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Ana Carolina Thomaz Mendes Abdome agudo obstrutivo Introdução a abdome agudo Abdome agudo é uma síndrome clínica caracterizada por dor na região abdominal, não traumática, súbita e de intensidade variável associada ou não a outros sintomas e que necessita de diagnóstico e conduta terapêutica imediata, cirúrgica ou não. O diagnóstico varia conforme sexo e idade. A apendicite é mais comum em jovens, enquanto a doença biliar, obstrução intestinal, isquemia e diverticulite são mais comuns em idosos. Classificações A classificação é de acordo com o seu processo desencadeante: Abdome agudo obstrutivo Abdome agudo perfurativo Informações gerais: é a terceira causa de abdome agudo, depois do inflamatório e do obstrutivo. A dor em geral é de início súbito e difuso e frequentemente vem associado com choque e septicemia. Etiologias: decorrente de processos infecciosos, neoplásicos, inflamatórios, ingestão de corpo estranho, traumatismos, iatrogênicas. Abdome agudo vascular isquêmico Informações gerais: dor abdominal intensa, desproporcional as alterações do exame físico. Os fatores de risco associados é idade avançada, doença vascular, fibrilação arterial, doenças valvares, cardiopatias, hipercoagulação. Embora seja raro, possui uma alta mortalidade. Etiologias: isquemia mesentérica aguda e crônica; colite isquêmica. Abdome agudo inflamatório Informações gerais: é tipo de abdome agudo mais comum e é uma consequência de processos inflamatórios/infecciosos. Etiologias: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda e diverticulite. Abdome agudo hemorrágico Informações gerais: pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum entre a 5ª e 6ª décadas de vida; em geral a dor aumenta progressivamente e pode ser acompanhado de manifestações de choque hipovolêmico. Etiologia: em jovens está mais associado a ruptura de aneurismas das artérias viscerais; em mulheres à sangramentos por causas ginecológicas e obstétricas e em idosos à ruptura de tumores, veias varicosas e aneurismas de aorta abdominal. Anamnese Caracterização da dor: cronologia, localização, irradiação, intensidade, características, fatores de melhora/piora; Sintomas associados (febre, náuseas, vômitos, diarreia, constipação, icterícia); Hábitos de vida: alimentares, ingesta hídrica, etilismo, uso de drogas ilícitas; Antecedentes patológicos e cirúrgicos; Uso de medicações: anticoagulantes, imunossupressores; Mulheres: data da última menstruação; dados sobre os ciclos; uso de método contraceptivo. Exame físico Sinais de alerta: taquicardia, hipotensão, taquipneia, febre, fascies de dor; Inspeção do abdome: distensão; equimoses; abaulamentos, cicatrizes. Ausculta: presença ou ausência dos RHA Percussão: avalia a distensão gasosa, ar livre intra-abdominal, grau de ascite ou a presença de irritação peritoneal; Palpação: avaliar dor, rigidez involuntária (peritonite) Ana Carolina Thomaz Mendes Exames laboratoriais Hemograma completo: fundamental para avaliação de processo infeccioso, em geral apresenta leucocitose; AST, ALT, GGT, bilirrubinas: avaliação de causas de abdome agudo de origem biliar, como colecistite e colangite; Amilase e lipase: quando elevadas podem sugerir pancreatite, isquemia intestinal ou úlcera duodenal; Eletrólitos, ureia e creatinina: avaliação das complicações de vômitos ou perdas de fluido para o terceiro espaço; Beta HCG: fundamental sua solicitação para todas as pacientes em idade fértil, para diagnostico diferencial de gravidez ectópica; Outros: VHS, TP, RNI, glicemia e sumário de urina. Exames de imagem Raio-X de abdome e tórax: muito utilizado devido ao baixo custo e fácil acesso, além de permitir diagnostico diferencial. O raio-X pode detectar efetivamente um pneumoperitôneo, sugerindo perfurações gastroduodenais, por exemplo. Também podem ser observadas calcificações no pâncreas e vesícula biliar ou distensão das alças intestinais, sugerindo um abdome agudo obstrutivo. A – raio-x de tórax em ortostase; B – raio-x em decúbito lateral. Pneumoperitôneo (setas). USG abdominal: muito eficiente na detecção de cálculos biliares e avaliação da vesícula biliar. TC de abdome: muito útil para avaliar complicações, principalmente em casos de abdome agudo inflamatório. Está sendo cada vez mais utilizadas devido a menor probabilidade de ser prejudicada pelo ar abdominal, como ocorre na USG. TC de apendicite não complicada. Seta indica espessamento da parede do apêndice retrocecal. abdome agudo obstrutIvo O abdome agudo obstrutivo corresponde a, aproximadamente, 20% dos casos de abdome agudo no departamento de emergência. Causas do abdome agudo obstrutivo Aderências (bridas) é a causa mais comum em pacientes com história de cirurgia prévia (a brida é mais comum no intestino delgado). Câncer colorretal – causa mais comum em