultante. 
 Indivíduos atópicos podem ter um ou mais tipos de 
alergia e as formas mais comuns são a rinite alérgica, 
asma brônquica, dermatite atópica e alergias 
alimentares. 
 
 As características clínicas e patológicas das reações 
alérgicas variam com o sítio anatômico da reação, por 
diversos motivos. 
 O ponto de contato com o alérgeno pode 
determinar os órgãos ou tecidos onde os mastócitos e 
células Th2 são ativados. 
 Por exemplo, antígenos inalados causam rinite ou 
asma, antígenos ingeridos costumam causar vômito e 
diarreia (mas também podem produzir sintomas 
cutâneos e respiratórios, se doses grandes forem 
ingeridas), e antígenos injetados produzem efeitos 
sistêmicos sobre a circulação. A concentração de 
mastócitos em vários órgãos-alvo influencia a 
gravidade das respostas. 
 
 Os mastócitos são particularmente abundantes na 
pele e mucosa dos tratos respiratório e 
gastrintestinal, e esses tecidos frequentemente 
sofrem a maior parte da lesão durante as reações de 
hipersensibilidade imediata. 
 O fenótipo do mastócito local pode influenciar as 
características da reação de hipersensibilidade 
imediata. 
 Exemplificando, os mastócitos do tecido conectivo 
produzem histamina em abundância e são 
responsáveis pelas reações de pápula e eritema na 
pele. 
 Na próxima seção, discutiremos as principais 
características das doenças alérgicas manifestadas em 
diferentes tecidos. 
 
Reações de Hipersensibilidade Imediata no Trato 
Respiratório Superior, no Trato Gastrintestinal e na 
Pele 
 
 As alergias alimentares são reações de 
hipersensibilidade imediata a alimentos ingeridos, 
levando à liberação de mediadores por mastócitos de 
mucosa e submucosa intestinal do trato 
gastrintestinal, incluindo a orofaringe. 
 
 As manifestações clínicas resultantes são prurido, 
edema tecidual, peristaltismo aumentado, secreção 
aumentada de fluido epitelial e sintomas associados 
ao inchaço orofaríngeo, vômito e diarreia. 
 Rinite, urticária e broncoespasmo levem também 
estão frequentemente associados a reações alérgicas 
a alimentos, sugerindo exposição antigênica sistêmica, 
e a anafilaxia ocasionalmente pode ocorrer. 
 Foram descritas reações alérgicas a muitos tipos 
diferentes de alimentos; alguns dos mais comuns são 
amendoim e mariscos. 
 Os indivíduos podem ser sensíveis o suficiente a 
esses alérgenos para que ocorram reações sistêmicas 
graves em resposta a pequenas ingestas acidentais. 
 
 
 Define-se como alérgeno, qualquer substância capaz 
de estimular uma resposta de hipersensibilidade. 
 Os alérgenos alimentares são na sua maior parte 
representados por glicoproteínas hidrossolúveis com 
peso molecular entre 10 e 70 kDa. 
 Podem sofrer modificações conforme o 
processamento do alimento ou durante a digestão, 
resultando em aumento ou diminuição da 
alergenicidade. 
 
 Um epítopo alergênico pode ser de origem 
conformacional, quando a estrutura terciária da 
proteína é que suscita a resposta imunológica. 
 Epítopos conformacionais podem perder sua 
capacidade de ligação ao anticorpo quando 
submetidos a processos de cocção, hidrólise ou outros 
procedimentos químicos. 
 
 Epítopos também podem ser lineares, uma 
sequência de aminoácidos que se liga ao anticorpo e, 
neste cenário, procedimentos químicos simples são 
incapazes de modificar sua alergenicidade. 
 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 Os alérgenos alimentares relacionados a 
manifestações mais graves de alergia são em geral 
termoestáveis e resistentes à ação de ácidos e 
proteases. 
 Há três possibilidades de um alimento se tornar 
capaz de induzir reações: 
 
• Quando o alimento é ingerido ou há contato coma pele ou o trato respiratório; 
• Quando, pela reatividade cruzada, houve 
produção de IgE específica e sensibilização antes 
mesmo do contato com o alimento; 
• Quando há reatividade cruzada entre um alérgeno 
inalável (ex. polens, látex) responsável pela 
sensibilização e produção de IgE e ingestão do 
alimento. 
 Embora virtualmente qualquer alimento possa 
causar alergia, cerca de 80% das manifestações de 
alergia alimentar ocorrem com a ingestão de leite de 
vaca, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e 
crustáceos. 
 Deve-se destacar, entretanto, que novos alérgenos 
têm sido descritos, como kiwi e gergelim, e alguns 
deles bastante regionais, como a mandioca. 
 
 O conceito clássico de alérgeno envolve proteínas 
que suscitam uma resposta de hipersensibilidade; 
entretanto há, em alergia alimentar, importante 
exceção que precisa ser destacada: alérgenos 
compostos por carboidratos. 
 O mecanismo pelo qual estes compostos conseguem 
estimular a produção de IgE específica ainda não é 
muito conhecido, mas estima-se que ao conjugar-se 
com uma proteína do organismo seria capaz de 
estimular a síntese de IgE específica via receptores 
presentes na superfície de linfócitos B. 
 
Componentes Alérgenos e Alérgenos 
Alimentares 
 
 Embora a maior parte das alergias alimentares se 
restrinja a um pequeno número de possíveis 
desencadeantes, estes alimentos são muito complexos 
quando se avalia seu potencial alergênico. 
 Cada um destes alimentos é um conjunto de 
proteínas que pode, de maneira diferenciada, 
estimular o sistema imunológico a produzir IgEs 
específicas e causar reações graves. 
 Até mesmo carboidratos de alguns alimentos têm 
sido descritos como deflagradores de reações. 
 Esta possibilidade de fracionar o alérgeno e entender 
alguns de seus componentes como de potencial 
importância para definição de risco de reação clínica, 
reatividade cruzada ou mesmo de persistência da 
alergia, inaugurou uma nova era na alergia, 
denominada "alergia molecular”. 
 
 
 Considerada atualmente um problema de saúde 
pública, a alergia alimentar é definida como uma 
doença consequente a uma resposta imunológica 
anômala, que ocorre após a ingestão e/ou contato 
com determinado (s) alimento (s). 
 
 A alergia alimentar representa um capítulo à parte 
entre as reações adversas a alimentos. 
 De acordo com os mecanismos fisiopatológicos 
envolvidos, as reações adversas a alimentos podem ser 
classificadas em imunológicas ou não-imunológicas. 
 
 A alergia e intolerância são conceitos que muitas 
vezes são confundidos. 
 A alergia é uma reação exagerada do sistema 
imunitário em relação a um determinado alimento 
enquanto que a intolerância é uma reação adversa do 
organismo a alimentos e é causada por mecanismos 
não imunológicos. 
 Portanto, assim não existe uma “alergia à lactose”, 
mas sim uma intolerância à lactose 
 
 A alergia alimentar é apenas um dos tipos de reações 
adversas a alimentos. 
 Reação adversa é qualquer resposta anormal do 
organismo causada pela ingestão de um alimento. 
 As reações adversas a alimentos são inicialmente 
divididas em tóxicas e não tóxicas. 
 As reações tóxicas dependem de fatores inerentes 
ao alimento, como as toxinas produzidas na 
deterioração, afetando qualquer indivíduo que ingira o 
alimento em quantidade suficiente para produzir 
sintomas. 
 As reações não tóxicas dependem da suscetibilidade 
individual e podem ser divididas em reações 
imunomediadas (alergia alimentar) e não 
imunomediadas (intolerância alimentar). 
 
