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GESTÃO EMPREENDEDORA E INOVAÇÃO Marcia Maria da Graça Costa , 2 2 O PROCESSO EMPREENDEDOR Para a criação de um novo empreendimento, seja uma nova empresa ou um projeto em organização já existente, é necessária uma boa ideia, com potencial para se transformar em uma oportunidade de negócio. Mas as boas ideias não surgem assim tão facilmente, ao contrário do senso comum, elas são resultado de observação e direcionamento. A habilidade de utilizar a criatividade para gerar novas ideias tem sido o fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações, pois é por elas que são geradas as inovações e é possível construir vantagens competitivas. Esses resultados somente poderão ser obtidos se as ideias forem analisadas e resultarem em oportunidades de negócio. Mas não basta só isso, é preciso analisar se esse negócio é viável, quais serão as fontes que financiarão a sua concretização e de que forma será feito o gerenciamento que garante a sua sobrevivência. Novos empreendimentos, portanto, dependem de um processo estruturado para que possam se tornar negócios de sucesso. É sobre esse processo que trataremos nesta etapa. 2.1 Fatores que influenciam o processo empreendedor O processo empreendedor tem início a partir de fatores originados por alguns acontecimentos, e que levam à decisão de avaliar a possibilidade de criação de um novo negócio. Dornelas (2018) demonstra os principais fatores na figura a seguir. , 3 Figura 2.1 - Fatores que influenciam o processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 32). Observe que são diversos tipos de fatores que exercem influência sobre todo o processo de empreender. Desde o início do processo, os fatores pessoais tem participação relevante nas decisões do empreendedor. Características como assumir riscos dividem o espaço com fatos ocorrido na vida pessoal, como uma demissão ou a insatisfação com o emprego atual. Em paralelo, a vida social também influencia a tomada de decisão, fatores como o círculo familiar e a influência dos pais podem gerar a decisão de empreender. No entanto, os aspectos externos também participam do contexto, pois as oportunidades estão presentes no cenário externo, a partir da identificação de problemas ou necessidades de uma parcela da população, que poderiam ser solucionadas ou atendidas com o negócio. A existência de fatores facilitadores e dificultadores, como os recursos e o ambiente de negócios, consolidam o quadro no qual uma ideia pode resultar em uma oportunidade e se concretizar por meio de um negócio com chances de sucesso. , 4 Ao observar mais atentamente a figura 2.1, vemos que a inovação está no início do processo empreendedor, pois ela é a semente do processo. De maneira geral, quando falamos de inovação, nos referimos à inovação tecnológica e seu papel no desenvolvimento econômico mundial. Esse tipo de inovação implica a análise mais aprofundada de quatro fatores críticos, como apresentados por Dornelas (2018) na figura que segue. Figura 2.2 - Fatores críticos para o desenvolvimento econômico Fonte: Dornelas (2018, p. 32). A figura evidencia o talento do empreendedor como ponto de partida para gerar inovações. É a sua percepção, aliada à dedicação e trabalho comprometido que resultam nas inovações que proporcionam a diversidade e o desenvolvimento de novos negócios. No entanto, Dornelas (2018) alerta que o talento precisa ser alimentado por ideias, representadas na figura 2.2 pela tecnologia. A associação de boas ideias com o talento empreendedor dá início ao processo empreendedor. Para colocar o processo em movimento, a fonte de energia que funciona como combustível do negócio é o capital. Por fim, as competências (know-how), como ingredientes finais e que resultam do conhecimento e da habilidade, geram a sinergia necessária para combinar talento, tecnologia e capital que viabilizam o desenvolvimento do negócio. , 5 A partir dessas discussões iniciais, é possível compreender o processo de empreender, como proposto por Dornelas (2018), e as suas etapas, que estão consolidadas na figura a seguir. Figura 2.3 - O processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 34). Cada uma das etapas desse processo será detalhada nas seções a seguir. 