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AN02FREV001/REV 3.0 99 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 3.0 100 CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 3.0 101 MÓDULO III 12 HEMATOLOGIA 12.1 NOÇÕES GERAIS A hematologia é o ramo da biologia que estuda o sangue. A palavra é composta pelos radicais gregos: haima (de haimatos): “sangue” e lógos, “estudo, tratado, discurso”. A Hematologia estuda, particularmente, os elementos figurados do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. Estuda, também, a produção desses elementos e os órgãos onde eles são produzidos (órgãos hematopoiéticos): medula óssea, baço e linfonodos. A ferramenta mais utilizada pela hematologia é o hemograma, o principal exame de triagem da condição de saúde do indivíduo. O organismo humano possui dois sistemas principais de coordenação: o sistema nervoso e o sistema endócrino, que engloba todas as glândulas internas que fabricam substâncias (hormônios) necessárias ao corpo, coordenando seu funcionamento. O sistema nervoso funciona de forma independente, porque por meio de suas ramificações alcança todos os tecidos do corpo. Já o sistema endócrino precisa do sangue para liberar, transportar e distribuir seus hormônios por todo o organismo. O sangue funciona, portanto, como um eficiente sistema de transporte de centenas de substâncias que são essenciais ao funcionamento do organismo humano. É por meio da circulação sanguínea que as inúmeras células do organismo, em todos os tecidos, recebem sua alimentação, representada por componentes de proteínas, açúcar, gordura, água e sais minerais. Também é o sangue que, retornando dos tecidos, conduz o gás carbônico e os resíduos das células do corpo, eliminando-as através da respiração, do suor, da urina e das fezes. AN02FREV001/REV 3.0 102 FIGURA 55 - TRANSPORTE DE OXIGÊNIO E GÁS CARBÔNICO PELAS HEMÁCIAS Além disso, praticamente todo o sistema de defesa do organismo contra doenças e os ataques de germes patogênicos está concentrado no sangue. O controle da temperatura do corpo, o equilíbrio da distribuição de água e o processo de absorção celular também estão diretamente ligados ao sangue. O oxigênio é levado às células pelo sangue, por meio das moléculas de hemoglobina existentes nos glóbulos vermelhos. Setenta por cento do corpo humano é constituído de água. O sangue é o principal distribuidor desta água, nas quantidades necessárias a cada atividade orgânica. Além de distribuir, o sangue concorre para a eliminação dos excessos. A troca de água do sangue para os tecidos, e vice-versa, é feita principalmente por meio de um fenômeno denominado difusão osmótica. Trata-se de um processo físico que ocorre entre dois líquidos separados entre si por uma membrana permeável. Quando em um deles existem mais substâncias que no outro, a tendência é formar-se uma pressão maior do lado mais abundante em substâncias (potencial osmótico), de maneira que haja uma troca, através da membrana divisória, de líquido mais concentrado e menos concentrado, até se estabelecer o equilíbrio. Isto é, até que ambos os líquidos contenham número idêntico de substâncias. É neste movimento contínuo que se fazem a alimentação, a respiração e a excreção celulares. De maneira idêntica, o sangue regula o teor de acidez das células, controlando substâncias químicas simples que elas contêm, tais como sais, bicarbonato, ureia e outras. Por meio dessas funções, o sangue mantém constantes AN02FREV001/REV 3.0 103 as condições internas do corpo (homeostasia). Os médicos se servem da circulação para controlar artificialmente várias alterações orgânicas, seja retirando ou administrando drogas como solução de cloreto de sódio, lactato de sódio, gluconato de cálcio e outras que são injetadas em uma tentativa de corrigir e equilibrar o meio orgânico. O sangue participa até mesmo do controle da temperatura do corpo, eliminando o calor excessivo por meio de um “desvio” do sangue aquecido às regiões mais superficiais, próximas à pele, onde o calor é eliminado pela irradiação direta, através da pele e da transpiração. O sangue ganha importância especial na defesa da integridade do organismo. Estão concentrados nele os principais meios de defesa contra o ataque de agentes externos. Os leucócitos, ou glóbulos brancos, são os principais agentes deste mecanismo. Substâncias altamente especializadas denominadas anticorpos são produzidas pelos linfócitos em resposta à invasão de substâncias estranhas ou microrganismos patogênicos. Encarregado de tantas e variadas atribuições o sangue é uma variedade de tecido conjuntivo e pode ser considerado o único tecido líquido do corpo. É por apresentar essas inúmeras funções que a análise do sangue representa a grande maioria dos exames laboratoriais realizados, pois analisando a composição do sangue tem-se um parâmetro da saúde do indivíduo. A composição do sangue foi descrita sumariamente no início do curso e neste módulo de Hematologia analisaremos apenas os elementos figurados. O hemograma é o principal exame hematológico, porém, serão discutidos posteriormente outros exames que indiretamente analisam os elementos figurados do sangue, como pesquisa de células LE, VHS, Contagem de Reticulócitos, Fragilidade osmótica, Hemoglobinopatias, Falcização de hemácias e Determinação do Grupo Sanguíneo, embora este último possa ser enquadrado no módulo de imuno-hematologia, que será descrito neste módulo. AN02FREV001/REV 3.0 104 12.2 COMPOSIÇÃO DO SANGUE Os elementos celulares que constituem o sangue têm forma, tamanho e funções distintas. Os glóbulos vermelhos, também chamados de hemácias ou eritrócitos, são as células que existem em maior quantidade no sangue e são responsáveis pela coloração avermelhada deste. No interior das hemácias encontra- se um pigmento avermelhado denominado hemoglobina. Quando a hemoglobina está saturada de oxigênio assume uma coloração avermelhada viva (sangue arterial), quando saturada de gás carbônico, torna-se escuro (sangue venoso). Em cada milímetro cúbico de sangue existem cerca de 5 a 5,5 milhões de glóbulos vermelhos, no homem, e aproximadamente 4,5 milhões na mulher. Os glóbulos brancos, ou leucócitos, distinguem-se basicamente em cinco variedades, chamados neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos. O sangue possui um número menor de glóbulos brancos do que vermelhos. Os leucócitos são ao contrário dos eritrócitos, nucleados e constituem a parte celular do sistema imunológico ou de defesa do organismo contra substâncias estranhas e microrganismos patológicos (vírus, bactérias, fungos, etc.). Também participam das reações alérgicas na produção de histamina. AN02FREV001/REV 3.0 105 FIGURA 56 – COMPOSIÇÃO DO SANGUE Neutrófilo Eosinófilo Basófilo Linfócito Monócito Um terceiro elemento de importância fundamental no sangue são as plaquetas. Sua importância é essencial no mecanismo da hemóstase e coagulação do sangue. As plaquetas não são células, mas apenas fragmentos de megacariócitos (células especiais nativas da medula óssea)liberados na circulação. O seu número normal no sangue está entre 150 mil a 450 mil por milímetro cúbico. Uma diminuição acentuada deste número leva à hemorragia espontânea pela pele ou mucosa. A imagem abaixo mostra um esfregaço de sangue em lâmina de vidro observado em microscópio sob objetiva de imersão a óleo. Observa-se eritrócitos (hemácias) normocrômicas indicando boa saturação de hemoglobina. No centro observamos um neutrófilo segmentado. As estruturas menores, densas, são as plaquetas. FIGURA 57 - ESFREGAÇO DE SANGUE EM LÂMINA DE VIDRO AN02FREV001/REV 3.0 106 A parte líquida do sangue forma o plasma sanguíneo. Cerca de 90% do plasma constituem-se de água pura, na qual estão dissolvidas as numerosas substâncias existentes no sangue. Destas, cerca de 3/4 são sais como sódio, cloro, fósforo, potássio, magnésio, cálcio e outros. Importância fundamental cabe às proteínas, que também estão dissolvidas no plasma. Em cada litro de sangue existem de 60 a 80 gramas de proteínas. A maior parte é constituída pela albumina. Em menor proporção estão as globulinas, relacionadas com a formação de anticorpos, e o fibrinogênio, fundamental no processo de coagulação. As proteínas controlam a viscosidade do sangue, a pressão oncótica e regulam a osmose, entre outras funções. Dissolvidos no plasma existem também alguns gases, como o oxigênio, o gás carbônico e, principalmente, o nitrogênio. Ureia, ácido úrico, creatinina, glicose, gorduras e ácidos graxos também se encontram presentes neste sistema de alimentação e defesa do corpo humano. AN02FREV001/REV 3.0 107 FIGURA 58 – SOLUÇÕES DO SANGUE 12.3 HEMATOPOIESE A hematopoiese ou hemopoiese é o processo de renovação/síntese das células sanguíneas em órgãos hematopoiéticos. As células sanguíneas (glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas), têm sua origem, após o nascimento, na região medular de todos os ossos, mas no adulto apenas os ossos chatos compreendem o órgão hematopoiético. O processo de formação celular é dinâmico e permanente, uma vez que a vida média dos eritrócitos é de aproximadamente 100-120 dias e a dos leucócitos é de aproximadamente 12 horas, logo, é necessário uma formação constante e dinâmica de novas células. A síntese de células sanguíneas inicia-se por volta do 19º dia de vida intrauterina, a partir do mesotélio, no saco vitelínico. A seguir, o