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1 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Objetivos 
1- Revisar a resposta imunológica na alergia; 
2- Estudar a epidemiologia, etiologia e fatores de 
risco da intolerância e alergia alimentar; 
3- Discutir a fisiopatologia, manifestações clínicas e 
diagnóstico da intolerância e alergia alimentar; 
4- Conhecer os alimentos que desencadeiam 
intolerâncias e processos alérgicos. 
Resposta imunológica na alergia 
↠ Na alergia, a resposta imune estende-se além de seu 
limite habitual de reconhecimento exclusivo de patógenos 
estranhos para incluir também o que deveriam ser 
antígenos ambientais inócuos (DELVES, 2018). 
↠ Essa resposta é uma forma de hipersensibilidade, uma 
imunidade excessivamente zelosa que também pode 
assumir a forma de reatividade a antígenos próprios ou a 
antígenos de outra espécie (DELVES, 2018). 
 Os vários estados de hipersensibilidade foram originalmente 
classificados por Gell e Coombs em tipos I-IV, e essa classificação 
continua tendo grande utilidade. Alguns acréscimos subsequentes à 
classificação original incluíram um tipo V e uma hipersensibilidade inata 
(DELVES, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 As alergias (rinite alérgica, asma, eczema e alergias alimentares) 
são mediadas, em sua maioria, por reações de hipersensibilidade tipo I, 
embora algumas formas de eczema sejam causadas por reações tipo 
IV (DELVES, 2018). 
Produção de IgE e células envolvidas nas reações 
alérgicas 
 Todas as reações alérgicas compartilham características comuns, 
embora sejam muito diferentes quanto aos tipos de antígenos que 
deflagram essas reações, bem como em relação as suas 
manifestações clínicas e patológicas (ABBAS, 2019). 
 Uma característica marcante das doenças alérgicas é a 
produção de anticorpo IgE, a qual depende da ativação de células T 
auxiliares produtoras de IL-4 (ABBAS, 2019). 
↠ O desenvolvimento da doença alérgica começa com 
a diferenciação de células T auxiliares CD4+ produtoras 
de IL-4, IL-5 e IL-13 em tecidos linfoides. Os sinais que 
dirigem a diferenciação das células T CD4+ naive em 
células Th2 em resposta a maioria dos antígenos 
ambientais são indeterminados (ABBAS, 2019). 
 IL-4 secretada por células Th2 induz expressão de 
VCAM-1 endotelial, que promove recrutamento de eosinófilos e células 
Th2 adicionais para os tecidos. A IL-5 secretada pelas células Th2 ativa 
os eosinófilos. A IL-13 estimula as células epiteliais (p. ex.: nas vias aéreas) 
a secretarem quantidades aumentadas de muco, sendo que a 
produção excessiva de muco também é uma característica comum 
dessas reações (ABBAS, 2019). 
 Existe uma forte propensão genética à produção de respostas 
Th2 contra alguns alérgenos, porém isso por si só não explica por 
que os indivíduos atópicos são propensos a desenvolver essas 
respostas. Em algumas doenças alérgicas crônicas, um evento iniciador 
pode ser a lesão à barreira epitelial resultando em produção local de 
citocinas Th2-indutoras (ABBAS, 2019). 
↠ As células Th2 diferenciadas migram para sítios 
teciduais de exposição ao alérgeno, onde contribuem 
para a fase inflamatória das reações alérgicas. As células 
Tfh permanecem em órgãos linfoides, onde podem 
auxiliar as células B (ABBAS, 2019). 
↠ As células B específicas para alérgenos são ativadas 
por células Tfh em órgãos linfoides secundários, como 
em outras respostas de célula B dependentes de célula 
T. Em resposta ao CD40-ligante e às citocinas (sobretudo 
IL-4 e possivelmente IL-13) produzidas por células T 
auxiliares, as células B sofrem troca de isotipo de cadeia 
pesada e produzem IgE (ABBAS, 2019). 
 A IgE circula como anticorpo bivalente e normalmente está 
presente no plasma em concentrações abaixo de 1 μg/mL. Em 
condições patológicas, como nas infecções helmínticas e na atopia 
grave, esse nível pode subir para mais de 1.000 μg/mL (ABBAS, 2019). 
↠ A IgE alérgeno-específica produzida por plasmoblastos 
e plasmócitos entra na circulação e se liga a receptores 
Fc presentes nos mastócitos teciduais, de modo que 
essas células são sensibilizadas e estarão prontas a reagir 
a um encontro subsequente com o alérgeno. Basófilos 
APG 03– “SE NÃO FOR UM PROBLEMA NA ROTA BIOQUÍMICA, É UMA FALHA O SISTEMA IMUNOLÓGICO” 
Seis categorias de hipersensibilidade. Tipo I: desgranulação dos mastócitos mediada por IgE. 
Tipo II: citotoxicidade dependente de anticorpos, que pode ser mediada por células killer (K) 
que possuem citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC), por opsonização para 
fagocitose ou pela ativação da via clássica do complemento, com geração do complexo de 
ataque à membrana. Tipo III: mediada por imunocomplexos, que pode resultar em ativação 
das células fagocitárias, levando a uma resposta inflamatória (bem como à agregação das 
plaquetas e ativação dos mastócitos, não mostradas). Tipo IV: tipo tardio (celular), envolvendo 
a liberação de citocinas pelas células T. Tipo V: hipersensibilidade estimuladora, em que os 
anticorpos atuam como agonistas em receptores de superfície celular. A hipersensibilidade 
inata resulta, por exemplo, de ativação excessiva dos receptores de reconhecimento de 
padrões (PRR). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
circulantes também são capazes de se ligar à IgE 
(ABBAS, 2019). 
 Mastócitos e basófilos expressam um receptor Fc de alta 
afinidade para cadeias pesadas ɛ, chamado FcɛRI, que se liga à IgE. A 
IgE, como todos os outros anticorpos, é produzida exclusivamente por 
células B, embora atue como receptor de antígeno na superfície de 
mastócitos e basófilos. Essa função é realizada por meio da ligação da 
IgE ao FcɛRI nestas células. A afinidade do FcɛRI pela IgE é muito alta, 
maior do que a de qualquer outro receptor Fc para seu anticorpo 
ligante. Sendo assim, na concentração sérica normal de IgE, ainda que 
baixa em comparação a dos outros isotipos de Ig (<5 × 10-10 M), há 
ocupação total dos receptores FcɛRI pela IgE, e a maioria dos 
mastócitos está sempre recoberta com IgE, mesmo em indivíduos 
não atópicos. Além dos mastócitos e basófilos, o FcɛRI foi detectado 
em eosinófilos, células de Langerhans epidérmicas e alguns 
macrófagos dérmicos, bem como em monócitos ativados (ABBAS, 
2019). 
 
Cada molécula de FcɛRI presente nos mastócitos é composta de uma 
cadeia α que se liga à região Fc da IgE, além de uma cadeia β e duas 
cadeias γ responsáveis pela sinalização (ABBAS, 2019). 
↠ A reexposição ao alérgeno, então, ativa os mastócitos 
a liberarem mediadores que causam a reação danosa 
(ABBAS, 2019). 
↠ A ativação de mastócitos resulta em três tipos de 
resposta biológica: (ABBAS, 2019). 
• secreção dos conteúdos pré-formados dos 
grânulos por exocitose (desgranulação); 
• síntese e secreção de mediadores lipídicos; 
• síntese e secreção de citocinas. 
↠ Alguns eventos de sinalização levam a três respostas 
principais: (ABBAS, 2019). 
• Desgranulação. A PKC ativada fosforila a cadeia leve da miosina 
que compõe os complexos actina-miosina localizados sob a 
membrana plasmática, levando à desmontagem do complexo. Isso 
permite que os grânulos citoplasmáticos entrem em contato com 
a membrana plasmática. A membrana do grânulo do mastócito 
então se funde à membrana plasmática, em um processo mediado 
pelos membros da família de proteínas SNARE, envolvidas em 
muitos outros eventos de fusão de membrana. Diferentes 
proteínas SNARE presentes nos grânulos e membranas 
plasmáticas interagem para formar um complexo multimérico que 
catalisa a fusão. A formação de complexos SNARE é regulada por 
várias moléculas acessórias, incluindo guanosina trifosfatases Rab3, 
além de fosfatases e quinases Rab-associadas. Nos mastócitos em 
repouso, as enzimas inibem a fusão da membrana do grânulo do 
mastócito à membrana plasmática. Na ligação cruzada de FcɛRI, o 
aumento resultante nas concentrações citoplasmáticas de cálcio e 
a ativação de PKC bloqueiam a atividade de moléculas acessórias 
inibidoras. Em adição, as proteínas sensorasde cálcio respondem 
a concentrações de cálcio elevadas promovendo a formação do 
complexo SNARE e a fusão da membrana. Em seguida, a fusão da 
membrana, os conteúdos dos grânulos dos mastócitos são 
liberados no ambiente extracelular. Esse processo pode ocorrer 
segundos após a ligação cruzada de FcɛRI e pode ser 
morfologicamente visualizado pela perda dos grânulos densos dos 
mastócitos. 
• Produção de mediadores lipídicos. A síntese de mediadores 
lipídicos é controlada pela enzima citosólica fosfolipase A2 (PLA2). 
A enzima é ativada por dois sinais: Ca++ citoplasmático elevado e 
fosforilação catalisada por uma proteína quinase ativada por 
mitógeno (MAP, do inglês, mitogen-activated protein), como a 
quinase ativada por receptor extracelular (ERK, do inglês, 
extracellular receptor-activated kinase). A ERK é ativada em 
consequência de uma cascata de quinases iniciada pelos ITAMs do 
receptor, provavelmente usando os mesmos intermediários que 
nas células T. Uma vez ativada, a PLA2 hidrolisa os fosfolipídeos de 
membrana a liberarem ácido araquidônico e este é convertido pela 
cicloxigenase ou pela lipoxigenase em diferentes mediadores. 
• Produção de citocinas. A secreção de citocinas por mastócitos 
ativados é consequência da transcrição de genes de citocinas 
neoformadas. Os eventos bioquímicos que regulam a transcrição 
gênica em mastócitos parecem ser similares aos eventos que 
ocorrem nas células T. O recrutamento e ativação de várias 
moléculas adaptadoras e quinases em resposta à ligação cruzada 
de FcɛRI leva à translocação nuclear do fator nuclear de células T 
ativadas (NFAT, do inglês, nuclear factor of activated T cells) e do 
fator nuclear κB (NF-κB, do inglês nuclear fator κB), bem como à 
ativação da proteína de ativação 1 (AP-1, do inglês, activation protein 
1) por proteínas quinases como a quinase c-Jun N-terminal. Esses 
fatores de transcrição estimulam a expressão de várias citocinas 
(IL-4, IL-5, IL-6, IL-13 e fator de necrose tumoral [TNF], entre 
outras), todavia contrastando com as células T por não induzirem 
IL-2. 
 