2.2 Identificar e avaliar oportunidades Existem muitas fontes de ideias que podem ser convertidas em oportunidades para novos negócios. Para Maximiano (2012), é possível agrupar as fontes de ideias em duas categorias: a criatividade do empreendedor e o mercado potencial. Dessa combinação, resultam algumas possibilidades, tais como as da figura a seguir. , 6 Figura 2.4 – Possibilidades de novos negócios Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012). Com ajuda de Maximiano (2012), vamos explorar um pouco mais cada uma dessas possibilidades. Novo negócio com base em novo conceito É o modelo básico do empreendedorismo, quando se cria um conceito novo e revolucionário o suficiente para criar um novo mercado. Significa criar um negócio baseado em ideias de produtos que ainda não existem. São ideias que utilizam a tecnologia para criar soluções que, muitas vezes, tornam obsoletos os existentes e viabilizam oportunidades que antes não eram possíveis. São exemplos desse tipo de negócio o Whatsapp, que foi viabilizado pela transformação dos telefones celulares em smartphones; e o Netflix, que se tornou viável com o acesso à internet pelos aparelhos de televisão. , 7 Novo negócio com base em conceito existente É um empreendimento que nasce a partir de ideias que já existem, no qual o empreendedor pode exercer sua criatividade para agregar diferenciais em relação ao modelo de negócio que existe no mercado. Dessa forma, um tipo de negócio existente pode ser redirecionado a novos mercados que não estão sendo atingidos. São exemplos desse tipo de possibilidade os mercados nos quais não existem caixas, ao final as compras, os consumidores passam os produtos por equipamentos que totalizam o valor a pagar, bastando inserir o cartão de crédito ou débito para realizar o pagamento. Necessidades dos consumidores A ideia desse tipo de negócio é identificar necessidades não atendidas ou atendidas de maneira inadequada. O empreendedor precisa estar atendo às reclamações e sugestões de consumidores. Atualmente, com a disseminação das redes sociais digitais, muitas ideias e oportunidades podem ser identificadas a partir dos comentários de consumidores sobre as carências existentes em determinados mercados. Serviços como consertos e pequenas reformas, por exemplo, passaram a ser demandados em virtude da falta de tempo devido ao trabalho e do aumento de pessoas que moram sozinhas. Eles deram origem a negócios do tipo “marido de aluguel”, em uma alusão ao que era feito pelos antigos “chefes de família”. Aperfeiçoamento do negócio É partindo de um modelo de negócio existente que essa possibilidade se apresenta. Aqui, o aperfeiçoamento costuma ser realizado com adequação de preços, meios de distribuição, dentre outras possibilidades, de maneira que o desempenho de funções existentes seja feito de maneira nova e aprimorada. O atendimento médico em ambiente virtual, por exemplo, permite que o processo de solicitação de exames e de medicamentos seja feito também de maneira digital. O que viabiliza o , 8 aperfeiçoamento do negócio de farmácias com o recebimento de receitas digitais e a entrega de medicamentos em domicílio. Exploração de hobbies Até mesmo as atividades de lazer que o empreendedor realiza podem criar oportunidades de negócios. Isso acontece quando são identificadas possibilidades comerciais de aplicação em algum grupo social. Alguém que pratica surfe, por exemplo, pode perceber a oportunidadede abrir um negócio para a comercialização de produtos para praticantes do setor. Derivação da ocupação O sucesso obtido pelo empreendedor na sua atuação profissional pode representar uma possibilidade de oferecer suas competências na forma de um negócio. Isso costuma acontecer com profissionais da contabilidade, por exemplo, que abrem seus escritórios após atuar na área corporativa. O mesmo se observa com diversos profissionais que aproveitam a experiência adquirida para abrir empresas de consultoria. Observação de Tendências As rápidas transformações da sociedade trazem mudanças comportamentais que podem resultar em oportunidades de negócios para atender novos mercados que nascem a partir dessas mudanças. A crescente consciência ambiental, por exemplo, demanda produtos e serviços em várias áreas, como produção de energias limpas, reciclagem e aproveitamento de resíduos, redução de consumo pelo compartilhamento de produtos, dentre outros. Também cabe destacar as mudanças alimentares, com o crescimento do consumo de produtos orgânicos e do veganismo. , 9 Diferenciando ideias de oportunidades Um ponto fundamental na identificação de oportunidades é a sua diferença em relação a simples ideias. A geração de várias ideias não significa que todas elas se transformarão em negócios de sucesso. É por isso que o empreendedor precisa estar atento ao cenário para avaliar de maneira ampla como uma ideia pode se tornar uma oportunidade de sucesso. Nesse sentindo, uma ideia isolada não tem valor se não for transformada em