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RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 1 Resumão Psicofarmacologia Resumo para P2 de Psicofarmacologia Conteúdos: interação medicamentosa, medicamentos hipnótico-sedativos, antidepressivos e tratamento para alcoolismo. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: As interações são um dos principais pontos chaves em uma farmacoterapia, isso porque muitos pacientes utilizam mais de um medicamento, podendo afetar o efeito farmacológico de um deles. Os medicamentos podem interagir entre si (com outros fármacos), com álcool, tabaco, alimentos, etc. EX: IMAO's com alimentos com tramina (chocolate, queijo, vinho) sofrem inibição da degradação da tramina desses alimentos. Efeitos Benéficos de Interações Medicamentosa 1) EFEITO SINÉRGICO: aumentam os efeitos terapêuticos. ex: ácido acetilsalicílico e dipirona quando associados potencializam a ação analgésica. 2) REDUÇÃO DE TOXICIDADE: reduz toxicidade de um fármaco. ex: protamina (antagonista de heparina) + heparina (anticoagulante injetável) - quando um paciente sofre um sangramento com uso de heparina, ao administrar a protamina esse efeito tóxico é reduzido. Fatores Predisponentes Alguns pacientes são mais propensos a evidenciar interação medicamentosa. ➢ Idosos: tendem a tomar mais de um medicamento, além disso, podem possuir sistema renal e hepático reduzidos. ➢ Pacientes com problemas hepáticos. ➢ Pacientes com problemas cardíacos. ➢ Insuficiência renal. ➢ Pacientes com problemas respiratórios. ➢ Pacientes com desnutrição (redução de albumina). ➢ Características genéticas (pacientes que são metabolizadores rápidos ou lentos). ➢ Patologias associadas. ➢ Pacientes que se automedicam. ➢ Pacientes polimedicados. Classificação da interação medicamentosa: 1) Interações físico-químicas (farmacêuticas): • Ocorrem fora do organismo do paciente, antes do medicamento ser administrado; • Ocorrem quando os medicamentos são incompatíveis entre si. • Soluções endovenosas; quando utiliza a mesma seringa, ocasionando inativação de alguma medicação. Ex: inativação do nitroprussiato pela luz: • Esse medicamento é um vasodilatador utilizado por via endovenosa para tratamento de pacientes com crises hipertensivas. • Além disso, é fotossensível, por isso não pode ser injetado de uma vez só (bolos) mas por gotejamento. • Por ser sensível pela luz, é comercializado em embalagens com cor, para que a luz não inative sua função. 2) Interações terapêuticas: • Ocorrem depois que o paciente administrou os fármacos (acontecem dentro do organismo). São subclassificadas em: o Farmacocinéticas. o Farmacodinâmicas. Quanto maior o número de medicamentos utilizados pelos pacientes, maior o risco de ter interação medicamentosa. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 2 Resumão Psicofarmacologia Farmacocinética • Ocorrem quando um medicamento influencia em uma etapa farmacocinética de outro. • Ou quando uma substância em geral (alimento, álcool, tabaco, etc.) influencia numa etapa farmacocinética de outro. Interações farmacocinéticas a nível de absorção: • Medicamentos ou alimentos podem sofrer quelação, complexação, precipitação, etc. • Podem agir no trato gastrointestinal diminuindo ou aumentando a motilidade gastrointestinal, alterando a flora bacteriana, elevando o PH gástrico. Ex: tetraciclina + leite; pois a tetraciclina tem afinidade com o cálcio, Como evitar esse tipo de interação? - Aumentando o intervalo de administração entre as drogas. Interações farmacocinéticas a nível de distribuição: • Nesse caso, um medicamento pode interferir na fração ligada de outro medicamento, tornando-a livre. • O aumento da fração livre pode aumentar o nível de toxicidade. • As drogas com proteínas plasmáticas superior a 85 % podem ser mais suscetíveis a esse tipo de interação. Interações farmacocinéticas a nível de biotransformação (metabolização): • Lembrar: a maioria dos medicamentos são metabolizados no fígado. • Alguns medicamentos podem acelerar ou reduzir a biotransformação de algum fármaco. o Como ocorre: podem ocorrer por meio de indução ou inibição enzimática. Indução de metabolismo de 1ª fase: o Fernobabital, fenitoína, rifampicina, carbomazepina, etanol, fumo, etc. o Aceleram a metabolização de alguns fármacos, consequentemente, o metabólito pode ser mais tóxico que a droga original. Interações farmacocinéticas a nível de excreção: • Quando o fármaco pode alterar a excreção de outro fármaco; • Quando algum medicamento altera o fluxo sanguíneo renal, a filtração renal, reabsorção ou secreção tubulares. • Competição pelos sistemas de transporte: uma droga bloqueando a excreção da outra. Farmacodinâmica Ocorrem no sítio de ação dos fármacos envolvendo o mecanismo de ação pelos quais os efeitos farmacológicos se processam. Podem ser: 1. Sinérgicas 2. Antagonistas: O etanol quando utilizado de maneira crônica é indutor enzimático da CYP2Z1 que metaboliza o paracetamol. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 3 Resumão Psicofarmacologia HIPNÓTICOS E SEDATIVOS: Os hipnóticos e sedativos são depressores do Sistema Nervoso Central. Atuam ao reduzir ou inibir a função do SNC. Os sedativos causam uma leve depressão e são usados geralmente para reduzir a ansiedade (podem ser considerados ansiolíticos). Os hipnóticos são capazes de induzir sonolência, por causar um grau de depressão um pouco maior que os sedativos, podem produzir sonolência e induzir o sono, por isso são usados para tratar insônia. Em muitos casos, o que vai diferenciar o efeito sedativo ou hipnótico é a dosagem, como é o caso dos benzodiazepínicos (BZP) que quando em dosagem mais baixa causam leve depressão e com dose mais alta podem ter efeito hipnótico. Atenção: com o aumento gradativo os BZP podem produzir anestesia geral, levando o indivíduo ao coma e até mesmo ao óbito. Insônia Pode ser definida como a incapacidade de iniciar o sono, mantê-lo ou a sua má qualidade. Pode ser classificada em três tipos: 1) TRANSITÓRIA: (duração: três dias) Ocorre por alguma situação ou evento específico que cause efeito estressor no indivíduo. Nesses casos, a insônia não ultrapassa três dias. O medicamento pode ser utilizado de forma pontual, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do indivíduo no dia seguinte, mas seu uso não deve ultrapassar os três dias. 2) CURTA DURAÇÃO: (duração: até três semanas) Aqui pode haver ação de um agente estressor que pode ser pessoal, por exemplo, uma patologia. O tempo de utilização do medicamento não deve ultrapassar dez dias. 3) LONGA DURAÇÃO: (duração: mais de três semanas) Nesse caso, não há ação de um agente estressor e por isso deve ser realizada uma avaliação médica mais aprofundada para conhecer sua causa. Tipos de tratamentos para insônia: Etiológico: Deve-se investigar primeiramente a causa da insônia e, posteriormente, retirar essa causa. Caso a causa seja algum sofrimento mental, como a ansiedade, utiliza-se um ansiolítico. Caso o paciente esteja com insônia por motivos de dor, é prescrito analgésico. Higiene do sono: Importante não só para pacientes com insônia. Consiste em práticas e hábitos de vida que melhoram a indução e qualidade do sono. Por exemplo, diminuir e até suspender o uso de eletrônicos antes de dormir, evitar alimentos como cafeína, evitar dormir durante o dia, etc. Medicamento: É recomendado quando os outros tratamentos não são suficientes. Primeiramente, deve-se identificar o funcionamento da insônia do paciente, se ela tem início na fase inicial da noite (paciente demora a pegar no sono),no terço médio ou final (paciente acorda no final da noite). o Início de noite: o medicamento deve ter início de ação rápida e meia vida de eliminação curta, pois o problema aqui, não é manter o sono, mas inicia-lo. o Final de noite: Aqui é preciso um medicamento com meia vida longa para ter efeito a noite toda. A duração deve ser entre intermediária e longa. Benzodiazepínicos: • Classe mais utilizada para ação hipnótica; • É um potencializador da ação do GABA (neurotransmissor inibitório), favorecendo a depressão do SNC. • Mecanismo de ação: Os BZP deprimem o SNC ao potencializar a ação do GABA, que se liga ao receptor do neurônio inotrópico (canal iônico que passa cloreto), aumentando a abertura do canal de cloreto e hiperpolarizando o neurônio. Então, o BZP se liga no receptor de GABA em um sitio de ligação diferente deste neurotransmissor. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 4 Resumão Psicofarmacologia Não há competição pelo sitio de ligação. Durante a ligação, o BZP promove uma alteração na estrutura do receptor, que mudará sua conformação devido à saída de uma molécula chamada gabamobulina, aumentando, assim, a afinidade pela ligação do GABA e por consequência entrando mais cloreto no neurônio, deixando-o mais hiperpolarizado. Interações medicamentosas: Uma das principais interações é a utilização com outros medicamentos depressores do SNC. Os barbitúricos, ansiolíticos, anti-histamínicos podem aumentar o sono, potencializando o efeito. Essa interação é farmacodinâmica do tipo sinérgica, pois um medicamento potencializa o outro. Atenção: Interação com álcool O álcool se liga ao mesmo receptor do benzodiazepínico, assim, também potencializa a ação do GABA. Dessa forma, o uso concomitante com BZP aumenta o risco de depressão profunda do SNC. Reações adversas dos benzodiazepínicos: Normalmente, as reações adversas dos BZP são leves quando administrados em doses leves. Mas quando há concentração plasmática máxima, o paciente pode apresentar: lentidão, sonolência, dificuldades para se concentrar, cefaleia e alteração do trato gastrointestinal. Intoxicação por benzodiazepínicos: Pode ser involuntária ou voluntária, a segunda normalmente é causada por tentativa de suicídio. Se isso ocorrer, pode haver depressão do sistema cardiovascular devido à queda de pressão arterial e depressão respiratória, podendo evoluir a óbito. Antagonista: Atualmente, só existe um medicamento antagonista do BZP, o flumazenil. O flumazenil compete com qualquer benzodiazepínico, independente do sítio de ligação, pela ligação no receptor de GABA, bloqueando o sítio de ligação e impedindo que o benzodiazepínico se ligue ali. Principais benzodiazepínicos e suas utilizações: Barbitúricos: • Classe antiga de medicamentos que está caindo em desuso quando a indicação terapêutica é sedação e hipnótico. • Possuem grande capacidade de depressão do SNC. Mecanismo de ação: assim como os BZP, também potencializa a ação do GABA, porém tem seu sitio de ligação diferente. Além disso, também bloqueia o receptor AMPA, que tem como ligante o glutamato, que é um neurotransmissor excitatório. O barbitúrico bloqueia essa ligação, inibindo a