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INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO 
MÓDULO TRIBUTO E SEGURANÇA JURÍDICA 
 
MÓDULO I 
SEMINÁRIO I – DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE TRIBUTO 
 
Gustavo Nascimento Tavares 
14 de março de 2019, Uberlândia MG. 
 
.1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? 
Explique. 
 
Quando aglomerações humanas, estruturadas em comunidades, começam a 
se tornarem significativamente complexas, forjando autênticas sociedades, é 
imperioso que subsista uma ordem para resguardá-las do caos. Tal ordem, a 
depender do seu fundamento existencial, possui características de pacificação social, 
de preservação das relações de poder e de adestramento coletivo dos seus membros, 
podendo ser fundada em aspectos metafísicos, por exemplo, a religião, ou, por 
elementos culturais acoplados à moral e à razão, como, o Direito. 
Nesse sentir, o Direito possui a genealogia de um produto cultural cuja 
finalidade consiste em criar uma ordem artificial de organicidade coletiva, por meio 
da qual é possível construir o sentimento de pacificação social dentro de uma 
determinada comunidade, fornecendo sistemas de soluções de conflitos, arranjando 
as relações de poder e comprometendo-se com a liberdade e a igualdade, tanto da 
coletividade abstrata, quanto dos seus indivíduos em si. Entretanto, admitindo as 
Eras atuais e o estágio evolutivo da humanidade, o Direito possui conceituações mais 
voltadas para a sua dimensão epistemológica, coexistindo inúmeras classificações, 
porém, todas elas edificadas sobre o paradigma que o posiciona enquanto uma 
ordem cultural na qual se traça meios de controle contra eventuais rupturas sociais e 
uma proteção contra ameaças internas e externas de caos. 
Um importante traço evolutivo do Direito na contemporaneidade é o seu 
aspecto hermenêutico, tornando-o, segundo a visão de um grande expoente no tema, 
Ronald Dworkin12, um conjunto abstrato de regras e princípios incumbido de 
fornecer respostas para as colisões entre o Direito posto e a realidade social. 
Consequentemente, o direito contemporâneo tem-se apresentando, segundo o jurista 
Nelson Saldanha, como ordem e hermenêutica, ou seja, os sistemas jurídicos refletem 
o momento filosófico pós-virada linguística e edificam-se sobre um multiverso de 
signos e de significados, produzindo, assim, um conceito de direito que detém a 
capacidade de se auto reproduzir (autopoiese3) por meio da interpretação e da 
cultura, embora, persista sua natureza de uma ordem social. Diante desse contexto, 
diversos autores reafirmam essa representação do Direito. Segundo Gustavo Just4, as 
premissas de Nelson Saldanha estão conjecturadas sob o seguinte sentido: 
A ideia de ordem pôde então ser mobilizada em ordem e hermenêutica 
como vetor de uma interpretação fecunda e não arbitrária da vida 
institucional em sua complexidade. Uma interpretação fecunda porque os 
significados em que se diversifica essa ideia remetem, no plano heurístico, a 
analogias estruturais e mesmo a arquétipos: analogias entre a ordem 
cósmica e a divina, passando-se delas à ordem social e aos espaços urbanos, 
e até mesmo às pretensões ordenadoras da razão (Saldanha lembra sempre a 
frase de Spinoza sobre o paralelo entre a ordem e a conexão das coisas e a 
ordem e conexão das ideias). 
 
Em contrapartida, existem conceitos de Direito mais comprometidos com o 
direito posto, ajustando seu foco mais para a sua dimensão normativa. Nessa linha 
 
1DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípios. tradução Luís Carlos Borges. 1o Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
2DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. tradução Nelson Boeira. 1o Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 
3LUHMANN, Niklas. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: 
Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998. 
4JUST, Gustavo. O Direito como ordem e hermenêutica: a filosofia do direito de Nelson Saldanha. Revista de Informação 
Legislativa, v. 46, n. 181, p. 7-16, jan./mar. 2009. 
de pensamento, têm-se as ideias de Aurora Tomazini de Carvalho5 nos seguintes 
dizeres: 
Voltando aos nossos estudos sobre a natureza classificatória das definições, 
podemos 
observar serem três os critérios separatórios que fundamentam a definição 
do conceito de “direito” com o qual trabalhamos (direito positivo): (i) ser 
norma; (ii) ser jurídica; e (iii) ser válida. Com o primeiro critério, dividimos a 
classe das normas (linguagem prescritiva), da classe das não-normas (outras 
linguagens: descritiva, interrogativa, poética, etc.). Com o segundo critério, 
separamos a classe das normas entre jurídicas (postas perante ato de 
vontade de autoridade competente), das não-jurídicas (morais, religiosas, 
éticas, etc.). E, por fim, com o terceiro critério isolamos a classe das normas 
jurídicas em válidas (presentes – existentes) e não-válidas (futuras e 
passadas – não existentes). Constituímos, assim, a classe do “direito 
positivo”, nosso objeto de estudo. 
 
Em continuidade, sobre a significação do que seja direito positivo, a autora6 
diz: 
A expressão “direito positivo”, a princípio, parece redundante, pois para 
todos aqueles que adotam uma posição kelseniana não existe outro direito, 
senão o posto. No entanto, o pleonasmo se justifica pela ambigüidade do 
termo, para diferenciar sua forma de uso como “objeto da Ciência do 
Direito” de todas as demais acepções que possui. O qualificativo “positivo” 
significa produzido por um ato de vontade de autoridade e, agregado ao 
termo “direito”, aumenta sua precisão terminológica. 
 
Portanto, ajustado o conceito de Direito, tanto em uma semântica mais 
expansiva e filosófica, quanto em uma depuração mais cognitivista e científica, 
recortada a partir da teoria da norma, a ciência do Direito é aquela que se ocupa de 
desvendar e investigar o direito posto. Por outro lado, o direito positivo, constitui o 
conjunto de normas jurídicas válidas, ou seja, é o próprio objeto da ciência jurídica. 
Ora, tais conceitos (ciência do direito e direito positivo) são complementares e 
intrinsicamente interligados ao conceito de direito. Sem dúvida, inúmeras ressalvas 
cabem nessa trilogia conceitual (Direito, direito positivo e ciência do direito), mas, a 
principal reside no aspecto cultural e linguístico os quais inundaram o universo 
jurídico e se tornaram determinantes para a compreensão e a vivacidade do Direito 
nos tempos atuais. 
 
5CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e 
apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 
6CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e 
apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 
 
 
.2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais 
hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado 
pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI 
fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as 
alterações da lei 13.467/2017) (anexo III). (iii) tributo instituído por meio de decreto 
(inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de 
outro tributo. 
 
A definição de tributo exige conjecturar variáveis de modo a compreender o 
contexto no qual este conceito será inserido e interpretado. Com efeito, o signo 
tributo precisa ser decomposto em suas partes, quais sejam: significado (conceito) e 
significante (imagem acústica). Em virtude dessas circunstâncias, para melhor 
esclarecimento sobre a semiótica dos signos, tem-se o seguinte recorte7: 
No entanto, é preciso construir e apresentar tais elementos, coerentemente 
aoexposto até aqui e estruturados em um sistema de signos socializados, 
isto é, composto de um significado, em forma de ente abstrato (conceito) e de 
um significante, a parte tangível (uma imagem material do signo), ou seja, 
cada signo é composto de duas dimensões, o significante e o significado, 
uma imagem acústica e um conceito. 
 
