Buscar

politica_externa_do_japao_aspectos_institucionais_e_evolucao_historica (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Após o final da Guerra Fria com a queda do muro de Berlim, 
oficialmente, no dia 9 de novembro de 1989, surgiram preocupações do 
Japão sobre como continuariam as relações nipo-americanas. Isso ocorreu 
porque, em um mundo bipolar, um dos fatores que atribuíam 
importância ao Japão pelos Estados Unidos da América (EUA) era a 
parceria para conter o comunismo, mas, com o enfraquecimento dessa 
ameaça, dada a desintegração da União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas (URSS) em 1991, a relação entre os países passou a ser 
reavaliada, assim como o papel internacional do Japão. 
Houve declarações de políticos japoneses nesse período imediato ao 
final da Guerra Fria, que apontavam para a possibilidade de o Japão 
assumir um papel mais proeminente nas relações internacionais, pois, dada 
a sua posição de segunda maior economia mundial, atrás apenas dos EUA, 
havia uma demanda internacional para que o governo de Tóquio passasse 
também a dividir os custos de manutenção da ordem internacional. 
Esse pleito estava relacionado ao fato de os países ocidentais, 
principalmente os desenvolvidos, terem atuado intensamente para conter 
a expansão do comunismo, enquanto o Japão era visto como um país que 
se beneficiou dessas ações ao fazer crescer a sua economia, mas sem ter 
contribuído proporcionalmente para a segurança internacional, uma vez 
que esteve sob a proteção dos EUA. De fato, o Japão, ao longo da segunda 
metade do século XX, saiu da II Guerra Mundial derrotado e com uma 
economia muito enfraquecida, embora tenha alcançado a posição de 
segunda maior economia global na década de 1980. 
O governo japonês, contudo, justificou essa criticada participação, 
isto é, considerada inferior à dos países ocidentais e aquém do que deveria 
ser para o país com a segunda maior economia do mundo, alegando que 
foi decorrente das restrições constitucionais. 
A expressão “gigante econômico e anão político” era comumente 
utilizada para designar o perfil do Japão nos anos imediatos ao pós-
Guerra Fria. Como uma resposta a essas pressões Kuriyama Takakazu – 
vice-ministro de Negócios Exteriores –, em entrevista ao Los Angeles 
Times, afirmou: 
INTRODUÇÃO 
 
 
Primeiro, deixem me enfatizar que é amplamente reconhecido entre os 
japoneses que nós (...) devemos desempenhar um papel econômico e 
político mais ativo e responsável, em íntima cooperação com outras 
democracias industriais (JAMESON, 1990 – tradução nossa). 
 
Apesar dessa e de outras declarações de representantes do governo japonês afirmando a 
disposição de ampliar o papel nipônico nas relações internacionais, desde o início da década de 
1990 aos dias atuais, o papel do Japão no contexto internacional permanece em discussão. Portanto 
são mais de 30 anos de debates em que ainda não se tem uma definição clara e consensual sobre um 
novo ordenamento das relações internacionais, como foi a bipolaridade, tampouco sobre a inserção 
internacional japonesa. 
Entretanto é importante salientar o peso e a importância do Japão para as relações 
internacionais tanto no âmbito regional como global, pois esse país é a terceira maior economia 
mundial, atrás apenas da China e dos EUA. Essa posição deverá ser mantida durante algum tempo, 
uma vez que a taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) da Alemanha, que ocupa a 
quarta posição, não tem sido muito diferente da do Japão. Dessa forma as perspectivas do Fundo 
Monetário Internacional (FMI) apontam que, pelo menos até o final desta década, as posições não 
deverão mudar. O risco de perda da terceira posição é maior em relação à Índia, mas isso deve 
ocorrer na próxima década. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1 – Dez maiores PIB em 2020 
país valor (US$ milhões) 
EUA 20.932.750 
China 14.722.837 
Japão 5.048.688 
Alemanha 3.803.014 
Reino Unido 2.710.970 
Índia 2.708.770 
França 2.598.907 
Itália 1.884.935 
Canadá 1.643.408 
Fonte: International Monetary Fund (2020) 
 
Outro fator relevante para acompanhar as relações internacionais do Japão é a sua parceria 
com os EUA, particularmente para a região da Ásia, bem como o interesse de Tóquio em renovar 
e revitalizar o seu papel internacional. Se, no final do século passado, a ampliação da participação 
japonesa era uma demanda que emergia de fora para dentro, nos últimos anos observa-se que o 
governo japonês tem demonstrado buscar uma política externa mais ativa se comparada ao perfil 
da sua diplomacia até a segunda metade do século XX, como será apresentado ao longo do trabalho. 
 Dessa forma, o objetivo geral da disciplina consiste em oferecer um panorama das relações 
internacionais do Japão após o final da Guerra Fria até as primeiras duas décadas do século XXI. 
Adicionalmente, os objetivos específicos incluem: 
 identificar as mudanças que ocorreram internamente no país e os principais impactos na 
política externa; 
 relacionar como as transformações do cenário internacional tem apresentado desafios e 
oportunidades à inserção internacional do Japão, 
 
 
 
 
 
A fim de alcançar tais objetivos, a apostila será dividia em quatro módulos. No módulo 1, 
Período pós-Guerra Fria e desafios ao Japão, será apresentada uma pequena retrospectiva das 
relações internacionais do Japão a partir do final da Guerra Fria, apontando as transformações que 
vieram ocorrendo no âmbito interno ao país, envolvendo aspectos econômicos, sociais e políticos. 
Também serão destacados os fatos relevantes no âmbito externo de como as alterações de posições 
relativas dos principais países tem repercutido na política externa japonesa. 
 No módulo 2, Transformações da política externa japonesa: atores, policy-making e 
interesses, serão abordadas as mudanças institucionais no processo da elaboração da política 
externa. Ao longo do período do pós Guerra Fria há uma busca de reestruturação das participações 
na formulação dessa política, que tem como principais sujeitos a burocracia estatal, os políticos e o 
setor privado. A compreensão do papel de cada um desses atores é importante para se analisar 
também a formação dos interesses nacionais e o papel que o Japão procura desempenhar nas relações 
internacionais do século XI. 
 Já no módulo 3, Geopolítica Asiática no Século XXI, veremos que o mundo tem sido 
testemunha do crescimento da importância internacional da Ásia nas últimas décadas, com destaque 
na área econômica com a sucessão de economias que vieram ganhando destaques pela sequência o 
Japão, os tigres asiáticos (Coreia, Hong Kong, Singapura e Taiwan) e mais recentemente a China e 
os países do sudeste asiático. No entanto, o século XXI tem sido também palco de preocupação 
com a região, pois há cooperação, mas também há disputas de interesses, por isso a pergunta é: 
prevalecerá a paz ou o conflito na Ásia? 
 Por fim, o módulo 4, Um novo Japão para um mundo novo? destina-se a discutir qual o 
papel para o Japão no século XXI, como aponta o mestre e ex-ministro da Relações Exteriores, 
“toda política exterior resulta de um esforço de compatibilizar necessidades internas com 
possibilidades”. Feita as considerações sobre as transformações no âmbito interno e externo ao 
Japão, neste módulo se analisará como o governo de Tóquio busca renovar a sua política externa 
no mundo contemporâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I – PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA E DESAFIOS AO JAPÃO ................................................. 9 
RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO JAPÃO: EXPECTATIVAS E FRUSTRAÇÕES................................. 9 
ECONOMIA JAPONESA: PROJEÇÃO E BARREIRA AO STATUS INTERNACIONAL ........................ 16 
FRAGILIDADES IMPOSTAS PELA INSTABILIDADE POLÍTICA ........................................................ 21 
DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO DA SOCIEDADE ...................................................................... 25 
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 29 
MÓDULO II – TRANSFORMAÇÕESDA POLÍTICA EXTERNA JAPONESA: 
ATORES, POLICY-MAKING E INTERESSES......................................................................................... 31 
REFORMAS NA ESTRUTURA DO GOVERNO .................................................................................. 31 
PAPEL DO PRIMEIRO-MINISTRO ..................................................................................................... 35 
BUROCRACIA E POLÍTICA EXTERNA ............................................................................................... 44 
POLÍTICA EXTERNA SOB NOVOS PILARES ..................................................................................... 49 
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 55 
MÓDULO III – GEOPOLÍTICA ASIÁTICA NO SÉCULO XXI ............................................................... 57 
PAPEL DO JAPÃO NA “ASIANIZAÇÃO” DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................. 57 
Ajuda japonesa para o desenvolvimento ............................................................................. 58 
Políticas de integração regional ............................................................................................. 61 
INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: COMÉRCIO E INVESTIMENTOS ...................................................... 63 
PARCERIA COM OS EUA ................................................................................................................... 68 
JAPÃO E CHINA: COOPERAÇÃO E RIVALIDADES ........................................................................... 71 
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 75 
MÓDULO IV – UM NOVO JAPÃO PARA UM MUNDO NOVO? ........................................................ 77 
QUAL É O PAPEL DO JAPÃO NO SÉCULO XXI? .............................................................................. 77 
Perspectiva cética .................................................................................................................... 78 
Perspectiva otimista ................................................................................................................ 80 
NACIONALISMO ................................................................................................................................ 84 
JAPÃO E O PACIFISMO PROATIVO .................................................................................................. 90 
RELAÇÕES COM O BRASIL ............................................................................................................... 96 
CONCLUSÃO ...................................................................................................................................100 
BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................................102 
PROFESSOR-AUTOR ......................................................................................................................114 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
Neste módulo, será apresentada uma pequena retrospectiva das relações internacionais do 
Japão a partir do final da Guerra Fria, apresentando as transformações que influenciaram em um 
primeiro momento a projeção e a ampliação da participação do Japão nas relações internacionais, 
inclusive como um potencial substituto dos EUA na liderança. Além disso, serão destacados os 
fatores do âmbito interno ao país repercutidos na política externa japonesa, envolvendo aspectos 
econômicos, políticos e sociais. 
 
