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HAS INTRODUÇÃO/DEFINIÇÃO ❖ A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial – PA (PA ≥140 x 90mmHg) ❖ Associa-se, frequentemente, às alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e às alterações metabólicas, com aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais ❖ Além de ser causa direta de cardiopatia hipertensiva, é fator de risco para doenças decorrentes de aterosclerose e trombose, que se manifestam, predominantemente, por doença isquêmica cardíaca, cerebrovascular, vascular periférica e renal - Em decorrência de cardiopatia hipertensiva e isquêmica, é também fator etiológico de insuficiência cardíaca ❖ Déficits cognitivos, como doença de Alzheimer e demência vascular, também têm HAS em fases mais precoces da vida como fator de risco ❖ A HAS está na origem de muitas doenças crônicas não transmissíveis e, portanto, caracteriza-a como uma das causas de maior redução da expectativa e da qualidade de vida dos indivíduos ❖ Pela natureza assintomática desta doença, grande parte da população hipertensa não é diagnosticada até apresentar o seu primeiro evento cardiovascular – geralmente um AVE isquêmico EPIDEMIOLOGIA ❖ Sua prevalência no Brasil varia entre 22% e 44% para adultos (32% em média, 36 milhões de pessoas), chegando a mais de 50% para indivíduos com 60 a 69 anos e 75% em indivíduos com mais de 70 anos ❖ A HAS tem alta prevalência e baixas taxas de controle ❖ A OMS estima que, atualmente, 1 em cada 3 pessoas no mundo é hipertensa (mais de 2 bilhões de pessoas) ❖ Na China, cerca de 200 milhões de habitantes são hipertensos ❖ Antes da menopausa, as mulheres apresentam uma prevalência menor de HAS do que os homens, relação que pode se inverter na pós- menopausa, sugerindo um efeito protetor do estrogênio ❖ Atualmente existe um aumento importante da prevalência da HAS nas crianças e adolescentes, impulsionada pela obesidade e alterações de hábitos de vida (sedentarismo, tipo de alimentação) ❖ Raça: a HAS é mais comum e mais grave em negros ❖ A principal causa de morte de origem cardiovascular em todas as regiões atualmente é o AVE, acometendo as mulheres em maior proporção - A segunda causa é o infarto agudo do miocárdio (IAM) FATORES DE RISCO ❖ Idade: existe relação direta entre idade e desenvolvimento de HAS; acima de 65 anos, a prevalência é de 60% ❖ Sexo: até os 50 anos, a prevalência é maior entre homens, invertendo-se a tendência após essa idade ❖ Raça/etnia: 1° Negros, 2° Pardos e 3º Brancos - Mulheres negras > mulheres brancas ❖ Excesso de peso/obesidade: mesmo em jovens, a obesidade aumenta o risco de HAS; o aumento de 2,4 kg/m2 acima do índice de massa corpórea adequado já eleva o risco ❖ Sedentarismo: a atividade física protege o indivíduo de desenvolver HAS, mesmo em pré- hipertensos ❖ Etilismo: o consumo excessivo de álcool determina elevação da PA e aumento da mortalidade cardiovascular em geral ❖ Fatores socioeconômicos: no Brasil, a HAS é mais prevalente em pessoas com baixa escolaridade ❖ História familiar: a contribuição de fatores genéticos no desenvolvimento da HAS é bem estabelecida, mas não há como utilizá-los para predizer o risco de desenvolvimento ❖ Genética: estudos brasileiros mostraram um grande impacto da miscigenação, de modo a interferir na determinação de um padrão genético capaz de elevar os níveis de PA FISIOPATOLOGIA/PATOGÊNENSE ❖ Em 95% dos casos, a HAS é de causa desconhecida → Hipertensão Primária ou Hipertensão Essencial ❖ 5% constituem o grupo de hipertensos cuja causa da hipertensão arterial pode ser conhecida → Hipertensão Secundária 2 HIPERTENSÃO PRIMÁRIA ❖ A pressão arterial é dada pela fórmula PA= DC x RVP - Para haver HAS um ou os dois componentes devem estar aumentados - Na maioria dos hipertensos, principalmente aqueles com mais de 40 anos de idade, tem DC normal e RVP elevada. Porém, o evento primário na patogênese da maioria dos casos de hipertensão não é o aumento da RVP RETENÇÃO DE SÓDIO E ÁGUA PELOS RINS ❖ Cerca de 50% dos hipertensos (em especial, os negros e idosos) são hipersensíveis à administração de sódio, ou seja, aumento da PA em mais de 10 mmHg após administração de quantidade moderada de NaCl ❖ Outro ponto importante é que, enquanto nos indivíduos normotensos os rins respondem ao aumento da PA com uma maior natriurese (natriurese pressórica), nos hipertensos a natriurese só aumenta em níveis proporcionalmente maiores de PA ❖ A retenção de sódio e água aumenta a volemia e, consequentemente, o DC PAPEL DO SISTEMA RENINA- ANGIOTENSINA ❖ A renina é bastante “incriminada” na etiopatogenia da HAS - Ela é produzida no aparelho justaglomerular das arteríolas aferentes renais - Sua função primordial é converter o angiotensinogênio em angiotensina I no plasma ❖ A Enzima Conversora (ECA) está presente no plasma e em vários tecidos (incluindo a parede vascular), encarregando- -se de converter a angiotensina I em angiotensina II - Esta última tem uma série de efeitos sobre a PA: vasoconstricção arterial e venosa, retenção de sódio e água - A angiotensina II também possui um efeito trófico vascular, contribuindo para o processo de remodelamento ❖ A maioria dos hipertensos tem renina plasmática normal (60%) ou baixa (30%) - Será que isso afasta o papel da renina na gênese da HAS? A resposta é não. Na verdade, se pararmos para pensar, todo hipertenso deveria ter renina plasmática baixa, já que este hormônio é regulado pela volemia e pela pressão arterial - O fato de encontrarmos renina plasmática na faixa normal indica que ela está sendo produzida em quantidades acima do esperado Interação entre PA, DC e RVP Influência do DC na RVP: Uma queda no DC estimula a vasodilatação arteriolar, enquanto um aumento estimula a vasoconstrição arteriolar. Portanto, um alto débito cardíaco, por induzir vasoconstricção, pode aumentar a RVP. A RVP elevada, por sua vez, reduz o débito cardíaco, fazendo-o voltar ao normal. Portanto, o fato da RVP estar elevada na maioria dos hipertensos primários, enquanto o débito cardíaco encontra- se normal, não contribui para sabermos “quem foi o culpado inicial”. As principais teorias patogênicas da HAS primária explicam o aumento inicial de PA através do aumento do DC, geralmente por retenção de sal e água pelo organismo. Remodelamento Vascular: já foi constatado que o aumento crônico da PA tem importantes efeitos nos vasos sanguíneos, tanto nos de condutância (artérias), quanto os de resistência (arteríolas), através de um processo chamado “remodelamento vascular”. A PA elevada estimula a liberação local de substâncias tróficas que promovem a proliferação e o desarranjo celular da parede dos vasos. As médias e pequenas artérias podem ter uma hipertrofia de sua camada muscular, enquanto as arteríolas sofrem alterações proliferativas que reduzem seu lúmen. Assim, com o passar dos anos, a RVP vai aumentando, servindo como o principal fator de manutenção (ou progressão) da hipertensão arterial. Em outras palavras, podemos dizer: hipertensão arterial gera mais hipertensão arterial! 3 ASPECTO GENÉTICO ❖ Existe uma predisposição genética em 30-60% dos casos de HAS primária ❖ Uma teoria plausível afirma que múltiplos genes estariam envolvidos na maior absorção de sal por parte de nossos ancestrais ❖ Fatores raciais são muito importantes: a HAS primária é mais comum e mais grave em negros - Gene APOL1: é mais comum em afrodescententes pelo fato de ter sido naturalmente selecionado nesta população: ele confere proteção contra infecções tripanossômicas, tendo como efeitocolateral uma maior predisposição à HAS e suas complicações ❖ Considera-se a hipertensão primária uma consequência da relação entre mutações genéticas e diversos fatores ambientais, como ingestão salina, obesidade, estresse etc BAIXO PESO AO NASCER ❖ Atualmente, acredita-se que o baixo peso ao nascer e a prematuridade possam correlacionar-se com o desenvolvimento de hipertensão na vida adulta ❖ Nesse caso, o desenvolvimento renal adequado é comprometido na fase uterina, resultando em crescimento compensatório na fase extrauterina, o que promove hipertrofia dos glomérulos e consequente desenvolvimento de hipertensão arterial por maior secreção basal de renina ❖ Outra hipótese para explicar esta associação seria o baixo número de néfrons TEORIAS SOBRE A PATOGÊNESE ❖ A maioria das teorias patogênicas da HAS primária parte do pressuposto que o evento inicial é o aumento do DC, geralmente por retenção excessiva de sódio e água pelos rins - A HAS por hiperfluxo (alto débito cardíaco), com o tempo, converte-se na HAS por hiper resistência (aumento da RVP) ❖ Na realidade, acredita-se que os portadores de HAS primária constituam um grupo heterogêneo, sendo provável que vários desses