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Após o final da Guerra Fria com a queda do muro de Berlim, oficialmente, no dia 9 de novembro de 1989, surgiram preocupações do Japão sobre como continuariam as relações nipo-americanas. Isso ocorreu porque, em um mundo bipolar, um dos fatores que atribuíam importância ao Japão pelos Estados Unidos da América (EUA) era a parceria para conter o comunismo, mas, com o enfraquecimento dessa ameaça, dada a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1991, a relação entre os países passou a ser reavaliada, assim como o papel internacional do Japão. Houve declarações de políticos japoneses nesse período imediato ao final da Guerra Fria, que apontavam para a possibilidade de o Japão assumir um papel mais proeminente nas relações internacionais, pois, dada a sua posição de segunda maior economia mundial, atrás apenas dos EUA, havia uma demanda internacional para que o governo de Tóquio passasse também a dividir os custos de manutenção da ordem internacional. Esse pleito estava relacionado ao fato de os países ocidentais, principalmente os desenvolvidos, terem atuado intensamente para conter a expansão do comunismo, enquanto o Japão era visto como um país que se beneficiou dessas ações ao fazer crescer a sua economia, mas sem ter contribuído proporcionalmente para a segurança internacional, uma vez que esteve sob a proteção dos EUA. De fato, o Japão, ao longo da segunda metade do século XX, saiu da II Guerra Mundial derrotado e com uma economia muito enfraquecida, embora tenha alcançado a posição de segunda maior economia global na década de 1980. O governo japonês, contudo, justificou essa criticada participação, isto é, considerada inferior à dos países ocidentais e aquém do que deveria ser para o país com a segunda maior economia do mundo, alegando que foi decorrente das restrições constitucionais. A expressão “gigante econômico e anão político” era comumente utilizada para designar o perfil do Japão nos anos imediatos ao pós- Guerra Fria. Como uma resposta a essas pressões Kuriyama Takakazu – vice-ministro de Negócios Exteriores –, em entrevista ao Los Angeles Times, afirmou: INTRODUÇÃO Primeiro, deixem me enfatizar que é amplamente reconhecido entre os japoneses que nós (...) devemos desempenhar um papel econômico e político mais ativo e responsável, em íntima cooperação com outras democracias industriais (JAMESON, 1990 – tradução nossa). Apesar dessa e de outras declarações de representantes do governo japonês afirmando a disposição de ampliar o papel nipônico nas relações internacionais, desde o início da década de 1990 aos dias atuais, o papel do Japão no contexto internacional permanece em discussão. Portanto são mais de 30 anos de debates em que ainda não se tem uma definição clara e consensual sobre um novo ordenamento das relações internacionais, como foi a bipolaridade, tampouco sobre a inserção internacional japonesa. Entretanto é importante salientar o peso e a importância do Japão para as relações internacionais tanto no âmbito regional como global, pois esse país é a terceira maior economia mundial, atrás apenas da China e dos EUA. Essa posição deverá ser mantida durante algum tempo, uma vez que a taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) da Alemanha, que ocupa a quarta posição, não tem sido muito diferente da do Japão. Dessa forma as perspectivas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que, pelo menos até o final desta década, as posições não deverão mudar. O risco de perda da terceira posição é maior em relação à Índia, mas isso deve ocorrer na próxima década. Tabela 1 – Dez maiores PIB em 2020 país valor (US$ milhões) EUA 20.932.750 China 14.722.837 Japão 5.048.688 Alemanha 3.803.014 Reino Unido 2.710.970 Índia 2.708.770 França 2.598.907 Itália 1.884.935 Canadá 1.643.408 Fonte: International Monetary Fund (2020) Outro fator relevante para acompanhar as relações internacionais do Japão é a sua parceria com os EUA, particularmente para a região da Ásia, bem como o interesse de Tóquio em renovar e revitalizar o seu papel internacional. Se, no final do século passado, a ampliação da participação japonesa era uma demanda que emergia de fora para dentro, nos últimos anos observa-se que o governo japonês tem demonstrado buscar uma política externa mais ativa se comparada ao perfil da sua diplomacia até a segunda metade do século XX, como será apresentado ao longo do trabalho. Dessa forma, o objetivo geral da disciplina consiste em oferecer um panorama das relações internacionais do Japão após o final da Guerra Fria até as primeiras duas décadas do século XXI. Adicionalmente, os objetivos específicos incluem: identificar as mudanças que ocorreram internamente no país e os principais impactos na política externa; relacionar como as transformações do cenário internacional tem apresentado desafios e oportunidades à inserção internacional do Japão, A fim de alcançar tais objetivos, a apostila será dividia em quatro módulos. No módulo 1, Período pós-Guerra Fria e desafios ao Japão, será apresentada uma pequena retrospectiva das relações internacionais do Japão a partir do final da Guerra Fria, apontando as transformações que vieram ocorrendo no âmbito interno ao país, envolvendo aspectos econômicos, sociais e políticos. Também serão destacados os fatos relevantes no âmbito externo de como as alterações de posições relativas dos principais países tem repercutido na política externa japonesa. No módulo 2, Transformações da política externa japonesa: atores, policy-making e interesses, serão abordadas as mudanças institucionais no processo da elaboração da política externa. Ao longo do período do pós Guerra Fria há uma busca de reestruturação das participações na formulação dessa política, que tem como principais sujeitos a burocracia estatal, os políticos e o setor privado. A compreensão do papel de cada um desses atores é importante para se analisar também a formação dos interesses nacionais e o papel que o Japão procura desempenhar nas relações internacionais do século XI. Já no módulo 3, Geopolítica Asiática no Século XXI, veremos que o mundo tem sido testemunha do crescimento da importância internacional da Ásia nas últimas décadas, com destaque na área econômica com a sucessão de economias que vieram ganhando destaques pela sequência o Japão, os tigres asiáticos (Coreia, Hong Kong, Singapura e Taiwan) e mais recentemente a China e os países do sudeste asiático. No entanto, o século XXI tem sido também palco de preocupação com a região, pois há cooperação, mas também há disputas de interesses, por isso a pergunta é: prevalecerá a paz ou o conflito na Ásia? Por fim, o módulo 4, Um novo Japão para um mundo novo? destina-se a discutir qual o papel para o Japão no século XXI, como aponta o mestre e ex-ministro da Relações Exteriores, “toda política exterior resulta de um esforço de compatibilizar necessidades internas com possibilidades”. Feita as considerações sobre as transformações no âmbito interno e externo ao Japão, neste módulo se analisará como o governo de Tóquio busca renovar a sua política externa no mundo contemporâneo. MÓDULO I – PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA E DESAFIOS AO JAPÃO ................................................. 9 RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO JAPÃO: EXPECTATIVAS E FRUSTRAÇÕES................................. 9 ECONOMIA JAPONESA: PROJEÇÃO E BARREIRA AO STATUS INTERNACIONAL ........................ 16 FRAGILIDADES IMPOSTAS PELA INSTABILIDADE POLÍTICA ........................................................ 21 DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO DA SOCIEDADE ...................................................................... 25 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 29 MÓDULO II – TRANSFORMAÇÕESDA POLÍTICA EXTERNA JAPONESA: ATORES, POLICY-MAKING E INTERESSES......................................................................................... 31 REFORMAS NA ESTRUTURA DO GOVERNO .................................................................................. 31 PAPEL DO PRIMEIRO-MINISTRO ..................................................................................................... 35 BUROCRACIA E POLÍTICA EXTERNA ............................................................................................... 44 POLÍTICA EXTERNA SOB NOVOS PILARES ..................................................................................... 49 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 55 MÓDULO III – GEOPOLÍTICA ASIÁTICA NO SÉCULO XXI ............................................................... 57 PAPEL DO JAPÃO NA “ASIANIZAÇÃO” DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................. 57 Ajuda japonesa para o desenvolvimento ............................................................................. 58 Políticas de integração regional ............................................................................................. 61 INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: COMÉRCIO E INVESTIMENTOS ...................................................... 63 PARCERIA COM OS EUA ................................................................................................................... 68 JAPÃO E CHINA: COOPERAÇÃO E RIVALIDADES ........................................................................... 71 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 75 MÓDULO IV – UM NOVO JAPÃO PARA UM MUNDO NOVO? ........................................................ 77 QUAL É O PAPEL DO JAPÃO NO SÉCULO XXI? .............................................................................. 