fígado inicia a formação das primeiras células da linhagem vermelha e por volta da 11ª semana gestacional a medula óssea inicia sua função hematopoiética, tornando- se o principal local de atividade eritropoiética após a 24ª semana gestacional. Após o nascimento, a hematopoiese se faz na região medular de todos os ossos. Com a idade, a celularidade da medula óssea diminui com o avanço da idade, aonde a medula vermelha vai sendo substituída por tecido adiposo (gordura), sendo então denominada medula amarela. A partir dos três anos de idade, a região medular dos ossos longos vai perdendo a atividade de produção celular, AN02FREV001/REV 3.0 108 permanecendo apenas nos ossos chatos (esterno, costelas, vértebras, bacia, e porções proximais dos úmeros e fêmures). FIGURA 59 - PROPORÇÃO DE MEDULA VERMELHA EM FUNÇÃO DA IDADE A medula óssea contém um estroma que fornece o microambiente para o crescimento da célula hematopoética primitiva (células totipotentes ou stem cell ou Células-Tronco). As stem cells podem originar as demais células sanguíneas. A célula hematopoética primitiva, na medula óssea, pode entrar em atividade progressiva, iniciando o ciclo celular pela ação de fatores estimulantes, os chamados fatores de crescimento celular, citocinas, eritropoetina, etc., o que irá direcionar o ciclo de maturação da célula-tronco para se diferenciar em uma determinada célula sanguínea. FIGURA 60 - MEDULA ÓSSEA AN02FREV001/REV 3.0 109 No microambiente medular há um inter-relacionamento íntimo entre os precursores granulocíticos, eritroblásticos e plaquetários com os elementos estromais. A integridade do estroma permite a manutenção de condições físicas e químicas ideais para a maturação normal dos precursores. Qualquer alteração nestas condições acarreta modificações no sangue, surgindo várias patologias, dentre elas a leucemia. A imagem abaixo é uma fotografia de uma célula-tronco da medula óssea obtida por microscopia eletrônica e após tratamento da imagem (coloração roxa). FIGURA 61 - FOTOGRAFIA DE UMA CÉLULA-TRONCO DA MEDULA ÓSSEA FIGURA 62 - ESQUEMA DE DIFERENCIAÇÃO CELULAR DE CÉLULA-TRONCO HEMATOPOIÉTICA AN02FREV001/REV 3.0 110 FONTE: Revista Scientific American, 2006. 12.4 HEMOGRAMA O hemograma é, sem dúvida, o exame mais solicitado pelos clínicos e consequentemente o mais realizado dentro de um laboratório de análises clínicas. Trata-se de um exame de triagem para inúmeras alterações e acompanhamento do paciente, pois, de certa forma, reflete a saúde do indivíduo. Dentre os exames laboratoriais, o hemograma é talvez o que mais se beneficiou do avanço tecnológico das últimas décadas e atualmente todos os laboratórios utilizam algum equipamento para realizá-lo, variando a complexidade, custo e os parâmetros de leitura. Os mais avançados realizam a determinação de todos os parâmetros de um hemograma. AN02FREV001/REV 3.0 111 FIGURA 63 – HEMOGRAMA O hemograma contempla diversas provas efetuadas com a finalidade de avaliar quantitativa e qualitativamente os componentes celulares do sangue. Os itens avaliados são: Série Vermelha (Eritrograma): Contagem de eritrócitos, Dosagem de hemoglobina, Determinação do Hematócrito e Índices Hematimétricos (VCM – Volume Corpuscular Médio; HCM – Hemoglobina Corpuscular Média e CHCM – Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média). Série Branca (Leucograma): Contagem de leucócitos totais e contagem diferencial de leucócitos. Plaquetas (Plaquetometria): Contagem de plaquetas. Alguns índices plaquetários já são possíveis de serem realizados pela automação, porém, ainda, não encontraram trabalhos científicos que comprovem sua utilidade. O exame microscópico de esfregaço de sangue corado é útil na identificação de alterações não detectáveis pelos equipamentos, como inclusões celulares e algumas células jovens. A análise quantitativa das hemácias, leucócitos totais, plaquetas e a avaliação dos índices hematimétricos são hoje realizados por meio de equipamentos automatizados que combinam diferentes métodos de avaliação de alta tecnologia e precisão à capacidade de análise de milhões de células, permitindo resultados mais precisos. AN02FREV001/REV 3.0 112 A utilização desses equipamentos permite também a avaliação de índices hematológicos e a visualização em histogramas que demonstram a distribuição dos diferentes elementos analisados. Essa característica possibilita a identificação de alguns parâmetros antes impossíveis de serem avaliados ou que eram analisados subjetivamente, com a visualização do esfregaço em lâmina. Entre esses parâmetros, temos o índice de anisocitose (RDW), a identificação de populações mistas de células, a anisocitose plaquetária e alertas para possíveis alterações presentes na amostra examinada. Esses alertas são específicos para alterações das séries vermelha, branca e das plaquetas, como presença de blastos, granulócitos imaturos, desvio à esquerda, atipias linfocitárias, grumos plaquetários, microcitose, hipocromia, entre outros. Realizam, ainda, por uma combinação de métodos de análise celular e coloração, a contagem diferencial de leucócitos, que serve de orientação para o citologista, chamando a atenção para situações nas quais a avaliação deve ser mais cuidadosa. A análise qualitativa é realizada pela avaliaçãoda lâmina corada, associada aos resultados obtidos pela avaliação eletrônica. A coloração das células diferencia em detalhes as estruturas nucleares e citoplasmáticas, permitindo a avaliação do tamanho das células, a relação núcleo/citoplasma, a forma do núcleo, a presença de nucléolos, o padrão da cromatina e a coloração do citoplasma, a presença de granulação, vacúolos e outras alterações morfológicas. Os resultados auxiliam a identificação de doenças de origem primária ou secundária de características agudas ou crônicas. São utilizados também para acompanhar a evolução de uma variedade de doenças e para monitorar os efeitos colaterais decorrentes do uso de medicamentos. A avaliação eritrocitária pode identificar processos anêmicos, policitêmicos, alterações de forma e tamanho das hemácias. AN02FREV001/REV 3.0 113 FIGURA 64 - MICROSCOPIA ELETRÔNICA MOSTRANDO HEMÁCIAS (RBC) E LEUCÓCITOS (WBC) FONTE: Disponível em: <www.colorado.edu>. Acesso em: 10.01.2010 A avaliação leucocitária pode identificar processos inflamatórios, infecciosos, alérgicos, parasitários e leucêmicos. Pode também indicar a presença de elementos anormais e de atipias linfocitárias. A avaliação plaquetária identifica processos de trombocitopenias adquiridas ou hereditárias e trombocitoses. 12.4.1 Técnicas para Realização do Hemograma O avanço tecnológico possibilitou a realização do hemograma de uma forma muito mais precisa e reprodutível, porém, o conhecimento de técnicas manuais antigas é de suma importância, uma vez que eventualidades podem ocorrer em qualquer laboratório e como forma de aprimorar o conhecimento, as técnicas manuais serão sucintamente descritas. 12.4.2 Técnica Manual para Realização do Hemograma a) Contagem de Leucócitos, Hemácias e Plaquetas: a contagem de eritrócitos, leucócitos e plaquetas é feita na Câmara de Neubauer, após diluição da AN02FREV001/REV 3.0 114 amostra em líquidos específicos e multiplicando o valor obtido pelos fatores correspondentes. b) Dosagem da Hemoglobina: a dosagem da hemoglobina é feita após a lise dos eritrócitos e estabilização da hemoglobina. Em seguida é realizada a leitura colorimétrica (cianometa-hemoglobina) pela densidade óptica medida em espectrofotômetro. c) Determinação do Hematócrito: o método para determinação do hematócrito é por meio da centrifugação de capilares de vidro contendo amostra de sangue do paciente (micro-hematócrito). d) Cálculo dos Índices Hematimétricos: os Índices hematimétricos são obtidos por meio de cálculos: VCM = (Ht / Hem) x 10 HCM = (Hb / Hem) x 10 CHCM = (Hb/Ht) x 100 FIGURA 65 - CÂMARA DE NEUBAUER FIGURA 66 - ESQUEMA DA CÂMARA DE NEUBAUER FONTE: Disponível em <http://155lv.blogspot.com/2009/05/c amara-de-neubauer.html > Acesso em : 10.01.2010 FONTE: Disponível em <http://www.sharon- gomez.blogspot.com/>.Acesso em : 10.01.2010 AN02FREV001/REV 3.0 115 Onde: Ht = Hematócrito; Hb = Hemoglobina e Hem = número de eritrócitos e) Análise Morfológica dos Eritrócitos, Leucócitos e Plaquetas: a diferenciação celular dos leucócitos é feita por meio do esfregaço corado. 12.4.3 Automação na Realização do Hemograma Atualmente a automação na realização de hemogramas é indispensável em laboratórios cuja rotina seja acima de 10 hemogramas por dia. O equipamento a ser adquirido pelo laboratório deve ser compatível com suas necessidades e possibilidades. O conhecimento técnico do aparelho e seus limites devem ser essenciais para detecção de possíveis alterações que comprometam a exatidão dos resultados. O procedimento e conhecimento de metodologias manuais para realização do hemograma não devem ser descartadas, uma vez que imprevistos FIGURA 67 - TÉCNICA PARA CONFECÇÃO DE ESFREGAÇO SANGUÍNEO FIGURA 68 - LÂMINA CORADA DE ESFREGAÇO SANGUÍNEO FONTE: disponível em <http://www.colorado.edu/outreach/B SI/pdfs/Hematology.pdf >Acesso em 10,01.2010 AN02FREV001/REV 3.0 116 podem ocorrer. É importante lembrar que por mais sofisticado e exato que seja um equipamento, a leitura dos esfregaços sanguíneos deve ser realizada em amostras que apresentem algum tipo de alteração. 