Relações internacionais do Japão: 
expectativas e frustrações 
A queda do muro de Berlim foi um importante evento nas relações internacionais, pois foi 
um marco do fim da chamada ordem internacional da Guerra Fria, portanto se passou a discutir 
qual seria a nova configuração internacional. Mas o que seria essa ordem internacional? Segundo 
Bull (2002, p. 7), 
 
dizer que um conjunto de coisas demonstra uma ordem é, no sentido mais 
simples e mais geral, afirmar que elas estão relacionadas entre si de acordo 
com uma certa estrutura; que a sua relação recíproca não é fruto puramente 
do acaso, mas contém algum princípio discernível. 
 
MÓDULO I – PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA E 
DESAFIOS AO JAPÃO 
 
10 
 
 
Em outra passagem, Bull (2002, p. 3) complementa que a “ordem internacional” se refere a 
um padrão de atividade que sustenta os objetivos elementares ou primários da sociedade dos 
estados, ou sociedade internacional. 
Portanto refletir sobre a ordem internacional não significa pensar em uma ausência de 
divergências de interesses entre os países ou mesmo de conflitos, mas em uma racionalidade passível 
de ser aplicada para o entendimento dos papéis e dos comportamentos dos Estados a partir do 
momento em que os EUA, com a perda da capacidade de liderança internacional da ex-URSS no 
final da década de 1980, passou ser a única superpotência. 
Lafer (2018, p. 883), professor e ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, apresenta bem 
essa discussão, ao apontar o protagonismo dos EUA, mas ao mesmo tempo as expectativas sobre 
outros países: 
 
Neste contexto global que se deve examinar o papel que representarão os 
Estados Unidos na “nova ordem” da qual desejam ser os inspiradores e 
fiadores, mas para cuja função parece faltar-lhes os recursos materiais 
indispensáveis para ser seu único organizador – ou seja, o hegemon. Os 
EUA vivem o dilema de ter conseguido vencer a batalha ideológica, no 
momento preciso em que os seguidores muitas vezes tardios desses mesmos 
valores – democracia, mas sobretudo economia de mercado – se mostram 
mais eficazes na sua implementação, embora se possa discutir até que 
ponto é a mesma forma de economia de mercado que está em ação nos 
EUA, na CEE ou no Japão. 
 
De fato, o professor da Universidade de Tóquio, Takashi Inoguchi (1988) já propunha alguns 
cenários mesmo antes da queda do muro de Berlim e da dissolução da ex-URSS formalizada em 8 
de dezembro de 1991, pelo acordo assinado entre Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, três das principais 
repúblicas soviéticas. 
A seguir, apontam-se os quatro cenários de ordem internacional propostos por Inoguchi 
(1988), nos quais ele discute quais papéis o Japão poderia desempenhar em cada uma delas: 
 Pax Americana – Fase II; 
 Bigemony; 
 Pax Nipponica e 
 Pax Consortis. 
 
Apresentando brevemente essas projeções, o cenário Pax Americana – Fase II consistiria no 
fato de os EUA serem capazes de manter a sua hegemonia, a sua capacidade de manutenção da 
estabilidade global e de controle dos rumos da economia mundial. No segundo cenário, Bigemony, 
o Japão ampliaria a sua participação nas questões internacionais, refletindo a sua estatura de segunda 
 
 11 
 
economia mundial à época. Entretanto, enquanto no primeiro caso o papel japonês seria 
basicamente de instrumentalizar o seu poder econômico para apoiar os EUA, neste segundo 
panorama disporia também de um papel militar. 
No terceiro cenário, Pax Consortis, os EUA manteriam uma posição de liderança global, mas 
agora compartilhada com o Japão e a União Europeia. Seria uma forma de se distribuírem os custos 
e as responsabilidades pela manutenção da estabilidade internacional. Nesse contexto, o papel do 
Japão seria o de intermediar as relações entre os EUA e a Rússia – potências nucleares – na busca 
de respostas não militares às questões globais. 
O quarto cenário apresentado foi o que Inoguchi (1988) denominou de Pax Nipponica, em 
que o Japão emergiria como o país hegemônico, reconstruindo uma ordem semelhante à da Pax 
Britânica promovida pela Inglaterra no século XIX, bem como à Pax Americana, liderada pelos 
EUA ao longo do século XX. Todavia esse autor ressalva que, pelo fato de o Japão não ser uma 
potência nuclear, seria necessário que os demais países abdicassem dos seus arsenais nucleares.Essa restrição é importante porque, com a derrota na II Guerra Mundial, a nova constituição 
promulgada pelo imperador Hirohito em 3 de novembro de 1946 trouxe no seu art. 9º restrições à 
atuação militar do Japão ao afirmar que “o povo japonês renuncia para sempre o uso da guerra 
como direito soberano da nação ou a ameaça e uso da força como meio de se resolver disputas 
internacionais” (CONSTITUIÇÃO DO JAPÃO, 1946). 
Esses cenários que projetavam uma ampliação da participação nipônica nas questões 
internacionais não eram somente de percepções japonesas, mas também de analistas ocidentais que 
apontavam que os EUA tinham vencido a disputa ideológica da Guerra Fria contra a ex-União 
Soviética, muito embora o vencedor da guerra econômica tenha sido o Japão (NESTER, 1993, p. 3). 
Essa percepção de que o Japão se beneficiou ao longo do período da Guerra Fria fez com que 
emergissem pressões internacionais para que o país ampliasse a sua atuação internacional, que chegou 
até a ter uma denominação, burden sharing, que pode ser traduzida como “divisão de encargos”. 
Essa cobrança ocorreu pelo fato de o Japão ser à época a segunda maior economia do mundo, 
porém sem ter uma participação política internacional que fosse percebida como equivalente à sua 
estatura econômica, passando, por essa razão, a ser denominado “gigante econômico e anão político”. 
Os dados da evolução do PIB do Japão no período pós II Guerra Mundial são indicadores 
do crescimento da importância japonesa em termos econômicos globais. Comparando-se os sete 
países mais ricos entre 1960 e 1990, nota-se que o PIB do Japão foi multiplicado em mais de 70 
vezes no período, possuindo de longe o maior crescimento desse grupo, que teve como segundo 
melhor desempenho a Itália, que ficou 29 vezes maior, seguido de perto pela França, com 20 vezes. 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
Tabela 2 – Evolução do PIB do G-7 (1960-1990) 
país 1960 1990 
variação 
(1990/1960) 
EUA 543,3 5.963,1 11,0 
Japão 44,3 3.132,8 70,7 
Alemanha* N/D 1.771,7 - 
França 62,2 1.269,2 20,4 
Itália 40,4 1.181,2 29,2 
Reino Unido 73,2 1.093,2 14,9 
Canadá 40,5 593,9 14,7 
* No caso da Alemanha, não há dados disponíveis nesse ano para serem comparados. 
Fonte: WORLD BANK. World Bank National accounts data and OECD national accounts data files. 
Disponível em: <https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=JP&name_desc=false>. 
Acesso em: 20 maio 2021. 
 
Associada à pujança econômica japonesa, havia também nesse período a avaliação de que o 
poder econômico se tornaria mais importante que o poderio militar para liderança internacional, 
isso aumentava a expectativa sobre uma ascensão global japonesa. O primeiro-ministro Noboru 
Takeshita, que exerceu mandato de 1987 a 1989, já afirmava nos seus discursos a disposição 
japonesa para a maior participação internacional, para reduzir as responsabilidades norte-
americanas, afirmando haver um acordo com o presidente George Bush, que, em contrapartida, 
reconheceria essa maior autonomia japonesa (EDSTRÖM, 1999, p. 139). 
O seu sucessor, Toshiki Kaifu (1989-1991) discursou na 121ª Sessão na Dieta japonesa sobre 
as suas respectivas políticas. As suas declarações apontam uma aspiração do governo de aumentar a 
sua participação internacional. 
 
Acredito que o povo japonês passou a aceitar a consciência comum de que 
o Japão precisa contribuir ativamente para a paz mundial, não apenas em 
termos financeiros e materiais, mas também em termos de pessoal. É claro 
que devemos defender firmemente nosso ideal de paz baseado na contrição 
de ações passadas, mas também devemos trabalhar para ver que esses ideais 
sejam traduzidos em realidade, promovendo ainda mais a cooperação 
humanitária internacional e tomando uma parte mais ativa e fazendo o que 
pudermos nos esforços internacionais para criar uma ordem que preserve 
a paz mundial (MOFA, 1991, tradução nossa). 
https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=JP&name_desc=false
 
 13 
 
Além dessa motivação externa, aponta-se que existe também uma lógica própria do Japão pela 
sua inserção internacional, que pode ser explicitada por uma busca de reconhecimento internacional. 
Conforme aponta o ex-diplomata Kazuo Ogura (2015, p. 48) na sua obra Japan’s Asian Diplomacy, 
identificou-se nos governantes japoneses a diplomacia do reconhecimento, que pode ser observada 
como característica de cada novo regime na história japonesa (OGURA, 2015, p. 49, tradução nossa). 
Esse objetivo, segundo o autor, não surgiu apenas no pós-Guerra Fria, mas é uma meta muito antiga, o 
que exemplifica com a iniciativa do príncipe Shotoku do Japão no ano 600, que enviou representantes 
à China, buscando o reconhecimento do imperador Sui. 
Fazendo uma pequena digressão e analisando o histórico das relações internacionais do Japão que 
se desenvolve a partir da segunda metade do século XIX, registra-se o restabelecimento do país às relações 
internacionais com a abertura dos portos japoneses por imposição dos EUA liderada pelas forças navais 
do comodoro Matthew C. Perry em 1853. Naquele momento, o governo percebeu a defasagem em que 
o país estava em termos tecnológicos, demonstrada pela incapacidade de resistir às ameaças dos canhões 
norte-americanos, já que o país ficou cerca de 250 anos sem armas de fogo. 
Essa situação de inferioridade em relação aos EUA se refletiu também nos acordos que se 
sucederam com outros países ocidentais, negociados a partir de 1858, conhecidos como “tratados 
desvantajosos”, foram estabelecidos também com “Holanda, Rússia, Reino Unido e França, que não 
consideravam o Japão como um país civilizado” (NINOMIYA, 1996, p. 247). 
Essa situação foi modificada após a Restauração Meiji, quando o governo passou a enviar missões 
ao exterior para buscar equalizar o Japão com as nações ocidentais, e a partir de então “o Japão 
gradualmente cresceu em importância entre a família das nações, uma vez que abandonou a política de 
reclusão e rapidamente passou a abraçar o caminho para a modernização rápida” (IOKIBE, 2008, p. v). 
Como consequência dessas ações, o Japão já no final do século XIX apareceu ao mundo como uma 
nova potência com as suas vitórias sobre a China (1895) e sobre a Rússia (1905), conforme apontam 
Teramoto e Minohara (2017). 
Retornando ao período do pós-Guerra Fria, percebe-se que a busca por reconhecimento e status 
internacional não é inédita na política externa japonesa. Aliás, o teórico das relações internacionais Hans 
Morgenthau (2003, p. 148) aponta que o reconhecimento, apesar de não ser um tema tão discutido, é 
um grande objetivo dos atores internacionais, e isso não é diferente para o Japão. Esse fato foi ratificado 
pelo primeiro-ministro Toshiki Kaifu em discurso de outubro de 1990 ao parlamento, ao apontar a 
segurança, a sobrevivência e o reconhecimento como os três objetivos nacionais do país, destacando-se 
este último item ao afirmar que o país deveria esforçar-se para alcançá-lo (EDSTRÖM, 1999, p. 143). 
A ajuda externa para o desenvolvimento (AOD) pode ser vista como um dos elementos da política 
externa japonesa que ilustra o destaque que o país vinha conquistando no final da década de 1980, 
especialmente, em termos de elevação do seu status e do seu reconhecimento internacional. Além disso, 
o próprio governo japonês ressaltava a sua importância: “a assistência oficial ao desenvolvimento é o 
instrumento mais importante da política externa do Japão, determinado a promover a paz e seu 
importante veículo de contribuição internacional” (MOFA, 1994). 
 
