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RECREAÇÃO E JOGOS PROF.A DRA. PAULA CAROLINA TEIXEIRA MARRONI PROF.A MA. ANDRESSA PELOI BERNABÉ Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica: Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Luana Cimatti Zago Silvério Marta Yumi Ando Renata da Rocha Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araujo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................................... ........4 1. UM POUQUINHO DE INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS ............................................................. ....... 5 2. APONTAMENTOS SOBRE O LAZER, RECREAÇÃO E JOGOS NOS DIFERENTES PERÍODOS HISTÓRICOS ....8 3. AFINAL, RECREAÇÃO E LAZER SEMPRE EXISTIRAM? .............................................................................. .......13 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. .......16 ASPECTOS HISTÓRICOS PROF.A DRA. PAULA CAROLINA TEIXEIRA MARRONI PROF.A MA. ANDRESSA PELOI BERNABÉ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: RECREAÇÃO E JOGOS 4WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Esta apostila de Recreação e Jogos possui quatro unidades. A divisão dela levou em consideração assuntos que cremos serem importantes para que um Pedagogo ou Pedagoga tenham em mente a respeito da recreação e dos jogos para a atuação pro� ssional. Dividimos, portanto, da seguinte forma: na primeira metade, ou seja, nas Unidades I e II, a busca é pela de� nição dos termos que estão relacionados diretamente com a recreação e os jogos, tais como lazer, trabalho, ócio, tempo livre e lúdico. Para isso, na Unidade I, são apresentados aspectos históricos do lazer, recreação e jogos para a compreensão mais ampla dos termos que são apresentados na Unidade II: as de� nições de recreação, jogos e de termos que fazem parte das teorias do lazer, como lazer, tempo de trabalho, tempo livre, tempo liberado, lazer e recreação. A segunda metade trata do brinquedo, brincadeira, brincar e jogo no desenvolvimento infantil, iniciando a teoria dos jogos. Para isso, na Unidade III, o brincar, o brinquedo, o jogo e a recreação são apresentados dentro do panorama infantil e suas relações com o ambiente escolar. Finalmente, na Unidade IV, as Teorias dos Jogos são aprofundadas, de modo a capacitar os pro� ssionais da educação a atuar com base nesse conteúdo. Nesta primeira unidade, o conteúdo a ser tratado são os Aspectos Históricos da Recreação e dos Jogos. Nela, veremos alguns apontamentos a respeito das concepções de recreação e dos jogos ao longo da história, as possíveis relações entre estes acontecimentos e o contexto histórico de cada época. Para isso, primeiramente faremos uma breve abordagem a respeito do estudo da história em recreação e jogos. Em seguida, iniciaremos apontando alguns aspectos acerca da recreação e do lazer no decorrer da história. Finalmente, abordaremos questões relacionadas aos jogos na história. 5WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. UM POUQUINHO DE INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Ao abordar os aspectos históricos de alguma manifestação da cultura corporal, assim como em qualquer manifestação, precisamos levar em conta que o registro das informações que nos permitem recontar uma história não é isento de intencionalidade e que se relacionam diretamente com o contexto em que estão inseridos. São muitas as informações não registradas e que poderiam trazer ainda mais luz às informações que poderíamos coletar. É por essa razão que separamos esta introdução em três partes: falaremos, em primeiro lugar, sobre as fontes nos estudos históricos; em seguida, a revolução documental e, por último, a periodização. Estes três assuntos têm relação direta com nosso assunto referente a aspectos históricos de recreação e jogos. Um dos maiores defeitos de algumas áreas do conhecimento é recontar a história somente com base na reprodução das falas de autores de suas próprias áreas. Entretanto, a história da educação e a historiogra� a da educação, como áreas de estudo e de pesquisa, têm se mostrado cada vez mais próximas ao estudo histórico e às metodologias de pesquisa Histórica. É por essa razão que, neste primeiro momento da história dos jogos e recreação, falaremos um pouco sobre os estudos históricos, que nos permitem compreender melhor por qual razão alguns momentos são apontados como viradas históricas, nas quais acontecimentos marcam a história do lazer e da recreação. Um dos principais conceitos de pesquisa histórica que precisamos levar em consideração é o conceito de fonte. A fonte para uma pesquisa é o objeto, registro, pintura, inscrição, papel, música que nos traz alguma informação a respeito de alguma situação. Existem fontes primárias, secundárias e terciárias. As fontes primárias são o objeto principal, ou o registro principal. Por exemplo, um manuscrito, ou o documento original, ou um objeto de escavação. Esta fonte é a fonte original da informação a ser estudada. É ela a responsável por originar as informações, responder a indagações ou trazer para nossas ideias mais possibilidades. A fonte secundária é aquela que é registrada por alguém que teve contato com a fonte primária. Pode ser uma foto, uma cópia, um desenho ou o registro escrito de algo que não é escrito, como a descrição de um objeto, seguida de sua imagem. Pode ser a escrita de alguma fala, de alguma entrevista de história oral, ou a descrição em palavras de algum evento. Em seguida, a fonte terciária é quando alguma informação é descrita por meio da fonte secundária. Na escrita da terciária, não temos contato com a fonte original, somente com a fonte secundária, ou com outras fontes terciárias. Infelizmente, quando apenas reproduzimos escritos de fontes terciárias ou até quaternárias, podemos não intencionalmente propagar informações equivocadas ou que representam apenas uma visão de um dos lados da história. A questão que se coloca é: por qual razão essas informações não estariam re- gistradas? Será que não existem atividades e práticas que não estão registradas, mas aconteciam? Como resgatá-las? Como retomá-las? Como recontar a história de práticas corporais que por muito tempo não foram descritas pelos homens no decorrerdas diversas civilizações pelas quais a humanidade passou até os dias de hoje? Como observar as mudanças de um período para outro? 6WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quer um exemplo? Dizer que a Idade Média, entre os séculos V e XV, é um período de trevas é bem comum nos livros de história atualmente. Entretanto, fazer essa a� rmação é reproduzir uma visão renascentista de Idade Média. Oliveira (2006) salienta que, quando os seres humanos passam por um período e iniciam uma fase nova na história, comumente tentam negar a fase anterior. Foi assim com o período da Idade Média, na qual os cristãos ocidentais acabaram com grande parte das informações organizadas na Antiguidade Clássica até então, para deixar sua marca e sua ideia de mundo e de homem sobrepujarem as ideias anteriores. O século das Luzes, Renascimento, que veio em seguida, fez o mesmo, negando o conhecimento desenvolvido na Idade Média e chamando-a de época das trevas e, consequentemente, sua época de luzes. Entretanto, se levarmos apenas em consideração um dos mais importantes setores de produção de conhecimento da atualidade – as universidades, dentre as quais você é parte por ler este material – estamos tratando de um exemplo de instituição nascida no século X, ou seja, justamente na Alta Idade Média! É por essa razão que é necessário levar em consideração o estudo das fontes e de não reproduzir as falas que vemos nos livros de história sem indagar qual visão que pode estar representada na historiogra� a (jeito de escrever a história) daquele autor. Essa consideração tem relação direta com nosso assunto, uma vez que existem livros nos quais se registra que, na Idade Média, não havia diversão, jogos e brincadeiras, pois a Igreja proibia. E, conforme veremos, essa a� rmação não procede, uma vez que as diferentes formas de diversão tanto das camadas mais ricas quanto das camadas mais pobres da sociedade são in� nitamente ricas e variadas. Outro elemento importante que precisa ser destacado é a chamada Revolução Documental pela qual os estudos históricos passaram durante a década de 1970. Não cabe a nós aqui retomar toda a história da historiogra� a, ou seja, todos os períodos pelos quais a escrita da história passou e como se dava, em cada uma delas, o registro da história ou, ainda, o que se considerava como fonte histórica em cada uma delas. Portanto, vamos apenas dizer que, até a década de 1970, ou até o período em que historiadores como Marc Bloch e Lucien Febvre reuniam-se na chamada Escola de Annales, o método positivista imperava e o que se chamava de história eram apenas documentos considerados como documentos o� ciais. Marc Bloch e Lucien Febvre, junto com outros historiadores e dando continuidade ao trabalho de historiadores antes deles, promoveram o que chamamos de Revolução Documental porque, a partir desse acontecimento, muitos “documentos”, ou fontes que não eram reconhecidos como fontes históricas, passaram a ser considerados. História Oral e História Social passaram a ser consideradas, o silêncio passou a ser investigado e a história das minorias passou a ser reescrita. Esse fato tem relação direta com o nosso assunto, pois podemos considerar que muitas das atividades de lazer realizadas pelos camponeses, por exemplo, podem não estar registradas e escritas, simplesmente pelo fato de que eles não eram alfabetizados e não havia preocupação com seu registro, já que era um saber passado oralmente de geração para geração. Os contos de fadas, histórias e canções de ninar, brincadeiras cantadas e outras práticas fazem parte desses “silêncios” que a Revolução Documental nos permitiu questionar – não estar registrado não signi� ca, necessariamente, que eles não tenham acontecido. Por último e não menos importante, outro assunto que consideramos determinante ao retomar a história da recreação e dos jogos é a chamada Periodização. Periodização, na forma tradicional, é o jeito de dividir a história em períodos, que normalmente são: Pré-História, História Antiga, Idade Média, História Moderna e História Contemporânea. A Figura 1 nos apresenta uma divisão padrão da periodização em história. 7WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 - Periodização Histórica. Fonte: História (2011). Essa divisão é também uma divisão positivista, que estabelece uma linha do tempo cronológica e é muito útil quando pretendemos realizar um panorama histórico sobre alguma manifestação da cultura corporal, como os jogos, a recreação e o lazer. Essa periodização é amplamente usada, mas no campo dos estudos históricos e da história da educação, é necessário apontar uma questão bastante importante: estabelecer marcos sociais ou acontecimentos históricos para determinar a transição de um período para o outro é apenas uma forma didática de entender essa cronologia. Não podemos perder de vista que os acontecimentos não se dão de uma hora para outra. Existem muitos sinais dados anteriormente, muitos acontecimentos que parecem anteceder essa nova época e, mesmo depois que a história considera que já estamos na nova época, resquícios da época anterior são vistos, localizados ou generalizados, por muito tempo. Para ilustrar essa questão, podemos pensar na virada da história antiga para o medievo: apesar das