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Diagnóstico e Prognóstico Diagnóstico É a base de atuação dos profissionais da saúde. Sem o diagnóstico não haverá proposta terapêutica correta, não será possível acompanhar a evolução da doença e nem preservar/restaurar uma função. Pilares do diagnóstico correto: conhecimento da doença, coleta de dados bem feita e raciocínio clínico. Likelihood ratio: é uma maneira de avaliar qual é a força de um determinado teste, sintoma, sinal para ajudar no diagnóstico de uma doença. É a característica mais importante de qualquer teste diagnóstico pois mostra se o teste confirma ou afasta uma hipótese. O diagnóstico é resultado de: Conhecimento médico: familiarização com os sintomas comuns do atendimento primário1 e com as entidades nosológicas prevalentes no país2. Obtenção de dados objetivos e subjetivos3 por meio da história clínica e exame físico. Registros organizados. Tempo necessário para a obtenção de um bom prontuário médico4. Capacidade de integrar dados seguindo a lógica do raciociínio clínico. Lista dos problemas encontrados em ordem de importância e significância. Uso racional e criterioso dos exames complementares. Busca do diagnóstico final pela seleção da nosologia que explique de forma mais adequada todos os achados. Revisão do diagnóstico, valorizando os dados positivos. Quando o paciente é hospitalizado, o diagnóstico é feito de maneira horizontal, mas quando o paciente é ambulatorial, é de forma vertical. No ambulatório, na maioria das vezes, encontra-se doenças comuns, benignas, de curta duração, autolimitadas, de reconhecimento diagnóstico difícil, induzindo o médico a “rótulos diagnósticos”5. Quando um paciente portador de doença crônica sem risco de vida imediato é atendido, deve-se utilizar a demora permitida para fazer o diagnóstico. É melhor fazer o atendimento de forma escalonada em várias consultas. É mais prudente tentar diagnosticar uma só doença que explique as queixas do paciente e os achados do exame físico. Quando o paciente apresentar dois ou mais problema de saúde, o que é comum em idosos, é melhor hierarquizar o que mais incomoda ou o que traz mais risco para o paciente Regras práticas para realizar o diagnóstico: Fazer sempre a sua observação clínica (anamnese e exame físico) pessoal. Evitar usar a observação de outras para ganhar tempo. Quanto menor a precisão das definições da síndrome clínica, da entidade nosológica e da hierarquização do diagnóstico diferencial, mais difícil será a escolha de exames complementares de maior especificidade e sensibilidade para confirmar o diagnóstico, eliminando os diagnósticos diferenciais não pertinentes. Quanto mais inadequada a anamnese, maior a dependência dos dados dos exames físico e complementares. OBS: quando se chega ao final da história clínica sem elementos ou noção de qual síndrome ou nosologia, dificilmente o médico avançará com os exames físico e complementares. Sintoma, sinal, síndrome e entidade nosológica Sintoma: sensação subjetiva anormal percebida pelo paciente e NÃO OBSERVADA pelo examinador. Ex: dor, náuseas, dormência, insônia e má digestão. Sinal: dado objetivo notado pelo paciente e OBSERVADO pelo examinador através do método clínico ou de exames complementares. Ex: tosse, edema, cianose, hematúria. Síndrome: conjunto de sintomas e/ou sinais que ocorrem associadamente e que podem ser determinados por diferentes causas. Ex: síndrome febril podendo se associar com infecções bacterianas. Entidade nosológica: doença bem definida com alteração/perda de função dos órgãos ou sistemas. Raciocínio diagnóstico Diagnóstico clínico: identificação de uma doença contemplando aspectos técnicos e operacionais necessários ao seu reconhecimento, posterior registro e catalogação junto ao serviço de documentação científica e ao Código Internacional de Doenças. O raciocínio clínico costuma ser mais baseado em probabilidades6 do que certezas. Por regra, deve-se aplicar o método científico de testar hipóteses procurando a alternativa que deixa a meta final mais próxima. Pode-se centrar em sintomas quando seu conjunto é comparado com o grupo de doenças que o apresentam. O método pode ser centrado na doença através da pergunta “o paciente tem doença x?”