Buscar

Brasil império

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO 
BRASIL IMPÉRIO
Nilton Silva Jardim Junior
O período regencial 
no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever os trâmites e a organização das Regências Trina Provisória 
e Permanente.
 � Relacionar os diferentes acontecimentos políticos em torno da Re-
gência Una de Padre Feijó.
 � Caracterizar a Regência de Araújo Lima e as disputas entre os diferentes 
grupos políticos no Brasil.
Introdução
Longe de colocar um ponto final nas desavenças anteriores, a indepen-
dência, na verdade, tornou-as, de certo modo, muito mais evidentes. 
Vários fatores contribuíram para isso, mas as principais razões foram as 
divergências entre Dom Pedro I e os parlamentares (provenientes das elites 
locais do país, em especial as rurais) sobre os destinos do país. Enquanto 
Dom Pedro desejava governar sem limites à sua autoridade, os deputados 
queriam que sua participação fosse bem reduzida, similarmente ao que 
já acontecia na Inglaterra. Esse embate acabou levando Dom Pedro a se 
recusar a assinar a Constituição de 1823 e a outorgar outra redigida por 
ele no ano seguinte. Isso praticamente o colocou em rota de colisão com 
as elites locais, fazendo eclodir várias revoltas no país.
A queda de popularidade crescente (principalmente após a perda da 
Província Cisplatina e da Noite das Garrafadas) e o golpe de Estado feito 
por seu irmão Dom Miguel em Portugal sinalizaram a Dom Pedro I que 
talvez não fosse o melhor momento para continuar no Brasil. Com isso, 
ele abdicou em favor de seu filho caçula, porém, como este tinha apenas 
cinco anos, o futuro imperador Dom Pedro II ficou sob a tutoria de José 
Bonifácio de Andrada, organizando-se uma regência para administrar o 
país até a sua maioridade. A partir de então, tem início um dos períodos 
mais conturbados da história do Brasil, com várias disputas entre as elites 
e revoltas. A partir de agora, você aprenderá um pouco mais sobre esse 
período em que o país quase se fraturou.
1 Trâmites e organização das Regências 
Trina Provisória e Permanente
Apesar de ter acontecido de forma abrupta, a organização das regências já era 
prevista na Constituição de 1824, sobretudo no capítulo V, além de eventuais 
menções ao se tratar das responsabilidades do Poder Legislativo e do Senado. 
Pela Constituição, o Senado não apenas ficaria responsável pela escolha da 
Regência Provisória, como também pela organização das eleições para esta-
belecer uma Regência Permanente, que governaria o país até a maioridade do 
imperador, que se daria aos 18 anos.
O capítulo V da Constituição de 1824 cobria diversas possibilidades e oferecia mais de 
uma alternativa para a sucessão, dependendo da situação. Acesse o site da Câmara 
dos Deputados e confira o texto desse documento na íntegra.
Assim, uma vez que o imperador abdicou e foi nomeado um tutor para o 
príncipe regente, a Regência Trina Provisória se organizou e começaram os 
trâmites para realizar a eleição de sua sucessora. Essa regência eleita pelos 
senadores era composta por: 
Francisco de Lima e Silva (um militar de atuação política consolidada), 
Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (advogado formado em Coimbra e ligado 
ao grupo paulista dos Andrada, que voltava a mandar na política nacional) 
e José Joaquim Carneiro de Campos (o marquês de Caravelas Coimbra, ajudou 
a redigir e assinou o texto da Constituição de 1824, assim como integrou o 
grupo conservador, tendo sucedido a José Bonifácio na pasta do Império e dos 
Negócios Estrangeiros) (SCHWARCZ; STARLING, 2005, p. 534).