12.4.4 Princípios dos Equipamentos Automatizados a) Impedância Elétrica: A contagem de eritrócitos ao microscópio, na histórica câmara de Neubauer, é inexata, e está abandonada. A de leucócitos, quando feita por técnicos experientes, é aceitável para fins clínicos, mas está em desuso pela generalização dos contadores eletrônicos. Inventados por Wallace Coulter na década de 50, os aparelhos contam os pulsos de condutividade, causados pelos glóbulos, ao cruzarem um orifício pelo qual flui uma corrente elétrica. As células sangüíneas são más condutoras de eletricidade. Neste método, um volume constante de solução constituída de sangue e diluente passa através de um orifício, onde ocorre a passagem de corrente elétrica, provocando um aumento considerável da impedância elétrica à medida que cada célula passa pelo campo, sendo que esse aumento é proporcional ao volume celular. Assim, as células são contadas a partir dos impulsos elétricos gerados por elas (BAIN, 1997). FIGURA 69 - PRINCÍPIOS DA IMPEDÂNCIA ELÉTRICA AN02FREV001/REV 3.0 117 FONTE: Disponível em: <www.beckmancoulter.com>. Acesso em: 15.02.2010 Pelo mesmo método são contados os eritrócitos e as plaquetas, porém neste caso, além de registrar o número de células contadas, o aparelho também registra o pico correspondente aos seus tamanhos. Muitos aparelhos utilizam a metodologia da impedância elétrica para a contagem de células. Assim, pode ser realizada a contagem de eritrócitos, plaquetas e leucócitos (contagem global). b) Impedância Elétrica Focada: Na impedância elétrica tradicional, a pressão gerada pelo fluxo de células pode provocar deformações nas hemácias e um turbilhonamento. As células deformadas são descontadas, chegando a 30% do total contado e provocando uma redução na sensibilidade do VCM. Para suprir esse problema, alguns diluentes contêm reagentes, como o de Sheath, que cria um fluxo laminar de células pelo orifício, permitindo que as mesmas passem pelas tubulações sem sofrer deformações. Este é o princípio da chamada impedância elétrica focada. O contador tem uma haste oca cujo interior comunica-se com o exterior por um orifício de pequeno diâmetro; há um eletrodo metálico interno, outro externo, uma fonte geradora de corrente contínua, uma bomba de vácuo que aspira pelo orifício a suspensão de glóbulos para dentro da haste, e contatos elétricos que fazem parar o processo após a aspiração de um volume exato do material. Mergulha-se a haste na cubeta que contém o sangue apropriadamente diluído em solução eletrolítica; a corrente transita pela solução de um outro eletrodo. Cada vez que um dos glóbulos cruzar os orifícios, sua menor condutividade causará um pulso de amperagem, sentido pelo galvanômetro do aparelho. Os pulsos são contados, e o computador, levando em conta a diluição, o volume aspirado e a coincidência estatística da passagem ao mesmo tempo de mais de um glóbulo pelo orifício, converte o resultado em número de glóbulos por microlitros de sangue. O resultado é expresso em display digital ou por meio de impressora anexa. Para contagem de leucócitos, o diluente recebe gotas de substâncias hemolisantes que eliminam os eritrócitos. Contadores de primeira geração, com apenas um canal de contagem, diluidor mecânico externo ao aparelho e condução manual do sangue AN02FREV001/REV 3.0 118 diluído à plataforma sob a haste, são ainda muito usados no Brasil, pelo preço acessível, durabilidade e fácil manutenção. Atualmente os contadores possuem trêscanais de leitura onde é calculada a média de leitura. Em hematologia, alguns contadores eletrônicos de células determinam, além dos parâmetros habituais (número de eritrócitos e de leucócitos por milímetro cúbicos e concentração de hemoglobina), o valor real do VCM (volume corpuscular médio), HCM (hemoglobina corpuscular média), CHCM (concentração hemoglobínica corpuscular média) e o cálculo do índice de anisocitose dos eritrócitos (RDW) e das plaquetas (PDW) e fornecem os histogramas de distribuição de volumes destas células. O Volume Corpuscular Médio é medido pela intensidade da alteração da corrente, quanto maior for a variação, maior foi a célula que passou pelo orifício e, ao terminar a contagem o equipamento calcula a variação média de alteração da corrente e determina o VCM além de analisar estatisticamente o coeficiente de variação desta alteração e assim determinar o RDW (Red Cell Distribution Width), ou o índice de anisocitose. A partir do valor do VCM, do número de eritrócitos e da dosagem de hemoglobina, o equipamento calcula os demais índices, como hematócrito, HCM e CHCM. c) Dispersão do Laser As técnicas até aqui descritas são utilizadas para a contagem global de leucócitos, eritrócitos, plaquetas e determinação do VCM. Atualmente os contadores eletrônicos são capazes de realizar a contagem diferencial dos leucócitos por meio da técnica denominada VCS (Volume – Conductivity – Scatter). Neste método a amostra é diluída com uma solução hipotônica, causando a lise dos eritrócitos e em seguida os leucócitos passam por um processo chamado esferotização, onde é utilizado um reagente leucoprotetor. Eles são então carreados para uma zona sensitiva, em que são diferenciados por suas características de volume, condutividade elétrica e dispersão da luz. AN02FREV001/REV 3.0 119 Volume: O volume celular é medido por meio da impedância elétrica anteriormente descrita. Condutividade: Utilizando radio freqüência, as ondas penetram na membrana lipídica dos leucócitos, coletando informações sobre estruturas internas, composição química e volume nuclear. Laser: Ao incidir um feixe de laser sobre a célula, este é desviado para todos os sentidos e um sensor detecta esse desvio, que está associado à presença de grânulos, lóbulos nucleares e superfície celular. FIGURA 70 - VOLUME FONTE: Disponível em: <www.beckmancoulter.com>. Acesso em: 15.02.2010 FIGURA 71 - CONDUTIVIDADE FONTE: Disponível em: <www.beckmancoulter.com>. Acesso em: 15.02.2010 FIGURA 72 - LASER FONTE: Disponível em: <www.beckmancoulter.com>. Acesso em: 15.02.2010 AN02FREV001/REV 3.0 120 Análise simultânea: Ao se analisar simultaneamente as três variáveis um software projeta um gráfico xyz e determina, pelas posições neste gráfico, a porcentagem de linfócitos, monócitos, neutrófilos, eosinófilos e basófilos. FIGURA 74 - ESQUEMA DO PRINCÍPIO ÓPTICO DE ANÁLISE POR CITOMETRIA DE FLUXO DOS APARELHOS SYSMEX ® FONTE: Disponível em: <www.sysmex.com>. Acesso em: 15.02.2010 FIGURA 73 – ANÁLISE SIMULTÂNEA FONTE: Disponível em: <www.beckmancoulter.com>. Acesso em: 15.02.2010 AN02FREV001/REV 3.0 121 Alguns equipamentos utilizados em hematologia: FIGURA 75 - GRÁFICO XYZ (VCS) ONDE: LINHA VERMELHA = VOLUME LINHA AZUL = CONDUTIVIDADE LINHA VERDE = LASER FIGURA 76 - PROJEÇÃO EM DUAS DIMENSÕES DO GRÁFICO XYZ FIGURA 77 - COULTER GEN-S ® FIGURA 78 - ABBOTT CELL DYN 3700 ® FIGURA 79 - ABX PENTRA 120 ® AN02FREV001/REV 3.0 122 13 ANÁLISE DO HEMOGRAMA A análise do hemograma, bem como demais exames laboratoriais, é uma atividade complexa que exige o conhecimento dos parâmetros normais e patologias relacionadas às alterações possíveis (e não são poucas). Os objetivos do curso são apenas o aprendizado e conhecimento dos padrões normais e alterações fisiopatológicas mais comuns que desencadeiam as alterações no hemograma, porém a interpretação é muito mais complexa e exige estudos complementares. O hemograma é solicitado basicamente para uma avaliação clínica geral; avaliação e diagnóstico de anemias, hemoglobinopatias, policitemias, aplasias medulares, processos infecciosos, leucemias/leucoses, trombocitose e trombocitopenia. O hemograma é uma das análises mais utilizadas na prática médica, pois seus dados gerais permitem uma avaliação extensa da condição clínica do paciente. Embora não seja um teste extremamente sensível e específico para determinadas patologias, pode ser encarado como um sinal e/ou sintoma integrante da avaliação inicial do paciente. No hemograma são avaliadas as três séries celulares componentes do sangue: eritrócitos, leucócitos e plaquetas, compondo o eritrograma, leucograma e plaquetograma. No eritrograma são contados os eritrócitos, medidas as concentrações de hemoglobina e hematócrito, determinados os índices hematimétricos (volume celular médio, concentração de hemoglobina corpuscular média, hemoglobina corpuscular média), além da determinação do RDW, que indica a variação do tamanho dos eritrócitos. No leucograma os leucócitos são contados em termos gerais, sendo classificados em uma contagem relativa em diferentes populações (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos), segundo suas características citológicas. No plaquetograma, as plaquetas são computadas e seu tamanho médio e variações de volume são determinados (MPV e PDW). Todas estas análises são seguidas por microscopia após coloração para avaliação das características e/ou alterações morfológicas de cada série. Estes dados em conjunto permitem AN02FREV001/REV 3.0 123 indicativos diagnósticos que, quando cruzados com outros dados e/ou resultados, são de extrema importância clínica. É extremamente importante o exame físico do sangue, que é a avaliação clínica do paciente ou a justificativa para a solicitação do hemograma ou, ainda, a suspeita clínica. O histórico do paciente é igualmente importante uma vez que um resultado isolado não necessariamente conclui um diagnóstico ou mesmo um prognóstico. Se um determinado paciente apresentar um hemograma alterado, este mesmo paciente pode ter apresentado um resultado anterior pior e, neste caso, é um bom prognóstico o resultado deste hemograma. 