77 Perspectiva cética .................................................................................................................... 78 Perspectiva otimista ................................................................................................................ 80 NACIONALISMO ................................................................................................................................ 84 JAPÃO E O PACIFISMO PROATIVO .................................................................................................. 90 RELAÇÕES COM O BRASIL ............................................................................................................... 96 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................100 BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................................102 PROFESSOR-AUTOR ......................................................................................................................114 SUMÁRIO Neste módulo, será apresentada uma pequena retrospectiva das relações internacionais do Japão a partir do final da Guerra Fria, apresentando as transformações que influenciaram em um primeiro momento a projeção e a ampliação da participação do Japão nas relações internacionais, inclusive como um potencial substituto dos EUA na liderança. Além disso, serão destacados os fatores do âmbito interno ao país repercutidos na política externa japonesa, envolvendo aspectos econômicos, políticos e sociais. Relações internacionais do Japão: expectativas e frustrações A queda do muro de Berlim foi um importante evento nas relações internacionais, pois foi um marco do fim da chamada ordem internacional da Guerra Fria, portanto se passou a discutir qual seria a nova configuração internacional. Mas o que seria essa ordem internacional? Segundo Bull (2002, p. 7), dizer que um conjunto de coisas demonstra uma ordem é, no sentido mais simples e mais geral, afirmar que elas estão relacionadas entre si de acordo com uma certa estrutura; que a sua relação recíproca não é fruto puramente do acaso, mas contém algum princípio discernível. MÓDULO I – PERÍODO PÓS-GUERRA FRIA E DESAFIOS AO JAPÃO 10 Em outra passagem, Bull (2002, p. 3) complementa que a “ordem internacional” se refere a um padrão de atividade que sustenta os objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade internacional. Portanto refletir sobre a ordem internacional não significa pensar em uma ausência de divergências de interesses entre os países ou mesmo de conflitos, mas em uma racionalidade passível de ser aplicada para o entendimento dos papéis e dos comportamentos dos Estados a partir do momento em que os EUA, com a perda da capacidade de liderança internacional da ex-URSS no final da década de 1980, passou ser a única superpotência. Lafer (2018, p. 883), professor e ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, apresenta bem essa discussão, ao apontar o protagonismo dos EUA, mas ao mesmo tempo as expectativas sobre outros países: Neste contexto global que se deve examinar o papel que representarão os Estados Unidos na “nova ordem” da qual desejam ser os inspiradores e fiadores, mas para cuja função parece faltar-lhes os recursos materiais indispensáveis para ser seu único organizador – ou seja, o hegemon. Os EUA vivem o dilema de ter conseguido vencer a batalha ideológica, no momento preciso em que os seguidores muitas vezes tardios desses mesmos valores – democracia, mas sobretudo economia de mercado – se mostram mais eficazes na sua implementação, embora se possa discutir até que ponto é a mesma forma de economia de mercado que está em ação nos EUA, na CEE ou no Japão. De fato, o professor da Universidade de Tóquio, Takashi Inoguchi (1988) já propunha alguns cenários mesmo antes da queda do muro de Berlim e da dissolução da ex-URSS formalizada em 8 de dezembro de 1991, pelo acordo assinado entre Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, três das principais repúblicas soviéticas. A seguir, apontam-se os quatro cenários de ordem internacional propostos por Inoguchi (1988), nos quais ele discute quais papéis o Japão poderia desempenhar em cada uma delas: Pax Americana – Fase II; Bigemony; Pax Nipponica e Pax Consortis. Apresentando brevemente essas projeções, o cenário Pax Americana – Fase II consistiria no fato de os EUA serem capazes de manter a sua hegemonia, a sua capacidade de manutenção da estabilidade global e de controle dos rumos da economia mundial. No segundo cenário, Bigemony, o Japão ampliaria a sua participação nas questões internacionais, refletindo a sua estatura de segunda 11 economia mundial à época. Entretanto, enquanto no primeiro caso o papel japonês seria basicamente de instrumentalizar o seu poder econômico para apoiar os EUA, neste segundo panorama disporia também de um papel militar. No terceiro cenário, Pax Consortis, os EUA manteriam uma posição de liderança global, mas agora compartilhada com o Japão e a União Europeia. Seria uma forma de se distribuírem os custos e as responsabilidades pela manutenção da estabilidade internacional. Nesse contexto, o papel do Japão seria o de intermediar as relações entre os EUA e a Rússia – potências nucleares – na busca de respostas não militares às questões globais. O quarto cenário apresentado foi o que Inoguchi (1988) denominou de Pax Nipponica, em que o Japão emergiria como o país hegemônico, reconstruindo uma ordem semelhante à da Pax Britânica promovida pela Inglaterra no século XIX, bem como à Pax Americana, liderada pelos EUA ao longo do século XX. Todavia esse autor ressalva que, pelo fato de o Japão não ser uma potência nuclear, seria necessário que os demais países abdicassem dos seus arsenais nucleares.Essa restrição é importante porque, com a derrota na II Guerra Mundial, a nova constituição promulgada pelo imperador Hirohito em 3 de novembro de 1946 trouxe no seu art. 9º restrições à atuação militar do Japão ao afirmar que “o povo japonês renuncia para sempre o uso da guerra como direito soberano da nação ou a ameaça e uso da força como meio de se resolver disputas internacionais” (CONSTITUIÇÃO DO JAPÃO, 1946). Esses cenários que projetavam uma ampliação da participação nipônica nas questões internacionais não eram somente de percepções japonesas, mas também de analistas ocidentais que apontavam que os EUA tinham vencido a disputa ideológica da Guerra Fria contra a ex-União Soviética, muito embora o vencedor da guerra econômica tenha sido o Japão (NESTER, 1993, p. 3). Essa percepção de que o Japão se beneficiou ao longo do período da Guerra Fria fez com que emergissem pressões internacionais para que o país ampliasse a sua atuação internacional, que chegou até a ter uma denominação, burden sharing, que pode ser traduzida como “divisão de encargos”. Essa cobrança ocorreu pelo fato de o Japão ser à época a segunda maior economia do mundo, porém sem ter uma participação política internacional que fosse percebida como equivalente à sua estatura econômica, passando, por essa razão, a ser denominado “gigante econômico e anão político”. Os dados da evolução do PIB do Japão no período pós II Guerra Mundial são indicadores do crescimento da importância japonesa em termos econômicos globais. Comparando-se os sete países mais ricos entre 1960 e 1990, nota-se que o PIB do Japão foi multiplicado em mais de 70 vezes no período, possuindo de longe o maior crescimento desse grupo, que teve como segundo melhor desempenho a Itália, que ficou 29 vezes maior, seguido de perto pela França, com 20 vezes. 12 Tabela 2 – Evolução do PIB do G-7 (1960-1990) país 1960 1990 variação (1990/1960) EUA 543,3 5.963,1 11,0 Japão 44,3 3.132,8 70,7 Alemanha* N/D 1.771,7 - França 62,2 1.269,2 20,4 Itália 40,4 1.181,2 29,2 Reino Unido 73,2 1.093,2 14,9 Canadá 40,5 593,9 14,7 * No caso da Alemanha, não há dados disponíveis nesse ano para serem comparados. Fonte: WORLD BANK. World Bank National accounts data and OECD national accounts data files. Disponível em: <https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=JP&name_desc=false>. Acesso em: 20 maio 2021. Associada à pujança econômica japonesa, havia também nesse período a avaliação de que o poder econômico se tornaria mais importante que o poderio militar para liderança internacional, isso aumentava a expectativa sobre uma ascensão global japonesa. O primeiro-ministro Noboru Takeshita, que exerceu mandato de 1987 a 1989, já afirmava nos seus discursos a disposição japonesa para a maior participação internacional, para reduzir as responsabilidades norte- americanas, afirmando haver um acordo com o presidente George Bush, que, em contrapartida, reconheceria essa maior autonomia japonesa (EDSTRÖM, 1999, p. 139). O seu sucessor, Toshiki Kaifu (1989-1991) discursou na 121ª Sessão na Dieta japonesa sobre as suas respectivas políticas. As suas declarações apontam uma aspiração do governo de aumentar a sua participação internacional. Acredito que o povo japonês passou a aceitar a consciência comum de que o Japão precisa contribuir ativamente para a paz mundial, não apenas em termos financeiros e materiais, mas também em termos de pessoal. É claro que devemos defender firmemente nosso ideal de paz baseado na contrição de ações passadas, mas também devemos trabalhar para ver que esses ideais sejam traduzidos em realidade, promovendo ainda mais a cooperação humanitária internacional e tomando uma parte mais ativa e fazendo o que pudermos nos esforços internacionais para criar uma ordem que preserve a paz mundial (MOFA, 1991, tradução nossa). https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD?locations=JP&name_desc=false 13 Além dessa motivação externa, aponta-se que existe também uma lógica própria do Japão pela sua inserção internacional, que pode ser explicitada por uma busca