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59 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE Unidade II A partir de agora, abordaremos os aspectos do campo de atuação da Educação Física, desde a produção do movimento (comportamento motor); o processo ensino‑aprendizagem de habilidades motoras de indivíduos idosos; os modelos de intervenção em Educação Física para populações idosas; o planejamento e a aplicação de atividades físicas; até a forma de avaliar os idosos e os benefícios dessas práticas para eles (avaliação da capacidade funcional). Portanto, discutiremos a forma de trabalho e a contribuição da Educação Física para a terceira idade, considerando a implementação de um uso adequado e planejado para essa população. 5 COMPORTAMENTO MOTOR DURANTE O ENVELHECIMENTO O movimento é uma ação de deslocamento, de mudança de posição, seja do corpo, de uma parte dele ou de um objeto. Sempre que pensamos em movimento, pensamos no desejo de executá‑lo ou não. Em alguns momentos, percebemos que não temos controle sobre algumas ações, que ocorrem de forma involuntária. Os movimentos voluntário e o involuntário fazem parte de um vasto repertório motor que é aprendido, desenvolvido, aperfeiçoado e restringido ao longo da vida. Se pensarmos em movimentos simples, como o de levantar de uma cadeira e caminhar, não conseguimos imaginar todos os procedimentos que a musculatura esquelética e o cérebro desenvolveram para que o corpo se deslocasse, considerando as informações do meio externo. Dessa forma, o sistema motor teve que programar as sequências corretas do movimento, iniciá‑las cada uma no momento certo, comandar os músculos apropriados, controlá‑los para que a força, a velocidade e a direção dos movimentos fossem exatamente as necessárias, e interrompê‑los um a um para que o seguinte se iniciasse (LENT, 2001). Veja as figuras: A B Figura 27 – O movimento 60 Unidade II Essas sequências para a realização do movimento, envolvendo cérebro, músculos e meio ambiente, caracterizam o comportamento motor, que consiste na aquisição de habilidades básicas que são combinadas e progridem para habilidades mais complexas ou refinadas a partir da aprendizagem motora. Observação O desenvolvimento motor é um processo contínuo, relacionado à idade e que acarreta mudanças sequenciais, influenciando os padrões de comportamento motor ao longo da vida. 5.1 Comportamento motor e os sistemas sensorial e perceptivo As capacidades motoras, como vimos anteriormente, podem ser classificadas em capacidades motoras condicionantes e capacidades motoras coordenativas, as quais também podem ser ponderadas como componentes da aptidão física. Considerando a denominação capacidades motoras, dentre os dois tipos de capacidades, as coordenativas são aquelas relacionadas com o comportamento e o controle motor, pois se referem à organização e à formação dos movimentos. Nesse sentido, as capacidades motoras coordenativas dependem da detecção, da elaboração e do processamento de informações, que possibilitam o controle da execução dos movimentos por meio da contribuição do sistema sensorial: informações táteis, visuais, auditivas e cinestésicas (GUEDES, 2011). Na verdade, os movimentos podem ser categorizados como habilidades “perceptomotoras”, pois a informação sobre o ambiente e a posição ou localização do corpo ou segmento corporal são fundamentais para a realização da ação motora. Lembrete As capacidades motoras condicionantes (força, velocidade, resistência e flexibilidade) estão relacionadas às ações musculares e à demanda, produção e utilização de energia do metabolismo. A informação sensorial e a perceptiva são altamente integradas e se comunicam com o ambiente (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Contudo, essa comunicação é estabelecida por meio de ações ou atitudes para permitir que os sistemas interajam. Para ver, é preciso olhar em direção ao que se quer enxergar; para ouvir, é preciso posicionar o ouvido em direção ao som; para sentirmos a textura de um material, é preciso tocá‑lo, confirmando a interação dos sistemas com o ambiente. O sistema sensorial é composto de visão, audição e propriocepção ou sistema cinestésico. A visão é determinada pelos olhos, que são os receptores sensoriais desse sistema. Os receptores do ouvido são denominados de aparelho vestibular e estão localizados no ouvido interno. Já a propriocepção tem receptores ou proprioceptores localizados em todo o corpo, como nos músculos esqueléticos, nas junções musculotendíneas, nas cápsulas articulares e nos ligamentos. A propriocepção tem muitos receptores, pois ela produz diferentes informações, como: 61 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE • os movimentos corporais; • a posição do corpo no espaço; • a posição das partes do corpo relativas umas às outras; • a natureza dos objetos com os quais o corpo estabelece contato (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Quadro 6 – Propriocepção: receptores e localização Receptor Localização Fusos musculares Músculos Órgãos tendinosos de Golgi Junções musculotendíneas Articulações Cápsulas articulares e ligamentos Canais semicirculares Ouvido interno Cutâneo Pele Adaptado de: Haywood e Getchell (2004). A percepção é a forma como interpretamos as informações dos sentidos. A visão, por exemplo, proporciona uma percepção sobre o espaço, a distância, a profundidade, a presença de objetos e a percepção do movimento (direção e velocidade). A audição permite a percepção da localização, a diferença entre sons semelhantes, ruídos ao fundo e padrões de sons. A propriocepção, por sua vez, promove localização tátil e consciência corporal (movimento dos segmentos, orientação especial e direção). Essas percepções podem interagir ou se combinar para proporcionar um movimento mais preciso ou específico. O sistema sensorial e o perceptivo podem ser considerados formas de restrição à realização de movimentos, já que alterações nesses sistemas prejudicam a percepção e a execução das ações motoras. Para compreender melhor como o comportamento motor é alterado pelo envelhecimento, abordaremos brevemente o modelo das restrições do movimento, que demonstra como as interações dinâmicas e as mudanças que ocorrem de maneira contínua ao longo da vida afetam o desenvolvimento motor. Lembrete O controle motor se refere à ação integrada e coordenada do sistema nervoso e dos músculos esqueléticos para a produção de movimentos de acordo com as demandas do ambiente. 62 Unidade II 5.1.1 Desenvolvimento motor: modelo das restrições O modelo das restrições do movimento foi formulado por Newell (1985) e sugere que os movimentos ocorrem por meio da interação entre as características do indivíduo, do ambiente que o cerca e do objetivo de sua movimentação (HAYWOOD, GETCHELL, 2004). Veja a figura: Funcionais Restrições do indivíduo Restrições da tarefa Estruturais Restrições do ambiente Figura 28 – Modelo das restrições de Newell As restrições se referem: • Ao indivíduo: as estruturas e funções do corpo, nas diferentes fases da vida, podem favorecer ou não a realização de determinado movimento. A deficiência motora, por exemplo, é um fator limitante ou restritivo para algumas tarefas. • Ao ambiente: as restrições do ambiente ocorrem fora do corpo e podem ser físicas ou socioculturais. As restrições físicas referem‑se à temperatura, quantidade de luz, umidade, gravidade e o tipo de superfície utilizada (pisos e paredes). As socioculturais estão associadas a padrões de comportamentos motores determinados por grupos ou lugares. Por exemplo, em um lugar que possua rios que propiciem a prática de remo, as pessoas naturalmente experimentarão essa modalidade esportiva. • Da tarefa: também ocorrem fora do corpo. As regras e o uso de equipamentos são formas de restrição da tarefa. Um exemplo é a regra do basquetebol que estabelece que os deslocamentos com bola devem ser realizados enquanto o jogador bate ou quica a bola no chão. Mudanças em qualquer um desses elementos podem acarretar restrições na realização do movimento. Considerandoas características do envelhecimento, podemos supor que muitas restrições ocorrerão nessa fase. 63 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE 5.2 Comportamento motor e as fases do desenvolvimento motor A determinação do comportamento motor ocorre de acordo com o desenvolvimento motor, que consiste em mudanças contínuas e sequenciais ao longo da vida, envolvendo três classes gerais de comportamento motor: estabilidade (controle postural e equilíbrio), locomoção (deslocamento) e manipulação (objetos). O início do desenvolvimento motor, que determinará o comportamento motor, começa após a concepção, compreendendo todo o período de vida intrauterina através dos movimentos fetais (MANOEL, 1994). Após o nascimento, o bebê realiza movimentos reflexos até cerca de 1 ano de idade. Em seguida, os movimentos de estabilidade (controle postural), de locomoção e de manipulação passam a ser voluntários e adquirem um padrão de movimento rudimentar. A experimentação e a combinação desses movimentos caracterizam a fase de movimentos fundamentais. A fase de movimentos rudimentares e de movimentos fundamentais ocorrem, geralmente, entre os 2 e 7 anos de idade. A última fase, a fase dos movimentos especializados, se refere ao refinamento dos movimentos de estabilidade, locomoção e manipulação (GALLAHUE; OZMUN, 2001). Apesar da fase de movimentos especializados ocorrer entre os 7 e os 14 anos de idade, esse processo de desenvolvimento e estabelecimento do comportamento motor continua com o decorrer da vida e é retratado no modelo da ampulheta de Gallahue (GALLAHUE; OZMUN, 2001): Controle motor de competência motora Fase motora especializada Faixas etárias aproximadas de desenvolvimento Fase motora fundamental De 8 anos a 13 anos Fase motora rudimentar De 4 anos a 7 anos Fase motora reflexiva A partir de 6 meses a 1 ano Figura 29 – O modelo da ampulheta de Gallahue A junção entre o modelo da