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1 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA ANATOMIA: Localizado entre o diafragma torácico (teto da cavidade abdominal) e a pelve. Limite inferior: linha que liga o promontório sacral à sínfise púbica. É contínuo à cavidade pélvica – não existe assoalho. Em decúbito dorsal: se estende até o quinto espaço intercostal anterior. Consequentemente, partes do fígado, estômago e baço são protegidas pela caixa torácica. REGIÃO ANTERIOR: Dividido em quatro quadrantes formados por duas linhas perpendiculares (linha média e linha transumbilical) que passam pela cicatriz umbilical. Dividido em 9 regiões com planos passando horizontalmente pelo rebordo costal e pelas cristas ilíacas, e sagitalmente pelas linhas hemiclaviculares: • Hipocôndrio direito/esquerdo • Epigástrio • Flanco direito/esquerdo • Mesogástrio • Fossa ilíaca direita/esquerda • Hipogástrio REGIÃO POSTERIOR: Delimitado pelo rebordo costal superiormente e pelas cristas ilíacas inferiormente. Dividido em: • Região lombar direita • Região lombar esquerda As regiões do flanco se continuam com a região lombar posteriormente, então literaturas denominam a região do flanco como lombar anterior. EXAME: Sempre pela direita. Sequência: • Inspeção 2 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA • Ausculta • Percussão • Palpação Pode-se palpar antes de percutir. Ao se percutir antes de palpar, podem-se localizar massas ou visceromegalias em áreas a serem examinadas com mais cuidado na palpação. INSPEÇÃO: Observar: • Tipo de abdome • Movimentação respiratória • Presença de cicatrizes • Abaulamentos na parede ou herniações • Alterações na pele • Presença de circulação colateral • Depressões • Movimentos peristálticos TIPO DE ABDOME: Abdome normal ou atípico: • Plano • Simétrico • Sem aumento ou diminuição do volume abdominal Abdome globoso: • Predomínio do diâmetro anteroposterior • Ex: gravidez último trimestre, ascite, obesidade, hepatoesplenomegalia volumosa, obstrução intestinal, tumores policísticos do ovário Abdome em ventre de batráquio: • Predomínio do diâmetro transversal sobre o anteroposterior em decúbito dorsal. • Ex: ascite em fase de regressão. Abdome em avental: • Em pessoas muito obesas – acúmulo de tecido gorduroso na parede abdominal que cai como um avental sobre a raiz das coxas. Abdome pendular ou ptótico: • Variante do abdome em avental. • Aspecto de avental. • Resulta de fraqueza da musculatura do andar inferior do abdome, não necessariamente associada à obesidade. • A causa mais comum é flacidez abdominal do puerpério. Abdome escavado: • A parede abdominal se mostra retraída. • Em pessoas emagrecidas. CIRCULAÇÃO COLATERAL: Portal: • Obstrução ao fluxo venoso proveniente das tributárias da veia porta (veias esplênica e mesentérica superior), em direção ao fígado. • Formação de vasos colaterais (diversos locais) e recanalização da veia umbilical, culminando com um fluxo centrífugo com relação ao umbigo. • Cabeça de medusa. 3 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA Cava inferior: • Causada por uma obstrução ao nível da veia cava inferior. • Leva ao aumento do fluxo venoso em vasos colaterais na parede abdominal em direção ascendente. Cava superior: • Causada por obstrução ou compressão da veia cava superior. • Leva ao aumento do fluxo em vasos colaterais com direção descendente. Determinação da direção do fluxo sanguíneo nas veias abdominais: a) padrão normal do fluxo sanguíneo, b) hipertensão porta, c) obstrução da veia cava inferior. ALTERAÇÕES NA PELE: Teleangiectasias ou aranhas vasculares: • Formadas por uma arteríola central que emite ramos, cujo fluxo desaparece à compressão central. • Podem ser encontradas na parede abdominal. • São encontradas preferencialmente no pescoço, tronco e MMSS. • Encontrada nas hepatopatias, mas não são específicas. 