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INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO TRIBUTÁRIO MÓDULO TRIBUTO E SEGURANÇA JURÍDICA MÓDULO I SEMINÁRIO I – DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE TRIBUTO Gustavo Nascimento Tavares 14 de março de 2019, Uberlândia MG. .1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Explique. Quando aglomerações humanas, estruturadas em comunidades, começam a se tornarem significativamente complexas, forjando autênticas sociedades, é imperioso que subsista uma ordem para resguardá-las do caos. Tal ordem, a depender do seu fundamento existencial, possui características de pacificação social, de preservação das relações de poder e de adestramento coletivo dos seus membros, podendo ser fundada em aspectos metafísicos, por exemplo, a religião, ou, por elementos culturais acoplados à moral e à razão, como, o Direito. Nesse sentir, o Direito possui a genealogia de um produto cultural cuja finalidade consiste em criar uma ordem artificial de organicidade coletiva, por meio da qual é possível construir o sentimento de pacificação social dentro de uma determinada comunidade, fornecendo sistemas de soluções de conflitos, arranjando as relações de poder e comprometendo-se com a liberdade e a igualdade, tanto da coletividade abstrata, quanto dos seus indivíduos em si. Entretanto, admitindo as Eras atuais e o estágio evolutivo da humanidade, o Direito possui conceituações mais voltadas para a sua dimensão epistemológica, coexistindo inúmeras classificações, porém, todas elas edificadas sobre o paradigma que o posiciona enquanto uma ordem cultural na qual se traça meios de controle contra eventuais rupturas sociais e uma proteção contra ameaças internas e externas de caos. Um importante traço evolutivo do Direito na contemporaneidade é o seu aspecto hermenêutico, tornando-o, segundo a visão de um grande expoente no tema, Ronald Dworkin12, um conjunto abstrato de regras e princípios incumbido de fornecer respostas para as colisões entre o Direito posto e a realidade social. Consequentemente, o direito contemporâneo tem-se apresentando, segundo o jurista Nelson Saldanha, como ordem e hermenêutica, ou seja, os sistemas jurídicos refletem o momento filosófico pós-virada linguística e edificam-se sobre um multiverso de signos e de significados, produzindo, assim, um conceito de direito que detém a capacidade de se auto reproduzir (autopoiese3) por meio da interpretação e da cultura, embora, persista sua natureza de uma ordem social. Diante desse contexto, diversos autores reafirmam essa representação do Direito. Segundo Gustavo Just4, as premissas de Nelson Saldanha estão conjecturadas sob o seguinte sentido: A ideia de ordem pôde então ser mobilizada em ordem e hermenêutica como vetor de uma interpretação fecunda e não arbitrária da vida institucional em sua complexidade. Uma interpretação fecunda porque os significados em que se diversifica essa ideia remetem, no plano heurístico, a analogias estruturais e mesmo a arquétipos: analogias entre a ordem cósmica e a divina, passando-se delas à ordem social e aos espaços urbanos, e até mesmo às pretensões ordenadoras da razão (Saldanha lembra sempre a frase de Spinoza sobre o paralelo entre a ordem e a conexão das coisas e a ordem e conexão das ideias). Em contrapartida, existem conceitos de Direito mais comprometidos com o direito posto, ajustando seu foco mais para a sua dimensão normativa. Nessa linha 1DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípios. tradução Luís Carlos Borges. 1o Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 2DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. tradução Nelson Boeira. 1o Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 3LUHMANN, Niklas. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998. 4JUST, Gustavo. O Direito como ordem e hermenêutica: a filosofia do direito de Nelson Saldanha. Revista de Informação Legislativa, v. 46, n. 181, p. 7-16, jan./mar. 2009. de pensamento, têm-se as ideias de Aurora Tomazini de Carvalho5 nos seguintes dizeres: Voltando aos nossos estudos sobre a natureza classificatória das definições, podemos observar serem três os critérios separatórios que fundamentam a definição do conceito de “direito” com o qual trabalhamos (direito positivo): (i) ser norma; (ii) ser jurídica; e (iii) ser válida. Com o primeiro critério, dividimos a classe das normas (linguagem prescritiva), da classe das não-normas (outras linguagens: descritiva, interrogativa, poética, etc.). Com o segundo critério, separamos a classe das normas entre jurídicas (postas perante ato de vontade de autoridade competente), das não-jurídicas (morais, religiosas, éticas, etc.). E, por fim, com o terceiro critério isolamos a classe das normas jurídicas em válidas (presentes – existentes) e não-válidas (futuras e passadas – não existentes). Constituímos, assim, a classe do “direito positivo”, nosso objeto de estudo. Em continuidade, sobre a significação do que seja direito positivo, a autora6 diz: A expressão “direito positivo”, a princípio, parece redundante, pois para todos aqueles que adotam uma posição kelseniana não existe outro direito, senão o posto. No entanto, o pleonasmo se justifica pela ambigüidade do termo, para diferenciar sua forma de uso como “objeto da Ciência do Direito” de todas as demais acepções que possui. O qualificativo “positivo” significa produzido por um ato de vontade de autoridade e, agregado ao termo “direito”, aumenta sua precisão terminológica. Portanto, ajustado o conceito de Direito, tanto em uma semântica mais expansiva e filosófica, quanto em uma depuração mais cognitivista e científica, recortada a partir da teoria da norma, a ciência do Direito é aquela que se ocupa de desvendar e investigar o direito posto. Por outro lado, o direito positivo, constitui o conjunto de normas jurídicas válidas, ou seja, é o próprio objeto da ciência jurídica. Ora, tais conceitos (ciência do direito e direito positivo) são complementares e intrinsicamente interligados ao conceito de direito. Sem dúvida, inúmeras ressalvas cabem nessa trilogia conceitual (Direito, direito positivo e ciência do direito), mas, a principal reside no aspecto cultural e linguístico os quais inundaram o universo jurídico e se tornaram determinantes para a compreensão e a vivacidade do Direito nos tempos atuais. 5CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 6CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. .2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/2017) (anexo III). (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo. A definição de tributo exige conjecturar variáveis de modo a compreender o contexto no qual este conceito será inserido e interpretado. Com efeito, o signo tributo precisa ser decomposto em suas partes, quais sejam: significado (conceito) e significante (imagem acústica). Em virtude dessas circunstâncias, para melhor esclarecimento sobre a semiótica dos signos, tem-se o seguinte recorte7: No entanto, é preciso construir e apresentar tais elementos, coerentemente aoexposto até aqui e estruturados em um sistema de signos socializados, isto é, composto de um significado, em forma de ente abstrato (conceito) e de um significante, a parte tangível (uma imagem material do signo), ou seja, cada signo é composto de duas dimensões, o significante e o significado, uma imagem acústica e um conceito. Portanto, para definir o signo tributo é necessário decompor tal estrutura em significante (imagem acústica) e significado (conceito). Por essa razão, o direito positivo não é o fornecedor desses elementos, uma vez que, os códigos não prescrevem a realidade, mas, sim, como esta realidade deve ser lida pelo Direito, ou seja, uma prescrição deontológica. Para melhor compreensão, a tributarista, Aurora Tomazini de Carvalho8, diz o seguinte: Não são poucos os autores que incidem neste erro, sustentando ser o direito positivo composto também de enunciados descritivos principalmente quando diante da delimitação, pelo legislador, de institutos jurídicos, como por exemplo o art. 3º do Código Tributário Nacional, que dispõe sobre o 7 TAVARES, Gustavo Nascimento. Crítica à decisão judicial na trilogia estrutural do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. 8 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. conceito de tributo. Para não ocorrer neste equívoco, devemos ter em mente que, mesmo quando o legislador dispõe sobre conceitos jurídicos (ex. o que é propriedade, empresário, bem imóvel, tributo, etc.), não está descrevendo uma realidade e sim prescrevendo como tal realidade deve ser considerada juridicamente. O art. 3o nada informa, prescreve o que deve ser entendido como “tributo” no discurso do direito positivo. Basta considerarmos o contexto comunicacional em que tais enunciados encontram-se inseridos e logo observamos tratar-se de enunciados prescritivos, vez que o animus do legislador volta-se a disciplinar e não a informar. Dito isso, o conceito de tributo pode ser dado em dois sentidos, um denotativo histórico e outro conotativo normativo-científico. Para tais definições têm- se nas palavras de Paulo de Barros Carvalho910 os seguintes conceitos, primeiro o conceito denotativo histórico e, posteriormente, o sentido conotativo científico- normativo: Tributo provém do verbo tribuere: tributum, que significa repartir entre as tribos. Nas comunidades primitivas, o tributo estava na dependência da satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos do chefe, que o exigia de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura, in pecúnia, exigidas pela força e arbitrariedade. [...] Trata-se de “tributo” como processo de positivação, cadeia de normas que tem início no altiplano constitucional com as regras de competência (entre elas as de imunidades) e vão progredindo para baixo, em termos hierárquicos, passando pela regra-matriz de incidência, até atingir, frontalmente, os comportamentos concretos que se consubstanciam numa efetiva prestação pecuniária. Logo, a fusão de tais conceitos tem a aptidão de gerar um signo para o termo “tributo”, satisfazendo a necessidade de fixar um conceito (significado) e uma imagem acústica (significante). A imagem acústica do tributo constitui um dever de entregar ao erário certa quantia em pecúnia, já o conceito, pode ser dado como sendo a estruturação de regras e princípios constitucionais e infraconstitucionais, de forma a gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por tais critérios. Construído o signo tributo é possível auferir a partir se determinada relação constitui ou não uma espécie de tributo. 