algo cuja implementação seja viável, visando atender a um público-alvo que faça parte de um nicho de mercado mal explorado. Isso é detectar uma oportunidade. (DORNELAS, 2018, p. 49) É preciso, portanto, que ideias e oportunidades sejam analisadas em relação às competências do empreendedor e às possibilidades do mercado para o qual se destinam. O processo de planejamento de um negócio deve compatibilizar essas duas perspectivas. De um lado, a compreensão que o empreendedor possui acerca de seus conhecimentos, habilidades e limitações; de outro lado, analisar os interesses e as limitações do mercado (MAXIMIANO, 2012). Dentre esses fatores, o principal fator a ser considerado pelo empreendedor é o potencial de mercado. Afinal, existe mesmo um público-alvo interessado no que o negócio oferece? Para avaliar o potencial de mercado, Maximiano (2012) apresenta alguns critérios para auxiliar o empreendedor. Veja no quadro a seguir. , 10 Quadro 2.1 – Critérios para avaliar o potencial de negócios Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012, p. 32). Além da avaliação do mercado, também é preciso avaliar o potencial dos novos produtos e serviços, Maximiano (2012) recomenda algumas ações, sintetizadas no quadro que segue. Quadro 2.2 - Fatores críticos para o sucesso de novos produtos Fonte: elaborado pela autora com base em Maximiano (2012, p. 31). Viabilidade de mercado Concorrência Viabilidade de produção Controle governamental Investimento inicial e retorno O produto tem compradores potenciais? Quem são os concorrentes? Existem componentes e matérias-primas para fazer o produto ou prestar o serviço? Há controle governamentais sobre o produto ou tipo de negócio? Qual o investimento necessário? Com que frequência o produto seria comprado? Quantos são? Existem máquinas, equipamentos e instalações? Há necessidade de licenciamento ou aprovação prévia? Qual o período de retorno desse investimento? Quem compraria? Onde estão? Existe mão de obra qualificada? Quanto precisa ser investido para atender a legislação? O retorno está equilibrado com os riscos do investimento? Quantos comprariam? Quais são as suas vantagens competitivas? Qual a necessidade de investimento e de experimentação? Onde estão os compradores? Qual é o alcance e a eficiência dos seus canais de distribuição? Qual o investimento necessário para viabilizar a produção? Qual preço aceitariam pagar? Há barreiras para novos ingressantes? Há sazonalidade no fluxo de compras? Quais são os fornecedores concorrentes? Fator-chave Descrição Pesquisa de marketing A pesquisa de marketing é crucial para evitar que o produto fracasse. Sua desvantagem é o alto custo. Um exemplo desse tipo de pesquisa seria o teste de um novo alimento nas entradas de teatro e cinema e nos supermercados. Atendimento de uma necessidade Requisito essencial do novo produto ou serviço é ser realmente necessário para os consumidores. Por isso a necessidade de aplicar testes para aferir o nível de necessidade. Vantagem do produto O produto deve ser superior aos concorrentes em atributos como qualidade, aparência, tecnologia e praticidade. Qualidade e preço adequados Se o produto tiver baixa qualidade ou preço elevado, em relação ao mercado, o consumidor não irá procurá-lo novamente. Escolha dos canais de distribuição Uma decisão crítica com novos produtos envolve os canais de distribuição. A definição dos locais de vendas e da forma de fazer o produto chegar aos clientes é determinante para o sucesso. , 11 O último ponto a ser avaliado é a aderência entre o perfil do empreendedor e a ideia de negócio. De acordo com Dornelas (2018), é comum um empreendedor investir em uma ideia com vasto potencial de mercado, mas em um setor de atividade que ele conhece muito pouco ou em um ramo no qual nunca atuou. Esse fato reduz drasticamente as chances de sucesso, pois é necessário que o negócio tenha relação com o perfil profissional do seu criador. O autor recomenda que os empreendedores invistam seu tempo e seus recursos em negócios em áreas que conheçam e tenham alguma experiência, ou pelo menos, que algum dos sócios já tenha trabalhado. Muitos empreendedores são atraídos por setores nos quais existe elevada possibilidade de obter rendimentos financeiros, mesmo sem qualquer conhecimento do assunto. Dornelas (2018, p. 51) lembra que, “em primeiro lugar, vem a paixão pelo negócio; ganhar dinheiro é consequência”. 