4 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA Equimose: • Denota extravasamento de sangue na derme. • Encontrada em locais de trauma e também nos pontos de injeção subcutânea de heparina. Sinal de Cullen: • Equimose periumbilical. • Quando há hemorragia no retroperitônio. • Causada no processo de pancreatite necrosante e também na prenhez ectópica rota. Sinal de Grey-Turner: • Equimose nos flancos. • Na pancreatite necrosante e também em outras causas de hemorragia retroperitoneal. Estrias: • Esbranquiçadas – processo antigo. • Causa maior é obesidade. • Dentre outras causas: hipertrofia rápida na musculatura abdominal que leva a um estiramento da pele, levando às estrias. • As róseas purpúreas ou violáceas têm como iniciadoras a Síndrome de Cushing, cujas causas são variadas. Síndrome de Cushing: hiperadrenocorticismo Cicatrizes: • Denotam processos traumáticos ou cirúrgicos – auxilia na elucidação da história patológica pregressa. • Deve-se registrar sua localização e extensão. Herniações: • Descrever sua localização e sua relação com cicatrizes cirúrgicas (hérnia incisional). Localização: • Linha alba • Linha semilunar – lateral ao reto abdominal • De Spigel – abaixo da linha arqueada As mais encontradas na linha alba são a umbilical, epigástrica e as incisionais. 5 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA Abaulamentos: • Avaliar localização, pulsatilidade e extensão. • Ex: aneurismas, massas, hérnias, visceromegalias, linfonodomegalia – classificamente temos o sinal de Sister Mary-Joseph (sinal da irmã Mari José), nódulo umbilical metastático indicativo de neoplasia intra-abdominal. MOVIMENTOS DO ABDOME: O abdome pode apresentar três tipos de movimentos: Movimentos respiratórios: • Homens apresentam respiração do tipo toracoabdominal – presença de movimentos respiratórios nos quadrantes superiores. • Mulheres apresentam movimento respiratório torácico – diferença importante devido à gravidez. Pulsações: • Podem ser visíveis em indivíduos muito emagrecidos, na presença de aneurismas ou massas próximas ao vaso arterial que transmitem a pulsação. Movimentos peristálticos visíveis: • Normalmente a visualização dos movimentos intestinais para impulsão do bolo alimentar não são visíveis. • Quando presentes são um sinal de luta contra uma obstrução em algum ponto – faz os movimentos se tornarem mais fortes para tentar vencer a obstrução, permitindo sua visualização. INSPEÇÃO DINÂMICA: Manobra de Valsava: • Aumenta a pressão intra-abdominal permitindo avaliar herniações através da parede abdominal. • Pede-se para o paciente realizar uma apneia e força de evacuação concomitante. Manobra de Smith Bates: • Pede-se para o paciente contrair a musculatura abdominal. • Se a massa visível desaparecer, indica que está abaixo da parede abdominal. • Se permanecer visível e palpável indica que é massa da parede abdominal (p. ex.: lipoma) ou que há enfraquecimento ou falha na musculatura abdominal (hérnias). AUSCULTA: Sempre realizada antes da palpação e percussão abdominal – palpação e percussão podem alterar os ruídos peristálticos. Objetivo: • Avaliar a motilidade intestinal (ruídos hidroaéreos) • Avaliar a presença de sopros arteriais • Observar também atrito hepático. MOTILIDADE INTESTINAL: Normal: • Cinco a 34 ruídos do borborigmo intestinal (denotam a peristalse) por minuto • Ou um borborigmo a cada quatro a cinco incursões respiratórias Aumentado ou hiperperistáltico: • Acima de 34 ruídos por minuto. • Pode estar presente nos casos de peristalse de luta (obstrução intestinal) e nos casos de diarreia. • Chama-se borborigmos – adquire um caráter metálico Hipoperistáltico: • Se menor do que cinco ruídos por minuto. • Pode ser encontrado nas fazes tardias de obstrução intestinal. Ausente ou aperistáltico:• Não se ausculta ruídos. • Ex: íleo paralítico (metabólico). Onde colocar o estetoscópio? • Na região direita lateroinferiormente à cicatriz umbilical e lateral ao reto abdominal – os sons do borborigmo intestinal são mais audíveis. • Em caso de ausência dos sons neste foco, deve-se auscultar em todos os focos. Quanto tempo ouvir? • 1 minuto • Para dizer que há ausência de ruídos, deve-se ouvir no mínimo 5 minutos em cada quadrante. 