ação do glutamato e, por consequência, a sinapse excitatória do glutamato. Fernobabital: é o mais conhecido e mais utilizado como anticonvulsivante. Tem ação longa, cerca de 24 horas ou mais. Reações adversas: Sonolência, sedação, dificuldade ou lentificação dos pensamentos, efeito paradoxal (contrário), excitabilidade, hipersensibilidade, reações alérgicas. Interações medicamentosas: Os barbitúricos são capazes de alterar o metabolismo de outros medicamentos ou substâncias, sendo considerado um inibidor enzimático. O fenobarbital, por exemplo, induz RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 5 Resumão Psicofarmacologia enzimas do citocromo p450 - inclusive isoenzimas que metabolizam medicamentos anticoncepcionais (CYP3A4). Buspirona: É um agonista dos receptores 5-HT: Esses fármacos possuem ação ansiolítica, porém não são apreciavelmente hipnóticos. Mecanismo de ação: Esse é um fármaco que controla os níveis de serotonina no SNC, diminuindo a ansiedade. Quando a serotonina estiver baixa, a buspirona aumentará seus níveis e, quando ela estiver alta, ela evitará a ligação do excesso de SRH, bloqueando seu receptor. NÃO causa depressão do SNC, pois os problemas relacionados a ansiedade, em sua maioria, são causados por uma falta de regulação da serotonina. Tem início de ação muito lenta, podendo levar até duas semanas para começar seu efeito. Por isso, em casos de crise de ansiedade, o melhor a ser utilizado é um BZP, que tem ação mais rápida. Vantagens da buspirona em relação aos benzodiazepínicos: não causam os mesmos inconvenientes, como indução de sono, prejuízo cognitivo ou psicomotor, dependência. Beta – bloqueadores: antagonistas dos receptores β-adrenérgicos Agem indiretamente nas crises de ansiedade, isto é, reduzem a intensidade das crises pela redução dos sinais e sintomas periféricos, como taquicardia, tremores, sudorese, boca seca. Sua eficácia depende mais do bloqueio das respostas simpáticas periférica do que de qualquer efeito central. Ou seja, não causam depressão no SNC. Ex: Cloridrato de propranolol NOVAS CLASSES DE FÁRMACOS HIPNÓTICOS Além dos benzodiazepínicos, existem novas classes de fármacos hipnóticas. Destaque para a classe dos compostos Z - porque todos os fármacos desta classe se iniciam com a letra Z Compostos Z: Mecanismo de ação: se parece com o do BZP, ao se ligar ao receptor de GABA, permitindo a hiperpolarização neuronal, aumentando o fluxo de cloreto no neurônio. Diferenças com os benzodiazepínicos: • Estrutura química diferente; • São mais específicos e seletivos, se ligam apenas à subunidade α1 do neuro receptor, enquanto os BZP se ligam a uma quantidade maior de unidades. • Por esse motivo, os compostos Z são usados apenas como hipnóticos, pois se ligam apenas a uma região, não sendo relaxantes musculares, nem anticonvulsivantes. Geram menos efeitos colaterais que os benzodiazepínicos. Zolpidem: usados para insônia de início de noite (induzem o sono) Por terem início de ação rápido, eles tratam a insônia de início de noite (o mais conhecido clinicamente é o zolpidem) e são muito utilizados devido à seletividade de ação por agir apenas como hipnótico. O zolpidem tem vida plasmática média de 2h. Então, se você o utiliza no início da noite, você induzirá o sono rápido com menos sedação residual, porém o paciente pode ter facilidade de acordar a noite, por ele não cobrir a noite toda; Zaleplone: Rápida indução do sono (meio da noite até 4hrs antes de se levantar). O zaleplone tem meia vida ainda mais curta, significando uma vantagem clinica que é poder ser utilizado tanto para induzir, quanto para pacientes que acordam a noite. Se o paciente acorda 4h da manhã, ele pode tomar o zaleplone até 4hrs antes de acordar que ele não terá problema com sonolência residual, pois terá sido eliminado. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 6 Resumão Psicofarmacologia Zolplicone: Mais indicado para insônia de final de noite, porém apresenta maior potencial de sonolência residual pela manhã. Tem uma meia vida mais longa (de 5h à 6h) e por isso tem maior capacidade de produzir sonolência residual no outro dia. Ainda, ele também pode dar um gosto metálico, amargo, na boca no início do tratamento. Vantagem: Menor tendência a produzir dependência. Desvantagem (principalmente em idosos e com problemas hepáticos): A classe Z é metabolizada no fígado, por isso pode ocorrer acúmulo do medicamentono organismo. Neste caso, recomenda-se reduzir a dose do medicamento, principalmente do zolpiclone porque ele, ao ser metabolizado, gera metabolitos ativos. Isso é importante porque muitas vezes os compostos Z são considerados mais seguros que os benzodiazepínicos – mas somente se forem usados com segurança. Existem casos de pacientes que tomam sem indicação médica e que tiveram dificuldade respiratória grave com direito a intubada por uso de zolpidem. Melatonina: É um hormônio endógeno produzido pela glândula pineal para controlar o ciclo vigília-sono. Mecanismo de ação: seus receptores são MT1 e MT2 que estão no núcleo supraquiasmático e, ao se ligar ao receptor MT1, ela induz sonolência e quando ela se liga ao receptor MT2, ela controla a manutenção do sono. Sabe-se que existe o ciclo circadiano da melatonina natural e à medida que anoitece sua concentração aumenta e quando amanhece a concentração endógena diminui. Ela é usada para induzir