 Atualmente, tem sido sugerido o termo 
hipersensibilidade alimentar para abranger tanto as 
reações imunomediadas, chamadas hipersensibilidade 
alimentar alérgica, quanto as não imunomediadas, 
 
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denominadas hipersensibilidade alimentar não 
alérgica. 
 
 A intolerância alimentar pode decorrer de 
deficiências enzimáticas (intolerância a lactose), 
reatividade anormal a certas substâncias presentes nos 
alimentos (aditivos alimentares) ou mecanismos 
desconhecidos. 
 A alergia pode ter mecanismo imune IgE ou não IgE 
mediado. 
 
• As reações não-imunológicas dependem 
principalmente da substância ingerida (p. ex: 
toxinas bacterianas presentes em alimentos 
contaminados) ou das propriedades 
farmacológicas de determinadas substâncias 
presentes em alimentos (p. ex: cafeína no café, 
tiramina em queijos maturados). 
 As reações adversas não imunológicas podem 
ser desencadeadas também pela fermentação e 
efeito osmótico de carboidratos ingeridos e não 
absorvidos. 
 O exemplo clássico é a intolerância por má 
absorção de lactose. 
 
• As reações imunológicas dependem de 
susceptibilidade individual e podem ser 
classificadas segundo o mecanismo imunológico 
envolvido. “Alergia alimentar” é um termo 
utilizado para descrever as reações adversas a 
alimentos, dependentes de mecanismos 
imunológicos, mediados por anticorpos IgE ou 
não. 
 
 Classificação 
 
 As reações de hipersensibilidade aos alimentos 
podem ser classificadas de acordo com o mecanismo 
imunológico envolvido em: 
 
• Mediadas por IgE 
 
 Decorrem de sensibilização a alérgenos alimentares 
com formação de anticorpos específicos da classe IgE, 
que se fixam a receptores de mastócitos e basófilos. 
 Contatos subsequentes com este mesmo alimento e 
sua ligação a duas moléculas de IgE próximas 
determinam a liberação de mediadores vasoativos e 
citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas 
de hipersensibilidade imediata. 
 São exemplos de manifestações mais comuns que 
surgem logo após a exposição ao alimento: reações 
cutâneas (urticária, angioedema), gastrintestinais 
(edema e prurido de lábios, língua ou palato, vômitos e 
diarreia), respiratórias (broncoespasmo, coriza) e 
reações sistêmicas (anafilaxia e choque anafilático). 
 
• Reações mistas (mediadas por IgE e 
hipersensibilidade celular) 
 
 Neste grupo estão incluídas as manifestações 
decorrentes de mecanismos mediados por IgE 
associados à participação de linfócitos T e de citocinas 
pró-inflamatórias. 
 São exemplos clínicos deste grupo a esofagite 
eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite 
eosinofílica, a dermatite atópica e a asma. 
 
• Reações não mediadas por IgE 
 
 As manifestações não mediadas por IgE não são de 
apresentação imediata e caracterizam-se basicamente 
pela hipersensibilidade mediada por células. 
 Embora pareçam ser mediadas por linfócitos T, há 
muitos pontos que necessitam ser mais estudados 
nesse tipo de reações. 
 Aqui estão representados os quadros de proctite, 
enteropatia induzida por proteína alimentar e 
enterocolite induzida por proteína alimentar. 
 
 
Reações de hipersensibilidade: IgE e não IgE 
mediadas 
 
 As manifestações clínicas das reações de 
hipersensibilidade aos alimentos são dependentes 
dos mecanismos imunológicos envolvidos. 
 Enquanto as reações mediadas por IgE tipicamente 
ocorrem minutos após a exposição ao alimento 
envolvido, as não-mediadas por IgE e as formas mistas 
podem demorar de horas até dias para se tornarem 
clinicamente evidentes. 
 
 As respostas de hipersensibilidade induzidas por 
antígenos alimentares mediadas por IgE podem ser o 
resultado de falta da indução ou quebra dos 
mecanismos de tolerância oral no trato 
gastrintestinal, que ocorrem em indivíduos 
geneticamente predispostos. 
 
 
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 Tanto na falta de indução, como na quebra dos 
mecanismos de tolerância, ocorre produção excessiva 
de IgE específica ao alimento envolvido. 
 Estes anticorpos ligam-se a receptores de alta 
afinidade (FceRI), presentes em mastócitos e basófilos 
e em receptoresde baixa afinidade (FceRII), presentes 
em macrófagos, monócitos, linfócitos, eosinófilos e 
plaquetas. 
 
 Com uma nova exposição ao alérgeno alimentar, 
ocorre sua ligação aos anticorpos IgE específicos, 
fixados em mastócitos e basófilos, sendo liberados 
mediadores como histamina, prostaglandinas e 
leucotrienos, que promovem vasodilatação, 
contração do músculo liso e secreção de muco, com 
indução de sintomas característicos. 
 A ativação de mastócitos também promove a 
liberação de várias citocinas, que são importantes na 
fase tardia da resposta IgE-mediada. 
 
 Embora vários relatos discutam outros mecanismos 
de hipersensibilidade não mediados por IgE, as 
evidências que dão respaldo ao seu papel são 
limitadas, sendo a resposta de hipersensibilidade 
celular tipo IV (induzida por células), a mais 
relacionada com várias doenças, e nela a resposta 
clínica pode ocorrer de várias horas até dias após a 
ingestão do alimento suspeito. 
 Esta resposta celular pode contribuir em várias 
reações aos alimentos, como nas enterocolites e nas 
enteropatias induzidas por proteínas alimentares, mas 
há necessidade de mais estudos comprovando esse 
mecanismo imunológico. 
 
A alergia alimentar ocorre em duas 
etapas 
 
 A sensibilização e a reação propriamente ditam. 
 A etapa de sensibilização ocorre quando a pessoa é 
exposta pela primeira vez a um determinado 
alimento, o que acontece, por vezes, ainda antes do 
nascimento. 
 O sistema imunitário produz, assim, uma grande 
quantidade de IgE específicas para aquele alimento. 
 O indivíduo, nesta fase, não apresenta qualquer tipo 
de sintomas. 
 
 A etapa da reação propriamente dita manifesta-se 
quando há um segundo contato com o alimento, 
mesmo que seja em pequena quantidade, sendo que 
o sistema imunitário reage, desencadeando uma 
reação alérgica. 
 Neste mecanismo de ação estão envolvidas várias 
células do sistema imunológico: linfócitos T efetores e 
reguladores, linfócitos B produtores de 
imunoglobulinas (IgE), células dendríticas, células 
efetoras (mastócitos e basófilos) e mediadores 
inflamatórios (histaminas, citocinas, entre 
outros)/lipídicos: leucotrienos 
 
 As alergias alimentares mediadas por IgE iniciam-se 
por uma interação do composto alergênio do 
alimento às células dendríticas. 
 As células “apresentam” os alergênios às células T 
CD4+, as quais se diferenciam em linfócitos Th2. 
 É através das citocinas IL-3 e IL-4 (interleucinas 3 e 
4) que os linfócitos Th2 promovem a produção de 
anticorpos IgE, através dos linfócitos B. 
 
