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Marina Monnerat – 115 INFECÇÕES DE PELE E TECIDOS MOLES Aula 1 – P3 – Professora Alessandra Machado INTRODUÇÃO PELE: A pele é o maior órgão do corpo humano (16% do peso corporal). Formada pelas camadas derme e epiderme e endoderme. Relacionada com: o Regulação térmica; o Defesa inata; o Controle do fluxo sanguíneo; o Funções sensoriais. A pele íntegra é um mecanismo de proteção: (1) Barreira física; (2) Umidade limitada – ambiente seco; (3) pH abaixo de 7 – maioria das bac é neutrófila; (4) Temperatura da pele é inferior à T ótima para diversos organismos; (5) Salinidade (suor); (6) Ácidos graxos; (7) Microbiota residente – exclusão competitiva. TECIDOS MOLES: Interligam, apoiam ou protegem outras estruturas como músculos, tendões, gordura, vasos sanguíneos. Infecções de tecidos moles afetam estruturas entre pele e osso. INFECÇÕES DE PELE E TECIDOS MOLES Associadas à invasão direta de microrganismos, com destruição tecidual e possibilidade de produção de toxinas. O crescimento e essas toxinas geram o dano. A toxina da Clostridium perfringes lisa a membrana de nossas células. Podem ser agudas ou crônicas, monomicrobianas ou polimicrobianas. As poli precisam ser tratadas com antibióticos de amplo espectro. A perda de integridade da pele pode ser uma porta de entrada para microrganismos (micro e macrotraumatismos): o Queimaduras; o Processos cirúrgicos; o Implantes; o Mordeduras; o Picadas de insetos; o Escara (úlcera). O microrganismo pode ser disseminado (ou suas toxinas) por via hematogênica. É mais comum pele → sangue que sangue → pele. Principais microrganismos envolvidos com tais infecções: Streptococcus e Staphylococcus. O manejo de doenças de Staphylococcus é mais difícil devido à resistência antimicrobiana. MICROBIOTA RESIDENTE DA PELE GP: Staphylococcus e Micrococcus. GN: Acinetobacter. Anaeróbias GP: Propionibacterium acnes (envolvida na acne; utiliza sebo da pele para produzir ácido propiônico e reduz o pH (3-5). Regiões da pele com maior umidade (axilas, dobras das pernas) têm mais diversidade de bactérias. STAPHYLOCOCCUS Staphylococcus são cocos GP em arranjo estafilo. Não formam endósporos, são imóveis (não têm flagelos) e anaeróbios facultativos. Suas colônias podem ser com ou sem pigmento. São mesófilos (18-40°C), halotolerantes (crescem em altas concentrações salinas de 7-10%). São catalase +. Podem ser tanto coagulase +/ -. Staphylococcus coagulase positivos são capazes de transformar fibrinogênio em fibrina. Indicativo de S. aureus. STAPHYLOCOCCUS AUREUS Staphylococcus aureus fazem parte da microbiota residente do trato respiratório superior e da pele (não causam doença caso a integridade seja mantida). São cocos GP capazes de sobreviver em superfícies secas por um longo período de tempo. Formam colônias pigmentadas (carotenoides – amarelas). São coagulase +. No nosso corpo, o principal reservatório de S. aureus é a mucosa nasal. Devemos tomar cuidado com a transmissão por contato com mãos contaminadas (visitantes, pacientes e profissionais de saúde em hospitais). Marina Monnerat – 115 Essas bactérias possuem adesinas, invasinas, liberam toxinas (como TSS1) e enzimas. Envoltórios (externa para internamente): microcápsula → parede celular → membrana plasmática. A microcápsula é responsável pelo escape da fagocitose. 