mecanismos sejam reais, predominando em um ou outro paciente ❖ Teoria 1→ Heterogeneidade de Néfrons: nesta teoria, uma subpopulação de néfrons possui uma arteríola aferente de calibre reduzido, estimulando a produção excessiva de renina no parênquima renal, suficiente para aumentar a retenção de sódio e líquido - Os níveis plasmáticos de renina podem estar normais na vigência de HAS ❖ Teoria 2 → Redução do Número de Néfrons: os indivíduos predispostos à HAS nasceriam com um menor número de néfrons. A hiperfiltração dos néfrons remanescentes leva à esclerose glomerular, com consequente retenção de sal e líquido - Ex.: a criança que nasce com baixo peso (portanto, com rins de tamanho menor) tem maior chance de ser hipertensa na vida adulta ❖ Teoria 3 → Não Modulação da Angiotensina II Intrarrenal: a presença de níveis não suprimíveis de angiotensina II no parênquima renal, propiciando uma hipersensibilidade ao sódio ❖ Teoria 4 → Hiperativação do Sistema Nervoso Simpático: o estresse crônico e alterações primárias dos centros barorreguladores podem manter uma hiperatividade adrenérgica, responsável pela vasoconstricção periférica, pelo remodelamento vascular, pelo aumento de renina-angiotensina intrarrenal e pelo aumento inicial do DC - Sabe-se que cerca de 40% dos hipertensos jovens (< 40 anos) têm um alto DC à custa de um hiperadrenergismo (frequência cardíaca elevada, aumento do inotropismo cardíaco, vasoconstricção). São os denominados hipertensos hipercinéticos ❖ Teoria 5 → Resistência à Insulina e Hiperinsulinemia: quase 100% dos hipertensos obesos e 40% dos não obesos apresentam resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia. Estudos prospectivos mostraram que a hiperinsulinemia é um fator preditivo de HAS - O excesso de insulina pode elevar a pressão arterial através dos seguintes mecanismos: (1) aumento da reabsorção renal de sódio; (2) aumento da atividade simpática; (3) hipertrofia da musculatura lisa vascular por seu efeito mitogênico; (4) aumento do cálcio citossólico no tecido vascular HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA ❖ A grande importância de conhecermos bem as entidades que cursam com hipertensão secundária e como diagnosticá-las está no fato de a maioria delas ser reversível com o tratamento específico, podendo levar à cura da hipertensão 4 ❖ Além de todas essas possíveis causas de hipertensão crônica, existem várias condições de estresse agudo que podem cursar com elevação dos níveis pressóricos: - Dor - Hipoglicemia - Abstinência alcoólica - Pós-operatório - Queimadura - Pancreatite - Hiperventilação psicogênica etc ❖ Características sugestivas de HAS secundária: - Início súbito da HAS antes dos 30 anos ou após os 50 anos - HAS estágio II e/ou resistente à terapia - Aumento da creatinina sérica - Hipopotassemia sérica espontânea, menor que 3,0meq/l (hiperaldosteronismo primário) - Exame de urina tipo 1 apresentando proteinúria ou hematúria acentuada - Presença de massas ou sopros abdominais - Uso de fármacos indutores do aumento da pressão arterial (anticoncepcional oral, corticoides, anti-inflamatórios não esteroides, descongestionantes nasais, supressores de apetite, antidepressivos tricíclicos, tetracíclicos e inibidores da monoamina oxidase) - Tríade do feocromocitoma: palpitações, sudorese e cefaleia em crise - Acromegalia: aumento da língua, ganho de peso, hipersonolência, alterações de fácies e de extremidades; - Síndrome de Cushing: ganho de peso, hirsutismo, edema e fácies típicos - Diminuição ou retardo da amplitude do pulso femural e dos membros superiores (coarctação da aorta) ❖ A hipertensão secundária possui algumas características que devem chamar a atenção do médico. Ver Tabela 6. ❖ Não dá para investigar hipertensão secundária em todos os pacientes, pois há necessidade de exames, então deve-se observar o fato de que para cada causa específica de hipertensão existe um quadro clínico sugestivo - A partir dessa sugestão é que devemos direcionar nossa investigação diagnóstica DOENÇAS PARENQUIMATOSAS RENAIS ❖ Cerca de 85% dos nefropatas com creatinina plasmática > 1,5 mg/dl ou clearance de creatinina < 50 ml/min são hipertensos 5 ❖ Esta é a causa mais comum de HAS secundária ❖ Qualquer nefropatia crônica pode causar HAS, porém esta é mais comum nas glomerulopatias, em especial a glomerulopatia diabética e a glomeruloesclerose focal e segmentar idiopática - A doença renal policística também é considerada uma causa importante ❖ Os mecanismos implicados são: sobrecarga de volume e maior ativação do SRAA ❖ A investigação deve ser feita com: - US abdominal, urinálise e medida do clearance de creatinina e proteinúria de 24h. ❖ A presença de uma proteinúria acima de 2 g/24h é altamente sugestiva de HAS secundária à doença renal parenquimatosa ❖ As drogas de escolha para a HAS associada à nefropatia crônica são os IECA e os antagonistas da angio II, devendo-se tomar cuidado com os níveis de potássio e com uma possível piora da função renal ESTENOSE DE ARTÉRIA RENAL ❖ Também chamada de Hipertensão Renovascular ❖ Esta é a segunda causa mais comum de HAS secundária ❖ Nos jovens, a lesão obstrutiva é a fibrodisplasia, quase sempre unilateral - Nos idosos, a lesão costuma ser a aterosclerose renal, sendo bilateral em 20% dos casos ❖ Os exames de triagem mais utilizados são: (1) o Eco-Doppler de Artérias Renais (de preferência em pacientes não obesos); (2) a Cintilografia Renal com e sem Captopril (de preferência em pacientes com função renal basal normal); e (3) Angiorressonância renal - O exame confirmatório é a angiografia renal convencional ou com subtração digital ❖ Na estenose de artéria renal por aterosclerose, existem três opções terapêuticas: (1) terapia medicamentosa; (2) angioplastia percutânea; (3) cirurgia de bypass. AOS ❖ A prevalência de AOS em hipertensos varia entre 30-56%, sendo ainda maior nos hipertensos “resistentes” ❖ Caracteriza-se por episódios repetitivos de obstrução de vias aéreas superiores durante o sono, promovendo hipóxia noturna e hiperativação simpática reflexa, o que resulta em aumento da PA ❖ É fator de risco independente para morbimortalidade cardiovascular, e acelera o surgimento de lesões de órgãos-alvo em hipertensos ❖ Seus principais fatores de risco são: - Idade avançada, sexo masculino, obesidade e síndrome metabólica ❖ Deve-se suspeitar de AOS no paciente que não apresenta o descenso noturno fisiológico da PA na MAPA ❖ Clinicamente, suspeitamosdo paciente com história de roncos e sonolência diurna, principalmente se a HAS for grave e refratária ❖ O diagnóstico é confirmado através da polissonografia, que revela a ocorrência de cinco ou mais episódios de apneia ou hipopneia por hora de sono ❖ O tratamento envolve correção de fatores mecânicos, quando cabível (ex.: cirurgia para defeitos anatômicos das vias aéreas superiores), perda ponderal e uso de CPAP noturno (o CPAP é um tipo de ventilação não invasiva caracterizada pelo fornecimento de pressão positiva constante através de máscara nasal ou facial) - Tais condutas podem amenizar ou reverter a HAS do paciente FEOCROMOCITOMA ❖ É causa rara de HAS secundária ❖ Consiste em um tumor hipersecretante de catecolaminas (adrenalina ou noradrenalina), presente, na maioria das vezes, na medula suprarrenal ❖ Deve ser suspeitado em pacientes com hipertensão “lábil” → picos significativos esporádicos da PA, geralmente associados a fortes palpitações, angina, sudorese e fadiga generalizada - Entretanto, até 60% dos casos apresentam- se como hipertensão crônica, geralmente de difícil controle - Às vezes, a elevação da PA é tão rápida e grave que desencadeia uma encefalopatia hipertensiva ❖ A triagem deve ser feita com a dosagem de catecolaminas (epinefrina, norepinefrina) e seus metabólitos (metanefrina, ácido vanil-mandélico – VMA) no sangue ou na urina de 24h - O mais indicado é a metanefrina urinária, por ter a maior sensibilidade e por não sofrer influência de certas drogas ou alimentos ❖ O tratamento é a ressecção do tumor - O preparo pré-operatório é fundamental ❖ A PA deve ser controlada com alfa-1- bloqueadores, como o prazosin, associando-se posteriormente um betabloqueador, se necessário 6 ❖ No caso de tumores inoperáveis pode ser utilizada uma droga inibidora da síntese de catecolaminas (alfametiltirosina) COARCTAÇÃO DA AORTA ❖ É uma causa importante de HAS na infância ❖ É a quarta cardiopatia congênita mais frequente, correspondendo a 7% dos casos ❖ É definida como uma obstrução congênita da porção da aorta adjacente ao ligamento arterial, geralmente após a subclávia esquerda ❖ Estes pacientes são detectados pelo exame físico que mostra, além do sopro sistólico ejetivo no precórdio e dorso, uma grande diferença de pulso e pressão arterial entre