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AULA 1 PROJETO POLÍTICO- PEDAGÓGICO Janice Mendes da Silva 02 CONVERSA INICIAL Olá, alunos e alunas! Sejam bem-vindos à disciplina de Projeto Político-Pedagógico (PPP). Vamos iniciar este estudo compreendendo que o PPP se configura como eixo central das ações dos gestores escolares e, por isso, precisamos rever os pressupostos da gestão educacional, a qual está associada ao fortalecimento da ideia de democratização do processo pedagógico, entendida como participação de todos nas decisões e na sua efetivação (Lück, 1998). CONTEXTUALIZANDO A centralidade do PPP da escola está relacionada às políticas públicas e à gestão educacional. Portanto, ao discutirmos sobre ele, precisamos considerar as concepções de gestão e a implementação de processos de participação e decisão, analisando, assim, o papel da gestão ao elaborá-lo. O maior desafio está na interatividade, no diálogo e na flexibilização subsidiada pela gestão. Esta, por sua vez, necessita ter caráter democrático. Vale ressaltar ainda a existência da gestão educacional no contexto da escola pública, que abarca as diferentes concepções e práticas de planejamento. Diante disso, reflita sobre o questionamento a seguir: De que forma a gestão escolar pode envolver o grupo (docentes, comunidade, administrativos) na construção e reconstrução do PPP? TEMA 1 – GESTÃO E PLANEJAMENTO: PERSPECTIVA HISTÓRICA Como as teorias administrativas contribuíram para a organização do espaço educacional e a sistematização do planejamento? O que você entende como gestão, gerência e supervisão? Será que são termos recentes? Como esses termos chegaram ao espaço educacional? A origem das palavras gerência, gestão e supervisão remonta ao processo industrial de produção, que demandava o controle do processo produtivo do trabalhador. Na época da Revolução Industrial, o trabalho passou a ser desenvolvido de maneira mais complexa e, com isso, surgiram novas relações sociais e também a necessidade de organizar e controlar o trabalho, o tempo de produção, a quantidade e a qualidade. Nesse contexto histórico, criou-se a função gerencial, que tem como atribuição controlar o trabalho, tendo em vista a eficiência 03 da produção e o atendimento aos interesses do empresário, visto que as indústrias passaram a empregar grande número de trabalhadores. No entanto, se o foco de nossa disciplina é o PPP, por que precisamos saber sobre a organização do trabalho no contexto das teorias administravas? Precisamos conhecer esse contexto porque a gênese da teoria da gestão educacional está vinculada às novas relações sociais advindas do capitalismo, da Revolução Industrial e da manufatura, e está ligada à necessidade de controle, qualidade e quantidade e ao planejamento. Mas como o contexto empresarial contribuiu para a organização do planejamento no espaço educacional? Muitos conceitos e práticas sobre planejamento estão diretamente vinculados à categoria trabalho. As diversas configurações e condições sociais e históricas contribuíram para que a organização do trabalho produtivo influenciasse a sistematização do planejamento. Assim, entendemos que o processo de planejar remete à própria evolução do homem e ao seu processo civilizatório. Ao longo da história, muitos estudos foram feitos na tentativa de se pensar e organizar a escola da mesma forma que se organiza uma fábrica. Entretanto, muitos estudiosos tentaram desarticular essa relação, discutindo a educação em seu contexto dialético e como espaço de autonomia, envolvendo a totalidade das relações sociais. Saiba mais Para entender a relação existente entre a divisão do trabalho e o processo de planejamento, leia o artigo “Exclusão includente e inclusão excludente”, da pesquisadora Acacia Zeneida Kuenzer Zung, disponível em: <http://forumeja.org.br/go/files/13%20Exclusao%20Includente%20Acacia%20K uenzer_1.pdf>. TEMA 2 – ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA E SUA RELAÇÃO COM O CONTEXTO EDUCACIONAL As funções de gerenciar e supervisionar, assim como a sistematização do planejamento, estão ligadas ao mundo da produção e à emergência da ciência da administração no final do século XIX. Nesse campo de saber, destacam-se os pensadores Frederick Taylor (1856-1975), Jules Henri Fayol (1841-1925) e Henry Ford (1863-1947): 04 Figura 1 – Pensadores da administração científica Foram essas as abordagens que contribuíram para que o conceito de planejamento empresarial tivesse sucesso no campo produtivo do capitalismo. A divisão do trabalho proporcionou a organização do trabalho em