Prévia do material em texto
GUIA RÁPIDO: MATERIAIS PARA ENXERTIA ÓSSEA Utilização de Nanosynt em levantamento de seio maxilar Utilização do Nanosynt em preenchimento de GAP Utiização do Nanosynt em preenchimento do alvéolo Enxerto ósseo em espessura Autoras: Prof. Dr. Carolina Schäffer Morsch e Prof. Dr. Caroline Freitas Rafael INTRODUÇÃO Por ser o processo alveolar dento-dependente, ao ocorrer a perda dentária por extração, ocorre o rompimento da vascularização do ligamento periodontal e a consequente perda do osso fasciculado. Tal remodelação dos tecidos e alterações dimensionais podem ser contornadas com a utilização de enxertos ósseos imediatos à extração ou até mesmo com a instalação de implantes, quando possível. Importante atenção deve ser dada ao momento da extração, a mesma deve ser minimamente traumática, sem descolamento do retalho, e quando possível realizar a instalação de implante imediato, é recomendável o preenchimento do gap com enxerto ósseo. Para a realização do implante imediato à exodontia é necessário que haja osso remanescente para o travamento, na região apical e também na maioria das paredes. Não sendo possível, ou se optando pela não instalação do implante imediato, o uso de biomateriais aparecem como uma excelente alternativa para o preenchimento do alvéolo. Também nos deparamos frequentemente na prática odontológica com pacientes que já realizaram a exodontia e a reabsorção óssea já ocorreu, limitando ou até impossibilitando momentaneamente a reabilitação com implantes, pois é necessário uma quantidade óssea mínima para um correto posicionamento tridimensional do implante. Quando a quantidade de osso remanescente não possibilitar a instalação do implante um enxerto em espessura e/ou altura pode ser necessário. O enxerto ósseo pode ser realizado através da utilização do osso autógeno ou de biomateriais que exercerão o papel de substitutos ósseos e devem possuir características que possibilitem a formação de novo tecido ósseo saudável. Este material deve ser biocompatível, ou seja, não deve afetar os tecidos adjacentes, o processo de cicatrização, assim como a saúde do paciente. Deve possuir morfologia, porosidade e interconectividade similar ao osso trabecular e que permita a adesão e difusão de células ósseas e nutrientes, vascularização e formação óssea por toda a sua estrutura. Além disso, para que um biomaterial seja bem aceito clinicamente, é necessário que ele ofereça bons resultados, em tempo reduzido e que seja de custo acessível. Outro ponto importante a ser observado é o grau de morbidade da técnica cirúrgica utilizada para a realização do enxerto. Descreveremos abaixo os tipos de enxertos ósseos que podem ser utilizados tanto no momento da exodontia, quanto no momento da instalação do implante e também com o objetivo de aumento de espessura e/ou altura em rebordos reabsorvidos. Com o objetivo de facilitar a didática, descreveremos estes biomateriais seguindo uma ordem de evolução baseado na nossa experiência clínica. AUTÓGENO: O primeiro enxerto que utilizamos, compreende o osso removido do próprio paciente. É considerado como padrão ouro dos materiais para regeneração óssea pois é biocompatível, seguro, possui células formadoras de osso, fatores de crescimento e biomoléculas formando osso por osteogênese. No entanto, este tipo de enxerto requer uma segunda área cirúrgica, aumentando a morbidade, dor e desconforto para o paciente, além da quantidade ser limitada, principalmente quando removida de fontes intra-orais. Tais limitações levaram a busca de opções menos mórbidas e consequentemente melhores aceitas pelo paciente. Outra limitação importante do enxerto autógeno que está descrita na literatura é relacionada ao seu grau de reabsorção. Por apresentar uma alta taxa de reabsorção, o osso autógeno não é considerado o melhor tipo de enxerto para regiões em que almejamos a manutenção óssea, como por exemplo no preenchimento do GAP em implantes imediatos. Uma opção viável para controlar a reabsorção seria