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1 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 10/02/2022 – 17/02/2022 – Aula 2 e 3 DEFINIÇÃO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). - Doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) superam os riscos. - Condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA). - PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. Por se tratar de condição frequentemente assintomática, a HA costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. → Ninguém morre de hipertensão, as pessoas morrem de lesões em órgãos alvo. Ela é o principal fator de risco modificável com associação independente, para doenças cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e morte prematura. Apresenta impacto significativo nos custos médicos e socioeconômicos, decorrentes das complicações nos órgãos- alvo. FATORES DE RISCO PARA HIPERTENSÃO ARTERIAL Fatores de risco não modificáveis - Genética: Os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%, no Brasil devido à ampla diversidade de genes, às variantes genéticas estudadas até o momento e à miscigenação em nosso país, não foram identificados dados uniformes com relação a tal fator. - Idade: 65% dos homens com mais de 60 anos desenvolvem hipertensão. Então, é possível que todos evoluam com hipertensão ao longo do envelhecimento. - Sexo: nos jovens, a PA é mais elevada em homens. No entanto, a elevação pressórica por década de vida se apresenta mais elevada nas mulheres. Com 65 anos ou mais não há diferença de PA entre homens e mulheres. - Etnia em nosso país, não houve uma diferença significativa entre negros e brancos. Miscigenação importante. Fatores de risco modificáveis - Ingestão de Sódio e Potássio: o consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco modificáveis para a prevenção e o controle da HA, enquanto o aumento na ingestão de potássio reduz os níveis pressóricos. A partir disso, pode-se considerar a alteração do consumo de sódio e potássio como a primeira alteração do tratamento não farmacológico no indivíduo hipertenso. A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 g/dia (9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é de 2,7 g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres. Recomenda-se que a ingestão de sódio seja limitada a aproximadamente 2 g/dia (equivalente a cerca de 5 g de sal por dia) na população em geral. - Sedentarismo: há uma associação direta entre sedentarismo, elevação da PA e da HA. O sedentarismo é maior entre as mulheres. 150 min de atividade física moderada (caminhada) por semana. 75 min de atividade física intensa por semana. - Álcool: há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingerem seis ou mais doses ao dia, o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja = 2 taças de vinho = 1 dose de destilados. - Tabagismo: o risco associado ao tabagismo é proporcional ao número de cigarros fumados e à profundidade da inalação. Parece ser maior em mulheres do que em homens. - Fatores Socioeconômicos: relacionado a menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da baixa renda familiar. Esses fatores determinam o acesso aos serviços de saúde, a condição de seguir o tratamento farmacológico. Farmácia popular disponibiliza como medicamentos anti- hipertensivos um IECA (Enalapril) e um BRA (Losartana). O beta bloqueador oferecido pelo SUS é o Atenolol (não é seletivo, vários efeitos colaterais), alguns postos de saúde têm Carvedilol (seria uma melhor escolha em relação ao Atenolol). O SUS oferece medicações importantes, mas que não são as melhores. Então, pessoas com maior condição socioeconômica vão conseguir fazer um tratamento farmacológico mais eficiente. O estresse e a alimentação também estão inclusos nesses fatores socioeconômicos, e indivíduos com maior condição socioeconômica tendem a ter menos estresse e melhor alimentação. Paciente que faz fibrilação atrial e depende do SUS, vai fazer o Marevan® (Varfarina), anticoagulante que age na inibição dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K. Esse medicamento altera sua absorção de acordo com a dieta (consumo de verduras proporciona muita oferta de vitamina K, o que influencia diretamente na cascata de coagulação, reduzindo a absorção do medicamento; enquanto, o não consumo de verduras, aumenta a absorção da varfarina). Quando o medicamento é muito absorvido, pode ocorrer sangramentos. Então, deve-se avaliar o tempo de protrombina do paciente toda semana. - Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): aumento do risco para HA resistente (difícil tratamento, difícil controle, paciente tem que Hipertensão arterial sistêmica 2 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 fazer 2, 3 e as vezes 4 classes de medicação). Ao tratar a apneia, consegue-se reduzir a PA. Existe uma associação mais forte de caucasianos e pacientes do sexo masculino. - Sobrepeso/Obesidade: parece haver uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA. É esperada a diminuição de 1mmHg por cada quilo de peso perdido, isto é, a cada 10 kg perdidos, diminui-se 10 mmHg da PAS. A obesidade (fator modificável mais difícil que se tem!!! Está muito relacionada à compulsão que é um problema psíquico) é um importante fator de risco para HAS, sobretudo por produzir aumento de insulina e de leptina circulantes. A hiperinsulinemia pode causar HAS por meio de alterações estruturais e funcionais na musculatura lisa vascular e pela disfunção endotelial. • O aumento de 4,5 kg no peso promove elevação da PAS em 4,4 mmHg. • A prevalência de HAS é cerca de três vezes maior em obesos. • Um dos principais fatores que predispõem à refratariedade ao tratamento da hipertensão. Vício do açúcar adquirido antes dos 14 anos de idade é mais difícil de ser controlado, porque esse vício está incluído já nas alterações neurológica desses indivíduos. A perda