Portanto, para definir o signo tributo é necessário decompor tal estrutura em 
significante (imagem acústica) e significado (conceito). Por essa razão, o direito 
positivo não é o fornecedor desses elementos, uma vez que, os códigos não 
prescrevem a realidade, mas, sim, como esta realidade deve ser lida pelo Direito, ou 
seja, uma prescrição deontológica. Para melhor compreensão, a tributarista, Aurora 
Tomazini de Carvalho8, diz o seguinte: 
Não são poucos os autores que incidem neste erro, sustentando ser o direito 
positivo composto também de enunciados descritivos principalmente 
quando diante da delimitação, pelo legislador, de institutos jurídicos, como 
por exemplo o art. 3º do Código Tributário Nacional, que dispõe sobre o 
 
7 TAVARES, Gustavo Nascimento. Crítica à decisão judicial na trilogia estrutural do processo. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2018. 
8 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e 
apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 
conceito de tributo. Para não ocorrer neste equívoco, devemos ter em mente 
que, mesmo quando o legislador dispõe sobre conceitos jurídicos (ex. o que é 
propriedade, empresário, bem imóvel, tributo, etc.), não está descrevendo 
uma realidade e sim prescrevendo como tal realidade deve ser considerada 
juridicamente. O art. 3o nada informa, prescreve o que deve ser entendido 
como “tributo” no discurso do direito positivo. Basta considerarmos o 
contexto comunicacional em que tais enunciados encontram-se inseridos e 
logo observamos tratar-se de enunciados prescritivos, vez que o animus do 
legislador volta-se a disciplinar e não a informar. 
 
Dito isso, o conceito de tributo pode ser dado em dois sentidos, um 
denotativo histórico e outro conotativo normativo-científico. Para tais definições têm-
se nas palavras de Paulo de Barros Carvalho910 os seguintes conceitos, primeiro o 
conceito denotativo histórico e, posteriormente, o sentido conotativo científico-
normativo: 
Tributo provém do verbo tribuere: tributum, que significa repartir entre as 
tribos. Nas comunidades primitivas, o tributo estava na dependência da 
satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos do chefe, que o exigia 
de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura, in pecúnia, exigidas pela 
força e arbitrariedade. 
[...] 
 
Trata-se de “tributo” como processo de positivação, cadeia de normas que 
tem início no altiplano constitucional com as regras de competência (entre 
elas as de imunidades) e vão progredindo para baixo, em termos 
hierárquicos, passando pela regra-matriz de incidência, até atingir, 
frontalmente, os comportamentos concretos que se consubstanciam numa 
efetiva prestação pecuniária. 
 
Logo, a fusão de tais conceitos tem a aptidão de gerar um signo para o termo 
“tributo”, satisfazendo a necessidade de fixar um conceito (significado) e uma 
imagem acústica (significante). A imagem acústica do tributo constitui um dever de 
entregar ao erário certa quantia em pecúnia, já o conceito, pode ser dado como sendo 
a estruturação de regras e princípios constitucionais e infraconstitucionais, de forma 
a gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas 
por tais critérios. 
Construído o signo tributo é possível auferir a partir se determinada relação 
constitui ou não uma espécie de tributo. 
 
9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
10 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. 
(i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos 
de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); tal hipótese não se 
encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de estruturação do tributo 
conforme as regras e os princípios, constitucionais e infraconstitucionais, por 
exemplo, o princípio da legalidade tributária, reserva legal. 
(ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/2017) (anexo 
III); tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de 
obrigatoriedade na relação entre os indivíduos e o Estado. 
(iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); 
tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de 
estruturação do tributo conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, por 
exemplo, o princípio da legalidade tributária, reserva legal. 
(iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo; tal hipótese não se 
encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de estruturação do tributo 
conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, por exemplo, o princípio da 
não-cumulatividade e da não bitributação. 
 
 
.3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma 
jurídica sem sanção? Justifique. 
 