os membros superiores e inferiores (maior nos primeiros) ❖ O diagnóstico é facilmente realizado pelo ecocardiograma ❖ O tratamento é sempre intervencionista, podendo ser realizado por procedimento endovascular em indivíduos mais jovens ou em crianças, ou cirurgia, nos casos de hipoplasia do arco aórtico - A resposta da PA ao tratamento intervencionista depende da duração da hipertensão no período pré-operatório e da idade do paciente - A cura é alcançada em torno de 50% dos casos DIAGNÓSTICO/RASTREAMENTO AMBULATORIAL (DENTRO DO CONSULTÓRIO) ❖ Todo adulto com 18 anos ou mais de idade, quando vier à Unidade Básica de Saúde (UBS) para consulta, atividades educativas, procedimentos, entre outros, e não tiver registro no prontuário de ao menos uma verificação da PA nos últimos dois anos, deverá tê-la verificada e registrada; ❖ A primeira verificação deve ser realizada em ambos os braços; - Caso haja diferença entre os valores, deve ser considerada a medida de maior valor; - O braço com o maior valor aferido deve ser utilizado como referência nas próximas medidas. ❖ O indivíduo deverá ser investigado para doenças arteriais se apresentar diferenças de pressão entre os membros superiores maiores de 20/10 mmHg para as pressões sistólica/diastólica, respectivamente; ❖ Sempre que possível, a medida da PA deverá ser realizada fora do consultório médico para esclarecer o diagnóstico e afastar a possibilidade do efeito do avental branco no processo de verificação; ❖ De acordo com a média dos dois valores pressóricos obtidos, a PA deverá ser novamente verificada: - A cada dois anos, se PA menor que 120/80 mmHg; - A cada ano, se PA entre 120 – 139/80 – 89 mmHg nas pessoas sem outros fatores de risco para doença cardiovascular (DCV); - Em mais dois momentos em um intervalo de 1 – 2 semanas, se PA maior ou igual a 140/90 mmHg ou PA entre 120 – 139/80 – 89 mmHg na presença de outros fatores de risco para doença cardiovascular (DCV). EFEITO DO AVENTAL BRANCO ❖ O EAB e ́ a diferença de pressão entre as medidas obtidas no consultório e fora dele, desde que essa diferença seja igual ou superior a 20 mmHg na PAS e/ou 10 mmHg na PAD; ❖ Pode ocorrer em pacientes normotensos ou hipertensos e, nestes últimos, pode levar a uma classificação errônea do estágio da HAS, tendo como consequências adversas o “supertratamento” e maior risco de efeitos colaterais (ex.: síncope/quedas por hipotensão arterial no domicílio) ❖ Essa situação não muda o diagnóstico, ou seja, se o indivíduo é normotenso, permanecerá normotenso, e se é hipertenso, continuará sendo hipertenso HIPERTENSÃO DO AVENTAL BRANCO ❖ É a situação clínica caracterizada por valores anormais da PA no consultório, porém com valores considerados normais pela MAPA ou MRPA ❖ Quando a PA é aferida em casa, por parentes ou amigos, ou quando os valores da PA são determinados pela MAPA, quase todas as medidas encontram-se abaixo de 140 x 90 ❖ O prognóstico desses pacientes, em relação a complicações cardiovasculares, sempre foi considerado melhor quando comparado ao dos realmente hipertensos ❖ Entretanto, dados recentes sugerem que até 70% dos pacientes com “Hipertensão do Jaleco Branco” terão HAS pela MAPA em um período de dez anos HIPERTENSÃO MASCARADA ❖ É caracterizada por valores normais da PA no consultório, porém com PA elevada pela MAPA ou medidas residenciais ❖ Vários fatores podem elevar a PA fora do consultório em relação a ̀ PA nele obtida, como 7 idade jovem, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, hipertensão induzida pelo exercício, ansiedade, estresse, obesidade, DM, DRC e história familiar de HAS ❖ A prevalência e ́ maior quando a PA do consultório esta ́ no nível limítrofe ❖ Essa condição deve ser pesquisada em indivíduos com PA normal ou limítrofe e mesmo nos hipertensos controlados, que desenvolvem sinais de lesões em órgãos-alvo, sua prevalência média é de 13% HIPERTENSÃO SISTÓLICA ISOLADA ❖ É definida como PAS aumentada com PAD normal ❖ A hipertensão sistólica isolada (HSI) e a pressão de pulso (PP) são importantes fatores de risco cardiovascular (FRCV) em pacientes de meia- idade e idosos AMPA (FORA DO CONSULTÓRIO) ❖ A automedida da pressão arterial (Ampa) é realizada por pacientes ou familiares, não profissionais de Saúde, fora do consultório, geralmente no domicílio, representando uma importante fonte de informação adicional; - A principal vantagem da Ampa é a possibilidade de obter uma estimativa mais real dessa variável, tendo em vista que os valores são obtidos no ambiente em que as pessoas passam a maior parte do dia. ❖ Na suspeita de Hipertensão do Avental Branco (HAB) ou Hipertensão Mascarada (HM), sugerida pelas medidas da Ampa, recomenda-se a realização de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (Mapa) ou Monitorização Residencial de Pressão Arterial (MRPA), para confirmar ou excluir o diagnóstico. 8 MAPA ❖ A monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) é o método que permite o registro indireto e intermitente da PA durante 24 horas ou mais, enquanto o paciente realiza suas atividades habituais durante os períodos de vigília e sono; - Uma de suas características mais especificas e ́ a possibilidade de identificar as alterações circadianas da PA, sobretudo em relação às medições durante o sono, que têm implicações prognosticas consideráveis. ❖ A Mapa é feitapor aparelhos validados que empregam o método oscilométrico; ❖ São atualmente consideradas anormais as médias de PA de 24 horas ≥ 130/80 mmHg, vigília ≥ 135/85 mmHg e sono ≥ 120/70 mmHg. MRPA ❖ A monitorização residencial de pressão arterial (MRPA) é uma modalidade de medição realizada com protocolo específico; - Consiste na obtenção de três medições pela manhã ̃, antes do desjejum e da tomada da medicação, e três a ̀ noite, antes do jantar, durante cinco dias; - Outra opção é realizar duas medições em cada uma dessas duas sessões, durante sete dias. ❖ A MRPA é feita, preferencialmente, por manômetros digitais pela própria pessoa ou familiares; São considerados anormais valores de PA ≥ 135/85 mmHg CLASSIFICAÇÃO ❖ Os limites de PA considerados normais são arbitrários ❖ Entretanto, valores que classificam o comportamento da PA em adultos por meio de medidas casuais ou de consultório estão expressos no Quadro 6. HIPERTENSÃO ❖ Considerando-se que os valores de PA obtidos por métodos distintos têm níveis de anormalidade diferentes, há que se considerar os valores de anormalidade definidos para cada um deles para o estabelecimento do diagnóstico 9 ❖ A HAS não controlada é definida quando, mesmo sob tratamento anti-hipertensivo, o paciente permanece com a PA elevada tanto no consultório como fora dele por algum dos dois métodos (MAPA ou MRPA) NORMOTENSÃO ❖ Considera-se normotensa ̃o quando as medidas de consultorio sa ̃o ≤ 120/80 mmHg ❖ Define-se HA controlada quando, sob tratamento anti-hipertensivo, o paciente permanece com a PA controlada tanto no consultório como fora dele PRÉ-HIPERTENSÃO ❖ A PH caracteriza-se pela presença de PAS entre 121 e 139 e/ou PAD entre 81 e 89 mmHg ❖ Os pré-hipertensos têm maior probabilidade de se tornarem hipertensos e maiores riscos de desenvolvimento de complicações CV quando comparados a indivíduos com PA normal, ≤ 120/80 mmHg, necessitando de acompahamento periódico CONSULTA MÉDICA NA AVALIAÇÃO INICIAL DA PESSOA COM HAS ❖ Os objetivos dessa consulta incluem identificar outros fatores de risco para DCV; 10 - Avaliar a presença de lesões em órgãos-alvo (LOA) e; - Considerar a hipótese de hipertensão secundária ou outra situação clínica para encaminhamento à consulta em outro nível de atenção. ❖ O processo de educação em Saúde estabelecido entre o médico e a pessoa deve ser contínuo e iniciado nessa primeira consulta. ❖ Neste momento, é fundamental investigar a sua história, realizar o exame físico e solicitar exames laboratoriais, que contribuirão para o diagnóstico, a avaliação de risco para DCV e a decisão terapêutica. HISTÓRIA ❖ Ao avaliar a história, deve-se considerar que muitos pacientes com pressão arterial elevada têm queixas inespecíficas, como cefaleia, epistaxe e outras; ❖ A constatação de PA elevada em pacientes com cefaleia e epistaxe provavelmente decorre da queixa, principalmente em pessoas já hipertensas, e chama-se de causalidade reversa; - Portanto, não se deve basear a suspeita de HAS pela presença de sintomas, sendo o diagnóstico feito por aferição de pressão arterial. ❖ Quando ocorre repercussão orgânica relevante da PA, como cardiopatia hipertensiva, cardiopatia isquêmica, doença cerebrovascular ou doença vascular periférica, os sintomas são decorrentes dessas condições. EXAME FÍSICO AVALIAÇÃO LABORATORIAL ❖ O atendimento inicial e acompanhamento da pessoa com diagnóstico de HAS requer um