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Teorias e Técnicas Retrospectivas Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Grace Vasconcellos Revisão Textual: Aline Gonçalves Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil • Compreender o que é Patrimônio no Brasil e qual é a sua importância; • Conhecer os tipos de instrumentos de proteção ao Patrimônio existentes no Brasil. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • A Memória no Brasil; • Breve História da Definição de Patrimônio no Brasil; • Patrimônio Material; • Patrimônio Imaterial. UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil A Memória no Brasil A identidade de uma nação é apoiada e construída na manutenção da memória de sua origem, de seus feitos, de seus conhecimentos, de seus saberes. No Brasil, os portugueses trouxeram sua cultura, o que inicialmente definiu nossa nacionalidade. Ao longo de nossa história, com a assimilação da cultura dos indígenas e dos mais variados povos migrantes que aqui chegaram e fincaram raízes, fomos, pouco a pouco, incorporando os valores culturais deles aos nossos valores culturais, em um processo único de sincretismo e que, hoje, nos caracteriza como nação. A noção de quais bens “significam” o patrimônio, seja ele histórico, artístico, paisa- gístico, tecnológico ou cultural, é particular a cada nação e está ligada à ideia da memó- ria de todas as épocas de sua história. É dever e direito de toda nação preservar sua memória. Preservar é o mesmo que registrar e guardar, sejam construções, a história de um bairro ou cidade, artefatos, gravações de depoimentos, de sons, músicas populares, eruditas e folclóricas, imagens e muito mais. É curioso pensar que só nos damos conta do valor de alguma coisa quando ela deixa de existir. Dessa forma, como sabemos se o que hoje é totalmente normal, sem valor, vulgar, amanhã poderá ser marco de um tempo, representante de uma tecnologia, o som de uma época? Na verdade, a preservação dos valores culturais de uma nação acontece todos os dias e é feita pelo cidadão comum. Vamos pensar juntos? Imagine a foto de uma família, tirada na frente da casa de um deles, todos muito felizes, depois de um jogo de final de copa do mundo de futebol, em que o Brasil foi campeão. Depois de muitos anos, em outra reunião de família, essa foto é vista por alguns deles. O que essa foto significa? Começando pelas pessoas, a imagem de cada uma traz a memória de quem eram, o que significavam umas para as outras; observando-se as roupas, como possivelmente estivessem usando “camisas da seleção”, a foto é o registro do uniforme-símbolo da época; a família à frente da casa mostra partes da construção, fazendo com que se lembrem de quem morava ali, quais histórias da família aconteceram lá, como era por dentro e mui- tas outras coisas; pode ser que apareça na foto parte da rua, e aí vem a memória sobre os vizinhos, o bairro e muitos outros detalhes e fatos. Mas, afinal, o que essa foto tem a ver com patrimônio? 8 9 Cada uma daquelas pessoas vai comentá-la, mostrá-la, destacar detalhes e acrescentar outros tantos fatos que surgirem a partir dela para amigos, filhos, netos. Dessa forma, as pessoas que não estavam lá ou não viveram aquela época passam a saber “como foi aquele dia”! Essa foto, em particular, evidencia e mantém vivas as memórias, os hábitos, as tradições daquela família. Pode não parecer, mas isso é preservar um patrimônio: o patrimônio da cultura daquela família. Quando falamos para alguém sobre “aquela brincadeira de quando era criança”, “aquela música”, “aquele tipo de dança”, “aquele doce”, “aquela festa da cidade”, “aquele jeito de tentar encontrar um amor” e muitos outros “aqueles” que guardamos com cari- nho quando foram bons e lembramos quando não foram, não percebemos, mas todos eles formam o que cada um de nós é. Cada um tem uma história que vai sendo passada para os outros em conversas, en- contros, em diferentes momentos. Elas se entrelaçam, fortalecendo pontos em comum e destacando detalhes distintos. Acabam formando um todo em que, em momentos coletivos, por exemplo, em uma festa típica, os valores e significados da data, das co- midas, das músicas, das danças e dos trajes são compreendidos e vividos pela maioria dos participantes da festa e passados aos que não os compreendem, dessa forma, esses valores são