ponderal reduz a PA, mesmo sem alcançar o peso corporal desejável. Em uma metanálise incluindo 25 estudos, a perda ponderal de 5,1 kg reduziu, em média, a PAS em 4,4 mmHg e a PAD em 3,6 mmHg Figura 1: Resumo fatores de risco para HAS. Carey et al. 2008. FISIOPATOLOGIA DA HAS Fatores de risco modificáveis estão relacionados ao ambiente, enquanto os fatores de risco não modificáveis estão relacionados a história familiar, herança genética (alterações mono/poligênicas). Todos os 4 fatores abaixo são responsáveis por manter a pressão arterial regulada. No entanto, quando qualquer um desses fatores sofrerem um desequilíbrio isto irá influenciar no débito cardíaco (quantidade de sangue que sai do coração) e/ou na resistência vascular periférica (pressão do sangue na parede do vaso), consequentemente, alterando a PA. 1 - Mecanismos neurogênicos O sistema nervoso simpático (SNS) é responsável pelo controle em curto-prazo da PA, promovendo elevação da RVP, da contratilidade e da frequência cardíaca (FC). O aumento da atividade simpática é observado principalmente nas fases iniciais da HAS, ou mesmo, em estados pré-hipertensivos. Em crianças e adolescentes com HAS primária, a FC em repouso é maior do que em crianças normotensas e, muitas vezes,está associada com altos níveis circulantes de norepinefrina, descarga adrenérgica sistêmica e no nervo renal. Estas alterações na HAS são mais frequentes na criança com obesidade. Hiperatividade simpática: sua etiologia não é totalmente esclarecida, porém, culmina em um aumento do débito cardíaco, da resistência vascular periférica e da pressão arterial. 2- Sistema renina-angiotensina (SRA) Precisamos lembrar que o SRA é responsável pela integração entre os sistemas cardiovascular e renal, por meio de mecanismos de sinalização. Sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) super estimulado: o aparelho justa glomerular do rim produz a renina, que converte o angiotensinogênio, oriundo do fígado, em angiotensina (Ang) I. A enzima conversora de angiotensina (ECA), produzida principalmente no alvéolo e no endotélio renal, converte o angiotensina I em angiotensina II. Então, pode-se observar que o SRA é basicamente uma cascata linear de reações que resulta na formação de Ang II, principal mediador. Lembrar que outras angiotensinas são produzidas nesse sistema, e cada uma apresenta funções distintas, dentre essas destaca-se a Ang 1-7. O receptor AT1 é responsável pela maioria das ações fisiológicas e fisiopatológicas do SRA, cuja ativação pela Ang II, resulta em vasoconstrição renal e sistêmica, secreção de aldosterona, potencializa a atividade do sistema nervoso simpático (SNS), retenção renal de Na+ e água, estimulação da secreção de arginina vasopressina (hormônio antidiurético) e hipertrofia e hiperplasia das células-alvo. Além desses efeitos que culminam com a elevação da pressão arterial (PA), a Ang II produz ações lesivas aos vasos sanguíneos, tais como aumento do potencial oxidativo do tecido vascular, efeitos pró-trombóticos intrínsecos e estímulo à adesão, migração e proliferação de leucócitos e outras células inflamatórias aos sítios de lesão, levando à formação de fibrose da neo-íntima e de placas ateroscleróticas. - Peptídeos e interação coração-rim; Silva ACS, Pinheiro SVB, Santos RAS. 135 Rev Bras Hipertens vol.15(3):134-143, 2008. 3 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 A aldosterona atua no túbulo distal, e leva à reabsorção de sódio e secreção de potássio e hidrogênio, acarretando no aumento da volemia. Como já dito, a angiotensina II estimula a produção da arginina vasopressina, isto é, hormônio antidiurético, porque a Ang II atua no hipotálamo e estimula a produção desse hormônio (ADH), aumentando a sensação de sede e retenção de água pelos rins. Referência: Peptídeos e interação coração-rim; Silva ACS, Pinheiro SVB, Santos RAS. 135 Rev Bras Hipertens vol.15(3):134-143, 2008. Em relação ao mecanismo renal: A redução do número de néfrons, encontrada em pacientes com displasia renal, prematuridade e baixo peso ao nascimento, representa um importante fator de risco para HAS na vida adulta. O aumento da retenção renal de sódio e água, devido à resistência intrínseca à natriurese, promove o aumento da volemia e do débito cardíaco. Muitos fatores, tais como regulação da expressão gênica, tratamento da gestante com glicocorticoides, exotoxinas, hiperglicemia e desnutrição durante a gestação também podem interferir com a nefrogênese, levando ao desenvolvimento de rins com menor número de néfrons. A hipótese de redução na superfície de filtração é, por sua vez, fundamentada na existência de subpopulações de néfrons isquêmicos, devido à vasoconstrição das arteríolas aferentes provocada pela Ang II. Essa redução crônica da perfusão renal produz secreção aumentada de renina que interfere com a capacidade dos néfrons normais em regular a excreção de sódio e perturba todo o controle da PA. 3 - Peptídeos vasoativos: estão relacionados ao sistema nervoso autônomo simpático, promovendo liberação de adrenalina. 