apoio diagnóstico mínimo; ❖ Sugere-se uma periodicidade anual destes exames, no entanto, o profissional deverá estar atento ao acompanhamento individual de cada paciente; - Considerando sempre o risco cardiovascular, as metas de cuidado e as complicações existentes. ❖ Ao avaliar os exames de rotina, o profissional deve observar alguns aspectos: - O eletrocardiograma é razoavelmente sensível para demonstrar repercussões miocárdicas da hipertensão, como sobrecarga de ventrículo esquerdo; - A presença de proteinúria leve a moderada no sedimento urinário é, geralmente, secundária à repercussão de hipertensão sobre os rins; - Proteinúria mais acentuada, leucocitúria e hematúria (excluídas outras causas), especialmente se acompanhadas dos cilindros correspondentes, indicam hipertensão grave ou hipertensão secundária à nefropatia; - O potássio sérico anormalmente baixo sugere o uso prévio de diuréticos. Excluída essa causa, o paciente deve realizar, via encaminhamento, investigação de hiperaldosteronismo primário; - A dosagem do colesterol e da glicemia visa detectar outros fatores que potencializam o risco cardiovascular da hipertensão. ❖ Outros exames complementares poderão ser solicitados conforme a apresentação clínica: - A radiografia de tórax deve ser feita quando houver suspeita de repercussão mais intensa de hipertensão sobre o coração, como insuficiência cardíaca; Avaliação de hipertensos com comprometimento da aorta quando o ecocardiograma não está disponível 11 - O ecocardiograma é indicado para indivíduos com indícios de HVE ou pacientes com suspeita de IC - Teste ergométrico é indicado na suspeita de DAC estável, DM ou antecedente familiar para DAC em pacientes com PA controlada ESTRATIFICAÇÃO DE RCV ❖ O risco CV global deve ser avaliado em cada indivíduo hipertenso, pois auxilia na decisão terapêutica e permite uma análise prognóstica ❖ A identificação dos indivíduos hipertensos que estão mais predispostos às complicações CV, especialmente infarto do miocárdio e AVE, é fundamental para uma orientação terapêutica mais agressiva ❖ Na prática clínica, a estratificação do risco CV no paciente hipertenso pode ser baseada em duas estratégias diferentes - Na primeira, o objetivo da avaliação é determinar o risco global diretamente relacionado à hipertensão. Nesse caso, a classificação do risco depende dos níveis da PA, dos fatores de risco associados, das LOAs e da presença de DCV ou doença renal - Na segunda estratégia, o objetivo é determinar o risco de um indivíduo desenvolver DCV em geral nos próximos 10 anos. Embora essa forma de avaliação não seja específica para o paciente hipertenso, pois pode ser realizada em qualquer indivíduo entre 30 e 74 anos, vale ressaltar que a HA é o principal FRCV ❖ Apenas uma pequena minoria de pacientes hipertensos apresenta somente uma elevação da PA - De fato, a grande maioria da população hipertensa demonstra FR adicionais. ❖ Por isso, a avaliação do risco CV depende de informações obtidas na história clínica, no exame físico e através de exames complementares, sempre objetivando a identificação de: - Coexistência de outros FRCV (Tabela 2) - Presença de LOAs da hipertensão (Tabela 3) - Diagnóstico de DCV ou doença renal já estabelecida (Tabela 4) ❖ Para facilitar e acelerar o processo de classificação de risco CV adicional no ambiente de consulta médica, o profissional de saúde responsável pelo atendimento pode seguir o fluxograma descrito na Figura 1. ❖ Importante notar que, em alguns casos, a classificação inicial pode ser modificada de acordo com o melhor ou pior controle dos níveis pressóricos e dos FR. ❖ Para a estratificação do risco CV global, deverão ser levados em conta os FR clássicos 12 13 TRATAMENTO ❖ Um dos principais desafios no tratamento da hipertensão é a realização do diagnóstico precoce devido à inexistência de sintomas precoces específicos ❖ Dos pacientes com diagnóstico de hipertensão, atingir o alvo terapêutico é, muitas vezes, difícil, e é necessário o uso combinado de várias drogas, o que tem impacto na redução da adesão ao tratamento medicamentoso - Hoje, cerca de 30 milhões de brasileiros são hipertensos, e estima-se que apenas 10% terão adesão emeta terapêutica atingidas ❖ A abordagem terapêutica da PA elevada inclui medidas não medicamentosas e o uso de fármacos anti-hipertensivos, a fim de reduzir a PA, proteger órgãos-alvo, prevenir desfechos CV e renais; 14 ❖ Medidas não medicamentosas têm se mostrado eficazes na redução da PA, apesar de limitadas pela perda de adesão a médio e longo prazo DECISÃO DE TRATAMENTO ❖ A decisão terapêutica deve basear-se não apenas no nível da PA, mas considerar também a presença de FR, LOA e/ou DCV estabelecida. ❖ Abordagem de hipertensos estágios 2 e 3 e/ou de alto risco: - Indivíduos com PA ≥ 160/100 mmHg e/ou portadores de risco CV estimado alto, mesmo no estágio 1, devem iniciar de imediato o tratamento medicamentoso associado à terapia não medicamentosa; - Admite-se que a terapia não farmacológica isoladamente não possa promover reduções da PA suficientes para alcance da meta pressórica recomendada, apesar de constituir efetivo adjuvante no controle da PA e de outros FRCV frequentemente presentes. ❖ Abordagem de hipertensos estágio 1 de risco baixo e moderado: - Em hipertensos estágio 1 e moderado ou baixo risco CV, a terapia não farmacológica deve ser tentada por 3 e 6 meses, respectivamente, findos os quais, a falta de controle da PA condicionará o início de terapia farmacológica; - Faz-se imperativo, contudo, acompanhar esses indivíduos com avaliação periódica da adesão às medidas não farmacológicas; - Constatada a falta de adesão ou a piora dos valores pressóricos, dever-se-á iniciar precocemente a terapia farmacológica. ❖ Abordagem para níveis de PA de 130-139/85-89 mmHg: - Importante notar, nessa faixa de PA, a existência de expressivo contingente de portadores de DCV, doença renal, DM, síndrome metabólica e de múltiplos FRCV; - Recomendam-se medidas não medicamentosas para essa faixa pressórica; - O tratamento medicamentoso pode ser considerado nos pré-hipertensos com PA de 130- 139/85-89 mmHg e história prévia de DCV ou naqueles com risco CV alto, sem DCV, mas não há evidências de benefício naqueles com risco moderado; - Estudos com bloqueadores do sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA) em indivíduos com PA de 130-139/85-89mmHg de alto risco CV mostraram redução da incidência de HA. ❖ Em pacientes de 60 a 79 anos, com PAS ≥ 140 mmHg e naqueles com ≥ 80 anos com PAS ≥ 160 mmHg, o início da terapia medicamentosa deverá ser mais precoce. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO ❖ O tratamento não medicamentoso é parte fundamental no controle da HAS e de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV), como obesidade e dislipidemia; ❖ Esse tratamento envolve mudanças no estilo de vida (MEV) que acompanham o tratamento do paciente por toda a sua vida; ❖ Algumas mudanças necessárias: - Redução no uso de bebidas alcoólicas; - Substituição de anticoncepcionais hormonais de uso oral por outros métodos contraceptivos; 15 - Parar com o tabagismo; - Hábitos alimentares; - Controle do peso; - Prática de atividade física. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ❖ A decisão de quando iniciar medicação anti- hipertensiva deve ser considerada avaliando a preferência da pessoa, o seu grau de motivação para mudança de estilo de vida, os níveis pressóricos e o risco cardiovascular; ❖ Pessoas com alto risco cardiovascular ou níveis pressóricos no estágio 2 (PA ≥ 160/100mmHg) beneficiam-se de tratamento medicamentoso desde o diagnóstico para atingir a meta pressórica, além da mudança de estilo de vida; ❖ O tratamento medicamentoso utiliza diversas classes de fármacos selecionados de acordo com a necessidade de cada pessoa, com a avaliação da presença de comorbidades, lesão em órgãos- alvo, história familiar, idade e gravidez; ❖ Frequentemente, pela característica multifatorial da doença, o tratamento da HAS requer associação de dois ou mais anti-hipertensivos; ❖ Para pacientes negros, desde que não haja contraindicações, o uso de diuréticos e bloqueadores de canais de cálcio é a opção mais racional; ❖ Não se indica o uso de betabloqueadores como droga de primeira linha no tratamento da HAS; ❖ Antes de substituir o anti-hipertensivo que se mostra ineficaz, deve-se garantir o uso de doses adequadas; ❖ Ocorrência de efeitos adversos significativos ou continuada ineficácia indicam a necessidade de substituição, em vez do uso de doses mais altas; ❖ Pacientes sob tratamento com três anti- hipertensivos em doses adequadas, incluindo um diurético, com adesão conferida e sem pressão controlada, têm hipertensão resistente; - Esses pacientes devem ser referidos a serviços especializados. 