tarefas, em funções de planejar e controlar. Na Figura a seguir, podemos entender como a divisão do trabalho organizou as atividades para a indústria e a economia: Figura 2 – Divisão do trabalho Com o desenvolvimento da indústria, estabeleceu-se uma divisão do trabalho, a qual separou o processo de concepção da execução. O planejamento e o controle, até então de domínio dos operários, passaram a ser processos externos a eles. O gerente assumiu a função de planejar e controlar, e os operários passaram a executar o trabalho pensado e planejado pela gerência. Assim, os trabalhadores que antes executavam o trabalho ficaram alheios às decisões, à criatividade e às reflexões. De acordo com Zung (1984, p. 40), essa divisão do trabalho acabou por “desumanizá-lo”, uma vez que, com ela, “exorciza- se, pois, a criatividade, a reflexão, o autocontrole, das oficinas e se as localiza nos escritórios de planejamento, como uma necessidade das novas relações sociais criadas pelo modo industrial de produção”. Os estudos da teoria geral da administração afetam todos os setores da vida social, inclusive o âmbito educacional. Em 1913, John Bobbitt (citado por • Sistematizou os princípios da organização do trabalho. Frederick Taylor • Sistematizou a ideia de divisão do trabalho e estabeleceu as funções de planejamento, supervisão e execução. Jules Henri Fayol • Pensou na alta produtividade, na disciplina e na operação da linha de montagem. Henry Ford Padronização do processo produtivo. Controle do trabalho e do trabalhador. Estabelecimento de padrões qualitativos e quantitativos. Necessidade de gerência. 05 Zung, 1984, p. 40) escreveu um artigo definindo a função de diretor como aquele que identifica e difunde as tarefas inerentes à organização escolar, tendo como base os princípios da teoria da administração. TEMA 3 – PLANEJAMENTO: FUNÇÕES E FINALIDADES Vimos que para controlar a eficiência, a eficácia e os resultados, o planejamento passou a ser a ferramenta principal das ações e tarefas dos operários. Mas quais são os passos para iniciar o planejamento? O planejamento é baseado no estabelecimento de três ações: Figura 3 – Ações do planejamento E qual a finalidade de um planejamento? O planejamento é uma ferramenta cuja finalidade nos permite: Perceber a realidade: O que tenho de recursos materiais e de recursos humanos? O que o espaço e a comunidade me oferecem para que eu possa traçar um caminho? Avaliar caminhos: Quais são os potenciais que tenho e posso usar para traçar as estratégias? Quais serão meus desafios? Construir o futuro: O que eu quero? Qual era meu objetivo inicial? Figura 4 – Resumo das finalidades do planejamento Objetivos Metas Planos Planejamento Perceber a realidade Avaliar caminhos Construir futuro 06 Nenhum planejamentoé elaborado sem se pensar no futuro. Afinal, a finalidade do planejamento é justamente esta: programar resultados futuros, seja na produção, na economia, na educação ou na aprendizagem. Depois de traçar as finalidades do planejamento, é importante compreender os objetivos de todo e qualquer planejamento: Figura 5 – Objetivos do planejamento TEMA 4 – PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO BRASIL Em 1549, chegaram em solo brasileiro os primeiros jesuítas, que se dedicaram ao trabalho educativo por meio da propagação da fé católica. O objetivo maior era ensinar aos indígenas a leitura e a escrita. Todas as escolas jesuítas seguiam o Ratio studiorum, documento organizado e escrito pelo fundador Inácio de Loiola. Esse documento apresentava as regras a serem seguidas por professores e alunos, organizava a metodologia e a didática do professor e regulamentava o ensino em todos os colégios. Além disso, o Ratio studiorum também ordenava as atividades, as funções e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas. Apesar de não estar explícito no texto o desejo de que o documento se tornasse um método inovador que influenciasse a educação moderna, este serviu de ponte entre o ensino medieval e o moderno (Toledo; Ruckstadter; Ruckstadter, 2017). Saiba mais Com a Reforma Pombalina, o processo educativo se reconfigurou e tomou novos rumos. Para saber mais sobre o tema, acesse o artigo “Reformas Pombalinas da Educação”, por Sônia Maria Fonseca o link: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_reformas_po mbalinas_de_educacao.htm>. Refletir sobre o futuro Estabelecer caminhos Decidir sobre a ação Prever necessidades Racionalizar recursos materiais e humanos Nortear o trabalho Acompanhar e avaliar 07 Até chegarmos ao conceito de planejamento que conhecemos hoje, alguns fatos históricos contribuíram para definir modelos educativos, métodos e planos. Entre eles, destacam-se os relacionados a seguir. 