combinar o osso autógeno com biomateriais que apresentem baixa taxa de reabsorção. Sendo assim e buscando um biomaterial que contornasse essas limitações, começou-se a utilizar os enxertos alógenos. Doador é o próprio indivíduo ALÓGENO: Osso de indivíduo da mesma espécie, adquiridos em bancos de osso, processado para que não haja transmissão de infecções virais e bacterianas para o paciente. Pode ser produzido em blocos ou partículado. Os blocos podem ser preparados no formato do leito receptor em um protótipo, diminuindo o tempo cirúrgico, a morbidade, melhorando o pós-operatório do paciente. Sua disponibilidade também é outra vantagem. Como limitações deste tipo de material a literatura ressalta a ausência de células viáveis, como resultado do processamento e, sendo assim, a formação óssea se dá por osteocondução e osteoindução. Além disso, o osso alógeno apresenta taxa de reabsorção alta, assim como a possibilidade de exposição e contaminação do enxerto. A frequente exposição e contaminação deste tipo de enxerto relatada na literatura foi o que levou muitos cirurgiões, assim como nós, a buscarem outro tipo de substituto ósseo. Doador da mesma espécie, mas geneticamente distinto Osso oriundo de outra espécie processado resultando em uma matriz óssea bovina desproteinizada com arquitetura e estrutura geométrica muito semelhante à do osso autógeno, porém assim como o osso alógeno, sem células viáveis. Assim como o osso alógeno existe um risco de transmissão de doenças e/ou resposta imune do hospedeiro, que é minimizado durante o processamento. O fator que levou aos autores deste capitulo e a muitos cirurgiões a buscarem uma outra alternativa de enxerto está relacionado a taxa de reabsorção deste biomaterial, que é lenta, o que por um lado mantém o volume ósseo, porém as partículas não sendo reabsorvidas não dão espaço para a formação de novo osso autógeno no seu lugar. Em muitos casos de enxerto, se não na maioria, o que se busca é a formação e manutenção de um osso o mais próximo possível ao osso do próprio paciente. Sendo assim, uma reabsorção lenta e controlada muitas vezes é desejada, para que haja uma formação de novo osso no local e o implante fique em contato com esse osso. Um biomaterial que pode oferecer essa taxa de reabsorção mais elevada, porém ao mesmo tempo apresentar estabilização maior do que os enxertos autógenos, é o material sintético. Doador de espécies diferentes XENÓGENO: Os biomateriais sintéticos são constituídos por cerâmicas bioativas como biovidro, fosfato de cálcio, sulfato de cálcio e suas combinações. Os materiais sintéticos são 100% seguros, biocompatíveis e possuem uma estrutura e composição inorgânica similar aos minerais do osso humano. As biocerâmicas são osteocondutivas e osteoindutivas, favorecendo a deposição de matriz inorgânica, diferenciação celular e formação óssea. A taxa de reabsorção deste biomaterial depende da sua composição. Hidroxiapatita (HA) e ß-fosfato tricálcico (ß-TCP) e suas associações são umas das mais utilizadas e descritas na literatura como substitutos ósseos sintéticos. A associação destas cerâmicas é muito interessante biologicamente falando, pois a HA possui baixos níveis de degradação, enquanto o ß-TCP rápidos níveis. Esta composição faz com que as partículas de HA mantenham o volume ósseo ao longo do tempo dando estabilidade para os tecidos e as de ß-TCP sejam mais rapidamente reabsorvidas, dando espaço para a formação de novo osso autógeno. Os biomateriais sintéticos se apresentam predominantemente em forma particulada. Proveniente de rotas laboratoriais industriais SINTÉTICO: O material utilizado nos casos clínicos que serão descritos é um biomaterial sintético de substituição óssea, à base de fosfato de cálcio bifásico, composto por 60% HA e 40% ß-TCP, o Nanosynt (FGM, Brasil). Sua alta porosidade (80-90%) favorecea vascularização, migração de osteoblastos e a deposição óssea. Além de apresentar dois tamanhos de grânulos (200-500 ou 500-1000Mm), o Nanosynt é um biomaterial