O período regencial no Brasil2
Os procedimentos tiveram que ser tomados da forma mais rápida possível, 
pois o país estava prestes a se fraturar. Embora Fausto (2006) e Schwarcz e 
Starling (2005) apontem que havia certa unidade em torno do imperador, 
existiam várias disputas e ressentimentos entre as elites do país, além do fato 
de que a Bahia e Pernambuco não sinalizavam muito positivamente ao projeto 
de uma nação única. Não por acaso, Marcelo Basille se refere à regência como 
“[...] o laboratório da nação [...]” (GRINBERG; SALLES, 2009, p. 53). Em cerca 
de 8 meses, foi eleita uma Regência Trina Permanente (que de permanente só 
teve mesmo o nome, como veremos em breve), que marcou uma vitória dos 
liberais moderados (uma facção política interessada em estabelecer uma mo-
narquia constitucional e sem grandes reformas no tecido social) e foi composta 
por Bernardo Pereira de Vasconcelos (um magistrado mineiro formado pela 
Universidade de Coimbra), pelo Padre Diogo Antônio Feijó (natural de São 
Paulo e que veio a se tornar regente uno) e pelo jornalista Evaristo da Veiga, 
que, na época, editava o jornal carioca Aurora Fluminense, o mais importante 
periódico liberal da época. Analisando a composição dessa regência, ficava 
evidente não somente a vitória dos liberais maçons que se organizavam na 
Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional (FAUSTO, 2006), 
como também a predominância do Sudeste, região que ganhava cada vez mais 
força. Outro traço que ficou evidente residiu na questão da moderação dos 
regentes: todos políticos moderados e comprometidos com o projeto de manter 
o país unido (GRINBERG; SALLES, 2009; SCHWARCZ; STARLING, 2005).
Maior jornal de circulação da capital imperial e de linha liberal, o Aurora Fluminense 
(Figura 1) foi fundado por José Apolinário Pereira de Morais, pelo médico francês José 
Francisco Xavier Sigaud e pelo professor Francisco Crispiniano Valdetaro. A partir da 
entrada de Evaristo da Veiga (que ficou como editor até 1835), o jornal ganhou uma 
linha liberal moderada.
3O período regencial no Brasil
Figura 1. Jornal Aurora Fluminense.
Fonte: MultiRio (2020, documento on-line).
Porém, pelo menos mais outros dois grupos disputavam a liderança do 
processo político no país: os liberais exaltados, que defendiam a autono-
mia das províncias, e os portugueses, defensores do absolutismo (também 
conhecidos como restauradores). Como Mattos (2004) aponta, a atmosfera 
era essencialmente política, com a promoção de várias discussões. Ainda, 
a aprovação do Código Criminal de 1832 e o Ato Adicional de 1834 contri-
buíram para o incremento desses debates. Segundo Fausto (2006, p. 161), as 
reformas tentadas pelos regentes:
[...] são um bom exemplo das dificuldades em se adotar uma prática liberal 
que fugisse aos males do absolutismo. [...] muitas destinadas a dar alguma 
flexibilidade ao sistema político e a garantir as liberdades individuais acabaram 
resultando em violentos choques entre as elites [...]. 
O período regencial no Brasil4
Resultado de reformas importantes da Regência Trina Provisória, o Código Criminal de 
1832 tinha como objetivo criar alguma forma de organização militar (a Guarda Nacional) 
que substituísse o Exército (malvisto na época) e suprimir ou diminuir atribuições de 
órgão da Monarquia. Para mais informações, leia Um debate em aberto: centralizadores 
e federalistas na construção do Estado-nação no Brasil, de Ferreira (2009).
Alguns dos exemplos sobre essa tentativa de descentralizar o poder foram 
tanto a criação da Guarda Nacional quanto o aumento de poder das Assembleias 
Provinciais, seja pelo direito de contratar e demitir funcionários públicos, seja 
pelo ganho da competência de fixar as despesas municipais e provinciais e para 
lançar os depósitos que julgassem necessários ao atendimento das despesas, 
desde que não prejudicasse as rendas a serem arrecadadas pelo governo central. 
Na prática, essas reformas acabaram reforçando o poder local em detrimento 
do governo central.
