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- -1 Desenvolvimento moral e educação Giza Sales Introdução Caro estudante, o indivíduo, ao nascer, além do desenvolvimento fisiológico com base nas condições hereditárias, inicia um processo de desenvolvimento psicossocial, o qual é mediado pelas interações no ambiente físico e social. Nesse desenvolvimento, inúmeros fatores contribuem para a construção de sua noção de certo e errado, de justo e injusto de bom ou mau. Para que ocorra o desenvolvimento moral, é necessário haver um trabalho efetivo cuja base está na qualidade das interações sociais. Nesse sentido, perguntamo-nos: qual o papel da educação na formação da consciência moral das crianças e jovens? A quem compete a educação moral, à família, à escola ou à sociedade? Estudaremos esses temas com base nos textos de Piaget (1994), La Taille (1992, 2006), Vinha (2000), entre outros. A educação e a formação moral das crianças Sabemos que, em regra geral, é a família que se ocupa da formação moral de seus filhos, transmitindo os valores que considera importantes e que são aceitos no seio de sua comunidade, religião e cultura. Dessa forma, a família exerce papel fundamental nesse processo. No entanto, podemos entender que a escola não pode substituir a família e, ao mesmo tempo, a família não pode prescindir da escola na contribuição do desenvolvimento moral da criança, uma vez é nesse ambiente coletivo, rico de vivências e interações sociais, que a criança compreenderá regras, normas, valores e princípios morais que dizem respeito à vida em sociedade. As interações são diferentes, mas ambos os ambientes contribuem significativamente para a formação moral das crianças e jovens. Segundo Vinha (2000), ao chegar à fase escolar, os relacionamentos sociais da criança se ampliam, e ela passa a interagir com professores e funcionários da escola, com colegas de classe e com crianças de outras idades. Nesse novo mundo, a criança começa a perceber que existe o outro. É o momento, portanto, em que a criança começa a se desprender do egocentrismo típico dos primeiros anos. Ela percebe que o outro é detentor de direitos e vontades que podem ser conflitantes com as próprias e com as quais ela precisa aprender a lidar. - -2 Figura 1 - Crianças em situação de conflito Fonte: Zabavna, Shutterstock, 2019. ID: 728750857. Além disso, Piaget aborda a relação entre a educação e a moralidade em um texto sobre procedimentos de , destacando a importância que tem a educação para promover meios para a construção daeducação moral autonomia da criança. Como vimos nos tópicos anteriores, a criança, na educação infantil e nos primeiros anos escolares, encontra-se na fase da heteronomia, ou seja, está suscetível à regra do outro, uma vez que não tem condições de avaliar e criar a sua própria regra. Nesse caso, cabe ao professor e à escola, enquanto comunidade de aprendizagem, promover atividades que desenvolvam a noção de apreço e respeito às regras e aos demais sujeitos, até que a própria criança consiga construir sua autonomia. EXEMPLO Quando as crianças disputam um brinquedo, também estão aprendendo as regras da convivência. A consciência moral se forma também nas relações de conflito, que são próprias das relações interpessoais “[...] a operar em termos de sentimentos, perspectivas e ideias de outra pessoa.” (VINHA, 2000, p. 350). - -3 Trabalhar com a perspectiva da educação moral não significa impor aos alunos um conjunto de normas, regras e procedimentos que determinado grupo ou pessoa têm como verdade absoluta. Figura 2 - Crianças e a formação moral Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2019. ID: 388646113. Ao contrário, conforme descrito nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a perspectiva da educação moral representa desenvolver a possibilidade de uma formação que promova aos alunos “[...] uma constante atitude crítica, de reconhecimento dos limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstâncias, de problematização das ações e relações e dos valores e regras que os norteiam” (BRASIL, 1997, p. 61). Da mesma forma, documentos educacionais mais recentes também demonstram a preocupação com a formação moral, na medida em que propõem que o trabalho pedagógico seja centrado no desenvolvimento