ampulheta, que descreve as mudanças no padrão da tarefa, e o modelo das restrições, que apresenta as limitações à realização do movimento, constituem o modelo da ampulheta triangulada (GALLAHUE, OZMUN, GOODWAY, 2013). Esse modelo apresenta o processo/ produto do desenvolvimento motor ao longo da vida. Veja: 64 Unidade II Controle motor de competência motora A ampulheta: modelo de desenvolvimento motor durante o ciclo da vida de Gallahue Fase motora especializada Fase motora fundamental Fase motora rudimentar Fase motora reflexiva Fatores Hereditariedade Ambiente Am bie nt ais Fa to re s Individuais Fatores Figura 30 – O modelo da ampulheta triangulada Na velhice, as experiências motoras se tornam imprescindíveis, pois nessa etapa o idoso precisa se adaptar ao corpo em envelhecimento, aos declínios de funções e à modificação dos padrões de movimento. Curiosamente, apenas na década de 1980, o desenvolvimento motor foi entendido como um processo contínuo dentro do ciclo de vida, envolvendo ganhos e melhorias de desempenho motor, assim como perdas e reduções (SANTOS; DANTAS; OLIVEIRA, 2004; ROBERTON, 1989). Nesse sentido, o aumento da eficiência no desempenho das habilidades motoras ocorreria até os 20 anos de idade e o declínio, dessas mesmas habilidades, entre os 70 e os 80 anos (WADE, 2000). Contudo, considerando o comportamento motor, será que esses declínios refletiriam em alterações no padrão dos movimentos? Nem sempre. Se analisarmos a marcha (movimento de locomoção), observaremos algumas alterações no padrão de movimento, principalmente dos idosos com mais de 70 anos. A marcha fica mais lenta, os passos ficam mais curtos, os pés quase não se levantam – se arrastam –, o equilíbrio fica difícil e o controle postural também se mostra prejudicado. Considerando a velocidade da marcha, Judge, Ounpuu e Davis (1996) constataram que a velocidade da marcha diminui de 12% a 16% por década a partir dos 70 anos. Nesse momento, as alterações do músculo esquelético (perda de massa, redução no número de fibras do tipo II e de inervação), assim como as do sistema nervoso (perda de neurônios, diminuição das sinapses, redução da velocidade de processamento das informações), estão mais pronunciadas. A sequência de planejamento, controle, ordenação e realização do movimento já não é tão rápida e eficaz, passando a ser algo mais “perceptível”. Essa dificuldade de andar é acompanhada por problemas para a 65 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE realização de outras tarefas. Inicialmente, o declínio das funções do organismo dificulta a execução de atividades da vida diária, reduzindo a capacidade funcional do indivíduo. Com o agravamento das perdas (pelo próprio envelhecimento, por falta de estímulos, inatividade física ou acometimento por doenças), o idoso passa a ter dificuldades de praticar atividades de autocuidado, reduzindo sua qualidade de vida, autonomia e independência e ficando vulnerável a quedas, acidentes domésticos, internação hospitalar e institucionalização. Diante desse quadro, uma das principais hipóteses para o declínio progressivo do desempenho motor do idoso estaria ligado à lentificação do processamento de informações, devido à diminuição da velocidade com que os sistemas sensorial, perceptivo e motor (sistema perceptomotor) seriam realizados (CERELLA, 1985). No entanto, outra corrente de pensamento tem sugerido que a redução do desempenho não ocorreria para as funções do sistema, perceptomotor ou sensório‑motor que continuassem a ser praticadas durante o envelhecimento (KRAMPE; ERICSSON, 1996). O declínio de desempenho, desse modo, estaria relacionado de forma seletiva ao desuso de funções, movimentos ou tarefas no dia a dia dos indivíduos idosos (FISK; ROGERS, 2000). Nesse sentido, os indivíduos que permanecessem realizando uma determinada tarefa apresentariam reduções menores no desempenho motor quando comparados àqueles que pararam de fazer ou faziam muito pouco um movimento específico. Teixeira (2006) testou o desempenho perceptomotor ou sensório‑motor de indivíduos fisicamente ativos entre 19 e 73 anos de idade para tarefas como tempo de reação, força manual máxima e controle de força. Ele observou que a redução no desempenho de cada movimento ocorria em faixas de idade diferentes, mostrando que o declínio de desempenho sensório‑motor durante o envelhecimento parece ser específico à tarefa. Por exemplo, para o tempo de reação, o declínio do desempenho foi observado entre os 20 e os 60 anos de idade. Outro fator se refere a alguns padrões de movimento do idoso, que parecem ocorrer através de uma interação entre a demanda da tarefa ou do movimento, os processos que envolvem esse movimento e o desempenho (SANTOS; DANTAS; OLIVEIRA, 2004). O idoso seria capaz de ajustar o movimento de acordo com o grau de dificuldade exigido pela tarefa, usando sua experiência motora. Dessa forma, não haveria alteração do padrão de movimento em decorrência das alterações das estruturas e funções do organismo, e sim ajustes para se adequar às necessidades do movimento. Porém, é difícil dissociar alguma limitação do padrão de realização da tarefa. Por mais que haja adaptação, na maioria das vezes, ela é acompanhada de alguma restrição. Tarefas como arremessar ou chutar uma bola podem ser limitadas pela amplitude articular, interferindo no resultado da tarefa. Saiba mais Leia o artigo a seguir: TEIXEIRA, L. A. Declínio de desempenho motor no envelhecimento é específico à tarefa. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 12, n. 6, nov./dez., 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbme/v12n6/ a10v12n6.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2018. 66 Unidade II Vale ressaltar que a manutenção de uma vida ativa contribui para minimizar as perdas e grandes variações do comportamento motor observadas na velhice. A atividade física, mais uma vez, se apresenta como uma ferramenta fundamental para a manutenção da qualidade de vida. 6 PROCESSO ENSINO‑APRENDIZAGEM DE HABILIDADES MOTORAS DE INDIVÍDUOS IDOSOS O processo ensino‑aprendizagemde habilidades motoras envolve alguns conceitos importantes, como habilidade e aprendizagem motora, os quais são fundamentais para o entendimento desse processo. Começando pelo primeiro conceito: o que é habilidade motora? É qualquer atividade muscular dirigida para um objeto específico, ou seja, para o desempenho de uma tarefa. Essa tarefa pode ser correr, pular ou cozinhar. A habilidade motora também pode se relacionar às características que diferenciam um executante de alto nível do de baixo nível. Dessa forma, a habilidade motora é determinada pelo sucesso e pela qualidade de movimento que o executante possui (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). O quadro a seguir apresenta as características que distinguem diferentes tipos de habilidades motoras de acordo com: a forma de organização da tarefa; os elementos motores e cognitivos; e o nível de previsibilidade ambiental. Quadro 7 – Dimensões da habilidade motora Habilidades motoras Habilidade Características Classificação Exemplo Discreta Ação breve com início e fim Organização da tarefa Arremessar uma bola Seriada Várias ações em sequência Escovar os dentes Contínua Ação sem início ou fim definidos Nadar Motora Qualidade do movimento Importância dos elementos motores e cognitivos Trocar pneu Cognitiva Qualidade da decisão Jogar xadrez Aberta Ambiente imprevisível Previsibilidade ambiental Futebol Fechada Ambiente previsível Ginástica Adaptado de: Schmidt e Wrisberg (2001). A aprendizagem é um processo que ocorre a partir de estudos, experiências e observações e que resulta na aquisição ou modificação de conhecimentos, habilidades e competências. Considerando a atividade física, para se adquirir ou mudar um movimento é preciso aprendê‑lo. Esse processo é denominado de aprendizagem motora, o qual desencadeia mudanças no estado interno do indivíduo, causando uma melhora relativamente permanente (estável) no desempenho motor como resultado da prática (MAGILL, 2000). Dessa forma, a aprendizagem motora estabelece uma alteração no comportamento motor. 67 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE A aprendizagem motora está relacionada também ao desempenho motor, que se caracteriza pela tentativa de um indivíduo produzir uma determinada ação motora. O desempenho nesse movimento vai variar dependendo do nível de aprendizagem e de fatores como motivação, ativação, fadiga e condição física (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Observação A aprendizagem motora pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento, dependendo do estado das estruturas e funções do organismo, que são capazes de contribuir ou não para a aquisição do novo movimento. O processo de aprendizagem e de desempenho de uma tarefa ou movimento é caracterizado por estágios que marcam a adaptação progressiva do organismo a um determinado estímulo. Se considerarmos o estágio inicial e o final da aprendizagem motora, poderemos observar que, no estágio inicial, o indivíduo busca, em suas tentativas, adquirir uma ideia geral do movimento ou entender o padrão básico de coordenação (NEWELL, 1985). Já o desempenho motor nesse estágio da aprendizagem é caracterizado por imprecisão, lentidão, inconsistência e aparência rígida. Após um período de tentativas, considerando capacidades adquiridas, motivação, dificuldade da tarefa e experiência prévia, o indivíduo pode alcançar um estágio em que o desempenho se torna mais preciso e consistente (acontece com bastante frequência). Nesse estágio, a pessoa já tem uma boa ideia do padrão geral do movimento, iniciando o processo de refinamento da ação motora. O estágio seguinte, de automatização do movimento, é alcançado por poucas pessoas, se considerarmos uma alta qualidade de execução. Nesse momento, o desempenho se mostra preciso, consistente, confiante e mais rápido. No quadro a seguir é possível observar as características do desempenho no estágio inicial, intermediário e final da aprendizagem. Quadro 8 – Estágios da aprendizagem e características do desempenho motor Aprendizagem início Aprendizagem meio Aprendizagem fim Aparência rígida Mais relaxado Automático Impreciso Mais preciso Preciso Inconsistente Mais consistente Consistente Lento Mais fluente Fluente Tímido Mais confiante Confiante Indeciso Mais decidido Decidido Inflexível Mais adaptável Adaptável Ineficiente Mais eficiente Eficiente Muitos erros Menos erros Reconhece erros Adaptado de: Schmidt e Wrisberg (2001). 