2.3 Desenvolver o Plano de Negócios A expressão “Plano de Negócios” é originada da expressão inglesa Business Plan, um documento organizado a partir de análises estratégicas para avaliar uma oportunidade de negócio. É um documento de planejamento dinâmico destinado a descrever um negócio, descrevendo estratégias operacionais, a inserção do empreendimento no mercado e os seus resultados financeiros. Além de ser um importante documento estratégico, o Plano de Negócio também auxilia o empreendedor a compreender melhor o negócio, o seu ambiente e as diversas variáveis envolvidas. (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). Os autores Dornelas (2018) e Fabrete (2019) afirmam que o Plano de Negócios permite a organização das ideias e o direcionamento do negócio para que ele tenha condições de ser concretizado. Permite a documentação e o gerenciamento das análises internas e externas, viabilizando a identificação das condições nas quais o negócio é viável, auxiliando na prevenção de riscos futuros e aumentando suas chances de , 12 sobrevivência e crescimento sustentável. Dornelas (2018), propõe a estrutura do Plano de Negócios conforme a seguinte figura. Figura 2.5 – Estrutura do plano de negócios Fonte: elaborada pela autora com base em Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012). Sumário executivo: É a primeira seção do Plano de Negócios que será lida, portanto, deve ser elaborada de maneira a manter a atenção do leitor e despertar seu interesse pelo conteúdo de todo o plano. Trata-se de uma síntese do que é o negócio, seus diferenciais e vantagens competitivas, motivo de o empreendedor ter escolhido o setor ou ramo de atividade. Também deve conter um resumo das principais informações que indicam a viabilidadedo negócio, tais como investimento necessário, projeção de demanda e de receitas e as expectativas de retorno. É a última parte a ser desenvolvida, pois depende de todas as outras seções para que a síntese represente a totalidade do plano (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018; RAZZOLINI FILHO, 2012). , 13 Análise estratégica ou Plano Estratégico: Nesta seção, deve ser apresentada a análise do segmento de mercado no qual o negócio será implementado. De acordo com Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012), o empreendedor deve demonstrar que realizou uma pesquisa aprofundada e que, portanto, conhece muito bem o setor. A primeira parte é a análise dos ambientes internos e externos, para identificação de ameaças e oportunidades. Também deve ser demonstrada a avaliação da concorrência atual e futura e a situação dos fornecedores. Para essa análise, recomenda-se a utilização das metodologias Análise SWOT1 e Análise Competitiva de Michael Porter2. Inclui, ainda, a descrição do consumidor ou público-alvo do negócio, tais como segmentação, projeções de crescimento, eventual sazonalidade de demanda. Por fim, deve incluir a missão do negócio, seus valores e uma visão de futuro da empresa, que inclui uma síntese de objetivos e metas para um período mínimo de cinco anos. Descrição ou Caracterização da empresa: Descrever como surgiu a ideia do negócio, ou seja, como foi identificada a oportunidade e, a partir dela, a possibilidade de abrir uma empresa. Apresentar qual será a sua forma jurídica e o enquadramento tributário, identificando os principais tributos (impostos, taxas e contribuições) que incidirão nas receitas e/ou lucros do negócio (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018). 1Análise SWOT (Strenght, Weakness, Opportunities and Threats) é a ferramenta que auxilia na construção de uma matriz que apresenta Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades dos agentes que irão interagir com o negócio, tais como situação de mercado, concorrentes, cliente e fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 212). 2Também chamada de análise das cinco forças, é um modelo desenvolvido por Michael Porter para análise de mercados, identificado as forças que atuam sobre ele e refletem no potencial de lucratividade das empresas desse mercado. As cinco forças são: ameaça de novos entrantes, intensidade da rivalidade entre concorrentes existentes, ameaça de produtos substitutos, poder de negociação de clientes e poder de negociação de fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 53). , 14 Plano de Marketing: É o plano que descreve como o negócio será inserido no mercado. Para isso, é preciso apresentar um estudo de previsão de demanda, que servirá de base para a posterior projeção de vendas e receitas. O Plano de Marketing, como recomenda Biagio (2013), também apresenta como foi organizado o composto de marketing3 do negócio, ou seja: • Produtos e/ou serviços: características, funcionalidades e diferenciais do portfólio que serão oferecidos pela empresa. É interessante