Se o direito positivo é o conjunto de normas jurídicas válidas, definir norma 
jurídica torna-se essencial para a completude e a coerência dos sistemas que compõe 
o direito. Segundo Paulo de Barros Carvalho11, a norma jurídica, dentre as diversas 
classificações, pode ser desenhada sob dois sentidos, quais sejam: Norma jurídica em 
sentido amplo, designando o texto e o conteúdo de tais normas; e norma jurídica em 
sentido restrito, denotando as significações construídas a partir do direito positivo, 
 
11 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. 
na equação exemplificativa sob o critério hipotético constitucional, o qual produz o 
sentido dos textos jurídicos em seu prisma deôntico. 
Em continuidade, a norma jurídica ainda pode ser decomposta em12: (i) uma 
hipótese, um pressuposto ou um antecedente, cuja função é descrever uma situação 
de possível ocorrência; (ii) a situação que atua como causa para o efeito jurídico 
contido na norma; e, por fim, (iii) a consequência, determinando o vínculo relacional 
entre os dois polos (sujeitos). 
Por norma jurídica completa entende-se a norma que prescreve uma relação 
entre dois sujeitos e que estabelece a respectiva sanção de ordem estatal. Nesse 
sentido, a segunda feição da norma atribui juridicidade a sua primeira dimensão. 
Portanto, a norma sem sanção, dentro desse contexto semântico do que seja norma e 
do que seja sanção, não pode ser vista sob uma perspectiva jurídica, ou então, em 
nada seria diferente de norma religiosa ou moral. 
 
 
.4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e 
norma jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em 
sentido amplo e norma em sentido estrito. 
 
A norma jurídica pode ser decomposta em13: (i) uma hipótese, um 
pressuposto ou um antecedente, cuja função é descrever uma situação de possível 
ocorrência; (ii) a situação que atua como causa para o efeito jurídico contido na 
norma; e, por fim, (iii) a consequência, determinando o vínculo relacional entre os 
dois polos (sujeitos). Por norma jurídica completa entende-se a norma que prescreve 
uma relação entre dois sujeitos e que estabelece a respectiva sanção de ordem estatal. 
Nesse sentido, a segunda feição da norma atribui juridicidade a sua primeira 
dimensão. 
 
12 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010.13 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. 
O documento normativo é o texto em si, ainda sem evidenciar seu horizonte 
de possibilidades no contato com o tecido da realidade social, já o enunciado 
prescritivo é a norma em sua versão que determina como específica realidade deve 
ser lida diante do direito posto, a proposição é o texto da norma tomado de forma 
isolada e o a norma é a conjugação de sentidos justapostos à realidade social, 
produzindo um sentido unívoco com o sistema jurídico. 
 
 
.5. Que é tributo (vide Anexo I)? O desconto de IPVA concedido para contribuintes 
que não incorreram e infrações de trânsito é uma autorização do tributo como 
“sanção de ato ilícito”? E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da 
função social da propriedade? As alíquotas de um tributo podem variar 
conforme o grau de periculosidade de uma empresa? 
 
A definição de tributo exige conjecturar variáveis de modo a compreender o 
contexto no qual este conceito será inserido e interpretado. Com efeito, o signo 
tributo precisa ser decomposto em suas partes, quais sejam: significado (conceito) e 
significante (imagem acústica). Em virtude dessas circunstâncias, para melhor 
esclarecimento sobre a semiótica dos signos, tem-se o seguinte recorte14: 
No entanto, é preciso construir e apresentar tais elementos, coerentemente 
ao exposto até aqui e estruturados em um sistema de signos socializados, 
isto é, composto de um significado, em forma de ente abstrato (conceito) e de 
um significante, a parte tangível (uma imagem material do signo), ou seja, 
cada signo é composto de duas dimensões, o significante e o significado, 
uma imagem acústica e um conceito. 
 
Portanto, para definir o signo tributo é necessário decompor tal estrutura em 
significante (imagem acústica) e significado (conceito). Por essa razão, o direito 
positivo não é o fornecedor desses elementos, uma vez que, os códigos não 
prescrevem a realidade, mas, sim, como esta realidade deve ser lida pelo Direito, ou 
 