da autonomia dos educandos. A exemplo vemos disso temos os Referenciais Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEIs), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), de 2009, e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017. Nesses documentos, é ressaltada a importância das interações, brincadeiras, jogos entre as criança e o desenvolvimento de competências socioemocionais, entre outros elementos que poderão contribuir para a formação dessa autonomia. FIQUE ATENTO A definição de competências na BNCC aponta para a necessidade de uma formação cognitiva e socioemocional do educando: “Mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do - -4 Segundo tais documentos, cabe ao professor promover diversas oportunidades de brincadeiras, interações, conversas, jogos e aprendizagens, com o devido acompanhamento, para que as crianças tenham garantia de oportunidades de trocas e múltiplas aprendizagens entre elas, de forma que possam comunicar-se e expressar- se em um ambiente acolhedor e estimulador da confiança e da autoestima. Figura 3 - Crianças em situação de interação Fonte: matimix, Shutterstock, 2019. ID: 756795328. Assim, conforme ressalta La Taille (2006), todas as oportunidades de relações interindividuais que a criança estabelece com o adulto ou com seus iguais permitem que a compreensão das regras e normas de convivência seja estabelecida e, com isso, sua noção de vai se construindo e se estabelecendo comorespeito às normas padrão social. demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” (BRASIL, 2017, p. 8). - -5 Desenvolvimento moral e educação infantil A educação infantil (creche ou pré-escola) se tornou uma alternativa importante e necessária para as famílias. É considerada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) um direito da criança. Nesse ambiente de convivência e interações, tem-se a ampliação das condições que favorecem à formação moral das crianças (FREITAS; SHELTON, 2005; RAPOPORT; PICCININI, 2004). Figura 4 - Crianças na educação infantil Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2019. ID: 1247434123. No contexto atual, a grande maioria das crianças em idade pré-escolar permanece boa parte do seu tempo nas escolas, sendo bastante frequente o número de crianças que ingressam nas instituições de educação infantil desde os seus primeiros meses de vida, algumas inclusive em tempo integral (BIASOLI-ALVES, 2002). Na educação infantil, sendo um dos primeiros espaços de convivência coletiva, as crianças tomam suas primeiras lições do que seja dever, respeito às regras e princípios morais. Portanto, torna-se um espaço privilegiado para o desenvolvimento moral que se faz a partir das trocas e relacionamentos com colegas e professores. Nesse ambiente, é possível haver interação entre crianças da mesma idade ou idades um pouco - -6 Ao entrarem para a educação infantil, as crianças têm seu mundo social ampliado. Com isso, passam a adquirir maior complexidade e intensidade, sendo a socialização um dos maiores fatores de desenvolvimento para elas (ARLAQUE; WAGNER, 1999). A escola se constitui como um rico espaço de interações, no qual se desenvolve o potencial social das crianças. É nesse espaço que elas aprenderão a respeitar as regras e os limites da instituição escolar Assim, é papel da escola de educação infantil oferecer condições que promovam o desenvolvimento integral de seus alunos, articulando os conhecimentos formais com a vida, respeitando e suas dimensões afetiva, cognitiva, social, moral, ética, entre outras (PALMIERI; BRANCO, 2007). Fechamento Conforme temos visto, o desenvolvimentomoral trata-se de um processo evolutivo que ocorre graças às interações entre a criança e o meio. Assim, a formação moral se constitui pelo exercício e pela construção de valores, regras e normas comumente aceitas pela sociedade. Compreende-se que tanto a família, quanto a escola contexto educacional, ae a comunidade devem trabalhar juntas para a formação moral das crianças e jovens. No escola é o espaço privilegiado para a prática de uma educação que favoreça o desenvolvimento da moralidade, o que pode muito contribuir com uma sociedade mais justa, igualitária e solidária, em que exista o respeito mútuo entre as pessoas. Referências ARLAQUE, P. C. ; WAGNER, A. Valores