3 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
↠ Os mediadores podem ser divididos em mediadores 
pré-formados, que incluem as aminas vasoativas e 
macromoléculas contidas nos grânulos; e mediadores 
neoformados, que incluem mediadores lipídicos e citocinas 
(ABBAS, 2019). 
 
• Aminas vasoativas: atuam nos vasos e na musculatura lisa. 
As aminas vasoativas são compostos de baixo peso 
molecular que contêm um grupo amina e atuam 
diretamente sobre os vasos sanguíneos. Em mastócitos 
humanos, o principal mediador dessa classe é a histamina. 
A histamina atua se ligando aos receptores da célula-alvo, 
sendo que diferentes tipos celulares expressam classes 
distintas de receptores de histamina (p. ex.: H1, H2, H3) que 
podem ser distinguidos por sua sensibilidade a diferentes 
inibidores farmacológicos. A ligação da histamina ao 
endotélio causa contração das células endoteliais, levando a 
espaços interendoteliais aumentados, aumento da 
permeabilidade vascular e extravasamento plasmático para 
dentro dos tecidos. A histamina também estimula as células 
endoteliais a sintetizarem relaxantes de células musculares 
lisas vasculares, como a prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico, 
causadores de vasodilatação. Essas ações da histamina 
produzem a resposta de pápula e eritema da 
hipersensibilidade imediata (ABBAS, 2019). 
• Enzimas e proteoglicanos dos grânulos: As serina proteases 
neutras, incluindo a triptase e quimase, são os constituintes 
proteicos mais abundantes dos grânulos secretores dos 
mastócitos e contribuem para o dano tecidual produzido 
durante as reações de hipersensibilidade imediata. A triptase 
está presente em todos os mastócitos humanos e sua 
presença em outro tipo celular qualquer é desconhecida . 
Portanto, a presença de triptase em fluidos biológicos humanos é 
interpretada como marcador de ativação de mastócitos, sendo por 
vezes usada clinicamente para diagnosticar a anafilaxia. Por 
exemplo, a triptase cliva o fibrinogênio e ativa a colagenase, 
acarretando assim dano tecidual, enquanto a quimase pode 
converter angiotensina I em angiotensina II, que causa 
vasoconstrição transiente, degrada membranas basais 
epidérmicas e estimula a secreção de muco (ABBAS, 2019). 
• Mediadores lipídicos: Dentre os mediadores, os mais 
importantes são os derivados do ácido araquidônico, gerado 
pela hidrólise PLA2-mediada dos fosfolipídeos de 
membrana. O ácido araquidônico então é metabolizado 
pelas vias da cicloxigenase ou da lipoxigenase, para produzir 
mediadores de reações alérgicas. 
O principal mediador derivado do ácido araquidônico produzido pela via 
da cicloxigenase nos mastócitos é a prostaglandina D2 (PGD2). A PGD2 
liberada se liga aos receptores presentes nas células musculares lisas 
e atua como vasodilatador e broncoconstritor. A PGD2 também 
promove quimiotaxia e acúmulo de neutrófilos em sítios inflamatórios. 
A síntese de PGD2 pode ser prevenida pelos inibidores de 
cicloxigenase, como a aspirina e outros agentes anti-inflamatórios não 
esteroides. Esses fármacos podem paradoxalmente exacerbar a 
broncoconstrição asmática, por desviarem o ácido araquidônico para 
produção de leucotrienos (ABBAS, 2019). 
Os principais mediadores derivados do ácido araquidônico produzidos 
pela via da lipoxigenase são os leucotrienos, especialmente o LTC4 e 
seus produtos de degradação, LTD4 e LTE4, todos chamados 
cisteinil-leucotrienos. O LTC4 é produzido por mastócitos e basófilos 
de mucosa, mas não é produzido por mastócitos do tecido conectivo. 
Os leucotrienos derivados de mastócitos se ligam a receptores 
específicos presentes em células musculares lisas, diferentemente dos 
receptores para PGD2, e causam broncoconstrição prolongada 
(ABBAS, 2019). 
• Citocinas: Os mastócitos produzem muitas citocinas 
diferentes que contribuem para a inflamação alérgica (a 
reação de fase tardia). Essas citocinas incluem TNF, IL-1, IL-
4, IL-5, IL-6, IL-9, IL-13, CCL3, CCL4 e fatores 
estimuladores de colônia, como IL-3 e fator estimulador de 
colônia de granulócito-macrófago (ABBAS, 2019). 
 
4 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
 
 
Reação imediata e de fase tardia 
↠ As células e mediadores são responsáveis pelas 
alterações vasculares imediatas e pelas reações 
inflamatórias tardias que ocorrem nas alergias (ABBAS, 
2019). 
 
• Reação imediata: As alterações vasculares iniciais que 
ocorrem durante as reações de hipersensibilidade imediata 
são demonstradas pela reação de pápula e eritema à 
injeção intradérmica de um alérgeno. A reação de pápula 
e eritema resulta da sensibilização de mastócitos dérmicos 
pela ligação da IgE ao FcɛRI, ligação cruzada de IgE pelo 
antígeno, e ativação de mastócitos com liberação de 
mediadores, notavelmente a histamina. A histamina se liga 
aos receptores de histamina presentes nas células 
endoteliais venulares; as células endoteliais sintetizam e 
liberam PGI2 e óxido nítrico, e esses mediadores causam 
vasodilatação e extravazamento vascular, como já descrito. 
Os mastócitos cutâneos parecem produzir apenas 
pequenas quantidades de mediadores de ação prolongada, 
como os leucotrienos, de modo que a resposta de pápula 
e eritema desaparece rapidamente. Os especialistas em 
alergia costumam submeter os pacientes a testes de alergia 
a diferentes antígenos, avaliando a habilidade destes 
antígenos de deflagrar reações de pápula e eritema 
quando aplicados na pele como adesivos ou através de 
picadas com agulhas pequenas (ABBAS, 2019). 
• Reação de fase tardia: Decorridas 2-4 horas da reação 
imediata de pápula e eritema, observa-se uma reação de 
fase tardia que consiste no acúmulo de leucócitos 
inflamatórios, incluindo neutrófilos, eosinófilos, basófilos e 
células T auxiliares. A inflamação é máxima por volta de 24 
horas e, então, desaparece gradativamente. Assim como a 
reação imediata de pápula e eritema, a capacidadede 
montar uma reação de fase tardia também pode ser 
adotivamente transferida pela IgE, e a reação pode ser 
mimetizada com anticorpos anti-IgE que fazem ligação 
cruzada com receptores FcɛRI em mastócitos com IgE 
ligada, ou com agentes ativadores de mastócito. As citocinas 
produzidas pelos mastócitos, incluindo TNF, regulam 
positivamente a expressão endotelial de moléculas de 
adesão leucocitárias, como E-selectina e molécula de 
adesão intercelular 1 (ICAM-1), bem como de quimiocinas, 
resultando no recrutamento de leucócitos sanguíneos. 
Assim, a ativação dos mastócitos promove o influxo de 
leucócitos para os tecidos. Os tipos de leucócitos típicos das 
reações de fase tardia são eosinófilos e células T auxiliares. 
Embora as células Th2 sejam a população de célula T 
dominante nas reações de fase tardia sem complicação. 
Intolerância alimentar 
 As reações adversas a alimentos integram as 
intolerâncias alimentares e as alergias alimentares. Apesar de as 
intolerâncias alimentares e alergias alimentares se manifestarem por 
sintomas semelhantes, os mecanismos fisiopatológicos responsáveis 
por cada uma destas reações são distintos (RODRIGUES, 2011). 
O termo reação adversa a alimentos é aplicado a qualquer reação 
indesejável que ocorre após ingestão de um alimento numa dose que 
é geralmente tolerada pela maioria dos indivíduos, com produção de 
sinais e sintomas objetivamente reprodutíveis (RODRIGUES, 2011). 
As alergias alimentares decorrem de um mecanismo imunológico, ao 
passo que as intolerâncias alimentares podem resultar de diferentes 
tipos de mecanismos não imunológicos (RODRIGUES, 2011). 
Os conceitos de alergia alimentar e intolerância alimentar têm sido 
utilizados, muitas vezes, de forma indiscriminada e inapropriada, mesmo 
5 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
por profissionais de saúde, a qualquer tipo de reação adversa, 
independente do mecanismo patológico de base (RODRIGUES, 2011). 
↠ Intolerância alimentar, ou reação de hipersensibilidade 
a alimentos não-alérgica, constitui um tipo de reação 
adversa em que não está implicado um mecanismo 
imunológico. Este tipo de reações é dose dependente e 
tende a provocar um efeito retardado (horas a dias), o 
que torna difícil identificar a causa subjacente 
(RODRIGUES, 2011). 
EPIDEMIOLOGIA 
↠ As intolerâncias alimentares apresentam uma maior 
prevalência na população e podem atingir uma faixa etária 
diferente daquela em que geralmente ocorrem as alergias 
alimentares (RODRIGUES, 2011). 
↠ As intolerâncias alimentares constituem um problema 
médico frequente, atingindo 15% a 20% da população e 
parecem estar relacionadas com diversas patologias 
sistémicas e do foro gastro-intestinal (RODRIGUES, 2011). 
 As intolerâncias alimentares e alergias alimentares 
constituem um problema médico comum. Cerca de 20% da 
população relata uma reação adversa a alimentos. Contudo, os estudos 
epidemiológicos baseados em ensaios duplamente cegos disponíveis 
relativamente a esta temática são escassos. Além disso, os estudos 
epidemiológicos de prevalência incluem, muitas vezes, alergias 
alimentares e intolerâncias alimentares de forma indiscriminada 
(RODRIGUES, 2011). 
MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS 
 