invasões bárbaras serem consideradas o marco inicial do medievo, em muitas localidades, o modo de viver e de se divertir da Antiguidade permanecia, com as festas, os rituais aos deuses, os esportes e as escolas de � loso� a dedicadas ao ócio. Não foi de uma hora para outra que as pólis foram esvaziadas e o europeu ocidental foi para os castelos – e, mais tarde, os feudos. Ao longo da Idade Média, muitas práticas foram mantidas, instrumentos musicais e danças que pertenciam aos antigos eram praticados e passados de geração em geração, até seu conhecimento se perder no tempo e ser retomado ou não na Idade Moderna, nos períodos do Renascimento e do Neoclassicismo. Como pudemos observar, foram trazidos aqui elementos relacionados às fontes para o estudo da história da educação, em seguida a importância da revolução documental para o conhecimento de novas fontes para esse estudo e, � nalmente, a importância de entender que a periodização é uma escolha didática que nos auxilia a compreender cronologicamente as diferentes épocas pelas quais a humanidade passou, mas que não são estagnadas e bruscas, e sim dilatadas, com longos períodos de transição entre as velhas e as novas práticas, que nos auxiliam a compreender as permanências e as rupturas em diversos segmentos do conhecimento e das práticas sociais, entre elas, a recreação e os jogos. 8WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. APONTAMENTOS SOBRE O LAZER, RECREAÇÃO E JOGOS NOS DIFERENTES PERÍODOS HISTÓRICOS Há muitos e muitos anos, a vida acontecia ao ar livre. Ia-se para casa apenas quando se tinha fome ou frio. Se alguém quisesse encontrar uma pessoa, era preciso procurá-la � sicamente. Mas isso foi há muito tempo. A� nal, para que sairíamos, se toda a vida se passa entre nossas quatro paredes? (GAARDER, 2001). Em primeiro lugar, ao tratar sobre os diferentes períodos históricos do lazer, a recreação e os jogos nesses mesmos períodos, já entendendo que a periodização é apenas didática e é � exível, precisamos ter mais uma informação em mente: os conceitos de recreação, lazer, tempo livre, tempo liberado, ócio dependem da concepção de cada autor e estão, muitas vezes, relacionados a fatos históricos e a situações para que passem a ser caracterizados com essa determinada nomenclatura. Na Unidade II, esses conceitos serão de� nidos e, já conhecendo essa temporalidade apresentada aqui na Unidade I, � cará mais fácil localizar em que momento cada um deles foi determinado. Entretanto, para esse momento dos nossos estudos, quando tratarmos de recreação, ócio, lazer,vamos tratar de atividades de diversão, de descanso e desenvolvimento realizadas ao longo da história – ou seja, as formas de se divertir, de se relacionar, de passar os momentos ao longo da história. Mesmo que os termos não sejam especi� camente esses antigamente, não quer dizer que as atividades que eles designam não fossem realidade. É muito importante que você entenda isso para a leitura que vem a seguir, pois, por exemplo, dependendo da concepção de lazer de algum autor, parecerá absurda a ideia de falar de lazer antes da Revolução Industrial, já que, para ele, lazer está diretamente relacionado com a conquista dos trabalhadores que lutaram pelas 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de lazer, no século XIX. Entretanto, aqui, falaremos das atividades, que não necessariamente se chamavam lazer na Antiguidade, mas tinham objetivos parecidos. Na Pré-História, as atividades humanas estão sempre relacionadas, nos escritos, às atividades de sobrevivência do homem primitivo. Assim, consideramos que as atividades diárias do homem e da mulher pré-históricos envolviam a caça, a pesca, a fuga, a busca pela proteção. Alimentação e abrigo eram as primeiras necessidades do homem e não havia ali uma separação entre o que era trabalho e o que era lazer, já que todas as atividades se relacionavam à vida deles. Ruiz (1987) aponta que existe a possibilidade de que um homem, feliz com sua caça, possa ter entrado fazendo brincadeiras e expondo sua felicidade dentro da caverna onde se abrigava sua família ou seu grupo de humanos. E que estes poderiam realizar atividades de distração no dia a dia. Essas atividades podem ter se intensi� cado após a estagnação do ser humano em locais que permitiam o plantio e a colheita. Nelas, registros em pedras antigas nos mostram ações de caça, de pesca, de plantio, mas também podemos ver registros de danças e de jogos. Caso você tenha gostado do assunto, nossa leitura de apoio sugerida é Apologia da História ou o ofício do historiador, de Marc Bloch. Esse livro se encontra nas referências desta apostila. 9WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Saltos sobre animais , sobre fogueiras, pequenos jogos de ocupação de territórios, danças circulares com vistas à comunhão com a divindade podem ser apontadas como atividades que se realizavam na vida desses seres humanos e que, dependendo do ponto de vista, podem ser apontadas como atividades de lazer, de oposição às obrigações da luta pela sobrevivência. Dentro da periodização, a escrita é o que determina a mudança da Pré-História para a história. A partir da escrita e dos registros das obras clássicas, muito se infere sobre a diversão durante a Idade Antiga. É dessa época a característica de uma sociedade que já podia se dividir em pessoas que trabalhavam para que outras pudessem se dedicar a outras atividades. Uma dessas atividades é o ócio, mas que era considerado uma atividade, bem diferente da concepção contemporânea que temos sobre o ócio – � car sem fazer nada. No ócio da Idade Antiga, na contemplação, na re� exão, era possível que as questões sobre a existência fossem realizadas, questões sobre a terra, o cosmos, as pessoas. Daí a � loso� a, a