16 COMBINAÇÃO DE MEDICAMENTOS ❖ Quando os níveis pressóricos se enquadram no estágio 2, o tratamento medicamentoso pode ser iniciado com dois anti-hipertensivos em doses baixas simultaneamente; - Essa associação deve obedecer ao sinergismo de ação entre as cinco principais classes anti-hipertensivas. ❖ Ao iniciar o uso de um diurético tiazídico ou de um antagonista de canais de cálcio, a outra medicação associada deve ser um inibidor da enzima conversora de angiotensina ou um betabloqueador e vice-versa; ❖ A associação da IECA com antagonistas da angiotensina II deve ser evitada, pois aumenta o risco de disfunção renal, ❖ A associação entre diuréticos tiazídicos (ou ACC) e IECA (ou antagonistas da angiotensina II, ou betabloqueadores) é extremamente racional, particularmente em relação ao sinergismo de efeito sobre o sistema renina-angiotensina- aldosterona (SRAA) EFEITOS ADVERSOS ❖ Cerca de um terço dos doentes atribui sintomas a fármacos anti-hipertensivos, quando em tratamento de longo prazo; ❖ Reconhecimento dessas queixas e adequada orientação são necessários, pois eventos indesejáveis são causa frequente de falta de adesão ao tratamento; - Um exemplo frequente é a queixa de tontura, atribuída a excesso de efeito hipotensor do tratamento; - A pesquisa de hipotensão postural (queda de mais de 20 mmHg na pressão sistólica ao levantar da posição deitada) deve ser feita nesses casos, e raramente confirma essa hipótese; - Se houver real hipotensão postural, deve-se titular as doses em uso, evitando-se o descontrole da pressão arterial. ❖ Betabloqueadores podem exacerbar DPOC, distúrbios de condução atrioventricular e insuficiência circulatória periférica; - Sua contraindicação relativa em diabéticos do tipo 1 decorre de mascaramento dos sinais de hipoglicemia e bloqueio da glicogenólise. ❖ Diuréticos tiazídicos podem acentuar quadros de hiperuricemia e espoliar potássio; - Os níveis séricos de potássio devem ser aferidos após três a seis meses do início do tratamento. ❖ A hipopotassemia, mesmo discreta, reduz a eficácia da terapia, provavelmente porque Tratamento medicamentoso de Primeira linha: - DIU tiazídicos Clortalidona: doses de 12,5-50 mg/dia Hidroclorotiazida: doses de 50-100 mg/dia - IECA Captopril: doses de 25-150 mg/dia – 2-3 x ao dia Enalapril: doses de 2,5-10 mg/dia – 1-2 x ao dia - BRA Losartana: doses de 12,5-100 mg/dia – 1 x ao dia -Antagonistas do canal de cálcio Nifedipina: doses de 30-60 mg/dia – fracionada 1- 2 x ao dia Verapamil Retard: doses de 120-480 mg/dia – 2x ao dia - Betabloqueadores Propranolol (não seletivo): dose de 40-160 mg/dia – 2x ao dia Metoprolol (seletivo): dose de 50-100 mg/dia – 2x ao dia - Bloqueadores de renina Alisquireno: dose de 150-300 mg/dia – 1 x ao dia Tratamento medicamentoso de Segunda linha: - DIU de alça Furosemida: dose de 20-80 mg/dia – 1-2 ao dia - DIU poupador de potássio Espironolactona: dose de 25-100mg/dia – 1-2 x ao dia - Metildopa: dose de 500-300 mg/dia – 2-3 x ao dia - Hidralazina: dose de 50-100mg/dia – 2x ao dia - Alfabloqueador Doxazosina:dose de 2-8 mg/dia – 1x ao dia 17 aumenta o risco de arritmias, e é o provável mecanismo de indução de hiperglicemia; ❖ Diante dela, deve-se associar IECA ou diuréticos poupadores de potássio, como espironolactona; - Se essa persistir, o paciente deve ser referido para investigar hipertensão secundária. ❖ Hiperpotassemia pode decorrer de associação de agentes poupadores de potássio (IECA ou diuréticos poupadores) ou de insuficiência renal; ❖ Quando do emprego de IECA e antagonistas da angiotensina II ou de seu aumento de dose, deve- se aferir creatinina após três a seis meses; - Esses agentes podem deteriorar acentuadamente a função renal de pacientes com obstrução de artérias renais; - Pois, a dilatação que provocam em arteríolas eferentes não pode ser compensada por aumento de fluxo sanguíneo renal; - Esses pacientes em geral têm improdutiva resposta a esses fármacos, e o potássio e a pressão podem aumentar; - A elevação abrupta de creatinina (mais do que 50% do valor basal) requer suspensão desses medicamentos e encaminhamento ao especialista para investigar hipertensão secundária. ❖ A indução de disfunção sexual é preocupação frequente durante o tratamento anti-hipertensivo. ❖ Antiadrenérgicos de ação central, principalmente metildopa, são os mais implicados, seguidos por betabloqueadores e diuréticos; - Até 30% dos pacientes que os usam referem problemas de desempenho sexual. ❖ Os anti-hipertensivos não foram associados a efeitos adversos graves. ACOMPANHAMENTO ❖ Sugere-se a verificação semanal da PA até a primeira consulta médica de reavaliação do tratamento; - Neste período, a pessoa deverá medir a PA na sala de “enfermagem/triagem/ acolhimento” e o resultado da verificação, data e horário deverão ser anotados no prontuário do paciente ou no local indicado para registro do monitoramento da PA; ❖ A consulta médica de reavaliação do caso não deverá ultrapassar 30 dias; ❖ Caso a PA não diminua com o uso da medicação indicada até a segunda semana de tratamento, após certificar-se que o paciente está fazendo uso correto da medicação prescrita, a equipe de Enfermagem deverá orientar o paciente para consultar com seu médico; ❖ Se o paciente não estiver usando corretamente a medicação, a equipe de Enfermagem deverá refazer a orientação sobre o uso da medicação e continuar monitorando a PA; ❖ Um mês após o início do tratamento, deve-se verificar, em consulta médica, se o usuário atingiu a meta pressórica, isto é, PA menor que: - 140/90mmHg na HAS não complicada; - 130/80mmHg nos pacientes com diabetes, nefropatia, alto risco cardiovascular e prevenção secundária de AVC; - 130/80mmHg na nefropatia com proteinúria maior que 1g ao dia. ❖ Quando não se atinge a meta pressórica, recomenda-se adicionar outro fármaco, ou aumentar a dose do fármaco utilizado ou substituí- lo quando não houver nenhum efeito, reavaliando- se em intervalos mensais; ❖ Baixas doses de hidroclorotiazida podem potencializar o efeito de outro fármaco sem acrescentar efeitos adversos; - Doses maiores somente acrescentam paraefeitos. ❖ Na necessidade de uma terceira droga, os bloqueadores dos canais de cálcio seriam uma boa opção; ❖ As consultas médicas e de enfermagem para acompanhamento dos casos que atingiram a meta pressórica deverão ser preferencialmente intercaladas; - Sugere-se que sua periodicidade varie de acordo com o risco cardiovascular estabelecido por meio do escore de Framingham e de acordo com as necessidades individuais, considerando-se as diretrizes locais. A escolha do AHI para... Raça negra: tiazídicos e antagonistas de canal de cálcio Idosos: tiazídicos + betabloqueadores; IECA; BRA; antagonistas de canal de cálcio Gestantes: alfametildopa (1ª escolha); hidralazina DM: IECA e BRA Nefropatas: IECA e BRA Pós IAM: IECA e betabloqueadores Pós AVC isquêmico: tiazídicos, IECA e BRA Hipertensão sistólica isolada: tiazídicos e antagonistas de canal de cálcio IC sistólica: IECA, BRA, betabloqueadores, DIU (espironolactona) Taquiarritmias supraventriculares: betabloqueadores Osteoporose/nefrolitíase: tiazídicos Tremor essencial/hipertireoidismo/enxaqueca: betabloqueadores Prostatismo: alfa bloqueador 18 CLASSES DE ANTI-HIPERTENSIVOS DIURÉTICOS ❖ Os mecanismos de ação anti-hipertensiva dos DIU relacionam-se inicialmente aos seus efeitos natriuréticos, com diminuição do volume extracelular; ❖ Os DIU reduzem a PA e diminuem a morbimortalidade CV; ❖ Deve-se dar preferência aos DIU tiazídicos ou similares (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida) em doses baixas, pois são mais suaves e com maior tempo de ação; ❖ Reservando-se os DIU de alça (furosemida e bumetanida) aos casos de insuficiência renal e situações de edema (IC ou insuficiência renal); ❖ Os poupadores de potássio (espironolactona e amilorida) são habitualmente utilizados em associação com os tiazídicos ou DIU de alça. EFEITOS ADVERSOS ❖ Seus principais efeitos adversos são fraqueza, câimbras, hipovolemia e disfunção erétil; ❖ Do ponto de vista metabólico, o mais comum é a hipopotassemia, eventualmente acompanhada de hipomagnesemia, que podem induzir arritmias ventriculares, sobretudo extrassistolia; ❖ Podem provocar intolerância à glicose por reduzir a liberação de insulina, aumentando o risco do desenvolvimento de DM tipo 2; ❖ O aumento do ácido úrico é um efeito quase universal dos DIU, levando à precipitação de crises de gota nos indivíduos com predisposição; ❖ O uso de doses baixas diminui o risco dos efeitos adversos, sem prejuízo da eficácia anti- hipertensiva, especialmente quando em associação com outras classes de medicamentos; ❖ A espironolactona pode causar hiperpotassemia, em