↠ Os mecanismos fisiopatológicos responsáveis pelas 
intolerâncias alimentares consistem em: (RODRIGUES, 2011). 
• Defeitos enzimáticos - Intolerância enzimática: os 
erros inatos do metabolismo devidos a defeitos 
enzimáticos podem afetar a digestão e 
absorção de hidratos de carbono, lipídios ou 
proteínas. O defeito enzimático pode ser 
primariamente gastrointestinal, causando 
alterações da digestão ou absorção (ex: 
deficiência de lactase), ou sistêmico, como 
ocorre na intolerância hereditária à frutose. 
• Reações farmacológicas - Intolerância 
farmacológica: é causada por aminas vasoativas 
(dopamina, histamina, tiramina, norepinefrina, 
feniletilamina e serotonina) e outras substâncias 
presentes nos alimentos, que manifestam 
atividade farmacológica. Em muitos casos existe 
uma relação dose-efeito. 
• Intolerância alimentar indefinida: consiste na 
intolerância alimentar resultante de mecanismos 
não definidos, tais como as reações a aditivos 
alimentares. 
PRINCIPAIS TIPOS DE INTOLERÂNCIA 
INTOLERÂNCIA AOS HIDRATOS DE CARBONO 
↠ Os hidratos de carbono provenientes da dieta podem 
ser de diferentes tipos: polissacarídeos (amilopectina e 
amilose), dissacarídeos (lactose, sacarose, maltose e 
trealose) e monossacarídeos (frutose, glucose e 
galactose) (RODRIGUES, 2011). 
Os hidratos de carbono ingeridos têm que ser digeridos e absorvidos 
no trato gastrointestinal antes de serem utilizados pelo organismo 
como fonte energética. Os processos de digestão e absorção são 
mediados pela ação de enzimas digestivas e de proteínas 
transportadoras com funções especializadas (RODRIGUES, 2011). 
A digestão é completada pela ação de hidrolases específicas ligadas à 
membrana do pólo apical dos enterócitos, que revestem as vilosidades 
do intestino delgado. Os monossacarídeos resultantes da ação destas 
hidrolases são, de seguida, absorvidos pelos enterócitos através de 
sistemas de transporte específicos da membrana. Em caso de 
deficiência a nível do processo digestivo ou absortivo, os hidratos de 
carbono passam através do trato gastrointestinal sem serem digeridos 
ou sendo apenas parcialmente digeridos por enzimas produzidas pela 
flora bacteriana intestinal (RODRIGUES, 2011). 
Esta fermentação bacteriana produz ácidos gordos, hidrogênio, dióxido 
de carbono e metano que, juntamente com os hidratos de carbono 
não digeridos e não absorvidos, pode provocar sintomas de 
intolerância alimentar (RODRIGUES, 2011). 
INTOLERÂNCIA AOS DISSACARÍDEOS 
A sacarose, o principal hidrato de carbono presente na maioria dos 
frutos, tem que ser digerida até aos seus constituintes monossacáridos, 
a frutose e glucose, antes de ser absorvida. Esta hidrólise enzimática 
ocorre através da enzima sacarase, cuja atividade está associada à 
enzima digestiva isomaltase (RODRIGUES, 2011). 
A deficiência congênita de sacarase-isomaltase resulta da ausência de 
sacarase na membrana dos enterócitos, associada a níveis variáveis de 
atividade de isomaltase, com consequente incapacidade de digerir a 
sacarose proveniente da dieta e aparecimento de sinais e sintomas de 
mal absorção, tais como vómitos, flatulência e dor abdominal 
(RODRIGUES, 2011). 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
A deficiência congênita de sacarase-isomaltase é uma condição rara, 
de transmissão autossômica recessiva, que afeta 0,02% dos indivíduos 
provenientes da Europa, sendo bastante mais prevalente em 
populações nativas da Gronelândia, Alasca e Canadá. Diferentes 
mutações na região codificadora do gene da sacarase-isomaltase 
(gene SI), localizado no cromossoma 3, têm sido propostas como 
associadas ao fenótipo de deficiência congênita de sacarase-isomaltase 
(RODRIGUES, 2011). 
A trealose é o dissacarídeo encontrado em cogumelos, algas e na 
hemolinfa de insetos. A trealase consiste numa enzima intestinal que 
hidrolisa a trealose em duas moléculas de glucose. A deficiência de 
trealase, uma condição autossômica recessiva, ocorre essencialmente 
na Gronelândia, onde afeta cerca de 8% da população (RODRIGUES, 
2011). 
INTOLERÂNCIA À LACTOSE 
A intolerância à lactose é condição comum, decorrente da 
incapacidade de digestão de seus constituintes, glicose e galactose, 
pela baixa produção da enzima lactase presente nas bordas em escova 
das células duodenais (QUILICI et. al., 2019). 
A lactose constitui um hidrato de carbono dissacarídeo presente 
apenas no leite de mamíferos (RODRIGUES, 2011). 
Deficiência de lactase é a forma mais comum das insuficiências de 
produção de dissacaridase, e seus níveis são decrescentes no 
transcorrer dos anos, independentemente da utilização de produtos 
que contenham lactose (QUILICI et. al., 2019). 
EPIDEMIOLOGIA: Estima-se, atualmente, que70 a 75% da população 
mundial apresenta deficiência de lactase no transcorrer da vida, 
particularmente entre os 20 e 40 anos. Embora haja intolerância à 
lactose em praticamente todos os grupos raciais, predominância 
ocorre entre populações da América do Sul, da Ásia e da África. Sua 
distribuição é semelhante entre sexos (QUILICI et. al., 2019). 
 
FISIOPATOLOGIA: A absorção de lactose requer hidrólise pela enzima 
lactase-florizina hidrolase, habitualmente denominada lactase, uma beta-
galactosidade responsável pela clivagem da lactose em glucose e 
galactose. Estes dois monossacarídeos são, posteriormente, absorvidos 
pelos enterócitos, através do transportador de sódio dependente da 
glucose SGLUT1, para a corrente sanguínea, indo desempenhar as 
suas funções no organismo: a glucose constitui um substrato 
energético e a galactose incorpora glicolípidos e glicoproteínas. A 
lactase encontra-se na superfície apical dos enterócitos do intestino 
delgado, nas extremidades das microvilosidades intestinais, 
principalmente a nível do jejuno (RODRIGUES, 2011). 
 Por altura do nascimento, a lactase apresenta um pico 
de atividade, sendo que, em praticamente todo o mundo, a população 
adulta experimenta, após a fase de amamentação, uma redução da 
síntese de lactase de cerca de 75% a 90%, geneticamente 
programada, o que acarreta uma mal absorção de lactose (não-
persistência de lactase). Contudo, nas populações originárias do Norte da 
Europa, a atividade da lactase geralmente mantém-se na idade adulta 
(persistência de lactase), possivelmente devido a uma pressão de seleção 
positiva que ocorreu nesta região causada pela introdução de produtos lácteos, 
o que constituiu um fator importante para a sobrevivência das populações 
(RODRIGUES, 2011). 
 