14 
 
 
Coincidentemente, em 1989, ano da queda do muro de Berlim, de acordo com as estatísticas da 
época, o Japão se tornaria o maior fornecedor de AOD no mundo. 
 
Mesmo na década de 1980, a AOD do Japão continuou a se expandir em 
paralelo com o forte desempenho econômico japonês. Em 1989, o Japão 
ultrapassou os Estados Unidos da América para se tornar o maior doador 
mundial, com a AOD líquida, atingindo US$ 8,97 bilhões (MOFA,2014, 
p. 3, tradução nossa). 
 
Gráfico 1 – Tendências dos maiores AOD de países membros do DAC 
(distribuição líquida – US$ milhões) 
 
(a) incluindo perdão de dívidas de reivindicações não APD, exceto para DAC total 
(p) dados preliminares 
Fonte: OECD. Net ODA from DAC countries from 1950 to 2020. 
Disponível em: <https://www.oecd.org/dac/financing-sustainable-development/development-finance-data/#>. 
Acesso em: 9 jun. 2021. 
 
Na década de 1990, o Japão, na situação de protagonista no fornecimento de AOD, “tornou-se 
o principal doador em termos de quantidade, e a sua AOD passou a assumir maior visibilidade em 
várias regiões do mundo” (MOFA, 2014, p. 4; ARAGUSUKU, 2011, p. 47). De acordo com o relatório 
Japan’s ODA Annual Report (Summary) de 1998, o país se manteve como o maior doador mundial de 
AOD por sete anos consecutivos. 
Como se pode observar, no período imediato ao final da Guerra Fria, o Japão apresentava 
potenciais para uma ampliação do seu papel internacional como segundo maior PIB, vontade política 
declarada por políticos japoneses, além de ter ascendido à posição de maior fornecedor de ajuda 
internacional. Aliado a esses fatores, o país ainda se destacava pelo volume de participação no comércio 
e nos investimentos internacionais e avanços tecnológicos. 
-
5 000
10 000
15 000
20 000
25 000
30 000
35 000
40 000
19
80
19
82
19
84
19
86
19
88
19
90
(a
)
19
92
(a
)
19
94
19
96
19
98
20
00
20
02
20
04
20
06
20
08
20
10
20
12
20
14
20
16
20
18
20
20
 (p
)
Estados Unidos Alemanha
Reino Unido França
Japão
Japão se torna maior 
provedor de ODA. 
https://www.oecd.org/dac/financing-sustainable-development/development-finance-data/%23
 
 15 
 
No caso do comércio internacional, nota-se no gráfico a seguir que o superávit a favor do 
Japão apresenta uma tendência de crescimento a partir de meados da década de 1970. Houve uma 
queda nos anos de 1979 e 1980, impactados pelo “choque do petróleo”, mas a década de 1980 foi 
de superávits, assim como a Alemanha, fato que vai dar subsídios aos cenários propostos por 
Inoguchi (1988). 
 
Gráfico 2 – Evolução dos saldos das balanças comerciais do G-7 (1960-1990) 
 
Fonte: WTO. Data. Disponível em: <https://data.wto.org>. Acesso em: 2 maio 2021. 
 
Apesar desses destaques durante a década de 1990, as expectativas geradas após o final da 
Guerra Fria de ampliação do papel do Japão não ocorreram. Analisando retrospectivamente, nota-
se uma prevalência do primeiro cenário, isto é, “na década de 90, os EUA surgiram como a única 
superpotência capaz de atuar, simultaneamente, no campo estratégico-militar, no campo 
econômico e no campo dos valores” (LAFER, 2018, p. 903). 
Esse quadro persistiu nessas duas primeiras décadas do século XXI. Apesar da percepção de, 
no período imediato ao pós-Guerra Fria, haver uma convergência de interesses norte-americanos 
em reduzir os seus custos para a manutenção da estabilidade global aliada às manifestações do 
interesse japonês em ampliar o seu papel internacional, foram frustradas as expectativas de liderança 
internacional japonesa apontadas nos cenários do professor Inoguchi (1988). Além disso, o país 
experimenta um longo período de baixo crescimento e redução relativa do seu peso internacional, 
repercutindo as dificuldades econômicas a partir do início da década de 1990, com o estouro da 
bolha econômica, conforme será abordado na próxima unidade. 
 
-200
-150
-100
-50
0
50
100
19
60
19
65
19
70
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
U
S$
 B
ilh
õe
s
Canadá França Alemanha Itália
Japão Reino Unido Estados Unidos
https://data.wto.org/
 
16 
 
 
Economia japonesa: projeção e barreira ao 
status internacional 
O breve histórico apresentado na unidade anterior revela um fator que pode ser indicado 
como relevante para as expectativas de ampliação da liderança internacional japonesa, isto é, o 
crescimento econômico obtido após o término da II Guerra Mundial. No gráfico 3, a seguir, pode-
se observar que entre 1961 a 1969 o PIB japonês cresceu ao ritmo acima de 10% ao ano e, nas 
décadas seguintes, de 1971 a 1990, apesar de haver uma redução no ritmo de crescimento do PIB, 
a taxa média ficou acima dos 4,4%. Esses resultados, somados ao da balança comercial apresentados 
acima no Gráfico 2, contribuíram para alavancar a posição internacional do Japão. 
 
Gráfico 3 – Taxas de variação (%) do PIB do Japão (1961-2019) 
 
Fonte: WORLD BANK. World development indicators: GDP growth (annual %). Disponível em: 
<https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators>. Acesso em: 25 maio 2021. 
 
O país saiu da II Guerra em ruínas, as suas indústrias destruídas, mas, segundo aponta Ernani 
Torres (1999, p. 234), “os japoneses se aproveitaram habilmente das oportunidades que lhes 
surgiram, enquanto transitavam da situação de inimigos derrotados (1945) para a de segunda 
potência industrial do mundo capitalista (1968)”. Os resultados da balança comercial apresentados 
na unidade anterior, analisando a alta taxa de crescimento do PIB, fizeram com que houvesse um 
fortalecimento também das empresas japonesas, que passaram a buscar novas oportunidades de 
negócios no exterior, e, consequentemente, houvesse uma ampliação dos investimentos japoneses 
no exterior. 
 
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
19
61
19
63
19
65
19
67
19
69
19
71
19
73
19
75
19
77
19
79
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
91
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
20
11
20
13
20
15
20
17
20
19
https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators
 
 17 
 
Com isso a pujança da economia japonesa passou a ser refletida e percebida também pelos 
investimentos diretos estrangeiros (IDE) japoneses no mundo. É facilmente observável pelo gráfico 4 
que, ao longo da década de 1970, os valores são crescentes, e, nos anos 1980, o país passou a ser o 
segundo maior, atrás apenas dos EUA, chegando a ocupar a primeira posição nos anos de 1985 e 1988. 
 
Entre abril de 1986 e março de 1991, o total de investimentos externos 
japoneses somou US$ 227,2 bilhões e o Japão se tornou a maior nação 
credora mundial. Foram criadas indústrias japonesas na América do Norte, 
Europa e outras partes da Ásia. Os japoneses adquiriram propriedades 
estrangeiras, companhias, participações e títulos governamentais, 
particularmente do governo dos EUA, o qual tinha um crônico déficit no 
orçamento e estava sendo financiado por recursos japoneses (SMITH, 1995, 
p. 139). 
 
Gráfico 4 – Evolução do investimento direto estrangeiros dos oito principais países de origem 
em 1990 (US$ bilhões) 
 
Fonte: WORLD BANK. World development indicators. Atualizado em: 25 maio 2021. Disponível em: 
<https://data.worldbank.org/indicator/BM.KLT.DINV.CD.WD>. Acesso em: 20 jun. 2021. 
 