particular em pacientes com déficit de função renal. AGENTES DE AÇÃO CENTRAL ❖ Os agentes alfa-agonistas de ação central agem através do estímulo dos receptores α2 que estão envolvidos nos mecanismos simpatoinibitórios; - Nem todos são seletivos. ❖ Os efeitos bem definidos dessa classe são: - Diminuição da atividade simpática e do reflexo dos barorreceptores, contribuindo para bradicardia relativa e a hipotensão notada em ortostatismo; - Discreta diminuição na RVP e no débito cardíaco; redução nos níveis plasmáticos de renina e retenção de fluidos. ❖ São representantes desse grupo: metildopa, clonidina, guanabenzo e os inibidores dos receptores imidazolínicos (moxonidina e rilmenidina); ❖ - Não apresentam efeito metabólico indesejado por não interferirem na resistência periférica à insulina nem no perfil lipídico. EFEITOS ADVERSOS ❖ A metildopa pode provocar reações autoimunes, como febre, anemia hemolítica, galactorreia e disfunção hepática, que na maioria dos casos desaparecem com a cessação do uso; ❖ No desenvolvimento de uma reação adversa, esse pode ser substituído por outro alfa-agonista central; ❖ Os medicamentos dessa classe, apresentam reações adversas decorrentes da ação central, como sonolência, sedação, boca seca, fadiga, hipotensão postural e disfunção erétil. BETABLOQUEADORES ❖ Promovem diminuição inicial do débito cardíaco e da secreção de renina, havendo readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas; ❖ Os fármacos de terceira geração (carvedilol, nebivolol) além das ações anteriores, têm efeito vasodilatador por mecanismos diferentes; ❖ O propranolol mostra-se também útil em pacientes com tremor essencial, síndromes hipercinéticas, cefaleia de origem vascular e hipertensão portal; ❖ Os betabloqueadores não são indicados como droga de primeira linha no tratamento da HAS. EFEITOS ADVERSOS ❖ Broncoespasmo, bradicardia, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos,depressão psíquica, astenia e disfunção sexual; ❖ Os BB de primeira e segunda geração são formalmente contraindicados a pacientes com asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus; - Podem acarretar intolerância à glicose, induzir ao aparecimento de novos casos de DM, hipertrigliceridemia com elevação do LDL- colesterol e redução da fração HDL-colesterol. ❖ O impacto sobre o metabolismo da glicose é potencializado quando são utilizados em combinação com DIU; 19 ❖ Os BB de terceira geração (carvedilol e o nebivolol) têm impacto neutro ou até podem melhorar o metabolismo da glicose e lipídico; ❖ Estudos com o nebivolol também têm apontado para uma menor disfunção sexual, possivelmente em decorrência do efeito sobre a síntese de óxido nítrico endotelial. ALFABLOQUEADORES ❖ Os medicamentos dessa classe agem como antagonistas competitivos dos α1-receptores pós- sinápticos, levando a redução da RVP sem maiores mudanças no débito cardíaco; ❖ São representantes dessa classe a doxazosina, prazosina e terazosina; ❖ O efeito hipotensor é discreto como monoterapia, sendo a preferência pelo uso associado; ❖ Apresentam contribuição favorável e discreta no metabolismo lipídico e glicídico, e em especial na melhora da sintomatologia relacionada à hipertrofia prostática benigna. EFEITOS ADVERSOS ❖ Podem provocar hipotensão sintomática na primeira dose; ❖ O fenômeno de tolerância é frequente, necessitando aumento da dose, ao longo do uso; ❖ Incontinência urinária em mulheres pode ser causada pelo uso de alfabloqueadores; ❖ Há evidência de que os pacientes tratados com doxazosina têm maior risco de incidência de ICC. VASODILATADORES DIRETOS ❖ Os medicamentos que representam essa classe são hidralazina e minoxidil; ❖ Atuam diretamente, relaxando a musculatura lisa arterial, levando a redução da RVP. EFEITOS ADVERSOS ❖ Os efeitos colaterais da hidralazina são cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e reação lupus-like (dose-dependente); ❖ O uso dessa medicação deve ser cuidadoso em pacientes com DAC e deve ser evitado naqueles com aneurisma dissecante da aorta e episódio recente de hemorragia cerebral; ❖ Seu uso pode também acarretar anorexia, náusea, vômito e diarreia.; ❖ Um efeito colateral comum do minoxidil é o hirsutismo, que ocorre em aproximadamente 80% dos pacientes; - Um efeito menos comum é a expansão generalizada de volume circulante e taquicardia reflexa. BLOQUEADORES DE CANAL DE CÁLCIO ❖ Os BCC agem primordialmente proporcionando redução da RVP como consequência da diminuição da quantidade de cálcio no interior das células musculares lisas das arteríolas, decorrente do bloqueio dos canais de cálcio na membrana dessas células; ❖ São classificados em 2 tipos básicos: os di- idropiridínicos e os não di-idropiridínicos; ❖ Os BCC di-idropiridínicos (nifedipino, felodipino, levanlodipino, lacidipino, isradipino, nisoldipino, nimodipino) exercem um efeito vasodilatador predominante; - Com mínima interferência na frequência e na função sistólica, sendo, por isso, mais frequentemente usados como anti-hipertensivos; ❖ Os não di-idropiridínicos, como as fenilalquilaminas (verapamil) e as benzotiazepinas (diltiazem), têm menor efeito vasodilatador, e podem ser bradicardizantes e antiarrítmicos, o que restringe seu uso a alguns casos específicos; - Podem deprimir a função sistólica cardíaca, principalmente em pacientes que já apresentavam tal disfunção antes do início do seu uso. ❖ Deve-se dar preferência aos BCC de ação prolongada para que se evitem oscilações indesejáveis na FC e na PA; ❖ São anti-hipertensivos eficazes e reduzem a morbimortalidade CV. EFEITOS ADVERSOS ❖ Edema maleolar costuma ser o efeito colateral mais registrado, e resulta da própria ação vasodilatadora (mais arterial que venosa), promovendo a transudação capilar; ❖ Cefaleia latejante e tonturas são comuns; ❖ O rubor facial é mais comum com os BCC di- idropiridínicos de ação rápida; ❖ Hipercromia do terço distal das pernas (dermatite ocre) e a hipertrofia gengival podem ocorrer ocasionalmente.; ❖ Tais efeitos podem ser dose-dependentes; ❖ Verapamil e diltiazem podem agravar a IC, além de bradicardia e bloqueio atrioventricular; ❖ Obstipação intestinal é observada com verapamil. 20 INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA ❖ São anti-hipertensivos eficazes que têm como ação principal a inibição da enzima conversora de angiotensina I; - Impedindo a transformação de angiotensina I em angiotensina II, de ação vasoconstritora; ❖ São medicações comprovadamente úteis em muitas outras afecções CV, como em IC com fração de ejeção reduzida, além de possíveis propriedades antiateroscleróticas; - Também retardam o declínio da função renal em pacientes com nefropatia diabética ou de outras etiologias. EFEITOS ADVERSOS ❖ A tosse seca é seu principal efeito colateral, acometendo 5 a 20% dos pacientes; ❖ Um fenômeno passageiro observado quando do seu uso inicial em pacientes com insuficiência renal é a elevação de ureia e creatinina séricas, habitualmente de pequena monta e reversível; ❖ Podem provocar hiperpotassemia; ❖ Seu uso é contraindicado na gravidez, pelo risco de complicações fetais; - Por isso, seu emprego deve ser cauteloso e frequentemente monitorado em adolescentes e mulheres em idade fértil. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES AT1 DA ANGIOTENSINA II ❖ Os BRA antagonizam a ação da angiotensina II por meio do bloqueio específico dos receptores AT1, responsáveis pelas ações vasoconstritoras, proliferativas e estimuladoras da liberação de aldosterona, próprias da angiotensina II; ❖ Proporcionam redução da morbimortalidade CV e renal (nefropatia diabética). EFEITOS ADVERSOS ❖ São incomuns os efeitos adversos relacionados aos BRA, sendo o exantema raramente observado; ❖ Pelas mesmas razões dos IECA, são contraindicados na gravidez, devendo os mesmos cuidados ser tomados em mulheres em idade fértil. INIBIDORES DIRETOS DA RENINA ❖ Alisquireno, único representante da classe disponível para uso clínico, promove a inibição direta da ação da renina com consequente diminuição da formação de angiotensina II; - Outras ações podem contribuir para a redução da PA e a proteção tissular, tais como redução da atividade plasmática de renina, bloqueio de um receptor celular próprio de renina/pró-renina e diminuição da síntese intracelular de angiotensina II. ❖ Em monoterapia, tem capacidade de redução da PA de intensidade semelhante aos demais anti- hipertensivos. EFEITOS ADVERSOS ❖ “Rash” cutâneo, diarreia (especialmente com doses elevadas, acima de 300 mg/dia), aumento de CPK e tosse são os eventos mais frequentes, porém, em geral, com incidência inferior a 1%; ❖ Seu uso é contraindicado na gravidez. ESQUEMAS TERAPÊUTICOS O tratamento com medicamentos poderá ser realizado com uma ou mais classes de