Para que não ocorram sintomas de intolerância com a ingestão de 
lactose, é necessária apenas 50% de atividade de lactase. Assim, todos 
os indivíduos podem digerir alguma lactose e, apenas aqueles que 
apresentem um baixo nível de lactase e que ingiram uma quantidade 
de lactose que ultrapasse a capacidade de absorção, apresentam 
sintomas gastrointestinais e sistêmicos (RODRIGUES, 2011). 
A intolerância à lactose consiste numa síndrome clínica que se 
caracteriza por diarreia, dor abdominal, náuseas, flatulência e/ou 
distensão abdominal após a ingestão de lactose ou de substâncias que 
contenham este dissacarídeo, devido à mal absorção de lactose, 
distinguindo-se da alergia às proteínas do leite da vaca, entidade clínica 
mediada por um mecanismo imunológico (RODRIGUES, 2011). 
A quantidade de lactose necessária para que se produzam os sintomas 
varia consoante a quantidade de lactose ingerida, o grau de deficiência 
de lactase e o tipo de alimento sob o qual a lactose é ingerida 
(RODRIGUES, 2011). 
IMPORTANTE: A mal absorção de lactose diz respeito ao mecanismo 
fisiológico que provoca intolerância à lactose e deve-se a um 
desequilíbrio entre a quantidade de lactose ingerida e a capacidade de 
hidrólise da lactase, com consequente passagem de lactose para o 
cólon (RODRIGUES, 2011). 
A hipolactasia ou deficiência de lactase define-se como uma atividade 
da lactase marcadamente reduzida relativamente à atividade existente 
em lactentes e existe sob diferentes formas: (RODRIGUES, 2011). 
• Deficiência primária de lactase, também designada por 
hipolactasia do adulto, não persistência de lactase ou 
deficiência hereditária de lactase, a causa mais frequente de 
mal absorção de lactose e de intolerância à lactose. Nesta 
condição ocorre uma diminuição da síntese de lactase após 
a fase de amamentação, com concentrações de lactase a 
nível da bordadura em escova dos enterócitos na idade 
7 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
adulta que atingem 10% do nível existente durante a 
infância. A deficiência primária de lactase ocorre 
independentemente da continuação ou não do consumo 
de lactose e atinge 70% da população adulta em todo o 
mundo. 
• Deficiência secundária de lactase, que se refere à perda de 
atividade da lactase em indivíduos com persistência de 
lactase. Resulta de lesão da bordadura em escova do 
intestino delgado por patologia do trato gastrointestinal. 
Constitui o único tipo de hipolactasia potencialmente 
reversível, pelo que é fundamental diagnosticar 
clinicamente esta entidade. 
• Deficiência congênita de lactase, um distúrbio 
extremamente raro, que apenas foi relatado num número 
reduzido de casos. Resulta de uma atividade mínima da 
lactase com consequente produção de sintomas (diarreia e 
atraso de desenvolvimento) após a primeira exposição ao 
leite materno. 
• Deficiência neonatal de lactase, definida como a deficiência 
de lactase que ocorre em prematuros com menos de 34 
semanas de gestação. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os sintomas típicos de intolerância à lactose 
incluem dor e distensão abdominais, flatulência, diarreia, borborismo e, 
por vezes, náuseas e vômitos. Na sua forma mais grave, a intolerância 
à lactose pode provocar desidratação, alterações eletrolíticas e atraso 
de desenvolvimento (RODRIGUES, 2011). 
As bactérias presentes no cólon metabolizam a lactose que não é 
absorvida no intestino delgado, produzindo ácidos gordos voláteis e 
gases (metano, dióxido de carbono e hidrogénio), mecanismo 
responsável pela ocorrência de flatulência. Quando é produzida uma 
razoável quantidade de gás, a distensão abdominal estimula o sistema 
nervoso intestinal, resultando em cólica abdominal. Além disso, a lactose 
mal absorvida é osmoticamente ativa, o que, associado à acidificação 
do conteúdo cólico pela fermentação bacteriana, provoca grande 
secreção de fluidos e eletrólitos para o lúmen intestinal, uma diminuição 
do tempo de trânsito intestinal e, consequentemente, diarreia 
(RODRIGUES, 2011). 
A intolerância à lactose pode provocar ainda sintomas sistêmicos, tais 
como cefaleias, tonturas, diminuição da concentração, diminuição da 
memória de curta duração, fadiga, dores musculares e articulares, 
vários tipos de reações alérgicas, arritmias, úlceras orais, inflamação da 
garganta e aumento da frequência da micção. Os metabolitos 
resultantes da fermentação da lactose mal absorvida pelas bactérias 
cólicas (alcoóis, dióis, aldeídos, cetonas e ácidos) provocam alterações 
na expressão de genes e no crescimento de bactérias, interferindo 
com o equilíbrio da microflora do cólon (RODRIGUES, 2011). 
DIAGNÓSTICO: Pode recorrer-se a uma prova terapêutica com 
alimentação sem lactose quando se suspeita de uma intolerância à 
lactose, eliminando todas as fontes de lactose da alimentação. O 
diagnóstico é feito após duas semanas de restrição total de lactose da 
alimentação com resolução dos sintomas e recorrência dos mesmos 
após reintrodução de alimentos contendo lactose (RODRIGUES, 2011). 
Por vezes, é necessário recorrer ao teste respiratório do hidrogênio, 
que é considerado o método mais fidedigno, menos invasivo e com 
melhor relação custo-benefício no diagnóstico de intolerância à lactose 
(RODRIGUES, 2011). 
O teste de tolerância à lactose consiste na ingestão de uma dose 
padronizada de lactose (2g/kg ou 50g/m2 de superfície corporal, até 
um máximo de 50g em 20% de solução aquosa) e posterior 
determinação da concentração plasmática de glucose. É possível 
diagnosticar mal absorção de lactose pelo aparecimento de sintomas 
e/ou por uma determinação da concentração plasmática de glucose 
inferior a 26mg/dl após ingestão de uma dose de lactose (RODRIGUES, 
2011). 
INTOLERÂNCIA AOS MONOSSACARÍDEOS 
A glucose e galactose, produtos da hidrólise da lactose, são 
normalmente transportadas através da membrana apical do epitélio 
intestinal por transporte ativo, mediado pelo cotransportador 
Na+/glucose (SGLT1). Estes dois monossacarídeos são, de seguida, 
transportados dos enterócitos para a circulação portal através do 
transportador presente na membrana basolateral, GLUT2. A mal 
absorção de glucose-galactose é uma doença rara, autossômicarecessiva, que resulta de um defeito no transporte ativo destes dois 
monossacarídeos para o interior do enterócito (RODRIGUES, 2011). 
Foram identificadas várias mutações do gene que codifica o SGLT1 
(gene hSGLT1, localizado no cromossoma 22) responsáveis por este 
defeito de transporte. A mal absorção de glucose-galactose cursa com 
diarreia grave e desidratação em recém-nascidos, aquando da ingestão 
de leite materno ou de fórmulas infantis (RODRIGUES, 2011). 
A frutose é um monossacarídeo encontrado sob três principais formas 
na dieta: como frutose livre (presente em frutos e no mel); como um 
constituinte do dissacarídeo sacarose; ou como frutanos, polímeros da 
frutose frequentemente presentes na forma de oligossacarídeos 
(frutooligossacarídeos – FOS), presentes em alguns vegetais e em 
produtos à base de trigo, tendo também sido desenvolvidos como 
adoçante em alternativa à frutose (RODRIGUES, 2011). 
A intolerância à frutose pode manifestar-se segundo duas 
apresentações clínicas diferentes: mal absorção de frutose e 
intolerância hereditária à frutose (RODRIGUES, 2011). 
O monossacarídeo frutose é transportado através da membrana apical 
dos enterócitos por difusão facilitada através do transportador GLUT5, 
específico para a frutose, sendo, de seguida, transportado através da 
membrana basolateral dos enterócitos pelo transportador GLUT2. Este 
último transportador permite o transporte não só da frutose, mas 
também da glucose e galactose. Embora o GLUT5 constitua o principal 
transportador da frutose através da membrana apical dos enterócitos, 
o GLUT2 pode auxiliar a absorção do excesso de frutose luminal ao 
ser também inserido na membrana apical de forma reversível aquando 
do transporte de glucose pelo SGLT1. A absorção de frutose depende 
da capacidade funcional do GLUT5, que aumenta com o aporte de 
frutose e sacarose da dieta, e da capacidade e rapidez de inserção de 
GLUT2 na membrana apical dos enterócitos em resposta aos hidratos 
de carbono da dieta (RODRIGUES, 2011). 
Assim, a mal absorção de frutose parece ser devida a um defeito a 
nível do transporte intestinal, embora não resulte de mutações do 
gene que codifica o GLUT5 (gene SLC2A5). A prevalência de mal 
absorção de frutose, em doentes com sintomas gastrointestinais 
inexplicados, varia entre 38% e 80% consoante a dose de frutose 
ingerida. Verifica-se que a frutose é absorvida a nível intestinal de forma 
mais eficiente e provoca menos sintomas quando são ingeridos 
alimentos que contêm frutose em quantidades praticamente 
equimolares às de glucose. Por outro lado, a absorção de frutose 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
proveniente de alimentos que contêm uma mistura de frutose e 
sorbitol (um tipo de poliól) é incompleta e responsável por mais 
sintomas relativamente à absorção de cada um dos dois açúcares 
isoladamente (RODRIGUES, 2011). 
A intolerância hereditária à frutose é um defeito congênito do 
metabolismo autossômico recessivo, potencialmente letal, que resulta 
da deficiência de aldolase B no fígado, intestino e rim, com 
consequente incapacidade de metabolizar por completo a frutose, 
sorbitol (fonte endógena de frutose) e sacarose da dieta. Pode resultar 
de várias mutações do gene da aldolase B, localizado no cromossoma 
9, que causam perda da atividade enzimática. Um défice de atividade 
de aldolase B provoca acumulação de frutose 1-fosfato, com 
consequente captura e impossibilidade de utilizar o fosfato e prejuízo 
de todos os processos celulares dependentes de fosforilação ou de 
adenosina trifosfato (ATP), nomeadamente a glicogenólise hepática. 
Este mecanismo explica a ocorrência de hipoglicemia aguda nestes 
doentes após a ingestão de frutose e a incapacidade de reverter esta 
hipoglicemia com a administração de glucagina (RODRIGUES, 2011). 
INTOLERÂNCIA ÀS AMINAS BIOGÊNICAS 
↠ As aminas biogénicas provenientes da dieta incluem a 
histamina, tiramina, feniletilamina, dopamina, norepinefrina, 
e a serotonina (RODRIGUES, 2011). 
Intolerância à histamina resulta de um desequilíbrio entre a acumulação 
de histamina e a capacidade de degradação de histamina. 
Aproximadamente 1% da população apresenta intolerância à histamina, 
da qual 80% são adultos em idade média. A histamina, um mediador 
de reações anafiláticas, pode ser metabolizada por duas vias: por 
diaminação oxidativa pela enzima diamina oxidase (DAO), que atua 
extracelularmente, ou por metilação pela enzima hitamina-N-
metiltransferase (HNMT), uma enzima citosólica que atua apenas no 
espaço intracelular (RODRIGUES, 2011). 
↠ A intolerância à histamina parece resultar 
principalmente da ingestão de alimentos que contêm 
elevadas quantidades de histamina por indivíduos com 
baixa inativação da histamina a nível intestinal devido a 
patologias gastrointestinais ou por inibição desta inativação 
por outros componentes alimentares ou fármacos, o que 
permite a absorção de histamina em quantidades 
suficientes para provocar sintomas (RODRIGUES, 2011). 
↠ Elevadas concentrações de histamina são encontradas 
principalmente em produtos da fermentação bacteriana, 
tais como vinho, queijo curado e carne processada ou em 
alimentos contaminados por microrganismos 
(RODRIGUES, 2011). 
↠ Os sintomas mais comuns de intolerância à histamina 
incluem rinorreia, congestão nasal, cefaleia, dismenorreia, 
hipotonia, arritmias, urticária, prurido, rubor, asma e 
distúrbios gastrointestinais (epigastralgia difusa, cólica 
abdominal, flatulência e diarreia) (RODRIGUES, 2011). 
 O diagnóstico definitivo baseia-se num teste de provocação com 
histamina, duplamente cego e controlado por placebo, com 
determinação das concentrações plasmáticas de histamina 
(RODRIGUES, 2011). 
 