68 Unidade II Observação No estágio inicial da aprendizagem, a demanda cognitiva é grande, pois a pessoa precisa pensar (muito) para realizar o movimento. Com o decorrer do aprendizado, a demanda cognitiva diminui. Com a apresentação dos conceitos de habilidade e aprendizagem motora, podemos definir o processo de ensino‑aprendizagem. Esse processo é o centro da educação e envolve estágios para o aprendizado e o desenvolvimento da tarefa, assim como a interação entre professor e aluno. No processo de ensino‑aprendizagem, há uma troca constante e dinâmica entre os conhecimentos do professor e os do aluno. Nesse processo, o conteúdo referente ao currículo (formal) e os conteúdos únicos (vivências, história, individualidade) tanto do professor quanto do estudante interagem. Nessa troca de saberes, o professor deve entender como o aluno aprende e quais condições afetam sua aprendizagem, criando e adaptando estratégias para a melhor forma de aprendizado. Uma das abordagens do processo ensino‑aprendizagem bastante utilizada é a abordagem baseada no problema (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Diante de um determinado problema motor, o indivíduo deve ser capaz de fazer as melhores escolhas, criando soluções rápidas. Isso ocorre após experimentação, tentativas, erros e acertos. Contudo, o grande ponto dessa abordagem se refere à capacidade de formular as perguntas certas que, no caso do movimento, são: • Quem? • Qual? • Onde? Porém, o que significam essas perguntas? Quem se refere à pessoa, que tem capacidades, experiências prévias, nível de maturação ou limitações para realizar o movimento. Qual está associada à natureza da tarefa, por exemplo, uma tarefa sensório‑motora. É preciso definir o que fazer e como fazer. A tomada de decisão pode ser determinante para um bom desempenho da atividade. Onde é o contexto no qual o movimento será realizado. Onde a pessoa quer realizar o movimento: em um lugar específico, em qualquer lugar, com ou sem plateia? O importante é dar oportunidades de prática em contextos diferentes para que o indivíduo desenvolva estratégias diferentes para a realização de problemas motores variados (veja a figura a seguir). 69 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE Quem? Tarefa? Onde? Figura 31 – Abordagem baseada no problema: as perguntas certas 6.1 Processo ensino‑aprendizagem e o idoso O processo de ensino‑aprendizagem de habilidades motoras está diretamente relacionado com a cognição. Como vimos na Unidade I, o envelhecimento causa declínios cognitivos, prejudicando, principalmente, o desempenho das capacidades motoras coordenativas. De fato, a qualidade de reter informações na memória fica reduzida na velhice. Quando a habilidade motora tem baixa exigência cognitiva, os idosos, geralmente, não apresentam dificuldades em realizá‑la. No entanto, com o aumento da complexidade da habilidade motora, aumenta também a exigência cognitiva, o que pode limitar a realização da habilidade (REUTER‑LORENZ; CAPPELL, 2008; VOELCKER‑REHAGE; ALBERTS, 2007; JONES et al., 2006). Dessa forma, para manter o desempenho cognitivo e aprender ou aprimorar uma habilidade motora, o idoso precisa, muitas vezes, recrutar recursos neurais compensatórios da memória para alcançar a aprendizagem motora (REUTER‑LORENZ, CAPPELL, 2008; DIGIROLAMO et al., 2001). Além disso, há alterações na atenção, na capacidade intelectual, na função executiva e na velocidade de processamento de informações. Nesse sentido, um aspecto importante do processo de ensino‑aprendizagem para idosos é desenvolver habilidades que também trabalhema cognição. O tempo de reação e a tomada de decisão são fatores a serem desenvolvidos, o que contribuirá para a melhora das capacidades motoras, em especial, o equilíbrio e a coordenação motora. Lembrete A função executiva é um dos componentes da cognição, que se refere à capacidade de agir, planejar, organizar, prever e resolver problemas de forma independente, apropriada e intencional. Para processar a informação, é preciso identificar o estímulo (percepção), selecionar qual a melhor resposta a ser usada e produzi‑la. O tempo de reação é o intervalo entre a identificação do estímulo e a produção da resposta. Para se ter um bom tempo de reação, é preciso tomar decisões (corretas) no menor tempo possível, realizando o movimento de forma adequada (conforme a figura a seguir). 70 Unidade II Estímulo Identificação do estímulo Seleção da resposta (decisão) Programação da resposta (ação) Resposta Tempo de reação Figura 32 – Etapas do processamento de informação: tempo de reação e tomada de decisão Se pensarmos em um jogador de voleibol realizando o movimento de ataque, ele terá que identificar o local onde ele quer acertar (estímulo), selecionar que forma de ataque realizará (cortada, largada, explorar o bloqueio) e produzir o ataque escolhido (resposta – por exemplo, cortada forte). Do outro lado da quadra, um jogador aguarda para tentar defender essa bola atacada. Ao observar os movimentos do atacante, ele identifica onde será o ataque, seleciona a melhor estratégia para defender e tenta reagir quase que simultaneamente à cortada (tempo de reação) para realizar a defesa. Considerando o tempo de reação e a tomada de decisão, mas sem desconsiderar outras capacidades ou aptidões físicas e estratégias de ensino‑aprendizagem, como utilizar materiais de diferentes pesos, tamanhos e formatos ou texturas para estimular a cognição, trabalhando a percepção, o tempo de reação e a tomada de decisão podem ajudar os idosos a realizarem habilidades motoras de uma maneira mais eficiente. Por exemplo, usar bexigas para fazer um arremesso; depois, uma bola de borracha; em seguida, uma mais rígida, como a de handebol; e, por último, a bola de basquete. A força, a velocidade e o sentido para se realizar o movimento devem ser considerados. Continuando com o exemplo do arremesso, este pode ser feito mais forte ou mais fraco; lento ou rápido; embaixo, em cima, na direita ou na esquerda. Pode ser executado, ainda, utilizando uma das mãos (mão dominante ou mão não dominante), as duas mãos ou só a ponta dos dedos. Esse processo de ensino‑aprendizagem deve apresentar metas para que o indivíduo chegue cada vez mais perto de um bom padrão de desempenho, determinando: • a habilidade‑alvo (movimento a ser aprendido); • o comportamento‑alvo (grau de desempenho a ser atingido); • o contexto‑alvo (em que condições as habilidades devem ser aplicadas). As etapas para o desenvolvimento da habilidade motora devem abranger os aspectos cognitivos, afetivos (psicossociais) e motores; o objetivo, que pode ser aprender ou melhorar a precisão na execução da habilidade; e a orientação, enfatizando a atuação do professor junto ao aluno. As etapas consistem em: • Apresentação da habilidade motora: mostrar a habilidade e a forma (técnica) de execução, disponibilizando uma prática variada. Deve‑se enfatizar também a boa execução da habilidade motora, a qual pode ajudar a prevenir lesões, gastar menos energia e possibilitar a participação em uma atividade. 71 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE • Sequência pedagógica: sequência para ensinar o movimento. Ela ocorre geralmente pelo ensino de partes do movimento ou da forma simplificada de todo o movimento. A sequência pedagógica parte sempre de algo simples, até chegar ao complexo. Cada fração aprendida soma‑se à parte nova da habilidade que está sendo desenvolvida, ou seja, a nova habilidade é construída a partir das aprendizagens anteriores. • Variação dos movimentos – estímulo ao repertório motor: essa variação é imprescindível, pois estimula os aspectos cognitivos, criando estratégias mentais de resolução dos problemas, além de resgatar movimentos de outras fases da vida, estimulando o repertório motor. • Aplicação da habilidade motora no contexto escolhido: esse contexto pode ser uma modalidade esportiva, dança, recreação ou mesmo as tarefas do dia a dia. Observação Na sequência pedagógica há ainda etapas de exercícios educativos, formativos e de automatização que podem ser utilizados na aprendizagem de modalidades esportivas ou na dança, por exemplo. O papel do professor no processo de ensino‑aprendizagem de habilidades motoras é muito importante. É ele quem vai estabelecer como a habilidade motora será abordada, os estímulos, a correção, a motivação e a interação com os outros alunos. Mais importante que a proficiência na realização da habilidade motora é fazer com que o idoso se sinta bem, capaz de execuções e integrado a um grupo. Assim, ele poderá desenvolver suas habilidades motoras e apresentar benefícios nos diferentes aspectos que formam o indivíduo. Descrever o movimento e mostrá‑lo auxilia na criação de uma ideia mental do movimento. Dar dicas visuais, auditivas e proprioceptivas ajuda a perceber o que se está fazendo. A correção do movimento traz informações de como realizar a habilidade. Nesse sentido, dar sempre um feedback positivo e motivante pode favorecer o aprendizado e, até mesmo, a aderência do idoso ao exercício. Portanto, o processo de ensino‑aprendizagem de habilidades motoras para pessoas da terceira idade deve considerar os declínios que acompanham o envelhecimento, mas lembrar que essas pessoas são capazes de realizar muitas formas de movimentos, inclusive as complexas, tendo o professor um papel fundamental no estímulo da aprendizagem e aprimoramento dessas habilidades motoras. Saiba mais Sobre cognição