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Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) Autor: Pedro V.F. Medrado - Cerca de 90% dos casos de SAOS não são diagnosticados, sobretudo quando a síndrome atinge mulheres, idosos e pessoas não obesas. - A SAOS é caracterizada por eventos recorrentes de obstrução da via aérea superior (VAS) durante o sono, associados aos sinais e sintomas clínicos - Hipopneia – redução parcial do fluxo aéreo - Apneia – redução completa do fluxo aéreo - Interrupção periódica da ventilação resulta em geral na dessaturação da oxi-hemoglobina, e ocasionalmente, em hipercapnia - Os despertares, muitas vezes associados a esses eventos, apresentam-se c/ aumento abrupto da frequência do eletroencefalograma (EEG) e duração mínima de 3 segundos - Estimativas – 1,2 a 7,5% prevalência de SAOS – sonolência excessiva diurna (SED) e o índice de apneia e hipopneia (IAH). · Estudo Paulista – prevalência de 32,8% Fisiopatologia - Pacientes c/ SAOS tem faringe de tamanho reduzido e a forma alterada – passa de uma forma elíptica laterolateral para uma circular, que é mais suscetível ao colapso. - Pressão crítica de fechamento da VAS pode ser positiva como nos pacientes normais, mas em geral ocorre um desequilíbrio entre as pressões luminais da faringe · Aumento da pressão extraluminal associado à pressão intraluminal negativa gerada pela caixa torácica - Consequências da SAOS: · Alterações cardiovasculares – taquicardia; · Sonolência excessiva – despertar no EEG; · Aumento do risco de acidentes de trabalho e trânsito; · Alterações de humor; · Alterações neurocognitivas; · Alterações metabólicas. Quadro clínico - Roncos, pausas respiratórias durante o sono e sonolência excessiva são os sinais e sintomas mais comuns - Prejuízos das funções cognitivas – concentração, atenção, memória e função executiva - Alterações de humor, irritabilidade, depressão e ansiedade - Exame físico · Circunferência do pescoço e IMC · Presença de HAS · Hipertrofia de tonsilas palatinas, hipertrofia de cornetos e desvio de septo nasal · Pilares volumosos e medianizados · Palato-web – inserção baixa dos pilares posteriores formando uma membrana bilateral paralelamente à extensão da úvula · Palato mole posteriorizado, espesso e c/ úvula alongada – diminuição do espaço retropalatal · Hipoplasia da maxila · Alterações do desenvolvimento da mandíbula – retroposição mandibular · Alterações dentárias · Anatomia desproporcional da cavidade oral · Hipodesenvolvimento da estrutura óssea bimaxilar – classificação de Mallampati III e IV - Classificação de Angle - Classificação de Mallampati Diagnóstico - A polissonografia (PSG) de noite inteira em laboratório do sono, sob supervisão de técnico habilitado – alto custo e baixa oferta em laboratórios (limitado para diagnóstico) - Com base na PSG, os eventos respiratórios são definidos como apneia, hipopneia e despertares relacionados ao esforço respiratório - Apneia – o evento respiratório deve englobar todos os critérios: 1. Queda da amplitude do registro do termistor maior ou igual a 90% da linha de base; 2. Duração mínima do evento de 10 segundos 3. Pela linha de base, c/ duração mínima de 10 segundos, associada à dessaturação da oxi-hemoglobina maior que 3% ou a um despertar do EEG. - Despertares relacionados ao esforço respiratório – ocorre um evento de 10s ou mais, caracterizado por aumento do esforço respiratório que leve a um despertar do EEG. · A, B + D OU C+D - Monitorização cardiopulmonar ambulatorial no domicílio sem supervisão tem sido usada para diagnóstico da SAOS, e é recomendada quando: · A pacientes c/ forte suspeita de SAOS sem outras comorbidades ou outros distúrbios do sono; · Quando a PSG padrão não está disponível; · Quando o paciente não pode realiza-la no lab de sono por imobilidade, doença clínica ou segurança; · Para monitorar o tratamento da SAOS que