6 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA AUSCULTA DE SONS VASCULARES: Procuram-se por sopros aórticos, renais, mesentéricos, ilíacos, femorais e sopros venosos. Aorta: • Se divide nas ilíacas comuns na altura de cicatriz umbilical. • Sopros aórticos podem ser audíveis desde o apêndice xifoide até a cicatriz umbilical. Renais: • Sopros são audíveis em caso de estenose das artérias renais. • Emergem da aorta na altura da região mediana entre o apêndice xifoide e a cicatriz umbilical. Femorais: • Aterosclerose gera sopro assimétrico, em geral sopro de Pistol Shot da insuficiência aórtica, se transmite simetricamente. Venosos: • Ausculta de um zumbido venoso em cima da circulação portal do tipo cabeça de medusa na região umbilical – sinal de Cruveilhier- Baumgarten, que denota hipertensão portal. Importante diferenciar os sopros: • Diastólico • Sistólico – quando ocorre ao mesmo tempo em que sinto o pulso radial na palpação do paciente. • Continuo Sopro sistólico, audível entre o processo xifoide e o umbigo pode ser normal – devido a anatomia do tronco celíaco. PERCUSSÃO: Objetiva: • Avaliar a distribuição de gases no abdome • Identificar massas sólidas • Presença de líquido livre na cavidade • Tamanho do fígado (hepatimetria) • Se há aumento esplênico • Áreas dolorosas Deve-se percutir as nove regiões analisando a presença de timpanismo ou macicez. • Regiões de macicez podem indicar massas ou visceromegalias, o que orientará a palpação subsequente. Causas de macicez: • Vísceras maciças normais (fígado) • Vísceras aumentadas – esplenomegalia • Tumor ovariano • Distensão da bexiga • Útero gravídico 7 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA • Ascite • Fezes • Demais tumores Também percutir o espaço de Traube (delimitado pelo rebordo costal, linha axilar anterior e 6° espaço intercostal). A macicez no espaço de Traube pode ser decorrente de: • Esplenomegalia – aumento de 2,5 vezes seu tamanho • Estomago cheio – alimentação • Fecaloma • Adenocarcinoma gástrico • Ascite volumosa • Situs inversus • Extenso derrame pleural à esquerda Para diferenciar a esplenomegalia das demais causas se utiliza a delimitação do espaço de Traube feita pela linha de Piorry, que vai da fúrcula esternal à extremidade distal da primeira costela flutuante esquerda. Se a percussão medial a esta linha for maciça indica crescimento esplênico verdadeiro. Quando ocorre aumento do baço, este cresce medialmente, no sentido anterior e inferiormente, desta forma deslocando a flexura esplênica do cólon e o estômago que ocupam o espaço de Traube e dão o timpanismo do espaço. Macicez nos flancos e timpanismo na região umbilical: • Deve-se pesquisar se há líquido livre na cavidade, que devido, ao decúbito dorsal, faz o líquido escorrer para os flancos e as alças flutuarem (gás menos denso que líquido) dando o timpanismo na região periumbilical. • Para descobrir se o líquido é livre se faz a percussão e se descobre o ponto entre o timpanismo e a macicez e pede-se que o paciente faça decúbito lateral, para o líquido escorrer e as alças serão transferidas para cima, fazendo com que a área anteriormente maciça fique timpânica, constituindo assim a macicez móvel de decúbito. 8 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA Figura 8.15 Manobra para a pesquisa de macicez móvel de decúbito. No caso de abdomes globosos em que se suspeite da presença de líquido ascítico ou macicez nos flancos e timpanismo periumbilical à percussão deve-se realizar tal manobra. (A) Com o paciente em decúbito dorsal, percute-se o abdome, ao achar o ponto de transição entre o timpanismo e a macicez mantém-se o dedo no local e pede-se ao paciente (B) para ficarem decúbito lateral, o que fará o líquido escorrer por ação da gravidade para baixo e as alças contendo gás boiarem (C) fazendo a região anteriormente maciça onde o dedo estava em timpânica. Sinal do piparote: Este é evidenciado através da sensibilidade de ondas líquidas no lado oposto ao que se estimula com percussões a parede abdominal. Para tal pede-se a outro examinador ou ao próprio paciente que comprima com as bordas ulnares das mãos a região mediana, para, dessa forma, impedir que haja transmissão via tecido celular subcutâneo, e se realiza a percussão em um dos lados e com a outra mão sente-se a onda líquida. Tem sensibilidade menor que a macicez móvel de decúbito, pois há necessidade de um volume maior para sentir a onda líquida. Sinal da poça: Na suspeita de pequeno volume de líquido ascítico, pede-se ao paciente ficar na posição genupalmar e se inicia a percussão de baixo para cima