e aprendizagem, leia: SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Processando informação e tomando decisões. In: Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 72 Unidade II 6.2 Modelos de intervenção em Educação Física para populações idosas Atualmente, o profissional em Educação Física pode trabalhar em diversos espaços, tais como escolas, clubes esportivos, academias, hospitais, hotéis, indústrias ou até mesmo com alunos particulares (como personal trainer). Entre essas possibilidades de atuação, ele pode atuar para a melhora do desempenho esportivo, como ocorre no esporte; com objetivos educacionais e de desenvolvimento do repertório motor, como na escola; para o aperfeiçoamento de capacidades físicas, como o trabalho do personal trainer; ou para a evolução da qualidade de vida das pessoas, como ocorre em diferentes espaços. Neste tópico, como estamos tratando da Terceira Idade e dos benefícios da atividade/exercício físico para essa população, abordaremos os aspectos relacionados à atuação do Profissional de Educação Física na promoção de saúde e qualidade de vida através do treinamento físico. Trataremos de modelos de intervenção tradicionais, como treinamento aeróbio, resistido e de flexibilidade, mas também de outros tipos de intervenção que têm sido bastante utilizados, tais como treinamento com exercícios coordenativos (complexidade motora), treinamento de força com instabilidade motora, treinamento de força com restrição de fluxo sanguíneo e exergames (videogame). 6.2.1 Treinamento aeróbio O treinamento aeróbio é composto de exercícios que trabalham grandes grupos musculares de forma coordenada, tais como andar, correr, nadar, dançar e pedalar. Para a realização desses exercícios, o sistema circulatório e o cardiorrespiratório fornecem oxigênio aos músculos para que estes produzam energia durante as contrações musculares. Isso também é essencial nas atividades do cotidiano ou durante a realização de esforços físicos de longa duração. Com o envelhecimento, há uma redução da capacidade de captare utilizar oxigênio para gerar energia, a qual, associada à perda de massa muscular, alterações cardiovasculares e cognitivas, deixam o idoso mais vulnerável a doenças. Nesse sentido, o treinamento físico aeróbio tem sido o tipo mais praticado por estar relacionado à melhora da qualidade de vida, contribuindo para a prevenção e tratamento de certos tipos de doenças, como as doenças crônicas. O treinamento aeróbio promove adaptações benéficas ao sistema cardiovascular, ao músculo esquelético e também à cognição. No sistema cardiovascular, verificamos um aumento ou manutenção do débito cardíaco com aumento do volume sistólico, redução da frequência cardíaca de repouso (bradicardia de repouso) e também da pressão arterial (com maior magnitude em hipertensos) (MOREIRA et al., 2011; BRUM et al., 2004). No músculo esquelético observamos aumento da capilarização (número e espessura dos vasos sanguíneos), do número e volume das mitocôndrias (que trabalham no fornecimento de energia através do oxigênio), do número de enzimas oxidativas e dos estoques de glicogênio pela utilização de gordura como substrato energético, melhorando a tolerância à fadiga (EGAN; ZIERATH, 2013; ACHTEN; JEUKENDRUP, 2004; MCALLISTER; JASPERSE; LAUGHLIN, 2005). Essas adaptações contribuem também para a manutenção da massa e da contratilidade muscular. Já os benefícios para a cognição se referem à melhora do desempenho cognitivo relacionado ao aumento, por exemplo, do volume da massa cinzenta do cérebro, do processamento de informações, 73 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE da vascularização cerebral, além do equilíbrio e coordenação (ROVIO et al., 2010; BLACK; ZELAZNY; GREENOUGH, 1991; BLACK et al., 1990; SIREVAAG et al., 1988; BLACK; SIREVAAG; GREENOUGH, 1987). O treinamento aeróbio, dessa forma, se apresenta como um modelo de intervenção muito eficiente e que acarreta diversos benefícios ao organismo, contribuindo para a manutenção e melhora da saúde. Para os idosos, o treinamento aeróbio, além de todos os benefícios que pode proporcionar, é uma forma segura de realizar exercícios e que, muitas vezes, não necessita de materiais ou equipamentos para ser praticado. Além disso, ele promove integração social, pois, geralmente, esse tipo de treinamento é realizado em grupo. Veja a figura: Volume sistólico FC Débito cardíaco A. Coração Capilarização Mitocôndrias Enzimas oxidativas Estoques de glicogênio Utilização de gordura Tolerância à fadiga B. Músculo Massa cinzenta Processamento de informação Vascularização Cognição C. Cérebro Figura 33 – Adaptações ao treinamento físico aeróbio Observação A cognição foi avaliada, por muito tempo, apenas em modelos animais. Com o aperfeiçoamento dos exames de imagem, como a ressonância magnética, atualmente é possível analisar o cérebro de humanos. Saiba mais Para saber mais sobre treinamento aeróbio, confira: VOLTARELLI, V. A. et al. Fisiologia do exercício. In: Nutrição e atividade física: do adulto saudável às doenças crônicas. São Paulo: Atheneu, 2015. 74 Unidade II 6.2.2 Treinamento resistido A prática do treinamento de força tem crescido muito nos últimos anos, pois tem sido demonstrando que esse tipo de treinamento não é apenas um método efetivo para melhorar a função e estrutura muscular, mas também pode ser importante para a manutenção ou melhora da saúde (BIRD; TARPENNING; MARINO, 2005). Nesse sentido, o treinamento de força, quando voltado à saúde, principalmente, de idosos ou pessoas com doenças crônicas, tem sido chamado de treinamento resistido. O treinamento resistido envolve exercícios em que a contração muscular é realizada por um determinado segmento corporal contra uma força que se opõe ao movimento. É um treinamento contra uma resistência, geralmente executado com a utilização de pesos. Esse tipo de treinamento tem sido recomendado para idosos devido à perda de massa muscular desencadeada pelo envelhecimento, denominada de sarcopenia, a qual parece favorecer o desenvolvimento de doenças crônicas. A sarcopenia é um distúrbio multifatorial associado, além da perda de massa muscular, à perda de massa óssea, diminuição dos níveis hormonais (testosterona em homens, estrógeno em mulheres), redução na ingestão calórica e redução dos níveis de vitamina D (WALSTON, 2012; MARQUEZ et al., 2011). No músculo esquelético, podemos observar uma redução da inervação muscular, bem como na área e na quantidade de fibras musculares, principalmente as do tipo II, que geram mais força e potência muscular comparadas às fibras do tipo I. Também ocorre um aumento de tecido adiposo. Nesse sentido, o treinamento resistido tem sido recomendado por favorecer o desenvolvimento da massa, força, potência e resistência musculares e diminuição da gordura corporal. Além disso, o treinamento resistido tem sido associado a benefícios no metabolismo, como o aumento da capacidade oxidativa e glicolítica das fibras do tipo II (LEBRASSEUR; WALSH; ARANY, 2011), por exemplo. Pacientes diabéticos submetidos a esse tipo de treinamento apresentaram melhora na sensibilidade à insulina; já indivíduos obesos apresentaram aumento da massa magra e maior metabolismo de repouso (ZANUSO et al., 2012). As recomendações sugerem que o treinamento resistido seja realizado com baixa intensidade, com movimentos dinâmicos (seguidos de movimento articular). Para idosos com doenças crônicas, recomenda‑se evitar a fadiga concêntrica (momento em que o indivíduo não é mais capaz de repetir o movimento) (FORJAZ et al., 2005). Isso porque exercícios resistidos (conforme a figura a seguir) de baixa intensidade (40% – 50% de uma repetição máxima (1 RM), grande número de repetições (20 a 30 repetições) e pausas curtas entre as séries promovem melhora da resistência muscular e aumento da força (menor que no protocolo com intensidades mais altas). Apesar de o aumento da força não ser tão grande, esse tipo de treinamento é mais seguro e acarreta boas adaptações ao músculo. Além disso, ele favorece a execução correta do movimento (FORJAZ et al., 2005). Dessa forma, o treinamento resistido acarreta benefícios tanto para a massa e força muscular como para o metabolismo, apresentando‑se como uma ferramenta importante na prevenção e tratamento da sarcopenia. 75 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE Braço Ombro Peito Abdome Costas Pernas Tríceps Deltoide anterior Reto abdominal Romboides Isquiotibiais Adutores Glúteo Peitoral maior Bíceps Deltoide médio e posterior Oblíquo Dorsal Tríceps sural Abdutores Figura 34 – Exercícios resistidos 76 Unidade II 6.2.3 Treinamento de flexibilidade A flexibilidade é um dos principais componentes da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho. Ela se relaciona à amplitude máxima de movimento que uma articulação pode realizar (ARAÚJO, 2003). A flexibilidade de um indivíduo varia em função da idade, do gênero e do tipo de treinamento físico praticado (BEIGHTON; HÓRAN, 1970; BROWN; MILLER, 1998; RUBINI; COSTA; GOMES, 2007). Ela se apresenta, geralmente, em graus diferentes nas diversas articulações de acordo com o movimento realizado. Uma pessoa pode ter uma grande amplitude para determinados movimentos e amplitude limitada para outros, o que representa a especificidade da flexibilidade (DICKINSON, 1968). No entanto, o nível de flexibilidade necessário ao ser humano ainda não foi estabelecido cientificamente, e há um nível mínimo que deve ser mantido para a prevenção de certas doenças e para o desenvolvimento da amplitude necessária para fazer os movimentos. A flexibilidade contribui, por exemplo, para a correção postural, gerando um efeito relaxante que colabora para tomadas de atitudes corporais mais confortáveis, tanto para a prática de exercícios como para os movimentos diários. Também auxilia no alívio das tensões musculares. O American Heart Association (apud NELSON et al., 2007) e o American College of Sports Medicine (apud HASKELL et al., 2007) recomendam,para