retórica, a dialética, a lógica. E também, nesse período, tem-se a importância que se dava às práticas de atividades físicas e da ginástica (a arte de exercitar o corpo nu). Consequentemente, em um período no qual a atividade física era também contemplativa, os esportes e os jogos podem ser observados no que chamamos de Jogos Olímpicos da Antiguidade, muito diferente das olimpíadas atuais, mas com o mesmo objetivo de integração entre os diferentes povos e da busca por sagrar-se o melhor – e poder ascender ao Olimpo junto com seus deuses. As atividades, durante os jogos olímpicos da Antiguidade, eram todas cessadas, incluindo as guerras, para que a confraternização entre os povos acontecesse. Tudo girava ao redor das competições e tudo pode ser tratado aqui como diversão: as apostas, as reuniões, os encontros, as celebrações, os banquetes, as músicas, as danças que eram possíveis para esses grupos de homens e mulheres. O esporte como prática e como espetáculo é uma realidade na Idade Antiga, tanto nas pólis gregas como nas cidades romanas, e os espetáculos como realidade eram atividades que agregavam tanto aqueles que optavam por viver de tais práticas – artistas, atores e atletas – quanto, e principalmente, aos que se bene� ciavam assistindo a essas práticas: os espectadores. Portanto, essas atividades também serviam para distração, para divertimento, para descanso e para catarse de emoções, como é o caso das lutas entre animais, entre homens e entre homens e animais que podem ser observadas na Roma antiga, chamadas comumente de política do pão e circo. A população tinha acesso a uma alimentação básica e a espetáculos de desprezo à vida e de agressões que os distraíam e os aliviavam, reduzindo as pulsões violentas. Hobsbawn (1977) salienta que as diversões da época se relacionavam a revistas de contos sentimentaloides, circos, pequenas exibições com uma atração principal, teatros mambembes e coisas semelhantes. As práticas realizadas em atividades opostas ao trabalho, na época, eram muitas, como podemos observar. Corridas de biga, danças, instrumentos musicais, teatros, desenhos e esportes confundiam-se com práticas que poderiam dar origem a áreas de conhecimento, estudos e re� exões com utilidade e que hoje entrariam facilmente na categoria de trabalho, ou de semilazer – uma atividade que é útil para o trabalho, mas que é prazerosa. Essas categorias serão aprofundadas na próxima unidade. Durante a Idade Média, as práticas sociais variavam dependendo da camada em que cada humano estava inserido. Comumente se divide a sociedade, nessa época, em clero, nobreza e povo. Os camponeses faziam parte do povo, assim como os trabalhadores da nobreza, os feirantes e muitos outros grupos de trabalhadores. Para a nobreza, existem sugestões de atividades de leitura, pintura, prática de instrumentos, bailes de nobreza, equitação, pequenos jogos com objetivos de ocupação de território, jogos com objetivo de pegas, danças e festas. Havia também pequenas reuniões ao ar livre como piqueniques e reuniões com apresentações literárias que hoje chamamos de sarau. As camadas mais pobres da sociedade recebiam uma grande quantidade de atribuições de práticas. 10WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Muitas delas, cópias das atividades dos nobres, tais como as relacionadas aos instrumentos musicais, só que mais simples, eram tentativas de representação das danças das nobrezas nos castelos e nas festas populares, jogos e brincadeiras. Uma das representações mais conhecidas que busca retratar a forma de atividade de distração e de diversão na Idade Média é exempli� cada na imagem Jogos infantis, de Pieter Bruegel (Figura 2): Figura 2 - Jogos infantis. Fonte: Brueguel (1560). A imagem que Pieter Bruegel pintou em 1560, exposta atualmente no museu Kunsthistorisches, em Viena, é considerada por muitos autores, como Soares (1998), como um dos registros mais ricos que nos trazem informações sobre as formas de divertimento por meio da cultura corporal na Idade Média. Observamos a rua como espaço comunitário, público, para o divertimento e para a brincadeira, a espontaneidade e as relações humanas. Como já observamos isso no tópico anterior, � ca mais fácil para você entender que essa imagem pode, depois da Revolução Documental da Escola de Annales, ser tratada como fonte de pesquisa e, já que queremos falar do medievo, por se tratar de uma imagem pintada em 1560, ela é por nós e por muitos autores considerada como fonte primária de informações. Apesar de considerarmos que nem todas as atividades necessitam acontecer assim, ao mesmo tempo, provavelmente o autor buscava retratar com a imagem um registro de toda a gamade jogos infantis conhecidos na época. São mais de 200 imagens humanas realizando mais de 80 atividades, muitas delas reconhecíveis por nós hoje, até mesmo por serem realizadas também na contemporaneidade. Uma ótima alternativa de atividade pode ser, inclusive, buscar, nessa imagem, quais seriam as atividades reconhecíveis e conhecidas por você e pelos seus colegas ou familiares. Quer experimentar? 11WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O autor não se restringe a jogos e brincadeiras. Ele é considerado uma das grandes fontes de informação sobre a realidade das atividades do � m do medievo, pois retrata muitas atividades em seus outros quadros, tais como piqueniques ao ar livre, banquetes, festas, caçadas, o carnaval, casamentos, danças, sempre agrupando muitas pessoas em cada uma das telas e permitindo, assim, apresentar uma in� nidade de atividades que podemos considerar serem realizadas em seus momentos de divertimento, de descanso. Na Figura 3, podemos observar mais uma de suas imagens que retratam as formas de divertimento dos homens ao � nal do período medieval. Figura 3 - O casamento. Fonte: Bruegel (1566). Quando tratamos dessas imagens relacionando-as com o � m do medievo, � ca mais claro compreender o que apresentamos ao tratar do conceito de Periodização na História. Observe bem a Figura 1. De acordo com ela, a Idade Moderna inicia-se em 1453, mas as imagens pintadas por Bruegel datam de 1560 e retratam ainda o estilo de vida feudal de uma Europa que passava aos poucos ao sistema de vida citadino por meio de uma série de transformações sociais, econômicas, intelectuais e nas formas de pensar. Figura 4 - Pequenos gigantes. Fonte: Goya (1791-1792). 12WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Podemos observar, nas Figuras 2, 3 e 4, imagens que podem ser tratadas como fontes primárias acerca de como se divertiam as pessoas naquela época. As próprias feiras, retratadas por Bruegel, são a realidade dos homens em transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, que aos poucos reuniam-se em entrepostos comerciais, em zonas de convergência de pessoas que transitavam entre cidades, entre feudos, aglomerados que renasciam aos poucos e que trariam de volta a realidade citadina – muitas pessoas de diferentes origens habitando juntas. Nessa época, mudaram muito os conceitos de vizinhança, de relações pessoais, de divertimento, acompanhando as relações de trabalho, de pro� ssão, de ocupações sociais para viver o dia a dia. Aos poucos, a ideia de ocupação social, que hoje tratamos por pro� ssão, � ca cada vez mais importante, e as novas maneiras de se fazer objetos, alimentos, vestuários vão agrupando pessoas em postos de trabalho. Não podemos esquecer que aglomerados de pessoas trazem consigo realidades como necessidade de esgoto, rede de distribuição de água, transmissão de doenças, entre outras. A Idade Moderna é marcada por essa realidade, e o retorno de uma vida do campo para a cidade, conhecido como êxodo rural, marca não só as formas de trabalho, mas também de divertimento das pessoas. Crianças, nessa época, eram tratadas como miniadultos, trabalhando e realizando atividades arriscadas, assim como os adultos. Autores que trazem a ideia de que crianças trabalhavam cantando e se distraindo para poder realizar as atividades com mais diversão e menos monotonia sugerem, por exemplo, que os sete anões dos contos infantis seriam na realidade sete crianças, e suas cantorias nas minas retratariam a busca pela distração durante o trabalho infantil na era moderna. As imagens de Francisco de Goya e de Pieter Bruegel trazem muitas informações sobre o lazer nesse período. A maioria delas está disponível no Google Imagens e pode ser bem interessante você tirar um tempinho para desfrutar um pouco des- sas imagens, usando os nomes como termos para busca. Você consegue refl etir a respeito de como o trabalho infantil é tratado hoje e de como ele era tratado nessa época? Quais relações você observa em relação ao trabalho infantil nos dias de hoje? É importante trazer para a refl exão não apenas as leis que proíbem o trabalho infantil na Idade Contemporânea, mas também como são abordadas as leis direcionadas, por exemplo, aos atores, cantores e ar- tistas mirins no geral. Você conhece sobre elas? Pesquise, pois trataremos disso nas nossas atividades desta unidade. 13WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No próximo item, você poderá observar que, na transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea, principalmente nas fases da Revolução Industrial, um importante marco de� ne, para muitos autores, a demarcação de uma época própria para o conceito de lazer ter surgido: as lutas operárias pela conquista de direitos e, entre eles, 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de lazer. Essas 8 horas de lazer determinam que então o homem moderno/contemporâneo possui um período especí� co dedicado às atividades para as quais pode se entregar de livre vontade. Entretanto, esse processo de transição, segundo Vega (1979), foi lento e a redução iniciou- se pela instituição delimitada de 12 horas e meia de trabalho para adultos, 10 horas e meia para adolescentes e 6 horas e meia para crianças, até a sua redução para as 8 horas delimitadas em 1918. Segundo o autor, conquistas como o descanso dominical foram instituídas no início do século XIX, as férias remuneradas tornaram-se direito em 1936, e � nalmente foi determinado que todos têm direito ao descanso e ao ócio em 1945, quando foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda segundo o autor, o apoio às classes trabalhadoras também possuía interesses, tais como o consumo de bens produzidos por eles mesmos, uma vez que o excedente já se fazia realidade. Além disso, outra possibilidade era a conquista de um mercado mais seguro e barato, além da eliminação das possibilidades de violência e movimentos operários revolucionários. Esse período é importante, pois marca os limites entre os horários de trabalho e de não trabalho, que não eram respeitados com a mesma dimensão na Idade Moderna em geral. Não havia leis trabalhistas, limites de horas de trabalho, leis que determinavam direitos dos trabalhadores que se acidentavam nem que se adoentavam, e também não havia lei que proibia ou regulava o trabalho infantil. Ter direito a 8 horas de lazer implicou, consequentemente, uma série de relações que são importantes para termos em mente. A� nal, podemos re� etir se as atividades que são feitas nessas 8 horas são atividades compensatórias, que lembram um descanso, para que tenhamos mais forças de trabalho para o dia seguinte. Nessa perspectiva, autores salientam que os empresários e donos de fábricas saíram ganhando ao promulgar essa possibilidade, pois, ao contrário dos trabalhadores cansados e com baixa produtividade, trabalhadores felizes e descansados trabalhavam, em menos horas, de forma a produzir até mesmo mais do que em tempos anteriores. Essa retomada histórica é muito importante para que compreendamos como o lazer e a recreação são apresentados como teorias distintas e que nos preparamos até esse momento para compreender. 