9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 10 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. (i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II); tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de estruturação do tributo conforme as regras e os princípios, constitucionais e infraconstitucionais, por exemplo, o princípio da legalidade tributária, reserva legal. (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/2017) (anexo III); tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de obrigatoriedade na relação entre os indivíduos e o Estado. (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de estruturação do tributo conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, por exemplo, o princípio da legalidade tributária, reserva legal. (iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo; tal hipótese não se encaixa ao que seja tributo, pois descumpre a exigência de estruturação do tributo conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, por exemplo, o princípio da não-cumulatividade e da não bitributação. .3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica sem sanção? Justifique. Se o direito positivo é o conjunto de normas jurídicas válidas, definir norma jurídica torna-se essencial para a completude e a coerência dos sistemas que compõe o direito. Segundo Paulo de Barros Carvalho11, a norma jurídica, dentre as diversas classificações, pode ser desenhada sob dois sentidos, quais sejam: Norma jurídica em sentido amplo, designando o texto e o conteúdo de tais normas; e norma jurídica em sentido restrito, denotando as significações construídas a partir do direito positivo, 11 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. na equação exemplificativa sob o critério hipotético constitucional, o qual produz o sentido dos textos jurídicos em seu prisma deôntico. Em continuidade, a norma jurídica ainda pode ser decomposta em12: (i) uma hipótese, um pressuposto ou um antecedente, cuja função é descrever uma situação de possível ocorrência; (ii) a situação que atua como causa para o efeito jurídico contido na norma; e, por fim, (iii) a consequência, determinando o vínculo relacional entre os dois polos (sujeitos). Por norma jurídica completa entende-se a norma que prescreve uma relação entre dois sujeitos e que estabelece a respectiva sanção de ordem estatal. Nesse sentido, a segunda feição da norma atribui juridicidade a sua primeira dimensão. Portanto, a norma sem sanção, dentro desse contexto semântico do que seja norma e do que seja sanção, não pode ser vista sob uma perspectiva jurídica, ou então, em nada seria diferente de norma religiosa ou moral. .4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e norma jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido amplo e norma em sentido estrito. A norma jurídica pode ser decomposta em13: (i) uma hipótese, um pressuposto ou um antecedente, cuja função é descrever uma situação de possível ocorrência; (ii) a situação que atua como causa para o efeito jurídico contido na norma; e, por fim, (iii) a consequência, determinando o vínculo relacional entre os dois polos (sujeitos). Por norma jurídica completa entende-se a norma que prescreve uma relação entre dois sujeitos e que estabelece a respectiva sanção de ordem estatal. Nesse sentido, a segunda feição da norma atribui juridicidade a sua primeira dimensão. 12 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010.13 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010. O documento normativo é o texto em si, ainda sem evidenciar seu horizonte de possibilidades no contato com o tecido da realidade social, já o enunciado prescritivo é a norma em sua versão que determina como específica realidade deve ser lida diante do direito posto, a proposição é o texto da norma tomado de forma isolada e o a norma é a conjugação de sentidos justapostos à realidade social, produzindo um sentido unívoco com o sistema jurídico. .5. Que é tributo (vide Anexo I)? O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram e infrações de trânsito é uma autorização do tributo como “sanção de ato ilícito”? E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? As alíquotas de um tributo podem variar conforme o grau de periculosidade de uma empresa? A definição de tributo exige conjecturar variáveis de modo a compreender o contexto no qual este conceito será inserido e interpretado. Com efeito, o signo tributo precisa ser decomposto em suas