de reconhecimento internacional. Conforme aponta o ex-diplomata Kazuo Ogura (2015, p. 48) na sua obra Japan’s Asian Diplomacy, identificou-se nos governantes japoneses a diplomacia do reconhecimento, que pode ser observada como característica de cada novo regime na história japonesa (OGURA, 2015, p. 49, tradução nossa). Esse objetivo, segundo o autor, não surgiu apenas no pós-Guerra Fria, mas é uma meta muito antiga, o que exemplifica com a iniciativa do príncipe Shotoku do Japão no ano 600, que enviou representantes à China, buscando o reconhecimento do imperador Sui. Fazendo uma pequena digressão e analisando o histórico das relações internacionais do Japão que se desenvolve a partir da segunda metade do século XIX, registra-se o restabelecimento do país às relações internacionais com a abertura dos portos japoneses por imposição dos EUA liderada pelas forças navais do comodoro Matthew C. Perry em 1853. Naquele momento, o governo percebeu a defasagem em que o país estava em termos tecnológicos, demonstrada pela incapacidade de resistir às ameaças dos canhões norte-americanos, já que o país ficou cerca de 250 anos sem armas de fogo. Essa situação de inferioridade em relação aos EUA se refletiu também nos acordos que se sucederam com outros países ocidentais, negociados a partir de 1858, conhecidos como “tratados desvantajosos”, foram estabelecidos também com “Holanda, Rússia, Reino Unido e França, que não consideravam o Japão como um país civilizado” (NINOMIYA, 1996, p. 247). Essa situação foi modificada após a Restauração Meiji, quando o governo passou a enviar missões ao exterior para buscar equalizar o Japão com as nações ocidentais, e a partir de então “o Japão gradualmente cresceu em importância entre a família das nações, uma vez que abandonou a política de reclusão e rapidamente passou a abraçar o caminho para a modernização rápida” (IOKIBE, 2008, p. v). Como consequência dessas ações, o Japão já no final do século XIX apareceu ao mundo como uma nova potência com as suas vitórias sobre a China (1895) e sobre a Rússia (1905), conforme apontam Teramoto e Minohara (2017). Retornando ao período do pós-Guerra Fria, percebe-se que a busca por reconhecimento e status internacional não é inédita na política externa japonesa. Aliás, o teórico das relações internacionais Hans Morgenthau (2003, p. 148) aponta que o reconhecimento, apesar de não ser um tema tão discutido, é um grande objetivo dos atores internacionais, e isso não é diferente para o Japão. Esse fato foi ratificado pelo primeiro-ministro Toshiki Kaifu em discurso de outubro de 1990 ao parlamento, ao apontar a segurança, a sobrevivência e o reconhecimento como os três objetivos nacionais do país, destacando-se este último item ao afirmar que o país deveria esforçar-se para alcançá-lo (EDSTRÖM, 1999, p. 143). A ajuda externa para o desenvolvimento (AOD) pode ser vista como um dos elementos da política externa japonesa que ilustra o destaque que o país vinha conquistando no final da década de 1980, especialmente, em termos de elevação do seu status e do seu reconhecimento internacional. Além disso, o próprio governo japonês ressaltava a sua importância: “a assistência oficial ao desenvolvimento é o instrumento mais importante da política externa do Japão, determinado a promover a paz e seu importante veículo de contribuição internacional” (MOFA, 1994). 14 Coincidentemente, em 1989, ano da queda do muro de Berlim, de acordo com as estatísticas da época, o Japão se tornaria o maior fornecedor de AOD no mundo. Mesmo na década de 1980, a AOD do Japão continuou a se expandir em paralelo com o forte desempenho econômico japonês. Em 1989, o Japão ultrapassou os Estados Unidos da América para se tornar o maior doador mundial, com a AOD líquida, atingindo US$ 8,97 bilhões (MOFA,2014, p. 3, tradução nossa). Gráfico 1 – Tendências dos maiores AOD de países membros do DAC (distribuição líquida – US$ milhões) (a) incluindo perdão de dívidas de reivindicações não APD, exceto para DAC total (p) dados preliminares Fonte: OECD. Net ODA from DAC countries from 1950 to 2020. Disponível em: <https://www.oecd.org/dac/financing-sustainable-development/development-finance-data/#>. Acesso em: 9 jun. 2021. Na década de 1990, o Japão, na situação de protagonista no fornecimento de AOD, “tornou-se o principal doador em termos de quantidade, e a sua AOD passou a assumir maior visibilidade em várias regiões do mundo” (MOFA, 2014, p. 4; ARAGUSUKU, 2011, p. 47). De acordo com o relatório Japan’s ODA Annual Report (Summary) de 1998, o país se manteve como o maior doador mundial de AOD por sete anos consecutivos. Como se pode observar, no período imediato ao final da Guerra Fria, o Japão apresentava potenciais para uma ampliação do seu papel internacional como segundo maior PIB, vontade política declarada por políticos japoneses, além de ter ascendido à posição de maior fornecedor de ajuda internacional. Aliado a esses fatores, o país ainda se destacava pelo volume de participação no comércio e nos investimentos internacionais e avanços tecnológicos. - 5 000 10 000 15 000 20 000 25 000 30 000 35 000 40 000 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 (a ) 19 92 (a ) 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 20 10 20 12 20 14 20 16 20 18 20 20 (p ) Estados Unidos Alemanha Reino Unido França Japão Japão se torna maior provedor de ODA. https://www.oecd.org/dac/financing-sustainable-development/development-finance-data/%23 15 No caso do comércio internacional, nota-se no gráfico a seguir que o superávit a favor do Japão apresenta uma tendência de crescimento a partir de meados da década de 1970. Houve uma queda nos anos de 1979 e 1980, impactados pelo “choque do petróleo”, mas a década de 1980 foi de superávits, assim como a Alemanha, fato que vai dar subsídios aos cenários propostos por Inoguchi (1988). Gráfico 2 – Evolução dos saldos das balanças comerciais do G-7 (1960-1990) Fonte: WTO. Data. Disponível em: <https://data.wto.org>. Acesso em: 2 maio 2021. Apesar desses destaques durante a década de 1990, as expectativas geradas após o final da Guerra Fria de ampliação do papel do Japão não ocorreram. Analisando retrospectivamente, nota- se uma prevalência do primeiro cenário, isto é, “na década de 90, os EUA surgiram como a única superpotência capaz de atuar, simultaneamente, no campo estratégico-militar, no campo econômico e no campo dos valores” (LAFER, 2018, p. 903). Esse quadro persistiu nessas duas primeiras décadas do século XXI. Apesar da percepção de, no período imediato ao pós-Guerra Fria, haver uma convergência de interesses norte-americanos em reduzir os seus custos para a manutenção da estabilidade global aliada às manifestações do interesse japonês em ampliar o seu papel internacional, foram frustradas as expectativas de liderança internacional japonesa apontadas nos cenários do professor Inoguchi (1988). Além disso, o país experimenta um longo período de baixo crescimento e redução relativa do seu peso internacional, repercutindo as dificuldades econômicas a partir do início da década de 1990, com o estouro da bolha econômica, conforme será abordado na próxima unidade. -200 -150 -100 -50 0 50 100 19 60 19 65 19 70 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 U S$ B ilh õe s Canadá França Alemanha Itália Japão Reino Unido Estados Unidos https://data.wto.org/ 16 Economia japonesa: projeção e barreira ao status internacional O breve histórico apresentado na unidade anterior revela um fator que pode ser indicado como relevante para as expectativas de ampliação da liderança internacional japonesa, isto é, o crescimento econômico obtido após o término da II Guerra Mundial. No gráfico 3, a seguir, pode- se observar que entre 1961 a 1969 o PIB japonês cresceu ao ritmo acima de 10% ao ano e, nas décadas seguintes, de 1971 a 1990, apesar de haver uma redução no ritmo de crescimento do PIB, a taxa média ficou acima dos 4,4%. Esses resultados, somados ao da balança comercial apresentados acima no Gráfico 2, contribuíram para alavancar a posição internacional do Japão. Gráfico 3 – Taxas de variação (%) do PIB do Japão (1961-2019) Fonte: WORLD BANK. World development indicators: GDP growth (annual %). Disponível em: <https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators>. Acesso em: 25 maio 2021. O país saiu da II Guerra em ruínas, as suas indústrias destruídas, mas, segundo aponta Ernani Torres (1999, p. 234), “os japoneses se aproveitaram habilmente das oportunidades que lhes surgiram, enquanto transitavam da situação de inimigos derrotados (1945) para a de segunda potência industrial do mundo capitalista (1968)”. Os resultados da balança comercial apresentados na unidade anterior, analisando a alta taxa de crescimento do PIB, fizeram com que houvesse um fortalecimento também das empresas japonesas, que passaram a buscar novas oportunidades de negócios no exterior, e, consequentemente, houvesse uma ampliação dos investimentos japoneses no exterior. -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 19 61 19 63 19 65 19 67 19 69 19 71 19 73 19 75 19 77 19 79 19 81 19 83 19 85 19 87 19 89 19 91 19 93 19 95 19 97 19 99 20 01 20 03 20 05 20 07 20 09 20 11 20 13 20 15 20 17 20 19 https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators 17 Com isso a pujança da economia japonesa passou a ser refletida e percebida também pelos investimentos diretos estrangeiros (IDE) japoneses no mundo. É facilmente observável pelo gráfico 4 que, ao longo da década de 1970, os valores são crescentes, e, nos anos 1980, o país passou a ser o segundo maior, atrás apenas dos EUA, chegando a ocupar a primeira posição nos anos de 1985 e 1988. Entre abril de 1986 e março de 1991, o total de investimentos externos japoneses somou US$ 227,2 bilhões e o Japão se tornou a maior nação credora mundial. Foram criadas indústrias japonesas na América do Norte, Europa e outras partes da Ásia. Os japoneses adquiriram propriedades estrangeiras, companhias, participações e títulos governamentais, particularmente do governo dos EUA, o qual tinha um crônico déficit no orçamento e estava sendo financiado por recursos japoneses (SMITH, 1995, p. 139). Gráfico 4 – Evolução do investimento direto estrangeiros dos oito principais países de origem em 1990 (US$ bilhões) Fonte: WORLD BANK. World development indicators. Atualizado em: 25 maio 2021. Disponível em: <https://data.worldbank.org/indicator/BM.KLT.DINV.CD.WD>. Acesso em: 20 jun. 2021. Essa performance dos IDE se refletiu na presença internacional. De acordo com o levantamento feito pela Fortune Global 500, entre as 500 maiores empresas do mundo em 1995, 149 companhias eram multinacionais japonesas (HONG et al., 2017, p. 52). Além disso, analisando os registros de 1995, entre as 10 maiores companhias do mundo, seis eram de nacionalidade japonesa, evidenciando o aproveitamento dos benefícios proporcionados ao Japão após o final pós II Guerra Mundial, não só para o crescimento da economia doméstica, mas também para a realização de negócios no exterior pelas empresas. Esses fatos serviram de argumentos aos que demandavam maior participação do Japão nas questões internacionais. 