na região periumbilical, havendo líquido livre esta região ficará maciça. Este sinal é o que tem maior sensibilidade na presença de líquido ascítico, sendo positivo na existência de apenas 150 mL. Macicez em tabuleiro de xadrez: Quando há líquido septado e não livre – há áreas maciças entremeadas a áreas timpânicas, sendo uma das causas a tuberculose peritoneal. Hepatimetria: • Percutir de cima para baixo. • O som atimpânico ou claro é pulmonar. • O som maciço é hepático. Tamanho hepático normal: • 6 a 12 cm na linha hemiclavicular direita • 4 a 8 cm abaixo do apêndice xifoide No ponto em que há sobreposição do pulmão com o fígado o som passa a ser submaciço, sendo este ponto considerado o limite superior do fígado, enquanto o inferior é dado pelo fim da macicez hepática e início do timpanismo abdominal. Se a flexura direita do cólon estiver por sobre o fígado (Sinal de Chilaiditi) a hepatimetria pode ser falseada, sendo necessário palpar para delimitar a borda inferior. Sinal de Joubert: aparecimento de timpanismo em área de macicez, indicando perfuração de víscera oca 9 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA (pneumoperitônio), uma vez que o ar tende a ocupar as porções superiores (infradiafragmáticas) do abdome, entre o fígado e o diafragma. É falseado quando a flexura hepática do cólon está, nessa região, sendo responsável pelo timpanismo (Sinal de Chilaiditi). Sinal de Torres Homem: quando a percussão sobre a loja hepática for dolorosa. Deve-se pensar em abscesso hepático amebiano como causa do processo inflamatório que leva a dor na percussão. PALPAÇÃO: • Muito importante em caso de abdome agudo. • Em pacientes obesos estará dificultada. • Em indivíduos magros facilitada – podendo sentir o rim direito, aorta, promontório, fígado, baço (3% das vezes), ceco, sigmoide, bexiga e útero gravídico. • Antes de palpar deve-se arguir o paciente quanto à dor de algum ponto e solicitar que ele aponte. • Examinar as áreas não dolorosas primeiro, deixando a região acometida por último. • Deve-se realizar a palpação superficial e profunda. SUPERFICIAL: Objetivo: • Avaliar a dor • A tensão da parede • Se há alguma alteração no tecido celular subcutâneo • Herniações • Massas • Visceromegalias de grande monta Antes de começar deve-se: • Aquecer as mãos • Despir o abdome desde o apêndice xifoide até a sínfise púbica • Perguntar ao paciente onde ele sente dor para deixar a palpação desta área por último. A palpação é feita em todos os quadrantes utilizando- se uma das mãos, com movimentos circulares a procura de alterações na parede abdominal e de pontos dolorosos. PROFUNDA: Utiliza-se uma das mãos para sentir (direita) enquanto a outra empurra(esquerda), não sendo uma questão de força. Pesquisa-se a presença de massas previamente delimitadas pela percussão, registrando localização, tamanho, formato, consistência, pulsações e mobilidade com a respiração. PESQUISA DE IRRITAÇÃO PERITONEAL: A inervação está no peritônio parietal, logo a irritação deste gera dor localizada, que pode ser desencadeada pela percussão. Os sinais de irritação peritoneal são: • Hipersensibilidade à palpação superficial • Abdome rígido ou em tábua • Dor ao mínimo toque • Descompressão dolorosa (sinal de Blumberg) por desaceleração súbita do peritônio. Causas de irritação peritoneal: • Ar livre na cavidade por rotura de alça: Sinal de Joubert • Sangue livre na cavidade • Apendicite – pesquisa-se a descompressão dolorosa no ponto de Macburney (traça-se uma linha entre a cicatriz umbilical e a espinha ilíaca anterossuperior, realizando a compressão no ponto de junção do terço lateral com os dois terços mediais). Sinal do Obturador: • Flete-se a coxa (flexão da articulação coxofemoral) • Faz a rotação interna do quadril – estirando-se o músculo obturador interno. 