Outro fato digno de nota refere-se à criação da Guarda Nacional, a qual, 
inspirada em uma antiga lei francesa, teve um impacto justamente contrário 
do seu objetivo (FAUSTO, 2006; GRINBERG; SALLES, 2009; SCHWARCZ; 
STARLING, 2005). A intenção original consistia em criar “milícias cidadãs” 
para desidratar o poder exército, que era malvisto pela grande presença de 
portugueses à época. Naprática, a Guarda se tornou um instrumento de re-
pressão nas mãos de grandes fazendeiros e políticos para controlar revoltas, 
eliminar seus desafetos e defender seus interesses.
O período da Regência Trina Permanente acabou em 1834, com a publi-
cação de um Ato Adicional que empossou o Padre Feijó como único regente. 
Durante os 2 anos entre a posse da Regência Trina e a publicação do Ato que 
concentrou os poderes na figura do Padre Feijó, explodiram revoltas no Pará, 
em Pernambuco e no Maranhão.
Diogo Antônio Feijó
Padre, político e professor de história, geografia e francês, Diogo Antônio 
Feijó (1784–1843) (Figura 2) foi um dos fundadores do Partido Liberal, regente 
do país durante a Regina Trina Permanente (1832–1834) e a Regência Una 
Permanente (1835–1837). Natural da cidade de São Paulo, ele começou sua 
5O período regencial no Brasil
vida política antes da independência, tendo sido eleito deputado para participar 
das Cortes Gerais das Nações Portuguesas (1821) para votar a Constituição, 
embora houvesse se recusado a participar da votação quando não deixaram 
sequer expor o programa que a representação do Brasil trouxera e ao ver que 
os interesses de Portugal prevaleceriam.
Figura 2. Padre Diogo Antônio Feijó.
Fonte: Wikipédia (2020, documento on-line).
Foi deputado na assembleia constituinte de 1823, senador do Rio de Janeiro, 
ministro da Justiça e ministro dos Negócios, além de rival político de José 
Bonifácio de Andrada (amigo do imperador Dom Pedro I, tutor do príncipe 
regente e futuro imperador Dom Pedro II, além de patriarca da independência), 
pelo fato de que, apesar de seu temperamento autoritário, Feijó era mais fiel 
aos princípios liberais que à coroa, justamente o oposto de Andrada. 
O período regencial no Brasil6
Para mais informações, leia Um projeto de educação comum no Brasil do século 19, 
de Arriada e Tambara (2014).
Criada um pouco depois da abdicação de Dom Pedro I, a Guarda Nacional foi uma 
força militar concebida para substituir as milícias e ordenanças que existiam antes da 
independência e para esvaziar o Exército. Como o exército era composto por homens 
pobres (em sua maioria negros e mulatos) sem qualificação e com os postos mais altos 
formados por estrangeiros leais a Dom Pedro, havia a desconfiança de que o exército 
se mobilizasse por uma volta do imperador. Para saber mais sobre a criação da Guarda 
Nacional, leia o texto da Lei de 18 de agosto de 1831.
2 Diferentes acontecimentos políticos 
em torno da Regência Una de Padre Feijó
A regência de Diogo Feijó teve início após o Ato Adicional de 1834, que 
pretendia ser uma atualização à Constituição de 1824 e tentar conciliar as 
diversas forças que disputavam a política no país na época. Como uma ten-
tativa de responder às diversas revoltas que ocorriam no período, os regentes 
publicaram esse ato, que fortalecia a descentralização, impedia o exercício 
do Poder Moderador durante a regência, reduzia a quantidade de três para 
um regente eleito pelas regras vigentes, criava assembleias provinciais, dis-
solvia o Conselho de Estado e criava o município neutro do Rio de Janeiro, 
desvinculando-o da administração da província. 
Na prática, o ato se mostrou contraditório, porque, ao mesmo tempo, parecia 
tentar centralizar os poderes nas mãos de um único regente e dava grande 
autonomia às províncias, e ineficaz, visto que objetivava acabar com as revoltas 
no país, o que, de fato, não aconteceu, mesmo após sua publicação. O principal 
efeito do ato foi deixar evidente a divisão do país, demonstrada sobretudo na 
eleição de Diogo Feijó, que derrotou seu principal rival por uma diferença de 
7O período regencial no Brasil
apenas 775 votos. Mesmo com o reduzido colégio eleitoral da época (cerca de 
6 mil eleitores), tratava-se de uma vitória inegavelmente pequena, deixando 
clara a disputa acirrada entre liberais e conservadores.