17,30 58,77 19,09 4,00 12,78 5,79 5,75 31,27 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 1970 1975 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 Japão Estados Unidos Alemanha China Países Baixos Canadá Suiça França https://data.worldbank.org/indicator/BM.KLT.DINV.CD.WD 18 Quadro 1 – Perda de posição das multinacionais japonesas 1995 2000 2005 20102015 2020 Mitsubishi Corporation General Motors Corporation Wal-Mart Stores, Inc. Wal-Mart Stores, Inc. Walmart Walmart Mitsui & Co., Ltd. Wal-Mart Stores, Inc. BP p.l.c. Royal Dutch Shell p.l.c. Sinopec Group Sinopec Group Itochu Corporation Exxon Mobil Corporation Exxon Mobil Corporation Exxon Mobil Corporation Royal Dutch Shell State Grid Sumitomo Corporation Ford Motor Company Royal Dutch/Shell Group BP p.l.c. China National Petroleum China National Petroleum General Motors Corporation DaimlerChrysler A.G. General Motors Corporation Toyota Motor Corporation Exxon Mobil Royal Dutch Shell Marubeni Corporation Mitsui & Co., Ltd. DaimlerChrysler AG Japan Post Holdings Co., Ltd. BP Saudi Aramco Ford Motor Company Mitsubishi Corporation Toyota Motor Corporation China Petrochemical Corp. State Grid Volkswagen Exxon Corporation Toyota Motor Corporation Ford Motor Company State Grid Corporation of China Volkswagen BP Nissho Iwai Corporation General Electric Company General Electric Company AXA Toyota Motor Amazon Royal Dutch/Shell Group Itochu Corporation Total S.A. China National Petroleum Corporation Glencore Toyota Motor Fonte: Elaborado pelo autor com base em Fortune Ranking. Global 500. Fortune Media. Vários anos. Disponível em: <https://fortune.com/global500>. Acesso em: 11 jun. 2021. Contudo também fica evidente que ao longo do tempo há uma perda das primeiras posições pelas multinacionais japonesas. Analisando os 10 primeiros colocados, nota-se que em 2000 quatro posições eram de empresas japonesas, depois é reduzido para uma em 2005, aumenta para duas em 2010 e cai novamente para apenas uma em 2015 e 2020. https://fortune.com/global500 19 O estudo de Paul C. Hong et al. (2017, p. 52) destaca ainda que não foi somente entre as 10 primeiras colocações que houve uma diminuição da presença japonesa, mas também entre o conjunto das 500 maiores do Fortune Ranking. Em adição aos dados, acrescentam-se mais duas colunas evidenciando que há uma tendência à diminuição de presença japonesa entre as 500 maiores até o ano de 2020, estabilizando-se um pouco acima das 50 empresas. Tabela 3 – Número de empresa japoneses entre as 500 maiores do Fortune Ranking ano 1995 2000 2005 2012 2013 2014 2015* 2020* número de empresas 149 107 81 68 62 57 53 53 * Anos de 2015 e 2020, extraídos do Fortune Ranking. Global 500. Fortune Media. Vários anos. Disponível em: <https://fortune.com/global500>. Acesso em: 11 jun. 2021. Fonte: Elaborado pelo autor com base em HONG et al. (2017, p. 52). Os dados evidenciam que, até os primeiros anos da década de 1990, havia fundamentos econômicos como o crescimento do PIB, o comércio internacional, o IDE e a AOD, além da presença de empresas do Japão no mundo que subsidiaram a projeção internacional desse país. Paralelamente à internacionalização de produtos, houve também um crescimento global de admiração pela cultura, pela tecnologia e pelas formas de administração japonesa. Desse modo, juntamente com o ganho do mercado mundial e a popularização de marcas como Sony, Casio, Toyota, houve um aumento do apreço à qualidade e à inovação tecnológica, técnicas de gestão da administração japonesa como just-in-time e kanban que passaram a ser um modelo a seguir, conforme aponta Celso Lafer (2018, p. 895): O Japão, por sua vez, oferece dupla contribuição para o enriquecimento das práticas capitalistas. Em primeiro lugar, inovou os modelos de gestão e funcionamento dos processos produtivos. Substituiu o “fordismo” por um novo conceito de produção integrada, com ênfase na inovação tecnológica e na redução de custos. Em segundo lugar, tanto em nível empresarial quanto de política governamental, o Japão incorporou a noção de planejamento estratégico, que redimensionou sobretudo as atividades de planejamento industrial, desenvolvidas de comum acordo entre o setor público e o setor privado e, sempre, com ganhos significativos em termos de competitividade. A ideia do planejamento industrial, com aplicabilidade dentro de programas de médio e longo prazos, reforça consideravelmente vantagens comparativas da economia japonesa em nível internacional e a distingue em muitos aspectos do modelo norte-americano. https://fortune.com/global500 20 Por extensão, houve uma grande expansão do interesse por elementos da cultura japonesa. Esse encantamento do mundo pelo Japão foi apresentado pelo professor Joseph Nye, como poder brando ou soft power, termo em inglês bastante difundido no ambiente das relações internacionais. Entretanto, apesar de todos esses fatores positivos presentes no Japão até o imediato pós- Guerra Fria que lhe concediam potencial para a ocupação de um papel de liderança global, esse fato não se concretizou como esperado. O que levou à frustração dessa expectativa? Um dos fatores apontados, que tiveram uma grande contribuição para esses resultados, foi o estouro da bolha econômica em 1991, resultado, entre outros fatores, do período de constante crescimento econômico que durou de novembro de 1986 a fevereiro de 1991, totalizando 51 meses. Após esse período, houve piora dos resultados econômicos e, os indicadores ao longo da década de 1990 passaram a apresentar uma tendência de enfraquecimento, conforme pode ser observado, por exemplo, no Gráfico 3, que mostra a taxa de variação do PIB. Contudo os impactos não se resumiram a uma perda de dinamismo no crescimento econômico, já que o estouro da bolha gerou impactos duradouros envolvendo deflação e perda de riqueza, pois houve uma forte queda no valor de ativos imobiliários e nas ações da bolsa de Tóquio, que ao se desvalorizarem afetaram tanto as empresas como também os consumidores japoneses que tinham realizado investimentos nesses mercados. A economia, além de crescer menos, entrou em estagnação, chegando a contrair nos anos de 1993, 1998 e 1999 (ver Gráfico 3). Nas relações internacionais, não é raro observar que o enfraquecimento de fatores econômicos afeta a atuação e a política externa dos países, mas no caso do Japão se destaca maior dependência desse fator, porque, desde o final da II Guerra Mundial, o país optou por restringir muito da sua participação internacional por meio de uma atuação econômica. Essa escolha foi fundamentada pela restrição ao uso de recursos militares à sua atuação internacional imposta pela Constituição do Japão. Autores como Donald K. Emmerson (1998) e Kim Sung-Han (1999) vão apontar ainda que, além do enfraquecimento das suas ferramentas de atuação externa, viram-se também três outras implicações desses problemas econômicos: i. O governo de Tóquio perdeu a autoconfiança para o exercício de um papel internacional mais amplo e afirmativo, revertendo a sinalização de disposição para uma maior atuação global manifestada, inclusive, pelas falas dos seus primeiros-ministros. ii. A crise econômica se tornou o foco da atenção do governo, que passou a concentrar os seus esforços para resolver os problemas econômicos internos. iii. Houve um enfraquecimento do status internacional do Japão, pois, se o crescimento e a pujança econômica fortaleciam a imagem global japonesa, a crise afetou negativamente a percepção do seu potencial de liderança. Yasuhiro Nakasone (2001) ratifica que o estouro da bolha econômica no Japão produziu impactos nas áreas econômica, política e social. Algumas das repercussões da perda de dinamismo econômico já foram apontadas, sendo possível exemplificar ainda mais com o impacto no volume 21 de ajuda externa oferecida pelo Japão. O país chegou à liderança internacional como maior fornecedor desse tipo de ajuda pela primeira vez em 1989 e manteve essa posição em boa parte da década de 1990 até 2000. Entretanto, a partir de 2000, os EUA retomam a liderança e a mantêm desde então. O Japão, por sua vez, mantevea segunda posição até 2005, depois passou a ocupar a quinta posição na maior parte dos anos. Já no campo da política, um impacto importante influenciado pela queda do dinamismo econômico foi a instabilidade que se instaurou no país, refletindo em constantes trocas de primeiros- ministros que exerceram curtos mandatos a partir da década de 1990, com exceção dos primeiros- ministros Junichiro Koizumi e Shinzo Abe, tema que será abordado no próximo módulo. A terceira área impactada pelos problemas econômicos ressaltados por Nakasone (2001) foi na área social, que se expressa pelo aumento dos problemas entre a população, como aumento da desigualdade social, criminalidade e prostituição juvenil. Em síntese, a economia japonesa influenciou e impulsionou a criação de cenários para um Japão como ator político internacional forte no pós-Guerra Fria. Contudo a percepção de relativo enfraquecimento da economia resultou em uma barreira a esse cenário, pois houve uma clara falta de disposição do governo de Tóquio, após o estouro da bolha econômica, em focar um aumento da capacidade de projeção internacional. Fragilidades impostas pela instabilidade política Analisando os mandatos dos primeiros-ministros do Japão a partir do final da Guerra Fria em 1989, observa-se que, ao longo dos anos 1990 até 2001, quando Junichiro Koizumi foi eleito primeiro-ministro do Japão, o país passou por um período de instabilidade política. Foram oito políticos com mandatos que duraram em média, menos de dois anos, as exceções foram Toshiki Kaifu (1989-1991) e Ryutaro Hashimoto (1996-1998), que também estiveram pouco mais de dois anos no cargo. 