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ARTHUR BITTENCOURT DENGUE • Uma das mais importantes arboviroses • Etiologia o Arbovírus, do gênero Flavivirus. o Vírus de RNA o 4 sorotipos: DENV-1-4 • Transmissão o Por vetores hematófagos. o Homem é o principal reservatório o Transmissão principalmente pelo Aedes aegypti. Também pode ser pelo Aedes albopictus. o Mosquito se alimenta do sangue de um indivíduo infectado, na fase de viremia, então, após 8-12 dias (período que o vírus se múltipla nas glândulas salivares do mosquito) surge a capacidade de transmissão, e a fêmea faz postura dos ovos em reservatório de água parada, desenvolvendo as larvas. § Fase de viremia: um dia antes da febre até o 6º dia de doença § Mosquito tem hábitos diurnos no início da manhã e vespertinos no final da tarde. § Em geral, não se afasta mais de 200m do local de ovoposição § Ovos podem permanecer viáveis por até 1 ano, inclusive com dessecamento, e após vir a chuva os hidrata de novo § Há relatos de transmissão vertical. Por transfusão sanguínea é possível na fase de viremia. Fômites e interpessoal não passar • Patogênese o Após inoculação pela picada, o vírus se replica nas cls mononucleares dos linfócitos locais ou cls musculares esqueléticas, produznindo viremia. No sangue, o vírus entra nos monócitos, e tem a segunda onda de replicação. Nestas células ou no plasma se dissemina para todo o organismo sendo predominante em macrófagos e depois em células musculares esqueléticas o que gera intensa mialgia final passa a ocorrer nos macrófagos presentes no sistema retículo endotelial a reaplicação. a febre é pela liberação de substâncias como TNF-alfa e IL-6. o Resposta imunológica começa a surgir na primeira semenana de doença o A ortir do 6º dia surge o IgM e tem pico no final da primeira semana e persiste no soro por meses. IgG surge na primeira semana e tem pico no final da segunda semana, ficando positivo por anos. o Forma grave § Em geral ocorre em pctes que já se infectaram por algum sorotipo de vírus e, anos depois, voltam a se infectar com outro sorotipo, mas isso não é obrigatório • Explicação: na primo-infecção o sistema imune produz ac contra o primeiro sorotipo (ac homólogos) que permanecem por toda a vida do indivíduo e oferecem proteção também contra outros sorotipos (imunidade ARTHUR BITTENCOURT cruzada/heterólogo), mas de curta duração. Quando ocorre nova infecção por um sorotipo diferente (infecção secundária), os ac existentes não conseguem neutralizar o sorotipo diferente (pois para no novo sorotipo são ac heterólogos e “subneutralizantes”) gerando a dengue grave – teoria de Halstead, em que propõe que a ligação do ac heterólogo com o novo sorotipo não irá neutralizar e ainda facilita entrada do vírus no macrófago, assim, mais vírus ganha o interior os fagócitos e se proliferam em larga escala, gerando tempestade de citocinas e proteases ativadoras do complemento e tromboplastina. • Liberação maçica de fatores pró-inflamatórios gera o quadro de dengue grave: aumento súbito e generalizado da permeabilidade capilar, levando a transferência de líquido IV para o interstício, gerando hipovolemia relativa e hemoconcentração, gerando choque e falência multiplica. • Trombocitopenia inicialmente por degradação das plaquetas e após por CIVD • Outras teorias: de Rosen (cepas mais virulentas) e da Multicausalidade (mistura das duas e mais variáveis individuais e virais) § Chance de dengue grave maior quando pelo sorotipo 