da família e da escola a respeito da socialização do pré-escolar. ,Educação Nesse ambiente, é possível haver interação entre crianças da mesma idade ou idades um pouco diferentes, entre elas e os adultos, ou seja, entre iguais e entre diferentes, favorecendo a convivência com a diversidade de opiniões, desejos, interesses e pontos de vista. Essas interações sociais são essenciais à formação das condutas morais para a vida cotidiana (DIAS; VASCONCELLOS, 1999). SAIBA MAIS Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura da dissertação de mestrado O desenvolvimento moral na educação infantil: contribuições da literatura infantil e dos jogos , da autora Clarisse Zan de Assis Bastos. Universidade Estadual Paulista.dramáticos e teatrais Ano: 2014. Disponível em: .https://repositorio.unesp.br/handle/11449/110460 https://repositorio.unesp.br/handle/11449/110460 - -7 ARLAQUE, P. C. ; WAGNER, A. Valores da família e da escola a respeito da socialização do pré-escolar. ,Educação Porto Alegra, n. 37, p. 135-148, 1999. BIASOLI-ALVES, Z. M. M. A questão da disciplina na prática de educação da criança, no Brasil, ao longo do século XX. , v. 2, p. 243-259, 2002.Revista Veritati BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais apresentação dos temas transversais e: Ética. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. . Brasília:Base Nacional Comum Curricular MEC, 2017. DIAS, A. A.; VASCONCELLOS, V. M. R. Concepções de autonomia dos educadores infantis. ,Temas em Psicologia v. 7, n. 1, p. 9-21, 1999. LA TAILLE, Y. de. : teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.Piaget, Vygotsky, Wallon LA TAILLE, Y. de. : dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.Moral e ética PALMIERI, M. W. A.; BRANCO, A. C. Educação infantil, cooperação e competição: Análise microgenética sob uma perspectiva sociocultural. , v. 11, n. 2, p. 365-378, 2007.Revista da ABRAPEE PIAGET, J. . São Paulo: Summus, 1994.O juízo moral na criança RAPOPORT, A.; PICCININI, C. A. A escolha do cuidado alternativo para o bebê e a criança pequena. Estudos de , v. 9, n. 3, p. 497-503, 2004.Psicologia VINHA, T. P. : uma visão construtivista, Campinas, SP: Mercado das letras;O educador e a moralidade infantil São Paulo: FAPESP, 2000. Introdução A formação moral conforme Piaget O que é moralidade? O que realmente importa Fases do desenvolvimento moral Estágios do desenvolvimento Moral (significado dos termos) O pensamento de Lawrence Kohlberg Quem foi Kohlberg? Níveis do desenvolvimento mora segundo Kohlberg Níveis do desenvolvimento moral, segundo Kohlberg Aspectos comuns a toda sociedade Fechamento Referências Introdução A formação das regras Moral nos jogos de regras Fases do desenvolvimento moral Estágios do desenvolvimento moral (significado dos termos) Anomia Bebê de 0 a 2 anos Heteronomia Criança na fase de heteronomia Autonomia Adolescentes em protesto A Questão da regra e o respeito Fechamento Referências Introdução A educação e a formação moral das crianças Crianças em situação de conflito Crianças e a formação moral Crianças em situação de interação Desenvolvimento moral e educação infantil Crianças na educação infantil Fechamento Referências Introdução Formação moral O que é moral e o que é ética? Inter-relação entre ética e moral Quadro comparativo entre ética e moral Dilema moral e dilema ético Dilema ético e moral Educação cristã: formação ética e moral Objetivos da educação cristã Quem deve se incumbir do ensino ético: pais, professores ou sociedade? Responsáveis pela formação da criança Fechamento Referências Introdução A formação moral e o caráter da criança: um objetivo central da educação adventista Os princípios éticos e morais devem começar na infância O que é caráter Conceito de caráter para a pedagogia Conceito de caráter no âmbito educacional adventista Como formar hábitos Regras escolares Crianças vivenciando situações com regras Fechamento Referências Introdução A educação adventista e seu surgimento A formação moral em White, Piaget e Kohlberg Obediência A independência moral Jovem e a escolha por si mesmo A prioridade é formação do caráter e espírito Mãe e filho em oração Construção do caráter Ensino das ciências na educação adventista Crianças estudando ciências Fechamento Referências