13.1 O LAUDO DO HEMOGRAMA Todo hemograma é dividido em três partes: eritrograma, leucograma e plaquetograma e deve reportar as seguintes informações para o clínico solicitante. 13.1.1 Eritrograma * Número de Eritrócitos: É o total de glóbulos vermelhos presente em 1,0 microlitro de sangue, sendo a representação em eritrócitos / µL. * Hemoglobina: O teste consiste em hemolisar todos os glóbulos vermelhos do sangue e então dosar a hemoglobina que estava presente no interior destes glóbulos, reportando o resultado em gramas de hemoglobina por decilitro de sangue (g/dL). * Hematócrito: Corresponde à proporção encontrada de parte sólida (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) em relação à parte líquida do sangue (plasma) sendo representada em porcentagem (%). VCM: Corresponde ao Volume Corpuscular Médio, ou seja, o tamanho médio dos eritrócitos presentes no sangue, sendo representado em fentolitros (fL). AN02FREV001/REV 3.0 124 HCM: É a Hemoglobina Corpuscular Média, ou seja, a quantidade média de hemoglobina presente dentro de cada eritrócito, sendo representada em picogramas (pg). CHCM: É a Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média, ou seja, é a concentração média de hemoglobina em 100 mL de eritrócitos sendo representada em grama por decilitro (g/dL). O CHCM difere do HCM pelo fato de quea concentração leva em conta o volume celular e o HCM apenas relaciona a hemoglobina total com o número de eritrócitos. Alterações morfológicas da série vermelha: após a descrição dos resultados acima descritos, o laudo do hemograma deve relatar também a presença de qualquer alteração morfológica presente no esfregaço sanguíneo. São inúmeras as alterações e cada uma corresponde a algumas situações clínicas. Caso não seja detectada alterações o resultado das alterações morfológicas da série vermelha é expresso como N.D.N., que na nomenclatura médica significa Nada Digno de Nota. RDW: O índice de RDW ou Red Cell Distribution Width corresponde ao índice de variação do tamanho dos eritrócitos e em outras palavras significa anisocitose. Quanto maior for valor do RDW maior será a variação no tamanho dos eritrócitos, ou seja, maior será a anisocitose. FIGURA 80 - RDW AN02FREV001/REV 3.0 125 O RDW ainda não é completamente aceito pela classe médica e alguns laboratórios não determinam numericamente o RDW e simplesmente convertem o índice em características morfológicas: anisocitose discreta anisocitose (+), anisocitose (++) ou anisocitose (+++). 13.1.2 Leucograma Número de Leucócitos: É o total de glóbulos brancos presente em 1,0 microlitro de sangue, sendo a representação em leucócitos / µL. Os leucócitos são constituídos por diversas células, das quais apenas seis são encontradas em sangue periférico de pacientes normais adultos: Linfócito, Monócito, Neutrófilo (ou segmentado), Eosinófilo, Basófilo e Bastão (segmentado jovem). Metamielócitos podem eventualmente ser encontrados no sangue periférico, porém em valores muito baixo, sem significado clínico. FIGURA 81 - ESQUEMA REPRESENTANDO A HEMATOPOIESE COM OS DIFERENTES ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO CELULAR FONTE: Disponível em: http://www.colorado.edu/Outreach/BSI/pdfs/Hematology_short.pdf Acesso em 15.02.2010. AN02FREV001/REV 3.0 126 O esquema acima representa uma parte da diferenciação da célula-tronco da medula óssea. Vale ressaltar que essa divisão é apenas didática e que biologicamente o processo é dinâmico, ou seja, a célula vai se diferenciando ao longo do processo até atingir a maturação completa e ser liberada para a corrente sanguínea. O bastão ou bastonete não está representado no esquema acima. Trata-se de um neutrófilo jovem, ficando localizado entre o metamielócito e o neutrófilo, no esquema acima. O normoblasto representa três fases de maturação: Eritroblasto basófilo, Eritroblasto policromatófilo e Eritroblasto ortocromático, em seguida reticulócito e eritrócito. A presença no sangue periférico de células jovens, ou seja, diferente das seis apresentadas, é um indicativo de alteração, podendo esta alteração ser fisiológica ou não. Algumas infecções severas, gestação, anemias, leucemias, etc. são alguns casos em que podemos encontrar células jovens no sangue periférico. A contagem diferencial dos leucócitos é representada em porcentagem e em valores absolutos. Os valores absolutos são apenas calculados com base na porcentagem dos leucócitos presentes com a contagem global de leucócitos. 13.1.3 Plaquetograma O plaquetograma não é muito solicitado uma vez que apenas o número de plaquetas é aceito em toda classe médica, sendo representado pelo número de plaquetas existentes em 1,0 microlitro de sangue (plaquetas / µL). Os índices como plaquetócrito, VPM (Volume Plaquetário Médio) e PDW (Platelets Distribution Width) são determinados pelos equipamentos mais modernos, porém ainda não são relatados nos laudos. Assim como no eritrograma, os índices plaquetócrito, VPM e PDW são representados da mesma forma que o hematócrito, VCM e RDW, respectivamente. AN02FREV001/REV 3.0 127 13.2 OS VALORES DE REFERÊNCIA DO HEMOGRAMA O hemograma está entre os exames laboratoriais que mais possui valores de referência normais em função de uma série de fatores, sendo o principal deles a idade, porém, raça, sexo e o local de residência (altitude em relação ao nível do mar) também são fatores que variam o valor de referência. Conforme a referência utilizada pode haver diferenças entre laboratórios com relação aos valores de referência de um mesmo paciente. AN02FREV001/REV 3.0 128 QUADRO 1 – VALORES DE REFERÊNCIA NO HEMOGRAMA Até 1 mês: Eritrócitos: 2,7 a 5,8 milhões/µL Hemoglobina: 10,0 a 18,0 g/dL Hematócrito: 27,7 a 58,4 % VCM: 86,0 a 120,0 fL HCM: 31,0 a 37,0 pg CHCM: 30,8 a 36,0 g/dL Leucócitos: 4.300 a 19.300 /µL Metamielócitos: 0 a 193 /µL Bastonetes: 129 a 1.158 /µL Segmentados: 1.032 a 13.703 /µL Neutrófilos: 1.161 a 15.054 /µL Eosinófilos: 0 a 772 /µL Basófilos: 0 a 193 /µL Linfócitos: 645 a 12.545 /µL Monócitos: 86 a 1.544 /µL 1 mês a 1 ano: Eritrócitos: 3,1 a 5,6 milhões/µL Hemoglobina: 10,0 a 14,0 g/dL Hematócrito: 27,8 a 41,4 % VCM: 74,0 a 89,0 fL HCM : 25,0 a 32,0 pg CHCM: 33,8 a 36,0 g/dL Leucócitos: 6.000 a 17.500 /µL Metamielócitos: 0 a 175 /µL Bastonetes: 180 a 1.050 /µL Segmentados: 1.140 a 5.075 /µL Neutrófilos: 1.320 a 6.300 /µL Eosinófilos: 60 a 700 /µL Basófilos: 0 a 175 /µL Linfócitos: 3.420 a 11.725 /µL Monócitos: 240 a 1.400 /µL 2 a 4 anos: Eritrócitos: 3,3 a 5,6 milhões/µL Hemoglobina: 10,5 a 14,5 g/dL Hematócrito: 29,5 a 41,3 % VCM: 74,0 a 90,0 fL HCM: 26,0 a 32,0 pg CHCM: 33,8 a 36,0 g/dL Leucócitos: 5.500 a 16.000 /µL Metamielócitos: 0 a 160 /µL Bastonetes: 165 a 960 /µL Segmentados: 1.430 a 5.760 /µL Neutrófilos: 1.595 a 6.880 /µL Eosinófilos: 55 a 640 /µL Basófilos: 0 a 160 /µL Linfócitos: 2.695 a 9.760 /µL Monócitos: 220 a 1.280 /µL 5 a 10 anos: Eritrócitos: 3,8 a 5,8 milhões/µL Hemoglobina: 12,0 a 15,0 g/dL Hematócrito: 34,1 a 43,8 % VCM: 6,0 a 91,0 fL CM: 26,0 a 32,0 pg CHCM: 33,8 a 36,0 g/dL Leucócitos: 4.500 a 13.500 /µL Metamielócitos: 0 a 135 /µL Bastonetes: 135 a 810 /µL Segmentados: 1.935 a 7.155 /µL Neutrófilos: 2.070 a 8.100 /µL Eosinófilos: 45 a 540 /µL Basófilos: 0 a 135 /µL Linfócitos: 1.440 a 5.940 /µL Monócitos: 180 a 1.080 /µL 11 a 15 anos: Eritrócitos: 3,9 a 5,9 milhões/µL Hemoglobina: 12,0 a 16,0 g/dL Hematócrito: 35,6 a 48,6 % VCM: 82,0 a 92,0 fL HCM: 27,0 a 31,0 pg CHCM: 32,9 a 36,0 g/dL Leucócitos: 4.500 a 13.500 /µL Metamielócitos: 0 a 135 /µL Bastonetes: 135 a 810 /µL Segmentados: 1.935 a 7.155 /µL Neutrófilos: 2.070 a 8.100 /µL Eosinófilos: 45 a 540 /µL Basófilos: 0 a 135 /µL Linfócitos: 1.440 a 5.940 /µL Monócitos: 180 a 1.080 /µL Homens: Eritrócitos: 4,5 a 6,7 milhões/µL Hemoglobina: 13,0 a 18,0 g/dL Hematócrito: 41,5 a 54,7 % VCM: 82,0 a 92,0 fL HCM: 27,0 a 31,0 pg CHCM: 32,9 a 36,0 g/dL Leucócitos: 5.000 a 10.000 /µL Metamielócitos: 0 a 100 /µL Bastonetes: 150 a 600 /µL Segmentados: 2.750 a 6.500 /µL Neutrófilos: 2.900 a 7.200 /µL Eosinófilos: 55 a 220 /µL Basófilos: 0 a 100 /µL Linfócitos: 1.000 a 3.200 /µL Monócitos: 200 a 800 /µL Mulheres: Eritrócitos: 3,9 a 5,9 milhões/µL Hemoglobina: 12,0 a 16,0 g/dL Hematócrito: 35,6 a 48,6 % VCM: 82,0 a 92,0 fL HCM: 27,0 a 31,0 pg CHCM: 32,9 a 36,0 g/dL Leucócitos: 5.000 a 10.000 /µL Metamielócitos: 0 a 100 /µL Bastonetes: 150 a 600 /µL Segmentados: 2.750 a 6.500 /µL Neutrófilos: 2.900 a 7.200 /µL Eosinófilos: 55 a 220 /µL Basófilos: 0 a 100 /µL Linfócitos: 1.000 a 3.200 /µL Monócitos: 200 a 800 /µL FONTE: GREER, John P. at al.: Wintrobe’s Clinical Hematology, v. 1 e 2, 11. ed. Os valores de Hemoglobina, da HCM e da CHCM são estabelecidos para pacientes vivendo à altitude e à pressão atmosférica de São Paulo (± 750 m e ± 705 mmHg). Pacientes de cidades litorâneas (2 m e 760 mmHg) apresentam valores, em média, 1% mais baixos e os de cidades altas (1.500 m e 650 mmHg) apresentam AN02FREV001/REV 3.0 129 valores, em média, 1% mais altos.O valor médio da faixa de normalidade da HCM para qualquer altitude pode ser obtido aplicando a equação: HCM = (altitude + 53333)/1864 onde: HCM = HCM média em pg altitude = altitude da cidade habitual do paciente em metros. Valores abaixo do valor inferior normal são denominados “...penia” e os valores acima do valor superior normal são denominados “...citose” ou “...filia”. Por exemplo: Uma contagem de leucócitos de 15.000 / µL para uma mulher é dito que esta paciente está com “leucocitose” e um homem com contagem de neutrófilos de 1.900 / µL está com “neutropenia”. 