o sono e é encontrada tanto manipulada quanto industrializada e sua desvantagem é que sua vida de eliminação é muito curta (de 30 minutos à 1 hora). Ramelteona: agonista de MT1 E MT2, produzida pela indústria farmacêutica brasileira, é uma substância química estruturalmente parecida com a melatonina e que se liga com grande facilidade com os receptores MT1 e MT2. Tanto induz quanto mantém o sono. Vantagens da ramelteona em relação a melatonina: • Possui afinidade de ligação apenas para receptores de melatonina, sendo incapaz de se ligar a receptores colinérgicos, adrenérgicos ou histaminérgicos, por exemplo. • Baixa tendência de produzir efeito colateral. TRATAMENTO DO ALCOOLISMO: Farmacologia básica Etanol: é uma molécula pequena e hidrossolúvel facilmente absorvida pelo organismo. Mais especificamente no estômago e intestino (primeira porção), que interagem com receptores do nosso organismo. O principal tecido que receptor para o etanol é o SNC. O etanol se liga ao mesmo receptor dos benzodiazepínicos (receptor de GABA), por isso, causa depressão no SNC. FARMACOCINÉTICA: Após ser consumido, o pico plasmático na corrente sanguínea ocorre após 30 minutos (se houver consumo junto com alimento, a absorção é retardada). Após cair na corrente sanguínea, o álcool é rapidamente distribuído, atingindo sistemas altamente vascularizados como o SNC. O etanol então se liga nos receptores gabaérgicos potencializando a hiperpolarização neuronal e causando a depressão no SNC. Para ser excretado, o etanol precisa passar pelo processo de metabolização cujo órgão responsável principal é o fígado. É nele que existem enzimas responsáveis por esse processo, como a álcool desidrogenase, aldeído desidrogenase e CYP2E1. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 7 Resumão Psicofarmacologia A álcool desidrogenase também é encontrada no estômago, por isso, o etanol tem uma metabolização prévia antes de ser absorvido, assim, quando o álcool entra em contato com a mucosa gástrica ele já começa a ser metabolizado. VIAS DE METABOLIZAÇÃO: Principal: Via da álcool desidrogenase Quando chega no fígado, o etanol sofre a enzima da álcool desidrogenase que oxida o etanol em acetaldeído, que é considerado muito tóxico pelo organismo. Por conta do excesso de acetaldeído que acontece os sintomas de ressaca. Então, o acetaldeído vai sofrer ação da acetaldeído desidrogenase (enzima que metaboliza o acetaldeído), transformando-o em acetato que será excretado pelo organismo. Por que o álcool engorda? Quando o acetado sofre a metabolização, ele se transforma em água (CO2) e Acetil-CoA. O Acetil- CoA entra no cliclo de Krebs e facilita a síntese de lipídeos e é por esse motivo que se diz que o álcool engorda, pois o produto do metabolismo do acetado (Acetil-CoA) favorece o anabolismo de várias moléculas, como os lipídeos (gordura). Por que as mulheres possuem menos tolerância ao álcool do que os homens? Existe uma diferença fisiológica nos níveis de álcool desidrogenase gástrica entre mulheres e homens, sendo que as mulheres possuem menos). Assim, o homem metaboliza o álcool mais rápido e em maior quantidade antes de ser absorvido do que a mulher. Por isso, elas têm menor tolerância e pode se dizer que ficam embriagadas mais rápido. Assim, um homem e uma mulher que consomem a mesma quantidade de álcool terão uma metabolização diferente. Tolerância: O etanol é capaz de produzir tolerância, assim, as enzimas hepáticas aumentam conforme aumenta o consumo de álcool. Excreção: o álcool é excretado pelo sistema renal, através da urina e pela via respiratória (por isso, é possível utilizar o bafômetro pra fazer correlação com a quantidade plasmática). Asiáticos possuem uma quantidade menor de aldeído desidrogenase: assim, acumulam-se acetaldeído pelo corpo e é por isso que estes pacientes tem uma tendência maior a ficar ruborizados. Via Sistema Microssômico de oxidação do etanol (SIMOE) Se o paciente tiver níveis plasmáticos de etanol superiores a 100mg/dl, a via da álcool desidrogenase é saturada. Assim, aciona-se o sistema microssomal de oxidação do etanol; Aqui, a oxidação do etanol ocorre por meio do CYP2E1, que, em resumo, fará a ação da álcool desidrogenase. Quando a pessoa consome álcool cronicamente, acontece a indução da CYP2E1, ou seja, há um aumento dessas enzimas para metabolizar o etanol. Por isso, o paciente crônico no uso de álcool é considerado um indutor da CYP2E1. Com isso, metabolizar mais rapidamente determinados fármacos, como o paracetamol. Tipos de tratamentos Tratamento para intoxicação aguda: Acontece com aquele paciente que bebe esporadicamente, e em determinado dia, ultrapassa seu limite intoxicando. O grau de intoxicação depende: Quantidade de etanol ingerida: Com uma quantidade plasmática de 20mg a 40mg/dl de etanol, o indivíduo começa a sentir sintomas de embriaguez. O valor mínimo para se considerar uma intoxicação por etanol é 80mg/dl. À medida que essa concentração aumenta, os sintomas da intoxicação vão piorando – 300mg a 400mg leva a óbito. Ressalta-se que todos os níveis citados podem variar de paciente para paciente dependendo da tolerância. Como é tratado? RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 8 Resumão Psicofarmacologia - Vigilância: Segundo o protocolo, deve-se haver uma vigilância – ou em um ambiente hospitalar, ou em um ambiente ambulatorial de