 Os IgE são incorporados nos mastócitos e basófilos, 
presentes na pele e mucosas, terminando assim a 
etapa da sensibilização. 
 Na situação anterior, verifica-se uma diminuição da 
atividade ou produção dos linfócitos Treg (linfócito T 
regulador – supressor), estas células inativam os 
linfócitos Th2, inibindo a resposta inflamatória da 
reação alérgica. 
 Nesta etapa, os linfócitos T de memória “lembram” 
este primeiro contato, que ocorreu entre o organismo 
e o alergénio, durante um intervalo de tempo bastante 
longo que pode durar vários anos. 
 
 Numa segunda exposição ao alergénio, a reação 
alérgica é desencadeada pela ligação do alergénio aos 
mastócitos ou basófilos, através dos IgE específicos, 
anteriormente produzidos. 
 Este processo leva à degranulação dos mastócitos, 
libertação de pequenos grânulos que contêm 
substâncias químicas, mediadores inflamatórios 
(histamina, citocinas, leucotrienos, prostaglandinas, 
entre outros). 
 Estes são responsáveis por todos os sintomas 
característicos das reações alérgicas alimentares, 
causando, por exemplo, alterações morfológicas e 
funcionais da mucosa intestinal. 
 
 Etiologia 
 
 Quase qualquer alimento ou aditivo alimentar 
pode causar uma reação alérgica, mas os gatilhos mais 
comuns incluem: 
 
 
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• Em recém-nascidos e crianças jovens: leite, soja, 
ovos, amendoim e trigo; 
• Em crianças mais velhas e adultos: oleaginosas e 
frutos do mar. 
 
 A exposição a outros alérgenos semelhantes aos 
presentes nos alimentos (como pólen) pode 
desencadear a produção de anticorpos contra 
substâncias nos alimentos, resultando em alergia 
alimentar. 
 Este processo é chamado sensibilização. Por 
exemplo, crianças alérgicas a amendoim podem ter 
sido sensibilizadas ao amendoim quando cremes 
tópicos contendo óleo de amendoim foram usados 
para tratar erupções cutâneas. 
 Além disso, muitas pessoas alérgicas ao látex 
também são alérgicas a banana, kiwi, abacate ou uma 
combinação. O látex e estas frutas contêm alérgenos 
semelhantes. 
 
 Epidemiologia 
 
 Até 15% das pessoas em geral afirmam que podem 
ser alérgicas a algum alimento. 
 Entretanto, estudos sugerem que a prevalência real 
da alergia alimentar é de 3 a 4% entre os adultos e de 
aproximadamente 6% entre as crianças. 
 
 Fatores de risco 
 
 Pesquisas reconheceram que apenas a exposição aos 
alérgenos não determina o aumento global na 
incidência da doença e, assim, a identificação de 
possíveis fatores de risco pode ajudar a elaborar 
recomendações preventivas para indivíduos 
considerados de baixo, médio e alto risco para alergia 
alimentar e outras atopias. 
 Uma série de fatores de risco têm sido associados à 
alergia alimentar, tais como ser lactente do sexo 
masculino, etnia asiática e africana, comorbidades 
alérgicas (dermatite atópica), desmame precoce, 
insuficiência de vitamina D, redução do consumo 
dietético de ácidos graxos poli-insaturados do tipo 
ômega 3, redução de consumo de antioxidantes, uso 
de antiácidos que dificulta a digestão dos alérgenos, 
obesidade como doença inflamatória, época e via de 
exposição aos potenciais alérgenos alimentares e 
outros fatores relacionados à Hipótese da higiene. 
 
 A predisposição genética, associada a fatores de 
risco ambientais, culturais e comportamentais, 
formam a base para o desencadeamento das alergias 
alimentares em termos de frequência, gravidade e 
expressão clínica. 
 
 Apesar de vários fatores de risco para alergia 
alimentar terem sido identificados, ainda não está 
claro quais destes fatores são importantes para a 
elevação da prevalência de alergia alimentar, seja nas 
formas IgE mediadas como nas não IgE mediadas. 
 
 Os fatores de risco, quando estão presentes no início 
da vida, inclusive na gravidez, são de fundamental 
importância. 
 O ideal seria a avaliação da predisposição genética, 
antes ou pelo menos ao nascimento, e a partir da 
identificação dos vários fatores de risco efetuar a 
aplicação imediata de métodos preventivos. 
 
 Herança genética 
 
 Estima-se que os fatores genéticos exerçam papel 
fundamental na expressão da doença alérgica, 
especialmente nas formas mediadas pela IgE. 
 Embora não haja, no momento, testes genéticos 
diagnósticos disponíveis para identificar indivíduos 
com risco de alergia alimentar, a história familiar de 
atopia ainda é o melhor indicativo de risco para o seu 
aparecimento. 
 Em estudo com lactentes comprovadamente 
diagnosticados com alergia alimentar, o risco de 
alergia alimentar foi aumentado para 40% se um 
membro da família nuclear apresentasse qualquer 
doença alérgica, e em 80% quando isto aconteceu em 
dois familiares próximos. 
 Assim, a expressão da herança genética é mais 
intensa quando há antecedentes bilateralmente (pai 
e mãe), determinando sintomas mais precoces e 
frequentes. 
 
 Embora haja alguma evidência que implique genes 
específicos na susceptibilidade a alergias alimentares, 
os estudos não foram replicados em grande escala. 
 As mutações que acarretam perda de função no 
gene da filagrinaforam associadas à alergia ao 
amendoim, independente da presença da dermatite 
atópica, e levantou a possibilidade da pele funcionar 
como uma via potencial de sensibilização. 
 Na Dinamarca, as mutações do gene da filagrina 
também foram associadas ao aumento de alergia 
referida a ovo, leite de vaca, trigo e peixes, bem como 
à presença de níveis elevados de IgE específicos à 
proteína do leite de vaca, todavia, ainda é controversa 
 
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a participação determinante da filagrina na alergia 
alimentar, especialmente em pacientes com história 
familiar de doenças alérgicas. 
 
 Os polimorfismos no gene STAT6 foram associados 
à sensibilização e retardo na tolerância em alergia ao 
leite de vaca. 
 
 Embora pareça muito provável que haja base 
genética para o desenvolvimento de alergias 
alimentares, são necessários mais estudos para 
identificar os loci específicos envolvidos, e como ainda 
não é possível modificá-la, todas as ações devem ser 
direcionadas ao ambiente, no sentido de estabelecer 
os fatores de risco e, a partir destes, tentar evitar a 
sensibilização alérgica. 
 
 Fatores dietéticos 
 
 
 O aleitamento materno e o ato de amamentar são de 
extrema importância na promoção da saúde e na 
prevenção de doenças em curto e longo prazo, para a 
nutriz e seu filho. 
 Assim, o aleitamento materno deve ser 
recomendado de forma exclusiva até o sexto mês e 
complementado (por meio de alimentação 
complementar balanceada e equilibrada) até os dois 
anos ou mais. 
 