22 Tabela 4 – Duração de mandatos dos primeiros-ministros do Japão (1989-2001) primeiro-ministro início término total de dias Toshiki Kaifu (PLD) 10/08/1989 28/02/1990 203 Toshiki Kaifu (PLD) 28/02/1990 05/11/1991 616 Kiichi Miyazawa (PLD) 05/11/1991 09/08/1993 644 Morihiro Hosokawa (Partido do Novo Japão) 09/08/1993 28/04/1994 263 Tsutomu Hata (Partido da Renovação) 28/04/1994 30/06/1994 64 Tomiichi Murayama (Socialista) 30/06/1994 11/01/1996 561 Ryutaro Hashimoto (PLD) 11/01/1996 07/11/1996 302 Ryutaro Hashimoto (PLD) 07/11/1996 30/07/1998 631 Keizo Obuchi (PLD) 30/07/1998 05/04/2000 616 Yoshiro Mori (PLD) 05/04/2000 04/07/2000 91 Yoshiro Mori (PLD) 04/07/2000 26/04/2001 297 Fonte: PRIME MINISTER OF JAPAN AND HIS CABINET. Prime minister in history. Disponível em: <https://japan.kantei.go.jp/cabinet/0061-pre_e.html>. Acesso em: 21 jun. 2021. Considerando-se que a eleição para o cargo de primeiro-ministro no Japão é, oficialmente, para uma permanência de quatro anos, sendo possível ser reeleito, esses curtos mandatos têm como uma das causas, segundo Tomohito Shinoda (2000, p. 14) a disputa interna entre as facções do Partido Liberal Democrático (PLD), que vinha governando o país desde a década de 1955, graças à coalizão entre o Partidos Liberal e o Partido Democrático. Além das disputas intrapartidárias nos anos iniciais da década de 1990, também havia a insatisfação com as consequências do estouro da bolha de especulação financeira que impôs dificuldades à economia japonesa, bem como havia acusações de corrupção contra o governo do PLD. O partido, ao se manter durante décadas no poder, estabeleceu um sistema de relações do governo com os membros dos conglomerados econômicos – conhecidos como keiretsu – como bancos, empresas e as suas subcontratadas. Essas relações estavam sofrendo múltiplas acusações de corrupção, que depois se tornaram escândalos e afetaram de maneira significativa a classe política e as instituições. Essas denúncias de corrupção envolvendo pessoas do governo e do setor privado, https://japan.kantei.go.jp/cabinet/0061-pre_e.html 23 apesar de não serem exatamente uma novidade, trouxeram turbulências ao cenário político japonês, pois quase todos os políticos bem-sucedidos do PLD, incluindo o ex-primeiro-ministro Hosokawa, que saiu do partido para formar um novo em 1992, sofreram acusações de corrupção. Portanto, no final da década de 1980 e nos primeiros anos da década de 1990, o Japão passou por um período em que o PLD apresentou uma crise de liderança, conforme apontado por Ellis S. Krauss e Robert J. Pekkanen (2011), depois da saída de Nakasone, já que o LDP voltou a um padrão de tomada de decisão descentralizada e de relativa fraqueza na liderança. Já em 1989, aparecem os sinais de enfraquecimento do PLD, quando o partido perdeu a maioria na Câmara Alta. Em 1991, o fato de o Japão não ter conseguido atender às demandas feitas para participação no enfrentamento dos problemas da Guerra do Golfo, causada pela invasão do Kuwait pelo Iraque, também produziu questionamentos ao governo do PLD, aprofundando o abalo da sua imagem, que já estava deteriorada com a crise econômica de 1991 causada pela explosão da bolha, comprometendo ainda mais a liderança desse partido. Esse ambiente de escândalos e divergências entre as facções no PLD levou a defecções de políticos como Morihiro Hosokawa em 1992, que formou o partido do Novo Japão; e de Ichiro Ozawa e Tsutomo Hata em 1993, que fundaram o Partido da Renovação do Japão. Em 18 de junho de 1993, o então primeiro-ministro Kiichi Miyazawa do PLD sofreu um voto de desconfiança, e houve a eleição de Hosokawa para primeiro-ministro, rompendo as décadas de dominação do PDL. Entretanto, apesar de ser apontado como uma vitória da oposição, tanto Morihiro Hosokawa como Tsutomo Hata, que sucederam Miyazawa, foram dissidentes do PLD pouco antes de chegarem ao posto de primeiro-ministro. Se já havia dificuldade do governo japonês liderado pelo PLD para responder às demandas internacionais do pós-Guerra Fria, conforme declaravam os primeiros-ministros Takeshita e Kaifu, a saída desse partido do governo e os curtos mandatos dos governos de oposição também contribuíram para obstaculizar um maior compromisso e uma expansão da atuação internacional do Japão. Como se pode observar na Tabela 4, depois da saída de Toshiki Kaifu, o primeiro- ministro Miyazawa ficou menos de dois anos; o sucessor, Morihiro Hosokawa (Partido do Novo Japão) permaneceu menos de um ano; o mandato de Tsutomu Hata (Partido da Renovação) foi de apenas 64 dias e na sequência Tomiichi Murayama (Socialista) ficou cerca de um ano e meio. Portanto, apesar das expectativas de grandes mudanças nas políticas, a saída do PLD do governo fez com que surgissem incertezas sobre o futuro do Japão e dificultasse as projeções do final da década de 1980, isto é, de que o país pudesse ameaçar a posição de liderança norte-americana, uma vez que ficaram enfraquecidas, porque os governos de oposição que assumiram após Miyazawa não tinham uma estrutura partidária que permitisse realizar uma gestão administrativa e diálogos do governo com a burocracia de maneira eficiente. Isso dificultou não só as gestões das políticas domésticas, mas também a elaboração de uma política externa que contribuísse para ampliar o status internacional do Japão. 24 Com isso, fazendo-se uma análise retrospectiva, observa-se que a realidade das relações internacionais ficou marcada até o final da década de 1990 por uma tendência de continuidade na liderança global dos EUA e o Japão mantendo o papel de parceiro dos norte-americanos. Essa atuação já era sinalizada no início dos anos 1990, pelo professor Yoichi Funabashi (1991-1992), ao sugerir que o Japão desempenharia a função de auxiliador das políticas dos EUA como um “parceiro júnior” – em inglês, junior partner – ou um “assistente da liderança” – em inglês, supportive leadership. Reinhard Drifte (1990, p. 109) é outro autor que projetou um cenário semelhante, e apontando duas razões básica para isso: i. Faltava ao Japão elementos necessários para o status de um líder mundial no sentido tradicional, como: grande população; território amplo e uma economia de maior porte. ii. Faltava vontade políticacom apoio suficiente de forças internas, capazes de sustentar uma atuação internacional ampla. Essas avaliações se diferem das apresentadas por Takashi Inoguchi (1988), que sinalizava para uma liderança de maior projeção e proativa. Ainda no início dos anos 1990, Shiro Saitô (1990) também ressaltava que era necessário se fazer uma distinção entre uma “liderança de iniciativa” (termo em inglês, leadership initiative) e uma “liderança pelo exemplo” (termo em inglês, leadership example). Para o Japão o que foi projetado ao final dos anos 1980 era de uma “liderança pelo exemplo”, construída pelo modelo de nação pacifista, de um invejável sucesso no crescimento econômico associado à abertura de mercado, e pela sua cooperação internacional realizada pela AOD. Esse perfil de liderança aproxima-se do uso do poder brando, pois exige habilidade para influenciar outros com seus valores, diferentemente da liderança norte-americana, que se caracteriza por ser proativa, na medida em que possui capacidade de fazer outros se submeterem a sua liderança, inclusive por meio de imposição por força (SAITÔ, 1990, p. 186). Com os problemas na economia a capacidade de uso da “liderança pelo exemplo” se enfraqueceu, mas, além disso, acrescenta Tanaka Akihiko (1999), mesmo o poder econômico e militar sem uma firme vontade política não conduz à liderança, e o que se percebeu, como apontou Drifte (1990) também a disposição política do Japão foi afetada. Portanto, o Japão ingressa no século XX com uma situação internacional mais fragilizada, pois a economia não poderia ser mais o fundamento da sua liderança global, uma vez que, depois de uma década de baixo desempenho econômico, mesmo se mantendo como a segunda maior economia do mundo, a posição do Japão como modelo econômico passou a ser questionada. Nesta unidade, destaca-se que a situação política também não foi favorável devido à constante troca de liderança. O primeiro-ministro com maior mandato na década de 1990 Ryutaro Hashimoto, que permaneceu cerca de dois anos e meio – de 11 de janeiro de 1996 a 20 de julho de 1998 –, mas os seus sucessores novamente tiveram mandatos