Feijó precisou lidar com diversas revoltas até sua renúncia em 1837. 
Um ponto comum entre Basile (apud GRINBERG; SALLES, 2009) e Schwarcz 
e Starling (2005) é de que o ato acabou fortalecendo os revoltosos, ao dar maior 
autonomia às províncias. Com a criação das Assembleias Provinciais e uma 
nova regra na distribuição dos impostos, as províncias passaram a ter maior 
autonomia política e financeira. De acordo com os autores, bem como com 
Fausto (2006), o efeito prático dessas reformas deu maior força aos grupos 
revoltosos. Não por acaso, ocorreram:
 � Revolta Farroupilha (1835–1845);
 � Revolta da Cabanagem (1835–1840);
 � Revolta dos Malês (1835).
Embora as revoltas sejam explicadas em um capítulo à parte, segue aqui 
um pequeno resumo para dar uma maior clareza à gravidade da situação, 
como evidenciado por sua própria distribuição: uma no Rio Grande do Sul, 
outra no Pará e outra na Bahia, respectivamente. A Cabanagem tinha seme-
lhanças com a Revolta dos Malês, pois reunia segmentos populares, porém, 
ao contrário da Farroupilha, da própria Revolta dos Malês e de outras do 
período, que denunciavam a ausência de um projeto do país, era basicamente 
um ataque aos estrangeiros e maçons, defendendo a religião católica e os 
brasileiros. Já a Farroupilha e a dos Malês se assemelhavam por seu cunho 
republicano, embora apresentassem profundas diferenças, que extrapolavam 
sua localização geográfica: enquanto uma representava as elites gaúchas, 
a outra era liderada por escravos muçulmanos que queriam estabelecer uma 
república muçulmana na Bahia. Analisando genericamente as três revoltas, 
podemos ver que a insatisfação com os rumos do país atravessava diversas 
regiões e segmentos sociais.
Para além das revoltas, o clima no Parlamento não era nada bom. Aqui, vale 
ressaltar que pelo menos três grupos disputavam o controle do país — os libe-
rais moderados (também conhecidos como moderados ou “chimangos”), que, 
desde a eleição de 1832, estavam nas rédeas e continuavam na figura de Feijó, 
os liberais exaltados e os regressistas (também chamados de “caramurus”). 
Essas disputas entre diversos projetos de nação somente se intensificaram 
durante a Regência de Feijó. O Ato Adicional de 1832 desagradou os cara-
murus, que defendiam uma maior centralidade política, e até mesmo entre os 
O período regencial no Brasil8
moderados houve uma divisão, a qual, segundo Basile (apud GRINBERG; 
SALLES, 2009), acabou criando um bloco unido de moderados insatisfeitos 
com os caramurus contra as reformas.
Pouco a pouco, Feijó foi perdendo apoio, somado à insatisfação com as 
reformas, à sua dificuldade em conter as revoltas e até mesmo ao seu tempe-
ramento. Pouco menos de 1 ano após a publicação do Ato Adicional, políticos 
restauradores já se mobilizaram para votar uma lei de interpretação do ato 
para reduzir o impacto de suas reformas, mas que só foi levada adiante na 
legislatura posterior. Mudanças constantes de ministérios com movimentos 
entre as pastas, criação de novos gabinetes e até mesmo problemas com a 
Igreja Católica (SCHWARCZ; STARLING, 2005) contribuíram para que a 
situação do regente se agravasse.
Ao longo do seu mandato, Feijó se viu espremido entre elites locais que 
queriam autonomia, grupos políticos rivais desejosos de maior centralização 
e, no caso da Cabanagem, revoltas populares. As crescentes perda de apoio 
e instabilidade política o obrigaram a renunciar em 19 de setembro de 1837. 