Essa performance dos IDE se refletiu na presença internacional. De acordo com o levantamento 
feito pela Fortune Global 500, entre as 500 maiores empresas do mundo em 1995, 149 companhias 
eram multinacionais japonesas (HONG et al., 2017, p. 52). Além disso, analisando os registros de 1995, 
entre as 10 maiores companhias do mundo, seis eram de nacionalidade japonesa, evidenciando o 
aproveitamento dos benefícios proporcionados ao Japão após o final pós II Guerra Mundial, não só 
para o crescimento da economia doméstica, mas também para a realização de negócios no exterior pelas 
empresas. Esses fatos serviram de argumentos aos que demandavam maior participação do Japão nas 
questões internacionais. 
17,30
58,77
19,09
4,00
12,78
5,79
5,75
31,27
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
1970 1975 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992
Japão Estados Unidos
Alemanha China
Países Baixos Canadá
Suiça França
https://data.worldbank.org/indicator/BM.KLT.DINV.CD.WD
 
18 
 
 
Quadro 1 – Perda de posição das multinacionais japonesas 
1995 2000 2005 20102015 2020 
Mitsubishi 
Corporation 
General Motors 
Corporation 
Wal-Mart Stores, 
Inc. 
Wal-Mart Stores, 
Inc. 
Walmart Walmart 
Mitsui & Co., 
Ltd. 
Wal-Mart Stores, 
Inc. 
BP p.l.c. 
Royal Dutch Shell 
p.l.c. 
Sinopec 
Group 
Sinopec Group 
Itochu 
Corporation 
Exxon Mobil 
Corporation 
Exxon Mobil 
Corporation 
Exxon Mobil 
Corporation 
Royal Dutch 
Shell 
State Grid 
Sumitomo 
Corporation 
Ford Motor 
Company 
Royal 
Dutch/Shell 
Group 
BP p.l.c. 
China 
National 
Petroleum 
China National 
Petroleum 
General Motors 
Corporation 
DaimlerChrysler 
A.G. 
General Motors 
Corporation 
Toyota Motor 
Corporation 
Exxon Mobil 
Royal Dutch 
Shell 
Marubeni 
Corporation 
Mitsui & Co., Ltd. 
DaimlerChrysler 
AG 
Japan Post 
Holdings Co., Ltd. 
BP Saudi Aramco 
Ford Motor 
Company 
Mitsubishi 
Corporation 
Toyota Motor 
Corporation 
China 
Petrochemical 
Corp. 
State Grid Volkswagen 
Exxon 
Corporation 
Toyota Motor 
Corporation 
Ford Motor 
Company 
State Grid 
Corporation of 
China 
Volkswagen BP 
Nissho Iwai 
Corporation 
General Electric 
Company 
General Electric 
Company 
AXA Toyota Motor Amazon 
Royal 
Dutch/Shell 
Group 
Itochu 
Corporation 
Total S.A. 
China National 
Petroleum 
Corporation 
Glencore Toyota Motor 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Fortune Ranking. Global 500. Fortune Media. Vários anos. Disponível em: 
<https://fortune.com/global500>. Acesso em: 11 jun. 2021. 
 
Contudo também fica evidente que ao longo do tempo há uma perda das primeiras posições 
pelas multinacionais japonesas. Analisando os 10 primeiros colocados, nota-se que em 2000 quatro 
posições eram de empresas japonesas, depois é reduzido para uma em 2005, aumenta para duas em 
2010 e cai novamente para apenas uma em 2015 e 2020. 
https://fortune.com/global500
 
 19 
 
O estudo de Paul C. Hong et al. (2017, p. 52) destaca ainda que não foi somente entre as 10 
primeiras colocações que houve uma diminuição da presença japonesa, mas também entre o 
conjunto das 500 maiores do Fortune Ranking. Em adição aos dados, acrescentam-se mais duas 
colunas evidenciando que há uma tendência à diminuição de presença japonesa entre as 500 
maiores até o ano de 2020, estabilizando-se um pouco acima das 50 empresas. 
 
Tabela 3 – Número de empresa japoneses entre as 500 maiores do Fortune Ranking 
ano 1995 2000 2005 2012 2013 2014 2015* 2020* 
número de empresas 149 107 81 68 62 57 53 53 
* Anos de 2015 e 2020, extraídos do Fortune Ranking. Global 500. Fortune Media. Vários anos. 
Disponível em: <https://fortune.com/global500>. Acesso em: 11 jun. 2021. 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em HONG et al. (2017, p. 52). 
 
Os dados evidenciam que, até os primeiros anos da década de 1990, havia fundamentos 
econômicos como o crescimento do PIB, o comércio internacional, o IDE e a AOD, além da 
presença de empresas do Japão no mundo que subsidiaram a projeção internacional desse país. 
Paralelamente à internacionalização de produtos, houve também um crescimento global de 
admiração pela cultura, pela tecnologia e pelas formas de administração japonesa. Desse modo, 
juntamente com o ganho do mercado mundial e a popularização de marcas como Sony, Casio, 
Toyota, houve um aumento do apreço à qualidade e à inovação tecnológica, técnicas de gestão da 
administração japonesa como just-in-time e kanban que passaram a ser um modelo a seguir, 
conforme aponta Celso Lafer (2018, p. 895): 
 
O Japão, por sua vez, oferece dupla contribuição para o enriquecimento 
das práticas capitalistas. Em primeiro lugar, inovou os modelos de gestão 
e funcionamento dos processos produtivos. Substituiu o “fordismo” por 
um novo conceito de produção integrada, com ênfase na inovação 
tecnológica e na redução de custos. Em segundo lugar, tanto em nível 
empresarial quanto de política governamental, o Japão incorporou a noção 
de planejamento estratégico, que redimensionou sobretudo as atividades 
de planejamento industrial, desenvolvidas de comum acordo entre o setor 
público e o setor privado e, sempre, com ganhos significativos em termos 
de competitividade. A ideia do planejamento industrial, com 
aplicabilidade dentro de programas de médio e longo prazos, reforça 
consideravelmente vantagens comparativas da economia japonesa em nível 
internacional e a distingue em muitos aspectos do modelo 
norte-americano. 
https://fortune.com/global500
 
20 
 
 
Por extensão, houve uma grande expansão do interesse por elementos da cultura japonesa. 
Esse encantamento do mundo pelo Japão foi apresentado pelo professor Joseph Nye, como poder 
brando ou soft power, termo em inglês bastante difundido no ambiente das relações internacionais. 
Entretanto, apesar de todos esses fatores positivos presentes no Japão até o imediato pós-
Guerra Fria que lhe concediam potencial para a ocupação de um papel de liderança global, esse fato 
não se concretizou como esperado. O que levou à frustração dessa expectativa? 
Um dos fatores apontados, que tiveram uma grande contribuição para esses resultados, foi o 
estouro da bolha econômica em 1991, resultado, entre outros fatores, do período de constante 
crescimento econômico que durou de novembro de 1986 a fevereiro de 1991, totalizando 51 meses. 
Após esse período, houve piora dos resultados econômicos e, os indicadores ao longo da década de 
1990 passaram a apresentar uma tendência de enfraquecimento, conforme pode ser observado, por 
exemplo, no Gráfico 3, que mostra a taxa de variação do PIB. 
Contudo os impactos não se resumiram a uma perda de dinamismo no crescimento 
econômico, já que o estouro da bolha gerou impactos duradouros envolvendo deflação e perda de 
riqueza, pois houve uma forte queda no valor de ativos imobiliários e nas ações da bolsa de Tóquio, 
que ao se desvalorizarem afetaram tanto as empresas como também os consumidores japoneses que 
tinham realizado investimentos nesses mercados. A economia, além de crescer menos, entrou em 
estagnação, chegando a contrair nos anos de 1993, 1998 e 1999 (ver Gráfico 3). 
Nas relações internacionais, não é raro observar que o enfraquecimento de fatores econômicos 
afeta a atuação e a política externa dos países, mas no caso do Japão se destaca maior dependência 
desse fator, porque, desde o final da II Guerra Mundial, o país optou por restringir muito da sua 
participação internacional por meio de uma atuação econômica. Essa escolha foi fundamentada pela 
restrição ao uso de recursos militares à sua atuação internacional imposta pela Constituição do Japão. 
Autores como Donald K. Emmerson (1998) e Kim Sung-Han (1999) vão apontar ainda que, 
além do enfraquecimento das suas ferramentas de atuação externa, viram-se também três outras 
implicações desses problemas econômicos: 
i. O governo de Tóquio perdeu a autoconfiança para o exercício de um papel internacional 
mais amplo e afirmativo, revertendo a sinalização de disposição para uma maior atuação 
global manifestada, inclusive, pelas falas dos seus primeiros-ministros. 
ii. A crise econômica se tornou o foco da atenção do governo, que passou a concentrar os 
seus esforços para resolver os problemas econômicos internos. 
iii. Houve um enfraquecimento do status internacional do Japão, pois, se o crescimento e a 
pujança econômica fortaleciam a imagem global japonesa, a crise afetou negativamente a 
percepção do seu potencial de liderança. 
 
Yasuhiro Nakasone (2001) ratifica que o estouro da bolha econômica no Japão produziu 
impactos nas áreas econômica, política e social. Algumas das repercussões da perda de dinamismo 
econômico já foram apontadas, sendo possível exemplificar ainda mais com o impacto no volume 
 
 21 
 
de ajuda externa oferecida pelo Japão. O país chegou à liderança internacional como maior 
fornecedor desse tipo de ajuda pela primeira vez em 1989 e manteve essa posição em boa parte da 
década de 1990 até 2000. Entretanto, a partir de 2000, os EUA retomam a liderança e a mantêm 
desde então. O Japão, por sua vez, mantevea segunda posição até 2005, depois passou a ocupar a 
quinta posição na maior parte dos anos. 
Já no campo da política, um impacto importante influenciado pela queda do dinamismo 
econômico foi a instabilidade que se instaurou no país, refletindo em constantes trocas de primeiros-
ministros que exerceram curtos mandatos a partir da década de 1990, com exceção dos primeiros-
ministros Junichiro Koizumi e Shinzo Abe, tema que será abordado no próximo módulo. 
A terceira área impactada pelos problemas econômicos ressaltados por Nakasone (2001) foi 
na área social, que se expressa pelo aumento dos problemas entre a população, como aumento da 
desigualdade social, criminalidade e prostituição juvenil. 
Em síntese, a economia japonesa influenciou e impulsionou a criação de cenários para um 
Japão como ator político internacional forte no pós-Guerra Fria. Contudo a percepção de relativo 
enfraquecimento da economia resultou em uma barreira a esse cenário, pois houve uma clara falta 
de disposição do governo de Tóquio, após o estouro da bolha econômica, em focar um aumento 
da capacidade de projeção internacional. 
 