4 - Endotélio: a disfunção endotelial é um traço comum entre a HA e suas complicações. O que é disfunção endotelial? É desencadeada por baixa disponibilidade de óxido nítrico (importante para induzir ao relaxamento de arteríolas), assim há um desequilíbrio local entre os fatores de relaxamento e constrição das arteríolas. A vasodilatação pode ser mediada pôr NO, bradicinina, angiotensina 1-7, mas no caso de inflamação e disfunção endotelial, a mediação realizada por esses peptídeos é prejudicada, levando ao aumento da resistência vascular periférica e alterando a permeabilidade endotelial. O estado inflamatório crônico leva à secreção de citocinas pró inflamatórias (IL-4 que promove a adesão leucocitária ao induzir a expressão de VCAM-1; endotelina-1; angiotensina II), o que reduz a produção de NO sintetase endotelial responsável pela síntese do NO, e ao mesmo tempo aumenta o estresse oxidativo, degradando rapidamente o NO presente no endotélio. A alteração da permeabilidade vascular se dá por aumento da proliferação de células musculares lisas, degradação de elastina e aumento progressivo do colágeno, o que resulta num reajuste endotelial e aumento da permeabilidade, o que serve de “abrigo” para deposição de LDL-c no espaço subendotelial, iniciando o desenvolvimento da aterosclerose. A HAS acelera o envelhecimento vascular, uma resposta mecanobiológica local ao aumento de estresse induzido pelo aumento da PA, e, consequentemente, a HAS também intensifica a rigidez arterial. O aumento da pressão arterial nos vasos sanguíneos de forma crônica, leva a um remodelamento arteriolar, isto é, inicia-se o remodelamento, forma-se placa de ateroma, inflamação do endotélio, e posteriormente ocorre acúmulo de cálcio na camada média. Dessa forma, o próprio endotélio libera uma série de 4 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 substâncias e mediadores responsáveis por vasoconstrição, e inibe os mediadores responsáveis pela vasodilatação, aumentando a resistência vascular periférica. Portanto, desde que não tratada, a própria hipertensão gera mais hipertensão, perpetuando assim um ciclo vicioso. Com a idade, observamos fragmentação e degeneração da elastina e aumento progressivo do colágeno, acompanhado de depósito de cálcio na camada média arterial, com consequente aumento da rigidez arterial. A PA é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) com a resistência vascular periférica (RVP). Repetindo mais uma vez... O DC e RVP são regulados por mecanismos neurais, renais, humorais, endoteliais e locais de controle das funções cardiovasculares e renais. Desta forma, a HAS pode-se desenvolver a partir de anormalidades em quaisquer mecanismos homeostáticos de controle da RVP e/ou do DC. ETIOLOGIAS DA HIPERTENSÃO - HA primária: mais comum em adultos e está relacionada à predisposição genética, sobrepeso e obesidade, fatores ambientais e hábitos de vida não saudáveis, que não tem uma causa clara. Os mecanismos subjacentes à hipertensão primária não estão totalmente elucidados. - HA secundária: quando há uma doença de base ou causa subjacente à hipertensão. Dentre as causas mais comuns temos as doenças do parênquima renal, hiperaldosteronismo, hipertensão renovascular (angioplastia na artéria renal para levar ao aumento do volume de sangue no vaso), afecções endócrinas, tumores (feocromocitoma e neuroblastoma) e uso de medicamentos ou drogas ilícitas que elevam a PA. Tem prevalência de 3 a 5 % em pacientes adultos, sendo mais comum em pacientes pediátricos, com sua prevalência variando conforme o local de atendimento da criança. Renovascular Endócrina: Tireoide e Suprarrenal Coarctação da aorta → hipertensão primária da infância. Criança dos 6 a 9 anos começam a se queixar de cansaço. Medicamentosa: uso de anticoncepcional, uso corticosteroides Doença Hipertensiva Específica Da GravidezDébito cardíaco aumentado IAo, estados hipercinéticos, fistulas arteriovenosas, Rigidez da aorta (aorta calcificada, em porcelana, não tem mais complacência) Aterosclerose Outras: hiperparatireodismo, tumores produtores de renina, acromegalias, etc. MECANISMOS RENAIS Os rins influenciam a PA basicamente por meio do controle do equilíbrio hidrossalino, dos ajustes da excreção renal de sódio, da autorregulação renal e da ativação do sistema renina-angiotensina (SRA). A HA está associada ao número de néfrons, então quanto menor o número de néfrons, menor a superfície renal, maior será a retenção de sódio, o que leva ao aumento da volemia, aumento da pressão glomerular e, por fim, leva ao aumento da PA. COMO FAZER O DIAGNÓSTICO?? Anamnese A história clínica deve incluir perguntas sobre o tempo de diagnóstico (hipertenso de longa data e nunca se tratou, hipertenso tratado, hipertenso que usa medicação da maneira certa, mas não conseguiu controlar a PA), evolução e tratamento prévio, adesão/eficácia/reações adversas. As informações sobre a história familiar são fundamentais para aumentar a certeza do diagnóstico de HAS primária. História familiar de AVC, DAC (homens com menos de 55 anos e mulheres com menos de 65) e morte súbita, bem como diagnósticos de HAS, dislipidemia. Devem ser pesquisados fatores de risco para doenças cardiovasculares, comorbidades e estilo de vida, além do uso prévio e atual de medicamentos ou outras substâncias que possam afetar a medida da PA. Assim como em pediatria, devem ser investigados sinais e sintomas sugestivos de HAS, sintomas de doença arterial coronariana (DAC) e insuficiência cardíaca, doença vascular encefálica, insuficiência vascular periférica (artérias das pernas obstruídas, será que no coração já está obstruído?), doença renal, DM e indícios de hipertensão secundária devem ser exaustivamente investigados (tentar descobrir a causa). Fatores de risco coexistentes na hipertensão arterial Sexo masculino Idade: > 55 anos no homem e > 65 anos na mulher DCV prematura em parentes de 1o grau (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos) Tabagismo Dislipidemia: LDL-colesterol ≥100mg/dL e/ou não HDL-colesterol 130 mg/dL e/ou HDL-colesterol ≤ 40mg/dL no homem e ≤ 46mg/dL na mulher e/ou TG >150 mg/dL Diabetes melito Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) 5 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 Fatores que podem modificar o risco do paciente hipertenso História familiar ou nos pais de início precoce de hipertensão arterial Nível muito elevado de um FR individual, incluindo HA estágio 3 Eclampsia/pré-eclâmpsia prévia Apneia do sono Pressão de pulso > 60 (em pacientes idosos) Ácido úrico > 7 mg/dL (homens) e > 5,7 mg/dL (mulheres) (GR: I, nível: C) Proteína C-reativa ultrassensível > 2mg/L (GR: I, nível: B) FC > 80 bpm Síndrome metabólica Sedentarismo Fatores psicossociais