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CEUCLAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO CURRICULO E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO ATIVIDADE PORTFÓLIO CICLO 2 Professoras: Juliana Brassolatti Goncalves e Karina de Melo Conte REFLEXÕES SOBRE AS TEORIAS E IMPORTÂNCIA DO CURRICULO LORENI DOMINGOS DALABILIA - 8161060 SÃO PAULO-SP – MARÇO DE 2022 2 BREVES REFLEXÕES SOBRE AS TEORIAS DO CURRICULO E SUA IMPORTÂNCIA I - INTRODUÇÃO: Currículo, conceituação e objeto de estudos “... o conceito de currículo se relaciona com as experiências educativas que constituem as disciplinas e os conteúdos que fazem parte do roteiro de aprendizagem do aluno, mas também as decisões tanto em nível de estrutura política, quanto na organização da estrutura escolar. Ou seja, as disciplinas que são incorporadas ou retiradas de uma matriz curricular, os conteúdos que são incluídos ou não no material didático, fazem parte do currículo, assim como as escolhas relacionadas às políticas públicas que fundamentam as diretrizes curriculares da educação e os direcionamentos curriculares para cada nível de ensino...” [Prof. Dra. Karina de Melo Conte - créditos do material de estudo da disciplina – ciclo 1] Depreende-se das leituras realizadas sobre o tema, que a função da teoria curricular é nos levar a compreender e descrever fenômenos da prática, visto que somente estudando a teoria é que o professor poderá, no momento da sua prática educativa, ter a real compreensão dos conteúdos, objeto e intenções de um grupo. Ou seja, conforme definido em questão proposta no material constante do ciclo 1 da disciplina, o currículo está estreitamente relacionado com o conteúdo da profissionalização dos docentes. O que se entende por bom professor e as funções que se pede que desenvolva depende da variação nos conteúdos, finalidades e mecanismos de desenvolvimento curricular Aprendemos, portanto, que não é possível definir com precisão o termo currículo, visto que popularmente o termo currículo também é utilizado para designar o programa de uma disciplina, de um curso, ou de forma mais ampla das várias atividades educativas, através das quais, o conteúdo é desenvolvido. Por vezes, tentamos fazer parecer que “o currículo é algo evidente e que está aí não importa como o denominamos”. (SACRISTAN-2013, p. 16). 3 II – TEORIAS DO CURRICULO – As principais teorias e sua importância É importante, também, reconhecer o currículo como o resultado de uma escolha de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes. As teorias do currículo procuram explicar por que “esses conhecimentos” e não “aqueles” devem ser selecionados, o que excluímos ou incluímos. [Prof. Dra. Karina de Melo Conte - créditos do material de estudo da disciplina – ciclo 2] Conforme depreendido do material de estudo do ciclo 2 é certo que “... o pedagogo deve conhecer e refletir acerca dos pontos que permeiam as suas escolhas... envolvem relações de poder, política, economia, cultura, enfim, tudo que está por trás da construção de um currículo, e sendo espaço ideológico é território em disputa”. Do ponto de vista acadêmico, a partir da bibliografia recomendada e de outras livremente consultadas, nos será possível classificar as teorias do currículo em três tipos: teorias tradicionais, teorias críticas e teorias pós-críticas, sendo que cada uma delas traz consigo características próprias do que é feito o currículo e do que não é feito o currículo . Fato é que compreender as teorias sobre o currículo é extremamente necessário, visto que a partir dessa compreensão, também poderemos perceber quais as construções históricas que o currículo vivenciou e como essas estruturas influenciaram na construção da educação. Teorias Tradicionais - A teoria tradicional do currículo teve como principal teórico John Franklin Bobbitt (1876-1956) que em 1918, escreveu sobre o currículo, em um momento conturbado da história da educação nos Estados Unidos em que, diversas forças de cunho político, econômico e cultural queriam envolver a educação de massas de acordo com suas ideologias (SILVA-2009). Ainda de acordo com o autor citado (2009, p. 23-24) Bobbitt propunha que a escola funcionasse da mesma forma que qualquer outra empresa comercial ou industrial, isto é, ele queria que o sistema educacional fosse capaz de especificar precisamente que resultados pretendia obter, e que pudesse estabelecer métodos para obtê-los de forma precisa. Podemos resumir a questão principal das teorias tradicionais em conteúdos e objetivos qualitativos, pois quem avalia os resultados obtidos é o professor que, de certa forma também, participa de uma cultura conservadora burocrática. Em suma, são teorias baseadas em modelos cuja discussão não visa problematizar as instituições de ensino, tampouco os processos de configuração da vida social na sua relação com a construção do currículo e do processo de 4 ensino-aprendizagem. Buscam, de certa maneira, a neutralidade, tendo como escopo principal promover a identificação dos objetivos da educação escolarizada, formando o trabalhador especializado ou, proporcionando-lhe uma educação geral e acadêmica. Teorias Críticas – A partir da década de 1960 e até após o regime militar no Brasil, surgiram as primeiras teorias que questionavam o pensamento e a estrutura educacional vigente, em específico, as concepções tradicionais do currículo. Procuravam compreender qual era o real papel do currículo na educação e por isso efetuaram uma completa inversão nos fundamentos das teorias tradicionais. Em contraste com àquelas, puseram em questão justamente os pressupostos dos arranjos sociais e educacionais, passando a desconfiar do modelo vigente e a responsabilizá-lo pelas desigualdades e injustiças sociais.