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CAMILA MATOS PAIXÃO | 5º SEMESTRE | MEDICINA TBL – Cuidados paliativos Caso de aplicação: Maria das Dores, 86 anos, portadora de câncer de pulmão tem metástases para osso e fígado. É totalmente independente para suas atividades instrumentais e básicas da vida diária. Vai ao banco, dirige, faz sua higiene pessoal sozinha. Mora com o marido e tem filhos, que moram na mesma cidade que ela. Durante consulta ambulatorial, acompanhada dos filhos e do esposo, a paciente afirmou: “Em hipótese nenhuma, quero que coloquem um tubo no meu nariz ou garganta. Nesse caso, eu preferia morrer”. A respeito desse caso, responda os seguintes itens: a) Dona Das Dores retorna em consulta médica após 3 meses, queixando-se de fortes dores ósseas. Que medicamentos você indicaria para dor óssea no contexto de metástases? Os bisfosfonatos são um grupo de medicamentos úteis no tratamento das metástases ósseas. Eles agem diminuindo a ação dos osteoclastos. Essas células ósseas normalmente dissolvem pequenos pedaços de ossos para remodelá-los e mantê-los fortes. Mas os osteoclastos são frequentemente hiperativos na presença da metástase óssea, o que pode causar problemas. Os bisfosfonatos frequentemente usados no tratamento das metástases ósseas incluem o pamidronato e o ácido zoledrônico. Os bisfosfonatos são úteis no tratamento das metástases ósseas por reduzir a dor óssea, retardar o dano ósseo causado pela doença, reduzir os níveis de cálcio no sangue (hipercalcemia) e diminuir o risco de fraturas ósseas. Os efeitos colaterais mais comuns de bisfosfonatos são fadiga, febre, náuseas, vômitos, anemia e dores ósseas ou articulares. Esses medicamentos podem reduzir os níveis de cálcio, de modo que não pode ser administrado em pacientes cujos níveis de cálcio estejam baixos. Os bisfosfonatos podem causar problemas renais e muitas vezes não devem ser administrados em pacientes com insuficiência renal. b) A paciente refere no retorno melhora importante da dor com a medicação prescrita, entretanto, evoluiu com hipersecreção brônquica e dispneia, o que poderia ser feito para controle dos sintomas, evitando aspirações frequentes? Nesse contexto, a avaliação da dispneia apresenta uma particularidade: não existe uma forma ainda padronizada de se abordar este sintoma em todos os seus aspectos: físico, emocional, comportamental e circunstancial. Dessa forma, a avaliação apropriada e, portanto, a conduta a ser tomada, depende de uma percepção muito acurada da equipe toda e principalmente do médico que acompanha o paciente. CAMILA MATOS PAIXÃO | 5º SEMESTRE | MEDICINA Existem 33 escalas diferentes para avaliação de dispneia, mas nenhuma delas é adequada para uso isolado porque avaliam características unidimensionais do sintoma: ou somente a intensidade física, ou somente o componente emocional, etc. Aspectos diferentes e importantes a serem avaliados são o impacto na funcionalidade de vida, e a resposta à terapêutica. Quando se faz uma avaliação dos sintomas respiratórios, é fundamental que se avalie não só a intensidade (pequena, média ou grande), mas também as suas características, desencadeantes, ritmo de evolução, fatores de melhora e piora além da doença que leva ao sintoma Opioides - O mecanismo de ação dos opioides no controle da dispneia é relativamente desconhecido. Sabe-se que existem receptores opioides no Sistema Nervoso Central, em toda árvore respiratória e principalmente nos alvéolos. Assim, o que se recomenda para tratamento da dispneia em casos leves e em pacientes virgens de tratamento é o uso de codeína na dose de 30mg via oral a cada 4 horas. Para pacientes com dispneia grave e virgens de tratamento, as doses eficazes são extremamente individuais. Sugere-se: sulfato de morfina 5mg VO 4-4 horas, doses baixas (10 a 30mg) de morfina de liberação lenta 1x/d ou até outros opioides. Benzodiazepínicos - Em revisão sistemática recente, não foi possível demonstrar o benefício do uso de benzodiazepínicos para alívio da dispneia em pacientes portadores de câncer avançado e DPOC. A droga mais estudada para esse fim, nesse contexto, é o midazolan. As doses utilizadas são baixas, em torno de 5 a 10mg em 24 horas. É frequente o uso em associação com o