duas a quatro horas que é tempo necessário para o metabolismo e excreção do álcool. - Hidratação: Se houver náuseas e vômitos, é necessário fazer uma reposição hidroeletrolítica porque o paciente perde muita água e perde muito eletrólito e íons (potássio, dependendo do grau), sendo necessária a infusão de soro fisiológico. - Reposição de tiramina (vitamina B1): Ocorre apenas em ambiente hospitalar com monitorização médica - porque o etanol inibe sua absorção e síntese. Baixos níveis desta vitamina podem levar à Síndrome de Wernicke-Korsakoff, comum na intoxicação aguda pelo álcool (antes da gliose). - Reposição de glicose: porque o etanol é capaz de inibir a neoglicogênese (síntese de glicose) - podendo acarretar hipoglicemia no paciente – e por ela ser fonte energética para o SNC. Síndrome de Wernicke-Korsakoff: Paciente tem ataxia, confusão mental e dificuldade de movimentação, paralisia do músculo ocular. Tratada com reposição de tiramina. Tratamento para síndrome de abstinência: A síndrome de abstinência ocorre naquele paciente que é etilista crônico. Após 6 horas de abstenção: apresenta agitação psíquica e motora, cefaleia, ansiedade, insônia, alucinações visuais, desorientação total, e em casos mais graves, convulsão, delírios e arritmias. Na maioria das vezes é tratadaem hospital, pois o paciente fica muito agitado e agressivo. Com isso, é encaminhado ao hospital. Como é tratado? Uso de benzodiazepínicos: É a principal conduta. É utilizado pois o benzodiazepínico se liga no mesmo receptor que o etanol, tendo o mesmo efeito de satisfação. Os medicamentos escolhidos podem ser o clorodiazepóxido, ou diazepam. Esses medicamentos têm ação longa, podendo ser utilizados uma vez por dia em uso ambulatorial. Caso o paciente tenha função hepática deficitária, utiliza-se o lorazepam ou oxazepam. A diferença entre um tratamento hospitalar e ambulatorial é a via de administração (endovenosa x via oral). Além disso, é feita a reposição de tiamina, para evitar distúrbios neurológicos. A reposição é feita por via intramuscular por 7 a 15 dia e depois por via oral. Tratamento pra etilismo: Feito com o paciente que deseja parar de beber: Dissulferam (Antietanol®): Promove indução enzimática da aldeído desidrogenase, acumulando os níveis de acetaldeído no organismo no paciente. Dessa forma, quando o paciente toma o medicamento e ingere álcool, ele irá ter efeitos colaterais, parecidos com a ressaca: ruborização, cefaleia, náusea, vômito, irritabilidade. O que faz ele parar de beber é deixar de ingerir álcool para evitar os sintomas desconfortáveis. Antes de iniciar o tratamento, o paciente deve ficar de 12 a 24 horas sem beber. É importante frisar que o medicamento não tira a vontade de beber. É muito importante que se faça tratamento psicoterápico junto com a medicação para que se tenha efeito. O paciente não deve ingerir nenhuma bebida alcoólica, nem nenhum alimento com álcool. O medicamento é de fácil acesso pelo seu custo baixo, porém a aderência é muito baixa. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 9 Resumão Psicofarmacologia Naltrexona: • Diferente do dissulfiram, esse diminui a vontade de beber. • É um antagonista de receptores opioides que inibe a vontade de beber. Como o álcool aumenta as substâncias opioides como endorfina, a alternativa seria bloquear os receptores desses opioides, por consequência, diminuir o prazer causado pelo consumo de álcool. Contraindicação: Pacientes com insuficiência hepática, pacientes dependentes de drogas opioides (heroína, por exemplo) ou que usam analgésicos, podem ter síndrome de abstinência dessas substâncias. Não é indicado tomar naltrexona com dissulfiram pois essa associação potencializa possíveis doenças hepáticas. Acamprosato: Antagonista fraco dos receptores de NMDA e agonista de GABA. Medicamento mais recente no tratamento de etilismo. Mecanismo de ação: por ser análogo estruturalmente ao GABA, potencializa sua ação. Além disso, bloqueia de modo fraco os receptores de glutamato (NMDA). O medicamento realiza a mesma função que o álcool, por isso diminui a vontade de beber. Desvantagens: posologia de 3x ao dia. Vantagem: não causa lesão hepática. Como o acamprosato não depende do fígado para ser metabolizado, sendo eliminado pelo sistema renal, o uso concomitante com dissulfiram é recomendado para potencializar o efeito farmacológico. ANTIDEPRESSIVOS: Os antidepressivos são medicamentos muito utilizados pela clínica, não somente para tratamento de depressão. Em alguns casos, por exemplo, o antidepressivo tricíclico pode tratar dor neuropática, miopática ou neurogênica – como em casos de fibromialgia; tratamento de enxaqueca. O que vai variar a aplicação clínica de cada um desses fármacos será sua posologia. Depressão: diagnóstico Na depressão há redução dos níveis de neurotransmissores na fenda sináptica, como a serotonina (5-HT), noradrenalina (NE) e dopamina. Assim, o medicamento antidepressivo tem como finalidade aumentar a quantidade de neurotransmissores na fenda sináptica, independente de seu mecanismo de ação. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADT): Foi a primeira classe de antidepressivo descoberta e utilizada no Brasil. Antes, o tratamento para depressão severa era realizado pela eletroconvulsoterapia. Os ADT é uma classe muito eficaz no tratamento para depressão, porém produz muitos efeitos colaterais e por esse motivo tem sido menos utilizada. Os ADT são subdivididos em duas categorias: Aminas terciárias: amitriptilina, imipramina, clomipramina, doxepina. Aminas secundárias: desipramina, amoxapina, nortiptilina. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 10 Resumão Psicofarmacologia Mecanismo de ação: O neurotransmissor quando sai do neurônio pré- sináptico tem dois destinos: se ligar ao seu receptor no neurônio pós-sináptico ou ser recaptado pelo neurônio pré-sináptico. Os pacientes com depressão têm quantidade reduzida de neurotransmissores na fenda, que podem ser recaptados pela bomba de receptação do neurônio pré-sináptico. Então, de maneira geral, o mecanismo de ação dos ADT é inibição da receptação de neurotransmissores na fenda sináptica, aumentando sua quantidade na fenda. Os ADT agem bloqueando a recaptação dos neurotransmissores de noradrenalina e serotonina, aumentando esses neurotransmissores na fenda sináptica. Meia vida: tempo necessário para que 50% do medicamento seja eliminado pelo organismo. A meia vida dos ADT é 24 horas. O efeito do medicamento é realizado depois de 5x a meia vida; Por que há as reações adversas: Os ADT, ao invés de chegar ao SNC e apenas inibirem a receptação do neurotransmissor, têm afinidade por vários receptores no organismo, sendo capazes de se ligarem a diversos tipos de receptores. Por exemplo: os ADT são capazes de bloquear os receptores histaminérgicos do tipo H1, provocando sonolência, aumento do apetite, e consequentemente ganho de peso. Além disso, são capazes de bloquear os receptores muscarínicos de acetilcolina, provocando muitas reações anticolinérgicas, como: constipação intestinal, xerostomia, visão turva. Eles também bloqueiam os receptores alfa-1 adrenérgicos, provocando hipotensão postural no paciente e consequentemente tonturas. Contra-indicações: Existem situações em que o paciente que utiliza os ADT e manifestam efeitos colaterais graves, nesse caso deve se suspender o uso do ADT. Estas contraindicações são: • Nos casos de efeitos colaterais como retenção urinária grave e pacientes com crises de mania/psicose, ou pacientes com problemas cardíacos graves e idosos. O ADT pode causar crise de mania/psicose no paciente caso ocorra uma grande inibição da receptação do neurotransmissor, que passa então a estar em excesso podendo produzir uma crise psicótica no paciente. Especialmente o excesso de dopamina. • Em paciente com problemas cardíacos graves, são capazes de alterarem a condução elétrica cardíaca, e consequentemente podendo produzir bloqueio de ramo. • Em idosos é contraindicado devido a já possuírem a farmacocinética alterada, podendo acumular; os ADT por ter menor capacidade de biotransformação e excreção, potencializando os efeitos colaterais. O problema nesse caso, são a produção de efeitos colaterais anticolinérgicos centrais em pacientes idosos, que podem levar a alterações de memória. Ademais, a hipotensão ortostática (postural) pode levar a queda, e consequentemente fraturas que nesses pacientes são de difícil tratamento. INIBIDORES DE MAO (IMAO): A MAO (monoaminaoxidase) é a enzima responsável para degradação dos neurotransmissores que são monoaminas. Um paciente depressivo tem um número reduzido de monoaminas na fenda sináptica, se a MAO estiver ativa, ela irá degradar esses neurotransmissores. Então ao inibir a MAO, inibe a degradação desses neurotransmissores, e consequentemente aumenta a biodisponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica. Existem 2 tiposde MAO: MAO A e MAO B. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 11 Resumão Psicofarmacologia • MAO A: degrada a serotonina e a noradrenalina. • MAO B: degrada a dopamina. As duas podem ser localizadas em locais teciduais diferentes. No trato gastrointestinal encontra-se a MAO A, no SNC tem-se a MAO A e MAO B, no fígado MAO A e MAO B. Classificação dos IMAO: Inibidores seletivos e reversíveis: inibem MAO A ou MAO B, e o medicamento inibe a enzima temporariamente. Inibidores não seletivos e irreversíveis: inibem MAO A e MAO B, e o medicamento inibe a enzima definitivamente. Exemplos de IMAO: Seleginina: seletivo e reversível de MAO B – utilizado para tratamento de Parkinson. Moclobemida: seletivo e reversível de MAO A - utilizado no tratamento da depressão Tranilcipromina: não seletivo e irreversível de MAO - é o mais usado, com sucesso terapêutico alto Interações medicamentosas: Uma das desvantagens dos IMAO é seu alto índice de interação medicamentosa. Dentre as principais estão: Efeito queijo tiramina: a tiramina é uma substância presente em vários alimentos e medicamentos, quando utilizada por via oral ela sofre a degradação pela MAO A presente no TGI, os IMAO não seletivos ao inibirem essa MAO, inibem a degradação de tiramina, que será absorvida em uma maior quantidade pelo TGI chegando em grande quantidade na corrente sanguínea. A tiramina aumenta a liberação de noradrenalina pelos neurônios pré-sinápticos, isso significa que o consumo massivo de tiramina origina no paciente uma crise hipertensiva grave que pode ser potencialmente fatal. Então os pacientes que utilizam inibidores de MAO não seletivos têm uma restrição dietética, devem evitar consumir queijos, vinho, chocolate, fígado de galinha, necessitando de um acompanhamento nutricional. Tranilcipromina desvantagem: A desvantagem