INTOLERÂNCIA AOS ADITIVOS ALIMENTARES 
↠ Os aditivos alimentares, quando presentes nas doses 
permitidas, são reconhecidos como produtos seguros. 
Contudo, alguns indivíduos predispostos podem 
apresentar reações de intolerância aquando do consumo 
de aditivos alimentares, principalmente sulfitos, nitritos, 
nitratos, glutamato monossódico e alguns corantes, que 
se manifestam por asma, rinite, urticária e enxaqueca. O 
mecanismo fisiopatológico subjacente a este tipo de 
intolerâncias não é ainda conhecido (RODRIGUES, 2011). 
ARTIGO: Fatores associados à intolerância alimentar em pacientes no 
pós-operatório de cirurgia bariátrica (PAIVA; PINTO, 2015). 
Apesar da cirurgia apresentar resultados bastante satisfatórios no que 
se refere à qualidade de vida do obeso mórbido, como perda de peso, 
melhora de algumas comorbidades, da qualidade de vida, do humor e 
outros aspectos das funções psicossociais, ela também pode trazer 
algumas morbidades no período pós-operatório inicial, no qual se 
observa intolerância a alimentos, com regurgitação associada. 
Como um dos efeitos colaterais da cirurgia bariátrica, a intolerância 
alimentar é uma das causas dos sintomas comuns do pós-operatório, 
como vômito, diarreia, obstipação e síndrome de dumping. 
A intolerância à carne é esperada devido à parcial gastrectomia, com 
consequente alteração na produção de pepsina, principal responsável 
pela digestão das proteínas. Além disso, a mastigação inadequada 
aumenta essa intolerância, por isso, a educação nutricional é tão 
importante. 
Se por um lado a intolerância alimentar dificulta a adequação da dieta, 
em termos de nutrientes, por outro os pacientes que não apresentam 
nenhum tipo de intolerância ficam mais predispostos ao retorno de 
práticas alimentares errôneas no pós-operatório tardio. Surter et al. 
afirmaram que o preço de uma melhor tolerância alimentar é 
frequentemente o reganho de peso. 
 
 
9 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
↠ Manifestam-se geralmente por intestino irritável, 
cefaleias, enxaquecas, fadiga, alterações do 
comportamento ou urticária. Podem também ocorrer 
sintomas de asma em alguns doentes, bem como uma 
reação anafilatóide, quesucede ocasionalmente 
(RODRIGUES, 2011). 
DIAGNÓSTICO 
↠ A avaliação inicial de um doente com reação adversa 
a alimentos consiste numa história clínica detalhada e num 
exame físico cuidadoso (RODRIGUES, 2011). 
 As intolerâncias alimentares associam-se frequentemente a 
história de intestino irritável, enxaqueca, úlceras orais ou erupções 
cutâneas (RODRIGUES, 2011). 
EXAMES LABORATORIAIS 
↠ Diferentes testes laboratoriais podem ser utilizados no 
diagnóstico de intolerâncias alimentares, nomeadamente: 
(RODRIGUES, 2011). 
• medição da atividade enzimática em biópsias 
intestinais; 
• identificação de determinadas mutações 
genéticas específicas; 
• testes respiratórios do hidrogênio para 
diagnóstico de intolerâncias a alguns hidratos de 
carbono (frutose, lactose e sacarose). 
O teste respiratório do hidrogênio consiste na medição da quantidade 
de hidrogénio presente no ar expirado após ingestão do hidrato de 
carbono a testar. Em caso de mal absorção, o hidrato de carbono 
ingerido sofre metabolização pelas bactérias presentes no cólon com 
produção de hidrogênio, metano, dióxido de carbono e ácidos gordos, 
sendo que uma pequena quantidade do hidrogênio produzido é 
absorvido e eliminado durante a primeira passagem pelos pulmões. De 
forma a evitar resultados falso-negativos, devido a escassez de 
bactérias produtoras de hidrogênio, e resultados falso-positivos, por 
diminuição do tempo de trânsito orocecal e proliferação bacteriana, 
deve ser realizado um teste respiratório do hidrogênio com lactulose, 
um dissacarídeo que não é absorvido e que, portanto, causa produção 
de hidrogénio (RODRIGUES, 2011). 
 