opioide, tanto por via oral, intravenosa ou subcutânea. Apesar de alguns estudos mostrarem que o efeito da associação no controle da dispneia é semelhante ao uso do opioide isolado, a experiência mostra que, quando o componente emocional, afetivo, é marcante, existe melhora adicional expressiva. Oxigênio - O uso de oxigênio como medida paliativa vem sendo estudado de forma sistemática apenas mais recentemente. Entretanto, na prática, é recurso bastante comum. Elevar decúbito - Reposicionar o paciente de 3 a 4 horas de modo confortável favorecendo a mobilização de secreções e facilitando a respiração e deglutição. Realizar higiene oral e da prótese dentária, se houver, para facilitar a deglutição ou diminuir a quantidade de secreção em cavidade oral. Hipersecreção de vias aéreas - É importante lembrar que sempre há uma forma de trazer algum conforto. Do ponto de vista não farmacológico, é possível um trabalho integrado com o fisioterapeuta com o uso de técnicas para adequar o posicionamento da cabeça e da via aérea para facilitar drenagem de secreções, evitando acúmulo e consequente piora do desconforto além de respiração ruidosa (“sororoca”). Pode-se conseguir redução da quantidade de secreções com o uso de corticosteroides, cuja ação é melhor nos pacientes CAMILA MATOS PAIXÃO | 5º SEMESTRE | MEDICINA com asma do que com câncer, antibióticos macrolídeos como eritromicina (dimunuição de secreção mediada por macrófagos), anticolinéticos como Hioscina na dose de 10mg a cada 4 horas ou a cada 6 horas (VO, IV ou SC), ou mesmo colírio de atropina na própria cavidade oral, na dose de 2 gotas a cada 6 ou até 12 horas (conforme resposta). c) Caso Dona Maria não consiga mais deglutir as medicações, qual a melhor via de administração de medicamentos? SUBCUTÂNEA Num contexto global em que se observa o envelhecimento da população e o aumento das doenças crônico-degenerativas, a exemplo do câncer, é razoável que se discuta cada vez mais sobre os métodos alternativos, como a via subcutânea (SC), para a administração de medicamentos e soluções de reidratação quando as vias parenterais e oral se apresentam de forma restrita ou associadas à contraindicação de procedimentos invasivos, tais como a dissecção venosa e a introdução de cateteres. Por ser um procedimento simples, seguro e sem complicações graves, o uso da via SC pode ser amplamente implementada. Quando comparadas as vias parenterais intravenosa (IV), intramuscular (IM) e SC, a concentração sérica máxima é alcançada na circulação em menor tempo para as vias IV e IM. Para a via SC, essa concentração máxima é obtida em tempo maior do que para as vias parenterais citadas, mas mantém níveis plasmáticos mais elevados por maior tempo. Esse perfil de absorção pela via SC mais lento possibilita uma concentração sérica estável do medicamento e impede picos plasmáticos os quais podem determinar o possível aparecimento de efeitos colaterais indesejáveis. d) Após 6 meses, Dona Das Dores evoluiu com rebaixamento de nível de consciência. A família tomou a decisão de forma unânime, de passar sonda nasoenteral para alimentação. Neste caso, qual será sua posição? Como respeitar a vontade do paciente nesta situação? Artigo 46 – (É vedado ao médico) efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida. Artigo 56 – (É vedado ao médico) desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de vida.O Conselho Federal de Medicina, em 2006, editou a Resolução CFM nº 1.805, asseverando, em seu artigo 1º, que “é permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, em fase CAMILA MATOS PAIXÃO | 5º SEMESTRE | MEDICINA terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal”. Objetivos: 1) Entender o limite da medicina para a cura. E aceitar a finitude do ser humano. 2) Quando e como indicar cuidados paliativos. 3) Percepção deque apesar de algumas doenças não serem passiveis de cura, ha ́ muito o que fazer pelo paciente. 4) Discutir os conceitos de ortotanásia, eutanásia e distanásia. 5) Avaliar as alternativas médicas, focadas em alivio do sofrimento e angustia do paciente, bem como da família, assegurando uma morte digna. 6) Promover qualidade de vida enquanto for possível. 7) Saber que a qualidade do viver deve repercutir na qualidade do morrer