incluir também a forma como são produzidos, o ciclo de vida e os recursos tecnológicos envolvidos; • Preços: estratégias e políticas de preço; • Distribuição: localização, formas de comercialização, canais de distribuição, parceiros comerciais; • Promoção e comunicação: ferramentas utilizadas para apresentar o negócio e seus produtos. Plano operacional: É nesta seção que o empreender apresenta o processo produtivo do negócio, ou seja, como serão fabricados os produtos ou a forma de prestação dos serviços. Para Dornelas (2018) e Razzolini (2012), isso inclui o planejamento da produção, a capacidade para produzir o volume projetado, tanto do ponto de vista dos recursos materiais (prédios, instalações, máquinas, equipamentos etc.), como a capacidade da mão de obra. É interessante incluir também um layout da empresa e o desenho dos fluxogramas dos principais processos. 3 O composto de marketing, também chamado de Mix de Marketing, é a combinação dos quatro Ps de marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção. Lembrando que o P de praça inclui toda a estrutura de comercialização e distribuição do produto, enquanto o P de promoção engloba as ações necessárias para divulgar o produto e estimular as vendas, tais como propaganda, publicidade, promoção de vendas, marketing digital dentre outras (RAZZOLINI FILHO, 2012). , 15 Plano de recursos humanos: É o momento de apresentar como será feita a gestão de pessoas do empreendimento. O planejamento dos recursos humanos inclui as necessidades atuais e futuras do negócio, para isso, é preciso descrever as estratégias de recrutamento e seleção, descrição dos cargos com as atividades realizadas e perfil do ocupante, política salarial e de carreira, programas de capacitação e de retenção de colaboradores (BIAGIO, 2013). Trata-se de um planejamento estratégico destinado a suportar o crescimento da empresa, especialmente em setores nos quais o capital humano é fator crítico de sucesso, como aqueles em que é necessária a utilização de alta tecnologia. (DORNELAS, 2018). Plano financeiro: Os recursos financeiros para o negócio podem ser obtidos de diversas maneiras, porém, quaisquer sejam as fontes, Biagio (2013) e Razzolini (2012) alertam sobre a necessidade de apresentar de maneira detalhada todas as projeções que confirmam a viabilidade econômica e financeira do empreendimento. Assim, o estudo da demanda realizado no Plano de Marketing, deve servir de base para as projeções de vendas e de receitas. Todos os custos e despesas, fixos e variáveis, devem ser apurados e demonstrados. Segundo os autores, as informações são consolidadas e apresentadas na forma de fluxo de caixa financeiro, registrando as entradas e saídas efetivas de caixa, por um período de cinco anos. A demonstração de resultados também deve ser projetada, com a apuração das estimativas de lucros para cada um dos cinco anos do horizonte previsto. Com base na confrontação entre o valor do investimento e os resultados dos fluxos de caixa, é feita a análise de viabilidade do projeto, com a apuração do Valor Presente , 16 Líquido (VPL) e da Taxa Interna de Retorno (TIR)4. A demonstração de resultados permite apurar a margem de lucros e o retorno dos investimentos. Anexos: Ao final do Plano de Negócios, podem ser incluídos anexos com informações adicionais julgadas relevantes para o melhor entendimento do plano de negócios. Exemplos: currículo dos sócios, folhetos e/ou catálogos com descrição de produtos, estrutura do website da empresa, contrato social, planilhas financeiras detalhadas, entre outros. 2.4 Determinar e obter os recursos para o negócio Após estruturar o Plano de Negócios, o empreendedor precisa avaliar suas opções para obter recursos e colocar em prática o plano desenvolvido. Há muitas possibilidades e não existe uma regra que determine qual é a melhor. O que o empreendedor precisa comparar são os custos e os riscos decorrentes das fontes de capital disponíveis. Dornelas (2018) apresenta uma lista, não exaustiva, de opções ao empreendedor para obter os recursos necessários à abertura do negócio. Recursos próprios e empréstimos de familiares e amigos As economias pessoais do empreendedor costumam ser a primeira fonte de capital para o negócio. Algumas alternativas, em caso de não haver poupança suficiente, são a venda de bens patrimoniais, como imóveis e veículos. Ao utilizar esses recursos como fonte de capital, o empreendedor conta com relativa liberdade para tomada de decisão, além de não ter os encargos decorrentes de empréstimos e financiamentos. 