Fragilidades impostas pela instabilidade 
política 
Analisando os mandatos dos primeiros-ministros do Japão a partir do final da Guerra Fria 
em 1989, observa-se que, ao longo dos anos 1990 até 2001, quando Junichiro Koizumi foi eleito 
primeiro-ministro do Japão, o país passou por um período de instabilidade política. Foram oito 
políticos com mandatos que duraram em média, menos de dois anos, as exceções foram Toshiki 
Kaifu (1989-1991) e Ryutaro Hashimoto (1996-1998), que também estiveram pouco mais de dois 
anos no cargo. 
 
 
 
22 
 
 
Tabela 4 – Duração de mandatos dos primeiros-ministros do Japão (1989-2001) 
primeiro-ministro início término total de dias 
Toshiki Kaifu (PLD) 10/08/1989 28/02/1990 203 
Toshiki Kaifu (PLD) 28/02/1990 05/11/1991 616 
Kiichi Miyazawa (PLD) 05/11/1991 09/08/1993 644 
Morihiro Hosokawa (Partido do Novo 
Japão) 
09/08/1993 28/04/1994 263 
Tsutomu Hata (Partido da Renovação) 28/04/1994 30/06/1994 64 
Tomiichi Murayama (Socialista) 30/06/1994 11/01/1996 561 
Ryutaro Hashimoto (PLD) 11/01/1996 07/11/1996 302 
Ryutaro Hashimoto (PLD) 07/11/1996 30/07/1998 631 
Keizo Obuchi (PLD) 30/07/1998 05/04/2000 616 
Yoshiro Mori (PLD) 05/04/2000 04/07/2000 91 
Yoshiro Mori (PLD) 04/07/2000 26/04/2001 297 
Fonte: PRIME MINISTER OF JAPAN AND HIS CABINET. Prime minister in history. 
Disponível em: <https://japan.kantei.go.jp/cabinet/0061-pre_e.html>. Acesso em: 21 jun. 2021. 
 
Considerando-se que a eleição para o cargo de primeiro-ministro no Japão é, oficialmente, 
para uma permanência de quatro anos, sendo possível ser reeleito, esses curtos mandatos têm como 
uma das causas, segundo Tomohito Shinoda (2000, p. 14) a disputa interna entre as facções do 
Partido Liberal Democrático (PLD), que vinha governando o país desde a década de 1955, graças 
à coalizão entre o Partidos Liberal e o Partido Democrático. 
Além das disputas intrapartidárias nos anos iniciais da década de 1990, também havia a 
insatisfação com as consequências do estouro da bolha de especulação financeira que impôs 
dificuldades à economia japonesa, bem como havia acusações de corrupção contra o governo do 
PLD. O partido, ao se manter durante décadas no poder, estabeleceu um sistema de relações do 
governo com os membros dos conglomerados econômicos – conhecidos como keiretsu – como 
bancos, empresas e as suas subcontratadas. Essas relações estavam sofrendo múltiplas acusações de 
corrupção, que depois se tornaram escândalos e afetaram de maneira significativa a classe política e 
as instituições. Essas denúncias de corrupção envolvendo pessoas do governo e do setor privado, 
https://japan.kantei.go.jp/cabinet/0061-pre_e.html
 
 23 
 
apesar de não serem exatamente uma novidade, trouxeram turbulências ao cenário político japonês, 
pois quase todos os políticos bem-sucedidos do PLD, incluindo o ex-primeiro-ministro Hosokawa, 
que saiu do partido para formar um novo em 1992, sofreram acusações de corrupção. 
Portanto, no final da década de 1980 e nos primeiros anos da década de 1990, o Japão passou 
por um período em que o PLD apresentou uma crise de liderança, conforme apontado por Ellis S. 
Krauss e Robert J. Pekkanen (2011), depois da saída de Nakasone, já que o LDP voltou a um padrão 
de tomada de decisão descentralizada e de relativa fraqueza na liderança. Já em 1989, aparecem os 
sinais de enfraquecimento do PLD, quando o partido perdeu a maioria na Câmara Alta. 
Em 1991, o fato de o Japão não ter conseguido atender às demandas feitas para participação 
no enfrentamento dos problemas da Guerra do Golfo, causada pela invasão do Kuwait pelo Iraque, 
também produziu questionamentos ao governo do PLD, aprofundando o abalo da sua imagem, 
que já estava deteriorada com a crise econômica de 1991 causada pela explosão da bolha, 
comprometendo ainda mais a liderança desse partido. Esse ambiente de escândalos e divergências 
entre as facções no PLD levou a defecções de políticos como Morihiro Hosokawa em 1992, que 
formou o partido do Novo Japão; e de Ichiro Ozawa e Tsutomo Hata em 1993, que fundaram o 
Partido da Renovação do Japão. 
Em 18 de junho de 1993, o então primeiro-ministro Kiichi Miyazawa do PLD sofreu um 
voto de desconfiança, e houve a eleição de Hosokawa para primeiro-ministro, rompendo as décadas 
de dominação do PDL. Entretanto, apesar de ser apontado como uma vitória da oposição, tanto 
Morihiro Hosokawa como Tsutomo Hata, que sucederam Miyazawa, foram dissidentes do PLD 
pouco antes de chegarem ao posto de primeiro-ministro. 
Se já havia dificuldade do governo japonês liderado pelo PLD para responder às demandas 
internacionais do pós-Guerra Fria, conforme declaravam os primeiros-ministros Takeshita e Kaifu, 
a saída desse partido do governo e os curtos mandatos dos governos de oposição também 
contribuíram para obstaculizar um maior compromisso e uma expansão da atuação internacional 
do Japão. Como se pode observar na Tabela 4, depois da saída de Toshiki Kaifu, o primeiro-
ministro Miyazawa ficou menos de dois anos; o sucessor, Morihiro Hosokawa (Partido do Novo 
Japão) permaneceu menos de um ano; o mandato de Tsutomu Hata (Partido da Renovação) foi de 
apenas 64 dias e na sequência Tomiichi Murayama (Socialista) ficou cerca de um ano e meio. 
Portanto, apesar das expectativas de grandes mudanças nas políticas, a saída do PLD do 
governo fez com que surgissem incertezas sobre o futuro do Japão e dificultasse as projeções do final 
da década de 1980, isto é, de que o país pudesse ameaçar a posição de liderança norte-americana, 
uma vez que ficaram enfraquecidas, porque os governos de oposição que assumiram após Miyazawa 
não tinham uma estrutura partidária que permitisse realizar uma gestão administrativa e diálogos 
do governo com a burocracia de maneira eficiente. Isso dificultou não só as gestões das políticas 
domésticas, mas também a elaboração de uma política externa que contribuísse para ampliar o status 
internacional do Japão. 
 
24 
 
 
Com isso, fazendo-se uma análise retrospectiva, observa-se que a realidade das relações 
internacionais ficou marcada até o final da década de 1990 por uma tendência de continuidade na 
liderança global dos EUA e o Japão mantendo o papel de parceiro dos norte-americanos. Essa atuação 
já era sinalizada no início dos anos 1990, pelo professor Yoichi Funabashi (1991-1992), ao sugerir 
que o Japão desempenharia a função de auxiliador das políticas dos EUA como um “parceiro júnior” 
– em inglês, junior partner – ou um “assistente da liderança” – em inglês, supportive leadership. 
Reinhard Drifte (1990, p. 109) é outro autor que projetou um cenário semelhante, e 
apontando duas razões básica para isso: 
i. Faltava ao Japão elementos necessários para o status de um líder mundial no sentido 
tradicional, como: grande população; território amplo e uma economia de maior porte. 
ii. Faltava vontade políticacom apoio suficiente de forças internas, capazes de sustentar uma 
atuação internacional ampla. 
 
Essas avaliações se diferem das apresentadas por Takashi Inoguchi (1988), que sinalizava para 
uma liderança de maior projeção e proativa. Ainda no início dos anos 1990, Shiro Saitô (1990) 
também ressaltava que era necessário se fazer uma distinção entre uma “liderança de iniciativa” (termo 
em inglês, leadership initiative) e uma “liderança pelo exemplo” (termo em inglês, leadership example). 
Para o Japão o que foi projetado ao final dos anos 1980 era de uma “liderança pelo exemplo”, construída 
pelo modelo de nação pacifista, de um invejável sucesso no crescimento econômico associado à abertura 
de mercado, e pela sua cooperação internacional realizada pela AOD. 
Esse perfil de liderança aproxima-se do uso do poder brando, pois exige habilidade para influenciar 
outros com seus valores, diferentemente da liderança norte-americana, que se caracteriza por ser proativa, 
na medida em que possui capacidade de fazer outros se submeterem a sua liderança, inclusive por meio de 
imposição por força (SAITÔ, 1990, p. 186). Com os problemas na economia a capacidade de uso da 
“liderança pelo exemplo” se enfraqueceu, mas, além disso, acrescenta Tanaka Akihiko (1999), mesmo o 
poder econômico e militar sem uma firme vontade política não conduz à liderança, e o que se percebeu, 
como apontou Drifte (1990) também a disposição política do Japão foi afetada. 
Portanto, o Japão ingressa no século XX com uma situação internacional mais fragilizada, 
pois a economia não poderia ser mais o fundamento da sua liderança global, uma vez que, depois 
de uma década de baixo desempenho econômico, mesmo se mantendo como a segunda maior 
economia do mundo, a posição do Japão como modelo econômico passou a ser questionada. 
Nesta unidade, destaca-se que a situação política também não foi favorável devido à constante 
troca de liderança. O primeiro-ministro com maior mandato na década de 1990 Ryutaro 
Hashimoto, que permaneceu cerca de dois anos e meio – de 11 de janeiro de 1996 a 20 de julho 
de 1998 –, mas os seus sucessores novamente tiveram mandatos curtos, tanto Keizo Obuchi como 
Yoshiro Mori tiveram mandatos de menos de dois anos. 
 