indivíduos com mais de 65 anos de idade, o treinamento de flexibilidade para a melhora da qualidade de vida. 6.2.4 Treinamento com exercícios coordenativos (elevada complexidade motora) Os exercícios coordenativos envolvem componentes da aptidão física, como a resistência, a agilidade, a coordenação motora e o equilíbrio. Esses exercícios têm sido associados a uma elevada complexidade motora da tarefa, ou seja, quanto maior a demanda (exigência) de memória e de atenção e a dificuldade da habilidade motora, maior é a complexidade que ela possui (CAREY; BHATT; NAGPAL, 2005). Por exemplo: • Tarefa motora: caminhar elevando alternadamente os joelhos em linha reta. • Tarefa motora com complexidade: caminhar elevando alternadamente os joelhos e, a cada quatro elevações de joelhos (duas vezes o direito e duas vezes o esquerdo), bater uma bola no chão e, em seguida, jogá‑la ao alto. É preciso considerar que a complexidade pode ser elevada progressivamente ou podem‑se criar tarefas diferentes de elevada complexidade a cada sessão de treinamento para realmente desafiar o cérebro. Os benefícios observados com o treinamento com exercícios coordenativos e elevada complexidade motora em idosos se referem, principalmente, à cognição, desencadeando alterações na estrutura e na função do cérebro, tais como melhora da ativação cerebral de redes viso‑espaciais, aumento do volume do hipocampo (região envolvida com a memória e a atenção) e aumento da neuroplasticidade (NIEMANN; GODDE; VOELCKER‑REHAGE, 2014; VOELCKER‑REHAGE; NIEMANN, 2013; VOELCKER‑REHAGE; GODDE; STAUDINGER, 2011). 77 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE Diversos estudos estão sendo realizados com idosos para tentar observar outras alterações desencadeadas por esse tipo de exercício e quais os mecanismos envolvidos nessas mudanças. Nesse sentido, mesmo que ainda em investigação, o treinamento com exercícios coordenativos parece ser uma boa alternativa de intervenção para se trabalhar a cognição. Observação Apesar dos exercícios aeróbios (caminhada, corrida) consistirem em uma atividade cíclica com baixa complexidade motora, eles também podem trazer benefícios para a cognição, principalmente pelo aumento do fluxo sanguíneo no cérebro. 6.2.5 Treinamento de força com instabilidade O treinamento de força com instabilidade consiste em um método de treinamento de força com a utilização de aparelhos que causam instabilidade, como blocos de EVA, dyna discs, balance disc, BOSU®, physioball) (ANDERSON; BEHM, 2004; SILVA‑BATISTA et al., 2014). Assim como os exercícios coordenativos, o treinamento de força com instabilidade pode ser considerado uma intervenção de elevada complexidade motora, pois ao se realizar o treinamento sobre uma base instável, por exemplo, fazer o exercício de agachamento sobre o BOSU® (veja a figura a seguir), essa instabilidade associada à necessidade de produção de força desencadeará uma elevada demanda de atenção, de propriocepção, de controle de equilíbrio e da atividade muscular (BEHM; COLADO, 2013). Esse tipo de treinamento, como o treinamento de força tradicional, requer um aumento da sobrecarga e do grau de instabilidade dos exercícios. Dessa forma, a complexidade motora se mantém elevada. Figura 35 – Agachamento com instabilidade Silva‑Batista et al. (2016) demonstraram que o treinamento de força com instabilidade promove diversos benefícios clínicos em pacientes com doença de Parkinson, melhorando, inclusive, a mobilidade deles. Considerando a elevada complexidade motora, o treinamento de força com instabilidade parece ter um impacto positivo sobre o sistema nervoso central, pois exercícios com elevada complexidade motora são mais efetivos em produzir uma maior ativação do cérebro, quando comparados a exercícios 78 Unidade II com baixa complexidade motora. De fato, aumentos na ativação cerebral induzida pelo exercício coordenativo são relacionados à melhora no controle motor e na função cognitiva de indivíduos idosos saudáveis (MUIR; JONES; NADA, 2009; CAREY; BHATT; NAGPAL, 2005). Evidências apontam que a repetição de movimentos já aprendidos, como no treinamento de força tradicional, não muda a ativação cortical, mesmo quando há o aumento da força produzida num movimento específico (SILVA‑BATISTA et al., 2016). Dessa forma, a complexidade motora exigida pelo treinamento de força com instabilidade parece contribuir para a melhora clínica do comportamento motor, do comprometimento cognitivo e da qualidade de vida de indivíduos com doença de Parkinson. Investigações sobre os efeitos desse tipo de treinamento na cognição de idosos saudáveis estão sendo desenvolvidas. Contudo, o treinamento de força com instabilidade tem sido considerado um método bastante promissor e complementar ao tratamento farmacológico de doenças neurodegenerativas. 6.2.6 Treinamento com restrição de fluxo sanguíneo O treinamento com restrição de fluxo sanguíneo é um método de treinamento que combina a realização de exercícios físicos com a oclusão do fluxo sanguíneo da musculatura alvo (ABE; KEARNS; SATO, 2006). A restrição do fluxo pode ser realizada tanto em exercícios de força como em exercícios aeróbios. Contudo, inicialmente, esse método foi desenvolvido para ser uma alternativa ao treinamento de força tradicional, mas sendo executado com baixa intensidade. Apesar da intensidade, este treinamento é capaz de desencadear um aumento da massa muscular similar ao observado com o treinamento de força de alta intensidade (ABE; KEARNS; SATO, 2006; HUNT; WALTON; FERGUSON, 2012; VECHIN et al., 2015). Dessa forma, o treinamento com restrição de fluxo sanguíneo pode ser uma alternativa para idosos e pessoas com restrições para a prática de exercícios tradicionais. Nesse sentido, associado ao treinamento de força, o treinamento com restrição de fluxo promove um menor estresse osteomioarticular, contribuindo para o aumento da massa e da força muscular e desencadeando uma melhora na função do músculo (VECHIN et al., 2015). Quando associado ao treinamento aeróbio, observam‑se contribuições para a melhora da capacidade aeróbia, da área do músculo, da força e da mobilidade do indivíduo (ABE; KEARNS; SATO, 2006). 6.2.7 Exergames Com os avanços nas tecnologias de informação, um tipo diferenciado de treinamento físico tem conquistado gradualmente seu espaço: os exergames. Os exergames são exercícios realizados com plataformas de videogames ativos (o indivíduo joga fazendo movimentos, interagindo com a imagem), os quais parecem trazer benefícios à saúde, principalmente dos idosos (PRIMACK et al., 2012; IJSSELSTEIJN et al., 2007). Esse tipo de treinamento pode ser uma boa estratégia para a reabilitação ou para aqueles que não podem realizar os exercícios tradicionais. Alguns estudos têm sugerido que os exergames podem promover melhora na mobilidade, na geração de força muscular, no equilíbrio e na cognição de idosos (RENDON et al., 2012; PLUCHINO et al., 2012; PADALA; PADALA; BURKE, 2011; BARRY; GALNA; ROCHESTER, 2014). 79 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE Considerando os benefícios cognitivos dos exergames, estes poderiam ser realizados simultaneamente a exercícios coordenativos, potencializando o aumento da complexidade motora executada. Assim, haveria aumento da demanda cognitiva, desencadeando melhora da cognição e da funcionalidade do idoso. Atualmente, os exergames têm sido bastante utilizados na reabilitação de pacientes que sofreram acidente vascular encefálico (AVE). 7 EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS EM RELAÇÃO À RESISTÊNCIA AERÓBIA, FORÇA, FLEXIBILIDADE, AGILIDADE E EQUILÍBRIO Neste tópico, nosso tema será o planejamento e a aplicação de atividades ou tarefas motoras para um programa de Educação Física para idosos em relação à resistência aeróbia, força, flexibilidade, agilidade e equilíbrio. Veremos também os métodos de treinamento adequados ao idoso. Um dos aspectos mais importantes relacionados a uma boa saúde é o estilo de vida, o qual se relaciona com as açõesrealizadas pelo indivíduo no seu dia a dia, tais como a alimentação e a prática de atividades físicas. Esses fatores são modificáveis, o que possibilita adequar o estilo de vida a hábitos mais saudáveis. Se considerarmos que muitas pessoas não têm bons hábitos alimentares e são inativas, se elas se determinarem a mudar seu estilo de vida, favorecerão bastante sua qualidade de vida. A atividade física, nesse sentido, pode acarretar diversos benefícios aos idosos. Quando a atividade física é regular, planejada, estruturada, sistematizada e realizada com movimentos corporais repetitivos, ela pode contribuir ainda mais com o desenvolvimento de componentes da aptidão física, sendo chamada de exercício físico (CASPERSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985). Dessa forma, a prática de exercícios físicos favorece a redução e/ou a prevenção de muitos declínios causados pela velhice através do desenvolvimento da capacidade aeróbia, da força, da flexibilidade, da agilidade e do equilíbrio, os quais têm um papel primordial na saúde do indivíduo idoso. Para garantir os efeitos benéficos do exercício físico para os idosos, é preciso considerar aspectos como: • os componentes da aptidão física; • a promoção de saúde; • os fatores de risco para doenças crônicas; • a segurança envolvendo a realização de um determinado movimento; • os interesses individuais; • a necessidade e condição de saúde. 80 Unidade II Para elaborar um programa de Educação Física para idosos, é preciso elaborar um planejamento considerando o controle de variáveis e o estabelecimento de critérios (GEIS, 2003). 