Como substituto, foi nomeado Pedro Araújo de Lima (seu adversário político 
e membro do Partido Conservador, ex-regressistas/caramurus), porém essa 
mudança não se reverteu em estabilidade política. O mandato de Araújo 
Lima também foi permeado de disputas políticas e revoltas pelo país, como 
veremos a seguir.
Para entender melhor sobre as divergências sobre o Ato Adicional de 1834, leia A elite 
imperial do porto das caixas: Saquaremas no poder, de Cristo (2010).
3 Regência de Araújo Lima e disputas entre 
os diferentes grupos políticos no Brasil
Com a morte de Dom Pedro I em 1834, o Partido Regressista, que defendia o 
regresso de Dom PedroI, perdeu sua razão de ser. Porém, o grupo político se 
reorganizou em torno do objetivo de manter a escravidão no país e a centrali-
zação política com o novo nome de Partido Conservador (também conhecido 
como “saquaremas”) após a renúncia de Diogo Antônio Feijó. Uma importante 
9O período regencial no Brasil
vitória consistia na nomeação de Pedro de Araújo Lima pelo próprio Diogo 
Feijó, quando de sua renúncia. 
Membro da aristocracia rural pernambucana, Pedro de Araújo Lima 
(1793–1870) era um retrato dos seus pares do Partido Conservador. Natural 
de Sirinhaém, Araújo Lima estudou humanidades em Olinda e direito em 
Coimbra, Portugal. Conforme Carvalho (2008), a Universidade de Coimbra 
era um importante ponto de encontro das elites do país, já que quase todos os 
membros dessa posição econômica até 1850 a tinham cursado. E, com Araújo 
Lima, isso não foi diferente. De família açucareira, tinha grande trânsito entre 
as grandes famílias desse ramo, exercendo também a função de jornalista e 
tendo começado sua carreira como jurista. Assim como Feijó, participou das 
Cortes Gerais da Nação Portuguesa, da Assembleia Constituinte de 1823 e 
era Ministro dos Negócios Internos do Estado quando da renúncia de Feijó. 
Nomeado interinamente por Diogo Feijó quando renunciou, ele se candidatou 
às eleições de abril de 1838, tendo sido eleito e assumido definitivamente.
Durante esse período, ainda estavam ocorrendo a Revolta Farroupilha 
(que começou ainda no mandato de Feijó e só acabou em 1845, após 10 anos 
de conflitos) e a Revolta da Cabanagem (também iniciada em 1835 e que 
apenas terminou em 1840). Para além delas, o jogo político no Parlamento se 
intensificava, no qual os membros do Partido Liberal se organizavam para 
fazer oposição ao projeto dos saquaremas.
Essa oposição ficaria mais acirrada após 12 de maio de 1840, quando o 
regente reformou o Código do Processo Criminal, por meio de uma lei inter-
pretativa que buscava revogar a maior autonomia dadas às províncias desde 
1834 (FAUSTO, 2006), o que se deu com o restabelecimento do Conselho de 
Estado e o retorno da maioria das funções administrativas e judiciárias ao 
governo central. Além disso, os juízes de paz tiveram seus poderes reduzidos 
e a polícia passou a não apenas precisar investigar pessoas, mas também 
processar e aplicar penas.
Para entender melhor sobre a Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834, leia Lei 
de Interpretação do Ato Adicional de 1834, de Cabral (2014), no site do Mapa — Memória 
da Administração Pública Brasileira. 
O período regencial no Brasil10
A política de “regresso” de Araújo Lima levou à mobilização do Partido 
Liberal em torno da figura do imperador. A saída dos liberais moderados e 
exaltados para barrar a política dos saquaremas foi começar uma campanha 
pela antecipação da maioridade do imperador, então com 14 anos de idade. 
Como apontam Schwarcz e Starling (2005), a ideia não era exatamente nova 
e, desde 1835, já se cogitava essa hipótese por conta das revoltas e disputas 
políticas que ocorriam na regência, que representaram um ponto de partida. 