• a medição dos níveis plasmáticos de glucose 
após ingestão de uma dose de lactose e frutose 
pode ser utilizada no diagnóstico de intolerância 
à lactose e intolerância à frutose, 
respectivamente (RODRIGUES, 2011). 
Alergia alimentar 
↠ Alergia alimentar é uma forma de reação adversa a 
alimentos que é causada por uma resposta imunológica 
ao alimento, sendo que a maioria das alergias alimentares 
é mediada por uma resposta de hipersensibilidade tipo 1, 
com produção de Imunoglobulina E (IgE). Muitas reações 
alérgicas a alimentos ocorrem alguns minutos após a 
ingestão, mas a reação pode, por vezes, ser mais tardia 
(hipersensibilidade não-mediada por IgE) (RODRIGUES, 
2011). 
CLASSIFICAÇÃO 
↠ As reações de hipersensibilidade aos alimentos podem 
ser classificadas de acordo com o mecanismo imunológico 
envolvido em: (SOLÉ et. al., 2018). 
• Mediadas por IgE: Decorrem de sensibilização a alérgenos 
alimentares com formação de anticorpos específicos da 
classe IgE, que se fixam a receptores de mastócitos e 
basófilos. Contatos subsequentes com este mesmo 
alimento e sua ligação a duas moléculas de IgE próximas 
determinam a liberação de mediadores vasoativos e 
citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas de 
hipersensibilidade imediata. São exemplos de manifestações 
mais comuns que surgem logo após a exposição ao 
alimento: reações cutâneas (urticária, angioedema), 
gastrintestinais (edema e prurido de lábios, língua ou palato, 
vômitos e diarreia), respiratórias (broncoespasmo, coriza) e 
reações sistêmicas (anafilaxia e choque anafilático). 
• Reações mistas (mediadas por IgE e hipersensibilidade 
celular): Neste grupo estão incluídas as manifestações 
decorrentes de mecanismos mediados por IgE associados 
à participação de linfócitos T e de citocinas pró-
inflamatórias. São exemplos clínicos deste grupo a esofagite 
eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite 
eosinofílica, a dermatite atópica e a asma. 
• Reações não mediadas por IgE: As manifestações não 
mediadas por IgE não são de apresentação imediata e 
caracterizam-se basicamente pela hipersensibilidade 
mediada por células. Embora pareçam ser mediadas por 
linfócitos T, há muitos pontos que necessitam ser mais 
estudados nesse tipo de reações. Aqui estão representados 
os quadros de proctite, enteropatia induzida por proteína 
alimentar e enterocolite induzida por proteína alimentar. 
EPIDEMIOLOGIA 
 Os dados sobre a prevalência de alergia alimentar, ao redor do 
mundo, são conflitantes e variáveis a depender de: idade e 
características da população avaliada (cultura, hábitos alimentares, 
10 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
clima), mecanismo imunológico envolvido, método de diagnóstico 
(autorreferido, questionário escrito, testes cutâneos, determinação de 
IgE sérica específica ou testes de provocação oral), tipo de alimento, 
regiões geográficas, entre outros (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ É mais comum em crianças e a sua prevalência 
parece ter aumentado nas últimas décadas em todo o 
mundo. Estima-se que a prevalência seja 
aproximadamente de 6% em menores de três anos, e 
de 3,5% em adultos (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ A prevalência é, no entanto, superior em indivíduos 
atópicos (cerca de 10%). A apresentação clínica ocorre 
geralmente durante o primeiro ano de vida, estando 
bastante associada à existência de eczema atópico 
(RODRIGUES, 2011). 
↠ Os principais alérgenos identificados foram frutos do 
mar (0,9%), fruta ou vegetal (0,5%), leite e derivados 
(0,5%), e amendoim (0,5%) (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ No Brasil, os dados sobre prevalência de alergia 
alimentar são escassos e limitados a grupos populacionais, 
o que dificulta uma avaliação mais próxima da realidade. 
Estudo realizado por gastroenterologistas pediátricos 
apontou ser a incidência de alergia às proteínas do leite 
de vaca 2,2%, e a prevalência 5,4% em crianças entre 
os serviços avaliados (SOLÉ et. al., 2018). 
ETIOLOGIA 
↠ Os alimentos mais frequentemente envolvidos nas 
alergias alimentares são o leite, ovo, amendoim, sésamo, 
peixe, marisco, frutos secos, trigo e soja (RODRIGUES, 
2011). 
Mais de 90% das reações alérgicas em crianças são causadas por seis 
alimentos, quais sejam, proteína do leite de vaca, ovo, amendoim, trigo, 
soja e amêndoa, enquanto no adulto são o amendoim, a amêndoa, os 
peixes e frutos do mar os maiores responsáveis (DANI; PASSOS, 2011). 
 Em alguns grupos de alimentos, especialmente as amêndoas e 
os frutos do mar, a alergia a um alimento membro desta família em 
geral acarreta alergia a todos os outros alimentos da família, o que é 
chamado de reação cruzada. Mas, no grupo de alimentos oriundos de 
animais, excetuando-se os frutos do mar, a reação cruzada não é 
comum, ou seja, uma pessoa alérgica ao leite de vaca pode 
normalmente alimentar-se de carne e ovos. Além desses alimentos, 
muitos outros, como frutas, vegetais e condimentos, podem ser 
alergênicos aos seres humanos (RODRIGUES, 2011). 
FATORES DE RISCO 
 Pesquisas reconheceram que apenas a exposição aos alérgenos 
não determina o aumento global na incidência da doença (SOLÉ et. al., 
2018). 
Uma série de fatores de risco têm sido associados à alergia alimentar, 
tais como ser lactente do sexo masculino, etnia asiática e africana, 
comorbidades alérgicas (dermatite atópica), desmame precoce, 
insuficiência de vitamina D, redução do consumo dietético de ácidos 
graxos poliinsaturados do tipo ômega 3, redução de consumo de 
antioxidantes, uso de antiácidos que dificulta a digestão dos alérgenos, 
obesidade como doença inflamatória, época e via de exposição aos 
potenciais alérgenos alimentares e outros fatores relacionados à 
Hipótese da higiene (SOLÉ et. al., 2018). 
A predisposição genética, associada a fatores de risco ambientais, 
culturais e comportamentais, formam a base para o desencadeamento 
das alergias alimentares em termos de frequência, gravidade e 
expressão clínica (SOLÉ et. al., 2018). 
HERANÇA GENÉTICA 
↠ A história familiar de atopia ainda é o melhor indicativo 
de risco para o seu aparecimento. Em estudo com lactentes 
comprovadamente diagnosticados com alergia alimentar, o risco de 
alergia alimentar foi aumentado para 40% se um membro da família 
nuclear apresentasse qualquer doença alérgica, e em 80% quandoisto 
aconteceu em dois familiares próximos. Assim, a expressão da herança 
genética é mais intensa quando há antecedentes bilateralmente (pai e 
mãe), determinando sintomas mais precoces e frequentes (SOLÉ 
et. al., 2018). 
 As mutações que acarretam perda de função no gene da 
filagrina foram associadas à alergia ao amendoim, independente da 
presença da dermatite atópica, e levantou a possibilidade da pele 
funcionar como uma via potencial de sensibilização (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Os polimorfismos no gene STAT6 foram associados 
à sensibilização e retardo na tolerância em alergia ao leite 
de vaca (SOLÉ et. al., 2018). 
FATORES DIETÉTICOS 
PRIVAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO: O leite materno contém IgA 
secretora, que funciona como bloqueador de antígenos alimentares e 
ambientais, bem como vários fatores de amadurecimento da barreira 
intestinal e fatores imunorreguladores importantes no estabelecimento 
da microbiota. O aleitamento materno exclusivo, sem a introdução de 
leite de vaca, de fórmulas infantis à base de leite de vaca e de alimentos 
complementares até os seis meses tem sido ressaltado como eficaz 
na prevenção do aparecimento de sintomas alérgicos (SOLÉ et. al., 
2018). 
USO DE FÓRMULAS LÁCTEAS: Receber fórmulas de leite de vaca, ainda 
no berçário, pode ser indutor de disbiose intestinal, e fator de risco 
importante de alergia alimentar (SOLÉ et. al., 2018). 
DISBIOSE INTESTINAL 
Logo após o nascimento, inicia-se a colonização do recém-nascido. 
Alguns fatores que interferem nesse processo são: parto cesariano, 
uso materno de antibiótico, condições excessivas de higiene e o uso 
de fórmula complementar oferecida à criança que pode resultar em 
disbiose (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ O leite materno é rico em oligossacarídeos, 
responsáveis pelo efeito bifidogênico, o que faz com que 
lactentes em aleitamento materno tenham aumento de 
11 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
bifidobactérias em seu trato gastrintestinal. Já as crianças 
que recebem fórmulas infantis ou leite de vaca integral 
desenvolvem uma microbiota intestinal com predomínio 
de enterobactérias e bacteroides, tornando o sistema 
imunológico mais vulnerável à quebra de tolerância 
(SOLÉ et. al., 2018). 
INSUFICIÊNCIA DE VITAMINA D 
↠ A insuficiência de vitamina D (abaixo de 15 ng/mL) foi 
associada a risco aumentado para a sensibilização ao 
amendoim. A insuficiência de vitamina D como fator de 
risco para alergia alimentar é mais frequente em países 
distantes do Equador e com menor radiação ultravioleta, 
apesar desta associação ser controversa (SOLÉ et. al., 
2018). 
FATORES COMPORTAMENTAIS E CULTURAIS 
↠ Estes fatores também estão associados ao risco de 
alergia alimentar, e podem ser modificáveis. Os filhos de 
gestantes que fumaram na gravidez apresentam níveis 
elevados de IgE e eosinofilia no sangue do cordão 
umbilical, sugerindo que este irritante respiratório pode 
ser indutor de desvio Th2 e consequentemente, de 
doença alérgica. Do mesmo modo, o consumo de álcool 
durante a gestação encontra-se documentado como um 
fator de risco importante, com elevação da IgE específica 
para antígenos alimentares e aeroalérgenos (SOLÉ et. al., 
2018). 
COMORBIDADES ALÉRGICAS 
↠ Comorbidades alérgicas são fatores de risco para o 
desenvolvimento de alergia alimentar. Estudos indicam que 
a alergia alimentar pode predispor à asma, e, da mesma 
forma, a asma pode predispor à alergia alimentar (SOLÉ 
et. al., 2018). 
MECANISMOS DE DEFESA DO TRATOGASTROINTESTINAL 
 O trato gastrintestinal (TGI) é o único órgão onde existe 
uma convivência harmônica entre grande número de micro-
organismos e o sistema imunológico além de ter a capacidade de 
receber diariamente grande quantidade de antígenos alimentares sem 
que haja um processo inflamatório que cause danos (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Estes mecanismos de defesa existentes podem ser 
classificados como inespecíficos e específicos (SOLÉ et. 
al., 2018). 
↠ Os mecanismos de defesa inespecíficos englobam: 
(SOLÉ et. al., 2018). 
• a barreira mecânica representada pelo próprio 
epitélio intestinal e pela junção firme entre suas 
células epiteliais (promovida por tight junctions, 
desmossomos, entre outros); 
• a flora intestinal; 
• o ácido gástrico; 
• as secreções biliares e pancreáticas; 
• a própria motilidade intestinal. 
↠ O epitélio intestinal é renovado a cada semana, em 
decorrência da proliferação, diferenciação e migração das 
stem-cell progenitoras, das criptas em direção ao lúmen, 
mantendo sua função de barreira (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Um elemento importante da defesa inespecífica é 
representado pelo muco, que recobre as células epiteliais 
e contém diferentes mucinas. O muco auxilia na formação 
de uma primeira linha de defesa e facilita a aderência de 
bactérias através de componentes de sua parede celular, 
promovendo sua eliminação pela peristalse (SOLÉ et. al., 
2018). 
↠ Entre os mecanismos de defesa específicos 
encontramos aqueles relacionados à defesa imunológica 
do TGI, que podem ser encontrados em três níveis, a 
saber: (SOLÉ et. al., 2018). 
• Barreira epitelial intestinal; 
• Lâmina própria; 
• Sistema imunológico do trato gastrintestinal 
(GALT - Gut-associated lymphoid tissue). Este 
último faz parte de um grande sistema de 
imunidade de mucosas (MALT- Mucosa-
associated lymphoid tissue), que entra em 
contato com o meio externo, sendo considerado 
o maior órgão linfoide do organismo. 
O GALT, por sua vez, é composto por diferentes tecidos linfoides 
organizados, que incluem: as placas de Peyer (PP), folículos linfoides 
isolados (FLI) e linfonodos mesentéricos (LNM) (SOLÉ et. al., 2018). 
Na lâmina própria estão localizadas a maioria das células imunológicas: 
as que já entraram em contato com antígenos anteriormente 
(linfócitos T e B de memória), sendo na maioria linfócito do tipo CD4+, 
mas também estão presentes CD8+, CD4+CD25hi (conhecidos como 
linfócitos T reguladores - Treg) e outras células imunológicas, como 
células dendríticas (DC), macrófagos, mastócitos, eosinófilos e células 
linfoides inatas (ILC) (SOLÉ et. al., 2018). 
As PP consistem de um centro germinativo que contém grande 
quantidade de linfócitos B, circundados de poucos linfócitos T. Os 
linfócitos B são direcionados principalmente para a produção de IgA. 
Uma particularidade das PP é a presença de células epiteliais 
especializadas, as chamadas células M. Essas células M não apresentam 
microvilosidades e camada superficial de muco, o que facilita a 
12 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
captação de antígenos (Ag) particulados, vírus, bactérias ou parasitas 
intactos (SOLÉ et. al., 2018). 
Após a apresentação antigênica na mucosa do TGI pela captação do 
antígeno pelas células M, ocorre a captação destes antígenos pelas 
DC, que representam as células apresentadoras de antígeno (APC) 
mais competentes para esta função, embora outras células também 
possam exercer este papel. Estas APC apresentam estes antígenos 
às células T helper naive (Th0) presentes nos tecidos linfoides 
associados ao intestino. Na dependência da alergenicidade do Ag e das 
células presentes no local da apresentação, as células Th0 diferenciam-
se em diferentes tipos de linfócitos T, classificados pelo perfil de 
interleucinas (IL) que produzem (SOLÉ et. al., 2018). 
Linfócitos (INFg), Th1 produzem interferon gama IL-2 e fator de 
necrose tumoral alfa (TNF- a), e os linfócitos Th2, preferentemente 
IL-4, IL-5, IL- 9 e IL-13 (SOLÉ et. al., 2018). 
A produção da IgA secretora pelos linfócitos B, induzidos pela 
presença de TGF-ß, representa um dos principais mecanismos de 
defesa do TGI, referido como exclusão imunológica e com ação 
sinérgica com outros mecanismos imunológicos (SOLÉ et. al., 2018). 
A lâmina própria do intestino é o maior local de produção de 
anticorpos do organismo, onde se encontram cerca de 80% de células 
B ativadas (SOLÉ et. al., 2018). 
 Sugere-seque o sistema imunológico imaturo dos 
neonatos e lactentes jovens favoreça a sensibilização alérgica. Nesta 
fase da vida, a barreira intestinal é imatura e mais permeável, tornando 
o epitélio mais suscetível à penetração dos diferentes antígenos, 
portanto, mais vulnerável à sensibilização alérgica. Além disso, nesta 
fase da vida há produção diminuída de anticorpos IgA secretores, o 
que favorece a penetração de alérgenos e consequentemente a 
ocorrência de alergias (SOLÉ et. al., 2018). 
Neste sentido, a colonização intestinal pré, peri e pós-natal, que se 
estabiliza nos primeiros anos de vida, é um processo dinâmico e 
fundamental para o desenvolvimento morfofuncional de diversos 
sistemas, sobretudo o sistema imunológico, em suas respostas inatas 
ou adaptativas. Dois fatores fundamentais para a instalação de eubiose 
são o leite materno e o parto vaginal. (SOLÉ et. al., 2018). 
RESPOSTA IMUNOLÓGICA NORMAL A ANTÍGENOS INGERIDOS 
↠ Em indivíduos saudáveis, a ingestão de alimentos 
determina um estado de tolerância, que é entendido 
como um estado ativo de não resposta à ingestão de 
antígenos alimentares solúveis, mediado por uma 
resposta do GALT. Na maioria dos indivíduos, os 
mecanismos de defesa intestinal atuam desde as fases 
precoces de proteção pela barreira intestinal e na 
ativação de respostas reguladoras, o que promove a 
liberação de IL-10 e TGF-ß que, por sua vez, induzem a 
produção de IgA com seus efeitos de exclusão 
imunológica (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Em indivíduos suscetíveis, ou na presença de fatores 
que interferem nos mecanismos de barreira, inespecíficos 
ou mesmo específicos ocorre o direcionamento para 
uma resposta Th2 bem definida, com produção de IgE, 
ligação aos mastócitos e basófilos e liberação de 
mediadores inflamatórios. Após nova exposição ao 
mesmo antígeno, ocorre a ativação de linfócitos T de 
memória, que secretam mais IL de perfil Th2, e induzem 
maior produção de IgE, com todos seus efeitos locais e 
sistêmicos (SOLÉ et. al., 2018). 
 A via intestinal, embora seja a via predominante de 
sensibilização alergênica, não é a única capaz de induzir alergia 
alimentar. A pele e o trato respiratório podem também atuar como 
vias de penetração e sensibilização a antígenos alimentares. Acredita-
se que a sensibilização transcutânea ocorra especialmente nos 
pacientes com dermatite atópica, onde a quebra da barreira cutânea 
é um mecanismo favorecedor da penetração de alérgenos. A 
sensibilização primária pela via respiratória é rara, e o principal exemplo 
é a “asma do padeiro”, por sensibilização ao trigo devido à inalação 
frequente e em grandes quantidades deste alérgeno (SOLÉ et. al., 
2018). 
REATIVIDADE CRUZADA ENTRE ALÉRGENOS ALIMENTARES 
 Define-se como alérgeno, qualquer substância capaz de estimular 
uma resposta de hipersensibilidade. Os alérgenos alimentares são na 
sua maior parte representados por glicoproteínas hidrossolúveis com 
peso molecular entre 10 e 70 kDa (SOLÉ et. al., 2018). 
O conceito clássico de alérgeno envolve proteínas que suscitam uma 
resposta de hipersensibilidade; entretanto há, em alergia alimentar, 
importante exceção que precisa ser destacada: alérgenos compostos 
por carboidratos (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Estudos de biologia molecular documentam que vários 
alérgenos podem produzir reações cruzadas entre os 
alimentos. As reações cruzadas ocorrem quando duas 
proteínas alimentares compartilham parte de uma 
sequência de aminoácidos que contêm um determinado 
epítopo alergênico (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Há, entretanto, algumas situações clínicas de 
reatividade cruzada que devem ser consideradas: (SOLÉ 
et. al., 2018). 
• leite de vaca é um dos principais alérgenos alimentares em 
todo o mundo e pacientes alérgicos a suas proteínas 
apresentam elevadas taxas de reatividade a leites de outros 
mamíferos, com destaque para cabra, ovelha e búfala. 
• pacientes alérgicos a proteínas de ovo de galinha reagem 
à clara de ovo de outras aves. E quando alérgicos à gema, 
podem apresentar reação à carne de frango. 
• com relação ao látex, há uma conhecida reatividade 
cruzada entre alérgenos do látex e algumas frutas. Estima-
se que entre 30% e 50% dos alérgicos ao látex 
apresentem reatividade clínica a algumas frutas, mas 
somente 11% dos pacientes que apresentam reações a 
frutas desenvolverão alergia ao látex. 
• a síndrome pólen-fruta, bastante frequente na Europa, é 
raramente descrita no Brasil. Mas, é importante saber que 
a sensibilização ocorre durante a inalação de polens, e que 
13 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
as proteínas presentes nestas plantas podem apresentar 
reatividade cruzada com algumas frutas, especialmente se 
esta fruta for ingerida em sua forma crua. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 As manifestações clínicas das reações de 
hipersensibilidade aos alimentos são dependentes dos mecanismos 
imunológicos envolvidos. Enquanto as reações mediadas por IgE 
tipicamente ocorrem minutos após a exposição ao alimento envolvido, 
as não-mediadas por IgE e as formas mistas podem demorar de horas 
até dias para se tornarem clinicamente evidentes (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Os sintomas de alergia alimentar geralmente 
desenvolvem-se imediatamente após a ingestão do 
alimento implicado e estes podem ser cutâneos, 
gastrointestinais, respiratórios ou sistêmicos (RODRIGUES, 
2011). 
MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS 
↠ As manifestações cutâneas de alergia alimentar estão 
entre as mais descritas, sendo mais prevalentes nas 
alergias IgE mediadas. Entre as manifestações cutâneas 
de hipersensibilidade alimentar, destacam-se: urticária, 
angioedema e dermatite atópica (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ A urticária aguda e o angioedema constituem as 
manifestações cutâneas mais frequentes de alergia 
alimentar, que raramente causa urticária crônica 
(RODRIGUES, 2011). 
 