reforçados e vão se tornando cada vez mais consistentes, mais permanentes: isso também é preservar um patrimônio! Esses exemplos mostram como o patrimônio cultural nacional é perpetuado de modo informal, mas fundamental. Quando se percebe o valor de um bem, mas ele ou sua identidade original já não existem, é por meio dos “guardados” de quem esteve lá, de quem o usou ou mesmo de quem soube sobre ele, que a memória desse bem pode ser oficialmente resgatada, registrada e assim preservada. As principais fontes de registro e preservação são particulares, como construções, mobiliário, álbuns de família, objetos domésticos, brinquedos, roupas e acessórios, objetos de trabalho, equipamentos dos mais diversos, obras de expressão artística, livros, música e muitos outros tipos. Breve História da Definição de Patrimônio no Brasil A preocupação governamental com o preservar e salvar nosso patrimônio aparece inicialmente em 1923, com o projeto de lei do deputado Luiz Cedro sugerindo a criação de uma Inspetoria dos Monumentos Históricos dos Estados Unidos do Brasil, a fim de conservar os imóveis públicos ou particulares que apresentassem um interesse nacional do ponto de vista histórico. Em 1925, o jurista Jair Lins apesenta outro projeto de lei, no qual os móveis ou imóveis cuja conservação pudesse interessar à coletividade por motivo histórico ou 9 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil artístico seriam catalogados na forma da lei, e sobre eles a União ou os estados teriam direito preferencial. Somente em 1936, a pedido das autoridades do setor, o escritor paulista Mário de Andrade elabora projeto propondo definições sobre Patrimônio Artístico Nacional, como sendo “todas as obras de arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira, pertencentes aos poderes públicos, a organismos sociais, a particulares nacio- nais, a particulares estrangeiros, residentes no Brasil” (LEMOS, 2013, p. 39). Mário de Andrade (1893-1945) foi paulista, poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclo- rista, ensaísta e fotógrafo. Uma das principais figuras por trás da Semana da Arte Moderna de 1922, também conhecida como Semana de 22, que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil. Autor, entre outros, de Pauliceia Desvairada (1922) e Macunaíma (1928). No texto de Mário de Andrade, as palavras “obras de arte” resguardavam a totalidade dos bens culturais de nosso Patrimônio Cultural. Segundo ele “arte é uma palavra geral que, nesse seu sentido geral, significa a habilidade com que o engenho humano se utiliza da ciência, das coisas e dos fatos” (LEMOS, 2013, p. 40). O projeto de Mário de Andrade agrupava as obras de arte em oito categorias: 1. Arte arqueológica; 2. Arte ameríndia; 3. Arte popular; 4. Arte histórica; 5. Arte erudita nacional; 6. Arte erudita estrangeira; 7. Artes aplicadas nacionais; 8. Artes aplicadas estrangeiras. Sendo a definição de cada categoria: • 1 e 2 – Arte arqueológica e arte ameríndia: objetos, instrumentos de caça, de pesca, de agricultura, objetos de uso doméstico, veículos, indumentárias, jazidas funerárias, sambaquis, inscrições rupestres, elementos de paisagens e meio ambiente, vocabulários, cantos, lenda, magias, medicina e culinária dos índios; Ameríndia: relativa à arte do índio americano; Indumentária: história do vestuário, ou de hábitos relacionados com o traje em deter- minada época, local e cultura; Sambaquis: acumulação pré-histórica de moluscos marinhos, fluviais ou terrestres realizada por índios. Frequentemente, encontram-se ossos humanos, objetos de pedras,chifres e cerâmica; Rupestres: inscrições, desenhos, gravuras e entalhes realizados em rocha e cavernas por primitivos. 10 11 • 3 – Arte popular: variados tipos de artefatos do povo, do folclore e tudo que trata da etnologia, inclusive da arquitetura em se tratando de múltiplas construções, como capelinha de beira de estrada, manifestações culturais, música, usos, costumes, saberes e saber fazer ; • 4 – Arte histórica: uma variedade de bens culturais “que de alguma forma refletem, contam, comemoram o Brasil e a sua evolução nacional” (LEMOS, 2013, p. 41). Artefatos, gravuras, mapas, porcelanas, livros, impressos referentes à história bra- sileira; obras de arte arquitetônica, escultórica, pictórica que, mesmo sem valor es- tético, tivessem sido parte de momentos