da tranilcipromina é a produção de insônia, por isso para evitar esse efeito colateral se pede para o paciente tomar o medicamento antes das 16 horas, diminuindo o risco de produzir insônia. Associação de ADT E IMAO: a associação do inibidor de MAO com ADT pode provocar uma crise norapinergica (aumento súbito de noradrenalina no organismo), porque o ADT impede a receptação de noradrenalina aumentando a quantidade de noradrenalina na fenda, o IMAO inibe a degradação da noradrenalina, isso quer dizer que se tem um aumento brusco de noradrenalina no organismo, podendo ter elevações de pressão. INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS): A função dessa classe é inibir a recaptação de serotonina para o neurônio pré- sináptico, aumentando a concentração de serotonina na fenda pré-sináptica. Exemplos: fluoxetina, paroxetina, sertralina, fluvoxamina, citalopram, escitalopram. Vantagens: • Não bloqueia os receptores histaminérgico, muscarínico e alfa-1 adrenérgico, com isso produz menos efeitos colaterais nos pacientes. • Não possui interação medicamentosa com alimentos. • Por ter a meia vida de eliminação longa, pode ser utilizado uma vez ao dia. Interação medicamentosa A única interação medicamentosa importante é a relação entre a paroxetina e a fluoxetina. Esses fármacos são inibidores enzimáticos, assim, inibem o metabolismo de outros medicamentos, principalmente da CYP2D6 (enzima que metaboliza os ADT). Por isso, deve-se ter cuidado ao associar esses medicamentos, pois podem inibir a metabolização do ADT aumentando a concentração plasmática. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 12 Resumão Psicofarmacologia A paroxetina e a fluoxetina também interagem com o tamoxifeno, que é um fármaco utilizado para o tratamento para o câncer de mama, é um modulador dos receptores de estrogênio, impedindo a ligação deste hormônio no seu receptor impedindo a proliferação da célula cancerígena. O tamoxifeno é um pró-fármaco, ou seja, ele precisa sofrer metabolismo pela CYP 2D6 para se transformar no fármaco ativo. A fluoxetina e a paroxetina inibem a CYP2D6. Então uma paciente com câncer de mama utilizando tamoxifeno, e pode desenvolver uma depressão, ao fazer o uso da fluoxetina e paroxetina, esses medicamentos irão inibir drasticamente o efeito farmacológico do tamoxifeno. Reações adversas Apesar de apresentar menos efeitos colaterais que os ADT por exemplo, os ISRS produzem alguns efeitos, sendo os seus principais: • Por conta do excesso de serotonina no organismo, que se liga aos outros receptores, inclusive do trato gastrointestinal, pode provocar náuseas e vômitos, além de produzir agitação, pânico e insônia. • Disfunção sexual, principalmente no sexo masculino, pelo alto índice de serotonina no corpo. Atenção: Associação entre ISRS E IMAO Pacientes que tomam fluoxetina e associam com algum IMAO podem apresentar crise serotoninérgica. Pelo fato de o ISRS inibir somente a recaptação de serotonina e o IMAO inibir a degradação de serotonina, provoca-se o excesso desse neurotransmissor, causando a crise serotoninérgica. Sendo que as principais reações são: insônia, hipertensão, aumento da temperatura corporal, rigidez muscular, diarreia, dor abdominal. Abstinência A suspensão repentina de medicamentos antidepressivos pode provocar síndrome de abstinência. Como esses fármacos agem no SNC, é preciso que seja feito um desmame, ou seja, uma diminuição gradativa do uso. Como muitos pacientes param a medicação por conta própria, a síndrome pode ocorrer. Estudo de caso: Um paciente faz uso de fluoxetina e um usa citalopram para controlar sintomas depressivos, ambos decidem parar de tomar os medicamentos por conta própria. Qual vai apresentar crise de abstinência mais acentuada e mais rápido? Como a fluoxetina tem meia vida de eliminação mais longa, de 2 a 4 dias, o seu metabólito tem meia vida de 15 dias, e o temo mínimo para que se faça efeito é 2 meses. Já o citalopram tem meia vida de eliminação de 24 horas, então ele será eliminado mais rápido. Consequentemente, o paciente que apresentará crise de abstinência mais rápido será o que faz uso de citalopram. Tratamento de depressão em idosos A classe mais segura para essa população é os ISRS, porém a fluoxetina e a paroxetina devem ser evitados, pois como os idosos tendem a tomar mais de uma medicação e esses fármacos são inibidores enzimáticos, a probabilidade de haver interação medicamentosa é maior. Além disso, como a fluoxetina tem meia vida de eliminação longa, pode acumular no corpo do idoso, provocando mais efeito colateral. Mirtazapina: Para o idoso é interessante utilizar o citalopram e a sertralina dentro dos ISRS, ou pode se utilizar outros antidepressivos de segunda geração, por exemplo: existe um antidepressivo de segunda geração que é a mirtazapina, ela é interessante para ser utilizado em idosos, principalmente aqueles que têm insônia, porque a mirtazapina mesmo sendo de segunda geração é um medicamento antidepressivo que bloqueia os receptores histaminérgicos H1 e produz sonolência no paciente. INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NORADRENALINA (IRSN): Assim como os ADT, essa classe também inibe a recaptação de serotonina e noradrenalina, sendo o seu principal fármaco a RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 13 Resumão Psicofarmacologia venlafaxina, que possui sua