14 TAVARES, Gustavo Nascimento. Crítica à decisão judicial na trilogia estrutural do processo. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2018. 
seja, uma prescrição deontológica. Para melhor compreensão, a tributarista, Aurora 
Tomazini de Carvalho15, diz o seguinte: 
Não são poucos os autores que incidem neste erro, sustentando ser o direito 
positivo composto também de enunciados descritivos principalmente 
quando diante da delimitação, pelo legislador, de institutos jurídicos, como 
por exemplo o art. 3º do Código Tributário Nacional, que dispõe sobre o 
conceito de tributo. Para não ocorrer neste equívoco, devemos ter em mente 
que, mesmo quando o legislador dispõe sobre conceitos jurídicos (ex. o que é 
propriedade, empresário, bem imóvel, tributo, etc.), não está descrevendo 
uma realidade e sim prescrevendo como tal realidade deve ser considerada 
juridicamente. O art. 3o nada informa, prescreve o que deve ser entendido 
como “tributo” no discurso do direito positivo. Basta considerarmos o 
contexto comunicacional em que tais enunciados encontram-se inseridos e 
logo observamos tratar-se de enunciados prescritivos, vez que o animus do 
legislador volta-se a disciplinar e não a informar. 
 
Dito isso, o conceito de tributo pode ser dado em dois sentidos, um 
denotativo histórico e outro conotativo normativo-científico. Para tais definições têm-
se nas palavras de Paulo de Barros Carvalho1617 os seguintes conceitos, primeiro o 
conceito denotativo histórico e, posteriormente, o sentido conotativo científico-
normativo: 
Tributo provém do verbo tribuere: tributum, que significa repartir entre as 
tribos. Nas comunidades primitivas, o tributo estava na dependência da 
satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos do chefe, que o exigia 
de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura, in pecúnia, exigidas pela 
força e arbitrariedade. 
[...] 
 
Trata-se de “tributo” como processo de positivação, cadeia de normas que 
tem início no altiplano constitucional com as regras de competência (entre 
elas as de imunidades) e vão progredindo para baixo, em termos 
hierárquicos, passando pela regra-matriz de incidência, até atingir, 
frontalmente, os comportamentos concretos que se consubstanciam numa 
efetiva prestação pecuniária. 
 
Logo, a fusão de tais conceitos tem a aptidão de gerar um signo para o termo 
“tributo”, satisfazendo a necessidade de fixar um conceito (significado) e uma 
imagem acústica (significante). A imagem acústica do tributo constitui um dever de 
entregar ao erário certa quantia em pecúnia, já o conceito, pode ser dado como sendo 
a estruturação de regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a gerar uma 
 
15 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e 
apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 
16 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
17 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010 
relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por tais 
critérios. 
O desconto de IPVA concedido para aqueles contribuintes que não 
incorreram em infrações de trânsito não é sanção de ato ilícito, pois conceder referido 
desconto não implica em majoração do tributo. 
A progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da 
propriedade está em sintonia com o conceito do que seja tributo, pois atende a 
imagem acústica do tributo, a qual consiste em um dever de entregar ao erário certa 
quantia em pecúnia, bem como o conceito, ou seja, o tributo é aquilo que está 
estruturado conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a 
gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por 
tais critérios. 
As alíquotas de um tributo variáveis conforme o grau de periculosidade de 
uma empresa estão em sintonia com o conceito do que seja tributo, pois atende a 
imagem acústica do tributo, a qual consiste em um dever de entregar ao erário certa 
quantia em pecúnia, bem como o conceito, ou seja, o tributo é aquilo que está 
estruturado conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a 
gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por 
tais critérios. 
 
 
.6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à 
seguinte sentença: “Direito tributário é o ramo do direito público positivo que 
estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes à 
instituição arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito 
tributário”. 
 