históricos significativos, como a Ilha Fiscal (RJ), o Palácio dos Governadores em Ouro Preto (MG) ou a casa de Tiradentes em São João del Rei (MG), deveriam ser conservados tais como estavam ou recompos- tos em sua imagem histórica, bem como ruínas, igrejas, fortes, solares e outros. De forma geral, deveriam ser conservados exemplares típicos que representassem as diversas escolas e os estilos arquitetônicos que se refletiram no Brasil. » Ilha Fiscal (Rio de Janeiro -RJ), 1881: apresenta valor histórico por ter sido palco da última grande festa do Império antes da Proclamação da República, o famoso baile da Ilha Fiscal. Seu nome se deve ao fato de haver abrigado o posto da Guarda Fiscal do porto, no século XIX. O edifício, de autoria de Adolpho Del Vecchio, é um pequeno chateau em estilo gótico provençal (como pode ser visto na Figura 1), inspirado nas concepções do arquiteto francês Viollet-le-Duc. Ostenta, na fachada, o brasão da família Imperial, o qual, logo após a República, se pensou em retirar, mas foi mantido, por ser considerado por Del Vecchio como uma obra de arte da cantaria, feita por um artista que havia ficado cego. Dessa data em diante, o edifício da Ilha Fiscal foi consagrado como imperecível obra de arte e patrimônio de uma era, por ostentar decoração inspirada na monarquia. Hoje é um museu histórico cultural, subordinado à Diretoria do Patrimônio Histó- rico e Cultural e Documentação da Marinha ; Figura 1 – Ilha Fiscal (1881) – local do último baile Imperial antes da Proclamação da República Fonte: Wikimedia Commons 11 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil » Palácio dos Governadores (Ouro Preto-MG), 1741: é a primeira edificação na antiga Vila Rica do Pilar, construída em pedra e cal, aproveitando itacolomito e quartzito abundantes na região. Projeto do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa (pai do “Aleijadinho”), foi construído no local da Antiga Casa de Fundição e da Moeda, que estava em ruínas. Apesar de ser um edifício de caráter civil, tem configuração de fortificação, com guaritas e peças de artilharia. Em 1786, parte da edificação foi demolida para a construção da Escola de Minas e Metalurgia, que funciona até os dias de hoje. Na Figura 2, é possível perceber nos extremos esquerdo e direito as guaritas circu- lares, características de edificações fortificadas; Figura 2 – Palácio dos Governadores de Ouro Preto-MG, 1741 Fonte: Wikimedia Commons • 5 – Arte erudita nacional e arte erudita estrangeira: em um amplo leque, todas e quaisquer manifestações de arte de artistas nacionais ou estrangeiros; • 6 e 7 – Artes aplicadas nacionais e estrangeiras: mobiliário, talha, tapeçaria, joalheria, decorações, murais e outras. O projeto de Mário de Andrade propunha catalogar todas as manifestações culturais do brasileiro, como música, artefatos, usos e costumes, seu “saber”, seu “saber fazer”. Pretendia a criação de museus dedicados a vários saberes, como a cultura do café, do algodão, do açúcar, da laranja, da carnaúba, da borracha, mostrando a ciência sobre elas, as técnicas de cultivo, de beneficiamento, os equipamentos (montados e desmontados). O projeto era realmente inovador, no entanto, não havia, na época, estrutura admi- nistrativa ou de verbas para aplicá-lo. A organização de bens culturais proposta por Mário de Andrade é recomendada internacionalmente nos dias de hoje. Em 1937, no Ministério da Educação, chefiado por Gustavo Capanema, é criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), que deixa explícito, 12 13 no nome do órgão de proteção, a preocupação com o “Histórico” em relação ao patrimônio, o que no projeto de Mário de Andrade não era tão claro. Mesmo antes da criação do SPHAN, Ouro Preto (MG) foi considerada Patrimônio Estadual em 1933 e Monumento Estadual em 1938, sendo a primeira cidade do Brasil a ser preservada, não por características urbanísticas significativas, mas para a proteção da importância e qualidade do conjunto de suas construções e áreas envoltórias (em torno de cada monumento que acabaram por abranger a cidade toda), bem como por sua relevância na história do País. A cidade tem o nome de “Ouro Preto” devido a uma característica do mineral encontrado na época: o ouro era escurecido por uma camada de óxido de ferro, dando-lhe tonalidade escura. Em Ouro Preto, a Cidade Histórica foi o primeiro