10 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA • A dor no hipogástrio é sinal de irritação deste músculo, por provavelmente um apêndice que mergulha na cavidade pélvica. Sinal de Rovsing: • Comprime-se, com as duas mãos espalmadas ou com punho cerrado, o cólon descendente, de distal para proximal, fazendo o ar se deslocar em direção ao ceco, que irá distender-se, o que será doloroso se houver inflamação do apêndice. Sinal do Psoas: • Executa uma extensão forçada da coxa provocando um estiramento das fibras do músculo psoas ou, então, através da flexão da coxa contra a resistência. • Este sinal positivo pode ser indicativo de irritação do músculo psoas, sendo uma das causas a apendicite com o apêndice retrocecal encostando neste músculo. • Pesquisa-se colocando o paciente em decúbito lateral esquerdo (caso queira pesquisar o psoas direito) e se faz uma extensão forçada da coxa. Figura 8.24 Sinal do psoas. Com o paciente em decúbito lateral, conforme a figura, ou decúbito dorsal, pede-se ao paciente para realizar a flexão da coxa enquanto o examinador mantém uma resistência ao movimento. Outra forma de sua pesquisa é através da mesma posição; contudo, o examinador realizando a extensão da coxa. O sinal será positivo no caso da presença de dor. Vesícula biliar: Sinal de Murphy: • Durante a expiração, posiciona-se a mão no ponto entre a junção do rebordo costal com o músculo reto abdominal (cístico) e pede-se ao paciente que realize a inspiração. • Se houver processo inflamatório na vesícula biliar (colecistite) quando esta descer, devido à inspiração, e tocar na mão do examinador, isso gerará dor e fará o paciente interromper a inspiração, o que configura sua positividade. • Se houver aumento hepático em vez do rebordo costal deverá ser utilizado a borda inferior do fígado com a junção do músculo reto abdominal. Sinal ou Regra de Courvoisier-Terrier: • Ao palpar-se no hipocôndrio direito, sente-se uma massa ovalada, que é a vesícula biliar distendida que se torna palpável por efeito de massa de neoplasia de vias biliares extra- hepáticas – tumores periampulares (principalmente câncer de cabeça de pâncreas). 11 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA • Como a vesícula distende lentamente, devido à compressão tumoral da via biliar que ocorre progressivamente, não há dor. • Se tem uma vesícula palpável e indolor o que constitui sinal positivo. • Vesícula palpável e dolorosa indica distensão aguda, provavelmente por obstrução súbita do ducto cístico por cálculo biliar, não sendo o sinal de Courvoisier-Terrier. • O mais comum nos casos de doença calculosa é que a vesícula não seja palpável, visto ocorrer traumatismo na mucosa com formação de tecido cicatricial que leva à retração da vesícula. Quando há doença calculosa, o atrito do cálculo na parede da vesícula leva a um processo inflamatório que culmina com o espessamento da parede e consequente retração da vesícula. Logo, mesmo com obstrução, a vesícula não distende Já quando há uma obstrução com impedimento de saída de bile, e a vesícula tem paredes íntegras, esta distende-se. ACHADOS DURANTE A PALPAÇÃO: Diástase do reto abdominal: • Ao pedir ao paciente que contraia a parede abdominal e realizar a palpação, para se tentar diferenciar massa intra- abdominal de uma parede, pode-se achar uma separação dos músculos reto abdominais. • Gestações e obesidade favorecem isso. • Além do fator estético, não há consequências. Hérnias: A manobra de Valsalva pode evidenciar hérnias umbilicais, incisionais ou epigástricas. Deve-se tentar palpar o anel herniário e se certificar o tipo de hérnia – conduzirá a ações distintas: • Redutível: o examinador é capaz de palpar o anel e colocar o conteúdo herniário de volta à cavidade pela digitopressão. É a mais comum. • Encarcerada: abaulamento irredutível. Considerar a possibilidade de obstrução intestinal ou isquemia de alça na sua avaliação. Caso não tenha tais complicações, aplicar a manobra de Taxe (redução manual do conteúdo herniário) com posição de Trendelenburg. • Estrangulada: constata-se isquemia de conteúdo herniário, configurando emergência cirúrgica. 