O acirramento das rivalidades no Parlamento e o prolongamento da Farroupilha 
também serviam como uma ótima justificativa, para além dos interesses de 
brecar a política regressista e tirar os saquaremas do poder. Então, em 15 de 
abril de 1840, a Sociedade Promotora da Maioridade, também conhecida como 
Clube da Maioridade (ANGELO, 2015) e fundada na casa de José Martiniano 
de Alencar (pai do escritor José de Alencar), começou uma campanha sobre 
a possibilidade de antecipar a maioridade do imperador. Um fato digno de 
nota reside no fato de que esse recurso já estava previsto na Constituição da 
época, porém a maioridade só seria autorizada em 1843. 
À medida que os debates ganharam vulto e acabaram chegando aos ouvidos 
do imperador, o regente Araújo Lima em pessoa foi ao Paço perguntar ao 
jovem Pedro II sobre a ideia. Há duas versões para a resposta a esse encontro: 
uma diz que o imperador teria respondido ao regente que não tinha pensado 
a respeito (algo bem condizente com um jovem de 14 anos), porém a versão 
oficial afirma que o imperador teria dito: “Quero já!”. 
Então, em 23 de julho de 1840, a Câmara declarou Dom Pedro II o segundo 
imperador do país, terminando um dos períodos mais conturbados da história 
brasileira, embora a confusão não fosse acabar de imediato. A década de 1840 
ainda foi conturbada, e o imperador ainda levaria algum tempo até conseguir 
alcançar alguma coesão social e base de apoio. Porém, uma vez obtidos, deu-se 
início a um longo e pacífico reinado que, apenas nos fins dos anos 1880, teria 
alguma agitação, o que já é assunto para outro capítulo.
ANGELO, L. B. Projetos e perspectivas na construção da nação brasileira (1822-1840). 
SÆculum: Revista de História, João Pessoa, n. 33, p. 31–47, 2015. Disponível em: https://pe-
riodicos.ufpb.br/index.php/srh/article/viewFile/27713/14895. Acesso em: 11 ago. 2020.
CARVALHO, J. M. A construção da ordem: teatro das sombras. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2008.
11O período regencial no Brasil
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: USP, 2006.
GRINBERG, K.; SALLES, R. (org.). O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
2009. (v. II: 1831-1870).
MATTOS, I. R. O tempo saquarema: a formação do Estado imperial, São Paulo: Hucitec, 
2004. 
MULTIRIO. Oposição e apoio ao governo de D. Pedro I. 2020. Disponível em: http://mul-
tirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/brasil-monarquico/90-primeiro-
-reinado/8924-oposi%C3%A7%C3%A3o-e-apoio-ao-governo-de-d-pedro-i. Acesso 
em: 11 ago. 2020.
SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2005.
WIKIPÉDIA. Diogo Antônio Feijó. [2020]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Diogo_Ant%C3%B4nio_Feij%C3%B3#/media/Ficheiro:Diogo_Ant%C3%B4nio_
Feij%C3%B3.jpg. Acesso em: 11 ago. 2020.
Leituras recomendadas
ARRIADA, E.; TAMBARA, E. A. C. Um projeto de educação comum no Brasil do século 
19 - A common educational project in Brazil in the 19th century. Revista História da 
Educação, Porto Alegre, v. 18, n. 44, p. 203–220, 2014. Disponível em: https://seer.ufrgs.
br/asphe/article/view/46914. Acesso em: 11 ago. 2020.
CABRAL, D. Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834. 2014. Disponível em: http://
mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/278-lei-de-interpretacao-do-ato-
-adicional-de-1834. Acesso em: 11 ago. 2020.
CRISTO, M. C. S. A elite imperial do Porto das Caixas: saquaremas no poder. Revista 
Cantareira, [s. l.], ed. 28, p. 65–75, 2010. Disponível em: encurtador.com.br/gsyGX. Acesso 
em: 11 ago. 2020.
FERREIRA, G. N. Um debate em aberto: centralizadores e federalistas na construção 
do Estado-nação no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 24, n. 71, 
p. 176–179, 2009.
SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: LeYa, 2017.
O período regencial no Brasil12

Continue navegando