não o CPAP. - Se a monitorização cardiopulmonar vier negativo em paciente c/ suspeita de SAOS – é mandatório a indicação de PSG padrão - PSG do tipo split-night consiste na mesma noite em registro inicial para o diagnóstico de SAOS seguido de titulação da pressão positiva da via aérea. · É um exame alternativo para casos graves, e não deve ser usado de rotina - PSG diurna e oximetria não são recomendados como métodos diagnósticos Tratamento - Medidas gerais e CPAP (continuous positive airway pressure) · Higiene do sono · Medidas comportamentais · Perda de peso · Retirada de drogas que agem na musculatura das VAS – benzodiazepínicos, barbitúricos e narcóticos · Diminuição do consumo de álcool · Mudança da posição do corpo durante o sono – evita-se o decúbito dorsal · CPAP – terapia de escolha, especialmente em quadros moderados a graves · Gera e direciona um fluxo de ar contínuo por um tubo flexível · Pressão positiva – coxim pneumático e o palato mole se projeta sobre a base da língua · Dilatação de todo o trajeto da VAS – desobstruindo-a · Benefícios · Abolição das apneias, hipopneias e roncos · Aumento da SatHbO2 noturna e diminuição dos despertares · Diminuição da queixa de Sonolência Diurna Excessiva (SDE) · CPAP deve ser usado por pelo menos 4hrs/noite – melhorar SDE · CPAP por pelo menos 6hrs/noite – melhora SDE objetiva por teste de latências múltiplas do sono · CPAP por pelo menos 7,5hrs/noite – melhora da qualidade de vida FOSQ · É preciso de uma orientação médica – maior adesão à terapia · Se usa CPAP adequadamente, e continua c/ queixa persistente de SDE? · Avaliação clínica e exames complementares – polissonografia e TLMS · Rever diagnóstico, a pressão ideal do CPAP, adesão ao TTO, presença de outros distúrbios associados, higiene do sono e uso de medicações sedativas. · Explicação: vários anos de fragmentação do sono e hipoxemia, ou ambos. · Estimulantes do SNC – modafinila pode ser eficaz - Aparelhos intraorais (AIO) · São usados na cavidade oral p/ prevenir o colapso entre os tecidos da orofaringe e da base da língua durante o sono – reduz obstrução na VAS · É uma opção reversível e simples, boa aceitação e tolerância pelos pacientes · Mecanismo de ação – ativação dos músculos da VAS e do genioglosso · Dois aparelhos · Retentores linguais (ARL) – bulbo p/ retenção da língua durante o sono · Pacientes c/ condição dentária insatisfatória – perdas dentais extensas, doença periodontal, uso de prótese parcial · Línguas volumosas e limitação do movimento mandibular · Reposicionadores mandibulares (ARM) – mais usado – protruir mecanicamente a mandíbula · Proporciona maior liberdade no movimento mandibular · Oferecem maior conforto e são mais bem tolerados · Indicação primária para AIO · Pacientes c/ ronco primário e SAOS leve · Pacientes c/ SAOS leve à moderada que não responde ao CPAP · Pacientes intolerantes ou se recusam o CPAP · Terapia substitutiva de curta duração à cirurgia, para contraindicados · Contraindicações para AIO · Pacientes c/ apenias predominantemente centrais · Doença periodontal ativa c/ sintomas significativos · Disfunção temporomandibular grave (DTM) c/ sintomas significativos · Bruxismo do sono não é contraindicação, mas alguns pacientes podem fraturar o aparelho, o que requer acompanhamento. · Benefícios · Reduz índice apneia-hipopneia (IAH) · Melhora SatHbO2 · Melhora arquitetura do sono e reduz despertares · Melhora a SDE · Redução da PA no início da manhã, final do sono e início da vigília · Melhora da cognição e da qualidade de vida · Efeitos colaterais – precisam ser falados, que são temporários e raros casos é preciso suspender o TTO · Salivação excessiva, boca seca/xerostomia, dor/desconforto nos dentes de apoio, dor nos tecidos moles intrabucal, dor/desconforto nos músculos da mastigação. · Na maioria das vezes são transitórios e superáveis Tratamento cirúrgico - É uma