 O leite materno contém IgA secretora, que funciona 
como bloqueador de antígenos alimentares e 
ambientais, bem como vários fatores de 
amadurecimento da barreira intestinal e fatores 
imunorreguladores importantes no estabelecimento 
da microbiota. 
 O leite materno tem papel importante na indução 
de tolerância oral, quando o alimento alergênico é 
introduzido de forma complementar, em pequenas 
quantidades. 
 
 O aleitamento materno exclusivo, sem a introdução 
de leite de vaca, de fórmulas infantis à base de leite 
de vaca e de alimentos complementares até os seis 
meses tem sido ressaltado como eficaz na prevenção 
do aparecimento de sintomas alérgicos. 
 Estudo de revisão de trabalhos que avaliaram o 
efeito protetor do leite materno entre lactentes com 
risco familiar de alergia alimentar ao serem 
amamentados exclusivamente até os quatro meses 
de vida, demonstrou redução na incidência cumulativa 
de alergia às proteínas do leite de vaca até os 18 meses, 
e de dermatite atópica até os três anos de idade. 
 
 
 Receber fórmulas de leite de vaca, ainda no 
berçário, pode ser indutor de disbiose intestinal, e 
fator de risco importante de alergia alimentar. 
 Da mesma forma, em crianças de alto risco, vários 
estudos avaliaram o uso de fórmulas de soja ou 
hidrolisados proteicos na redução do risco de alergia às 
proteínas do leite de vaca. 
 A soja não determinou redução do risco e não é 
apropriada para utilização em lactentes menores de 6 
meses. 
 O emprego de fórmulas hidrolisadas a crianças sem 
a possibilidade de aleitamento natural e com alto risco 
de alergia alimentar, com o intuito de reduzir a 
incidência de alergia às proteínas do leite de vaca e de 
outras doenças alérgicas acompanhou-se de resultados 
contraditórios. 
 
 Há algumas evidências que sugerem que fórmulas 
de soro do leite de vaca parcialmente hidrolisadas e 
fórmulas de caseína extensamente hidrolisadas 
podem diminuir o risco de desenvolver eczema para 
lactentes com alto risco de doença alérgica. 
 A evidência de um efeito preventivo de fórmulas 
hidrolisadas sobre rinite alérgica, alergia alimentar e 
asma é inconsistente e insuficiente. 
 
 
 A introdução precoce de leite de vaca, ovo, 
amendoim, castanhas, peixe e frutos do mar poderia 
ser fator de risco e induzir o desenvolvimento de 
alergia alimentar. 
 
 Contudo, na atualidade a noção é oposta, de que a 
exclusão por tempo prolongado de alimentos com 
potencial alergênico pode ser fator de risco porque a 
indução da tolerância oral poderia ser alcançada por 
outras rotas de exposição, particularmente através da 
pele, em especial quando inflamada em pacientes com 
dermatite atópica. 
 A maior diversidade de alimentos na infância pode 
ter efeito protetor sobre a sensibilização alimentar, 
bem como prevenir a alergia alimentar clínica, mais 
tarde na infância. 
 
 
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 É importante ressaltar que há falta de evidências de 
benefícios para introduzir alimentos precocemente, 
visando a prevenção de alergia alimentar. 
 Os estudos disponíveis enfocam a prevenção nas 
formas de alergia mediadas por IgE, portanto, não se 
conhece o efeito dessa introdução nas formas não-IgE 
mediadas. 
 Recomenda-se então manter a norma da OMS, em 
função dos inúmeros benefícios para a saúde materna 
e infantil (em curto e longo prazo): "aleitamento 
materno exclusivo até o sexto mês e complementado 
(alimentação complementar saudável, balanceada e 
equilibrada) até dois anos ou mais". Há ainda, como 
demonstrado pelo EAT Study, preocupações a respeito 
do aumento do risco de FPIES com a introdução 
precoce de alimentos alergênicos (antes dos três 
meses). 
 
 
 Logo após o nascimento, inicia-se a colonização do 
recém-nascido. 
 Alguns fatores que interferem nesse processo são: 
parto cesariano, uso materno de antibiótico, condições 
excessivas de higiene e o uso de fórmula 
complementar oferecida à criança que pode resultar 
em disbiose. 
 O leite materno é rico em oligossacarídeos, 
responsáveis pelo efeito bifidogênico, o que faz com 
que lactentes em aleitamento materno tenham 
aumento de bifidobactérias em seu trato 
gastrintestinal. 
 
 Já as crianças que recebem fórmulas infantis ou leite 
de vaca integral desenvolvem uma microbiota 
intestinal com predomínio de enterobactérias e 
bacteroides, tornando o sistema imunológico mais 
vulnerável à quebra de tolerância. 
 Algumas pesquisas sugerem que a alimentação 
precoce com probióticos poderia reduzir o 
desenvolvimento de doenças alérgicas, 
particularmente dermatite atópica, mas outros 
estudos discordam sobre o papel dos probióticos na 
infância precoce sobre o desenvolvimento de alergia 
alimentar ou outras doenças alérgicas. 
 
 Revisão sistemática avaliou a influência da exposição 
microbiana sobre o aparecimento de alergia alimentar, 
incluindo nascimento por parto cesariano, presença de 
irmãos, atendimento em creches e tratamento com 
probióticos, e não documentou evidências de qualquer 
efeito protetor. 
 Várias organizações internacionais de especialistas 
não recomendam o uso de probióticos e prebióticos 
para a prevenção primária de doenças alérgicas. 
Metanálise recente envolvendo o documento da World 
Allergy Organization (WAO) reconhece que as 
recomendações de ambos, prebióticos e probióticos, é 
condicional e baseada em recomendações de baixa 
qualidade de evidência. 
 
 
 A insuficiência de vitamina D (abaixo de 15 ng/mL) 
foi associada a risco aumentado para a sensibilização 
ao amendoim. 
 A insuficiência de vitamina D como fator de risco 
para alergia alimentar é mais frequente em países 
distantes do Equador e com menor radiação 
ultravioleta, apesar desta associação ser controversa. 
 Estudo duplo cego randômico, ainda em 
andamento, propôs-se avaliar o papel da 
suplementação de vitamina D em desfechos 
relacionados ao sistema imunológico. 
 
 Fatores culturais e comportamentais 
 
 Estes fatores também estão associados ao risco de 
alergia alimentar, e podem ser modificáveis. 
 Os filhos de gestantes que fumaram na gravidez 
apresentam níveis elevados de IgE e eosinofilia no 
sangue do cordãoumbilical, sugerindo que este 
irritante respiratório pode ser indutor de desvio Th2 e 
consequentemente, de doença alérgica. 
 Do mesmo modo, o consumo de álcool durante a 
gestação encontra-se documentado como um fator de 
risco importante, com elevação da IgE específica para 
antígenos alimentares e aeroalérgenos. 
 Crianças expostas no início da vida a irmãos mais 
velhos e animais de estimação em casa podem 
apresentar menor risco de alergia ao ovo aos 12 meses, 
em decorrência da estimulação do microbioma, o que 
pode ter efeito protetor em termos de 
desenvolvimento de alergia. 
 