Por Direito Tributário compreende-se uma fração do direito que rege as 
relações jurídicas envolvendo os tributos, considerando também as inúmeras 
intersecções entre outros temas do direito, inclusive o direito constitucional, com esse 
tema. 
Em consequência, a sentença: “Direito tributário é o ramo do direito público 
positivo que estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes 
à instituição arrecadação e fiscalização de tributos” possui imprecisões semânticas 
pelo fato de reduzir o conceito “direito tributário” a um ramo do direito público 
positivo, ou seja, as expressões “ramo” “público” e “positivo”, encolhem o horizonte 
de possibilidades do termo. 
O vocábulo “ramo” transmite a ideia de algo ramificado e separado do todo, 
o que não é verdade na atual conjuntura da compreensão do que seja direito. Quanto 
ao termo “público”, tal classificação, da mesma forma, recorta o significado do 
direito tributário sob uma perspectiva superada, isto é, a visão dicotômica do direito 
em público e privado, tal percepção do direitotornou-se obsoleta com mudança de 
eixo dos pilares jurídicos, posicionando os direitos fundamentais e a constituição 
como epicentros do universo jurídico, por essa razão, o termo “público” não encaixa 
na totalidade do conceito de direito tributário. Já o termo “positivo”, conforme dito 
em momento anterior, refere-se ao conjunto das normas jurídicas válidas, nesse 
sentido, o significado de direito tributário transcende o conjunto de normas válidas 
versando sobre tributos, pois, outras questões envolvem tal conceito, como a sua 
dimensão enquanto sistema, ordenamento e a teoria da interpretação sobre esses 
conjuntos. 
Portanto, a definição “Direito tributário é o ramo do direito público positivo 
que estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes à 
instituição arrecadação e fiscalização de tributos” possui desajustes com prática e a 
teoria contemporânea, tanto do direito tributário, quanto do próprio direito em si. 
 
 
.7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício): 
A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decretou e eu sanciono a 
seguinte lei: 
Art. 1º Esta taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividade de 
Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem 
como fato gerador o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas 
atividades. 
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização 
de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos. 
Art. 3º. A alíquota é de 3%. 
Art. 4º Contribuinte é a Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com 
a finalidade de exploração ou aproveitamento econômico. 
Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da 
guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do 
aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do 
tributo devido. 
Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a 
autoridade fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de 
Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida. 
Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recursos hídricos na 
captação e consumo destinados à atividade agropecuária. 
(...) 
Pergunta-se: 
.a. Quantas normas há nessa lei? Identifique-as. 
.b. Qual dessas normas institui o tributo? 
.c. Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? 
Justificar? 
.d. O texto legal acima transcrito, é ciência do Direito? Justificar. 
 
(a) Em análise do texto normativo do exemplo é possível extrair cinco 
normas, quais sejam: (i) a norma que institui o tributo, regra matriz de incidência 
tributária, (arts 1º ao 4º); (ii) a norma acessória que estabelece a forma de pagamento 
do tributo, regra matriz de dever instrumental, (art. 5º); (iii) a norma que institui 
multa pelo não pagamento do tributo, regra matriz sancionadora do não-pagamento 
do tributo, (art. 5º); (iv) norma que institui multa pelo descumprimento das normas 
acessórias, regra matriz sancionadora do dever instrumental, (art. 6º); (v) norma que 
declara isento determinado tipo de atividade pertencente ao universo do fato 
gerador. 
(b) A norma que institui o tributo está contida no art. 1º. 
(c) Todas as normas podem ser objetos de estudo do direito tributário, no 
entanto, a norma que contém o fato gerador é a mais importante para a Ciência do 
Direito Tributário. A justificativa para tanto reside no argumento de que, para a 
ciência do direito tributário, a norma estudada carece de aplicação no mundo fático 
para produzir sentido científico, ou seja, precisa ser observada em interconexão com 
o universo jurídico, bem como com a realidade social. 
(d) O texto acima pode ser incorporado a ciência do direito desde que esteja 
integrado ao ordenamento jurídico e, consequentemente, ao sistema do direito. 
Portanto, a partir da inserção de tais normas ao conjunto de normas jurídicas válidas, 
assim como o início dos seus efeitos na realidade social, o citado instrumento torna-
se objeto de estudo da Ciência do Direito. 
 
Trabalho realizado como atividade avaliativa do curso de pós-graduação 
em Direito Tributário do Instituto Brasileiro de Estudos Tributário – IBET 
 
 
Gustavo Nascimento Tavares 
14 de março de 2018, Uberlândia MG.

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