 
 25 
 
Diante desse cenário, abre-se uma nova discussão de inserção internacional japonesa, pois o 
país surgiu como superpotência econômica nos anos 1980. Nos anos 1990 o seu desempenho nessa 
área perdeu o brilho, mas, conforme aponta Lais Belini (2019, p. 23), “essa recessão faz com que se 
crie um motor que estimula o mercado de entretenimento popular, isto é, o da cultura pop japonesa, 
consolidando o país com uma superpotência cultural com influência global”, tema que será tratado 
no próximo módulo. 
 
Desafios do envelhecimento da sociedade 
Quando se discute a inserção internacional de um país, há vários elementos que podem ser 
listados para uma liderança mundial, conforme citado acima Reinhard Drifte (1990, p. 109), como: 
grande população, território amplo, economia de maior porte e vontade política. 
Nesta unidade, o tópico que será tratado está relacionado à evolução demográfica japonesa a 
partir do final da Guerra Fria. A população do Japão atingiu o seu ápice em 2008 com 128,08 
milhões de habitantes, mas desde então vem apresentando uma tendência de diminuição. Essa 
redução reflete a queda no número de nascimentos no país ao longo das últimas décadas, ficando a 
partir de 2006 inferior ao número de mortes. 
 
Gráfico 5 – Histórico de nascimentos, mortes e população total do Japão (1988-2020) 
 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Time series tables: 1 total population (both sexes), 3 live births and 4 deaths. 
Disponível em: <https://dashboard.e-stat.go.jp/en/timeSeries?fieldCode=02>. Acesso em: 20 maio 2021. 
120,0
121,0
122,0
123,0
124,0
125,0
126,0
127,0
128,0
129,0
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
19
88
19
90
19
92
19
94
19
96
19
98
20
00
20
02
20
04
20
06
20
08
20
10
20
12
20
14
20
16
20
18
20
20
MilhõesMilhões
Total Mortes Nascimentos
https://dashboard.e-stat.go.jp/en/timeSeries?fieldCode=02
 
26 
 
 
Apesar da diminuição de a população estar ocorrendo a partir da primeira década do século 
XXI, a discussão sobre o perfil da sociedade japonesa vem-se aprofundando pelo menos desde o 
começo da década de 1980, quando a preocupação com o envelhecimento da sociedade passou a ser 
vista como um problema para o país. Em 1989, ano da queda do muro de Berlim, a quantidade de 
idosos de 65 anos ou mais representava 11,6% da população japonesa (COULMAS, 2007, p. 4). 
De acordo com Beatriz Kaori Lopes (2020), em 1985 o Japão se tornou o proporcionalmente 
a nação mais velha no mundo e, em 2020, a parcela dessas pessoas com mais de 65 anos representava 
28,5% do total da população japonesa, atingindo o número de 35,58 milhões pessoas, sendo que 
“50% têm de 65 a 74 anos (idosos-jovens), 34% possuem 75 a 84 anos (idosos-velhos) e 16% 
possuem 85 anos ou mais (idosos-mais-velhos)” (LOPES, 2020, p. 37). 
Um dado positivo retirado dessas referências acima é que há alta expectativa de vida no país, 
“no Japão a média é de 84 anos, uma das mais altas da OCDE, quatro anos mais alta que a média 
da OCDE, que é de 80 anos. E a expectativa de vida das mulheres é de 87 anos, comparada a 81 
anos para os homens” (OECD, [2020?]). Além disso, a melhoria das condições de vida e saúde 
fizeram com que o país possuísse o maior percentual de idosos mundialmente e ocupasse o topo do 
ranking de centenários, 0,048% da população total (LOPES, 2020, p. 60). 
Com tudo isso, o Japão passou a ser classificado como uma sociedade superenvelhecida, de 
acordo com os critérios apresentados por Florian Coulmas (2007, p. 5, tradução nossa): 
 
i. Sociedade em envelhecimento – 7-14% da população têm 65 anos 
ou mais. 
ii. Sociedade idosa – 14-21% da população têm 65 anos ou mais. 
iii. Sociedade superenvelhecida – 21% ou mais da população têm 65 anos 
ou mais. 
 
Bem, mas qual a relação desses dados demográficos com a inserção internacional do Japão? 
Um primeiro ponto a ser considerado é o impacto econômico que essas transformações na sociedade 
japonesa têm provocado, na composição do PIB japonês. 
Com a diminuição da população ao longo do tempo, o potencial de crescimento da economia 
japonesa baseada nesse fator também sofre redução. No Gráfico 6, pode-se observar que, desde o 
final dos anos 1980, o crescimento das despesas de consumo final no Japão tem apresentado um 
ritmo decrescente. Esse fato é relevante à medida que o mercado interno do Japão tem representado, 
desde 2008, segundo os dados do Banco Mundial, mais de 75% do seu PIB. 
 
 
 
 
 
 27 
 
Gráfico 6 – Variação (%) anual das despesas de consumo final no Japão 
 
Fonte: WORD BANK. Final consumption expenditure (annual % growth). Japan: Data. Disponível em: 
<https://data.worldbank.org/indicator/NE.CON.TOTL.KD.ZG?end=2018&locations=JP&name_desc=false&start=1988>. 
Acesso em: 19 jun. 2021. 
 
Outra consequência importante que tem sido observado no país com a diminuição da 
população e o seu envelhecimento é a diminuição da força de trabalho, o que gera um duplo efeito 
negativo sobre a economia, pois o envelhecimento implica menor mercado interno, maiores gastos 
com pensões, diminuição das receitas fiscais e consequentemente menos recursos para 
investimentos governamentais, o que pode conduzir à contração do PIB e, por conseguinte, a um 
papel cada vez menor do Japão no mundo. 
Ainda não é possível afirmar taxativamente qual será o resultado dessas transformações. No 
momento, acompanhando-se o histórico do mercado de trabalho no Japão, pelo menos desde o 
final da década de 1980, nota-se que tem havido a necessidade de importações de mão de obra, e 
essa situação tem-se mantido presente nas primeiras duas décadas do século XX. 
Até o momento, não parece estar em curso uma solução fácil para esse problema, dado que a 
população estádiminuindo, e a taxa de natalidade no país, como já demonstrado no Gráfico 5, está 
em decadência. Dois recursos têm sido utilizados para atender à escassez de trabalhadores japoneses: 
a primeira é a importação de mão de obra, a segunda é a busca pela automatização e robotização de 
algumas atividades. 
Em relação à importação de mão de obra, pode-se salientar que essa necessidade teve reflexos 
inclusive sobre as relações com o Brasil, pois, a partir de meados da década de 1980, começaram 
fluxos de emigração brasileira ao Japão. Mas, contemporaneamente, esse tem sido um tópico 
importante e não fácil de ser tratado pelo governo, pois se de um lado há clara percepção da 
importância de trabalhadores estrangeiros para atender ao mercado de trabalho no país, de outro 
há uma forte resistência política contra a abertura do país à imigração. 
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
https://data.worldbank.org/indicator/NE.CON.TOTL.KD.ZG?end=2018&locations=JP&name_desc=false&start=1988
 
28 
 
 
Apesar das resistências, tem havido mudanças na legislação para a entrada de estrangeiros. 
Para o Brasil, a mais marcante foi a alteração ocorrida em 1989: 
 
A grande mudança ocorreu em junho de 1989, com a reforma da Lei de 
Controle da Imigração e do Reconhecimento de Refugiados (doravante 
denominada simplesmente como Lei de Imigração) que entrou em vigor 
no ano seguinte. Criou-se um novo status para os estrangeiros com 
ascendência japonesa, denominado “Residente por Longo Período”, o que 
possibilitou a ida em massa para o Japão de filhos e netos de japoneses, 
bem como de seus cônjuges brasileiros não descendentes (NINOMIYA, 
2008, p. 27). 
 
Em decorrência dessa mudança, ocorreu um grande fluxo de imigrantes brasileiros ao Japão. 
Outra alteração importante foi a implementação do “Programa de Treinamento de Estágio 
Técnico” em 1993, que sob a justificativa de contribuir para a formação de profissionais dos países 
em desenvolvimento, em particular os do Sudeste Asiático, permitiu-se que imigrantes temporários 
viajassem ao Japão para trabalhar. Na prática, essa política autorizou que pequenas e médias 
empresas conseguissem trabalhadores a baixo custo (KINGSTON, 2014, p. 196). 
A partir de 1º de abril de 2019, uma nova legislação passou a permitir a extensão por cinco 
anos da permanência no país, mas sem a companhia dos seus familiares, para trabalhar depois de 
cumpridos os cinco anos de estágio (OBE, 2019; TOSHIHIRO, 2019). Esses casos são classificados 
com o status de Trabalhador Especializado Especificado Categoria I, definido para 14 setores pré-
estabelecidos, incluindo agricultura, assistência aos idosos e construção, que costumavam ser 
considerados “não qualificados” e “semiqualificados” em esquemas de migração anteriores. 
Também ficou definida uma possibilidade de mudar para a Categoria II, que daria direito à 
imigração permanente, sendo para isso necessária maior qualificação profissional. 
Há ainda algumas análises que buscam dar uma visão mais otimista dos impactos que podem 
resultar dessa transformação da sociedade japonesa, afirmando que a geração dos babies boomers que 
estão para se aposentar possuem uma situação econômica que permitirá, com os gastos do dinheiro 
das suas aposentadorias, contribuir para uma revitalização da economia do Japão. Isso ocorreu 
porque, com esses recursos, há a demanda para um novo estilo de vida, elevando o consumo 
doméstico a novos patamares, impulsionando o surgimento de novas indústrias e resultando em 
novo crescimento econômico e tecnológico. 
 