1932 – Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/doc1_22e.pdf>. 1961 – Lei n. 4.024/1961 <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Solange_Apare cida_Zotti_artigo.pdf>. 1964 – Golpe Militar <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/art9_22e.pdf>. 1971 – Lei n. 5.692/1971 – Reforma do 1º e do 2º grau; profissionalização compulsória <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/39/art04_39.pdf>. 1996 – Lei n. 9.394/1996 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. TEMA 5 – GESTÃO EDUCACIONAL NO BRASIL De acordo com Lück (1998), a gestão no âmbito da educação está associada ao fortalecimento da ideia de democratização do processo pedagógico e à participação responsável de todos nas decisões necessárias e na sua efetivação mediante um compromisso coletivo com resultados educacionais cada vez mais efetivos e significativos. O princípio de gestão democrática teve início com a Constituição Federal de 1988, que reforçou o movimento de gestão democrática na educação. Na década de 1990, houve mais avanço com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei n. 9.394/1996 –, a qual contempla, em seus artigos 14 e 15, as normas da gestão democrática: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. 08 Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (Brasil,1996) Conforme descrito na LDBEN, o planejamento, a elaboração e a execução da proposta pedagógica são as principais atribuições do gestor escolar, o qual deve organizar o trabalho pedagógico e orientar para que todos contribuam para essa elaboração. A proposta pedagógica é o documento que orienta a escola, define os caminhos e os trajetos que a esta tomará para alcançar os objetivos. O plano no contexto educacional reflete a concepção política, filosófica e social sobre a educação. Ele possibilita desenvolver e formular objetivos e metas a serem alcançados por todos os entes da federação e por todos os sujeitos envolvidos no processo educativo (Rodrigues; Schmitz; Freitas, 2012, p. 1920). Com a perspectiva da gestão democrática, a gestão educacional passou a ter mais autonomia, e todos os envolvidos puderam participar do planejamento, das decisões e do acompanhamento na organização do ensino, da aprendizagem e da forma de contextualizar a aprendizagem. Podemos afirmar que a Lei n. 9.394/1996 foi um marco importante em termos de políticas públicas educacionais, pois a educação passava por um período de (re)configuração diante de um contexto centralizador vivido durante o período de ditadura militar (Rodrigues; Schmitz; Freitas, 2012). Lembre-se: o maior planejamento da escola é a proposta pedagógica, ou seja, o PPP. FINALIZANDO Nesta aula, você teve a oportunidade de compreender como o conceito de planejamento educacional sofreu influências das teorias administrativas. A seguir, trazemos uma síntese do que estudamos nesta aula. A gênese da teoria da gestão educacional está vinculada às novas relações sociais advindas do capitalismo, da Revolução Industrial, da manufatura, e está ligada à necessidade de controle, qualidade, quantidade e também ao planejamento. As funções de gerenciar e supervisionar, assim como a sistematização do planejamento, estão ligadas ao mundo da produção e à emergência da ciência da administração no fim do século XIX. 09 As escolas jesuítas seguiam o Ratio studiorum, organizado e escrito pelo fundador Inácio de Loiola. Com a perspectiva da gestão democrática, a gestão educacional passou a ter mais autonomia, e todos os envolvidos puderam participar do planejamento, das decisões e do acompanhamento na organização do ensino, da aprendizagem e na forma de contextualizar a aprendizagem. 010 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 24 nov. 2016. LÜCK, H. et al. A escola participativa o trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: DP & A, 1998. MAIA, B. P. e C.; MARGARETE, T. de A. 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VEIGA, I. P. A.; RESENDE, L. M. G. de. (Org.). Escola: espaço do projeto político- pedagógico. 3. ed. Campinas: Papirus, 2000. p. 200 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). ZUNG, A. Z. K. A teoria da administração educacional: ciência e ideologia. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 48, p. 39-46, fev. 1984. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 15741984000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 17 jun. 2017.