opção devido à dificuldade de adesão à terapia c/ aparelhos de pressão aérea positiva - A indicação da cirurgia depende de uma adequada avaliação pré-operatória, que inclui avaliações clínicas da VAS, craniofacial e polissonografia. - Cirurgias nasais · Objetivo: aumentar permeabilidade das fossas nasais e diminuir a resistência da VAS ·Septoplastia – correção de desvio de septo · Turbinectomia, cauterização linear ou radiofrequência – redução das conchas nasais inferiores · Melhora qualidade de vida, mas não melhora parâmetros respiratórios polissonográficos · É capaz de reduzir os níveis terapêuticas do CPAP – uso mais confortável e melhor adesão - Uvulopalatofaringoplastia (UPFP) e suas variações técnicas · Consiste na exérese de parte do palato mole e da úvula, c/ ou s/ tonsilectomia · Melhores resultados · Mallampati I ou II e IMC<40kg/m² - Estágio I de Friedman · Recomenda-se tentar o uso de CPAP em casos graves, e AIO em casos moderados antes de iniciar UPFP. - Uvulopalatoplastia a laser de CO2 (LAUP) · Consiste na exérese de parte do palato mole e da úvula c/ laser de CO2 · É a que apresenta maiores taxas de complicação – dor e estenose velo-faríngea · É usada APENAS para o tratamento do ronco, NÃO se deve empregar para tratar SAOS · Poupa a linha média, atua principalmente na parede lateral - Radiofrequência · Redução volumétrica dos tecidos por aplicação de energia térmica de baixa intensidade na submucosa – desnaturação proteica e termocoagulação · Indicação · SAOS leve e moderado que não tolerou/não aderiu ao CPAP, ou nos quais o AIO não foi efetivo. · Complicações – raras · Abscesso e parestesia dos nervos hipoglosso e lingual · Melhores resultados – portadores de ronco primário ou SAOS leve e tonsilas normotróficas - Implantes palatais · Minimamente invasivo c/ inserção submucosa de três implantes de poliéster rígidos na parte central do palato mole – diminui vibração e colapso · Indicado · SAOS leve que não toleram ou não aderiram ao CPAP/AIO não efetivo - Aplicação de substâncias esclerosantes · Objetivo – causar enrijecimento do palato mole por fibrose tecidual por lesão tecidual química na submucosa – reduz vibração do palato e o ronco · Não há estudos que avaliem o impacto do tratamento na SAOS - Glossectomia de linha média · Parciais e medianas – diminuir o volume em relação à orofaringe · Indicado · Pacientes c/ sitio de obstrução na base da língua · Resultados insatisfatórios – taxa de sucesso de 50% · Complicações – edema e sangramento - Cirurgias craniofaciais · Objetivo – aumentar o espaço retrolingual e assim prevenir o colapso da faringe · Fase I do protocolo de Stanford (+UPFP) – sucesso de 39-79% · Avanço maxilo-mandibular (AMM) – Fase II do protocolo de tratamento de Stanford · Taxa de sucesso de 82% · Eficaz a curto e longo prazo · Complicações – oclusão dentária, parestesia facial transitória e insuficiência velofaríngea · Preditores de sucesso cirúrgico · Idade mais jovem · menor IMC · menor IAH basal pré-operatório · Maior grau de AMM - Traqueostomia · É a cirurgia mais efetiva no tratamento de SAOS · Bypass abaixo da área de colapso, ou seja, abaixo da faringe. · Reservada para · SAOS grave, associada a hipoxemia acentuada e comorbidades cardiovasculares que não responde ou não se adapte a CPAP · Arritmias cardíacas e cor pulmonale · Obesidade grau III (IMC>40kg/m²) · Pacientes c/ deformidades craniofaciais graves – CPAP impossível · Temporariamente – prevenção a complicações respiratórias de outras cirurgias faríngeas ou craniofaciais Tratamentos alternativos - Reposição de estrogênio e/ou progesterona em mulheres no climatério, hormônios tireoidianos e bromocriptina – benefício na SAOS, mas não como medida única. - Recentes estudos – acunputura, fonoterapia, música, instrumentos de sopro e eletroestimulação do m. genioglosso
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