. Ao conhecer o sintomas reveladores, o padrão das doenças e a respectiva história natural, é possível checar quais dados serão necessários para o diagnóstico. Definição diagnóstica Os meios para a definição diagnóstica são: Reconhecimento de um padrão no qual a inferência é intuitiva: o diagnóstico “fácil” do “já visto”, o famoso “olho clínico”, muitas vezes fundamentado na narrativa. Fluxograma com base em diretrizes, consensos, protocolos e guias: conclusão dedutiva na qual são identificadas sinais e sintomas em uma árvore diagnóstica e são percorridas etapas preestabelecidas que convergem para um diagnóstico final. Método da exaustão: a anamnese é esmiuçada e se faz um meticuloso exame físico a fim de encontrar na narrativa do paciente elementos que ajudam a identificar a doença em questão. Nesse processo deve-se considerar aspectos sociais, familiares, escala de valores e crenças. Método hipotético dedutivo: são valorizados queixas, sinais, sintomas e achados para depois correlacionar com os conhecimentos da epidemiologia clínica que vão gerar hipóteses. Em seguida, o raciocínio clínico possibilitará o diagnóstico final, através da comparação com modelos, peso de evidências e descarte de hipóteses não validadas. Raciocínio fisiopatológico: baseado na história e na evolução temporal do quadro clínico, valorizando as queixas, os sinais, os sintomas e os achados semiológicos e as suas modificações durante o processo nosológico. Como limitar o número de hipóteses a ser testado? Lembre de uma hipótese apenas se tiver dados clínicos suficientes. Quando o conjunto de dados gerar várias hipóteses aplique as informações epidemiológicas sobre a frequência e a prevalência da doença em suspeição, analisando as mais frequentes e prevalentes antes das raridades e exceções. Use testes discriminadores/exames complementares entre as hipóteses que permaneceram escolhendo os de maior especificidade e acurácia. Tipos de diagnósticos Clínico: quando se reconhece uma doença utilizando a anamnese e o exame físico. Nem sempre pode ser feito sem outros métodos semióticos. Sindrômico: é feito pelo reconhecimento de uma síndrome e, apesar de não conseguir identificar a doença, ajuda na redução do número de possibilidades. Obs: quando o problema clínico se encaixa em uma síndrome bem definida, o raciocínio diagnóstico é mais fácil pois menos doenças deverão ser consideradas. Anatômico: durante o exame físico são encontradas modificações anatômicas provocadas por enfermidades. Funcional/Fisiopatológico: quando o órgão atingido pela enfermidade sofre um distúrbio de função e isso é expressado principalmente por sintomas. Etiológico: caracterizado pela identificação das causas de muitas doenças através das descobertas feitas pela medicina empírica. Histopatológico: quando se faz uso do microscópio no estudo dos tecidos para verificar lesões. Anatomopatológico: é constituído pelo exame simultâneo macro e microscópio de peças cirúrgicas ou após a morte, englobando os dagnósticos anatômicos e histopatológicos. Diagnóstico de Certeza: é um diagnóstico exato muito importante para a escolha de procedimentos terapêuticos específicos. O caminho para chegar nesse diagnóstico pode ser breve ou longo, dependendo da complexidade de cada caso. Hipóteses diagnósticas: são levantadas durante a realização do exame físico e devem ser confirmadas ou afastadas após a realização de exames complementares que são escolhidos de acordo com sua sensibilidade e especificidade. Diagnóstico diferencial: é feito pela análise comparativa das várias doenças que apresentam quadro clínico semelhante, procurando eliminar as de menor possibilidade. Deve ser feito utilizandotodos os elementos que possam ajudar no raciocínio clínico. O diagnóstico diferencial considera apenas as enfermidades prováveis em cada caso. A partir dele, chega-se ao diagnóstico mais provável ou mesmo ao diagnóstico de certeza. Diagnóstico principal: é referente a mais importante das afecções em um paciente que possui mais de uma condição mórbida. Os demais diagnósticos são considerados