pacientes sem cirurgia prévia e em obstrução no CÓLON. Ana Carolina Thomaz Mendes Hérnias encarceradas Volvo Intussuscepção Íleo biliar Fecaloma Síndrome de Ogilvie Doenças metabólicas Sinais e sintomas Cólica Náuseas e vômitos (os vômitos são inicialmente com conteúdo gástrico, seguido de bile, chegando a característica fecalóide) Ausência de flatos e fezes Distensão abdominal Hipertimpanismo No início do quadro pode haver aumento de ruídos hidroaéreos e posteriormente redução e ausência. O paciente também pode relatar diarreia explosiva (paradoxal), o que não exclui o abdome agudo obstrutivo. Nível da obstrução Obstrução alta A obstrução ocorre acima da válvula ileocecal (delgado). Na obstrução alta os vômitos são precoces e a parada da eliminação de gases e fezes ocorre tardiamente. O paciente pode apresentar alcalose metabólica, devido a perda de ácido no vômito. Obstrução baixa A obstrução ocorre abaixo da válvula ileocecal (cólon). Na obstrução baixa, inicialmente ocorre parada da eliminação de flatos e fezes e tardiamente os vômitos, que podem ser fecalóides. A distensão abdominal na obstrução baixa é importante. Os pacientes podem cursar com acidose metabólica, devido a perda de bicarbonato. Tipos de obstrução Obstrução simples Há sofrimento de alça, isquemia e peritonite. Obstrução mecânica Há um obstáculo físico à passagem do bolo alimentar. Exemplos: tumor, intussuscepção, volvo, bolo de áscaris. Obstrução funcional Corresponde a alteração na peristalse. Por exemplo: íleo paralítico (frequente no período pós-cirúrgico) e alteração de potássio. Obstrução em alça fechada Ocorre oclusão em 2 pontos diferentes do TGI (pontos proximal e distal- válvula ileocecal e sigmoide). Nesse caso, diz-se que a válvula ileocecal é competente e o fluxo é unidirecional, impedindo o retorno do conteúdo para o delgado. Quando a válvula ileocecal é INCOMPETENTE, as fezes podem retornar para o delgado e ocorrer o vômito fecalóide. Analisamos a obstrução em alça fechada no raio x de abdome, onde podemos ver a distensão do ceco ou volvo de sigmoide. Atenção: se o ceco apresentar distensão acima de 12 cm, ele está em iminência de rotura e é indicação de laparotomia. Exames de imagem Radiografia simples de tórax e abdome Raios-X de tórax póstero-anterior em posição ortostática; Raios-X de abdome anteroposterior em decúbito dorsal; Raios-X de abdome anteroposterior em posição ortostática. Se o paciente não conseguir ficar em pé, fazer o raio x em decúbito lateral esquerdo. Tomografia de abdome Se não houver resolução do quadro em 48 horas após inicio do tratamento clínico ou de acordo com a suspeita clínica do paciente. Os sinais tomográficos de obstrução intestinal são: dilatação das alças de delgado, com calibre superiora 2,5cm, nível hidroaéreo no seu interior e desproporção com segmento de alça distal com calibre normal indicando o nível da obstrução. A USG não tem utilidade em casos de abdome agudo obstrutivo. Achados característicos do abdome agudo obstrutivo Sinal do empilhamento de moedas das alças intestinais) obstrução alta. Níveis hidroaéreos Obstrução intestinal. A- Radiografia em decúbito evidencia distensão difusa de alças intestinais e radiografia em ortostatismo: presença de níveis hidroaéreos na mesma alça e níveis diferentes, difusos pelo abdome. Sinal da dupla bolha gástrica Indica atresia de duodeno. Sinal do grão de café em casos de abdome agudo Achados característicos do abdome agudo obstrutivo Sinal do empilhamento de moedas (dilatação obstrução alta. Radiografia em decúbito, ifusa de alças intestinais e B- ça de níveis hidroaéreos na mesma alça e níveis diferentes, Indica atresia Obstrução intestinal por volvo. demonstra distensão de alças com nível hidroaéreo segmento normal de cólon (setas amarelas); Reconstrução no plano coronal evidenciando o local do volvo (seta curva amarela). Tratament Reposição hídrica vigorosa. Reestabelecimento hidroeletrolítico. Jejum e descompressão do trânsito intestinal por sonda nasogástrica por 24 a 48h. Analgesia. Nos pacientes sem resolução ou melhora progressiva, deve-se avaliar a necessidade de tratamento cirúrgico para lise de aderências. Pacientes com peritonite, isquemia, iminência de rotura do cólon devem ser laparotomia. volvo. A- TC corte axial demonstra distensão de alças com nível hidroaéreo e al de cólon (setas amarelas); B- Reconstrução no plano coronal evidenciando o local do volvo (seta curva amarela). Tratamento Reposição hídrica vigorosa. Reestabelecimento hidroeletrolítico. Jejum e descompressão do trânsito intestinal por sonda nasogástrica por 24 a 48h. Nos pacientes sem resolução ou melhora se avaliar a necessidade de cirúrgico para lise de aderências. Pacientes com peritonite, isquemia, iminência de rotura do cólon devem ser submetidos a
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