e econômicos Distúrbios inflamatórios crônicos Paciente com apneia obstrutiva do sono, dorme sofrendo hipóxia, acorda no meio da noite, por um estímulo do bulbo para respirar, então esse paciente vive no limite!! Esse paciente vive com bradipneia, com tontura. Exame físico Medida da PA com técnica adequadas, obter medidas repetidas, em ambos os braços. Coletar dados antropométricos. Palpação e ausculta atenta do coração, vasos (carótidas), pulsos. Realizar fundoscopia ou retinografia (quando disponível): identificar aumento do reflexo dorsal, estreitamento arteriolar, cruzamentos arteriovenosos patológicos, hemorragias, exsudatos e papiledema (sinais de retinopatia hipertensiva). PS.: Lembre-se o olho pode ser um órgão acometido!!! Na avaliação complementar se faz a busca mais detalhada de lesão em órgãos alvo, estratificar o risco cardiovascular. Fatores de risco clássicos: idade, sexo, tabagismo, dislipidemia, DM e história familiar precoce para doença cardiovascular. Palpação de pulsos arteriais: palpar bilateralmente, avaliar a amplitude do pulso. 90% dos pacientes com diagnóstico de hipertensão arterial são ASSINTOMÁTICOS. Por isso, alguns sintomas que podem ser relatados não estão especificamente relacionados à pressão arterial elevada. A hipertensão arterial é causa de cefaleia importante APENAS nos estágios mais graves, como a hipertensão maligna ou a encefalopatia hipertensiva → pressão sistólica acima de 180-200 mmHg pode levar o paciente a ter sintomas relacionados a hipertensão arterial sistêmica. Os sintomas que de fato vão levar os pacientes para emergência são aqueles que são referentes à repercussão de lesões de órgão alvo. AVALIAÇÃO INICIAL 1. Confirmar o diagnóstico de HAS por medida da PA; 2. Identificar fatores de risco para DAC; 3. Pesquisar lesões em órgãos-alvo, clínicas ou subclínicas; 4. Pesquisar presença de outras doenças associadas; 5. Estratificar o risco cardiovascular global (prognóstico cardiovascular do paciente); 6. Avaliar indícios do diagnóstico de hipertensão arterial secundária (ter certeza que é HAS primária). AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR NA HAS PRIMÁRIA Exames complementares de rotina Análise de urina (GR: I, NE: C) Potássio plasmático (GR: I, NE: C) Sódio plasmático – para saber se o paciente está retendo sódio Creatinina plasmática (GR: I, NE: B) Glicemia de jejum (GR: I, NE: C) e HbA1c (GR: I, NE: C) Estimativa do ritmo de filtração glomerular (GR: I, NE: B) Perfil lipídico: Colesterol total, HDLc e triglicerídeos plasmáticos (GR: I, NE: C) Ácido úrico plasmático (GR: I, NE: C) Eletrocardiograma convencional (GR: I, NE: B) – 12 derivações COMO CALCULAR O CLEARANCE DE CREATININA? AVALIAÇÃO DA TFG Algumas medicações, como IECA e BRA, prejudicam a função renal do paciente. Então, se o paciente já tem algum comprometimento renal deve-se pensar qual é o melhor medicamento de escolha para oferecer a ele e se é necessário fazer ajuste de dose. 6 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 EXAMES RECOMENDADOS PARA POPULAÇÕES INDICADAS UTILIZAÇÃO DA MAPA A utilização da Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) durante 24 horas é útil nas seguintes condições: grandes variações na Pressão Arterial (Feocrocitoma, hipertensão lábil), Hipertensão do avental branco para avaliar eficácia de tratamentos (Usa a medicação direito? Medicação não está fazendo efeito? Síndrome do avental branco?). Não deve ser utilizado em estudos com bases populacionais para obter-se a prevalência de hipertensão arterial. A MAPA deve ser feita em um dia normal, porque essa monitorização ajuda a estabelecer uma relação entre as atividades do dia a dia (estresses, emoções) e as alterações na PA, no decorrer dessas 24 horas. Se o paciente não tiver o descenso noturno, isto é, a diminuição da PA durante as horas de sono, já se pode considerá-lo pré- hipertenso. INDICAÇÕES, VANTAGENS E UTILIDADES DA MAPA Melhor correlação com desfechos cardiovasculares (IAM e AVC) Atenuação do efeito do observador (obtenção de valores que se aproximam da PA real durante as atividades habituais do paciente) → observa-se o dia a dia do paciente. Obtenção de múltiplas medidas nas 24 horas Avalia o comportamento da PA durante o sono → pré-hipertenso? Avalia a elevação matinal precoce da PA → paciente dorme, tem o descenso noturno da PA, e de manhã a pressão sobe muito rápido. Afastar o diagnóstico de HAS na avaliação inicial do paciente com suspeita → Identificação da reação de alarme. Identificação de Hipertensão mascarada → quando o paciente está no consultório a pressão está normal, mas quando ele está fora do consultório, o paciente vai parar na emergência por pressão alta. Avaliação de sintomas de hipotensão → paciente faz síncope, baixo débito. Identificação de hipertensão resistenteverdadeira e pseudo → hipertensão resistente (Avaliação da eficácia anti-hipertensiva) LIMITAÇÕES DA MAPA Braços com dificuldade do ajuste adequado do manguito → muito grande ou pequeno. Valores muito elevados da PAS → aparelho não consegue medir. Situações clínicas associadas a distúrbios do movimento (Parkinson) → paciente precisa ficar em repouso. Arritmias cardíacas (fibrilação atrial, Flutter atrial, extrassístoles ventriculares frequentes) → interferem na medida da pressão. Desconforto do método, principalmente à noite → 15 em 15 minutos o manguito insufla. Custo relativamente elevado. Disponibilidade limitada nos serviços de saúde. RECURSO ALTERNATIVO: MONITORIZAÇÃO RESIDENCIAL DA PA O próprio paciente vai fazendo a monitorização e anotando as medidas da aferição da PA a cada dia, em um intervalo de tempo estabelecido (sugestão: 3 vezes pela manhã, 3 vezes pela noite). VANTAGENS DA MRPA Confirmação diagnóstica da hipertensão arterial. Descenso noturno 7 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 Identificação e seguimento da hipertensão do avental