1. FOLICULITE, FURÚNCULO E CARBÚNCULO (folículo piloso) FOLICULITE: Infecção do folículo piloso resultante de obstrução. A base do folículo fica avermelhada e elevada. Terçol (pálpebra). FURÚNCULO: extensão da foliculite. Nódulos elevados, grandes e doloridos. São drenados espontaneamente ou após incisão cirúrgica. CARBÚNCULO: furúnculos coalescem e se estendem para o tecido subcutâneo mais profundo. Necessita de múltiplos pontos de drenagem. Localizado na nuca ou nas costas. Formação da foliculite / furúnculos / carbúnculos: Microrganismos (protegidos da defesa dos hospedeiros) multiplicam → intensa resposta inflamatória → deposição de fibrina (veda o sítio de infecção) → drenagem. Diagnóstico: clínico. Tratamento: drenagem. Caso a lesão seja extensa e o paciente apresente febre, o tratamento envolve, além da drenagem, terapia antimicrobiana. 2. IMPETIGO (epiderme) Infecção cutânea localizada e superficial. Vesículas com pus sobre base eritematosa. Crosta formada após ruptura da vesícula. Acomete face e membros. Pode ser monomicrobiana (só S. aureus) ou associada com S. pyogenes. 3. SÍNDROME DA PELE ESCALDADA Toxina esfoliativa gera destruição das conexões intercelulares e separação da camada superior da epiderme. Eritema (espalha em 2 dias). Epitélio fica intacto novamente após 7 a 10 dias. Não deixa cicatriz. Acomete neonatos, crianças e adultos imunocomprometidos. Tratamento: antimicrobianos. 4. SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO Apenas as linhagens de S. aureus que codificam a toxina TSS1. Essa linhagem não é a que causa infecção alimentar. Descoberto em mulheres em uso de absorvente interno (período menstrual – sangue é um meio rico) e crianças e homens com feridas infectadas. Crescimento localizado da bactéria (na ferida ou na vagina). Liberação da toxina (TSST1) na corrente sanguínea. Gera destruição de células endoteliais → morte por falência múltipla de órgãos. TSST1 é um superantígeno, que estimula células T e liberação de citocinas. Sintomas: o Febre alta; o Eritema difuso com descamação da pele; o Hipotensão. Tratamento: drenagem, reposição de líquidos e antibioticoterapia. STREPTOCOCCUS Streptococcus são cocos GP em arranjo diplo ou estrepto. São anaeróbios facultativos e fastidiosos. São catalase – (diferenciação com Streptococcus). Não se desenvolvem bem em manitol, mas sim em Ágar-sangue. Possuem cápsula (evasão da fagocitose). → CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA Divididos em 3 grupos que se sobrepõe: (1) padrão hemolítico, (2) grupos antigênicos ou de Lancefield e (3) propriedades bioquímicas e fisiológicas. A) PADRÃO HEMOLÍTICO: estreptolisinas (lisam eritrócitos e outras células) α-hemolíticos: hemólise parcial; halo verde. β-hemolíticos: hemólise completa; halo roxo. γ-hemolíticos: sem hemólise. B) GRUPOS ANTIGÊNICOS / LANCIFIELD Classificação baseada em antígenos capsulares e polissacarídeos da parede celular. Grupos A a W. Usada para diferenciar linhagens β-hemolíticas. As linhagens α e γ não possuem antígenos específicos. Marina Monnerat – 115 STREPTOCOCCUS PYOGENES Grupo A de Lancefield, β-hemolítico. Possui uma cápsula e são ubiquitários (microbiota transitória do trato respiratório superior e pele). “bactéria que come carne” – fascite necrosante. Fatores de virulência: macromoléculas de adesão (proteína M e ácido lipoteico), , cápsula enzimas (hialuronidase, streptolisinas, proteases, DNAses), exotoxinas (superantígenos). 