A urticária é caracterizada pela presença de pápulas eritematosas bem 
delimitadas na pele, de contornos geográficos com halo central e, em 
geral, intensamente pruriginosas. As lesões resultam do 
extravasamento de líquido oriundo de pequenos vasos ou de capilares 
à derme superficial (SOLÉ et. al., 2018). 
No angioedema, o processo é semelhante, mas há acometimento de 
porções mais profundas da pele (SOLÉ et. al., 2018). 
 Por outro lado, a urticária pode ser o sintoma inicial de anafilaxia, 
uma vez que cerca de 90% dos pacientes que desenvolvem esta 
reação grave apresentam manifestações dermatológicas (SOLÉ et. al., 
2018). 
MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS 
↠ Os distúrbios gastrointestinais apresentam geralmente 
um mecanismo misto, mediado e não-mediado por IgE, 
como ocorre na esofagite e/ou gastroenterite eosinofílica 
alérgica. A esofagite eosinofílica alérgica constitui a 
síndrome mais comumente associada à alergia alimentar 
e é definida por sintomas esofágicos (disfagia, impactação 
alimentar e perda ponderal em adolescentes; irritabilidade, 
diminuição do rendimento e distúrbios do sono em 
crianças) (RODRIGUES, 2011). 
MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS 
 A inalação direta do alérgeno alimentar pelo trato respiratório 
pode gerar quadros raros de asma ou rinite, induzidos por alimento 
(SOLÉ et. al., 2018). 
Apesar dos sintomas nasais e da dispneia serem frequentes como 
sintomas gerais na anafilaxia por alimentos, a asma e a rinite isoladas 
raramente ocorrem como expressão localizada de alergia alimentar. 
De maneira geral, os sintomas respiratórios quando presentes em 
quadros de alergia alimentar indicam manifestação mais grave, e 
geralmente fazem parte do quadro clínico de anafilaxia (SOLÉ et. al., 
2018). 
↠ As manifestações respiratórias de alergia alimentar 
podem incluir asma, edema laríngeo ou rinoconjuntivite 
(RODRIGUES, 2011). 
MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS 
 As alergias alimentares são responsáveis por, pelo menos, um 
terço a metade dos casos de anafilaxia que recorrem ao Serviço de 
Urgência dos hospitais, caracterizando-se pelos sintomas jámencionados, bem como por sintomas cardiovasculares (hipotensão, 
colapso vascular e disritmias) (RODRIGUES, 2011). 
↠ A anafilaxia induzida por alimentos é uma forma de 
hipersensibilidade mediada por IgE, com manifestações 
súbitas de sintomas e representa um quadro emergencial 
com risco de morte (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Embora qualquer alimento potencialmente possa 
induzir uma reação anafilática, os mais apontados são leite 
de vaca, ovo, camarão, peixe, amendoim e nozes (SOLÉ 
et. al., 2018). 
Os principais sinais e sintomas de anafilaxia são: (SOLÉ et. al., 2018). 
• pele: eritema, prurido, urticaria, angioedema, pode ocorrer 
ainda exantema morbiliforme e ereção de pelos; 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
• sistema gastrintestinal: prurido e/ou edema dos lábios, 
língua e palato, sabor metálico na boca, náuseas, vômitos, 
diarreia e dor abdominal; 
• sistema respiratório: e o principal órgão do choque 
anafilático. Pode ocorrer: prurido e sensação de garganta 
“fechando”, disfonia, tosse seca irritativa, edema de glote e 
de laringe, dispneia, sensação de aperto torácico, sibilos 
generalizados, crises de espirros, lacrimejamento e 
congestão nasal intensa; 
• sistema cardiovascular: sincope, dor torácica, arritmia, 
hipotensão e choque; 
• sistema nervoso: cefaleia, diminuição do vigor, confusão 
metal, sonolência, convulsões, incontinência, perda de 
consciência e coma. 
DIAGNÓSTICO 
 Na avaliação diagnóstica das reações adversas a alimentos, a 
história clínica tem papel fundamental. O seu valor depende muito da 
capacidade recordatória dos sintomas pelos pacientes, e da habilidade 
e sensibilidade do médico em diferenciar as manifestações causadas 
por hipersensibilidade alimentar daquelas relacionadas a outras 
condições (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ A avaliação inicial de um doente com reação adversa 
a alimentos consiste numa história clínica detalhada e num 
exame físico cuidadoso (RODRIGUES, 2011). 
↠ A história clínica deve esclarecer: (RODRIGUES, 2011). 
• Qual o alimento responsável e a quantidade 
ingerida; 
• O tempo decorrido entre a ingestão do alimento 
e o desenvolvimento dos sintomas; 
• Se a ingestão do alimento possivelmente 
implicado provocou sintomas semelhantes 
noutras ocasiões; 
• Se são necessários determinados fatores para 
que se produzam os sintomas, tais como 
exercício, álcool e consumo de fármacos; 
• O intervalo de tempo entre a última reação 
adversa; 
• Quais os sintomas causados e se foi administrada 
algum tipo de medicação ao doente (anti-
histamínicos, corticosteróides, epinefrina); 
• Se o doente apresenta outras alergias. 
 A história familiar pode também ser útil no diagnóstico, sendo 
que as alergias alimentares estão habitualmente relacionadas com 
história familiar de atopia (asma, eczema, febre dos fenos) 
(RODRIGUES, 2011). 
↠ O exame objetivo deve permitir avaliar a pele, o 
sistema gastrointestinal e respiratório (RODRIGUES, 2011). 
 