branco. Identificação e quantificação do efeito do avental branco. Identificação da hipertensão mascarada. Verificação da eficácia do tratamento anti-hipertensivo. Confirmação diagnóstica da hipertensão arterial resistente Maior número de medidas da PA e em diferentes dias Minimiza a reação de alarme Boa reprodutibilidade com baixo custo Boa aceitação (inclusive crianças, adolescentes e idosos) Melhora a adesão medicamentosa Aumenta as taxas de controle da PA LIMITAÇÕES DA MRPA Possibilidade de erros na obtenção das medidas da PA. Possibilidade de indução de ansiedade em alguns pacientes. Pacientes com arritmias (fibrilação atrial, extrassístoles frequentes, bradicardia sinusal) para equipamentos sem essa validação. Esse método não é muito confiável, o paciente que faz. FATORES QUE INTERFEREM NO DIAGNÓSTICO DA HAS De acordo com o paciente, o tamanho do manguito vai alterar. Por exemplo, crianças precisam de um manguito menor, enquanto obesos precisam de manguito maior. Em idosos pode acontecer o fenômeno do endurecimento das artérias, o que pode levar a um quadro de pseudohipertensão. Quando se insufla o manguito, para se medir a pressão, colaba a artéria. Mas, quando faz isso no idoso com endurecimento da artéria é necessário fazer uma pressão ainda maior, gerando um pico hipertensivo transitório, uma vez que aumenta a resistência vascular periférica. Além disso, o método correto de diagnóstico da HAS, estipula que as medições da PA precisam ser bilaterais, e realizadas em um intervalo de 5 minutos (sentado, deitado e em pé). Condições clínicas (DM, hipovolemia, uso de drogas anti- hipertensivas) podem levar ao quadro de hipotensão quando o paciente fica em posição ortostática. Deve-se fazer nova aferição da PA 2 a 3 minutos após o paciente sair da posição ortostática. Vários fatores podem alterar a PA: exercício, fumo, refeição, estresse, dor, distensão vesical, frio excessivo. HIPERTENSÃO DO JALECO BRANCO Quando o paciente tem uma MAPA ou MRPA normal, mas quando ele está no consultório tem um aumento de 20 mmHg na pressão sistólica, ou um aumento de 10 mmHg na pressão diastólica. Incidência: 15 a 30% dos pacientes, principalmente em jovens e idosos, prevalência no sexo feminino. O paciente com hipertensão do jaleco branco tem um risco intermediário de doença cardiovascular. HIPERTENSÃO MASCARADA Está presente naquele paciente que tem a MAPA e a MRPA alterada, mas no consultório a PA está normal. Quando suspeitar??? Jovens com PA casual normal ou limítrofe em consultório. Presença de HVE. Pais hipertensos. Medidas ocasionais elevadas. PRÉ HIPERTENSOS Indivíduos com PAS entre 130 a 139 mmHg e PAD entre 85 a 89 mmHg são classificados como portadores de PA normal ou pré- hipertensos. Todos os vícios que foram adquiridos antes dos 14 anos de idade, são mais difíceis de serem controlados. Por isso, que a criança obesa, tende a ser um adolescente obeso e, posteriormente, um adulto obeso. A pré-hipertensão aumentou em 40% o risco total de doenças, sendo que 12,09% das doenças cardiovasculares; 13,26% das doenças coronarianas; 24,60% dos infartos do miocárdio (IAM); e 19,15% dos acidentes vasculares encefálicos. Essas doenças poderiam ser prevenidas com o controle efetivo da PA. Indivíduos pré-hipertensos devem ser monitorados mais de perto (monitoramento periódico), devido às altas taxas de progressão para HA, é maior a probabilidade de se tornarem hipertensos; tem maiores riscos de desenvolvimento de DCV. 8 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 Quando você chega com o paciente na emergência tem vários protocolos que você pode seguir, normalmente você vai prescrever um anti- hipertensivo (IECA) e um diurético (furosemida) para baixar a volemia do paciente e, assim reduzir a PA. Mas, você deve ficar atento para não baixar a pressão do paciente mais que 25% da PA inicial, se não, poderá ser desenvolvido um quadro de AVC isquêmico, quando não chega sangue suficiente no cérebro. TÉCNICA PRECISA PARA MEDIDA DA PA 9 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 Hiato auscultatório (corresponde ao momento depois da fase I), se o paciente estiver hipertenso e você só insuflar o manguito até 160 mmHg pode ser que o primeiro som que seja escutado não seja o som referente à fase I de Korotkoff, e sim, referente à fase V de Korotkoff. Esquema terapêutico 10 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 Relembrando definição: Paciente com HAS tem que ter níveis elevados e sustentados de PA, bilateralmente, deve ter feito ao menos duas aferições em momentos diferentes, e não pode ter feito uso de café, atividade física recente, tem que considerar a maior medida entre os membros. POR QUE FAZER TERAPIA ANTI HIPERTENSIVA NO PACIENTE? A terapia anti hipertensiva é capaz de reduzir cerca de 50% do risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), 30 a 40% o risco de acidente vascular encefálico (AVE) e 20 a 25% do risco de infarto agudo do miocárdio (IAM). Lembra?? O paciente não vai morrer de hipertensão, ele vai morrer das lesões em órgão alvo. Devemos classificar o risco cardiovascular, fazer a avaliação e estratificação do risco cardiovascular no paciente hipertenso de acordo com fatores de risco adicionais, lesões em órgão-alvo e condições clínicas associadas. Fatores de risco: idade, tabagismo, dislipidemia, diabetes, obesidade, história familiar (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos). PACIENTE ESTÁGIO I Risco baixo inicialmente devemos tentar a terapia não farmacológica por 6 meses. Risco moderado inicialmente devemos tentar a terapia não farmacológica (atividade física, dieta DASH, diminuir ingestão de sódio = MEV) por 3 meses Caso não haja controle da PA, iniciar tratamento medicamentoso em monoterapia com DIU, IECA, BCC, BRA ou BB (usado quando há indicação formal). Iniciar o tratamento medicamentoso preferencialmente com DIU. PACIENTE ESTÁGIO II E