fármacos, de acordo com a necessidade, para que sejam obtidas as metas para a PA e de acordo com situações específicas; MONOTERAPIA ❖ A monoterapia pode ser a estratégia anti- hipertensiva inicial para pacientes com HA estágio 1, com risco CV baixo e moderado; ❖ A escolha inicial do medicamento a ser utilizado como monoterapia deve basear-se nos seguintes aspectos: - Capacidade de o agente escolhido reduzir a morbimortalidade CV; - Mecanismo fisiopatogênico predominante no paciente a ser tratado; - Características individuais; - Doenças associadas; - Condições socioeconômicas. ❖ Com base nesses critérios, as classes de anti- hipertensivos atualmente consideradas preferenciais para o controle da PA em monoterapia inicial são: - DIU tiazídicos (preferência para clortalidona); - IECA; -BCC; - BRA. ❖ Deve ser observado que os DIU são os fármacos que apresentam mais evidências de efetividade com relação aos desfechos CV, com claros benefícios para todos os tipos de eventos; ❖ O BB poderá ser considerado como fármaco inicial em situações específicas, como a associação de arritmias supraventriculares, enxaqueca, IC e coronariopatia; 21 ❖ A posologia deve ser ajustada para que se consiga redução da PA até valores considerados adequados para cada caso (metas terapêuticas); ❖ Se o objetivo terapêutico não for conseguido com a monoterapia inicial, três condutas são possíveis: - Se o resultado for parcial, mas sem efeitos adversos, recomenda-se aumentar a dose do medicamento em uso, podendo também ser considerada a associação com anti-hipertensivo de outro grupo terapêutico; - Quando não houver efeito terapêutico esperado na dose máxima preconizada ou se surgirem eventos adversos, recomenda-se substituir o anti- hipertensivo inicialmente utilizado, reduzir a dosagem e associar outro anti-hipertensivo de classe diferente ou instituir uma outra associação de fármacos; - Se, ainda assim, a resposta for inadequada, devem-se associar três ou mais medicamentos. ❖ Caso o DIU não tenha sido a primeira escolha e não esteja sendo utilizado na associação de dois fármacos, deve ser o terceiro a ser acrescentado; ❖ - Seu uso potencializa a ação anti-hipertensiva de qualquer dos medicamentos iniciais. ❖ Nos casos em que se configure a HA resistente (falta de controle da PA com o uso de pelo menos três medicamentos em dosagens máximas toleradas, sendo um deles um DIU), está indicada a associação de espironolactona; ❖ Os simpaticolíticos de ação central (clonidina) ou BB podem ser uma alternativa ao quarto fármaco, ficando o uso de vasodilatadores diretos reservado para casos especiais e em associação com DIU e BB. COMBINAÇÃO DE MEDICAMENTOS ❖ Os pacientes com HA estágio 1 e com risco CV alto ou muito alto ou com; - DCV associada e; - Aqueles com estágio 2 ou 3 com ou sem outros FRCV associados devem ser considerados para o uso de combinação de fármacos. ❖ Para a escolha dos medicamentos em associação, deve ser evitado o uso de anti-hipertensivos com mesmo mecanismo de ação; - Fazem exceção a essa regra a associação de DIU tiazídicos com poupadores de potássio. PARTICULARIDADES DAS ASSOCIAÇÕES ❖ O uso de BB associado a DIU deve ser feito com cautela em pacientes que apresentem alterações do metabolismo dos glicídeos, pois ambos os fármacos favorecem seu agravamento; ❖ A associação de IECA com BRA não é recomendada, pois, além de não mostrar benefício em desfechos CV, acrescentou risco de efeitos adversos; ❖ As combinações podem ser feitas com fármacos em separado ou em associação fixa (na mesma formulação galênica); - Se, por um lado, o uso de combinações livres permite-nos a escolha da dose de cada um dos componentes, por outro, verificou-se que o uso de associações fixas favorece a adesão à terapêutica, pelo uso de menor número de comprimidos. 22 CRISE HIPERTENSIVA ❖ As UH são situações clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da PA (definida arbitrariamente como PAD ≥ 120 mmHg) sem LOA aguda e progressiva; ❖ As EH são situações clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da PA (definida arbitrariamente como PAD ≥ 120 mmHg) com LOA aguda e progressiva. ❖ Pacientes com queixas de cefaleia, dor torácica atípica, dispneia, estresse psicológico agudo e síndrome de pânico associados à PA elevada não caracterizam UH ou EH, mas, na realidade, uma pseudocrise hipertensiva; - O tratamento deve ser otimização da medicação anti-hipertensiva e conscientização da adesão ao tratamento. EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS ❖ São condições em que há elevação crítica da pressão arterial com quadro clínico grave, progressiva lesão de órgãos-alvo e risco de morte, exigindo imediata redução da pressão arterial com agentes aplicados por via parenteral; ❖ Há elevação abrupta da pressão arterial ocasionando, em território cerebral: - Perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e evidências de lesão vascular, com quadro clínico de encefalopatia hipertensiva, lesões hemorrágicas dos vasos da retina e papiledema. ❖ Ocorre habitualmente, pacientes com hipertensão crônica ou menos elevada em pacientes com doença aguda, como em eclâmpsia, glomerulonefrite aguda, e em uso de drogas ilícitas, como cocaína; - Podem estar associadas à AVE, ao edema agudo dos pulmões, às síndromes isquêmicas miocárdicas agudas e à dissecção aguda da aorta. ❖ Esses casos requerem manejo imediato e encaminhamento em serviço de urgência e emergência, pois há risco iminente à vida ou de lesão orgânica grave. URGÊNCIAS HIPERTENSIVAS ❖ Pacientes que cursam com UH estão expostos a maior risco futuro de eventos cardiovasculares comparados com hipertensos que não a apresentam; ❖ A pressão arterial, nesses casos, deverá ser tratada com medicamentos por via oral, buscando-se sua redução em até 24 horas; ❖ Embora a administração sublingual de nifedipino de ação rápida seja amplamente utilizada para esse fim, foram descritos efeitos adversos graves com essa conduta; - A dificuldade de controlar o ritmo e o grau de redução da pressão arterial, sobretudo quando intensa, pode ocasionar AVE e coronarianos; - O uso de nifedipino de curta duração (cápsulas) não recomendável nessa situação. ❖ O captopril 25 mg via oral é indicado nesta situação; - Deve ser deglutido. PSEUDOCRISE HIPERTENSIVA ❖ Uma situação que não se enquadra na classificação tradicional de urgência e emergência hipertensiva; ❖ Apresenta-se com uma frequência muito maior em serviços de Atenção Básica; ❖ Geralmente, apresenta-se como uma medida de PA elevada associada a queixas vagas de cefaleia ou sintomas e sinais de ansiedade, sem sinais de comprometimento de órgão-alvo; ❖ O tratamento, nesses casos, dever ser dirigido à causa da elevação arterial, como uso de analgésicos na presença de cefaleia, de modo a evitar o risco de hipotensão e isquemia cerebral ou miocárdica; ❖ Muitas vezes, pode refletir a má adesão ao tratamento anti-hipertensivo ou uso de doses insuficientes; ❖ A pseudocrise hipertensiva oferece uma oportunidade para reforçar as medidas não medicamentosas e/ou otimizar o tratamento medicamentoso. COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIA L COMPLICAÇÕES AGUDAS Emergência hipertensiva, Urgência hipertensiva e Pseudocrise hipertensiva são os principais quadros agudos de descompensação da pressão arterial recebidos nas unidades básicas de saúde. RETINOPATIA HIPERTENSIVA ❖ Caracteriza-se por alterações vasculares causadas pela hipertensão arterial no olho; ❖ Sua evolução depende da rapidez de instalação e da duração da doença hipertensiva, além da idade do indivíduo; ❖ A classificação de Keith-Wagener-Barker (1939) é bastante utilizada para o estadiamento da retinopatia hipertensiva que, por sua vez, é uma importante orientação prognóstica: - Grau 1: Estreitamento arteriolar; - Grau 2: Cruzamento arteriovenoso patológico; 23 - Grau 3: Hemorragias e/ou exsudatos retinianos; - Grau 4: Papiledema. ❖ Os primeiros graus são consequência do remodelamento vascular, enquanto os dois últimos são marcos da hipertensão acelerada maligna, que leva à lesão tecidual grave, com isquemia e hemorragia, associada ou não ao edema cerebral, sugerido pela presença do papiledema. ❖ Existe correlação entre retinopatia hipertensiva e presença de nefropatia hipertensiva ❖ As alterações nos vasos retinianos ocorrem de forma semelhante às que acontecem nos rins, cérebro e outros órgãos; ❖ Para o tratamento da retinopatia deve-se buscar o controle dos fatores de risco, com ênfaseno controle glicêmico e pressórico adequados; ❖ O controle metabólico intensivo (HbA1c <7%) reduz a taxa de progressão subclínica da retinopatia leve em 54% e previne em 76% o surgimento de retinopatia em pacientes com DM tipo 1; - O controle da hipertensão arterial (com alvo