2. § Em termos de virulência, em ordem decrescente: 2, 3, 4, 1. § Nem sempre o portador • MC o Maioria se recupera por completo após alguns dias, no entanto, alguns doentes podem evoluir de forma desfavorável, em geral quando a febre melhora, devido ocorrência de fenômeno de extravasamento plasmático, em geral precedido por sinais de alarme e alterações clinicolaboratoriais o Outros pacientes também evoluem de forma desfavoráveis, mesmo sem extravasalemento de plasma, que são os indivíduos que desenvolvem hemorragias graves ou lesões em órgãos específicos o 3 fases evolutivas: febrel, crítica e recuperação § Febril • Febre alta (39-40°), início súbito, duração de 2-7 dias. • Em geral acompanhada de adinamia, cefaleia, dor retro- orbiária, mialgia, artralgia. Queixas do TGI frequentes (anorexia, náuseas, vômito, diarreia branda 3-4x/dia) • 50% desenvolve exantema maculopapular, que pode ou não ser pruriginoso, acometendo, de forma aditiva, a face, tronco e extremidades, mas poupando pasmas e plantas. Esse exantema costuma surgir durante a defervescência e dura no máximo 36-8h • Maioria dos pctes passa da fase febril diretamente para a fase de recuperação ARTHUR BITTENCOURT § Crítica • Somente alguns doentes passam por essa fase • São os indivíduos que desenvolvem extravasamento plasmático, normalmente tem história prévia de infecção por sorotipo diferente. • Se instala durante a defervescência (3-7° dia após início dos sintomas). • Suas primeiras manifestações em geral com sinais de alarme o Dor abd intensa, referida ou a palpação, contínua o Vômitos persistentes o Hipotensão ortostática e/ou lipotimia o Hepatomegalia >2cm abaixo do rebordo costal o Sgto de mucosas o Letargia e/ou irritabilidade o Acúmulo de líquido (ascite, DP, derra pericárdio) o Aumento progressivo de Ht • Choque ocorre em geral 24-48h após o extravasamento plasmático, sendo que na maior parte das vezes o choque é evidente entre o 4-5 dia após doença. Uma vez instalado, choque leva ao óbito em 12-24h. • Assim, sinais de alarme devem receber reposição volêmica IV imediatamente e monitorização hemodinâmica. ARTHUR BITTENCOURT Figura 1 Medcurso 2020 • Hemorragia digestiva é mais frequente em quem tem história de úlcera péptica, uso de AAS, AINE ou anticoagulante. • Miocardite altera o ritmo cardíaco, altera repolarização ventricular e disfunção contrável, acompanhado ou não de aumento dos marcadores de necrose miocárdica. • 50% tem aumento das aminotransferases hepáticas, em geral leve, mas se >10x o LSN, principalmente se com déficit sintético, indica hepatite grave. • MC neurológicas podem ser vistas a qualquer momento da doença, como irritação, convulsão, meningite linfomonocítica, sd d Reye, polirradiculoneurite, encefalite. • LRA incomum na ausência de choque, porém, quando presente, acarrea em grnde piora do px. § Fase de recuperação • Pctes com tto apropria da fase crítica entra nessa fase em poucos dias e o líquido extravasado para o espaço extravascular começa a ser reabs, com melhora gradual do quadro. • Deve0se estar atendo pela possibilidade de hiper- hidratação, com hipervolemia. ARTHUR BITTENCOURT • DU pode ficar aumentado e muitos pctes apresentarem alteração de ECG, com bradicardia. • Dx o Leucocitose significativa, especialmente se com DE, praticamente afasta o dx de dengue e sugere infecção bacteriana ou leptospirose. o DD Figura 2 Medcurso 2020 Figura 3 Medcurso 2020 ARTHUR BITTENCOURT § DD com meningococcemia: na dengue as petéquias