12 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA PALPAÇÃO DO FÍGADO: Técnicas: Método bimanual: • Põe-se a mão esquerda na região dorsal do paciente e se faz tração anterior, enquanto a mão direita é aprofundada na região anterior desde a fossa ilíaca até o rebordo costal durante a expiração, objetivando palpar a borda hepática na subida da mão direita durante a inspiração. • No ponto de encontro da borda hepática é delimitada a borda inferior, enquanto a superior é dada por percussão. Analisa-se: • a localização da borda inferior do fígado • a consistência • superfície – lisa ou nodulada • formato da borda – romba indica aumento hepático • sensibilidade álgica gerada pela distensão rápida da cápsula de Glisson (insuficiência cardíaca de instalação aguda) • delimitação de massas Figura 8.28 Modificações na borda hepática. Observa-se na figura um corte sagital do fígado, com possíveis alterações na borda hepática, romba quando há aumento hepático, ou cortante quando há diminuição deste. Características estas que podem ser sentidas na palpação. Método em garra: Palpa-se o fígado com as mãos apoiadas no rebordo costal, com os dedos tentando entrar por debaixo do rebordo costal. Obs: a hepatomegalia congestiva se torna dolorosa à palpação e acompanha-se do reflexo hepatojugular, classicamente nos casos de insuficiência cardíaca. Tipos de hepatomegalia: Lobo de Riedel: é uma alteração normal da forma, com o lobo direito alongado. Deve ser diferenciado de um possível crescimento neoplásico. PALPAÇÃO DO BAÇO: Pode ser palpado na criança. Raramente é palpado no adulto normal. Palpação esplênica: • Com a mão esquerda, traciona-se o rebordo costal e as partes moles anteriormente, enquanto a mão direita aprofunda-se desde a cicatriz umbilical em direção ao baço, durante a expiração indo em direção ao órgão durante a inspiração. • Inicia-se com a mão direita em torno da cicatriz umbilical para se pegar um baço que tenha aumentado bastante. 13 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA A Mão esquerda deve realizara tração anterior do rebordo costal esquerdo objetivando anteriorizar o baço. Já a mão direita é aprofundada no abdome na expiração e move-se tentando palpar o pólo inferior do baço na inspiração. Manobra em garra: É necessário examinar o paciente pelo lado esquerdo, procedendo, assim, como foi explicado para o exame do fígado. Manobra de Schuster: • O paciente é colocado em semidecúbito lateral direito, com o braço sobre esquerdosobre a cabeça. • O membro inferior direito permanece em posição neutra, enquanto o esquerdo é fletido (flexão do joelho e do quadril). • Apoia-se a mão esquerda por sobre o rebordo costal e a direita é usada para palpar desde a cicatriz umbilical até abaixo do rebordo em encontro ao baço. Manobra de Shuster - posicionamento. (A) Paciente na posição de Shuster clássica. (B) Paciente na posição de Shuster-Rocco, em que o membro superior esquerdo fica estendido, o que é descrito como um facilitador, pois a pele da região não fica estirada o que poderia dificultar a palpação do baço. (A) Palpação de baço na manobra de Shuster. (B) Palpação em garra na posição de Shuster-Rocco. PALPAÇÃO DE MASSAS PULSÁTEIS: Pode indicar a presença de um aneurisma ou a presença de massa que encosta no vaso e passa a sensação de pulsação. Para diferenciar este quadro, deve-se avaliar a direção da distensibilidade da massa: • Se esta somente pulsar para cima indica massa encostada na aorta • Se tiver pulsação lateral é indicativo de ser um aneurisma. Basta pressionar lateralmente a massa e sentir se há pulsação lateral. Lembrar que, quando a massa é sentida subxifoideana e pulsar no sentido craniocaudal, pode corresponder a um crescimento do ventrículo direito. No caso da massa ter as características de um aneurisma (an - não, eu - verdadeiro, risma - reta = perda da reta verdadeira, ou seja, do paralelismo entre as paredes) na aorta abdominal deve-se realizar a manobra de Debakey, que consiste na delimitação superior do aneurisma por inserção da mão entre o rebordo costal e a margem superior do aneurisma. No caso de não se conseguir inserir a mão entre o rebordo e o aneurisma isso é indicativo de que o aneurisma tem uma porção de localização acima da emergência das artérias renais. No caso da inserção da mão entre o aneurisma e o rebordo costal conclui-se que o aneurisma é infrarrenal. PALPAÇÃO RENAL: Normalmente não são palpáveis. Podem ser em condições patológicas como a hidronefrose, rim policístico, tumores. Método de Guyon: 14 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA • Pct em decúbito dorsal. Poe-se a mão esquerda na região dorsal tracionando para frente enquanto a mão direita entra abaixo do rebordo costal durante a