7.1 Controle de variáveis O controle de variáveis se refere à duração do programa, conhecimento básico do grupo, espaço e material, e adaptação dos objetivos de acordo com a época do ano de cada aula. Veja: • Duração do programa: para se estabelecer a duração de um programa de exercícios físicos, é necessário determinar o período do ano que o curso será oferecido (por exemplo, de fevereiro a dezembro) e o número total de sessões para se distribuir o conteúdo a ser abordado, considerando que a maioria dos grupos de idosos realiza duas aulas de uma hora por semana. Excursões, festas, palestras e celebrações também devem ser consideradas no planejamento do programa. • Conhecimento básico do grupo: antes de iniciar um programa de exercícios físicos é necessário realizar avaliações pré‑participação, tais como avaliação cardiológica, avaliação dos componentes da aptidão física e uma anamnese (entrevista para saber histórico pessoal e familiar de doenças e interesses sobre exercícios). Essas avaliações ajudarão a conhecer o grau de mobilidade do indivíduo, sua autonomia e independência, e sua motivação para atividades físicas e para a vida. Se já trabalhou com o grupo anteriormente, além de planejar a reavaliação clínica e física dos alunos, é importante estabelecer novos objetivos para determinar os exercícios a serem desenvolvidos. Se o grupo é desconhecido, recomenda‑se buscar informações para conhecer melhor os alunos que participarão do programa. • Espaço e material: a forma de desenvolvimento dos conteúdos é influenciada pelo espaço a ser utilizado e pelos materiais disponíveis para a realização dos exercícios físicos ao longo do programa. Por exemplo, um conteúdo abordado em um espaço ao ar livre pode ser diferente daquele trabalhado em uma sala ampla. A motivação para a aula pode ser influenciada pela utilização ou não de música, demonstrando que alguns materiais podem ser determinantes. • Adaptação dos objetivos: nesse aspecto é preciso considerar a progressão dos conteúdos dentro do processo ensino‑aprendizagem de habilidades motoras e o desempenho dos alunos ao longo de todo o período do programa. Os objetivos devem ser modificados e adaptados para cada etapa do curso, pois os alunos tendem a melhorar com a prática de exercícios regulares. Porém, conteúdos mais complexos podem exigir mais tempo de trabalho para serem fixados. Dessa forma, os intuitos do início do programa serão diferentes daqueles que serão abordados no meio do ano. O início do programa é um período de adaptação do organismo aos estímulos do exercício, utilizando‑se atividades mais simples, gerais, variadas e com baixa sobrecarga ou intensidade, o que permite a construção de uma base corporal para se realizar exercícios mais complexos. Nessa fase, é importante incentivar, além dos componentes da aptidão física, os aspectos afetivos e sociais, motivando a interação e a integração do grupo e criando um clima acolhedor e agradável. Progressivamente, a 81 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE dificuldade e a intensidade serão aumentadas, abordando‑se exercícios mais complexos e de maior coordenação motora, e materiais serão utilizados para auxiliar nessa transição. Nesse sentido, na metade do programa, a prática de exercícios tende a ser mais intensa, mas a variação deles é mantida, e os alunos são incentivados a terem mais segurança e confiança para realizarem os movimentos. Já no final do programa, é preciso abordar atividades mais lúdicas e recreativas para mantê‑los e estimulá‑los a voltarem no ano seguinte. Vale ressaltar que a temperatura também pode influenciar no desenvolvimento das aulas, já que dias muito frios dificultam a realização de exercícios ao ar livre. 7.2 Estabelecendo critérios O passo seguinte ao controle das variáveis é o estabelecimento de critérios de trabalho, tais como objetivos, conteúdo e métodos de exercícios físicos para idosos. Os objetivos podem ser gerais ou específicos. • Objetivos gerais: — Tornar a atividade física um hábito do idoso. — Melhorar a qualidade de vida através da prática de exercícios físicos adequados. — Proporcionar um envelhecimento saudável. — Oferecer exercícios físicos adequados à possibilidade de movimentos do grupo e de cada indivíduo. — Oferecer atividades motivadoras, úteis e recreativas. — Informar os alunos sobre os benefícios da prática de exercícios físicos. • Objetivos específicos: de acordo com a proposta deste livro‑texto e de Geis (2003), os objetivos específicos da prática de exercícios físicos estarão relacionados à saúde e ao desenvolvimento de componentes da aptidão física que auxiliem nas tarefas diárias e na recreação. Dessa forma, alguns dos objetivos específicos são: — Prevenir o envelhecimento precoce. — Prevenir o acometimento por doenças. — Evitar distúrbios psicológicos. — Minimizar as perdas, como as de equilíbrio, coordenação motora e agilidade. 82 Unidade II — Evitar o excesso de medicamentos. — Evitar lesões. — Auxiliar no tratamento de doenças. — Melhorar a mobilidade. — Aumentar a força. — Manter ou aumentar a massa muscular e óssea. — Melhorar a postura. — Aprender coisas novas. — Fazer um novo grupo de amigos. — Aumentar a sensação de bem‑estar. — Realizar conteúdos. Os conteúdos se referem ao tipo de atividades que serão abordadas no programa de Educação Física para idosos, determinando a forma de organização dos exercícios e o momento em que eles serão apresentados e introduzidos. A abordagem dos exercícios vai depender das características e das possibilidades de movimento dos idosos que compõem o grupo. Exemplo de conteúdos: • Atividades rítmicas e com música. • Danças populares. • Modalidades esportivas e jogos adaptados. • Hidroginástica. • Natação. • Tênis. • Tênis de mesa. • Golfe. 83 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE • Caminhada. • Exercícios coordenativos com complexidade motora. • Jogos de orientação (bairro). • Festas. • Passeios. Todos os conteúdos devem ser apresentados de forma simples, de fácil compreensão e realização. Eles têm de se relacionar mais à qualidade do que à quantidade. Também necessitam ser motivantes e atraentes, de acordo com os interesses dos idosos. Além disso, precisam ser variados, estimular a comunicação e atender às necessidades do grupo e de cada indivíduo. Observação O educador físico, ao trabalhar com idosos, deve ter conhecimentodas possibilidades e variações de movimentos, adaptando e modificando os exercícios de acordo com as necessidades e interesses dos idosos. Os métodos se referem à abordagem pedagógica utilizada para ensinar ou propor os exercícios físicos. Uma dessas abordagens é a diretiva, na qual o professor toma as decisões, realiza as demonstrações e determina o protocolo de prescrição de exercícios (volume, intensidade e duração dos exercícios). Nela, as características específicas de cada pessoa não são consideradas, limitando a criatividade dos alunos. Outro método é o sociointegrativo, no qual o professor propõe a atividade e orienta os estudantes na execução do movimento, considerando os interesses e as necessidades dos alunos e do grupo. Nesse método, o aluno busca a resposta de acordo com suas possibilidades, criando iniciativa e independência. O terceiro método consiste em um trabalho não diretivo, no qual o professor apenas dá ideias e quase não faz intervenções, dando liberdade aos alunos para experimentar e testar. Considerando as características dessa faixa etária, o método sociointegrativo parece ser bastante adequado. Contudo, os três métodos (veja o quadro a seguir) podem ser utilizados, pois auxiliam no processo ensino‑aprendizagem de forma complementar e satisfazem a necessidade daquele momento da aula ou do programa. Para algumas atividades, o aluno pode apresentar certo conhecimento ou facilidade de execução, podendo ser apenas orientado ou até deixado livre para experimentar. Já para a realização de outras práticas, o aluno precisará da direção do professor, com orientações, demonstrações e correções. 84 Unidade II Quadro 9 – Métodos de ensino: diretivo, sociointegrativo e não diretivo Método Professor Aluno Diretivo Toma as decisões e realiza as demonstrações Limitação da criatividade do aluno Sociointegrativo Proposição e orientação de atividades Aluno busca respostas, estimulando a iniciativa e a independência Não diretivo Apresenta ideias, mas não faz intervenções Liberdade para experimentar e testar Adaptado de: Geis (2003). 7.3 Prescrição de exercícios físicos A prescrição de exercícios para idosos pode ser realizada a partir dos componentes da aptidão física, os quais estão associados a parâmetros de saúde. Nesse sentido, abordaremos a prescrição de exercícios físicos considerando a resistência aeróbia ou cardiorrespiratória, a força, a flexibilidade, a agilidade e o equilíbrio. 7.3.1 Resistência aeróbia ou aptidão cardiorrespiratória O desenvolvimento da resistência aeróbia ou cardiorrespiratória pode auxiliar na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares e metabólicas. A resistência aeróbia consiste na habilidade dos sistemas respiratório e circulatório em fornecer oxigênio aos músculos para que estes produzam energia durante as contrações musculares. Ela está relacionada a dois índices: à capacidade aeróbia, mensurada através dos limiares metabólicos, e à de potência aeróbia, mensurada pelo consumo máximo de oxigênio (VO2máx), a qual discutiremos a seguir. O VO2máx consiste na capacidade máxima de captação e consumo de oxigênio de um indivíduo durante um exercício físico com aumento progressivo de intensidade de esforço (DENADAI, 1999). O VO2máx representa a potência aeróbia máxima, caracterizada pela medida da quantidade máxima de energia que pode ser produzida pelo metabolismo aeróbio em uma determinada unidade de tempo. O teste ergoespirométrico é utilizado para estabelecer o VO2máx, permitindo a quantificação dos gases oxigênio e carbônico consumidos e produzidos pelo indivíduo, sendo o valor encontrado representado em mililitros de oxigênio consumidos a cada minuto que podem ser normalizados por quilograma de massa corporal (mlO2.kg ‑1.min‑1) (VOLTARELLI et al., 2015; DENADAI, 1999). É importante ressaltar que a redução do VO2máx, associada à perda de massa muscular, pode ser considerada como um preditor independente de mortalidade em doenças crônicas, mostrando a importância de se manter um nível adequado de resistência aeróbia. O treinamento físico aeróbio tem sido apontado com uma estratégia eficiente para aumentar o VO2máx e melhorar o sistema cardiovascular e o músculo esquelético. Assim, baseados nas recomendações do ACSM, discorremos a seguir sobre os métodos de treinamento mais eficientes para manter e/ou melhorar os padrões de saúde e consequentemente a qualidade de vida em adultos jovens e idosos. 