III OU PACIENTE ESTÉGIO I COM RISCO CARDIOVASCULAR Devemos iniciar tratamento medicamentoso, dois fármacos de classes diferentes, em doses baixas, imediato associado a terapia não medicamentosa. PACIENTE PRÉ-HIPERTENSO Tratamento não medicamentoso, em geral. O tratamento medicamento pode ser considerado naqueles com PA 130-139/85-89 mmHg e história prévia de doença cardiovascular (DCV) ou naqueles com risco cardiovascular alto, mesmo sem DCV diagnosticada. META TERAPÊUTICA Estágios 1 e 2 com risco cardiovascular baixo ou moderado < 140 / 90mmHg Estágio 3 Não importa o risco < 140 / 90 mmHg Estágios 1 e 2 e risco cardiovascular alto < 130 / 80mmHg TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Mudança do estilo de vida (MEV) – incentivar alterações na dieta do paciente, atividade física, cessação do tabagismo, limitar o consumo de álcool e perda de peso. As MEV funcionam, mas exigem um cuidado maior. - Orientação de dieta DASH Essa dieta corresponde é um padrão alimentar mais saudável e foi capaz de reduzir a PA e o risco de problemas cardiovasculares. A associação da dieta DASH com restrição de sódio resultou em redução na PA sistólica (PAS) de 11,5 mmHg nos indivíduos hipertensos e 7,1 mmHg nos normotensos, em comparação com a dieta com alto teor de sódio. Dieta rica em frutas, verduras, hortaliças e cereais integrais, além de ser pobre em carnes vermelhas, inclui o consumo de peixes, oleaginosas, sementes, grãos, laticínios desnatados e alimentos integrais. Menor consumo de sódio e açúcares, e maior consumo de potássio (vasodilatação). Ao prescrever o esquema terapêutico é importante estar atento a algumas características do tratamento farmacológico: 11 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 • Efeitos de proteção cardiovascular • Capacidade de reduzir a mortalidade • Eficaz por uso oral • Posologia adequada (dose única diária) – critério importantíssimo para a adesão do paciente à terapêutica. • Antes de fazer alguma modificação na terapia farmacológica deve-se esperar o paciente fazer o uso contínuo do medicamento por, no mínimo, 4 semanas. Monoterapia anti-hipertensiva: indicada para o hipertenso estágio I com risco cardiovascular baixo, pré-hipertenso com risco cardiovascular alto, ou para idosos. O objetivo da prescrição medicamentosa nesses casos é manter a PA em níveis ainda mais baixos. Terapia combinada anti-hipertensiva: indicada para hipertenso estágio I com risco cardiovascular alto e hipertenso estágio II e III. Deve-se iniciar a terapia com 2 medicamentos de classes diferentes, mecanismo de ação distinto, em doses baixas, para assim, controlar a PA e reduzir efeitos adversos. Ainda se pode adicionar um terceiro ou quarto anti-hipertensivo dependendo da evolução do não controle da PA. Incialmente, utiliza-se, na terapia combinada, duas classes diferentes de medicamentos um IECA ou um BRA + DIU ou BCC. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO USO DE MEDICAMENTOS PARA ALTERAR O SRAA Já sabemos sobre o sistema renina – angiotensina – aldosterona. Durante a queda na PA, ocorre predomínio do SNA simpático, liberando epinefrina pela medula adrenal, há maior liberação de vasopressina (ADH) pela neuro-hipófise e aumento dos níveis de renina, através da ativação de barorreceptores (que são ativados quando a PA reduz). A renina é secretada pela células justa glomerulares renais, sob estímulo simpático. A renina cliva o angiotensinogênio (origem hepática) em angiotensina (Ang) I, que forma Ang II quando catalisada pela enzima ECA, produzida no alvéolo e endotélio renal. Nesse sistema, ainda há metabólitos com a Ang 1-7 que tem funções importantes para a vasodilatação. A Ang II além de sua ação direta sobre o músculo liso vascular (funcional e estrutural) e sobre a regulação do volume por meio da aldosterona (retenção de sódio e liberação do hormônio ADH), suas ações central e periférica no controle da atividade simpática contribui decisivamente para o processo hipertensivo. A importância do sistema renina - angiotensina na hipertensão pode ser avaliada pelo valor terapêutico de drogas como os bloqueadores da ECA e, mais recentemente, dos antagonistas dos receptores AT1 da angiotensina II (BRA) e dos inibidores da renina (não são mais utilizados, não eram eficientes). IECA O IECA tem papel fundamental no bloqueio da síntese de Ang II (ação vasoconstritora), impedindo o desencadeamento da cascata hipertensiva. Além disso, o IECA também tem papel importante para evitar a degradação da bradicinina, que é um importante vasodilatador endotelial. Então, ao mesmo tempo que o evento vasoconstritor é impedido, os mediadores da vasodilatação são beneficiados. Habitualmente, são bem tolerados pela maioria dos pacientes hipertensos, sendo a tosse seca seu principal efeito colateral, acometendo 5 a 20% dos usuários. A tosse seca está mais relacionada ao uso do captopril (70% dos pacientes). BRA O BRA atua impedindo a ação da Ang II, então essa classe tem o efeito final do mecanismo de ação muito parecido com a classe dos SUS SUS Mais tolerado 12 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 IECAs. Por isso, estão associados aos mesmos efeitos adversos. A classe de medicamentos de BRA não deve ser utilizada como terapêutica combinada aos IECAs, uma vez que inibem a mesma via (sinalizado, em vermelho, na imagem abaixo). Podemos perceber que o lado da via do sistema renina angiotensina responsável pela vasoconstrição é bloqueado, tanto pelo BRA quanto pelo IECA, enquanto o outro lado da via se mantém ativo, o que também auxilia no controle da HAS, uma vez que possui efeito vasodilatador. INIBIDORES ADRENÉRGICOS β BLOQUEADORES (BB) BB não cardiosseletivo: bloqueia tanto β1 (predomina no miocárdio) quanto β2 (presente no músculo liso, pulmões, vasos sanguíneos e órgãos). Assim, os BB não seletivo têm muitos efeitos periféricos, os mais acentuados são o aumento da resistência vascular periférica e broncoconstrição. 