 
 
 
 
 29 
 
O Japão de fato tem investido no desenvolvimento de novas tecnologias que deem suporte às 
lacunas de trabalhadores e as complementem. Um exemplo que chamou atenção inicialmente foi o 
de recepcionistas robôs da rede Henn de hotéis,1 que no final de 2017 começou a instalação desse 
serviço. Entretanto a relação do Japão com os robôs começou no final dos anos 1960, envolvendo 
aplicações práticas na indústria japonesa já da década de 1970. 
Já a partir de 1980, há o início da implementação dos robôs de alta tecnologia e a expansão 
do mercado, que sofreu com a crise da década de 1990. Mas o século XXI tem sido marcado pela 
recuperação gradativamente desse setor, internamente pelos motivos já mencionados, mas também 
internacionalmente. Já no final de 2004, o Japão possuía 356.500 robôs industriais. Dessa forma, 
o país passou a ser o maior possuidor de robôs em operação, seguido dos EUA com apenas 122.000 
(JETRO, 2006). 
O setor continua crescendo agora com os robôs para cuidados de pessoas, em particular dos 
idosos. “Em 2015, o mercado de carebots quantificou em 16,7 bilhões de ienes (US$ 155 milhões), 
com expectativa de chegar a 400 bilhões de ienes (US$ 3,72 bilhões) até 2035 e em eventualmente 
1 bilhão em algumas décadas” (LOPES, 2020, p. 123). 
Atualmente, o governo do Japão tem desenvolvido a política da Sociedade 5.0, e entre os 
projetos apresentados há o tratamento cibernético, que é a incorporação de robôs que atendam aos 
comandos do cérebro, o que permitirá pessoas deficientes recuperarem movimentos 
(GOVERNMENT OF JAPAN, 2020). 
Enfim, apesar desses avanços tecnológicos, a melhora da economia japonesa passa, como foi 
apontado inicialmente, por um aumento da demanda doméstica, pois ela representa cerca de 75% 
do PIB do país. No entanto, incrementá-la tem sido um desafio, pois a sociedade japonesa com 
tendência de envelhecimento, aliada à baixa taxa de natalidade e à diminuição da população, tem 
gerado uma demanda menor, que acaba resultando em deflação. Isso desestimula a busca pelo 
consumo, pois os produtos tendem a ficar mais baratos no futuro, o que novamente prejudica a 
economia. Esse é mais um dos desafios para o futuro do Japão. 
 
Conclusão 
Conclui-se este módulo com a constatação de que havia, ao final da Guerra Fria, uma 
demanda e uma expectativa otimista para que o Japão ampliasse a sua participação internacional, 
fundamentada principalmente pelo destaque que o país obteve na sua grande recuperação 
econômica após o final da II Guerra Mundial. 
 
1 World’s first robot-staffed hotels make business travel inroads. Japan in Video. Oct 23, 2018. Disponível em: 
<https://www.nippon.com/en/guide-to-japan/gu900045>. Acesso em: 20 jan. 2021. 
https://www.nippon.com/en/guide-to-japan/gu900045
 
30 
 
 
O seu poder econômico de segunda economia mundial chamava atenção no comércio, nos 
investimentos e, também, na cooperação internacional por meio da AOD, tornando-se o maior 
fornecedor. Contudo, com a crise causada pelo estouro da bolha econômica em 1991, o governo 
japonês voltou as suas atenções para a recuperação do país. Além disso, ao longo da década, o baixo 
crescimento econômico foi erodindo o seu pilar de projeção internacional, que era baseado na sua 
pujança econômica. 
O envelhecimento da sociedade aparece com outro fator que gera preocupações sobre o 
futuro do Japão, além de já ter impactado negativamente a economia do país. 
Diante de todos esses fatores, as expectativas de um Japão como uma potência global que 
rivalizaria com o poder dos EUA se viram frustradas. 
 
 
 
 
Este módulo discorrerá sobre as mudanças institucionais no processo de elaboração da política 
externa japonesa. Ao longo do período do pós-Guerra Fria, houve uma busca de reestruturação das 
participações da burocracia estatal, dos políticos e do setor privado na formulação dessa política. Diante 
disso, a compreensão do papel de cada um desses atores é importante para se analisar também a formação 
dos interesses nacionais e a conduta que o Japão procura desempenhar nas relações internacionais do século 
XXI. 
 
Reformas na estrutura do governo 
A duração do processo de tomada de decisão é uma das queixas mais comuns entre os que negociam 
com o governo ou com as organizações japonesas. Uma das razões para a demora é o processo de tomada 
de decisão que tem as suas raízes no período feudaldo Japão, quando uma grande proporção da população 
japonesa vivia em vilas de cultivo de arroz, uma atividade exercida em uma escala pautada na ação coletiva, 
e não individual. Nesse contexto, faz mais sentido se unirem em comunidades inteiras nos campos para 
um trabalho de todos como um só grupo. Dessa forma, as decisões passaram a ser tomadas em conjunto, 
tendo os anciãos da aldeia o papel de protagonismo. 
Novamente, observando-se as tomadas de decisões dentro do âmbito da cultura japonesa, é comum 
que no processo os negociadores recolham informações para serem discutidas coletivamente e, nesse 
momento, um membro do grupo se sobressaia exatamente por ter uma experiência maior. Entretanto 
deve-se ressaltar que o resultado da decisão não necessariamente é consensual, como algumas análises, às 
vezes, costumam apontar em virtude do sucesso do crescimento econômico após a II Guerra Mundial, 
principalmente nos anos de 1960 e 1970. 
MÓDULO II – TRANSFORMAÇÕES DA 
POLÍTICA EXTERNA JAPONESA: ATORES, 
POLICY-MAKING E INTERESSES 
 
32 
 
 
Contudo existem autores que vão refutar se a facilidade das decisões no Japão não foi 
resultante do crescimento econômico desse período, e não o contrário. Shinkichi Eto (1976), por 
exemplo, mesmo na década de 1970, questionou esse consenso: 
 
Ou seja, o conceito ativo nem sempre é requerido e pode então haver casos 
em que o governo e o setor privado não necessariamente configurem uma 
frente única. Mais do que isso, há frequentes atritos entre eles e mesmo no 
interior desses setores, entretanto, as decisões têm como premissa um 
consenso passivo dentre os principais atores (PLD, líderes do setor privado 
e a burocracia) do processo decisório (ETO, 1976, p. 124). 
 
Ainda de acordo com esse autor, levanta a ideia da possibilidade de um conceito passivo de 
consenso, em que os atores, embora possuindo o poder de veto e podendo impedir as medidas, não 
o fazem mesmo quando a política apresentada não é inteiramente do seu interesse. Portanto 
conclui-se que, na política japonesa, existem posições e interesses nem sempre convergentes: 
 
a) Não existe uma única fonte de autoridade e, como resultado, não há 
concentração de poder no sentido de um Estado absoluto; 
b) Há um direito legítimo dos grupos políticos buscarem ou não 
influenciar o Estado; 
c) Esses grupos devem ser múltiplos, voluntários, competitivos, não 
hierarquicamente ordenados e em categorias autodeterminadas 
(ZHAO, 1993, p. 20 apud UEHARA, 2003, p. 30). 
 
Retomando o início desta unidade, as ações no Japão não são decorrentes de um pensamento 
homogêneo, mas existe a possibilidade de expressão de diferentes posições e, mais do que isso, a 
manifestação é estimulada inclusive de baixo para cima, por isso o processo demanda tempo. É o 
que aponta Naoki Kuriama (2020, p. 318) no seu artigo que discute como essas características de 
busca de objetivos que atendam às demandas de forma coletiva se refletem também na 
administração empresarial. 
 
A harmonização requer a adaptação das perspectivas de bases individuais para 
a realidade dos parceiros. Este processo de harmonização leva muito tempo 
para ambas as partes e deve envolver comunicação e atividades interativas. 
 
Por meio desse processo, ambos os lados esperam ações conciliatórias (de 
baixo para cima) para preencher a lacuna nos requisitos das partes 
interessadas; isso não é considerado um compromisso. Compromisso é 
encontro do caminho do meio. 
 
 33 
 
Essa cultura de tomada de decisão está presente no país há séculos. Enquanto o Japão 
conseguia um crescimento econômico invejável, essa cultura era vista como positiva, pois garante 
que todos sejam ouvidos, envolvidos e preparados para implementar uma decisão. Ademais, ao dar 
oportunidade às pessoas poderem participar, o grupo se sente incluído, o que também é positivo. 
Além disso, pela ampla variedade de perspectivas em decorrência do número de pessoas consultadas 
para a tomada de decisão, gera-se a coleta e a análise de informações bastante completas, decisões 
cuidadosas e bem pensadas. Esses fatores dão conforto aos tomadores de decisão, mesmo que sejam 
demorados e complicados, pois existe uma busca na redução dos riscos. 
No entanto, com o estouro da bolha econômica e as dificuldades decorrentes a partir dos 
anos 1990, questionaram-se alguns aspectos do processo de tomada de decisão, assim propostas 
foram apresentadas. Neste texto, o foco será o governo, primeiramente analisando o Executivo e, 
em um segundo momento, a burocracia. 
O voto de desconfiança contra o primeiro-ministro Miyazawa em 1993 fez com que se 
rompesse a dominação de 38 anos do PLD, e assumisse um governo de “oposição”, colocado entre 
aspas, porque, conforme já informado nas sessões anteriores, os dois sucessores, tanto Morihiro 
Hosokawa quanto Tsutomu Hata, eram dissidentes do PLD. De qualquer forma, havia uma 
promessa de que esse novo governo romperia com a tradicional relação entre políticos, burocratas 
e empresas – sei-kan-gyo no yuchaku daha –, pois isso era apontado como uma questão urgente, que 
tinha como pano de fundo os escândalos de corrupção envolvendo o governo e empresas à época. 
Existe até um termo para designar um aspecto dessa relação triangular no Japão, que é 
amakudari, cujo significado é descer do céu. Na prática, são as relações entre o setor público e o 
privado, que fazem com que os burocratas japoneses de alto escalão, ao se aposentarem ou saírem 
do serviço público, sejam incorporados em cargos executivos no setor privado ou mesmo, em alguns 
casos, no próprio setor público. 
No seu artigo, Rei Shiratori (1995) faz uma análise detalhada de escândalos que marcaram a 
política japonesa. Podem ser citados: 
a) Escândalo Lockheed – Em outubro de 1983, o ex-primeiro-ministro Kakuei Tanaka foi 
condenado por ter aceitado US$ 2,1 milhões em subornos da empresa americana 
Lockheed em meados da década de 1970. 
b) Escândalo Recruit – No final de 1988, foi divulgado o esquema de propina envolvendo 
membros do PLD e empresários da empresa Recruit, que levou à renúncia do primeiro-
ministro Takeshita Noburo. 
c) Escândalo Sagawa – Em agosto de 1992, o vice-presidente do PLD, Shin Kanemaru, foi 
acusado de receber uma contribuição política não declarada de 500 milhões de ienes do 
empresário Hiroyasu Watanabe, presidente da Sagawa Transportes. 
 