(SILVA-2009, p. 29-30). No Brasil o educador Paulo Freire acompanhou as novas perspectivas juntamente com vários teóricos pelo mundo. Então passaram a pontuar que a sociedade capitalista reproduzia ideologicamente nas escolas as suas práticas econômicas. E, para esses autores, a escola seria o local ideal para que o capitalismo pudesse reproduzir sua ideologia, uma vez que na ideia deles, é justamente a escola que mantêm um certo controle da população, sempre em maior número e por um longo período. Continua Silva(2009) nos ensinando que a insatisfação com a escola excludente e seletiva foi expressa pela crítica advinda dos novos movimentos sociais que denunciavam a despreocupação da educação (centrada em um currículo tradicional) com o processo de aprendizagem dos alunos. Esses teóricos criticavam ainda mais o esvaziamento dos conteúdos que eram repassados sem um verdadeiro significado. Nesse ponto fazemos uma reflexão (autocrítica) sobre a possibilidade de ter havido uma apropriação “inversa” da reprodução daquilo que se criticava, ou seja a ideologia capitalista reproduzida nas escolas e que a balança não deveria pender nem para um lado nem para outro. Talvez, após o término do regime militar, ao adotar-se a teoria crítica nas escolas, os seus idealizadores tenham começado a reproduzir fortemente “apenas” ideias com viés socialista, pois, é inegável que todo o sistema educacional brasileiro apresenta um contexto ideológico totalmente à esquerda socialista. Exemplo é ser terminantemente “proibido” criticar 5 o modelo Paulo Freire - utilizado apenas no Brasil, sob pena de ser visto como um retrogrado e desumano capitalista de extrema direita. O fato de que o Brasil, há várias décadas, ocupa sempre as últimas posições no ranking da educação básica em todo o mundo, deveria ao menos levar a nós educadores a uma profunda reflexão, pois estamos falhando terrivelmente com os educandos, ao simplesmente nos deixar levar por um modelo ideológico ou outro e que ocupou o poder nos últimos 30 anos. Teorias pós–críticas - Essas teorias surgiram para questionar os pressupostosdas teorias críticas marcadas pelas influências do marxismo. Abordam com ênfase as preocupações com a diferença, com as relações saber-poder no âmbito escolar, o multiculturalismo, as diferentes culturas raciais e étnicas, enfim, não é uma questão de superação da teoria crítica. Segundo Silva (SILVA-2007, p. 147), a teoria pós–crítica se combina em certa medida com a teoria crítica, pois ela veio para nos ajudar a compreender os processos pelos quais, através de relações de poder e controle, nos tornamos aquilo que somos. Ambas nos ensinaram, de diferentes formas, que o currículo é uma questão de saber, identidade e poder. Prossegue Silva, dizendo na obra citada, que o currículo, a partir da teoria pós–crítica, deve ser visto como um complemento, como uma forma de aprofundamento e ampliação às teorias críticas. No mais, diz o renomado autor, que as teorias pós-críticas trazem em seu âmago uma concepção do currículo como sendo um currículo multiculturalista, e evidenciam as inúmeras diversidades presentes no mundo moderno, tendo levantado as questões femininas, raciais e étnicas, questões da diversidade sexual, que também ganharam forças e começaram a aparecer nas teorias pós-críticas dos currículos. Para os movimentos pós-crítico o currículo, necessariamente, precisa conceber a diversidade como sendo fruto de questões históricas e políticas, que venha a questionar valores tidos como certos, incluindo e valorizando os valores de todos os grupos sociais, sem distinções. Esse aspecto multiculturalista, que é muito importante, mereceu destaque no conteúdo final do ciclo 2 do material de estudos da disciplina. Em suma, a importância das teorias do currículo está, sobretudo, em promover profundas reflexões – como a que se faz aqui neste trabalho - apontar caminhos para os professores sem jamais engessá-los ou anular a autoridade desses educadores, sendo muito importante que o currículo seja pensado por todo um grupo de pessoas, especialmente os envolvidos na educação: gestores, professores, pais, etc. 6 III – NAS SALAS DE AULA - Aplicação prática das teorias O educador durante a sua formação não aprenderá de forma integral a dar aulas. Ele precisará compreender a importância da reflexão, da pesquisa, de ser crítico e inquieto acerca das problemáticas da sua área de atuação para estar em constante aprendizagem refletindo sobre esta prática, em busca de crescimento profissional e comprometimento com a profissão. É preciso conscientizar o futuro educador de que “[...]faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo.” (FREIRE, 2005, p. 27). No desenvolvimento do currículo sabe-se que são trabalhadas todas as diferentes teorias na ‘formação dos sujeitos’ nos cursos de formação de professores. A dificuldade se apresenta sempre no momento da prática docente. Para isso mudar, será preciso superar a estrutura curricular que primeiramente sempre oferece uma base teórica, para somente depois