curtos, tanto Keizo Obuchi como Yoshiro Mori tiveram mandatos de menos de dois anos. 25 Diante desse cenário, abre-se uma nova discussão de inserção internacional japonesa, pois o país surgiu como superpotência econômica nos anos 1980. Nos anos 1990 o seu desempenho nessa área perdeu o brilho, mas, conforme aponta Lais Belini (2019, p. 23), “essa recessão faz com que se crie um motor que estimula o mercado de entretenimento popular, isto é, o da cultura pop japonesa, consolidando o país com uma superpotência cultural com influência global”, tema que será tratado no próximo módulo. Desafios do envelhecimento da sociedade Quando se discute a inserção internacional de um país, há vários elementos que podem ser listados para uma liderança mundial, conforme citado acima Reinhard Drifte (1990, p. 109), como: grande população, território amplo, economia de maior porte e vontade política. Nesta unidade, o tópico que será tratado está relacionado à evolução demográfica japonesa a partir do final da Guerra Fria. A população do Japão atingiu o seu ápice em 2008 com 128,08 milhões de habitantes, mas desde então vem apresentando uma tendência de diminuição. Essa redução reflete a queda no número de nascimentos no país ao longo das últimas décadas, ficando a partir de 2006 inferior ao número de mortes. Gráfico 5 – Histórico de nascimentos, mortes e população total do Japão (1988-2020) Fonte: Elaborado pelo autor com base em Time series tables: 1 total population (both sexes), 3 live births and 4 deaths. Disponível em: <https://dashboard.e-stat.go.jp/en/timeSeries?fieldCode=02>. Acesso em: 20 maio 2021. 120,0 121,0 122,0 123,0 124,0 125,0 126,0 127,0 128,0 129,0 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 20 10 20 12 20 14 20 16 20 18 20 20 MilhõesMilhões Total Mortes Nascimentos https://dashboard.e-stat.go.jp/en/timeSeries?fieldCode=02 26 Apesar da diminuição de a população estar ocorrendo a partir da primeira década do século XXI, a discussão sobre o perfil da sociedade japonesa vem-se aprofundando pelo menos desde o começo da década de 1980, quando a preocupação com o envelhecimento da sociedade passou a ser vista como um problema para o país. Em 1989, ano da queda do muro de Berlim, a quantidade de idosos de 65 anos ou mais representava 11,6% da população japonesa (COULMAS, 2007, p. 4). De acordo com Beatriz Kaori Lopes (2020), em 1985 o Japão se tornou o proporcionalmente a nação mais velha no mundo e, em 2020, a parcela dessas pessoas com mais de 65 anos representava 28,5% do total da população japonesa, atingindo o número de 35,58 milhões pessoas, sendo que “50% têm de 65 a 74 anos (idosos-jovens), 34% possuem 75 a 84 anos (idosos-velhos) e 16% possuem 85 anos ou mais (idosos-mais-velhos)” (LOPES, 2020, p. 37). Um dado positivo retirado dessas referências acima é que há alta expectativa de vida no país, “no Japão a média é de 84 anos, uma das mais altas da OCDE, quatro anos mais alta que a média da OCDE, que é de 80 anos. E a expectativa de vida das mulheres é de 87 anos, comparada a 81 anos para os homens” (OECD, [2020?]). Além disso, a melhoria das condições de vida e saúde fizeram com que o país possuísse o maior percentual de idosos mundialmente e ocupasse o topo do ranking de centenários, 0,048% da população total (LOPES, 2020, p. 60). Com tudo isso, o Japão passou a ser classificado como uma sociedade superenvelhecida, de acordo com os critérios apresentados por Florian Coulmas (2007, p. 5, tradução nossa): i. Sociedade em envelhecimento – 7-14% da população têm 65 anos ou mais. ii. Sociedade idosa – 14-21% da população têm 65 anos ou mais. iii. Sociedade superenvelhecida – 21% ou mais da população têm 65 anos ou mais. Bem, mas qual a relação desses dados demográficos com a inserção internacional do Japão? Um primeiro ponto a ser considerado é o impacto econômico que essas transformações na sociedade japonesa têm provocado, na composição do PIB japonês. Com a diminuição da população ao longo do tempo, o potencial de crescimento da economia japonesa baseada nesse fator também sofre redução. No Gráfico 6, pode-se observar que, desde o final dos anos 1980, o crescimento das despesas de consumo final no Japão tem apresentado um ritmo decrescente. Esse fato é relevante à medida que o mercado interno do Japão tem representado, desde 2008, segundo os dados do Banco Mundial, mais de 75% do seu PIB. 27 Gráfico 6 – Variação (%) anual das despesas de consumo final no Japão Fonte: WORD BANK. Final consumption expenditure (annual % growth). Japan: Data. Disponível em: <https://data.worldbank.org/indicator/NE.CON.TOTL.KD.ZG?end=2018&locations=JP&name_desc=false&start=1988>. Acesso em: 19 jun. 2021. Outra consequência importante que tem sido observado no país com a diminuição da população e o seu envelhecimento é a diminuição da força de trabalho, o que gera um duplo efeito negativo sobre a economia, pois o envelhecimento implica menor mercado interno, maiores gastos com pensões, diminuição das receitas fiscais e consequentemente menos recursos para investimentos governamentais, o que pode conduzir à contração do PIB e, por conseguinte, a um papel cada vez menor do Japão no mundo. Ainda não é possível afirmar taxativamente qual será o resultado dessas transformações. No momento, acompanhando-se o histórico do mercado de trabalho no Japão, pelo menos desde o final da década de 1980, nota-se que tem havido a necessidade de importações de mão de obra, e essa situação tem-se mantido presente nas primeiras duas décadas do século XX. Até o momento, não parece estar em curso uma solução fácil para esse problema, dado que a população estádiminuindo, e a taxa de natalidade no país, como já demonstrado no Gráfico 5, está em decadência. Dois recursos têm sido utilizados para atender à escassez de trabalhadores japoneses: a primeira é a importação de mão de obra, a segunda é a busca pela automatização e robotização de algumas atividades. Em relação à importação de mão de obra, pode-se salientar que essa necessidade teve reflexos inclusive sobre as relações com o Brasil, pois, a partir de meados da década de 1980, começaram fluxos de emigração brasileira ao Japão. Mas, contemporaneamente, esse tem sido um tópico importante e não fácil de ser tratado pelo governo, pois se de um lado há clara percepção da importância de trabalhadores estrangeiros para atender ao mercado de trabalho no país, de outro há uma forte resistência política contra a abertura do país à imigração. -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 https://data.worldbank.org/indicator/NE.CON.TOTL.KD.ZG?end=2018&locations=JP&name_desc=false&start=1988 28 Apesar das resistências, tem havido mudanças na legislação para a entrada de estrangeiros. Para o Brasil, a mais marcante foi a alteração ocorrida em 1989: A grande mudança ocorreu em junho de 1989, com a reforma da Lei de Controle da Imigração e do Reconhecimento de Refugiados (doravante denominada simplesmente como Lei de Imigração) que entrou em vigor no ano seguinte. Criou-se um novo status para os estrangeiros com ascendência japonesa, denominado “Residente por Longo Período”, o que possibilitou a ida em massa para o Japão de filhos e netos de japoneses, bem como de seus cônjuges brasileiros não descendentes (NINOMIYA, 2008, p. 27). Em decorrência dessa mudança, ocorreu um grande fluxo de imigrantes brasileiros ao Japão. Outra alteração importante foi a implementação do “Programa de Treinamento de Estágio Técnico” em 1993, que sob a justificativa de contribuir para a formação de profissionais dos países em desenvolvimento, em particular os do Sudeste Asiático, permitiu-se que imigrantes temporários viajassem ao Japão para trabalhar. Na prática, essa política autorizou que pequenas e médias empresas conseguissem trabalhadores a baixo custo (KINGSTON, 2014, p. 196). A partir de 1º de abril de 2019, uma nova legislação passou a permitir a extensão por cinco anos da permanência no país, mas sem a companhia dos seus familiares, para trabalhar depois de cumpridos os cinco anos de estágio (OBE, 2019; TOSHIHIRO, 2019). Esses casos são classificados com o status de Trabalhador Especializado Especificado Categoria I, definido para 14 setores pré- estabelecidos, incluindo agricultura, assistência aos idosos e construção, que costumavam ser considerados “não qualificados” e “semiqualificados” em esquemas de migração anteriores. Também ficou definida uma possibilidade de mudar para a Categoria II, que daria direito à imigração permanente, sendo para isso necessária maior qualificação profissional. Há ainda algumas análises que buscam dar uma visão mais otimista dos impactos que podem resultar dessa transformação da sociedade japonesa, afirmando que a geração dos babies boomers que estão para se aposentar possuem uma situação econômica que permitirá, com os gastos do dinheiro das suas aposentadorias, contribuir para uma revitalização da economia do Japão. Isso ocorreu porque, com esses recursos, há a demanda para um novo estilo de vida, elevando o consumo doméstico a novos patamares, impulsionando o surgimento de novas indústrias e resultando em novo crescimento econômico e tecnológico. 