4 VPL e TIR são técnicas que comparam o valor presente dos futuros fluxos de caixa com o montante inicial investido. O VPL apresenta o valor final obtido com a dedução do valor investido da soma dos fluxos de caixa, enquanto a TIR apresenta a taxa de retorno anualdo empreendimento (BIAGIO, 2013). , 17 No entanto, o baixo valor de investimento inicial pode limitar as possibilidades de crescimento do negócio. Existe a possibilidade de recorrer a empréstimos de familiares e amigos, mas Dornelas alerta que, a decisão de emprestar ou não o dinheiro não se dará com base em fatores relacionados com o rendimento do dinheiro, mas como forma de auxílio a um amigo conhecido e que inspira credibilidade. Isso, às vezes, pode prejudicar a própria amizade, caso, no futuro, o empreendedor não consiga honrar seus compromissos com a família e os amigos. (DORNELAS, 2018, p. 183). Investidores anjos São pessoas físicas que possuem recursos financeiros para investir em empresas novas e que apresentam alto potencial de crescimento. Para acessar esse tipo de fonte, é necessário que o Plano de Negócios esteja bem estruturado e consolidado, demonstrando de forma consistente o potencial do empreendimento. Segundo a Anjos do Brasil, organização destinada a estimular o desenvolvimento de empresas com potencial inovador, esse tipo de investimento: 1. É efetuado por profissionais (empresários, executivos e profissionais liberais) experientes, que agregam valor para o empreendedor com seus conhecimentos, experiência e rede de relacionamentos além dos recursos financeiros, por isto é conhecido como smart-money; 2. Tem normalmente uma participação minoritária no negócio; 3. Não tem posição executiva na empresa, mas apoiam o empreendedor atuando como um mentor ou conselheiro (ANJOS DO BRASIL, n.d., n.p.). Essa não era uma opção disponível no Brasil até o final do século XX, mas tem crescido com abertura e estabilidade econômica do país. Conforme a Endeavor Brasil (2017), não é uma prática amplamente difundida, mas o número de investidores anjos tem crescido. A seguir, alguns exemplos desse tipo de investidor.: • Gávea Angels, Rio de Janeiro; • Floripa Angels, Florianópolis; , 18 • Jacard Investimentos, Santa Catarina; • São Paulo Anjos, São Paulo; • Bossanova Angels, São Paulo com escritório no Vale do Silício (EUA); • Harvard Business School Alumni Angels of Brazil, São Paulo. Se você quiser conhecer melhor os investidores anjos, acesse o link para o site da Anjos do Brasil, disponível nas Referências. Bancos e agências de fomento O empreendedor pode utilizar diversas fontes de financiamento provenientes dos governos municipais, estaduais e federal. Há diversos programas com recursos não reembolsáveis (chamados de recursos “a fundo perdido”), ou com custo subsidiado que permite utilizar taxas abaixo do mercado. Alguns exemplos estão apresentados no quadro a seguir. Quadro 2.3 – Programas com incentivos governamentais Programa Responsável Descrição Fundos Criatec Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fundos de investimento em participações de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) inovadoras, nos quais a BNDESPar é a principal investidora. O Criatec está em sua 3ª edição e já apoiou mais de 70 empresas brasileiras, viabilizando o registro de cerca de 60 patentes e a criação de quase 1000 produtos. , 19 Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas (RHAE) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Apoio para projetos de inovação por meio da inserção de recursos humanos em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas. Projeto Inovar Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Ações em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), promovendo a realização de atividades de estímulo ao setor, como rodadas de negócios, seminários e campanhas de divulgação. Programa de subvenção econômica Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Promover a aplicação de recursos públicos não reembolsáveis (ou seja, não se trata de financiamento nem de aporte de capital em troca de participação acionária) diretamente em empresas, para compartilhar com elas os custos e riscos inerentes a atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Finep Startup Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Apoiar a inovação em empresas nascentes intensivas em conhecimento através do aporte de recursos financeiros para execução de seus planos de crescimento. Programa de Inovação em Pequenas Empresas Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) O PIPE é dividido em três fases, com os seguintes objetivos: • Fase 1: realização de pesquisas , 20 (PIPE) sobre a viabilidade das ideias propostas. • Fase 2: fase de desenvolvimento da parte principal da pesquisa. • Fase 3: desenvolvimento de novos produtos comerciais baseados nas Fases 1 e 2. Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex) Ministério da Ciência e Tecnologia Prestar assistência tecnológica às micro e pequenas empresas que queiram se tornar exportadoras ou àquelas que já exportam e desejam melhorar seu desempenho nos mercados externos. Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2018, p. 188-192). Instituições financeiras A opção de obter capital para financiar a abertura da empresa em instituições financeiras pode gerar algumas dificuldades em função das exigências estabelecidas pelos agentes financiadores (bancos de varejo principalmente), além das altas taxas de juros normalmente cobradas e das dificuldades em pagar os empréstimos depois de concretizado o acordo. Existem iniciativas de algumas instituições que destinam recursos para linhas de financiamento aos pequenos negócios. Alguns desses bancos incluem pacotes com ferramentas para auxiliar o empreender na gestão dos negócios. Alguns exemplos são o Programa Avançar do Banco Santander; a Movera do Banco do Brasil e o Itaú Empreendedor. , 21 2.5 Gerenciar o negócio criado Após avaliar as opções para capitalizar e iniciar o negócio, o empreendedor agora tem o desafio da gestão do empreendimento para garantir a sua sobrevivência e crescimento. O sucesso de uma empresa é medido por meio de indicadores que se organizam em uma cadeia de causas e efeitos. O indicador mais importante de sucesso é o desempenho financeiro, que depende da satisfação do cliente e da eficiência dos processos. A satisfação do cliente depende da qualidade dos produtos e serviços, que depende, entre outros fatores, do desempenho das pessoas. No final das contas, tudo depende da competência gerencial do empreendedor (MAXIMIANO, 2011, p.13). Nesse sentido, para obter sucesso no empreendimento é preciso mensurar os resultados obtidos, em relação às projeções realizadas no Plano de Negócios, utilizando alguns indicadores. O principal deles é o que avalia o desempenho financeiro, no entanto, esse resultado depende da aceitação do cliente e da eficiência dos processos da empresa. Para Maximiano (2011), os indicadores funcionam em uma relação de causa e efeito, uma vez que para ter clientes satisfeitos é preciso ter produtos de qualidade e colaboradores competentes. Todas essas relações dependem da competência de gestão do empreendedor, como mostra a figura a seguir. Figura 2.5 – Indicadores do sucesso de uma empresa Fonte: Maximiano (2011, p. 13). , 22 Com base em Maximiano (2011), vamos aprofundar cada um dos indicadores da figura 2.5. Desempenho financeiro: é medido pelo indicador básico de todo negócio – o Lucro, que representa a diferença entre receitas e despesas. A geração de receita depende do nível de satisfação dos clientes, que também reflete no preço de venda. Com o cenário de competição acirrada, o preço é definido pelo mercado, portanto, o aumento das margens de lucro depende do controle dos custos. E os custos dependem da eficiência operacional a empresa.Eficiência dos processos: ter uma operação eficiente significa produzir resultados sem desperdícios, ou seja, aumentar a produtividade. O objetivo é aumentar os níveis de produção, sem aumentar o consumo de recursos. Por isso, a produtividade é medida pelo consumo dos recursos em relação ao que foi produzido. Cada setor de atividade tem fatores de produção próprios que auxiliam na mensuração dos níveis de produtividade, e o empreendedor precisa identificar quais fatores são mais relevantes no seu negócio. Qualidade dos produtos: pode ser avaliada com base em duas perspectivas – a qualidade própria dos produtos e a ausência de defeitos. A qualidade do produto está relacionada às características que atendem as necessidades ou resolvem os problemas dos clientes. Assim, quanto maior for a capacidade de o produto atender a sua finalidade, maior será a satisfação do cliente. Em relação aos defeitos, eles comprometem os objetivos dos produtos, por isso, quanto menor o número de falhas, maiores as possibilidades de satisfazer os clientes. Desempenho das pessoas: depende da capacitação dos colaboradores para exercer as suas funções, bem como da sua qualidade de vida no trabalho. Implica investimentos contínuos no desenvolvimento dos funcionários e em ações para gerar um clima organizacional positivo. O alcance dos objetivos, medidos pelos indicadores, dependem da atuação do empreendedor como gestor do negócio. Nesse contexto, Maximiano (2011) sintetiza a atuação