sítio brasileiro considerado Patrimônio Histórico Mundial (UNESCO, 1980), dado pela autenticidade, integridade e originalidade de seu panorama urbano, uma obra do gênio humano, pela importância histórica como sede da Inconfidência, pela relevância de seus principais monumentos religiosos, pela produção dos mestres Aleijadinho e Ataíde, que deixaram obras consideradas os primeiros sinais de uma genuína brasilidade. A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 216 e no § 1º, diz: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: […] I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; […] IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º. O Poder Público, com a colaboração da comunidade promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, disponível em: https://bit.ly/39hoY8U 13 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil Patrimônio Material Os bens culturais de valor material são protegidos por diferentes legislações a serem aplicadas, dependendo da natureza do bem. Como instrumentos de proteção, podem ser citados: • Valoração do Patrimônio Cultural Ferroviário; • Chancela da Paisagem Cultural; • Patrimônio Arqueológico; • Tombamento: » Tombamento de Conjuntos Urbanos (Cidades Históricas); » Tombamento de Museus e Acervos; » Tombamento de Fortalezas e Fortes. Valoração do Patrimônio Cultural Ferroviário Quando a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) foi extinta, por meio da Lei 11.483/2007, foi atribuída, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a obrigação de “receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos somente da extinta RFFSA, zelando pela sua guarda e manutenção” (BRASIL, 2007). Cabe também ao Iphan, a preservação e a difusão da Memória Ferroviária constitu- ída pelo patrimônio artístico, cultural e histórico do setor ferroviário, que serão promo- vidas mediante: I – Construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equi- pamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas coleções e acervos; II – Conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítiose demais espaços oriundos da extinta RFFSA. Permanecem como responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) os bens operacionais. Chancela da Paisagem Cultural Instituída por meio da Portaria Iphan nº. 127/2009, reconhece a importância cultural de partes específicas do território nacional, que representam o processo de interação do Homem com o meio natural, em uma relação equilibrada e correta. São exemplos da Paisagem Cultural as relações entre o sertanejo e a caatinga, o candango e o cerrado, o boiadeiro e o pantanal, o gaúcho e os pampas, o pescador e os contextos navais tradicionais, o seringueiro e a floresta amazônica. 14 15 A “chancela” é uma “certificação” do Iphan de que existe equilíbrio e proteção nessas relações entre Homem e meio ambiente, e, caso deixe de existir, ela pode ser retirada. Patrimônio Arqueológico A proteção do Patrimônio Arqueológico é garantida pelo Decreto-Lei nº 25 de 1937. No entanto, a Lei Federal nº 3.924, de 26 de julho de 1961, em seu artigo 1º e parágrafo único, estabeleceu proteção específica. Já a Constituição Brasileira de 1988 incluiu os bens arqueológicos no conjunto do Patrimônio Cultural Brasileiro. Lei Federal nº 3.924, de 26 de julho de 1961: Art. 1º. Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer na- tureza existentes no território nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteção do Poder Público [...] Parágrafo único . A propriedade da superfície, regida pelo direito co- mum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-históricas, nem a dos objetos nela incorporados [...] Incluem-se nessa proteção: sambaquis, poços sepulcrais, jazigos, os sítios nos quais se encontram vestígios de ocupação pelos paleoameríndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, “estações” e “cerâmicos”, nos quais se encontram ves- tígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; as inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. A Lei nº 3.924, de 1961, deixa claro que toda descoberta deve ser imediatamente informada às Superintendências do Iphan. Está clara, também, a importância dos bens arqueológicos como elementos que representam os grupos humanos formadores da identidade da sociedade brasileira e que, por meio deles, é