 
 
34 
 
 
Esses sucessivos escândalos enfraqueceram o PLD e, em 1994, levaram a oposição, por meio 
de uma coalizão, ao governo do Japão, sendo um dos temas importantes das suas políticas propostas 
o da reforma administrativa. Segundo Koichi Nakano (1998, p. 292) o partido Sakigake, também 
estabelecido com a participação de dissidentes do PLD, apesar de ser pequeno em face dos outros 
da coalizão, foi importante para a definição da agenda reformista, levando para dentro do governo 
essa pauta. E, continua esse autor, até pelo curto mandato da oposição, o PLD acabou assumindo 
o discurso da reforma administrativa quando percebeu que havia apoio popular. 
As reformas na política japonesa começaram a ser discutidas pelo primeiro-ministro Ryutaro 
Hashimoto em 1996, via formação do Conselho sobre Reforma Administrativa, do qual ele era o 
presidente. Hashimoto se concentrou na reforma do governo e, apesar das resistências de órgãos da 
burocracia, conseguiu aprovar a lei básica para a reforma de ministérios e agências promulgada em 
junho de 1998, dando os parâmetros para as reformas. 
De acordo com Koichi Nakano (1998, p. 305), as resistências foram reduzidas porque a 
redação do projeto foi deixada para burocratas, que estavam claramente determinados a tornar as 
novas condições menos inconvenientes para eles próprios. Ao final, a proposta de reforma política 
com Hashimoto se afastou da proposta inicial de “controle do governo” e, na responsabilização 
democrática dos burocratas, a ênfase passou a ser dada no corte de gastos e na reforma da estrutura 
organizacional, ou seja, o centro das mudançaspassou a ser no “como governar”. 
A lei da reforma basicamente previa a reorganização de ministérios e agências, medidas que 
buscavam fortalecer a função do primeiro-ministro e do gabinete, além de princípios de 
simplificação para a melhoria da eficiência do governo e a reorganização do gabinete para 12 
organizações de nível ministerial. As reformas foram aprovadas em julho de 1999, já no mandato 
do primeiro-ministro Keizō Ōbuchi, e passaram a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2001, com o 
governo de Yoshiro Mori. Com isso, o gabinete seria reduzido de 23 organizações de nível 
ministerial para 12, principalmente combinando antigas agências burocráticas, substituindo o 
gabinete do primeiro-ministro por um novo gabinete. 
Com isso, de fato, a reforma administrativa em 2001 foi um divisor de águas, uma vez que 
foi a primeira revisão significativa da estrutura do governo central desde a promulgação da Lei da 
Organização de Administração Nacional em 1948, e teve por objetivo transformar um Estado 
burocrático tradicional em uma organização mais empresarial. A reforma contribuiu para a 
transparência da administração com a divulgação de informações – programas de governo 
eletrônico. Contudo faltou ao governo uma gestão mais centralizada da política relacionando os 
resultados da avaliação à elaboração de orçamentos, além de análises de políticas e performance de 
cada ministério. 
Em termos políticos, de acordo com o material produzido por Yuko Kaneko (1999, p. 5) da 
Agência de Gestão e Coordenação do governo do Japão, a reforma visou reforçar as funções de 
gabinete e autoridade do primeiro-ministro, assegurando uma liderança na medida em que garantia 
competência não apenas para coordenar, mas também para iniciar a formulação de políticas básicas. 
 
 35 
 
Nos ministérios, buscou reforçar a liderança política ao estabelecer um sistema de vice-ministros, 
que deveriam ser políticos e nomeados para o gabinete e para cada ministério, posicionados entre o 
ministro e o vice-ministro administrativo (membro da burocracia). Além disso, foi introduzido o 
sistema de assessores políticos do ministro para participar da formulação de políticas, do 
planejamento e de assuntos políticos. Com isso o número de assessores aumentou de 186 em 2000 
para 648 em 2005 (MAKIHARA 2009, p. 56 apud ZAKOWSKI, 2018, p. 19). 
A seguir, será analisado especificamente o papel do primeiro-ministro após essas reformas. 
 
Papel do primeiro-ministro 
No sistema político japonês, o primeiro-ministro é escolhido entre os políticos eleitos na 
Câmara Baixa da Dieta, pelo voto da maioria. No período posterior à II Guerra Mundial, a política 
japonesa foi dominada pelo PLD – criado pela fusão de dois pequenos partidos conservadores: o 
Partido Democrático do Japão e o Partido Liberal do Japão em 1955 –, que se manteve 
sucessivamente no governo até 1993. Essa predominância do PLD recebeu o nome de “Sistema 
1955”, ano de criação do partido. As exceções de domínio do PLD foram em dois períodos 1993-
1994 e 2009-2011. 
A história política do Japão mostra que a duração dos mandatos dos primeiros-ministros, via 
de regra, tem duração de dois anos. Mesmo com o predomínio do LDP (1955-93), isso não 
significou mandatos longos, e uma das razões para a explicação dessa realidade foi o fato de o cargo 
de primeiro-ministro ter tido um número limitado de poderes formais. A ausência da clareza na 
legislação também dificultou a percepção de qual seria a sua autonomia e o seu poder. Por exemplo, 
o art. 66 da Constituição do Japão aponta inicialmente que primeiro-ministro será o líder do 
gabinete, no entanto, finaliza afirmando que “o gabinete, em exercício do Poder Executivo, deverá 
ser coletivamente responsável pela Dieta” (CONSTITUIÇÃO DO JAPÃO, 1946). No art. 72, 
define-se que o primeiro-ministro é o representante do gabinete, portanto, pode-se questionar o 
quanto ele é o líder e quanto é um simples representante do gabinete. 
Tomohito Shinoda (2011, p. 51) menciona que a Lei do Gabinete claramente limita o poder do 
primeiro-ministro no art. 3º, quando informa que a autoridade e a responsabilidade do Poder Executivo 
são divididas entre os membros do gabinete. Além disso, no art. 5º, ao definir que ele representa o 
gabinete, pois apresentará projetos de lei, orçamentos e outras propostas à Dieta, e apresentará um 
relatório à Dieta sobre assuntos nacionais gerais e relações externas” (CABINET LAW, 1947, tradução 
nossa). Em outras palavras, legalmente, a autoridade direta do primeiro-ministro está relacionada às 
operações administrativas do gabinete e das agências diretamente subordinadas, como a Agência de 
Serviços Financeiros e a Agência de Assuntos do Consumidor. 
Essa fraqueza para iniciativas próprias é histórica, e isso se refletia em uma maior participação da 
burocracia, que será tratada na próxima unidade. Essa situação levou a uma acomodação dos políticos, 
pois, apesar de os ministérios serem tecnicamente subordinados ao gabinete do primeiro-ministro, os 
 
36 
 
 
burocratas mantinham uma relação privilegiada como os ministros dentro dos respectivos ministérios. 
Mas, como os mandatos eram curtos, os ministros geralmente tinham pouco tempo para desenvolver 
conhecimento e ter autoridade para influenciar a tomada de decisões, com isso os burocratas 
dominavam as suas áreas. 
Nesse sistema em que o conhecimento técnico não era importante, pois isso era atribuição dos 
burocratas, os políticos do partido no poder eram nomeados para o gabinete não pelas suas qualidades 
e pelo seu domínio no setor do ministério, mas por negociações políticas internas ao partido. Esse fator 
ao longo do tempo foi enfraquecendo ainda mais a influência do primeiro-ministro nas políticas de 
governo, tendo grande dependência dos funcionários públicos dos ministérios. 
Contudo houve algumas exceções de mandatos de maior duração que, de acordo com 
Kingston (2014, p. 18), apresentaram um fato em comum entre os primeiros-ministros: todos eram 
líderes ativos e orientados por uma agenda. No caso desses políticos, muitas vezes, atribui-se a 
perenidade dos governos ao seu perfil pessoal, e não aos elementos legais formais. Essas 
características dos primeiros-ministros geraram um poder adicional que é informal e depende de 
cada um, podendo, por exemplo, representar em uma maior base de apoio no partido, ter um 
melhor relacionamento com a burocracia governamental, dependendo do seu carisma, uma maior 
popularidade, ou até mesmo, facilitar a negociação com os partidos de oposição. 
No período pós-Guerra Fria, Junichiro Koizumi foi o maior exemplo de popularidade e 
carisma, fator que contribui para o seu poder político. Com 85% de aprovação, Koizumi foi o 
político que conseguiu a maior popularidade entre 1989 e 2012, de acordo com o levantamento 
apresentado na Tabela 5, a seguir. 
 
Tabela 5 – Taxa de aprovação dos primeiros-ministros (1989 a 2012) 
primeiros-ministros 
maior taxa de 
aprovação (%) 
menor taxa de 
aprovação (%) 
Uno 28 28 
Kaifu 56 35 
Miyazawa 54 20 
Hosokawa 71 57 
Hata 47 47 
 
 
 37 
 
primeiros-ministros 
maior taxa de 
aprovação (%) 
menor taxa de 
aprovação (%) 
Murayama 42 33 
Hashimoto 53 31 
Obuchi 49 23 
Mori 39 7 
Koizumi 85 39 
Abe (primeiro mandato) 65 29 
Fukuda 58 20 
Aso 49 15 
Hatoyama 72 21 
Kan 65 16 
Noda 60 20 
Fonte: YAMAMURA, Eiji; SABATINI, Fabio. Superstars in politics: the role of the media in the rise and success of Junichiro 
Koizumi. Cornell University, Quantitative Finance: Economics, 2014, p. 17. Disponível em: 
<https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1407/1407.1726.pdf>. Acesso em: 14 maio 2021. 
 
Entretanto, ainda que apontado como um aspecto importante no caso do Japão, a aprovação 
por si só não é suficiente, pois se tenta evitar que as decisões fossem percebidas como simples 
imposição, mesmo que o governo tivesse maioria. Portanto esses elementos não institucionais de 
poder, que variam de indivíduo para indivíduo, podem permitir

Continue navegando