menor de 150/85 mmHg) diminui a progressão da retinopatia hipertensiva. NEFROPATIA HIPERTENSIVA ❖ É uma condição médica relativa ao dano do rim devida à hipertensão; ❖ Deve ser diferenciada da "hipertensão renovascular", que é uma forma de hipertensão secundária. ❖ Nos rins, como um resultado da hipertensão arterial, a hialina (material homogêneo, amorfa rosa) se acumula na parede de pequenas artérias ou arteríolas, produzindo o espessamento de suas paredes e o estreitamento do lúmen — arteriosclerose hialina; ❖ A isquemia consequente produzirá atrofia tubular, fibrose intersticial, alterações glomerulares (glomérulos menores com graus diferentes de hialinização) e fibrose periglomerular; - Em estágios avançados, a falha renal ocorrerá. ❖ Complicações adicionais frequentemente associadas com a nefropatia hipertensiva incluem dano glomerular, resultando em proteinúria e hematúria. CARDIOPATIA HIPERTENSIVA HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA (HVE) ❖ O aumento crônico da pós-carga ventricular impõe uma sobrecarga sistólica ao VE - Como resposta “fisiológica” a este tipo de sobrecarga, o miocárdio começa a se hipertrofiar ❖ A HVE é a repercussão cardíaca mais comum da HAS - Está presente em quase 50% dos hipertensos não tratados, segundo o ecocardiograma (exame de escolha para o diagnóstico de HVE) e em cerca de 5-10% segundo o eletrocardiograma. ❖ A HVE pode ser concêntrica (espessamento da parede com redução da cavidade) ou excêntrica (aumento da massa ventricular sem o espessamento da parede) ❖ A patogênese da HVE inclui, além do efeito direto da sobrecarga, a ação de substâncias tróficas, entre elas, a angiotensina II, sobre as células miocárdicas ❖ Algumas vezes, a HVE pode ser detectada antes da HAS, fenômeno mais comum nos indivíduos obesos ❖ A presença da HVE, por si só, aumenta significativamente a mortalidade e o risco de eventos cardiovasculares (especialmente aqueles relacionados ao coração) ❖ O fenômeno de isquemia miocárdica pode ser precipitado, mesmo na ausência de lesão obstrutiva nas coronárias epicárdicas, devido à baixa reserva coronariana associada ao aumento da demanda metabólica miocárdica ❖ O risco de morte súbita (por arritmia ventricular) está aumentado, principalmente nos indivíduos hipocalêmicos pelo uso de diuréticos ❖ Existe também uma correlação entre o achado ecocardiográfico de HVE e um risco aumentado de Acidente Vascular Encefálico (AVE) DISFUNÇÃO DIASTÓLICA ❖ É muito comum o achado de deficit de relaxamento ventricular no exame ecocardiográfico de um hipertenso, isto é, um grau leve de disfunção diastólica ❖ Esta alteração também é comum em idosos não hipertensos ❖ A disfunção diastólica na HAS pode ser mais avançada, associada a aumento atrial esquerdo e HVE ❖ O paciente pode tornar-se sintomático, devido à congestão pulmonar secundária ao aumento nas pressões de enchimento do lado esquerdo do coração (dispneia, ortopneia) - Dos casos de ICC relacionados à HAS, 40-50% são por disfunção diastólica pura ❖ A disfunção diastólica também explica boa parte dos casos de edema agudo hipertensivo 24 DOENÇA CORONARIANA ❖ A HAS é o principal fator de risco para doença aterosclerótica das artérias coronárias ❖ O espectro de apresentação clínica da doença coronariana pode ser: - Isquemia silenciosa - Angina estável - Angina instável - IAM - Morte súbita ❖ A sequela de um infarto miocárdico pode levar a uma cardiopatia dilatada e disfunção sistólica, podendo manifestar-se como insuficiência cardíaca ❖ Em alguns casos, a cardiomiopatia isquêmica, pelo fenômeno do “miocárdio hibernante”, pode ser a causa da insuficiência cardíaca ❖ A doença coronariana atualmente representa a principal causa de óbito na população brasileira! DOENÇA CEREBROVASCULAR ❖ A doença cerebrovascular é a segunda maior causa de óbito na população! ❖ O risco aumenta com o estágio da hipertensão, chegando a cinco vezes na HAS grave - Pode ainda ser mais elevado na hipertensão sistólica isolada do idoso ❖ A doença cerebrovascular pode manifestar-se de várias formas: - Ataque Isquêmico Transitório (AIT) - AVE isquêmico - AVE hemorrágico - Intraparenquimatoso - Hemorragia subaracnoide - Demência multivascular - Atrofia cerebral devido à arterioloesclerose difusa (doença de Binswanger), todas elas fortemente relacionadas à HAS. ❖ O evento mais comum é o AVE isquêmico (80% dos AVEs), na maioria das vezes causado por um fenômeno tromboembólico relacionado à aterosclerose carotídea - O trombo forma-se na carótida e pode soltar um fragmento, que caminha pela circulação cerebral e se impacta em um ramo de médio calibre (como a artéria cerebral média) ❖ Outro mecanismo de AVE isquêmico relacionado à HAS é a trombose in situ, em uma placa de ateroma localizada em uma artéria cerebral do complexo carotídeo ou do complexo vertebrobasilar (cerebrais posteriores) ❖ O AVE pode deixar graves sequelas neurológicas, como hemiplegia e afasia, culminando em contraturas musculares, atrofia por desuso, úlceras de pressão, desnutrição, depressão, infecções etc. - A fisioterapia motora e a fonoaudiologia precoces (desde o primeiro dia do AVE) são os pontos mais importantes da terapia e reabilitação destes doentes - Quanto mais precoce e frequente for a fisioterapia, menores serão as sequelas - O uso de AAS (200-325 mg/dia) está indicado, pois reduz a incidência de novos eventos cerebrovasculares. ❖ Alguns pacientes apresentam uma síndrome neurológica denominada AIT (Ataque Isquêmico Transitório) - Também é causado por pequenos êmbolos provenientes das carótidas extracranianas e, na verdade, é um prenúncio de AVE isquêmico - É diferenciado deste pela reversibilidade completa do deficit em menos de 24h (geralmente dentro das primeiras 2h) - O uso de AAS (200-325 mg/dia) reduz bastante a incidência de AVE isquêmico a posteriori. ❖ O AVE hemorrágico também tem seu risco aumentado pela HAS - A hemorragia intraparenquimatosa (10-15% dos casos de AVE) é consequente à ruptura dos microaneurismas de Charcot-Bouchard ❖ A hemorragia subaracnoide (5% dos casos de AVE), em geral é devida à ruptura de um aneurisma sacular congênito, na maioria das vezes localizado no polígono de Willis, ou de uma Má Formação Arteriovenosa (MAV). ATEROSCLEROSE ❖ A HAS está entre os principais fatores de risco para aterosclerose, a patologia vascular mais incriminada nos eventos cardiovasculares ❖ A aterosclerose é uma doença da parede arterial, acometendo geralmente artérias de grande calibre (aorta) ou médio calibre (coronárias, carótidas, mesentéricas, renais, femorais) ❖ Consiste na formação, na camada íntima das artérias, de placas contendo um cerne lipídico envolto por uma capa fibrosa – as chamadas placas de ateroma - No interior destas placas encontram-se células inflamatórias mononucleares (macrófagos e linfócitos), bem como células musculares lisas produtoras de colágeno ❖ Estas placas podem obstruir parcialmente o lúmen arterial, determinando isquemia induzida pela maior demanda metabólica do órgão (ex.: angina estável, angina mesentérica, claudicação intermitente) ou evoluir para a formação de um trombo oclusivo, levando às síndromes isquêmicas agudas potencialmente fatais (AVE isquêmico, 25 infarto agudo do miocárdio, isquemia mesentérica aguda, gangrena de membro inferior). ❖ A aterosclerose pode ter três consequências clinicamente importantes: (1) obstrução gradualdo lúmen arterial – responsável pelo quadro da angina estável, da angina mesentérica, da hipertensão renovascular e da claudicação intermitente; (2) fraqueza da parede arterial – responsável pela formação de aneurismas arteriais; (3) trombose da placa. ❖ Desses três, o principal responsável pelos eventos mórbidos relacionados à aterosclerose é a trombose da placa - A trombose é um processo que ocorre em pouco tempo (horas, dias), reduzindo bruscamente o lúmen arterial a ponto de ocluí-lo - A consequência imediata é catastrófica: IAM, AVE, isquemia mesentérica aguda etc. - O que desencadeia esse evento? Atualmente, sabe-se que pouco tempo antes da formação do trombo a placa aterosclerótica passa por uma fase denominada Instabilidade da Placa - Em decorrência da ativação leucocitária no interior da placa, sua capa fibrótica torna-se mais fina e começa a ser degradada pelas metaloproteinases secretadas pelos macrófagos ativados ❖ Finalmente, ocorre a rotura da placa, expondo seu conteúd o lipídico altamente trombogênico às plaquetas e fatores da coagulação - A consequência imediata é a trombose. ❖ Estudos recentes mostraram que o aumento dos níveis séricos de fibrinogênio e de proteína C reativa (“reagentes de fase aguda”) estão associados ao risco de eventos cardiovasculares em pacientes com aterosclerose
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