1ª geração → não seletivos, atuam bloqueando β1 e β2 Bloqueador cardiosseletivo: bloqueia apenas β1, presentes em maior parte no coração, sistema nervoso e rins, assim não tem efeitos de bloqueio periférico indesejáveis. Mas, em doses muito elevadas também podem ter ação nos receptores β2. 2ª geração → seletivo β1 3ª geração → ação vasodilatadora + outra ação Carvedilol – betabloqueador de 3ª geração, não seletivo, sem atividade simpaticomimética intrínseca, ação vasodilatadora periférica (bloqueia receptores α1 adrenérgicos, isto é, faz antagonismo ao receptor alfa-1 periférico), inibe a vasoconstrição. Primeira escolha para o paciente que já tem lesão em órgão alvo, pós infarto, por exemplo. Nebivolol – bloqueador seletivo de receptor β1- adrenérgico com uma propriedade vasodilatadora, mediada pela L-arginina /NO (óxido nítrico). Metoprolol – é um bloqueador seletivo de receptor β1- adrenérgico. Tem o succinato e o tartarato, tem indicações específicas dependendo do tipo de IC que o paciente está. Inibidores β adrenérgicos → sufixo: - olol MECANISMO DE AÇÃO DOS β BLOQUEADORES Receptor β1 – aumenta o DC por aumento da FC e do volume ejetado, aumenta a liberação de renina nas células justa glomerulares. Receptor β2 – provocam relaxamento da musculatura lisa no brônquio, gastrointestinal, esfíncter urinário e útero gravídico, e aumento de secreção de renina dos rins. Então, quando se usa um bloqueador para esses receptores, os mecanismos de liberação de renina, vasoconstrição e aumento da HAS são bloqueados, resultando no melhor controle da PA. Revisando o mecanismo anti-hipertensivo do β bloqueador α1 BLOQUEADORES Os medicamentos dessa classe promovem efeito anti-hipertensivo direto em longo prazo como monoterapia e agem em sinergismo com os anti-hipertensivos das outras classes. Essa classe é reconhecida por melhorar o metabolismo lipídico e por trazer alívio aos sintomas dos pacientes com hiperplasia benigna da próstata. No entanto, segundo ALLHAT, a monoterapia com Doxazosina resultou em excesso de eventos cardiovasculares (ICC), o que restringiu a recomendação dessa classe de fármacos no tratamento da HAS como monoterapia. Antagonistas dos receptores α1 adrenérgicos, inibem a atividade simpática (adrenérgica). → Prazosinae Doxazosina. INIBIDORES ADRENÉRGICOS DE AÇÃO CENTRAL Atuam estimulando os receptores α2 adrenérgicos pré-sinápticos (metildopa, clonidina, guanabenzo) e/ou os receptores Não se usa mais inibidor de renina porque essa classe não é eficiente. SUS SUS Segurança baixa p/ HAS 1ª geração 3ª geração 2ª geração 2ª geração 3ª geração 2ª geração Medicamento descontinuado Melhor indicação para grávidas → Retirada gradual: efeito rebote BRA = 13 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 imidazolidínicos (moxonidina) no SNC, o que reduz a descarga simpática. Eficácia discreta em monoterapia. Inibem a vasoconstrição, diminuem a frequência cardíaca, reduz a PA. Estão associadas a bradicardia relativa, hipotensão ortostática, sedação, boca seca, fadiga, galactorreia (metildopa) e hipertensão rebote (clonidina). Medicamentos inibidores adrenérgicos de ação central: Metildopa, Clonidina, Guanabenzo, Moxonidina, Rilmendina, Reserpina. A reserpina só é usada quando em associação com outra classe de anti-hipertensivo. DIURÉTICOS (DIU) Os diuréticos atuam no controle da natriurese e no controle da reabsorção hídrica. Assim, trabalham reduzindo a volemia e o edema, o que reflete na redução da pressão arterial. • Diurético osmótico – manitol. É usado em paciente na terapia intensiva. • Inibidor de anidrase – terapia intensiva. • Diuréticos de alça, atuam na alça de Henle. São mais utilizados em casos que o paciente está com a volemia muito aumentada e está com os níveis de sódio elevados. • Diuréticos tiazídicos atuam no túbulo contorcido distal. • Diuréticos poupadores de potássio conseguem recuperar o potássio no ducto coletor. São, normalmente, associados aos tiazídicos, reduzindo a possibilidade de hipocalemia (associado à arritmia) e efeitos adversos comuns relacionados à baixa de potássio (câimbras, por exemplo). O DIU de preferência para iniciar o tratamento são os tiazídicos e similares, uma vez que tem uma meia vida mais longa, o que facilita a posologia, necessidade de tomar o medicamento em dose baixa e apenas 1 vez ao dia. Efeitos adversos dos diuréticos: fraqueza, hipovolemia, disfunção erétil e aumento do ácido úrico. ➔ A espirolactona normalmente é a 4ª droga a ser associada na terapia combinada. Indapamida é uma escolha muito boa para diurético porque ela tem liberação lenta, assim o paciente que faz uso desse diurético não urina muitas vezes ao dia. Associação entre a furosemida (40mg/dia) e espirolactona (25mg/dia) – paciente com IC precisa aumentar níveis séricos de potássio para evitar a evolução com arritmia. Amilorida + Hidroclorotiazida é uma associação comum. Bumetanida, Piretanida e Triantereno quase não são usados mais, ainda estão disponíveis no mercado, mas caiu em desuso. BLOQUEADORES DE CANAL DE CÁLCIO Anlodipina – mais comum, tem no SUS. Nifedipina – liberação lenta. Efeito colateral: angioedema. MECANISMO DE AÇÃO DOS BLOQUEADORES DE CANAL DE CÁLCIO Verapamil e o Diltiazem são exclusivos do músculo cardíaco, então, eles bloqueiam o canal de cálcio do músculo cardíaco, diminuem a FC e tem menos efeito vasodilatador. Então, eles não fazem angioedema, uma vez que não atuam nos canais de cálcio dos vasos. Nos pacientes que não conseguimos controlar a pressão arterial com beta bloqueador se usa BCC. A nifedipina (diidropiridínicos) atua sobre os canais de cálcio presentes na musculatura lisa vascular, reduzindo a resistência vascular periférica, aumentando o calibre do vaso, podendo levar ao angioedema, rubor facial, cefaleia e tontura. VASODILATADORES DIRETOS São os ativadores de canal de potássio → Hidralazina e Minoxidil. Ativam canais de potássio e produzem a vasodilatação arterial direta através da abertura desses canais modulados por ATP na membrana plasmática das células lisas vasculares. Efeitos adverso ao uso da Hidralazina: cefaleia + taquicardia reflexa + reação lúpus like. Fenilalquilamina Benzodiazepina 14 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 COMBINAÇÕES O universo de combinações é enorme. E, cada combinação deve ser individualizada para cada paciente. Ao observar a imagem anterior podemos fazer algumas observações: - Não utilizar combinação terapêutica com as classes BRA e IECA, uma vez que eles vão atuar na mesma via. Não tem sentido usar os dois. - As combinações que fazem sentido serem feitas são: • DIU + IECA → exemplo: Hidroclorotiazida + Enalapril • DIU + BRA → exemplo: Clortalidona + Losartana • DIU + BCC → exemplo: Hidroclorotiazida + Anlodipina • BRA + BCC → exemplo: Losartana + Verapamil • BCC + IECA → Nifedipina + Captopril HIPERTENSÃO ARTERIAL SECUNDÁRIA Quando suspeitar??? • Quando a hipertensão do paciente for resistente, isto é, quando em uso de pelo menos três anti-hipertensivos diferentes, incluindo IECA ou BRA + diurético + bloqueador de canal de cálcio, e mesmo assim o paciente não tem controle adequado da pressão arterial. • Início abrupto de HAS → iniciar a investigar hipertireoidismo e feocromocitoma. • Início em idade < 30 anos o 65% dos pacientes acima de 65 anos são hipertensos. o Temos que desconfiar de hipertensão secundária. • Exacerbação de PA previamente controlada. o De repente a medicação parou de fazer efeito. • Lesões de órgãos alvo desproporcionais ao grau de HAS o Exemplo: insuficiência renal crônica em hipertenso estágio I → tenho que desconfiar se essa hipertensão é secundária. • Hipocalemia excessiva não provocada por medicações o Paciente evoluindo com câimbras contínua, sem medicação associada. CAUSAS MAIS COMUNS DE HA SECUNDÁRIA • Apneia obstrutiva do sono → está diretamente ligada à hipertensão resistente, é possível tratar essa hipertensão com o uso de CPAP para dormir. Paciente acorda cansado. Risco muito grande de morte súbita. • Hiperaldosteronismo • Doença renovascular • Doença renal parenquimatosa • Coarctação da aorta → mais comum no paciente com 7 a 9 anos. • Síndrome de Cushing • Feocromocitoma • Hipertireoidismo • Anticoncepcional CRISE HIPERTENSIVA Crise hipertensiva: elevação aguda da pressão arterial (PA) sistólica ≥ 180 mm Hg e/ou PA diastólica ≥120 mmHg, que pode resultar ou não em lesões de órgãos-alvo (LOA), que é dividida em urgência hipertensiva (elevação da PA sem LOA e sem risco de morte iminente. Isso permite a redução da PA em 24 a 48 h) e emergência hipertensiva (elevação da PA com LOA aguda ou em progressão e risco imediato de morte; requer redução rápida e gradual – 25% - da PA em minutos a horas, com medicamentos intravenosos). EMERGÊNCIA X URGÊNCIA Emergência hipertensiva Urgência hipertensiva Elevação tensional rápida e sintomática Elevação tensional em horas a dias. Lesão em órgão alvo aguda ou progressiva Sem lesões aguda em órgãos alvo. Muitas vezes existem lesões prévias ou crônicas em órgãos alvo. Risco iminente de morte Risco de complicações agudas ou descompensações Necessidade de redução da PA em minutos. Drogas parenterais Redução da PA em até 24horas. Drogas (captopril e clonidina) por VO. As emergências hipertensivas são graves e cursam com edema agudo de pulmão (36,8%), AVE isquêmico (24%), encefalopatia hipertensiva (16,3%), síndrome coronariana aguda (12%), AVE hemorrágico (4,5%), eclampsia (4,5%) e dissecção aórtica (2%). Os pacientes que tem a cefaleia verdadeiramente relacionada com a pressão arterial elevada tem emergência hipertensiva e/ou encefalopatia hipertensiva. Quando o paciente está estressado e refere dor de cabeça isso acontece por outro mecanismo. Há liberação das catecolaminas (adrenalina, noradrenalina), aumenta a RVP, aumenta a FC e o DC, quando aumenta o calibre dos vasosdo cérebro gera dor de cabeça. Não é a pressão alta que levou à enxaqueca, a enxaqueca que elevou a pressão arterial, quanto mais dor, mais eleva a pressão arterial. 15 AV1 – Cardiologia – Prof.ª Geruza Sales Galdino Cirino – Fernanda Pereira - 6º período – 2022.1 PROTOCOLO Não se pode baixar a pressão arterial abruptamente do paciente com emergência hipertensiva, em tratamento na UTI, uma vez que caso isso ocorra o paciente pode evoluir com um AVC isquêmico. Não precisa ter pressa para normalizar essa pressão arterial. A medicação venosa é infundida em bomba, início com medicação venosa em baixa concentração e depois aumenta conforme a pressão arterial não baixa, até conseguir reduzir 25% em 1 hora. Depois mantém seguindo as etapas temporais apresentadas no protocolo até normalizar a PA. Tratamento para emergência hipertensiva Tratamento para urgência hipertensiva Na urgência hipertensiva se faz Lasix® (Furosemida), diurético com efeito rápido (20 minutos já está diminuindo a volemia) + Captopril sublingual (IECA que é absorvido rapidamente e não precisa de metabolismo de primeira passagem) + Clonidina (inibidor alfa – ação central, relaxa, diminui o tônus adrenérgico, diminui a pressão). Tem que acompanhar esse paciente, não pode deixar esse paciente sair sem uma prescrição de losartana potássica + hidroclorotiazida 12/12hrs, pelo menos. Referências: (1) Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020, Barroso et al. (2) Peptídeos e interação coração-rim; Silva ACS, Pinheiro SVB, Santos RAS. 135 Rev Bras Hipertens vol.15(3):134-143, 2008. (3) The ALLHAT Research Group. Major Outcomes in high-risk hypertensive patients randomized to angiotensin-converting enzyme inhibitor or calcium channel blo- cker vs diuretic. The Antihypertensive and Lipid-Lowering Treatment to Prevent Heart Attack Trial (ALLHAT). JAMA. 2002; 288:2981.
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