possível identificar conhe- cimentos e tecnologias que mostram anos de adaptação humana ao ambiente, além da produção de saberes tradicionais brasileiros. O Brasil possui 18 bens arqueológicos tombados em todo o território, que incluem sítios e coleções arqueológicas localizadas em museus. Tombamento Instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, é o mais antigo instrumento de proteção do Iphan. Proíbe a destruição de bens culturais tombados, colocando-os sob vigilância do instituto. Entre as categorias de bens tombados, estão: • Tombamento de Conjuntos Urbanos (Cidades Históricas); • Tombamento de Museus e Acervos; • Tombamento de Fortalezas e Fortes. 15 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil Tombamento de Conjuntos Urbanos (Cidades Históricas) O conjunto urbano pode ser considerado de valor, por ser uma das aldeias fundadas pelo Padre José de Anchieta (Aldeia de Carapicuíba – Carapicuíba-SP), por se destacar pela extraordinária beleza natural e importância histórica (Paraty-RJ), por representar o importante ciclo da borracha (Manaus-AM e Belém-PA), por ser a cidade natal do pintor Pedro Américo, autor da pintura “O Grito do Ipiranga” (Areia-PB), por ser um marco do modernismo no mundo e Patrimônio Cultural Mundial (Brasília-DF), por ter sido palco de importantes eventos históricos na Revolução Farroupilha – Guerra dos Farrapos, deflagrada no Rio Grande do Sul (Laguna-RS). Tombamento de Museus e Acervos Por definição, museu é uma instituição, sem fins lucrativos, dedicada a buscar, conservar, estudar, educar e expor, de forma pública, objetos de interesse duradouro, de valor artístico, histórico e cultural. No Brasil, o museu mais antigo foi o Museu Real, fundado em 1818 por D. João VI. Incorporou o acervo da antiga Casa de História Natural, chamada de Casa dos Pássaros, criada em 1784, além do acervo de outras coleções de mineralogia e zoologia. Foi considerado o mais importante museu do gênero na América do Sul. O museu tinha por objetivo a promoção socioeconômica do País pela difusão de educação, cultura e ciência. Ficava no Campo de Santana, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1892, o Museu Real foi transferido para o parque da Quinta da Boa Vista, na mesma cidade, sendo instalado no Palácio de São Cristóvão, que serviu de residên- cia da família Real portuguesa de 1808 a 1821, passando a ser residência da família Imperial brasileira de 1822 a 1889, e veio a ser sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891. Em 1892, passou a ser chamado de Museu Nacional, sendo um dos maiores museus de história natural e de antropologia das Américas, com uma biblioteca com mais de 470 mil volumes e 2,4 mil obras raras; um acervo incluindo os remanescentes do esque- leto de Luzia, o mais antigo fóssil humano das Américas, e mais de 20 milhões de itens, incluindo relevantes registros da memória antropológica e de ciências naturais brasileiras. Oferecia cursos de extensão e pós-graduação. Foi tombado em 1938. No dia 2 de setembro de 2018, o museu sofreu um incêndio de grandes proporções, que destruiu quase a totalidade do acervo de exposição, além de registros de dialetos e cantos indígenas de comunidades já extintas. Os danos ao edifício, também de valor histórico, foram extensos. A plataforma “MuseuBR” apresenta o Cadastro Nacional de Museus, faz o mapeamento e a atualização das informações dos museus brasileiros desde dezembro de 2015. Disponível em: https://bit.ly/3oHCLKq 16 17 Tombamento de Fortalezas e Fortes As fortalezas e os fortes são edificações militares com função de proteção do território. As fortalezas são grandes construções, com vários prédios, torres de observação, duas ou mais baterias de canhões instaladas em diferentes pontos no interior da edificação, enquanto os fortes são menores e possuem uma ou mais baterias de artilharia, todas instaladas no mesmo local. No Brasil, a partir do século XVI, foram construídas centenas de fortes e fortalezas ao longo do litoral, em pontos estratégicos no interior e em áreas de fronteiras. Muitos desapareceram, de muitos restaram apenas as ruínas e os registros históricos das bata- lhas pelas quais passaram. Alguns exemplos dessas construções: • Fortaleza de Santa Cruz da Barra – (Niterói -RJ): Iniciada em 1578, era a princi- pal defesa do Rio de Janeiro. No início do século