e equimoses são são vistas após 3-4 dias § Icterícia fala contra dengue e fala mais a favor de malária, leptospirose, hepatite viral, sepse, febre amarela o Confirmação de dx § Até o 5º dia somente métodos que identifiquem diretamente o vírus e suas partículas, mas a negativa não descarta, devendo o dx definicito ser feito após ausência de IgM a partir do 6º dia • Pesquisa de antígeno viral – dosagem do antígeno NS1 (detectado até o 5º dia, e exame deve ser feito idealmente até o 3º dia, de preferência no mesmo dia do início da febre. Sensibilidade menor se história de dengue). • Isolamento viral por cultura • Teste de amplificação gênica – PCR • Imunohistoquímica tecidual § No 6º dia em diante, dx com sorologia, com pesquisa de IgM. • Classificação de caso o Suspeito § Pessoas em área de transmissão ou viajado para locais endêmicos nos últimos 14 dias, apresentandofebre de 2-7 dias e ≥ 2: • Náuseas, vômitos • Exantema • Mialgias, artralgias • Cefaleia, dor retro-orbital • Petéquias • Prova do laço positiva o Deve ser feita em todo pcte com suspeita, e consiste em insuflar manguito do esfimo até o valor médio da PA aferida ((PAS + PAD)/2), desenhar um quadro de 2,5cm no antebraço e ver se surge petéquias ou equimoses dentro dele. No adulto, teste feito por até 5 minutos, e nas crianças até 3 minutos. Se ≥ 20 petéquias em adulto ou ≥ 10 em criança define-se positivo. o Obesos e choque pode dar falso negativo • Leucopenia § Em criança, qualquer quadro febril agudo de 2-7 dias sem foco aparente, desde que a pessoa tenha estado em área de transmissão nos últimos 14 dias o Suspeito com sinal de alarme § Suspeito + com sinal de alarme na defervescencia. o Suspeito de dengue grave § Suspeito + ≥1 • Choque • Sgto grave por avaliação médica ARTHUR BITTENCOURT • Lesão grave de órgãos específicos, como dano hepático importante (ALT ou AST >1000), acometimento de SNC, dor coração... o Caso confirmado § Em situações de epidemias, os primeiros casos devem ser dx com exames laboratoriais e os demais pode ser somente critérios clinicoepidemiológicos § Todo caso de dengue grave idealmente deve ser confirmado. o Caso descartado § Todo caso suspeito que ≥ 1 • Exames negativos • Confirmação de outra doença • Ausência de labs, mas investigação clínica e epidemiológica sugestiva de outra doença • Tto o Não tem droga específica o Sintomáticos + hidratação VO ou, caso SN IV o AAS e AINE contraindicado já na suspeita, pelo risco de sgto (inibição plaquetária). o Abordagem cicloevolutiva Figura 4 Medcurso 2020 § Grupo A • Definição: caso suspeito + sem sinal de alarme + sem sgto espontaneo ou induzido por prova do laço + pcte sem comorbidades crônicas importantes + sem condições clínicas especiais ou risco social • Cd dx: exame em situação não epidêmica. • Tto: ambulatorial, com hidratação VO. ARTHUR BITTENCOURT o Adultos: 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 SRO e 2/3 líquidos caseiros. 1/3 do volume já deve ser ofertado no início do tto em até 4-6h. o < 13 anos: regra de Holliday-Segar + reposição de perdas de 3%. Oferta como no adulto. § Até 10kg: 130 ml/kg/d § 10-20kg: 100 ml/kg/d § > 20kg: 80 ml/kg/d o Retornar apara avaliação no dia que a febre sumir, e se isso não ocorrer, reavaliação após 5 dias. § Grupo B • Definição: caso suspeito + sem sinal de alarme + COM sgto espontaneo ou induzido por prova do laço. Entra também pcte COM comorbidades crônicas importantes (DPOC, DM, HAS, IRC, doença péptica...) ou COM condições