29 O Japão de fato tem investido no desenvolvimento de novas tecnologias que deem suporte às lacunas de trabalhadores e as complementem. Um exemplo que chamou atenção inicialmente foi o de recepcionistas robôs da rede Henn de hotéis,1 que no final de 2017 começou a instalação desse serviço. Entretanto a relação do Japão com os robôs começou no final dos anos 1960, envolvendo aplicações práticas na indústria japonesa já da década de 1970. Já a partir de 1980, há o início da implementação dos robôs de alta tecnologia e a expansão do mercado, que sofreu com a crise da década de 1990. Mas o século XXI tem sido marcado pela recuperação gradativamente desse setor, internamente pelos motivos já mencionados, mas também internacionalmente. Já no final de 2004, o Japão possuía 356.500 robôs industriais. Dessa forma, o país passou a ser o maior possuidor de robôs em operação, seguido dos EUA com apenas 122.000 (JETRO, 2006). O setor continua crescendo agora com os robôs para cuidados de pessoas, em particular dos idosos. “Em 2015, o mercado de carebots quantificou em 16,7 bilhões de ienes (US$ 155 milhões), com expectativa de chegar a 400 bilhões de ienes (US$ 3,72 bilhões) até 2035 e em eventualmente 1 bilhão em algumas décadas” (LOPES, 2020, p. 123). Atualmente, o governo do Japão tem desenvolvido a política da Sociedade 5.0, e entre os projetos apresentados há o tratamento cibernético, que é a incorporação de robôs que atendam aos comandos do cérebro, o que permitirá pessoas deficientes recuperarem movimentos (GOVERNMENT OF JAPAN, 2020). Enfim, apesar desses avanços tecnológicos, a melhora da economia japonesa passa, como foi apontado inicialmente, por um aumento da demanda doméstica, pois ela representa cerca de 75% do PIB do país. No entanto, incrementá-la tem sido um desafio, pois a sociedade japonesa com tendência de envelhecimento, aliada à baixa taxa de natalidade e à diminuição da população, tem gerado uma demanda menor, que acaba resultando em deflação. Isso desestimula a busca pelo consumo, pois os produtos tendem a ficar mais baratos no futuro, o que novamente prejudica a economia. Esse é mais um dos desafios para o futuro do Japão. Conclusão Conclui-se este módulo com a constatação de que havia, ao final da Guerra Fria, uma demanda e uma expectativa otimista para que o Japão ampliasse a sua participação internacional, fundamentada principalmente pelo destaque que o país obteve na sua grande recuperação econômica após o final da II Guerra Mundial. 1 World’s first robot-staffed hotels make business travel inroads. Japan in Video. Oct 23, 2018. Disponível em: <https://www.nippon.com/en/guide-to-japan/gu900045>. Acesso em: 20 jan. 2021. https://www.nippon.com/en/guide-to-japan/gu900045 30 O seu poder econômico de segunda economia mundial chamava atenção no comércio, nos investimentos e, também, na cooperação internacional por meio da AOD, tornando-se o maior fornecedor. Contudo, com a crise causada pelo estouro da bolha econômica em 1991, o governo japonês voltou as suas atenções para a recuperação do país. Além disso, ao longo da década, o baixo crescimento econômico foi erodindo o seu pilar de projeção internacional, que era baseado na sua pujança econômica. O envelhecimento da sociedade aparece com outro fator que gera preocupações sobre o futuro do Japão, além de já ter impactado negativamente a economia do país. Diante de todos esses fatores, as expectativas de um Japão como uma potência global que rivalizaria com o poder dos EUA se viram frustradas. Este módulo discorrerá sobre as mudanças institucionais no processo de elaboração da política externa japonesa. Ao longo do período do pós-Guerra Fria, houve uma busca de reestruturação das participações da burocracia estatal, dos políticos e do setor privado na formulação dessa política. Diante disso, a compreensão do papel de cada um desses atores é importante para se analisar também a formação dos interesses nacionais e a conduta que o Japão procura desempenhar nas relações internacionais do século XXI. Reformas na estrutura do governo A duração do processo de tomada de decisão é uma das queixas mais comuns entre os que negociam com o governo ou com as organizações japonesas. Uma das razões para a demora é o processo de tomada de decisão que tem as suas raízes no período feudaldo Japão, quando uma grande proporção da população japonesa vivia em vilas de cultivo de arroz, uma atividade exercida em uma escala pautada na ação coletiva, e não individual. Nesse contexto, faz mais sentido se unirem em comunidades inteiras nos campos para um trabalho de todos como um só grupo. Dessa forma, as decisões passaram a ser tomadas em conjunto, tendo os anciãos da aldeia o papel de protagonismo. Novamente, observando-se as tomadas de decisões dentro do âmbito da cultura japonesa, é comum que no processo os negociadores recolham informações para serem discutidas coletivamente e, nesse momento, um membro do grupo se sobressaia exatamente por ter uma experiência maior. Entretanto deve-se ressaltar que o resultado da decisão não necessariamente é consensual, como algumas análises, às vezes, costumam apontar em virtude do sucesso do crescimento econômico após a II Guerra Mundial, principalmente nos anos de 1960 e 1970. MÓDULO II – TRANSFORMAÇÕES DA POLÍTICA EXTERNA JAPONESA: ATORES, POLICY-MAKING E INTERESSES 32 Contudo existem autores que vão refutar se a facilidade das decisões no Japão não foi resultante do crescimento econômico desse período, e não o contrário. Shinkichi Eto (1976), por exemplo, mesmo na década de 1970, questionou esse consenso: Ou seja, o conceito ativo nem sempre é requerido e pode então haver casos em que o governo e o setor privado não necessariamente configurem uma frente única. Mais do que isso, há frequentes atritos entre eles e mesmo no interior desses setores, entretanto, as decisões têm como premissa um consenso passivo dentre os principais atores (PLD, líderes do setor privado e a burocracia) do processo decisório (ETO, 1976, p. 124). Ainda de acordo com esse autor, levanta a ideia da possibilidade de um conceito passivo de consenso, em que os atores, embora possuindo o poder de veto e podendo impedir as medidas, não o fazem mesmo quando a política apresentada não é inteiramente do seu interesse. Portanto conclui-se que, na política japonesa, existem posições e interesses nem sempre convergentes: a) Não existe uma única fonte de autoridade e, como resultado, não há concentração de poder no sentido de um Estado absoluto; b) Há um direito legítimo dos grupos políticos buscarem ou não influenciar o Estado; c) Esses grupos devem ser múltiplos, voluntários, competitivos, não hierarquicamente ordenados e em categorias autodeterminadas (ZHAO, 1993, p. 20 apud UEHARA, 2003, p. 30). Retomando o início desta unidade, as ações no Japão não são decorrentes de um pensamento homogêneo, mas existe a possibilidade de expressão de diferentes posições e, mais do que isso, a manifestação é estimulada inclusive de baixo para cima, por isso o processo demanda tempo. É o que aponta Naoki Kuriama (2020, p. 318) no seu artigo que discute como essas características de busca de objetivos que atendam às demandas de forma coletiva se refletem também na administração empresarial. A harmonização requer a adaptação das perspectivas de bases individuais para a realidade dos parceiros. Este processo de harmonização leva muito tempo para ambas as partes e deve envolver comunicação e atividades interativas. Por meio desse processo, ambos os lados esperam ações conciliatórias (de baixo para cima) para preencher a lacuna nos requisitos das partes interessadas; isso não é considerado um compromisso. Compromisso é encontro do caminho do meio. 33 Essa cultura de tomada de decisão está presente no país há séculos. Enquanto o Japão conseguia um crescimento econômico invejável, essa cultura era vista como positiva, pois garante que todos sejam ouvidos, envolvidos e preparados para implementar uma decisão. Ademais, ao dar oportunidade às pessoas poderem participar, o grupo se sente incluído, o que também é positivo. Além disso, pela ampla variedade de perspectivas em decorrência do número de pessoas consultadas para a tomada de decisão, gera-se a coleta e a análise de informações bastante completas, decisões cuidadosas e bem pensadas. Esses fatores dão conforto aos tomadores de decisão, mesmo que sejam demorados e complicados, pois existe uma busca na redução dos riscos. No entanto, com o estouro da bolha econômica e as dificuldades decorrentes a partir dos anos 1990, questionaram-se alguns aspectos do processo de tomada de decisão, assim propostas foram apresentadas. Neste texto, o foco será o governo, primeiramente analisando o Executivo e, em um segundo momento, a burocracia. O voto de desconfiança contra o primeiro-ministro Miyazawa em 1993 fez com que se rompesse a dominação de 38 anos do PLD, e assumisse um governo de “oposição”, colocado entre aspas, porque, conforme já informado nas sessões anteriores, os dois sucessores, tanto Morihiro Hosokawa quanto Tsutomu Hata, eram dissidentes do PLD. De qualquer forma, havia uma promessa de que esse novo governo romperia com a tradicional relação entre políticos, burocratas e empresas – sei-kan-gyo no yuchaku daha –, pois isso era apontado como uma questão urgente, que tinha como pano de fundo os escândalos de corrupção envolvendo o governo e empresas à época. Existe até um termo para designar um aspecto dessa relação triangular no Japão, que é amakudari, cujo significado é descer do céu. Na prática, são as relações entre o setor público e o privado, que fazem com que os burocratas japoneses de alto escalão, ao se aposentarem ou saírem do serviço público, sejam incorporados em cargos executivos no setor privado ou mesmo, em alguns casos, no próprio setor público. No seu artigo, Rei Shiratori (1995) faz uma análise detalhada de escândalos que marcaram a política japonesa. Podem ser citados: a) Escândalo Lockheed – Em outubro de 1983, o ex-primeiro-ministro Kakuei Tanaka foi condenado por ter aceitado US$ 2,1 milhões em subornos da empresa americana Lockheed em meados da década de 1970. b) Escândalo Recruit – No final de 1988, foi divulgado o esquema de propina envolvendo membros do PLD e empresários da empresa Recruit, que levou à renúncia do primeiro- ministro Takeshita Noburo. c) Escândalo Sagawa – Em agosto de 1992, o vice-presidente do PLD, Shin Kanemaru, foi acusado de receber uma contribuição política não declarada de 500 milhões de ienes do empresário Hiroyasu Watanabe, presidente da Sagawa Transportes. 