 
 Comorbidades alérgicas 
 
 Comorbidades alérgicas são fatores de risco para o 
desenvolvimento de alergia alimentar. 
 Estudos indicam que a alergia alimentar pode 
predispor à asma, e, da mesma forma, a asma pode 
predispor à alergia alimentar. 
 
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 Estudo de seguimento de lactentes verificou que a 
dermatite atópica grave e alergia ao ovo foram fatores 
de risco para sensibilização ao amendoim. 
 
 Microbiota intestinal 
 
 A microbiota intestinal tem íntima relação com os 
elementos imunológicos subjacentes ao epitélio 
intestinal e, assim, participa do processo de tolerância 
imunológica para antígenos alimentares. 
 Inicialmente o efeito ocorre por meio do 
processamento dos antígenos, reduzindo sua 
alergenicidade e, posteriormente, melhorando as 
funções de barreira. 
 A microbiota é capaz de modular a resposta 
imunológica, com ativação de células linfocitárias 
intraepiteliais e de linfócitos da lâmina própria, que se 
diferenciam em células reguladoras, fundamentais 
para estes mecanismos de tolerância imunológica. 
 
 Neste sentido, em analogia à influência da 
microbiota intestinal sobre o sistema imunológico, a 
utilização de cepas probióticas poderia prevenir o 
aparecimento de alergias na infância. 
 Em 2001, estudo pioneiro com grávidas de risco para 
atopia, utilizando Lactobacilos GG ou placebo, no 
período pré e pós-natal, mostrou redução, aos sete 
anos de vida, na prevalência de eczema atópico à 
metade, em comparação àquelas crianças cujas mães 
receberam placebo durante a gestação; este efeito 
protetor permaneceu até os quatro anos de idade. 
 
 Para avaliar a relação entre o uso de probióticos com 
as alergias cutâneas, respiratórias e alimentares, 
muitos estudos clínicos e experimentais vêm sendo 
desenvolvidos. 
 Dentre estes, alguns apontam que cepas probióticas 
específicas podem ser eficazes no tratamento de um 
subgrupo de pacientes, sobretudo naqueles onde 
existe alergia a um único alimento. 
 Neste sentido, a utilização de cepas de Lactobacillus 
GG adicionadas à fórmula extensamente hidrolisada ou 
à imunoterapia sublingual promoveram aquisição de 
tolerância oral mais precocemente em pacientes com 
alergia às proteínas do leite de vaca e alergia ao 
amendoim, respectivamente. Metanálise (17 estudos 
e 4.755 crianças, realizada em 2015) mostrou risco 
relativo significantemente inferior para desenvolver 
alergias no grupo probiótico, quando comparado ao 
controle, sobretudo para aquelas gestantes que 
receberam mistura de cepas probióticas, em relação às 
que receberam uma cepa isoladamente. 
 
 Por conta de desenhos e desfechos diferentes e, 
sobretudo, pela utilização de cepas diferentes, a 
interpretação em conjunto destes estudos torna-se 
inconsistente, sobretudo para uma afirmação 
consensual. 
 Por isso, os comitês de nutrição das sociedades 
europeias de alergia (EAACI) e de gastroenterologia 
pediátrica (ESPGHAN) não recomendam a utilização 
de pré, probióticos ou outros suplementos dietéticos 
na prevenção de alergia alimentar. 
 No entanto, a Organização Mundial de Alergia, em 
2015, sugere a utilização de probióticos na grávida, na 
lactante e no lactente de risco para o 
desenvolvimento de alergias futuras, sobretudo nos 
com risco de dermatite atópica, realçando a fraca 
qualidade da recomendação. 
 
 Mecanismo de defesa do trato 
 gastrointestinal 
 
 O trato gastrintestinal (TGI) é o único órgão onde 
existe uma convivência harmônica entre grande 
número de micro-organismos e o sistema 
imunológico além de ter a capacidade de receber 
diariamente grande quantidade de antígenos 
alimentares sem que haja um processo inflamatório 
que cause danos. 
 Essa função do TGI de promover a digestão com a 
incorporação de nutrientes, água, eletrólitos e ao 
mesmo tempo manutenção de um equilíbrio 
imunológico só é conseguida pela presença de 
mecanismos de defesa bem elaborados. 
 
 Durante a vida, são ingeridas grandes quantidades 
de alimentos com alta carga proteica e, apesar disto, 
apenas alguns indivíduos desenvolvem alergia 
alimentar, demonstrando que existem mecanismos de 
defesa competentes no TGI, que contribuem para o 
desenvolvimento de tolerância oral. 
 A permeabilidade da barreira intestinal é variável e 
pode ser afetada ou mesmo promover o 
desenvolvimento de várias doenças no lactente e no 
adulto. Estes mecanismos de defesa existentes podem 
ser classificados como inespecíficos e específicos. 
 
 Os mecanismos de defesa inespecíficos englobam: a 
barreira mecânica representada pelo próprio epitélio 
intestinal e pela junção firme entre suas células 
epiteliais (promovida por light junctions, 
desmossomos, entre outros), a flora intestinal, o ácido 
 
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gástrico, as secreções biliares e pancreáticas e a 
própria motilidade intestinal. 
 Para se manter a integridade da barreira epitelial se 
faz necessária uma regulação precisa em sua estrutura 
e função, de modo a promover um balanço entre os 
mecanismos pró e anti-inflamatórios que ocorrem no 
TGI. 
 
 O epitélio intestinal é renovado a cada semana, em 
decorrência da proliferação, diferenciação e migração 
das stem-cell progenitoras, das criptas em direção ao 
lúmen, mantendo sua função de barreira. 
 As stem-cell intestinais geram 80% de enterócitos 
com capacidade absortiva, além de células de Goblet 
produtoras de muco, células êntero-endócrinas e 
células de Paneth produtoras de peptídeos 
antimicrobianos. 
 Outra célula epitelial bem diferenciada é conhecida 
como célula M, que não apresenta camada de muco 
em sua superfície. 
 
 Um elemento importante da defesa inespecífica é 
representado pelo muco, que recobre as células 
epiteliais e contém diferentes mucinas. 
 O muco auxilia na formação de uma primeira linha 
de defesa e facilita a aderência de bactérias através 
de componentes de sua parede celular, promovendo 
sua eliminação pela peristalse. 
 No intestino delgado, essa camada de muco é mais 
fina e penetrável, em comparação com o cólon, 
permitindo maior absorção de nutrientes. 
 Também tem a função de matriz onde são mantidos 
os peptídeos antimicrobianos produzidos pelas 
células de Paneth, facilitando sua difusão através do 
muco. 
 Uma função adicional das mucinas é ser fonte 
nutricional para os micro-organismos comensais, 
podendo regular a microflora intestinal. 
 
 As principais moléculas produzidas pelas células de 
Paneth são: alfa-defensina, lisozima C, fosfolipases e 
lectina tipo-C, que contribuem para a barreira mucosa 
e na prevenção da invasão microbiana. 
 
 Alterações na permeabilidade intestinal e nos 
mecanismos de barreira podem ser a origem de 
doenças do TGI envolvendo processos inflamatórios. 
 