85 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE As recomendações do American College of Sports Medicine (ACSM) (2011, 2009) apontam que o treinamento físico aeróbio deve ser realizado de forma contínua cinco vezes por semana, com duração entre 30‑60 minutos cada sessão se a intensidade for moderada, ou três vezes por semana, com duração de 20‑60 minutos cada sessão se a intensidade for vigorosa, ou, ainda, de três a cinco vezes por semana se a intensidade variar entre moderada e vigorosa. Contudo, por muito tempo as recomendações se baseavam apenas na frequência cardíaca e no volume de treinamento, sendo a intensidade recomendada de 60% do VO2máx para idosos, priorizando assim maior volume de treinamento com menor intensidade (ACSM, 1998). Essa recomendação baseava‑se no fato de que um treinamento de alta intensidade era associado com maior risco cardiovascular, maior risco de lesão ortopédica e menor aderência quando comparado ao treinamento de baixa intensidade (ACSM, 1998). Porém, pesquisas recentes têm investigado o papel do treinamento aeróbio intervalado de alta intensidade (HIT) em indivíduos de diferentes idades. O HIT é caracterizado pela realização de séries de exercícios aeróbios de alta e/ou máxima intensidade, intercaladas por intervalos que variam entre 4‑6 minutos, e está associado à melhora do VO2máx e da percepção de qualidade de vida de indivíduos idosos. Dessa forma, o treinamento físico aeróbio promove diversas adaptações benéficas ao organismo, incluindo o aumento do VO2máx. No entanto, atualmente, recomenda‑se que o treinamento físico aeróbico não seja realizado isoladamente, mas complementado pelo treinamento resistido e flexibilidade. Mais adiante discutiremos esse assunto. 7.3.2 Força A redução da força muscular tem sido uma preocupação de especialistas quando abordam as alterações referentes ao envelhecimento. A diminuição da força pode desencadear fragilidade, aumentando a susceptibilidade a quedas e limitando a autonomia e a independência do idoso. Nesse sentido, o treinamento resistido tem sido recomendado devido aos potenciais benefícios no desenvolvimento da força e da massa muscular. Geralmente recomenda‑se o treinamento com carga de leve a moderada, de 10 a 20 repetições, de 2 a 3 séries, com descansos curtos, e de 2 a 3 vezes por semana. Porém, o ACSM (2009) recomenda, para os idosos que necessitam aumentar a força e a massa muscular de forma mais acentuada, que realizem de 1 a 3 séries, com 8 a 12 repetições, com intervalos de 1 a 3 minutos entre as séries, a uma intensidade de 60 a 80% de 1 RM com uma frequência semanal de 2 a 3 vezes. O desenvolvimento da força e da hipertrofia muscular são especialmente importantes em idosos, visto que o aumento de força muscular aumenta, consequentemente, a potência muscular. A potência muscular, por sua vez, parece ser uma das capacidades físicas mais importantes para o idoso, pois pode ajudar a prevenir quedas e, desse modo, fraturas. No entanto, o que vai determinar se o treinamento será resistido ou de força (cargas baixas ou altas) vai depender, principalmente, da condição de saúde do idoso (veja a figura a seguir), o qual, geralmente, apresenta alguma doença associada ao processo de envelhecimento. Dessa forma, as recomendações para idosos aumentarem a força se relacionam ao treinamento resistido com baixa intensidade. 86 Unidade II Figura 36 – O idoso e a expressão da força 7.3.3 Flexibilidade Como abordado anteriormente, a flexibilidade também é uma capacidade importante para a saúde.Para melhorar a amplitude de movimento e a mobilidade articular, recomenda‑se de 10 a 15 minutos de exercícios de alongamento, de preferência diariamente, mantendo o alongamento de 10 a 30 segundos em cada exercício (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2009). Observando a eficiência do treinamento físico aeróbio e do resistido e suas características, tem sido recomendada a realização, na mesma sessão, do treinamento aeróbio complementado pelo treinamento resistido. Além disso, o ACSM (2011) recomenda que sejam realizados exercícios de alongamento nessas sessões para melhorar a flexibilidade, ao menos três vezes por semana para cada articulação. 7.3.4 Agilidade A agilidade é a capacidade que o indivíduo tem de realizar movimentos rápidos com mudança de direção e sentido, sendo influenciada pela força, pela velocidade, pela flexibilidade e pela coordenação. Ela é uma capacidade importante, pois é utilizada em diversas situações do dia a dia, interferindo diretamente na forma de locomoção e realização de tarefas do cotidiano. Dessa forma, trabalhar a agilidade de duas a quatro vezes por semana pode contribuir para que se mantenha ou melhore essa aptidão (veja a figura a seguir). Figura 37 – O idoso e a agilidade 87 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE 7.3.5 Equilíbrio A redução do equilíbrio está diretamente relacionada à incidência de quedas. A manutenção do equilíbrio e da boa postura pode auxiliar em uma locomoção mais confiante e segura, além de contribuir para a realização das tarefas da vida diária (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2009). É importante praticar o equilíbrio durante as sessões de treinamento físico para idosos. No início do programa, deve‑se trabalhar o equilíbrio de forma mais simples, aumentando o grau de dificuldade e a complexidade no decorrer das sessões de treinamento (veja a figura a seguir). Recomenda‑se trabalhar o equilíbrio de duas a quatro vezes por semana. Figura 38 – Equilíbrio Além da prescrição de exercícios apresentada, Mazo, Lopes e Benedetti (2009) sugerem a seguinte aula para idosos dentro de um programa de exercícios físicos que prioriza o trabalho dos componentes da aptidão física: • Parte inicial – aquecimento (10 minutos) – aquecimento geral (grandes grupos musculares) e específico (depende do que será trabalhado na parte principal) dos músculos e alongamento das principais articulações: o intuito é elevar a frequência cardíaca e respiratória e a temperatura corporal e muscular. Deve‑se trabalhar também o ritmo e a coordenação motora. • Parte principal (30 minutos): abordar os componentes da aptidão física, como a resistência aeróbia, a força, a flexibilidade, o equilíbrio, a coordenação e o ritmo, conforme a especificidade da aula. • Parte final – relaxamento (10 minutos): relaxamento muscular e volta à calma. A escolha do protocolo de treinamento a ser utilizado deve considerar as características e necessidades de cada aluno, para que se utilize o mais adequado e que propiciará melhores resultados. 8 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL Em todos os tópicos abordados neste livro‑texto, a autonomia e a independência do idoso foram aspectos sempre citados. Isso porque o que se busca com o estudo e a compreensão dos processos que envolvem o envelhecimento é a conscientização da importância dessa fase da vida e das pessoas que a vivenciam de forma direta (o próprio idoso) ou indireta (a família, os amigos, os vizinhos e a sociedade 88 Unidade II como um todo). Dessa forma, todos são importantes no processo de envelhecimento, pois podem contribuir para uma adaptação a algumas restrições inerentes a esse processo, auxiliando a minimizar as perdas e estimulando as potencialidades. Respeito, carinho e atenção são aspectos essenciais para que o envelhecimento ocorra de forma natural, mantendo ou melhorando a qualidade de vida. Nesse sentido, manter a autonomia e a independência significa ter uma melhor qualidade de vida, poder caminhar independentemente, realizar as tarefas diárias, sair sozinho, sair em grupo, fazer escolhas, planejar e sonhar. Esses pontos relacionados à qualidade de vida são fundamentais e determinantes para o estabelecimento ou continuidade da vida. Perguntamos a você: viver à base de remédios, de internações, de privações, de incapacidades, sem companhia, sem planos, sem expectativas é vida ou sobrevida? (veja a figura a seguir). Nesse contexto, a manutenção da capacidade funcional se faz de extrema importância. Mas o que é capacidade funcional? A B Figura 39 – O envelhecimento: viver ou sobreviver? A capacidade funcional consiste na habilidade de realizar tarefas da vida diária, de manter as atividades mentais e de se integrar socialmente, ou seja, de ser autônomo e independente. O idoso deve ser capaz, então, de se cuidar sozinho (em alimentação, higiene, tarefas da casa e do trabalho, compromissos), de se localizar no tempo e no espaço, de ter uma proximidade com a família, de ter amigos (LITVOC; BRITO, 2004). A Organização Mundial da Saúde utiliza um sistema de classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) para determinar a capacidade funcional do idoso através da ausência ou presença de dificuldade ao realizar tarefas do cotidiano (WHO, 2001). A Portaria nº 2.528, de 19 de outubro de 2016, instituiu a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, destacando o papel da capacidade funcional para a qualidade de vida, sendo definida como a manutenção das habilidades físicas e mentais necessárias para realização de atividades básicas e instrumentais (de autocuidado) da vida diária. Essa política enfatiza também que “a saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social” (RAMOS, 2003). Além disso, a Portaria descreve que, para um envelhecimento bem‑sucedido, a capacidade funcional é um dos aspectos que devem ser mantidos. 