14 ALTERAÇÕES NO HEMOGRAMA A partir deste tópico serão analisados os valores alterados de cada item do hemograma e associados às determinadas alterações fisiopatológicas. 14.1 ERITRÓCITOS O número de eritrócitos no sangue é o grande responsável pela determinação do hematócrito, uma vez que representa aproximadamente 45% do volume sanguíneo. Vale ressaltar que estudos científicos comprovaram que o coeficiente de variação na contagem de eritrócitos é de 5,0% ou seja, em uma contagem de eritrócitos de 5 milhões, em 95% dos casos, a contagem não é exatamente 5 milhões e sim algum valor entre 4,5 e 5,5 milhões. AN02FREV001/REV 3.0 130 Um número elevado de eritrócitos consequentemente eleva o valor do hematócrito, exceto em casos de microcitose severa, que será descrita na análise do VCM. A eritrocitose é o aumento do número de eritrócitos no sangue e deve ser primeiramente analisada a pseudoeritrocitose, que nada mais é que uma eritrocitose causada não pelo aumento no número de eritrócitos e sim pela diminuição do volume plasmático, o que resulta em uma concentração maior de eritrócitos. A pseudoeritrocitose pode ser causada por desidratação, uso de diuréticos e outros fatores que possam reduzir o volume plasmático. De uma forma geral a eritrocitose é benéfica para o organismo uma vez que gera um maior transporte de oxigênio no organismo, porém quando o hematócrito ultrapassa 55% aumenta-se a viscosidade do sangue e esta passa a ser prejudicial. As eritrocitoses acentuadas (hematócrito acima de 60% para homens e 50% para mulheres) costumam ser reais, ou seja, há um aumento patológico na produção de hemácias. FIGURA 83 - ERITRÓCITOS NORMAIS VISTOS EM MICROSCOPIA ELETRÔNICA FONTE: < http://manmessias21.blogspot.com/2009/09/anemia-falciforme.html > Acesso em 10.01.2010 AN02FREV001/REV 3.0 131 As eritrocitoses moderadas necessitam de um diagnóstico diferencial (detectar a causa, uma vez que esta pode não ser patológica). Moradores de grandes altitudes e fumantes (mais que 20 cigarros dia) têm um número maior de hemácias na corrente sanguínea, assim como em situações de estresse e obesidade (Síndrome de Pickwick). Doenças crônicas como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e Síndrome da Apneia Noturna também elevam a produção de eritrócitos. Doenças como tumores secretantes de eritropoetina são mais graves. A mais comum é o hipernefroma, um tumor no rim e como este órgão produz eritropoetina (hormônio que estimula a produção de hemácias) há um aumento de eritrócitos proporcional ao tumor. Cardiopatias congênitas e hemoglobinopatias também elevam a produção de hemácias como forma de compensar a deficiência na oxigenação dos tecidos. Policitemia Vera: É uma doença mieloproliferativa crônica, clonal, que acomete pessoas na faixa etária de 60-65 anos. O hemograma apresenta eritrocitose, leucocitose e plaquetose e o tratamento é por meio de sangrias. A redução no número de eritrócitos será discutida juntamente com a hemoglobina, uma vez que estão intimamente relacionadas. 14.2 HEMOGLOBINA A hemoglobina é uma proteína presente no interior dos eritrócitos e eventualmente ligada a proteínas plasmáticas (quando há destruição de eritrócitos). É responsável por 97% da composição seca de uma hemácia e 35% de sua composição total, o que significa dizer que o eritrócito possui água e o restante é composto de 97% de hemoblogina e outras substâncias. É uma proteína conjugada complexa de peso molecular 64.458 daltons, constituída por quatro núcleos pirrólicos que conferem cor vermelha à hemoglobina, ligados a uma protoporfirina. Esta protoporfirina é o heme. Estes núcleos são ligados AN02FREV001/REV 3.0 132 a uma cadeia polipeptídica (globina). Quatro heme e quatro cadeias de globina formam uma molécula de hemoglobina. O grupo heme possui um átomo de ferro (Fe++) que se liga ao oxigênio. A globina é formada por quatro cadeias globínicas (polipeptídios). São sempre pareadas duas a duas. A Hemoglobina A1 (HbA1) corresponde a 97% das hemoglobinas em pacientes normais e possui duas cadeias α (141 aminoácidos) e duas cadeias β (146 aminoácidos). FIGURA 84 – GRUPO HEME FONTE: <misodor.com> Acesso em 12.02.2010 FIGURA 85 - ESTRUTURA QUATERNÁRIA DA HEMOGLOBINA FIGURA 86 - LOCAL DE LIGAÇÃO DO OXIGÊNIO NA HEMOGLOBINA FONTE: Disponível em: < infoescola.com >. Acesso em: 12.01.2010 FONTE: Disponível em: <sobiologia.com.br>. Acesso em: 12.02.2010 AN02FREV001/REV 3.0 133 FIGURA 87 - ESTRUTURA QUATERNÁRIA DA HEMOGLOBINA FIGURA 88 - LOCAL DE LIGAÇÃO DO OXIGÊNIO NA HEMOGLOBINA FONTE: Disponível em: <www.chemistry.wustl.edu/~edudev/LabTutorials/>. Acesso em 12/02/2010 FONTE: Disponível em: <www.chemistry.wustl.edu/~edudev/LabTutorials/>. Acesso em 12/02/2010 14.2.1 Anemia O termo anemia é muito empregado na classe médica como “doença”, porém a anemia é uma consequência de alguma alteração patológica, seja ela nutricional (deficiência de ferro, vitamina B12, etc.), genética (hemoglobinopatias), imunológica (anemia hemolítica autoimune), traumatismos (hemorragias), etc. O significado de anemia nada mais é que a redução na dosagem de hemoglobina abaixo do limiar inferior, ou seja, 12 g/dL para mulheres e 13 g/dL para homens, devendo então ser investigada a causa (doença) responsável pela redução nos níveis de hemoglobina. A elevação nos níveis de hemoglobina está muito mais relacionada com alterações fisiológicas que patológicas, ou seja, não existem ainda relações clínicas diagnosticadas com a elevação da hemoglobina, sendo esta mais benéfica para o organismo. Os sinais e sintomas da anemia variam conforme a forma com que se desenvolveu o quadro. Se a anemia for aguda, ou seja, desenvolvida subitamente, como nas hemorragias, os sintomas são semelhantes com a hipovolemia (queda do volume sanguíneo): queda na pressão arterial, taquicardia, pulso fino, sede, oligúria. AN02FREV001/REV 3.0 134 Se a anemia for crônica, ou seja, adquirida lentamente, como nas anemias carências (deficiência de ferro, vitamina B12, etc.) tem-se volemia normal e os sintomas variam conforme o grau de anemia: * Hemoglobina menor que 9,0 g/dL: Irritação, cansaço fácil, angina em coronariopatas e palidez; * Hemoglobina entre 6,0 e 9,0 g/dL: Palidez evidente, taquicardia e cansaço aos menores esforços. * Hemoglobina menor que 6,0 g/dL: Sintomas aos mínimos esforços. * Hemoglobina menor que 3,5 g/dL: Insuficiência cardíaca. Basicamente existem duas grandes classificações de anemias: as microcíticas (VCM reduzido) e as macrocíticas (VCM aumentado), o que significa dizer que, na maioria dos casos, nas anemias microcíticas o defeito está na hemoglobina e nas macrocíticas o defeito está na produção/maturação dos eritrócitos. O resultado do hemograma é essencial para se detectar o quadro de anemia e como a anemia é sinal de doença subjacente, deve-se investigar a causa, sendo as mais comuns. 14.2.1.1 Anemia pós-hemorrágica O hemograma apresenta-se normal, sendo representativo da perda apenas após 24-48 horas da perda sanguínea. Após sete dias apresenta os sinaiscomuns da recuperação, como reticulocitose e policromasia, que serão posteriormente discutidos. 14.2.1.2 Anemia ferropriva AN02FREV001/REV 3.0 135 A queda da hemoglobina é mais acentuada neste quadro, com redução considerável do VCM e HCM. O volume dos eritrócitos e a concentração de hemoglobina corpuscular reduzem devido à deficiência na produção de hemoglobina, que por sua vez está reduzida pela falta de ferro para sintetizar o heme. Na anemia ferropriva há um balanço negativo de ferro, isto é, a ingestão não está sendo suficiente para repor a necessidade do organismo. O ferro está presente em todas as células que o utilizam para suas funções e ao nascimento a criança recebe 300 mg da mãe. Dentre os mecanismos que levam a deficiência de ferro temos: * Aumento da necessidade na gravidez; (2º e 4º mês deve-se fazer reposição para alimentar mãe e filho). * Mulheres; excesso de menstruação leva à carência de ferro. * Problemas gástricos; perda de sangue crônica, reduzindo o depósito (ferritina), por exemplo: carcinoma e úlceras. * Má absorção de ferro na alimentação; parasitas intestinais, etc. * Dieta pobre em ferro. Mesmo com a falta de hemoglobina, os eritrócitos continuam seguindo seu processo de maturação na medula óssea, porém são produzidos “sem conteúdo”, ou seja, com volumes menores. A dificuldade em oxigenar os tecidos faz com a medula óssea libere os eritrócitos mais cedo na corrente sanguínea, resultado em aumento de reticulócitos e policromasia. Ao analisar a anemia ferropriva deve-se sempre estar atento à presença ou não de eosinofilia, uma vez que a presença concomitante de ambas sugere a possibilidade de parasitoses intestinais, já que os parasitas alimentam-se de sangue no intestino e dificultam a absorção de nutrientes. A causa mais frequente em crianças é a carência nutricional e em adultos é a perda crônica de sangue (menstruação excessiva e presença de sangue oculto nas fezes). Durante o tratamento à base de sulfato ferroso observa-se reticulocitose na segunda semana e aumento da hemoglobina na faixa de 1% ao