 Entre os mecanismos de defesa específicos 
encontramos aqueles relacionados à defesa 
imunológica do TGI, que podem ser encontrados em 
três níveis, a saber: 
(1) Barreira epitelial intestinal; 
(2) Lâmina própria; 
(3) Sistema imunológico do trato gastrintestinal (GALT 
- Gut-associated lymphoid tissue).Este último faz parte de um grande sistema de 
imunidade de mucosas (MALT-Mucosa-associated 
lymphoid tissue), que entra em contato com o meio 
externo, sendo considerado o maior órgão linfoide do 
organismo. 
 O GALT, por sua vez, é composto por diferentes 
tecidos linfoides organizados, que incluem: as placas 
de Peyer (PP), folículos linfoides isolados (FLI) e 
linfonodos mesentéricos (LNM). 
 A quantidade de linfócitos presentes do TGI atinge 
5x1010, enquanto a pele contém cerca de 2x10 e o 
sangue 10, com cerca de 6x10 de plasmócitos 
produtores de imunoglobulinas. 
 
 Pode-se considerar as funções do sistema 
imunológico de mucosas levando em conta locais 
indutores e locais efetores, sendo os indutores 
aqueles onde a entrada de antígenos pelas superfícies 
mucosas ativam os linfócitos "virgens" ou naive e os 
de memória, tanto T quanto B, presentes nos tecidos 
linfoides organizados, como classificados acima. 
 Por outro lado, os sítios efetores são representados 
pelos linfócitos presentes na lâmina própria e nos que 
permeiam as células epiteliais. 
 Na lâmina própria estão localizadas a maioria das 
células imunológicas: as que já entraram em contato 
com antígenos anteriormente (linfócitos T e B de 
memória), sendo na maioria linfócito do tipo CD4+, 
mas também estão presentes CD8+, CD4+CD25hi 
(conhecidos como linfócitos T reguladores - Treg) e 
outras células imunológicas, como células dendríticas 
(DC), macrófagos, mastócitos, eosinófilos e células 
linfoides inatas (ILC). 
 
 As PP são estruturas linfoides organizadas, 
distribuídas no intestino delgado, especialmente no 
íleo distal e que representam os principais sítios 
indutores. 
 Consistem de um centro germinativo que contém 
grande quantidade de linfócitos B, circundados de 
poucos linfócitos T. 
 Os linfócitos B são direcionados principalmente para 
a produção de IgA. 
 
 Uma particularidade das PP é a presença de células 
epiteliais especializadas, as chamadas células M. 
 
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 Essas células M não apresentam microvilosidades e 
camada superficial de muco, o que facilita a captação 
de antígenos (Ag) particulados, vírus, bactérias ou 
parasitas intactos. 
 Sua localização e características permitem o contato 
na região do domo das PP com uma grande 
quantidade de DC, que interagem com esses Ag e os 
colocam em contato direto com linfócitos T e B, 
induzindo a produção de IgA, mediada por TGF-ß 
secretado pelos linfócitos T. 
 
 Após a apresentação antigênica na mucosa do TGI 
pela captação do antígeno pelas células M, ocorre a 
captação destes antígenos pelas DC, que representam 
as células apresentadoras de antígeno (APC) mais 
competentes para esta função, embora outras células 
também possam exercer este papel. 
 Estas APC apresentam estes antígenos às células T 
helper naive (Th0) presentes nos tecidos linfoides 
associados ao intestino. 
 Na dependência da alergenicidade do Ag e das 
células presentes no local da apresentação, as células 
Th0 diferenciam-se em diferentes tipos de linfócitos 
T, classificados pelo perfil de interleucinas (IL) que 
produzem. 
 Linfócitos Th1 produzem interferon gama (INFg), IL-
2 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), e os 
linfócitos Th2, preferentemente IL-4, IL-5, IL- 9 e IL-13. 
 A ativação de outros tipos de linfócitos T, como os 
Th-17, que produzem citocinas do tipo IL-17 e IL-22, 
também pode ocorrer e proteger contra infecção por 
germes extracelulares. 
 A captação de Ag não ocorre apenas através das 
células M, mas também pela captação direta no 
lúmen pelos dendritos das DC que se infiltram entre 
as células epiteliais da mucosa, através das próprias 
células epiteliais ou células de Goblet, ou mesmo 
penetrando através de aberturas entre as tight 
junction que interligam as células epiteliais 
 
 As DC também ativam células Treg, resultando no 
desenvolvimento de tolerância oral. 
 As células Treg são linfócitos que controlam ou 
suprimem a função de outras células, e podem ser 
naturais ou induzidos perifericamente, em especial no 
TGI. 
 Várias células Treg CD4+ foram identificadas (Treg 
CD4+CD25hi; Tr1; Th3) e são reconhecidas por sua 
ação supressora sobre outros tipos de linfócitos, seja 
pela produção de TGF-ß e IL-10, principais inibidores 
da resposta Th2 ou pela presença de moléculas 
inibitórias como CTLA4 (cytotoxic T lymphocyte 
antigen-4). O TGF-ß é o principal indutor da produção 
de IgA na mucosa pelos linfócitos B. 
 
 Os linfócitos intraepiteliais (IEL) são linfócitos T que 
apresentam a função de manter e proteger a barreira 
mucosa, além de regular e manter a homeostase 
intestinal. 
 
 A presença de numerosas células linfoides inatas 
(ILC) também tem sido implicada no mecanismo 
imunológico de regulação intestinal. 
 Essas células funcionam como os linfócitos T 
CD4+dos diferentes tipos Th-1, Th-2 ou Th-17 na 
dependência de serem ILC grupo 1, 2 ou 3, 
respectivamente, e produzirem as mesmas IL de cada 
um dos tipos de linfócitos T. 
 
 A produção da IgA secretora pelos linfócitos B, 
induzidos pela presença de TGF-ß, representa um dos 
principais mecanismos de defesa do TGI, referido como 
exclusão imunológica e com ação sinérgica com outros 
mecanismos imunológicos. 
 A IgA secretora incorporada ao muco também 
representa a primeira linha de defesa da barreira 
mucosa, e tem a capacidade de inibir a adesão 
bacteriana às células epiteliais, neutralizar vírus e 
toxinas bacterianas, e prevenir a penetração de 
antígenos alimentares na barreira epitelial. 
 
 A lâmina própria do intestino é o maior local de 
produção de anticorpos do organismo, onde se 
encontram cerca de 80% de células B ativadas. 
 Embora a IgA seja encontrada no sangue como um 
monômero, a IgA secretora é formada por duas 
moléculas ligadas por um peptídeo chamado de 
"cadeia J". 
 A IgA secretora, derivada de células B presentes na 
lâmina própria, é transportada através das células do 
intestino com a ajuda do componente secretor 
presente na superfície basal das células epiteliais, que 
se incorpora ao dímero IgA e favorece a sua resistência 
à digestão. 
 