XVIII, tornou-se a maior fortaleza da América Portuguesa. Os diferentes estilos e programas defensivos resultaram em sua forma irregular, como pode ser visto na Figura 3. O Exército Brasileiro ainda a utiliza. Foi tombada em 1939 ; Figura 3 – Fortaleza de Santa Cruz da Barra, 1578 (Niterói-RJ) Fonte: Wikimedia Commons • Forte São João (Bertioga -SP): Construído em 1532, para impedir que os indí- genas usassem o Canal de Bertioga para atacar a cidade de Santos. Em 1555, foi usado pelos moradores de São Vicente para expulsarem os franceses no Rio de Janeiro. Desse forte vieram os primeiros relatos sobre a conquista da América, feitos pelo artilheiro alemão Hans Staden. A construção atual é de 1750 (Figura 4). Foi tombado em 1940 e é sede de museu municipal de Bertioga. 17 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil Figura 4 – Forte São João, 1532 (Bertioga-SP) Fonte: Wikimedia Commons Patrimônio Imaterial O Decreto nº. 3.551, de 4 de agosto de 2000, institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial no Patrimônio Cultural Brasileiro e cria o Programa Nacional do PatrimônioImaterial. Os bens culturais, antes de serem registrados e, portanto, protegidos pela legislação do Patrimônio Cultural Nacional, são classificados de acordo com áreas de valor cultural, sendo que para cada área existe um Livro de Registro, e essa proteção somente terá efeito após a inscrição em um deles, sendo que a inscrição em um dos livros de registro terá sempre como referência a continuidade histórica do bem e sua relevância nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira. Os Livros de Registro do Patrimônio de Bens Imateriais são: • Livro de Registro dos Saberes: no qual são inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; • Livro de Registro das Celebrações: onde são inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; • Livro de Registro das Formas de Expressão: onde são inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, científicas e lúdicas; • Livro de Registro dos Lugares: no qual são inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Metrópolis: Cartas de Mário de Andrade https://youtu.be/ldQNFoOM7nY Palácio Gustavo Capanema – Bloco 1 https://youtu.be/A0djDI03s7k Palácio Gustavo Capanema – Bloco 2 https://youtu.be/Zn5_9fJ-0Ks Sítio Rio Patrimônio Mundial Assista ao vídeo sobre o Rio de Janeiro como Patrimônio Mundial. https://bit.ly/2MtZgoA Dia Nacional do Patrimônio Histórico Assista o vídeo sobre o Dia Nacional do Patrimônio Histórico disponível no portal do Iphan. https://bit.ly/3iKR4g2 19 UNIDADE Introdução aos Conceitos de Patrimônio no Brasil Referências BARROS, A.; BARROS, J.; MARDEN, S. Restauração do Patrimônio Histórico: uma proposta para a formação de agentes difusores. São Paulo: Senai-SP Editora, 2019. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand- le/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf>. Acesso em: 14/07/2020. ________. Decreto-Lei 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Rio de Janeiro, 1937. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm>. Acesso em: 14/07/2020. ________. Decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Brasília, DF, 2000. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm#:~:text=D3551&text=DECRETO%20 N%C2%BA%203.551%2C%20DE%204,Imaterial%20e%20d%C3%A1%20outras%20 provid%C3%Aancias>. Acesso em: 14/07/2020. ________. Lei 11.483, de 31 de maio de 2007. Dispõe sobre a revitalização do setor ferroviário, altera dispositivos da Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2007. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11483.htm>. Acesso em: 26/01/2021. ________. Lei 3.924, de 26 de julho de 1961. Dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/1950-1969/l3924.htm>. Acesso em: 14/07/2020. CARRAZONI, M. (coord.). Guia dos bens tombados Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1987. LEMOS, C. A. C. O que é Patrimônio Histórico. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2013. 2. reimp. (Coleção Primeiros Passos; 51). MAYUMI, L. Taipa, canela-preta e concreto. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2008. Site Visitado IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: <http:// portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 13/07/2020. 20
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