1. PIODERMATITE ESTREPTOCÓCICA (IMPETIGO) Infecções purulentas localizadas nas camadas superficiais da pele (epiderme). Principalmente em crianças. Após lesões por traumas ou contato direto. Altamente transmissível. Às vezes pode ter também S. aureus. Cultura de pele positiva – infecção superficial 2. ERISIPELA Infecção aguda da pele (derme). Erupções formadas por placas eritematosas e de bordas elevadas. Se progredir: lesão de tecidos locais ou bacteremia (se atingir a corrente sanguínea). Crianças e idosos. Culturas de pele negativas – infecção profunda. OBS Toda bacretemia é sepsemia, mas nem toda sepsemia é bacteremia (pode ser fúngica, viral etc). Infecções cutâneas por S. pyogenes: Diagnóstico: . clínico Tratamento: . antibioticoterapia 3. GLOMERULONEFRITE AGUNA (GNA) Deposição de complexos imunes na membrana basal do glomérulo.Inflamação aguda do glomérulo: edema, hipertensão, proteinúria e hematúria. GNA após 2-3 semanas da infecção primária. Mais frequente após infecção cutânea que de orofaringe. Recorrência é rara – profilaxia com penicilina por longos períodos após infecções cutâneas não é indicada. OBS A febre reumática raramente ocorre após infecções cutâneas. 4. FEBRE ESCARLATINA Complicação de uma faringite. Erupções pelo corpo que se disseminam. Língua inflamada e vermelha, rosto muito avermelhado. Mas próximo à boca e ao nariz, sem alterações. Mediada por uma exotoxina. 5. CELULITE Infecção aguda da pele e tecidos subcutâneos. Mais profunda que erisipelas. Originada em lesões cutâneas superficiais (furúnculos). Associada a traumatismos, queimaduras, feridas ou incisões cirúrgicas. Raramente é hematogênica, mas pode levar à bacteremia. Sinais de inflamação local e sistêmica (febre, calafrios e mal-estar). Tratamento: antibioticoterapia que abranja Streptococcus e Staphylococcus. 6. FASCITE NECROSANTE (GANGRENA ESTREPTOCÓCICA) Infecção do tecido subcutâneo, com necrose extensa. Destruição do músculo e tecido adiposo. Bactéria introduzida através de cortes, traumas, queimaduras, cirurgias etc. Toxicidade, choque sistêmico e falência múltipla de órgãos. Alta taxa de mortalidade. Tratamento: + antibioticoterapia debridamento do tecido infectado (cirúrgico). 7. SÍNDROME DO CHOQUE TÓXICO ESTREPTOCÓCICO Inflamação do tecido no sítio da infecção. Dor e sintomas inespecíficos (febre, mal-estar etc) Exotoxina pirogênica (Spe A). Marina Monnerat – 115 Pode apresentar bacteremia e fascite necrosante, choque e falência múltipla de órgãos. 30% de morte. Grupo de risco: . imunocomprometidos INFECÇÕES INESPECÍFICAS CAUSADAS POR ANAERÓBIOS Condições que predispõem para infecções anaeróbias: (1) Perda do suprimento sanguíneo; (2) Presença de lesão tecidual; (3) Sistema imune comprometido; (4) Presença de anaeróbios facultativos. Sinais clínicos sugestivos de infeções inespecíficas por anaeróbios: Secreção com odor fétido (ácidos orgânicos); Necrose tecidual intensa; Abscessos; Produção de gases; Coloração negra. 1. CLOSTRIDIUM PERFRINGES Geralmente após trauma ou ferimento. Gangrena gasosa ou mionecrose. Rápida progressão e alta taxa de mortalidade. Destruição tecidual: produção de enzimas, toxinas e metabólitos (α-toxinas – fosfolipase que lisa células causando morte celular, colagenase). 2. PSEUDOMONAS AERUGINOSA Bacilo GN aeróbio. Coagulase negativo, resistente a vários antimicrobianos, cresce com facilidade. Infecções de indivíduos com queimaduras (pus azul-esverdeado). Dermatite por Pseudomonas: erupção autolimitada (piscinas, saunas, banheiras). Agua quente → abertura dos folículos pilosos → facilita a transmissão. Exo e endotoxinas. Foliculite, síndrome da unha verde, infecções em queimados. 3. PROPIONIBACTERIUM ACNES Anaeróbio da microbiota residente (desequilíbrio → doença). Acne inflamatória. Puberdade: alteração hormonal → sebo, queratinização e descamação dos ductos polissebáceos → multiplicação bacteriana. Acne cística nodular: nódulos ou cistos (lesões profundas, inflamadas e cheias de pus – deixa cicatrizes). Tratamento: antimicrobianos + isotretinoina (reduz formação de sebo).
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