 A falta de IgA secretora pode ser compensada pela 
presença de IgM secretora e outros mecanismos 
imunológicos inatos e adquiridos, o que explica porque 
grande parcela de pacientes com deficiência de IgA 
não apresenta infecções/parasitoses recorrentes no 
TGI. 
 Por outro lado, a importância da IgA secretora na 
mucosa é demonstrada em pacientes com deficiência 
de IgA, onde a prevalência de hipersensibilidade a 
 
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alimentos e aeroalérgenos é mais referida por 
familiares. 
 
 Sugere-se que o sistema imunológico imaturo dos 
neonatos e lactentes jovens favoreça a sensibilização 
alérgica. 
 Nesta fase da vida, a barreira intestinal é imatura e 
mais permeável, tornando o epitélio mais suscetível à 
penetração dos diferentes antígenos, portanto, mais 
vulnerável à sensibilização alérgica. 
 Além disso, nesta fase da vida há produção 
diminuída de anticorpos IgA secretores, o que 
favorece a penetração de alérgenos e 
consequentemente a ocorrência de alergias. 
 
 A evolução simultânea da imunidade do ser 
humano com sua microflora estabeleceu interações 
regulatórias essenciais para a manutenção da saúde, 
e uma quebra ou alteração da microbiota pode 
acarretar no aumento das doenças alérgicas e 
autoimunes. 
 Outro aspecto fundamental de defesa é 
representado pelo aleitamento materno nos lactentes 
jovens, pela similaridade antigênica da espécie e pelos 
fatores protetores carreados, sejam imunológicos ou 
não-imunológicos, que contribuem para a manutenção 
de uma microbiota adequada neste período precoce da 
vida.A microbiota comensal também auxilia no 
desenvolvimento dos tecidos linfoides secundários, 
como as PP e os folículos linfoides isolados, mantendo 
a homeostasia hospedeiro-microbiota e evitando 
doenças inflamatórias em longo prazo. 
 
Resposta imunológica normal a antígenos ingeridos 
 
 Em indivíduos saudáveis, a ingestão de alimentos 
determina um estado de tolerância, que é entendido 
como um estado ativo de não resposta à ingestão de 
antígenos alimentares solúveis, mediado por uma 
resposta do GALT. 
 Na maioria dos indivíduos, os mecanismos de defesa 
intestinal atuam desde as fases precoces de proteção 
pela barreira intestinal e na ativação de respostas 
reguladoras, o que promove a liberação de IL-10 e 
TGF-ß que, por sua vez, induzem a produção de IgA 
com seus efeitos de exclusão imunológica. 
 
 Em indivíduos suscetíveis, ou na presença de 
fatores que interferem nos mecanismos de barreira, 
inespecíficos ou mesmo específicos, ocorre o 
direcionamento para uma resposta Th2 bem definida, 
com produção de IgE, ligação aos mastócitos e 
basófilos e liberação de mediadores inflamatórios. 
 
 Após nova exposição ao mesmo antígeno, ocorre a 
ativação de linfócitos T de memória, que secretam 
mais IL de perfil Th2, e induzem maior produção de IgE, 
com todos seus efeitos locais e sistêmicos. 
 
 A via intestinal, embora seja a via predominante de 
sensibilização alergênica, não é a única capaz de induzir 
alergia alimentar. 
 A pele e o trato respiratório podem também atuar 
como vias de penetração e sensibilização a antígenos 
alimentares. 
 Acredita-se que a sensibilização transcutânea ocorra 
especialmente nos pacientes com dermatite atópica, 
onde a quebra da barreira cutânea é um mecanismo 
favorecedor da penetração de alérgenos. 
 A sensibilização primária pela via respiratória é 
rara, e o principal exemplo é a "asma do padeiro", por 
sensibilização ao trigo devido à inalação frequente e 
em grandes quantidades deste alérgeno. 
 
 As causas para ocorrência da menor ativação das 
células Treg em indivíduos alérgicos ainda é 
desconhecida, e o papel dos demais fatores presentes 
no intestino sobre o sistema imunológico, como a 
microflora intestinal, ainda necessitam mais estudos 
para sua compreensão. 
 
 Para o desenvolvimento de alergia alimentar são 
necessários: substrato genético, dieta com proteínas 
com alta capacidade alergênica e quebra dos 
mecanismos de defesa do trato gastrintestinal, 
quando há incapacidade do desenvolvimento de 
tolerância oral. 
 Fatores ambientais e epigenéticos também devem 
ser considerados para explicar a recente "epidemia" de 
alergia alimentar. 
 
 Reatividade Cruzada entre Alérgenos 
 
 As reações cruzadas ocorrem quando duas 
proteínas alimentares compartilham parte de uma 
sequência de aminoácidos que contêm um 
determinado epítopo alergênico. 
 Alguns alérgenos estão amplamente distribuídos 
entre diversas espécies e são, por esta razão, 
denominados pan-alérgenos. 
 
 
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 Tropomiosina do camarão ou profilinas de plantas 
são exemplos de alérgenos com ampla distribuição, 
facilitando a reatividade cruzada. 
 
 Vale ressaltar, entretanto, que reatividade 
laboratorial pode não se refletir em reatividade clínica. 
 Dois clássicos exemplos são: 
(a) a positividade da IgE específica para soja em 
pacientes com alergia a amendoim – ambos são 
leguminosos, mas a reatividade clínica é bastante 
reduzida; 
(b) a reatividade à carne em pacientes com alergia ao 
leite de vaca, muito menos frequente do que os 
resultados de teste cutâneo propõem (instabilidade 
térmica da proteína comum, albumina sérica bovina). 
 
Há, entretanto, algumas situações clínicas de 
reatividade cruzada que devem ser consideradas: 
 
− O leite de vaca é um dos principais alérgenos 
alimentares em todo o mundo e pacientes alérgicos a 
suas proteínas apresentam elevadas taxas de 
reatividade a leites de outros mamíferos, com 
destaque para cabra, ovelha e búfala. 
 Os leites de égua e de camela apresentam menor 
percentual de reação; 
 
− Pacientes alérgicos a proteínas de ovo de galinha 
reagem à clara de ovo de outras aves. E quando 
alérgicos à gema, podem apresentar reação à carne de 
frango; 
 
− Embora pouco frequentes, algumas reações a carnes 
têm sido descritas envolvendo albumina sérica, um 
alérgeno menor do leite, também presente em várias 
carnes de outros mamíferos. 
 Neste cenário, observa-se a alergia a gato e a porco, 
onde pacientes com reatividade a alguns alérgenos do 
gato podem reagir à carne de porco, e a possibilidade 
de reação à carne de vaca em pacientes com alergia 
às proteínas de leite de vaca. 
 Cerca de 10% apresentam reatividade à realização 
do teste cutâneo de leitura imediata, com taxas de 
reatividade clínica bem inferiores, já que a albumina 
sérica é termo lábil, tornando-se menos presente a pós 
o cozimento processamento do alimento; 
• Com relação ao látex, há uma conhecida 
reatividade cruzada entre alérgenos do látex e 
algumas frutas. 
 Estima-se que entre 30% e 50% dos alérgicos ao 
látex apresentem reatividade clínica a algumas 
frutas, mas somente 11% dos pacientes que 
apresentam reações a frutas desenvolverão 
alergia ao látex. 
 Entretanto, não há estudos recentes que 
estabeleçam a reatividade clínica entre as frutas 
deste grupamento. 
 Sabe-se que as frutas mais classicamente 
relacionadas à síndrome látex-fruta são: banana, 
abacate, maracujá, papaia e kiwi, mas um número 
crescente de alimentos tem adentrado esta lista, 
com destaque à mandioca, um alimento de grande 
consumo regional. Alguns dos componentes do 
látex estão especialmente relacionados à 
reatividade a frutas; 
 