partes, quais sejam: significado (conceito) e significante (imagem acústica). Em virtude dessas circunstâncias, para melhor esclarecimento sobre a semiótica dos signos, tem-se o seguinte recorte14: No entanto, é preciso construir e apresentar tais elementos, coerentemente ao exposto até aqui e estruturados em um sistema de signos socializados, isto é, composto de um significado, em forma de ente abstrato (conceito) e de um significante, a parte tangível (uma imagem material do signo), ou seja, cada signo é composto de duas dimensões, o significante e o significado, uma imagem acústica e um conceito. Portanto, para definir o signo tributo é necessário decompor tal estrutura em significante (imagem acústica) e significado (conceito). Por essa razão, o direito positivo não é o fornecedor desses elementos, uma vez que, os códigos não prescrevem a realidade, mas, sim, como esta realidade deve ser lida pelo Direito, ou 14 TAVARES, Gustavo Nascimento. Crítica à decisão judicial na trilogia estrutural do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. seja, uma prescrição deontológica. Para melhor compreensão, a tributarista, Aurora Tomazini de Carvalho15, diz o seguinte: Não são poucos os autores que incidem neste erro, sustentando ser o direito positivo composto também de enunciados descritivos principalmente quando diante da delimitação, pelo legislador, de institutos jurídicos, como por exemplo o art. 3º do Código Tributário Nacional, que dispõe sobre o conceito de tributo. Para não ocorrer neste equívoco, devemos ter em mente que, mesmo quando o legislador dispõe sobre conceitos jurídicos (ex. o que é propriedade, empresário, bem imóvel, tributo, etc.), não está descrevendo uma realidade e sim prescrevendo como tal realidade deve ser considerada juridicamente. O art. 3o nada informa, prescreve o que deve ser entendido como “tributo” no discurso do direito positivo. Basta considerarmos o contexto comunicacional em que tais enunciados encontram-se inseridos e logo observamos tratar-se de enunciados prescritivos, vez que o animus do legislador volta-se a disciplinar e não a informar. Dito isso, o conceito de tributo pode ser dado em dois sentidos, um denotativo histórico e outro conotativo normativo-científico. Para tais definições têm- se nas palavras de Paulo de Barros Carvalho1617 os seguintes conceitos, primeiro o conceito denotativo histórico e, posteriormente, o sentido conotativo científico- normativo: Tributo provém do verbo tribuere: tributum, que significa repartir entre as tribos. Nas comunidades primitivas, o tributo estava na dependência da satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos do chefe, que o exigia de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura, in pecúnia, exigidas pela força e arbitrariedade. [...] Trata-se de “tributo” como processo de positivação, cadeia de normas que tem início no altiplano constitucional com as regras de competência (entre elas as de imunidades) e vão progredindo para baixo, em termos hierárquicos, passando pela regra-matriz de incidência, até atingir, frontalmente, os comportamentos concretos que se consubstanciam numa efetiva prestação pecuniária. Logo, a fusão de tais conceitos tem a aptidão de gerar um signo para o termo “tributo”, satisfazendo a necessidade de fixar um conceito (significado) e uma imagem acústica (significante). A imagem acústica do tributo constitui um dever de entregar ao erário certa quantia em pecúnia, já o conceito, pode ser dado como sendo a estruturação de regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a gerar uma 15 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. Tese de doutorado defendida e apresentada à Pontífica Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2009. 16 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 17 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2010 relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por tais critérios. O desconto de IPVA concedido para aqueles contribuintes que não incorreram em infrações de trânsito não é sanção de ato ilícito, pois conceder referido desconto não implica em majoração do tributo. A progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade está em sintonia com o conceito do que seja tributo, pois atende a imagem acústica do tributo, a qual consiste em um dever de entregar ao erário certa quantia em pecúnia, bem como o conceito, ou seja, o tributo é aquilo que está estruturado conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por tais critérios. As alíquotas de um tributo variáveis conforme o grau de periculosidade de uma empresa estão em sintonia com o conceito do que seja tributo, pois atende a imagem acústica do tributo, a qual consiste em um dever de entregar ao erário certa quantia em pecúnia, bem como o conceito, ou seja, o tributo é aquilo que está estruturado conforme as regras constitucionais e infraconstitucionais, de forma a gerar uma relação entre os indivíduos e o Estado, criando obrigações delimitadas por tais