estrutura química diferente dos ADT, que é tricíclico. Mecanismo de ação: o mesmo que os ADT, bloqueia a recaptação de serotonina e noradrenalina, aumentando esses neurotransmissores na fenda sináptica. A vantagem da venlafaxina sobre os ADT é que ela não bloqueia os receptores histaminérgicos, muscarínicos e alfa-1 adrenérgicos, produzindo menos efeito colateral. Principal efeito colateral: a venlafaxinapode provocar náuseas, principalmente no início do tratamento. Venlafaxina de liberação imediata: tem meia vida de eliminação muito curta e por isso deve ser utilizada de 2 a 3 vezes ao dia. Se usada em doses mais elevadas, pode produzir no paciente hipertensão diastólica sustentável devido a seu mecanismo de ação. Venlafaxina XR: pode ser tomada em dose única diária e é liberada gradativamente na corrente sanguínea do paciente durante todo o dia, fornecendo menos risco de causar hipertensão, pois sua concentração plasmática vai ser controlada durante o dia, evitando picos plasmáticos. ANTIDEPRESSIVO NORADRENÉRGICO E SEROTONINÉRGICO ESPECÍFICO (ANASE): Diferente dos outros medicamentos que inibem a recaptação de serotonina e noradrenalina, o ANASE aumenta a disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica. Mirtazapina Principal medicamento dessa classe. É antagonista dos receptores alfa-2 adrenérgicos e age bloqueando esses receptores no neurônio pré-sináptico. Então, se ocorre o bloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos, aumenta-se a liberação da noradrenalina na fenda sináptica. Se ela se ligar como agonista, existe uma inibição da liberação do neurotransmissor. Ou seja, a Mitarzapina bloqueia o receptor, ele não liga e ela impede que a NE se ligue ao receptor alfa-2. Se não se ligar, não tem autorregulação porque a liberação de NE aumenta, não tem controle. Como visto, além de bloquear o autorreceptor adrenérgico, ela também bloqueia o hétero receptor. Se a NE se ligar ao receptor alfa-2 adrenérgico presente no neurônio serotoninérgico, a NE regulará a liberação de serotonina, impedindo sua liberação. Como a Mitarzapina bloqueia esse receptor, essa liberação de serotonina na fenda sináptica irá aumentar. Então, aumenta-se a liberação de NE e serotonina pelo bloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos no neurônio pré-sináptico – tanto do noradrenégico quando do serotoninérgico. A Mitarzapina é bastante prescrita porque pode ser utilizada tanto em monoterapia – quando o paciente não tem um sucesso terapêutico com outros fármacos – ou em uma associação da Mitarzapina com outros antidepressivos para potencializar ação. Ela é interessante porque tem um mecanismo diferente dos outros. Imagine associar um ADT com venlafaxina. É possível, mas os dois têm o mesmo mecanismo de ação – ambos bloqueiam a bomba de recaptação e, querendo ou não, vão acabar competindo pelo bloqueio da bomba. Se eu não tenho uma melhora com a venlafaxina, eu posso associar a Mitarzapina porque ela vai aumentar a quantidade na fenda sináptica por liberação, então a melhora clínica é porque eu aumento ainda mais a disponibilidade do neurotransmissor. Ela é interessante para depressão associada à ansiedade ou para pacientes que tenham depressão associada com insônia. Também tem grande capacidade de bloquear os receptores H1 de histamina, produzindo sonolência no paciente – o paciente tem uma redução do SNC e fica menos agitado. O problema é que alguns indivíduos aumentam o peso corporal ao usar o medicamento porque ele bloqueia o receptor H1, aumentando o apetite. RESUMÃO PSICOFARMACOLOGIA RAFAELA FIDELIS – RESUMOS PSICOLOGIA 14 Resumão Psicofarmacologia BLOQUEADORES DE RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA E DOPAMINA (IRND): Bupropiona: Mecanismo de ação: inibe a recaptação de noradrenalina e dopamina, aumentando sua quantidade na fenda sináptica. É um fármaco muito prescrito, além de ser usado para depressão, também pode ajudar no hábito de parar de fumar, pois como a nicotina aumenta a liberação de dopamina, e por inibir a recaptação desse neurotransmissor, diminui a vontade de fumar porque a vontade surge quando a nicotina atinge o SNC aumentando a noradrenalina e causando sensação de compensação. Como a Bupropiona inibe a recaptação de noradrenalina, ela aumenta sua quantidade no locus- cereleus no SNC, diminuindo o risco de crise de abstinência nos pacientes fumantes. Interação medicamentosa: Fármacos anticonvulsivantes são capazes de induzir o metabolismo da Bupropiona, facilitando sua excreção e diminuindo seu efeito farmacológico. Por isso, para pacientes epilépticos, em uso de anticonvulsivantes, é interessante utilizar outra classe de antidepressivos. Pacientes com crises convulsivas e epilépticos: cuidado ao receitar pois quando utilizada em grande quantidade, diminui o limiar convulsivo, aumentando o risco de crise convulsiva. Reações adversas: A Bupropiona apresenta poucos efeitos colaterais, principalmente quando utilizada em doses terapêuticas normais. Esses efeitos tendem a ser leves e transitórios. Sendo a crise convulsiva o principal e mais grave efeito colateral, porém ocorrem em pacientes suscetíveis. Vantagens: Como ela não tem afinidade de ligação aos receptores histaminérgicos, muscarínicos, e alta- 1 adrenérgicos, possui baixa probabilidade de efeito colateral.
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