dia, devendo repetir o hemograma após 40-60 dias e analisar as reservas de ferro do organismo após três meses. AN02FREV001/REV 3.0 136 14.2.1.3 Hemoglobinopatias As cadeias de polipeptídios que compõem a molécula de hemoglobina possuem a propriedade de liberação e fixação do oxigênio. Por isso qualquer alteração na produção ou conformação dessas cadeias resulta em um transporte ineficaz de oxigênio, e sua presença em níveis elevados é denominada hemoglobinopatia. Trata-se da presença de qualquer hemoglobina que não seja formada por duas cadeias alfa e duas cadeias beta (Hemoglobina A1). São doenças de origem genética que ocorrem devido à mutação dos genes Alfa (α), Beta (β), Gama (γ) e Delta (δ), responsáveis pela síntese da globina. A mutação nestes genes resulta em uma alteração na sequência de aminoácidos presentes na composição das cadeias da hemoglobina ou uma síntese não pareada das cadeias alfa e beta. Desta forma a síntese de hemoglobina A1 fica comprometida, gerando outras hemoglobinas que não possuem a capacidade de transportar oxigênio. A presença de hemoglobinopatias resulta em uma completa alteração na estrutura quaternária da hemoglobina e, como esta representa 97% da composição seca dos eritrócitos, há uma alteração na morfologia e na estrutura química dos mesmos, o que resulta em reconhecimento destas células como algo estranho no organismo pelo sistema imunológico e consequentemente há uma destruição destas células, ocasionando uma das formas de anemia hemolítica e, em consequência desta destruição dos eritrócitos há uma redução na dosagem de hemoglobina. Dentre as hemoglobinas “mutantes” temos: * Hemoglobina S: Foi a primeira hemoglobina anormal descrita na literatura. É uma Hemoglobina mutante, formada por um defeito genético na síntese da cadeia beta da Hemoglobina A1. Devido à alteração genética ocorre a troca do aminoácido ácido glutâmico pela valina no sexto aminoácido da cadeia beta da HbA1. Essa nova Hemoglobina produzida tem a propriedade de se polimerizar, formando cristais de AN02FREV001/REV 3.0 137 HemoglobinaS. Esses cristais alteram a forma da hemácia, alongando-as, dando a forma de foice. FIGURA 89 - HEMÁCIA EM FOICE (HEMOGLOBINA S) FONTE: Disponível em: <www.telmeds.org>. Acesso em: 10.01.2010 A prevalência é maior em negros e se apresenta sob a forma homozigoto (SS) mais grave e heterozigotos (AS) mais branda. Vale ressaltar que a eletroforese de hemoglobina e o teste de falcização de hemácias, que serão descritos posteriormente, são os exames de escolha para diagnosticar esse quadro. * Hemoglobina A2 (HbA2): É formada por duas cadeias alfa e duas cadeias delta, correspondem de 1% a 3% das Hemoglobinas do adulto normal. * Hemoglobina Fetal (HbF): É formada por duas cadeias alfa e duas cadeias gama, correspondendo a 1% das Hemoglobinas do adulto normal. É a prevalente nos recém-natos até seis meses de vida, sendo que na fase adulta a presença de Hemoglobina F é indicativa de hemoglobinopatia. * Hemoglobina C: É uma Hemoglobina mutante, formada por um defeito genético na síntese da cadeia beta da Hemoglobina A1. Devido à alteração genética ocorre a troca do aminoácido ácido glutâmico pela lisina no sexto aminoácido da cadeia beta da HbA1. AN02FREV001/REV 3.0 138 * Hemoglobina D: A substituição também ocorre na cadeia beta, porém na posição 121, o ácido glutâmico é substituído pela glicina. * Hemoglobina E: Na cadeia beta, 26º posição o ácido glutâmico é substituído por uma lisina. 14.2.1.4 Talassemias A talassemia é uma doença genética que envolve a formação desregulada e despareada das cadeias da globina. O processo de síntese dessas cadeias é controlado por sistemas que regulam a quantidade e a qualidade a ser produzida pelo corpo e, quando este sistema está alterado, a produção da globina está comprometida. Na talassemia existe um defeito que reduz até quase zero a produção das cadeias proteicas (globinas) presentes na hemoglobina. Este defeito pode ser da cadeia alfa, beta, gama, ou delta, e por isso há diferentes tipos de Talassemias. O tipo de talassemia mais comum no Brasil e no mundo é a Beta Talassemia, que afeta a produção de hemoglobina A1, a mais importante no corpo do adulto (97% do total). Dependendo da gravidade da deficiência, existem vários estados da doença, mas comumente se identificam dois grupos: Talassemia Minor e Talassemia Major. * Talassemia Minor: Na Talassemia Minor, a pessoa produz normalmente as duas cadeias alfa e uma das cadeias beta. O quadro possui bom prognóstico e faz com que a pessoa se desenvolva e viva normalmente, sem precisar de nenhum tratamento, pois o papel da cadeia beta ausente é compensado por uma maior atividade da cadeia beta existente. É muito importante saber, todavia, que a Talassemia Minor, por se tratar de uma deficiência genética, pode ser transmitida aos filhos e, se a pessoa se casar com outra também portadora de Talassemia Minor, tem 25% de chance em cada gravidez de gerar um filho com Talassemia Major. Os sintomas são semelhantes à anemia ferropriva, com a dosagem de hemoglobina na faixa de 9 a 11 g/dL e CHCM normal ou levemente reduzido. AN02FREV001/REV 3.0 139 FIGURA 90 - ERITRÓCITOS EM MICROSCOPIA DE VARREDURA DE PACIENTE COM BETA TALASSEMIA MINOR FONTE: Disponível em: <www.ciencianews.com.br>. Acesso em: 12.02.2010 * Talassemia Major: Também conhecida como Anemia do Mediterrâneo; Anemia de Cooley, do nome do pediatra que descobriu a doença em 1924; ou Beta Talassemia homozigota. A pessoa possui Talassemia Major quando herda um gene defeituoso do pai e um gene defeituoso da mãe. Neste caso não produz nenhuma das cadeias betada hemoglobina A1, fazendo com que a cadeia alfa não encontre o par para formar o tetrâmero, deformando o glóbulo vermelho, que será destruído ao passar através do baço. As crianças são aparentemente saudáveis ao nascer, desenvolvem ao longo do primeiro ano de vida os primeiros sinais da anemia que caracteriza a doença: palidez, desânimo, falta de apetite e hipodesenvolvimento. Com o tempo tornam-se ictéricos (a pele e a esclerótica ocular tornam-se amarelos). A anemia persistente leva a um aumento do baço, fígado e coração. Os problemas cardíacos e as infecções são as causa mais comuns de morte entre as crianças com Talassemia Major. FIGURA 91 - ERITRÓCITOS EM MICROSCOPIA - VARREDURA DE PACIENTE COM BETA TALASSEMIA MAJOR AN02FREV001/REV 3.0 140 FONTE: Disponível em: < estudandoraras.blogspot.com >. Acesso em: 12.02.2010 14.2.1.5 Anemia sideroblástica Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a anemia refratária com sideroblastos em anel (ARSA) é uma síndrome caracterizada por anemia em que 15% ou mais dos precursores eritroides no aspirado de medula óssea, são sideroblastos em anel. FIGURA 92 - SIDEROBLASTOS EM ANEL – ASPIRADO DE MEDULA ÓSSEA – COLORAÇÃO DE PERLS FONTE: Disponível em: <www.scielo.br/.../rbhh/v27n2/a07fig02.jpg>. Acesso em: 12.02.2010 AN02FREV001/REV 3.0 141 O sideroblasto em anel é definido como um precursor eritroide (eritroblasto com depósitos de ferro), em que a terça parte, ou mais, do núcleo, é rodeado por dez ou mais grânulos sideróticos (Ferro) ou células normoblásticas com cinco ou mais grânulos formando anel parcial ou completo ao redor do núcleo, demonstrados pela coloração de Perls. Na anemia refratária com sideroblastos em anel observam-se hiperplasia e displasia eritroide com presença de 15% ou mais de sideroblastos em anel. Utilizamos neste estudo a coloração de Perls em esfregaços de medula óssea de pacientes com idade superior a 40 anos e que apresentavam uma ou mais citopenias no sangue periférico associada à anemia. 14.2.1.6 Anemia das doenças crônicas (ADC) Trata-se da anemia que acompanha as infecções, dermatites, câncer, convalescença de traumas e cirurgias extensas, e reações inflamatórias. Nesses quadros, há uma captura excessiva do ferro pelo Sistema Retículo-Endotelial (SER), reduzindo sua concentração. O quadro pode apresentar anemia microcítica e hipocrômica (VCM: 75-85 fL e CHCM: 28 – 31 g/dL) ou normocítica e normocrômica (sem alterações no VCM e CHCM). A Anemia das Doenças Crônicas pode ser confundida com a anemia ferropriva, uma vez que ambas apresentam microcitose hipocromia e dosagem de ferro baixa, porém, alguns testes são úteis na diferenciação: O VHS (que será discutido posteriormente) está aumentado nas doenças que causam a ADC e reduzido na anemia ferropriva e talassemia. A dosagem da Transferrina (que também será discutida posteriormente) é muito útil e atualmente é o melhor método para diferenciá-las. Se a dosagem for menor que 15 mg/mL é indicativo de ferropenia (anemia ferropriva), se estiver normal ou elevada é indicativo de ADC, se estiver alta é indicativo de Talassemia e muito alta é indicativo de Anemia Sideroblástica. AN02FREV001/REV 3.0 142 14.2.1.7 Anemia por produção deficiente de eritropoetina A eritropoetina é um hormônio produzido nos rins e tem a finalidade de regular e controlar a maturação e diferenciação dos eritrócitos. Quando há uma produção deficiente deste hormônio tem-se um quadro de anemia que se caracteriza como normocítica e normocrômica e sem alterações morfológicas. A principal causa desta deficiência é a Insuficiência Renal Crônica (IRC) e há certo paralelismo entre o grau de anemia e o valor da creatinina (que será estudada posteriormente). 