clínicas especiais (< 2 anos ou > 65 anos, gestane) ou COM risco social • Cd dx: exame em situação não epidêmica. HMG obrigatório para avaliar Ht • Tto: Enquanto aguarda resultado do HMG, recebe hidratação VO conforme grupo Anos Se Ht normal, tto ambulatorial e reavaliação diária, por até 48h após o desaparecimento da febre. Se Ht aumentando, sinal de alarme e conduz como grupo C Figura 5 Medcurso 2020 § Grupo C • Definição: caso suspeito + COM sinal de alarme • Cd dx: exame específico obrigatório. HMG, aminotransferases, alb sérica, rx de tórax (PA, perfil, Laurell), USG de abd obrigatórios (avalia derrame cavitário) • Tto: reposição volêmica IV imediata o Fase de expansão 20 ml/kg em 2h, infusão gradual § 1ª hora do atendimento: SF 10 ml/kg/h § Reavaliação após cada etapa ARTHUR BITTENCOURT § 2ª hora do atendimento: mantem o SF § Ht deve estar disponível • Sem melhora do ht e/ou sinal hemodinâmicos: repetir expansão até 3x • Se após 3 repeticoes não melhorar: conduzir como Grupo D • Melhora do ht e dos sinais hemodinâmicos: fase de manutenção o Fase de manutenção § 1º etapa: 25 ml/kg em 6h. Se melhorar, passar para 2ª etapa § 2ª etapa: 25 ml/kg em 8h, sendo 1/3 SF e 2/3 SG 5% § Se piora a qualquer momento, tratar como grupo D o Pcte internado por pelo menos 48h. Após poder dar alta, segue como grupo B § Grupo D • Definição: suspeito + presença de sinais de choque, sgto grave ou disfunção grave de órgãos o Sinais de choque: taquicardia, extremidades frias, pulco fraco e filiforme, TEC > 2s, PA convergente < 20 mmHg, taquipneia, oligúria < 1,5 ml/kg/h, hipotensão arterial e/ou cianose o Cd dx: exames do grupo C o Tto: § Fase de expansão rápida: SF ou RL 20 ml/kg em até 20 minutos • Sem melhora clínica, repetir fase de expansão rápida até 3x • Reavaliação clínica a cada 15-30 minutos, Ht em 2h • Se houver melhora clínica e laboratorial, conduzir como grupo C, iniciando pela ase de expansão • Se não houver melhora após 3 etapas de expansão rápida, avaliar Ht o Ht em ascensão e choque: Albumina 0,5-1 g/kg ou coloide sintético 10 ml/kg/h o Ht em queda e choque: ver se há hemorragia e coagulopatia de consumo ARTHUR BITTENCOURT § Se hemorragia: CHAD 10-15 ml/kg/d § Avaliar CIVD com TAP, PTTa, plaquetas, fibrinogênio, PDF e ministrar conforme necessário plasma fresco congelado (10 ml/Kg), vit K e crioprecipitado (1 U para cada 5-10kg de peso) e considerar uso de plaquetas se sgto persistente não controlado, depois de corrigir os distúrbios de coagulação e choque, na presença de plaquetopenia. o Ht em queda sem hemorragia ou coagulopatia de consumo § Instável: provável ICC, devendo reduzid infusão de líquidos e dar diurético e inotrópicos § Estável: melhora o Internação § ≥1 • Sinais de alarve, choque, sgto grave, disfunção grave de órgãos • Recusa alimentar/líquidos • Comprometimento respiratório com dor em tx, dificuldade de respirar, diminuição do MV, outros sinais de gravidade • Impossibilidade de seguimento ou retorno na UBS • Comorbidades descompensadas como DM, HAS, IC, uso de cumarínicos, crise de asma • Outras situações ACM o Alta § Todos • Ausência de febre por 48h sem medicação • Melhor do quadro visivelmente ARTHUR BITTENCOURT • Ht normal e estável por 24h • Plaquetas em ascensão e > 50.000 • Estável por 48h • Vacina o Rede privada: Dengvaxia, para 9-45 anos, com 3 doses (0-6-12m). Contraindicada em imunodeprimidos e grávidas. o Quem já teve dengue pode suar.
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