do empreendedor como administrador de seu negócio na figura que segue. , 23 Figura 2.6 – Papéis do empreendedor na gestão do negócio Fonte: Maximiano (2011, p. 16). Tomar decisões O processo de tomada de decisão é baseado em escolhas que devem ser feitas a partir da análise das alternativas disponíveis. Todos os indicadores dependem da capacidade do empreendedor em decidir sobre o futuro da empresa, com base no planejamento, avaliando os impactos das decisões atuais nos resultados de longo prazo. Além disso, deve-se tomar decisões importantes sobre a forma como os recursos – materiais e humanos, são alocados nas atividades do empreendimento. Situações imprevistas podem ocorrer com o início das atividades da empresa, e o empreendedor deve estar preparado para realizar o diagnóstico dos problemas e atuar criativamente para avaliar as opções e escolher as mais adequadas. Trabalhar com pessoas As pessoas fazem parte de todo o contexto de um empreendimento, considerando não apenas seus colaboradores e clientes, mas eventuais sócios, além de fornecedores e outras pessoas. É por isso que o empreendedor precisa se preparar para compreender as diferenças e as formas adequadas para exercer a liderança, bem como desenvolver , 24 estratégias de motivação. Também precisa saber negociar e compreender como os grupos se formam e se relacionam. Lidar com informações Para tomar decisões adequadas, e compreender a dinâmica da gestão e convivência com pessoas, o empreendedor necessita de informações. Assim, ter habilidade para procurar informações e identificar as mais relevantes ao processo de gestão é fundamental. Mas não basta ter informações, pois a sua utilização requer interpretação e análise para suportar as decisões. E o resultado do processo de obtenção e análise das informações precisa ser compartilhado com as pessoas que atuam nos processos, permitindo que o trabalho seja realizado com maior eficiência. Conclusão O processo empreendedor é uma metodologia que permite ao empreendedor organizar as atividades necessárias para tornar viável uma ideia de negócio. Diversas fontes podem servir de base à geração de ideias, que devem ser analisadas para que possam se tornar oportunidades de negócio, por meio de sua exploração comercial. A análise das ideias considera a análise do mercado e de seus participantes, tais como tamanho da demanda, perfil do público-alvo, comportamento da concorrência e disponibilidade de fornecedores, dentre outras. Após concluir que a ideia pode se tornar uma oportunidade de negócio, o empreendedor deve elaborar o Plano de Negócios, um instrumento que viabiliza o planejamento de longo prazo do futuro empreendimento, por meio de projeções que atingem o horizonte mínimo de 5 anos. Além disso, permite que a gestão do negócio seja feita de maneira mais eficiente, comparando os resultados obtidos com o que foi planejado. Para obter recursos que permitem colocar em prática o conjunto de atividades previstas no Plano de Negócios, diversas opções estão disponíveis. Desde recursos próprios, de familiares e amigos, até mesmo a busca de investidores anjos. Programas governamentais também oferecem alternativas, alguma delas incluem recursos de , 25 fundos não reembolsáveis. Por fim, as instituições financeiras também estão preparadas para não apenas fornecer recursos, mas também para dar suporte ao empreendedor na gestão da sua empresa. E a gestão é o ponto fundamental no processo empreendedor, pois após todo esforço para colocar a ideia em prática, é necessário administrar o negócio com eficiência para garantir sua sobrevivência e ampliar as chances de sucesso. A utilização de indicadores auxilia nesse processo, bem como o desenvolvimento de competências gerenciais essenciais para que o empreendedor possa executar os seus papéis. REFERÊNCIAS ANJOS DO BRASIL. O que é um investidor anjo. Disponível em: <https://bit.ly/2JbRvSH>. Acesso em: 27 jun. 2020. BIAGIO, L. A. Como elaborar o plano de negócios: curso on-line. Barueri: Manole, 2013. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São Paulo: Empreende, 2018. ENDEAVOR BRASIL. Capital, experiência e relacionamento: com um investidor anjo, sua empresa está sempre bem acompanhada. Disponível em: <https://endeavor.org.br/dinheiro/investidor-anjo/>. Acesso em: 27 jun. 2020. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da variação e da gestão de novos negócios. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. RAZZOLINI FILHO, E. Empreendedorismo: dicas e planos de negócios para o século XXI. Curitiba: Intersaberes, 2012.
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