critérios. .6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte sentença: “Direito tributário é o ramo do direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes à instituição arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário”. Por Direito Tributário compreende-se uma fração do direito que rege as relações jurídicas envolvendo os tributos, considerando também as inúmeras intersecções entre outros temas do direito, inclusive o direito constitucional, com esse tema. Em consequência, a sentença: “Direito tributário é o ramo do direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes à instituição arrecadação e fiscalização de tributos” possui imprecisões semânticas pelo fato de reduzir o conceito “direito tributário” a um ramo do direito público positivo, ou seja, as expressões “ramo” “público” e “positivo”, encolhem o horizonte de possibilidades do termo. O vocábulo “ramo” transmite a ideia de algo ramificado e separado do todo, o que não é verdade na atual conjuntura da compreensão do que seja direito. Quanto ao termo “público”, tal classificação, da mesma forma, recorta o significado do direito tributário sob uma perspectiva superada, isto é, a visão dicotômica do direito em público e privado, tal percepção do direitotornou-se obsoleta com mudança de eixo dos pilares jurídicos, posicionando os direitos fundamentais e a constituição como epicentros do universo jurídico, por essa razão, o termo “público” não encaixa na totalidade do conceito de direito tributário. Já o termo “positivo”, conforme dito em momento anterior, refere-se ao conjunto das normas jurídicas válidas, nesse sentido, o significado de direito tributário transcende o conjunto de normas válidas versando sobre tributos, pois, outras questões envolvem tal conceito, como a sua dimensão enquanto sistema, ordenamento e a teoria da interpretação sobre esses conjuntos. Portanto, a definição “Direito tributário é o ramo do direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o fisco e os contribuintes, concernentes à instituição arrecadação e fiscalização de tributos” possui desajustes com prática e a teoria contemporânea, tanto do direito tributário, quanto do próprio direito em si. .7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício): A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decretou e eu sanciono a seguinte lei: Art. 1º Esta taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividade de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades. Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos. Art. 3º. A alíquota é de 3%. Art. 4º Contribuinte é a Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade de exploração ou aproveitamento econômico. Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido. Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a autoridade fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida. Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recursos hídricos na captação e consumo destinados à atividade agropecuária. (...) Pergunta-se: .a. Quantas normas há nessa lei? Identifique-as. .b. Qual dessas normas institui o tributo? .c. Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar? .d. O texto legal acima transcrito, é ciência do Direito? Justificar. (a) Em análise do texto normativo do exemplo é possível extrair cinco normas, quais sejam: (i) a norma que institui o tributo, regra matriz de incidência tributária, (arts 1º ao 4º); (ii) a norma acessória que estabelece a forma de pagamento do tributo, regra matriz de dever instrumental, (art. 5º); (iii) a norma que institui multa pelo não pagamento do tributo, regra matriz sancionadora do não-pagamento do tributo, (art. 5º); (iv) norma que institui multa pelo descumprimento das normas acessórias, regra matriz sancionadora do dever instrumental, (art. 6º); (v) norma que declara isento determinado tipo de atividade pertencente ao universo do fato gerador. (b) A norma que institui o tributo está contida no art. 1º. (c) Todas as normas podem ser objetos de estudo do direito tributário, no entanto, a norma que contém o fato gerador é a mais importante para a Ciência do Direito Tributário. A justificativa para tanto reside no argumento de que, para a ciência do direito tributário, a norma estudada carece de aplicação no mundo fático para produzir sentido científico, ou seja, precisa ser observada em interconexão com o universo jurídico, bem como com a realidade social. (d) O texto acima pode ser incorporado a ciência do direito desde que esteja integrado ao ordenamento jurídico e, consequentemente, ao sistema do direito. Portanto, a partir da inserção de tais normas ao conjunto de normas jurídicas válidas, assim como o início dos seus efeitos na realidade social, o citado instrumento torna- se objeto de estudo da Ciência do Direito. Trabalho realizado como atividade avaliativa do curso de pós-graduação em Direito Tributário do Instituto Brasileiro de Estudos Tributário – IBET Gustavo Nascimento Tavares 14 de março de 2018, Uberlândia MG.
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