34 Esses sucessivos escândalos enfraqueceram o PLD e, em 1994, levaram a oposição, por meio de uma coalizão, ao governo do Japão, sendo um dos temas importantes das suas políticas propostas o da reforma administrativa. Segundo Koichi Nakano (1998, p. 292) o partido Sakigake, também estabelecido com a participação de dissidentes do PLD, apesar de ser pequeno em face dos outros da coalizão, foi importante para a definição da agenda reformista, levando para dentro do governo essa pauta. E, continua esse autor, até pelo curto mandato da oposição, o PLD acabou assumindo o discurso da reforma administrativa quando percebeu que havia apoio popular. As reformas na política japonesa começaram a ser discutidas pelo primeiro-ministro Ryutaro Hashimoto em 1996, via formação do Conselho sobre Reforma Administrativa, do qual ele era o presidente. Hashimoto se concentrou na reforma do governo e, apesar das resistências de órgãos da burocracia, conseguiu aprovar a lei básica para a reforma de ministérios e agências promulgada em junho de 1998, dando os parâmetros para as reformas. De acordo com Koichi Nakano (1998, p. 305), as resistências foram reduzidas porque a redação do projeto foi deixada para burocratas, que estavam claramente determinados a tornar as novas condições menos inconvenientes para eles próprios. Ao final, a proposta de reforma política com Hashimoto se afastou da proposta inicial de “controle do governo” e, na responsabilização democrática dos burocratas, a ênfase passou a ser dada no corte de gastos e na reforma da estrutura organizacional, ou seja, o centro das mudançaspassou a ser no “como governar”. A lei da reforma basicamente previa a reorganização de ministérios e agências, medidas que buscavam fortalecer a função do primeiro-ministro e do gabinete, além de princípios de simplificação para a melhoria da eficiência do governo e a reorganização do gabinete para 12 organizações de nível ministerial. As reformas foram aprovadas em julho de 1999, já no mandato do primeiro-ministro Keizō Ōbuchi, e passaram a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2001, com o governo de Yoshiro Mori. Com isso, o gabinete seria reduzido de 23 organizações de nível ministerial para 12, principalmente combinando antigas agências burocráticas, substituindo o gabinete do primeiro-ministro por um novo gabinete. Com isso, de fato, a reforma administrativa em 2001 foi um divisor de águas, uma vez que foi a primeira revisão significativa da estrutura do governo central desde a promulgação da Lei da Organização de Administração Nacional em 1948, e teve por objetivo transformar um Estado burocrático tradicional em uma organização mais empresarial. A reforma contribuiu para a transparência da administração com a divulgação de informações – programas de governo eletrônico. Contudo faltou ao governo uma gestão mais centralizada da política relacionando os resultados da avaliação à elaboração de orçamentos, além de análises de políticas e performance de cada ministério. Em termos políticos, de acordo com o material produzido por Yuko Kaneko (1999, p. 5) da Agência de Gestão e Coordenação do governo do Japão, a reforma visou reforçar as funções de gabinete e autoridade do primeiro-ministro, assegurando uma liderança na medida em que garantia competência não apenas para coordenar, mas também para iniciar a formulação de políticas básicas. 35 Nos ministérios, buscou reforçar a liderança política ao estabelecer um sistema de vice-ministros, que deveriam ser políticos e nomeados para o gabinete e para cada ministério, posicionados entre o ministro e o vice-ministro administrativo (membro da burocracia). Além disso, foi introduzido o sistema de assessores políticos do ministro para participar da formulação de políticas, do planejamento e de assuntos políticos. Com isso o número de assessores aumentou de 186 em 2000 para 648 em 2005 (MAKIHARA 2009, p. 56 apud ZAKOWSKI, 2018, p. 19). A seguir, será analisado especificamente o papel do primeiro-ministro após essas reformas. Papel do primeiro-ministro No sistema político japonês, o primeiro-ministro é escolhido entre os políticos eleitos na Câmara Baixa da Dieta, pelo voto da maioria. No período posterior à II Guerra Mundial, a política japonesa foi dominada pelo PLD – criado pela fusão de dois pequenos partidos conservadores: o Partido Democrático do Japão e o Partido Liberal do Japão em 1955 –, que se manteve sucessivamente no governo até 1993. Essa predominância do PLD recebeu o nome de “Sistema 1955”, ano de criação do partido. As exceções de domínio do PLD foram em dois períodos 1993- 1994 e 2009-2011. A história política do Japão mostra que a duração dos mandatos dos primeiros-ministros, via de regra, tem duração de dois anos. Mesmo com o predomínio do LDP (1955-93), isso não significou mandatos longos, e uma das razões para a explicação dessa realidade foi o fato de o cargo de primeiro-ministro ter tido um número limitado de poderes formais. A ausência da clareza na legislação também dificultou a percepção de qual seria a sua autonomia e o seu poder. Por exemplo, o art. 66 da Constituição do Japão aponta inicialmente que primeiro-ministro será o líder do gabinete, no entanto, finaliza afirmando que “o gabinete, em exercício do Poder Executivo, deverá ser coletivamente responsável pela Dieta” (CONSTITUIÇÃO DO JAPÃO, 1946). No art. 72, define-se que o primeiro-ministro é o representante do gabinete, portanto, pode-se questionar o quanto ele é o líder e quanto é um simples representante do gabinete. Tomohito Shinoda (2011, p. 51) menciona que a Lei do Gabinete claramente limita o poder do primeiro-ministro no art. 3º, quando informa que a autoridade e a responsabilidade do Poder Executivo são divididas entre os membros do gabinete. Além disso, no art. 5º, ao definir que ele representa o gabinete, pois apresentará projetos de lei, orçamentos e outras propostas à Dieta, e apresentará um relatório à Dieta sobre assuntos nacionais gerais e relações externas” (CABINET LAW, 1947, tradução nossa). Em outras palavras, legalmente, a autoridade direta do primeiro-ministro está relacionada às operações administrativas do gabinete e das agências diretamente subordinadas, como a Agência de Serviços Financeiros e a Agência de Assuntos do Consumidor. Essa fraqueza para iniciativas próprias é histórica, e isso se refletia em uma maior participação da burocracia, que será tratada na próxima unidade. Essa situação levou a uma acomodação dos políticos, pois, apesar de os ministérios serem tecnicamente subordinados ao gabinete do primeiro-ministro, os 36 burocratas mantinham uma relação privilegiada como os ministros dentro dos respectivos ministérios. Mas, como os mandatos eram curtos, os ministros geralmente tinham pouco tempo para desenvolver conhecimento e ter autoridade para influenciar a tomada de decisões, com isso os burocratas dominavam as suas áreas. Nesse sistema em que o conhecimento técnico não era importante, pois isso era atribuição dos burocratas, os políticos do partido no poder eram nomeados para o gabinete não pelas suas qualidades e pelo seu domínio no setor do ministério, mas por negociações políticas internas ao partido. Esse fator ao longo do tempo foi enfraquecendo ainda mais a influência do primeiro-ministro nas políticas de governo, tendo grande dependência dos funcionários públicos dos ministérios. Contudo houve algumas exceções de mandatos de maior duração que, de acordo com Kingston (2014, p. 18), apresentaram um fato em comum entre os primeiros-ministros: todos eram líderes ativos e orientados por uma agenda. No caso desses políticos, muitas vezes, atribui-se a perenidade dos governos ao seu perfil pessoal, e não aos elementos legais formais. Essas características dos primeiros-ministros geraram um poder adicional que é informal e depende de cada um, podendo, por exemplo, representar em uma maior base de apoio no partido, ter um melhor relacionamento com a burocracia governamental, dependendo do seu carisma, uma maior popularidade, ou até mesmo, facilitar a negociação com os partidos de oposição. No período pós-Guerra Fria, Junichiro Koizumi foi o maior exemplo de popularidade e carisma, fator que contribui para o seu poder político. Com 85% de aprovação, Koizumi foi o político que conseguiu a maior popularidade entre 1989 e 2012, de acordo com o levantamento apresentado na Tabela 5, a seguir. Tabela 5 – Taxa de aprovação dos primeiros-ministros (1989 a 2012) primeiros-ministros maior taxa de aprovação (%) menor taxa de aprovação (%) Uno 28 28 Kaifu 56 35 Miyazawa 54 20 Hosokawa 71 57 Hata 47 47 37 primeiros-ministros maior taxa de aprovação (%) menor taxa de aprovação (%) Murayama 42 33 Hashimoto 53 31 Obuchi 49 23 Mori 39 7 Koizumi 85 39 Abe (primeiro mandato) 65 29 Fukuda 58 20 Aso 49 15 Hatoyama 72 21 Kan 65 16 Noda 60 20 Fonte: YAMAMURA, Eiji; SABATINI, Fabio. Superstars in politics: the role of the media in the rise and success of Junichiro Koizumi. Cornell University, Quantitative Finance: Economics, 2014, p. 17. Disponível em: <https://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1407/1407.1726.pdf>. Acesso em: 14 maio 2021. Entretanto, ainda que apontado como um aspecto importante no caso do Japão, a aprovação por si só não é suficiente, pois se tenta evitar que as decisões fossem percebidas como simples imposição, mesmo que o governo tivesse maioria. Portanto esses elementos não institucionais de poder, que variam de indivíduo para indivíduo, podem permitir
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