osteocondutor, com excelente hidratação, 100% seguro, de fácil manipulação, requerendo apenas 5 a 8 gotas de soro para a manipulação, prático e econômico, por se apresentar em embalagens de 0,25g. Este biomaterial pode ser empregado em diversas situações clínicas com previsibilidade e segurança, tendo as seguintes indicações: preenchimento de alvéolos após exodontia onde não será possível realizar implante imediato, preenchimento de gaps após a instalação do implante, e em regenerações ósseas tanto em espessura, através de técnicas como por exemplo a técnica da tenda, assim como em altura, como por exemplo em levantamentos do seio maxilar. Este biomaterial pode ser utilizado manipulado com o soro ou associado a técnica de plasma rico em plaquetas e fibrina (L-PRF), reduzindo ainda mais o tempo de reabertura e aumentando a economia, visto que essa técnica aumenta o volume do enxerto e ainda facilita a manipulação. Por ser um biomaterial diverso, que resolve muitas demandas de um consultório, os materiais sintéticos ganharam grande visibilidade. No nosso caso, a maioria das nossas situações clínicas são resolvidas com o Nanosynt e mostraremos abaixo casos clínicos em que utilizamos este biomaterial na nossa prática clínica. O primeiro caso foi realizado no curso de especialização em implantodontia na Unique Cursos pelas alunas Raissa Borges Curtarelli e Joseane Silva no qual não havia altura óssea suficiente para instalação de implante na região do elemento 15, como pode ser visualizado na tomografia computadorizada cone bean inicial na figura 1. Para que a reabilitação fosse possível um enxerto ósseo em altura, levantando o seio maxilar, foi realizado (figura 2). Partículas de Nanosynt e membranas de L-PRF foram aglutinadas com i-PRF formando um Sticky bone (figura 3, 4, 5 e 6). Esta técnica tem sido muito utilizada por nós, pois caso haja alguma perfuração da membrana Schneideriana, que não tenha sido percebida durante o procedimento cirúrgico, não haverá a possibilidade de deslocamento de partículas de enxerto para o interior do seio maxilar. Além desta vantagem, ao utilizarmos esta técnica UTILIZAÇÃO DE NANOSYNT EM LEVANTAMENTO DE SEIO MAXILAR o volume de biomaterial necessário é menor, assim como o tempo para a neoformação óssea e a instalação do implante também é reduzido. Após 4 meses da realização do enxerto ósseo nova tomografia computadorizada foi realizada (figura 7) e a quantidade de osso formado permitiu a instalação de um implante Arcsys de 3,3 x 9 (figura 8) e a sua reabilitação devolvendo saúde, função e estética (figura 9). Figura 1. Tomografia inicial Figura 2. Acesso ao seio maxilar pela técnica Caldwell-Luc Figura 3. Sticky bone: membranas de L-PRF e partículas de Nanosynt aglutinadas com i-PRF Figura 4. Preenchimento com sticky bone Figura 5. Recobrimento com membranas de L-PRF Figura 6. Região suturada Figura 7. Tomografia após 4 meses da realização do enxerto ósseo Figura 8. Vista oclusal inicial e após descolamento do retalho. Perfuração com a broca 2,4 para instalação de implante 3,3 x 9. Vista oclusal do implante instalado. Figura 9. Aspecto clínico do caso finalizado O caso clínico a seguir foi realizado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Paciente do sexo feminino, 14 anos, fraturou o elemento 11 por trauma durante jogo de futebol. Devido a fase de crescimento, optou-se por realizar apenas exdontia e enxerto ósseo. A figura 10 mostra a fratura, subgengival a um nível que impossibilitaria a manutenção do elemento dental. UTIIZAÇÃO DO NANOSYNT EM PREENCHIMENTO DO ALVÉOLO Foi realizada uma exodontia minimamente traumática e sem retalho, como mostra a figura 11. Figura 11 Figura 10 Na figura 12 é possível observar a extensa perda óssea da parede vestibular, que foi um dos motivos que levou a escolha pela utilização de um biomaterial. O alvéolo foi preenchido com 0,27cc de Nanosynt de granulação fina. Figura 12 Figura 13 O caso clínico a seguir foi realizado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Paciente