89 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE A capacidade funcional é utilizada como um índice de saúde que auxilia na determinação de uma intervenção apropriada à necessidade do idoso. Enquanto a capacidade funcional significa bom estado físico, mental e social, a incapacidade funcional significa o oposto, mostrando que o indivíduo necessita de ajuda e de uma intervenção. A incapacidade funcional acomete cerca de 30% dos idosos (LITVOC; BRITO; 2004), prejudicando todos os aspectos da vida cotidiana. Muitos desses idosos com incapacidades funcionais são institucionalizados, ou seja, são colocados em asilos ou lares para idosos, o que acarreta, muitas vezes, carência, sensação de abandono e depressão. Considerando essas perspectivas, para que o idoso seja capaz funcionalmente, ele precisa realmente ser autônomo e independente. A autonomia se refere à capacidade de tomada de decisões, de se autocomandar, de acordo com seus valores e suas vontades. Já a independência é a capacidade de realizar algo com seus próprios meios (PASCHOAL, 1996). Portanto, a autonomia e a independência também são indicadores de saúde que podem ser observados através da capacidade funcional. Até o momento, a capacidade funcional, a independência e a autonomia foram observadas como aspectos dissociados da doença. Nesse sentido, um indivíduo que tenha alguma doença também pode manter sua capacidade funcional, sua independência e autonomia? Sim, um indivíduo que apresente alguma doença que não traga um grande impacto na capacidade funcional pode continuar ativo, tomando decisões e participando de atividades sociais. Um hipertenso, por exemplo, pode controlar a hipertensão arterial por meio de remédios e atividade física, mantendo, assim, uma vida sem limitações. Contudo, alguém com alguma doença mais deteriorante e que interfira muito na mobilidade ou na capacidade de se cuidar ou de realizar suas tarefas apresentará uma incapacidade funcional, dependendo de outros meios para sobreviver. Assim, o grau de incapacidade funcional está atrelado ao nível de evolução ou gravidadeda doença, bem como a quantidade de alterações e perdas desencadeadas pelo próprio envelhecimento. É preciso considerar, ainda, as condições de deficiência e de invalidez, as quais muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento. A deficiência se caracteriza por qualquer perda ou anormalidade de alguma estrutura ou função do organismo. Já a invalidez se relaciona a fatores sociais e ambientais que afetam o idoso com deficiência ou incapacidades, causando um sentimento de invalidez e exclusão (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2009). A avaliação funcional busca verificar em qual nível as doenças podem impedir a realização das atividades diárias dos idosos de forma autônoma e independente, sem a necessidade de ajuda de outras pessoas ou de adaptações. Idosos autônomos podem planejar e estabelecer o que querem e pretendem para suas vidas de um modo adequado. A avaliação da capacidade funcional do idoso, desse modo, além de detectar as alterações, auxilia no conhecimento de suas necessidades. Assim, a avaliação da capacidade funcional do idoso se relaciona com a qualidade de vida, possibilitando ações preventivas, assistenciais e de reabilitação, contribuindo para um processo de envelhecimento mais saudável e com capacidade funcional (MAZO et al., 2007). 90 Unidade II A capacidade funcional permite que o idoso realize as atividades da vida diária. Mas o que são elas? As atividades da vida diária correspondem às atividades básicas, como as de autocuidado; às intermediárias, como autocuidado, manutenção e independência; e às avançadas, em que o indivíduo consegue morar sozinho, participando de atividades de trabalho, recreacionais, sociais (COTTON, 1998). Ao observarmos as diferentes formas de atividades da vida diária, verificamos que há um importante componente motor envolvido para que o indivíduo desempenhe essa atividade. Em outras palavras, para que o envelhecimento seja bem‑sucedido e com qualidade, a pessoa precisa manter ou aprimorar suas capacidades motoras, melhorando a estrutura e função do aparelho locomotor. Nesse sentido, é possível classificar a capacidade funcional de acordo com as capacidades motoras (funções do aparelho locomotor) e as atividades da vida diária (SPIRDUSO, 2005): • Nível I: — Fisicamente incapazes: não realizam nenhuma atividade da vida diária, dependendo totalmente de outras pessoas. — Fisicamente dependentes: apresentam dificuldades em realizar atividades de autocuidado (básicas), tais como, andar, comer e tomar banho. Essas pessoas precisam da ajuda e cuidados de outros indivíduos. • Nível II: — Fisicamente frágeis: realizam atividades domésticas leves, tais como cozinhar e fazer compras, além das de autocuidado e algumas atividades intermediárias. Contudo, geralmente, são debilitados. • Nível III: — Fisicamente independentes: são indivíduos que realizam todas as atividades básicas e intermediárias da vida diária. Fazem trabalhos físicos leves, caminhada e trabalhos manuais, cuidam da casa e participam de atividades de lazer e de dança. Participam desse grupo (fisicamente independentes) os idosos que apresentam um estilo de vida ativo, mas que não praticam exercícios físicos regularmente. • Nível IV: — Fisicamente condicionados ou ativos: executam trabalhos físicos moderados, de resistência e jogos. Realizam todas as atividades avançadas da vida diária e a maioria das atividades que gostam. Além disso, parecem mais jovens que os outros indivíduos da mesma idade. 91 EDUCAÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA IDADE • Nível V: — Atletas (elite física): além das atividades da vida diária (básicas, intermediárias e avançadas), esses indivíduos participam de competições sênior, podendo disputar até competições internacionais. De acordo com os níveis apresentados, para que se possa avaliar os idosos, é preciso considerar as necessidades relacionadas a cada nível. Dessa forma, os idosos são classificados em (SPIRDUSO, 2005; MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2009): • Idosos fisicamente dependentes: necessitam melhorar as atividades básicas da vida diária (autocuidado). Precisam desenvolver os componentes da aptidão física (capacidades motoras), como força (braços, pernas, tronco, quadril e mãos), flexibilidade (ombros, quadril, joelhos, tornozelos e pés) e agilidade (mãos). Para avaliar a realização dessas atividades, são aplicados questionários; já para as capacidades motoras, são utilizados testes físicos, que mensuram: — força: braços, pernas e mãos; — flexibilidade: amplitude articular; — agilidade: pequenos deslocamentos. • Idosos fisicamente frágeis: precisam melhorar a execução das atividades básicas e intermediárias da vida diária, tais como cuidar/limpar da casa, cozinhar, sair de casa. A postura também deve ser trabalhada, pois interfere diretamente na marcha, sendo necessário trabalhar a força, a flexibilidade, a agilidade e o equilíbrio. Nesse caso, serão utilizados testes que avaliem as atividades básicas e intermediárias da vida diária e as capacidades motoras (força, flexibilidade, agilidade e equilíbrio). • Idosos fisicamente dependentes: para manter ou melhorar seu grau de independência, esses idosos precisam desenvolver força, resistência aeróbia, flexibilidade, equilíbrio, agilidade, coordenação motora e velocidade de reação. Os testes a serem utilizados devem considerar as atividades avançadas da vida diária e os componentes da aptidão física. Nesse sentido, é aplicada a bateria de testes desenvolvida pela American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD). • Idosos fisicamente condicionados ou aptos: precisam manter um bom nível de aptidão física, tornando‑se importante trabalhar todas as capacidades motoras, as quais serão avaliadas por meio de testes. • Idosos atletas: precisam de treinamento físico para manter o grau de condicionamento físico, seja para competição ou recreação. Os testes devem avaliar os componentes da aptidão física específicos da modalidade praticada. 92 Unidade II Além da avaliação física, também é importante avaliar a autonomia, considerando o contexto socioeconômico do indivíduo. Para isso, existem várias formas que correspondem: • Às atividades instrumentais da vida diária: atender o telefone, pegar um ônibus, fazer compras, cozinhar, arrumar a casa, tomar medicamentos e cuidar das crianças. • Atividades físicas da vida diária: alimentar‑se, vestir‑se, locomover‑se, cuidar da aparência e tomar banho. Os instrumentos para a avaliação e as medidas dos parâmetros citados são: • Escala de Katz, Oars (Older American Resources and Services) e Geronte: essas escalas são recomendadas para avaliações em pesquisas científicas e em uso clínico. A escala de Katz adaptada, por exemplo, é composta de seis atividades básicas: tomar banho, vestir‑se, realizar higiene pessoal, transferência, continência e alimentação (KATZ et al., 1963). Nela, uma pontuação 6 indica que o idoso é independente; 4 indica uma dependência parcial; e uma pontuação igual ou inferior a 2 implica na necessidade de assistência, indicando uma dependência importante. • Escala de Lawton (LAWTON; BRODY, 1969): refere‑se à avaliação das atividades instrumentais da vida diária. • Índice de Barthel: avalia a capacidade de realização das atividades básicas da vida diária através de uma escala com 10 perguntas. • Escala de Kenny: avalia a capacidade de realização de atividades instrumentais da vida diária em 17 tarefas. • Bateria de testes de atividades da vida diária (ANDREOTTI; OKUMA, 1999): avalia pessoas idosas capazes de se movimentar com independência (embora com diferentes graus). • Escala de autoavaliação da capacidade funcional (SPIRDUSO, 2005): avalia, por meio de 18 tarefas, as atividades da vida diária e atividades instrumentais da vida diária. • Questionário sênior de atividades físicas (QSAP): consiste no levantamento de informações sobre as atividades físicas, considerando o que o indivíduo faz, o que ele deve fazer e o que ele deseja fazer (FARINATTI;