inspiração ao encontro da mão esquerda, tentando pegar o rim entre as duas mãos. • Para examinar rim esquerdo, deve-se passar para o lado esquerdo e realizar essa mesma monobra. • Pode-se confundir com o baço, caso esteja aumentado, contudo se for palpado e o espaço de Traube estiver livre provavelmente é o rim e não o baço. Manobra de Israel: • Paciente em decúbito lateral • MMSS por sobre a cabeça • Rim tentando ser palpado anteroposteriormente com as duas mãos em pinça. Método de Goelet: • Paciente em ortostase • Flet-se o joelho do lado que deseja-se palpar, apoiando-o sobre uma cadeira. • A seguir, faz-se uma tração anterior com uma das mãos enquanto a outra é usada na tentativa de palpar o pólo inferior do rim. Teste da hipersensibilidade renal: • pesquisado através da punho percussão (manobra de percussão de Murphy) ou da percussão com a borda ulnar na mão (manobra de Giordano), realizada na junção do rebordo costal com a musculatura paravertebral. • Neste ponto, põe-se uma mão espalmada e com a outra se percute em cima, em um movimento único, firme e sem chicotear (punho percussão) ou através da percussão direta da borda ulnar da mão aberta neste ângulo costovertebral. • É prudente proceder a digitopressão antes da percussão, pois, se houver dor, ela será percebida sem a necessidade de submeter o paciente a um exame doloroso. • Positivo caso haja relato de dor, o que indica pielonefrite, cálculo ureteral ou mesmo compressão de raiz nervosa por hérnia discal. Na suspeita de pielonefrite, a simples palpação da região costovertebral já gera dor, não havendo a necessidade da punho percussão, por ser muito dolorosa para o paciente. Na figura, observa-se a realização da punho percussão, em que uma das mãos é espalmada e a outra cerrada é batida sobre a primeira. Outra técnica é a batida da borda ulnar diretamente na região. 15 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA PONTOS RENOURETERAIS: São cinco renais e três ureterais. Ponto costovertebral (de Guyton): localiza-se na interseção do bordo externo da coluna vertebral com a costela que corresponde à saída pelo forame de conjugação do XII nervo intercostal (ou nervo subcostal). Ponto costomuscular: no ângulo formado pelo bordo inferior da última costela e o bordo externo dos músculos da massa lombar corresponde à emergência do ramo perfurante posterior do XII nervo intercostal. Ponto suprailíaco lateral (de Pasteau): A um centímetro acima da crista ilíaca sobre a linha medioaxilar; corresponde ao ramo perfurante lateral do XII nervo intercostal. Ponto supraintraespinhoso: na saída do nervo cutâneo lateral da coxa, através da aponeurose, em frente à espinha ilíaca anterossuperior. É pesquisado contornando-se a espinha ilíaca anterossuperior com a ponta do indicador, como se quisesse enganchar. Ponto inguinal: ao nível do orifício externo do conduto inguinal há evidência de hiperestesia dos ramos genitais dos nervos genitofemoral e ilioinguinal. Pontos ureterais: Ponto paraumbilical (ou ureteral superior): na interseção do plano umbilical com o bordo externo do reto anterior abdominal corresponde à origem do ureter — 1a constrição fisiológica. Ponto ureteral médio: no bordo externo do reto anterior, na altura da crista ilíaca, é o ponto em que o ureter cruza os vasos ilíacos antes de penetrar na pelve - 2a constrição fisiológica. Ponto ureteral inferior: coincide com a desembocadura do ureter na bexiga, sendo examinado pelo toque retal ou vaginal. TOQUE RETAL: Inicia-se com a inspeção – afasta as nádegas do paciente em sentidos divergentes de modo a expor a região anal. Alterações: • Prolapsos hemorroidários. • Prolapsos retais (infecção pelo Trichuris Trichiura) • Fístulas anais (doença de Crohn, neoplasias) • Fissuras anais (trauma, tuberculose, doença de Crohn) • Doenças sexualmente transmissíveis (Condiloma, sífilis) • Abscessos perianais (Diabetes Mellitus, HIV) Posteriormente, o examinador deve colocar luvas de procedimento (não estéreis), substância lubrificante no seu dedo indicador (lidocaína gel, por exemplo) e colocar o paciente em posição adequada que poderá ser: • Posição de Sims - Decúbito lateral esquerdo com membros inferiores fletidos sobre abdome • Posição genupeitoral Devemos