esse conteúdo teórico seja colocado em prática. Lógico que a teoria base importantíssima, mas o ideal é trabalhar teoria e prática ao mesmo tempo, e para isso, a abordagem metodológica deve estar relacionada à concepção de currículo a ser adotada. É de suma importância que a prática esteja presente desde o primeiro dia de aula de formação docente. A forma como a relação teoria e prática serão trabalhadas faz a diferença na atuação do professor. Se na sua formação recebeu conteúdos prontos, sistematizados, sem fazer uso da criticidade, da problematização e conscientização, reproduzirá esse ensino na sua prática pedagógica, pois não partiu dos problemas da prática e sim da teoria. A teoria crítica exerce papel fundamental para a construção de um currículo voltado para a formação de professores capazes de atuar com responsabilidade e comprometimento com a qualidade da educação básica, valorizando os conhecimentos dos alunos e que seja capaz de possibilitar uma possível conscientização deles, para uma possível transformação da realidade que está posta como correta. A metodologia da teoria curricular crítica, “[...]privilegia o relacionamento professor-aluno, enfocando não indivíduos separados, mas o grupo.” (EYNG-2007, p. 135). Essa relação, ainda conforme a autora citada, implica provocar e mobilizar o aluno na sua fala com a realidade. Já na teoria curricular pós-crítica existe uma continuidade do currículo crítico, como referido no capítulo anterior, porém apresenta avanços em que além do aluno manter constante diálogo com o professor e com o grupo, ele precisará desenvolver autonomia no seu 7 processo formativo, ou seja, estar em constante busca pelo conhecimento. “Essa concepção pós- crítica apresenta como questão central a aprendizagem e destaca o desenvolvimento pelo aprendiz em sua capacidade de aprender a aprender, ou seja, compreender como aprende e desenvolver estratégias capazes de aperfeiçoar sua condição de aprendizagens consciente e cooperativa”. (EYNG-2007). IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pensamos e concluímos que todo currículo a ser construído para a formação de “professores críticos” pressupõe-se que deveria ser fundamentado por ambas as teorias, tanto pela teoria crítica quanto pela pós–crítica. É preciso, não somente na educação básica, questionarmos o porquê de se trabalhar certos conteúdos e não outros, e essa preocupação deveria se estender aos conhecimentos a serem trabalhados na formação dos profissionais que atuam ou atuarão nas salas de aula, para que não continuem reproduzindo apenas aqueles saberes assimilados e memorizados no período de sua própria formação básica ou de acordo com sua própria ideologia política. Ademais, um currículo proposto a partir da teoria crítica e pós-crítica pressupõe trabalhar com conteúdo significativo, que parte da realidade educacional existente, não ficando em debates e discussões infinitas, mas partindo para a verdadeira prática com o objetivo de uma possível transformação da realidade, sendo o professor conscientemente esclarecido, corresponsável para que as propostas do currículo se efetivem. Por intermédio dessa breve análise das teorias do currículo, foi possível indagar-se e refletir profundamente de como as relações de poder interferem demasiado na constituição dos currículos escolares. Também se impôs uma reflexão sobre se os currículos acolhem ou excluem quem deles participa. Desta maneira, concluímos a tarefa com a certeza de que a total compreensão acerca das teorias do currículo é indispensável para o Pedagogo, pois somente através dessa compreensão é que iremos ter uma percepção mais clara sobre quais são os valores e hábitos que nossos currículos induzem e perpetuam. E, somente a partir daí, depois de muito estudo, análise e reflexão, é que poderemos trabalhar para elaborar currículos verdadeiramente inclusivos. 8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: BERTANHA, P.; FARAGO, A. C.; CRUZ, A. J.; RICCI, G. P.; FANTACINI, R. A. F. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): História, Concepção, Política e Referenciais Pedagógicos. Batatais: Claretiano, 2020. CONTE, Karina Melo. 2022 - Currículo e Avaliação da Educação | Claretiano - Rede de Educação. EYNG, Ana Maria. Currículo Escolar. Curitiba, IBPEX, 2007. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. ______. Pedagogia do oprimido. 35. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. PACHECO, J. A. Teoria curricular crítica: os dilemas e (contradições) dos educadores críticos. Revista Portuguesa de Educação. P. 49-71. 2001. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/542/1/07JosePacheco.pdf. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. SACRISTÁN, J. G. O que significa currículo? In: Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre:Penso, 2013. Capítulo 1, páginas 14-34 SILVA, Tomaz Tadeu da. Das teorias tradicionais às teorias críticas. In: Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. ed.; 8. reimp. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016 SILVA, Maria Aparecida - História do currículo e currículo como construção histórico-cultural - Universidade Federal de Minas Gerais, Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus - pdf https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/542/1/07JosePacheco.pdf.
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