do sexo feminino, 17 anos, fraturou o elemento 11 por trauma durante jogo de futebol. Por já não estar mais em fase de crescimento, optou-se pela realização do implante imediato. A figura 14 mostra a situação inicial, em que a paciente estava com um aparelho fixo como contenção e embora tivesse sido tentada a possibilidade de manutenção do elemento dental, a tomografia (figura 15) mostrou que devido a localização da fratura era necessário extrair o elemento dental. UTILIZAÇÃO DO NANOSYNT EM PREENCHIMENTO DE GAP Figura 14 Após exodontia minimamente traumática, um implante Arcsys de 3.3X11 foi instalado e um torque de 50N obtido (figura 16). Optou-se então pela realização de carga imediata provisória e um munhão de 3x4x2.5 foi instalado. Após a instalação, o GAP foi preenchido com Nanosynt de granulação fina, como mostra a figura 17. Figura 15 Figura 16 Após 10 dias é possível observar boa cicatrização da região, na figura 18. A figura 19 mostra a imagem do acompanhamento após 1 ano da realização da exodontia, instalação do implante e preenchimento com biomaterial. Figura 17 Figura 18 Figura 19 O quarto caso clínico mostra uma indicação do Nanosynt que reduz a morbidade causada em enxertos ósseos em bloco. Em regiões de pouca espessura, tanto em maxila quanto em mandíbula, ele pode ser utilizado para a regeneração e é importante associar a uma técnica de estabilização do tecido mole para evitar que ele invagine na região do enxerto. No caso clínico a seguir foi utilizado o enxerto Nanosynt associado à parafusos de enxerto (técnica da tenda), com o objetivo de servir como uma barreira para que o tecido mole não invaginasse na região do enxerto. A paciente compareceu a clínica privada com a necessidade de instalação de implante na região do elemento 22 e na tomografia foi possível observar a espessura óssea insuficiente para instalação de implante, mesmo de menor diâmetro (figura 20). ENXERTO ÓSSEO EM ESPESSURA Figura 20 A figura 21 mostra uma vista oclusal, onde é possível observar a presença de tecido queratinizado, que favorece a técnica de enxerto devido a facilidade de recobrimento do mesmo. Na figura 22 é possível observar o enxerto com Nanosynt e os parafusos de enxerto e o fio de sutura utilizado para a técnica de LASSO para estabilização da membrana. Figura 21 Figura 22 A imagem 23 mostra a tomografia pré e pós enxertia, mostrando a formação óssea que tornou possível a instalação de implante Arcsys 3.3x11, 5 meses após a realização do enxerto. Figura 23 REFERÊNCIAS Sanz M., Dahlin C., Apatzidou D., Artzi Z., Bozic D., Calciolari E., Bruyn H., Dommisch H., Donos N., Eickholz P., Ellingsen J.E., Haugen H.J., Herrera D., Lambert F., Layrolle P., Montero E., Mustafa K., Omar O., Schliephake H. (2019). Biomaterials and regenerative technologies used in bone regeneration in the craniomaxillofacial region: Consensus report of group 2 of the 15th European Workshop on Periodontology on Bone Regeneration. Journal of Clinical Periodontology, 46(Suppl. 21): 82–91. Henkel J., Woodruff M.A., Epari D.R, Steck R., Glatt V., Dickinson I.C., Choong P.F.M, Schuetz M.A., Hutmacher D.W. (2013). Bone Regeneration Based on Tissue Engineering Conceptions – A 21st Century Perspective. Bone Research, 3: 216-248. Prof. Dr. Carolina Schäffer Morsch • Doutorado em Implantodontia UFSC • Doutorado Sanduíche KU Leuven Bélgica • Mestrado em Implantodontia UFSC • Especialização em Implantodontia UFSC • Professora dos cursos de Prótese Dentária e Implantodontia UNIQUE CURSOS Prof. Dr. Caroline Freitas Rafael • Professora dos cursos de Especialização em Implantodontia e Aperfeiçoamento em Prótese Dentária- Faipe; • Especialista em prótese dentária pelo Sindicato dos Odontologistas do Estado do ES e implantodontia - Unicsul; • Mestre em reabilitação oral pela Universidade Veiga de Almeida; • Doutora em Odontologia: Implantodontia da UFSC e da international scholar student at Ludwig Maximilian’s Universitát, Munique • Pós doutoranda em implantodontia - UFSC SOBRE AS AUTORAS