14.2.1.8 Anemia por síntese defeituosa de nucleoproteínas A redução na síntese de DNA, sem alterar o RNA e outras proteínas, causa um desenvolvimento assincrônico núcleo/citoplasma de células em proliferação. Como consequência tem-se uma eritropoiese ineficaz, resultando em poiquilocitose, aumento do VCM e HCM, com CHCM normal. Como há um “retardo” na diferenciação celular tem-se a produção de eritrócitos com mais hemoglobina, resultado em células maiores (macrocíticas), não havendo policromasia. As maiores causas são deficiência de Ácido Fólico e Vitamina B12. A diminuição do ácido fólico pode ser devido ao alcoolismo, gravidez, crescimento acelerado, uso de anticonvulsivantes ou mesmo dieta nutricional insuficiente. A deficiência de Vitamina B12 resulta na chamada Anemia Perniciosa e traz, além da anemia, distúrbios neurológicos. A vitamina B12, também denominada Cianocobalamina é absorvida no íleo (início do intestino) e para tal necessita o chamado Fator Intrínseco, uma proteína sintetizada pelas células parietais do estômago, que se liga à Vitamina B12, fazendo com que a mesma seja absorvida pelo intestino. AN02FREV001/REV 3.0 143 A ausência do Fator Intrínseco resulta em redução na síntese de DNA e pode ser detectada em pacientes que realizaram gastrectomia (cirurgia para redução do estômago), gastrite atrófica e pessoas de meia-idade. 14.2.1.9 Anemia por falta de precursores Na anemia por falta de precursores temos uma pancitopenia, ou seja, uma redução de todas as células sanguíneas (eritrócitos, leucócitos e plaquetas) resultado de aplasia medular. A Anemia Aplástica é a diminuição do poder de maturação/diferenciação da medula óssea, geralmente causada por infiltração da medula por células neoplásicas, granulomas ou necrose. Além destas causas temos a Anemia Aplástica Secundária, que o resultado da ação de substâncias como medicamentos (cloranfenicol, pirazolonas, sais de ouro), benzeno, radioterapia, além de alguns vírus como os da hepatite, e o parvovírus. 14.2.1.10 Anemia hemolítica A hemólise é a destruição dos eritrócitos, resultado em redução da vida- média do eritrócito para menos de 120 dias. Na hemólise compensada a medula óssea consegue manter os níveis hematológicos normais e Anemia Hemolítica é o quadro em que a sobrevida do eritrócito está em torno de 15 a 20 dias. Clinicamente o paciente apresenta icterícia (por acúmulo de bilirrubina, sendo a bilirrubina indireta o resultado da destruição da hemoglobina), ou seja, coloração amarelada da pele, AN02FREV001/REV 3.0 144 esplenomegalia (aumento do baço) e anemia. As Anemias Hemolíticas podem ser causadas por: * Esferocitose: Formam-se eritrócitos esféricos devido a um defeito autossômico dominante na Espectrina, principal proteína de membrana do eritrócito. As dosagens de hemoglobina são de 7 a 12 g/dL e Bilirrubina Indireta de 1 a 4 mg%. * Ovalocitose ou Eliptocitose: Defeito autossômico dominante, não causa anemia, apenas uma hemólise compensada. FIGURA 93 - ERITROBLASTOS EM LÂMINA DE PACIENTE COM ANEMIA HEMOLÍTICA FONTE: Disponível em: <www.farmacia.ufmg.br/.../slide0001.htm>. Acesso em: 12.02.2010 * Hemoglobinúria Paroxística Noturna: Doença adquirida em que as células precursoras geram eritrócitos com membranas estruturalmente anormais, resultado em susceptibilidade aumentada dos eritrócitos ao Sistema Complemento (auxilia o sistema imune na destruição de substâncias estranhas). A hemólise é intravascular, resultando na presença de hemoglobina na urina sem a presença de hemácias. O resultado é confirmado pelo Teste de Ham, que consiste em uma prova de lise ácida realizada em soro acidificado a 37ºC, na qual as hemácias comprometidas, diferentemente das normais, sofrem lise na presença de complemento. É um teste pouco sensível, mas com alta especificidade. AN02FREV001/REV 3.0 145 * Hemoglobinopatias: Todas as hemoglobinopatias resultam em anemia hemolítica com redução nos níveisde hemoglobina e aumento no nível de Bilirrubina Indireta. * Enzimopatias: A mais comum enzimopatia relacionada à Anemia Hemolítica é a Deficiência da Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD). Esse erro inato é causado por mutações no gene codificante para esta enzima que se encontra localizado no cromossomo X, sendo, portanto, uma herança ligada ao sexo. Como a deficiência está ligada ao cromossomo feminino (X), para que ocorra a expressão total da doença o gene não deve ser antagonizado por um cromossomo X normal. Portanto, a manifestação é mais grave nos homens (XY) e em um número reduzido de mulheres que apresentam ambos os X alterados. Mais de 400 mutações distintas já foram determinadas como responsáveis pela deficiência de G6PD. Tal deficiência afeta cerca de 400.000 indivíduos no mundo; no Brasil, 1 em cada 50 nascidos-vivos apresenta tal deficiência. A deficiência da glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) altera diretamente a estabilidade das hemácias, tornando-as vulneráveis à desnaturação oxidativa da hemoglobina, o que por sua vez leva a episódios hemolíticos intermitentes e à presença de corpúsculos de Heinz (discutidos posteriormente). A suscetibilidade à hemólise dos portadores da deficiência pode ser aumentada pela exposição a drogas com propriedades oxidantes, em situações de agressões virais ou bacterianas e na presença de distúrbios metabólicos. A apresentação clínica mais grave é a hemólise intravascular aguda, com hemoglobinúria e icterícia após quadros infecciosos ou exposição a drogas com efeitos oxidantes (sulfonamidas, sulfonas, analgésicos, antipiréticos, antimaláricos etc.). As manifestações clínicas podem aparecer ao nascimento ou os pacientes podem permanecer assintomáticos por vários anos, conhecendo a enfermidade após infecções ou exposição aos medicamentos supracitados. Quando o aparecimento dos sintomas é precoce, icterícia neonatal é comum e se desenvolve em um a quatro dias após o nascimento. Pode se apresentar de forma grave, evoluindo para acometimento renal, sequelas cerebrais ou mesmo óbito. O rastreamento neonatal é pertinente por se considerar a alta frequência do gene defectivo na população e pela possibilidade de profilaxia de crises hemolíticas AN02FREV001/REV 3.0 146 causadas por drogas e pela opção de medidas terapêuticas cabíveis, levando a um bom prognóstico. * Malária: O agente causador da malária (Plasmodium vivax e Palsmodium falciparum) utiliza-se de eritrócitos durante algum estágio do seu desenvolvimento, o que resulta em anemia hemolítica, uma vez que o organismo reconhece como estranho esse eritrócito parasitado. Há policromasia e aumento da Bilirrubina Indireta. FIGURA 94 - ERITRÓCITOS PARASITADOS POR PLASMODIUM SP FONTE: New York State Departmento Of Health. Disponível em: <http://www.wadsworth.org/>. Acesso em: 12.02.2010 * Imunológicas: A causa pode ser pela presença de Crioaglutininas, anticorpos da classe IgM que agem na faixa de 5 a 25ºC. Estes anticorpos aglutinam as hemácias, resultando em destruição das mesmas pelo sistema imunológico. Outra causa é a doença autoimune causada pela presença de anticorpos da classe IgG dirigidos contra a superfície das hemácias, fazendo com que as mesmas sejam capturadas pelo SRE. Há aumento de Bilirrubina Indireta e o teste de Coombs é positivo. 14.3 HEMATÓCRITO AN02FREV001/REV 3.0 147 O Hematócrito (Ht) é a proporção de elementos figurados em relação ao plasma, sendo uma representação geral acumulada das alterações de eritrócitos e hemoglobina. A técnica manual (micro-hematócrito) retém o plasma (cerca de 1 a 4%) gerando alterações nos índices. Nos equipamentos o hematócrito é calculado com base no número de eritrócitos e no VCM, sendo que o hematócrito automatizado é cerca de 1 a 2% menor que o obtido por técnica manual. O excesso de EDTA desidrata os eritrócitos, o que resulta em resultados menores que os reais. As dosagens de Hemoglobina e Hematócrito da amostra revelam a massa eritrocitária e a hemoglobina total, havendo uma relação entre a massa eritrocitária da amostra e a total. O aumento do volume plasmático (pseudoanemia) reduz o hematócrito e pode ser encontrado na gravidez, insuficiência renal, esplenomegalia e uso excessivo de líquidos endovenosos (soro). A diminuição do volume plasmático (pseudoeritrocitose) aumenta o valor do hematócrito, podendo ser observado com o uso de diuréticos, na obesidade, no estresse e em queimaduras. O valor de hematócrito normal pode ser encontrado na diminuição harmônica da volemia, como ocorre nas hemorragias e na elevação harmônica da volemia, como ocorre nas transfusões de sangue total. 14.4 ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS Os Índices Hematimétricos são o VCM, o HCM e o CHCM. Anteriormente todos eram calculados e com o advento dos contadores eletrônicos o VCM passou a ser medido e o hematócrito passou a ser calculado, permanecendo o HCM e o CHCM calculados. São itens “secundários” uma vez que, pelo fato de serem calculados, podem estar normais em situações graves, onde há redução concomitante e proporcional de eritrócitos e hemoglobina, por exemplo. AN02FREV001/REV 3.0 148 Por outro lado são importantes na detecção de desequilíbrio, por exemplo: um aumento no número de eritrócitos dentro da normalidade e uma redução também dentro da normalidade da hemoglobina, o que resultaria em índices de eritrócitos e hemoglobina normais, porém o HCM estaria reduzido. 