• A síndrome pólen-fruta, bastante frequente na 
Europa, é raramente descrita no Brasil. 
 Mas, é importante saber que a sensibilização 
ocorre durante a inalação de polens, e que as 
proteínas presentes nestas plantas podem 
apresentar reatividade cruzada com algumas 
frutas, especialmente se esta fruta for ingerida em 
sua forma crua. 
 As reações ocorrem basicamente de duas 
maneiras: edema e urticária em mucosa oral, 
caracterizando a síndrome da alergia oral ou 
reações sistêmicas. 
 Na primeira situação, o alérgeno é 
provavelmente sensível ao processo digestivo, e as 
reações somente ocorrem durante o contado com 
a mucosa oral, tratando-se provavelmente de um 
epítopo conformacional. 
 No caso das reações sistêmicas, os epítopos são 
resistentes (lineares) e podem causar reações 
graves, como a anafilaxia. 
 
 Aditivos Alimentares 
 
 Os aditivos alimentares são representados por 
antioxidantes, flavorizantes, corantes, conservantes 
ou espessantes. 
 Apesar de serem frequentemente relacionados com 
reações adversas, os relatos relacionados à alergia que 
puderam ser confirmados são raros e descritos de 
maneira isolada. 
 
 Manifestações como urticária, angioedema, asma 
ou anafilaxia, consequentes a aditivos alimentares, 
são extremamente raras, embora possa parecer um 
pouco mais prevalente entre crianças com atopia (2% 
a 7%). 
 
 
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 Reações a aditivos podem ser consideradas em 
pacientes com história de sintomas a múltiplos e 
alimentos mal referidos, ou quando o mesmo alimento 
provocar reações quando ingeridos na forma 
industrializada, e não na forma “caseira”. 
 
 Pacientes com manifestações idiopáticas de alergia 
também merecem investigação quanto aos aditivos, 
mas outros diagnósticos relacionados à anafilaxia 
idiopática também devem ser considerados, com 
destaque à mastocitose. 
 
 Existem alguns relatos de reações anafiláticas 
relacionadas a aditivos como os sulfitos, eritritol 
(adoçantefermentativo presente em cervejas, vinhos, 
soja, queijos e cogumelo), anato (coloração amarelada 
em derivados lácteos, pipoca, cereais e sorvete), 
açafrão e colorau, ou carmim (corante vermelho). 
 
 Manifestações clinicas 
 
 Podem envolver vários sistemas orgânicos, 
incluindo: cutâneo, respiratório, ocular, GI e 
circulatório, além de reações multissistêmicas. 
 
 A pele costuma ser um órgão-alvo frequente das 
reações de hipersensibilidade alimentar mediadas por 
IgE. 
 Urticária aguda (irritação cutânea), angioedema, 
rubor e prurido são comumente observados após a 
exposição ao alérgeno alimentar. 
 Além disso, as reações alimentares mediadas pela 
IgE podem exacerbar condições cutâneas crônicas 
subjacentes, como a dermatite atópica. 
 
 Diagnóstico 
 
 Para diagnóstico é interessante solicitar, 
hemograma, dosagem sérica de IgE e teste de 
provocação oral na qual é considerado o método mais 
confiável para confirmar diagnóstico de alergia 
alimentar. 
 
 O TPO Consiste na oferta progressiva do alimento 
suspeito e/ou placebo, em intervalos regulares, sob 
supervisão médica para monitoramento de possíveis 
reações clínicas, após um período de exclusão dietética 
necessário para resolução dos sintomas clínicos. 
 
 Pode ser indicado em qualquer idade, para: – 
confirmar ou excluir uma alergia alimentar; – avaliar 
a aquisição de tolerância em alergias alimentares 
potencialmente transitórias, como a do leite de vaca, 
do ovo, do trigo ou da soja; – avaliar reatividade 
clínica em pacientes sensibilizados e nos com dieta 
restritiva a múltiplos alimentos; – determinar se 
alérgenos alimentares associados a doenças crônicas 
podem causar reações imediatas; avaliar a tolerância 
a alimentos envolvidos em possíveis reações 
cruzadas; e – avaliar o efeito do processamento do 
alimento em sua tolerabilidade. 
 
 Os testes de provocação oral são classificados como 
aberto (paciente e médico cientes), simples cego 
(apenas o médico sabe) ou duplo cego e controlado 
por placebo (TPODCPC), quando nenhuma das partes 
sabe o que está sendo ofertado. 
 
 O TPODCPC é considerado padrão ouro no 
diagnóstico da alergia alimentar. 
 A decisão da escolha do TPO e do momento de sua 
execução podem ser influenciadas pela história 
clínica, idade, tipo de sintoma, tempo da última 
reação, resultados dos testes cutâneos e/ou dos 
níveis séricos de IgE específicas, bem como pelo valor 
nutricional do alimento e pela decisão conjunta com 
pacientes maiores e seus familiares. 
 Doenças cardiovasculares, gravidez e condições 
médicas que possam interferir na interpretação, tais 
como dermatite grave e asma não controlada, 
também funcionam como contraindicações relativas 
para a execução do teste. 
 Os pacientes não devem ser submetidos ao TPO se 
tiverem recebido corticosteroides sistêmicos 
recentemente (por exemplo, dentro de 7 a 14 dias), 
porque a recuperação da doença pode confundir a 
interpretação dos resultados. 
 
 O teste cutâneo ou PRICK TEST 
 
 É um método diagnóstico de alergia seguro e 
geralmente indolor. 
 Deve ser realizado pelo médico especialista que, 
após história clínica e exame físico, determinará quais 
substâncias podem ter importância no quadro clínico 
e, portanto, deverão ser avaliadas. 
 O desconforto pode ocorrer pelo prurido (coceira) 
localizado na área do teste, no caso da reação positiva. 
 Na maioria das vezes, é realizado no antebraço após 
higiene local com algodão e álcool. 
 O resultado é obtido em 15 a 20 minutos e a reação 
positiva consiste na formação de uma pápula 
vermelha, semelhante a uma picada de mosquito. 
 
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SOI IV “Bom que não é bom” 
 Esta reação indica presença de IgE específica ao 
alimento testado. 
 Algumas vezes, torna-se necessário realizar o teste 
com o próprio alimento in natura. 
 Em algumas situações, o teste cutâneo pode ser 
substituído pela dosagem de IgE específica no sangue. 
 
São elas: necessidade de uso diário de anti-
histamínicos (antialérgicos), não disponibilidade de 
material para teste, presença de eczema severo ou 
história sugestiva de reação intensa (reação anafilática) 
a determinado alimento. 
 Muitas vezes, o alergista realiza as duas formas de 
avaliação para ter maior segurança no diagnóstico. 
Estes testes permanecem não recomendados para o 
uso na prática clínica, devido à ausência de 
padronização e à baixa sensibilidade.

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