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 
Hemograma: auxilia na detecção de complicações a ela 
associadas, como a anemia. As reservas corporais de 
ferro (ferritina sérica) devem ser avaliadas. Teoricamente, 
na alergia alimentar pode ocorrer deficiência de ferro em 
função de perdas fecais ou de má absorção secundária 
à lesão do intestino delgado, ou da inflamação sistêmica 
(SOLÉ et. al., 2018). 
DIETA DE EXCLUSÃO: o método mais utilizado para a 
confirmação do diagnóstico. Consiste em excluir do 
regime alimentar, por 2 semanas, os nutrientes suspeitos 
e reintroduzi-los um a um. Assim, chega-se ao 
desaparecimento dos sintomas, quando o alimento 
responsável pela alergia é afastado da dieta. A possibilidade 
de acerto é evidentemente maior quando são poucos os 
alimentos relacionados com o processo, e deve-se 
lembrar que a mudança alimentar pode melhorar também 
quadros de intolerância não imunológica (DANI; PASSOS, 
2011). 
Antes do teste, o paciente deve ser mantido em sua dieta usual por 
10 a 14 dias. Durante esse tempo, são registrados, em um diário 
nutricional, tipo e quantidade dos nutrientes ingeridos e ocorrência e 
caráter das reações adversas. O diário auxilia na identificação dos 
alimentos a serem eliminados inicialmente. Na evidência de intolerância 
alimentar especifica, a orientação inicial consiste em eliminar os 
alimentos envolvidos. Se a eliminação não ocasiona desaparecimento 
dos sintomas, ou se existem suspeitas múltiplas de hipersensibilidade, 
pode-se lançar mão das dietas oligoalergênicas, desprovidas de 
alergênios alimentares mais comuns (DANI; PASSOS, 2011). 
A continuidade de sintomas, em vigência de dietas oligoalerge ̂nicas, 
torna pouco provável que as manifestações sejam causadas por 
alimentos. Quando o teste é positivo, isto é, os sintomas desaparecem 
com a orientação nutricional, o paciente entra na fase seguinte de 
avaliação, que irá variar dependendo de o alergênio ter sido ou não 
reconhecido na primeira fase (DANI; PASSOS, 2011). 
 
INVESTIGAÇÃO DE SENSIBILIZAÇÃO IGE ESPECÍFICA: A 
determinação da IgE específica auxilia apenas na 
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Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
identificação das alergias alimentares mediadas por IgE e 
nas reações mistas, e este é um dado fundamental. A 
pesquisa de IgE específica ao alimento suspeito pode ser 
realizada tanto in vivo, por meio dos testes cutâneos de 
hipersensibilidade imediata (TC), como in vitro, pela 
dosagem da IgE específica no sangue (SOLÉ et. al., 2018). 
Testes cutâneos de hipersensibilidade imediata: Os testes cutâneos 
(TC) avaliam a sensibilização aos alérgenos. São testes simples, rápidos, 
podem ser realizados no próprio consultório de médico capacitado e 
requerem cuidados em sua execução e interpretação. São 
considerados testes positivos quando houver formação de pápula com 
pelo menos 3 mm de diâmetro médio, reação com o controle positivo 
(solução de histamina) e ausência de pápula com o controle negativo 
(excipiente da solução). O teste cutâneo é atributo do especialista, pois 
embora seja muito seguro, pode desencadear reações sistêmicas 
(SOLÉ et. al., 2018). 
 
TESTE DE PROVOCAÇÃO ORAL: O teste de provocação oral 
(TPO), procedimento introduzido na prática clínica em 
meados dos anos 1970, a despeito de todo avanço 
científico, continua sendo ainda o método mais confiável 
no diagnóstico da alergia alimentar. Consiste na oferta 
progressiva do alimento suspeito e/ou placebo, em 
intervalos regulares, sob supervisão médica para 
monitoramento de possíveis reações clínicas, após um 
período de exclusão dietética necessário para resolução 
dos sintomas clínicos (SOLÉ et. al., 2018). 
De acordo com o conhecimento do paciente (ou de sua família) e do 
médico quanto à natureza da substância ingerida (alimento ou placebo), 
os testes de provocação oral são classificados como aberto (paciente 
e médico cientes), simples cego (apenas o médico sabe) ou duplo 
cego e controlado por placebo (TPODCPC), quando nenhuma das 
partes sabe o que está sendo ofertado. O TPODCPC é considerado 
padrão ouro no diagnóstico da alergia alimentar (SOLÉ et. al., 2018). 
↠ Este teste deve ser realizado sempre em ambiente 
hospitalar, onde haja toda infraestreutura para 
atendimento à situação de emergência. Depois de 
esclarecidos, os familiares devem assinar termo de 
consentimento informado (SOLÉ et. al., 2018). 
RESUMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
Júlia Morbeck – @med.morbeck 
 
Referências 
ABBAS, Abul K. Imunologia Celular e Molecular. Grupo 
GEN, 2019. 
DELVES, Peter J. ROITT - Fundamentos de Imunologia, 
13ª edição. Grupo GEN, 2018. 
QUILICI, Flávio A.; SANTANA, Nelma Pereira de; 
GALVÃO-ALVES, José. A gastroenterologia no século 
XXI: manual do residente da Federação Brasileira de 
Gastroenterologia. Editora Manole, 2019 
DANI, Renato; PASSOS, Maria do Carmo 
F. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição. Grupo GEN, 2011. 
RODRIGUES, M. L. R. Intolerâncias alimentares. Artigo derevisão. Faculdade de medicina da universidade de 
Coimbra, 2011. 
PAIVA, L. L.; PINTO, S. L. Fatores associados à intolerância 
alimentar em pacientes no pós-operatório de cirurgia 
bariátrica. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 30, n. 1, 
2015. 
SOLÉ et. al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 
2018 - Parte 1 - Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. 
Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira 
de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e 
Imunologia. 
SOLÉ et. al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 
2018 - Parte 2 - Diagnóstico, tratamento e prevenção. 
Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira 
de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e 
Imunologia.

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