14.4.1 Volume Corpuscular Médio (VCM) Avalia a média do tamanho (volume) das hemácias, que podem estar em seu tamanho normal (normocíticas – VCM entre 82 e 92 fL), diminuídas (microcíticas – VCM menor que 82 fL) ou aumentadas (macrocíticas – VCM maior que 92 fL). É um índice valioso quando determinado em contadores eletrônicos, uma vez que a determinação calculada utiliza os resultados do micro-hematócrito e a contagem de eritrócitos, ambos com alta porcentagem de erro e desvio padrão. O VCM é muito útil na determinação do tipo de anemia, uma vez que direciona o clínico para a pesquisa da causa da anemia. O achado de microcitose é comum em anemias por deficiência de ferro, nas doenças crônicas, nas talassemias, etc. O aparecimento de macrocitose pode estar associado à presença de um grande número de reticulócitos, ao tabagismo, à deficiência de vitamina B12 e de ácido fólico, etc. 14.4.2 Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) O HCM é o Índice Hematimétrico que corresponde à média de hemoglobina por eritrócito. Pode estar elevado na presença de macrocitose e diminuído na presença de hemácias microcíticas. Se obtido por contadores eletrônicos é uma excelente ferramenta para detectar desequilíbrios, porém, se obtidos pelo método manual tem-se as mesmas observações para o VCM. AN02FREV001/REV 3.0 149 14.4.3 Concentração De Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) É a avaliação da hemoglobina encontrada em 100 mL de hemácias, uma determinação em peso/volume, sendo o valor normal de 32,9 36 g/dL. Valores acima de 36 não são possíveis, salvo em casos de esferocitose devido à perda de porções de membrana e desidratação do eritrócito. Pelas técnicas manuais deve-se rejeitar valores altos do CHCM devido a possíveis erros para mais na hemoglobina e para menos no hematócrito. Esse índice permite a avaliação do grau de saturação de hemoglobina no eritrócito. A saturação da hemoglobina normal indica a presença de hemácias ditas normocrômicas. Quando diminuída, teremos hemácias denominadas hipocrômicas e, quando aumentadas, hemácias hipercrômicas. Atualmente, com o advento dos contadores eletrônicos, o CHCM passou a ser o melhor índice para determinar hipocromia, uma vez que independe da contagem de eritrócitos. 14.4.4 Red Cell Distributions Width (RDW) A variação do tamanhodas hemácias é analisada eletronicamente pela variação de pulsos obtidos durante a leitura. A análise dessa variação permite a obtenção desse novo índice, que representa a amplitude de distribuição dos glóbulos vermelhos, servindo como um índice de anisocitose, que se altera precocemente na deficiência de ferro, mesmo antes da alteração de outros parâmetros, como a alteração do VCM e a diminuição da hemoglobina. 14.5 ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS ERITRÓCITOS AN02FREV001/REV 3.0 150 Ao se analisar a morfologia eritrocitária deve-se levar em conta os valores obtidos pelos contadores eletrônicos e alguns aspectos do paciente como idade, sexo e dados clínicos. As alterações podem ser: 14.5.1 Alterações com Relação ao Tamanho * Macrocitose: Facilmente detectada se VCM for maior que 110 fL. É causada pela hiper-regeneração da medula ou síntese irregular de DNA, sendo muito comum no alcoolismo. Deve-se dar atenção especial a gestantes e idosos, presença concomitante de hipersegmentação de neutrófilos é forte indicativo de deficiência de Ácido Fólico e Vitamina B12. * Microcitose: Está diretamente relacionada com hipocromia, uma vez que reflete a redução na síntese de hemoglobina como deficiência de ferro, talassemia, hemoglobinopatias, etc. * Anisocitose: Diretamente relacionado com o RDW, sendo a representação morfológica deste. Embora seu significado ainda não seja bem definido, observa-se a presença precocemente na deficiência de ferro, mesmo antes da alteração de outros parâmetros, como a alteração do VCM e a diminuição da hemoglobina. FIGURA 95 - MICROCITOSE FIGURA 96 - MACROCITOSE FIGURA 97 - ANISOCITOSE Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal AN02FREV001/REV 3.0 151 14.5.2 Alterações com Relação à Coloração A coloração das hemácias reflete a concentração da hemoglobina e pode ser ocasionada pela diminuição da concentração de hemoglobina e consequente redução da cor, que leva à chamada hipocromia; pela presença de células com diferentes concentrações de hemoglobina, chamada de anisocromia ou pela presença de um grande número de reticulócitos, que caracteristicamente têm uma cor azulada, que, junto com a cor normal, produz a chamada policromasia. AN02FREV001/REV 3.0 152 14.5.3 Alterações com Relação à Forma/Coloração FIGURA 98 - POIQUILOCITOSE FIGURA 99 - POLICROMASIA Variação geral das formas das hemácias, que normalmente se apresentam em formato circular e com um halo central claro. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em:12.01.2010 FIGURA 100 – ELIPTÓCITOS Presença simultânea de eritrócitos azulados (eritrócitos jovens) com eritrócitos normais. Presente em tratamento com ferro, sangramento, hemólise, hipóxia acentuada. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Hemácias elípticas e ovaladas, que ocorrem na ovolacitose hereditária. Podem também ser encontradas em anemias carenciais e mais raramente nas talassemias e outras anemias. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Hemácia pequena, de forma esférica e hipercorada, que aparece em esfericitoses hereditárias e nas anemias hemolíticas autoimunes. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 FIGURA 101 - ESFERÓCITOS AN02FREV001/REV 3.0 153 FIGURA 102 - DACRIÓCITOS Hemácias em forma de lágrima. Ocorrem provavelmente por retardo da saída da medula óssea. Presente na metaplasia mieloide, na anemia megaloblástica, nas talassemias e na esplenomegalia. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Células em forma de alvo. Ocorre um excesso de membrana, fazendo com que a hemoglobina se distribua em um anel periférico, com uma zona densa central. Encontradas nas talassemias, na hemoglobina C, icterícia obstrutiva e na doença hepática severa. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 FIGURA 105 - ESTOMATÓCITOS Fragmentos de hemácias de tamanhos diferentes e com formas bizarras. Observados em muitos casos de próteses valvulares e vasculares, microangiopatias, síndrome hemolítica-urêmica, nos casos de queimaduras graves e na coagulação intravascular. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Eritrócitos em forma de estômago, presentes na Estomatocitose hereditária, alcoolismo, cirrose hepática, alterações na bomba de Na e K. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 FIGURA 103 - CODÓCITOS FIGURA 104 - ESQUIZÓCITOS: AN02FREV001/REV 3.0 154 FIGURA 106 - DREPANÓCITOS Hemácias em forma de foice, característica da anemia falciforme. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Hemácias pequenas com projeções irregulares. Presente na betalipoproteinemia hereditária e outras dislipidemias, na cirrose hepática, na hepatite do recém-nascido, na anemia hemolítica, após esplenectomia e após administração de heparina. 14.5.4 Inclusões e outras Variações das Hemácias As inclusões que podem ser observadas nas hemácias estão relacionadas a diferentes patologias e são consequência do aumento ou de defeitos da eritropoiese. Dependem, também, da capacidade do baço de retirar da circulação as hemácias malformadas. Outras alterações também podem ser observadas, como a presença de eritroblastos e a formação de rouleaux. FIGURA 107 - ACANTÓCITOS FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010. AN02FREV001/REV 3.0 155 FIGURA 108 - ANEL DE CABOT Figura em forma de anel observada nas anemias megaloblásticas, podendo, em alguns casos, torcer-se, assumindo um aspecto de oito (8). Pode também se observada em outras situações de eritropoiese anormal. É um filamento fino, de cor vermelho-violeta, concêntrico em relação à membrana celular, que resulta de restos mitóticos de mitoses anômalas. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Corpúsculo de inclusão pequeno, basófilo, restos nucleares de mitoses anômalas. São observados em pacientes esplenectomizados, nas anemias hemolíticas e megaloblásticas. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 FIGURA 109 - CORPÚSCULOS DE HOWEL JOLLY AN02FREV001/REV 3.0 156 FIGURA 110 - PONTILHADO BASÓFILO Granulações variáveis em número e tamanho, de cor azulada, agregados de ribossomos remanescentes. Podem ser encontradas na intoxicação por metais, especialmente o chumbo, nas talassemias, e em outras alterações da hemoglobina, nas mielodisplasias e em outras formas de anemia severa. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 Precipitados de hemoglobina desnaturada que podem ser encontrados aderidos à membrana das hemácias, em pacientes com anemia hemolíticas por algumas drogas, na deficiência da glicose-6-fosfato hidrogenase e nas síndromes das hemoglobinas instáveis. Para sua visualização é necessária coloração especial, como azul de cresil brilhante, que não é o caso da imagem acima. FONTE: Disponível em: <www.forobioquimico.com.ar>. Acesso em: 12.01.2010 FIGURA 111 - CORPOS DE HEINZ AN02FREV001/REV 3.0 157 FIGURA 112 - ROULEAUX Aglutinação das hemácias, que formam verdadeiras pilhas, podendo ser observadas em lâmina corada. São decorrentes da concentração elevada de fibrinogênio ou de globulinas, especialmente nas gamopatias monoclonais. Levam ao aumento da velocidade
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