secundários. Check-up, rastreamento ou screening Em check-ups é possível ter um achado incidental sem significância clínica que, geralmente, são nosologias indolentes ou latentes (podem ser sequelas antigas) que se tornam iatropatogênicas. Nesses casos, o médico deve dar segurança ao paciente e fazer o acompanhamento até que tudo seja esclarecido. Comprovação diagnóstica Na prática médica atual é importante a comprovação diagnóstica no processo final de identificação de uma doença para o planejamento terapêutico e para fins periciais. Em ações judiciais contra os médicos, sua principal defesa é um prontuário detalhado que inclui os elementos comprobatórios. A perícia diagnóstica exige raciocínio lógico (racional) e abstrato, intuição (raciocínio analógico), experiência, vivência e as emoções no encontro médico e paciente. Acertos e erros diagnósticos Estudos revelam que a margem de acerto depende da qualidade da anamnese (80 a 85% deles). O exame físico contribui com 8 a 10% e os exames complementares cooperam com uma pequena parcela de acertos. As dificuldades diagnósticas costumam ocorrer nas seguintes situações: Doenças em estágio inicial com poucas manifestações clínicas Doença comum com apresentação atípica (comum em idosos) Doença psiquiátrica Doença mascarada (intercorrência, automedicação e iatrogenia) Desconhecimento da doença pelo médico Os erros diagnósticos não intencionais/fatalidades da profissão são classificados em: Ignorância ou desconhecimento da enfermidade e sua história natural Anamnese inadequada, inconsistente, superficial ou desconexa Semiotécnica inapropriada: incompleta, apressada, incorreta, local inadequado, iluminação e conforto prejudicados, más condições semiológicas (obeso mórbido, paciente com sequelas), pacientes não colaborativos e valorização exagerada de detalhes. Má interpretação dos exames complementares ou valorização indevida Solicitação irracional de exames complementares Manipulação do médico pelo paciente, pelo medo, pela mídia e pelo bolso Descompromisso com o seguimento clínico do paciente: dilui a responsabilidade do diagnóstico e do tratamento com múltiplos médicos sem que haja um coordenador da equipe Prognóstico Conhecer a história natural da enfermidade, prever sua evolução, possíveis consequências e comorbidades que gravitam em torno do diagnóstico principal associado com a estimativa das intercorrências às quais o pacinete está sujeito são elementos que não bastam por si só para um prognóstico preciso. O prognóstico pode ser determinado no que se refere à vida, à validez (incapacidade ou invalidez) e ao restabelecimento/cura do paciente. O prognóstico é produto de conhecimentos, vivências, experiências, dados fisiopatológicos e probabilísticos pois cada indivídua tem a sua singularidade. A avaliação prognóstica é indispensável na compravação diagnóstica, na medicina legal e na perícia médica. O valor significante do prognóstico pode ser exemplificado quando é solicitado informações ao médico pela família sobre quanto tempo de vida resta ao paciente terminal a fim de iniciar diversos procedimentos.. Glossário 1- Sintomas comuns do atendimento primário: febre, síndromes dolorosas, dor torácica, cansaço, astenia, vertigens, tontura, diarreia, infecção de vias respiratórias superiores bacterianas e virais, tosse e insônia. 2- Entidades nosológicas prevalentes no Brasil: HAS, dislipidemias, aterotrombose, insuficiência coronariana aguda e crônica, insufuciência cardíaca, acidente vascular encefálico, diabetes mellitus, osteoartrose, depressão, obesidade, DPOC, infecções do trato urinário, dispepsias, dengue, tuberculose, malária, doença de Chagas, AIDS, mal de Hansen, enteroparasitoses e ectoparasitoses. 3- Linguagem corporal, humor, sinais de sofrimento e estado de ânimo. 4-30 a 50 minutos a cada paciente em consulta inicial. 5- Viroses, gastrenterites, síndrome gripal, nevralgias e labirintites. 6-Probabilidade: o valor preditivo de um teste ou achado clínico depende não apenas de sua sensibilidade ou especificidade, mas também da prevalência da doença na população estudada.
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