ter em mente que o canal anal é maior no sentido anteroposterior do que laterolateral e, dessa forma, o dedo indicador deverá penetrar lateralmente e, em seguida, realizar rotação para maximizar a sensibilidade do exame e atentar para: • Nos homens - Posição da próstata (pode estar deslocada superiormente em traumas abdominais fechados com lesão de trato genitourinário). • Nos homens - Consistência e tamanho prostáticos (Neoplasia x Hiperplasia prostática benigna) • Sangramentos (sangue vivo a favor de hemorragia digestiva baixa, entretanto também pode evidenciá-lo) • Presença de fezes em ampola retal • Corpo estranho • Hemorroidas internas • Lesões tróficas (neoplasias, pólipos) Figura 8.41 (A) Avaliação do tônus do esfíncter anal. Procura do reflexo anal (pressiona-se o esfíncter e, em seguida, solta-se o dedo esperando o fechamento do ânus. (B) Introdução do dedo indicador no canal anal. (C) Rotação do dedo nos canais do homem e da mulher, avaliando-se as estruturas adjacentes ao reto. Por fim, podemos aferir a temperatura corporal através do reto como já descrito em sinais vitais e quando esta é superior à temperatura axilar em mais de 1°C suspeita-se de processos inflamatórios do 16 Laís Flauzino | SEMIOLOGIA | MEDICINA abdome (p. ex: apendicite) caracterizandoo sinal de Lenander. DESCRIÇÃO DE EXAME NORMAL: Exemplo 1: normal Abdome: atípico à inspeção, ruídos hidroaéreos presentes (ou borborigmo intestinal presente – há quem não goste de peristáltico, pois isso é o movimento e não o som auscultado), timpânico à percussão, Traube timpânico (ou livre), flácido à palpação, indolor à palpação superficial e profunda, sem massas ou visceromegalias, hepatimetria na linha hemiclavicular direita de 10 cm, fígado impalpável abaixo do rebordo costal (ou palpável há 2 cm do rebordo costal direito e 4 cm abaixo do apêndice xifoide), baço impalpável (informação que pode ser omitida, já que na maioria das vezes espera-se que seja impalpável). Exemplo 2: Abdome: abdome distendido, presença de cicatriz hipocrômica de incisão cirúrgica em flanco direito, medindo 6 cm, tatuagem em flanco esquerdo até a linha axilar média medindo 10cm no maior diâmetro, borborigmo aumentado, macicez em mesogástrio e flanco direito, restante hipertimpânico, Traube Livre, tenso à palpação, doloroso à palpação superficial e profunda, sem massa ou visceromegalias, fígado impalpável. Neste segundo exemplo, a análise do exame físico dá uma ideia de um quadro de obstrução intestinal, pelo abdome distendido, doloroso, hipertimpanismo e pela peristalse aumentada (podendo indicar luta intestinal contra alguma obstrução). Um fato que poderia passar sem importância é a cicatriz de cirurgia prévia, mas que nesse caso se mostra importantíssimo, visto que cirurgia prévia favorece a geração de pontos de aderência, sendo inclusive a brida a principal causa de obstrução intestinal. Pct com ascite (cirrose hepática): Abdome: globoso à inspeção, presença de circulação colateral tipo cabeça de medusa, telangiectasias, borborigmo intestinal presente, timpânico em mesogástrio, maciço à percussão em flancos e fossas ilíacas bilateralmente, macicez móvel de decúbito, Traube maciço, tenso à palpação superficial, pouco doloroso à palpação profunda em hipocôndrio direito, baço palpável a 6 cm do rebordo costal esquerdo, hepatimetria de 7 cm na LHCD (linha hemiclavicular direita), fígado com borda romba, superfície irregular. Referencias: http://www.rbcp.org.br/details/206/pt- BR/semiologia-da-parede-abdominal--seu-valor-no- planejamento-das-abdominoplastias Jaimovich CA, Mazzarone F, Parra JFN, Pitanguy I. Semiologia da Parede Abdominal: Seu Valor no Planejamento das Abdominoplastias. Rev. Bras. Cir. Plást.1999;14(3):21-50 https://youtu.be/B_xNXQyLNl4 Rocco semiologia médica http://www.rbcp.org.br/details/206/pt-BR/semiologia-da-parede-abdominal--seu-valor-no-planejamento-das-abdominoplastias http://www.rbcp.org.br/details/206/pt-BR/semiologia-da-parede-abdominal--seu-valor-no-planejamento-das-abdominoplastias http://www.rbcp.org.br/details/206/pt-BR/semiologia-da-parede-abdominal--seu-valor-no-planejamento-das-abdominoplastias https://youtu.be/B_xNXQyLNl4
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