3. AFINAL, RECREAÇÃO E LAZER SEMPRE EXISTIRAM? Nos itens anteriores, observamos elementos que nos auxiliaram na compreensão de um panorama histórico levemente cronológico e mais geral acerca da recreação e dos jogos. Observamos, num primeiro momento, elementos da metodologia da pesquisa histórica que nos auxiliaram a compreender melhor esse panorama histórico – o conceito de fonte, a revolução documental e a periodização. Em seguida, nos propusemos a observar, na periodização clássica, elementos que nos auxiliassem a compreender as formas de divertimento do homem no decorrer da história. Entretanto, lembramos que � zemos uma ressalva com relação aos termos, pois, para algunsautores, temos que ter cuidado ao usar os termos lazer, recreação, jogos, quando nos referimos a diferentes períodos históricos. 14WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Alguns termos podem ser alojados em alguns acontecimentos históricos e usá-los em períodos diferentes incorre no risco de anacronismo, que é quando usamos as ideias de um tempo para tentar compreender outro momento histórico que, no geral, precisa de ausência de julgamentos, pois possui um contexto bastante complexo e que nem sempre podemos compreender com nossos olhares contemporâneos. Chegou, então, o momento de compreender como essas teorias funcionam. Entender que o lazer é uma ocorrência histórica relacionada às lutas dos trabalhadores para ter o direito de poder � car, durante alguma parte do dia, sem trabalhar e sem precisar retomar as forças corporais para ser capaz de trabalhar no dia seguinte é importante para compreender que, partindo dessa perspectiva, lazer é uma construção moderna e esse termo não pode ser usado para períodos anteriores, porque essa construção social não existia antes. Essa é, portanto, a teoria de que o lazer é um fenômeno moderno e que pertence à realidade das sociedades urbano-industriais. Um dos autores que se inclui entre os teóricos dessa corrente é Jofre Dumazedier. A segunda corrente corrobora a ideia de que lazer sempre existiu. As atividades realizadas eram atividades que possuíam características semelhantes às atuais: livre entrega, busca pelo prazer, busca pelo descanso etc. Um dos autores que nos apresenta essa ideia é Gomes (2004a). A recreação pode ser mais bem compreendida dentro do contexto da primeira corrente, se tratada como o conjunto de atividades sistematizadas para ocupar o tempo de intervalo entre as obrigações e o tempo de descanso. Bernabé (2012) aponta como poderia se dar esse processo. Com base em Vega (1979), a autora elenca que, durante o período da Revolução Industrial, a ideologia vigente buscou criar um mecanismo para conter a classe trabalhadora para que não reivindicassem o tempo livre. Para a época, assim como em épocas anteriores, o trabalho era considerado uma virtude e o ócio deveria ser combatido para que o tempo ocioso não fosse preenchido por vícios ou violência. Voltando ao assunto, a recreação seria então uma atividade sistematizada a ser realizada entre o tempo de trabalho e o tempo de não trabalho, uma forma de descanso dirigido, recuperação das forças de trabalho para o dia seguinte. É importante compreender esse sentido de recreação, pois é nesse contexto que ela passa a fazer parte da escola pública como coadjuvante para que, desde cedo, as crianças – futuros trabalhadores – assimilassem as noções e “[...] os limites entre trabalho e tempo livre, obrigação e diversão [...]” que “[...] eram tecidos pelas noções de utilidade e recompensa” (MARCASSA, 2004, p. 197). Em meados do século XIX, a recreação inicialmente é utilizada como elemento que disciplinava, a serviço do Estado, crianças da educação inicial e, posteriormente, a partir do século XX, como atividade sistemática responsável pela formação de jovens e adultos em caráter cívico e moralizador (MARCASSA, 2004). Paul Lafargue escreve O direito à preguiça para abordar, de acordo com a visão do trabalhador da época, a expressão da luta dos operários pelos direitos ao trabalho e ao tempo de não trabalho, e essa é nossa sugestão de leitura, caso você se in- teresse em saber mais sobre o assunto. A referência completa você encontra ao fi nal da apostila, nas referências. 15WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ainda segundo a autora, nas três primeiras décadas do século XX, algumas tendências político-pedagógicas adentram o cenário educacional do país, o que provocou a mudança no foco ao qual se destinava a recreação, inicialmente na educação infantil e, posteriormente, passando a ser atividade de formação para jovens e adultos. Em O scanner do tempo, texto que faz parte do livro O pássaro raro, Jostein Gaar- der faz uma importante refl exão acerca da presença da tecnologia na história e nos propõe uma série de questionamentos fi losófi cos. Um fi lme muito interessante para abordar o futuro das opções de lazer e recrea- ção em uma sociedade distópica é Admirável mundo novo, fi lme pautado no ro- mance de Aldous Huxley, que apresenta bem claramente a importância do lazer e do consumo no controle da violência e das insatisfações populares. 16WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, foram apresentados os Aspectos Históricos da recreação e dos jogos. Em um primeiro momento, apresentamos a necessidade de re� etir sobre o que podemos tratar como fontes de pesquisa para a história e por qual razão é muito perigoso, na busca pelo conhecimento, apenas reproduzir informações de autores que apresentam fontes terciárias e reproduzem, muitas vezes, ideias que pertencem a momentos históricos que julgam como positivos ou negativos os momentos históricos anteriores. Além disso, reconhecemos a importância de entender o que signi� cou, para o campo da pesquisa histórica e da história da educação, poder tratar como fonte elementos que não necessariamente eram reconhecidamente fonte antes da revolução documental, tais como os silêncios, alguns objetos, a história oral e a história social. Por � m, ainda na primeira fase da Unidade I, compreendemos que a Periodização tradicional em história nos ajuda a compreender cronologicamente, de forma didática, os diferentes períodos pelos quais a civilização ocidental passou, mas que devem ser observados de forma cuidadosa, pois durante os períodos de transição, podem ser observadas permanências e rupturas, e não há uma quebra total de um período para o início do período seguinte. Em seguida, foi abordado um panorama geral da história das atividades praticadas pelos homens e pelas mulheres no decorrer do tempo, que tratamos aqui como atividades que podem ser de divertimento, de entretenimento, de busca pelo prazer e pelo relaxamento das tensões. Esse panorama passou pelas épocas Pré-História, História Antiga, Idade Média, Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, com a Revolução Industrial e as lutas dos trabalhadores por direitos trabalhistas. Essa transição foi importante para a compreensão do último item desta unidade, que abordou as diferentes correntes teóricas que conhecemos a respeito da recreação e do lazer, sabiamente a de que o lazer e a recreação sempre existiram de um lado e, de outro, de que esses dois termos se referem a fenômenos modernos e datados da transição entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea e que, nessa perspectiva, não podem ser usados para referir-se a atividades antes disso. Na próxima unidade, você poderá compreender melhor a de� nição desses termos, quando colocados em conjunto com outros termos, tais como trabalho, tempo livre, tempo liberado, lazer, recreação, que, com certeza, auxiliarão você a entender como eles se con� guram hoje em nossa sociedade e qual o seu papel de pedagoga ou pedagogo na educação por meio desse conhecimento. 1717WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................................18 1. O ENTENDIMENTO E AS CONCEITUAÇÕES DOS DIFERENTES TEMPOS ....................................................19 2. MAS, AFINAL, O QUE É LAZER? ....................................................................................................................... 24 3. APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS DOS TERMOS RECREAÇÃO E LÚDICO .................................................... 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................................................................32 CONCEITOS IMPORTANTES PARA O ENTENDIMENTO DE LAZER, RECREAÇÃO E JOGOS PROF.A DRA. PAULA CAROLINA TEIXEIRA MARRONI PROF.A MA. ANDRESSA PELOI BERNABÉ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: RECREAÇÃO E JOGOS 18WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos discutir sobre a conceituação de alguns termos importantes no entendimento do lazer, da recreação e dos jogos. Alguns desses termos foram apontados na primeira unidade e aqui serão retomados para serem conceituados. Muitas vezes, em nosso cotidiano, não paramos para pensar no signi� cado das palavras. Simplesmente as utilizamos em nossos diálogos de modo corriqueiro, por estarem naturalizadas desde nossa alfabetização e, assim, não necessitamos re� etir a fundo acerca de seu signi� cado ou de sua conceituação. Figura 1 - O que signi� ca uma determinada palavra? Fonte: Português (2019). Mas, no contexto cientí� co-acadêmico do ensino superior, o entendimento das palavras e dos termos que discutimos durante a formação e posteriormente serão utilizados na prática pro� ssional se torna extremamente necessário, pois esses termos são carregados de historicidade, sentidos e signi� cados muito mais amplos do que o seu uso corriqueiro. Sendo assim, nesta unidade, iremos apresentar diferentes conceituações de termos importantes na área do lazer. O nosso objetivo não é apresentar a você verdades absolutas, e sim fazer com que você re� ita e pense acerca das diferentes conceituações, re� ita por que elas existem, e por que autores, por vezes, pensam e escrevem de formas diferentes. 19WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. O ENTENDIMENTO E AS CONCEITUAÇÕES DOS DIFERENTES TEMPOS Ao abordarmos o lazer como uma manifestação histórica, recorremos à discussão que foi tratada na unidade anterior a respeito do surgimento do lazer, a partir das duas possibilidades de pensamento, uma vez que esta discussão não é um consenso nos estudos do lazer. A primeira linha de pensamento em relação ao surgimento do lazer nos leva a re� etir sobre a conceituação dos termos: tempo de trabalho; tempo de não trabalho; tempo liberado e tempo livre. Ao entender que o lazer é um fenômeno moderno, com origem nas sociedades urbano-industriais, o entendimento sobre os diferentes tempos que emergiram no cotidiano das pessoas se torna importante. Assim, tempo de trabalho era, e ainda é, entendido em nossa sociedade como o tempo voltado às atividades laborais, ao serviço, à produção. Segundo Cavallari e Zacharias (2000), o tempo de trabalho pode ser entendido como o tempo que uma pessoa utiliza direta ou indiretamente em função da realização do seu trabalho, que implica responsabilidade, compromisso, obrigação, rotina e retorno � nanceiro. O aspecto indireto, segundo os autores, está voltado aos momentos que as pessoas necessitam para tornar possível seu trabalho, como o tempo de planejamento de aulas de um professor, o tempo de deslocamento que uma pessoa gasta da sua casa ao trabalho, ou seja, tudo que acontece indiretamente, fora de seu ambiente e horário especí� co de trabalho. Uma linha de estudos dentro da área do lazer é denominada “Teorias do lazer”. Para saber mais sobre essa área de estudos, uma indicação de leitura é o livro Teorias do lazer, organizado por Pimentel (2010): Figura 2 – Livro Teorias do lazer. Fonte: Jornal da UEM (2010). 20WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A partir dessa conceituação de tempo de trabalho para esses autores, o tempo de não trabalho estaria dividido entre tempo de necessidades básicas vitais e tempo livre. O tempo de necessidades básicas vitais, para Cavallari e Zacharias (2000), é todo tempo voltado à realização das atividades que são necessárias à sobrevivência do ser humano, necessárias às boas condições de sobrevivência. Os autores subdividem esse tempo em quatro grupos: sono, alimentação, necessidades � siológicas e higiene. O tempo livre, para esses autores, é o tempo que sobra do tempo de trabalho e do tempo das necessidades básicas vitais, e é nesse tempo livre que uma pessoa tem seu tempo de lazer (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2000). O organograma a seguir simpli� ca a relação existente entre a conceituação desses termos para os autores: Figura 3 - Diferentes tempos, segundo Cavallari e Zacharias (2000). Fonte: As autoras. Há uma outra forma de conceituar o tempo de trabalho, considerando o horário em que o trabalhador se dedica e está em seu local de trabalho. A partir dessa outra forma de considerar o tempo de trabalho, o tempo gasto com deslocamento e todas as demais atividades que são necessárias, mas que não são realizadas no próprio local de trabalho, são realizadas no tempo de não trabalho. Cuidar da casa, dos � lhos, da família, dos animais de estimação, se deslocar até o trabalho, e do trabalho para a casa, hoje em dia, em nossa sociedade, são atividades realizadas muitas vezes no tempo de não trabalho. Mesmo sendo muitas vezes dispendiosas, onerosas às pessoas. Portanto, tempo de trabalho é entendido como sinônimo de horário de trabalho, que diz respeito aos momentos em que se está no local de trabalho realizando suas funções e atividades laborais. Tempo de não trabalho, por sua vez, é o tempo fora do trabalho, quando são realizadas diversas outras atividades pelas pessoas, pois, como bem salientado por Padilha (2004), nem todo tempo fora da esfera do trabalho é um tempo livre ou disponível para o lazer. Segundo Padilha (2004), os séculos XVIII e XIX foram importantes para essa demarcação de tempo de trabalho e tempo de não trabalho, a partir do desenvolvimento das indústrias, que alterou os “usos” do tempo. Nas palavras da autora, 21WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A partir da chamada Revolução Industrial, exige-se maior sincronização e controle do tempo, tanto no trabalho como fora dele. Antes das sociedades industriais, o limite entre tempo de trabalho e tempo de não-trabalho era tênue, uma vez que os homens eram mais autônomos em relação ao uso de seu tempo. No campo, o camponês orientava – e em alguns lugares ainda pode orientar – o tempo de suas atividades pela natureza, pela posição do Sol, pelo canto do galo e o ritmo de trabalho variava de pessoa para pessoa. Com o desenvolvimento das indústrias e do capitalismo, o tempo do homem passa a ser medido pelo dinheiro e o tempo dominante passa a ser o tempo das máquinas. [...]. As ações humanas são in� uenciadas pela mensagem passada pelo relógio: o atraso, a pontualidade ou o adiamento, por exemplo (PADILHA, 2004, p. 219). A partir das considerações de Padilha (2004), podemos perceber o quanto o tempo era, e ainda hoje é, visto como uma mercadoria valiosa, que não pode ser desperdiçado. Assim, o ócio, entendido como não fazer nada, passa a ser combatido, pois o trabalho era visto como produtivo, rentável, importante para as pessoas, enquanto o tempo livre, que, no sentido de ser livre ou liberado do trabalho, era considerado negativo, ruim, pois não era rentável, não valia dinheiro. Segundo Padilha (2004, p. 219), “[...] desde o � nal do século XVIII, a desapropriação progressiva da ociosidade foi anunciada. O iluminismo impôs a valorização da atividade e a exaltação do trabalho produtivo, recusando o ócio – no sentido de desperdiçar o tempo de forma improdutiva”. Em nossa sociedade, nos dias de hoje – século XXI –, é comum ouvirmos expressões como: “aquela pessoa não trabalha, é uma desocupada”, “você precisa trabalhar, para ser alguém na vida”, “o trabalho digni� ca o homem”, “não é bom � car sem fazer nada, todo mundo precisa de uma ocupação”. Essas são as heranças que carregamos desse período bem sinalizado por Padilha (2004). O fi lme Tempos modernos de Charlie Chaplin (1936) conta a história de um ope- rário que trabalha na linha de montagem de umafábrica. Apresenta cenas que exemplifi cam nossas discussões sobre manifestações operárias, contexto de tra- balho e não trabalho, demarcando os diferentes tempos no decorrer dos séculos XVIII e XIX, a partir da Revolução Industrial. Figura 4 – Filme Tempos modernos. Fonte: Cine Aprendizagem (2010). 22WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Continuando nossa discussão, Padilha (2004) ainda nos aponta considerações importantes a respeito do termo “tempo livre”. Ela a� rma que grande parte dos autores que discutem o lazer “atribui ao tempo livre a ideia de um tempo que não se faz nada por obrigação”; sendo assim, um tempo liberado das obrigações, no qual a pessoa pode optar por fazer alguma atividade que seja prazerosa, descansar ou não fazer nada. Porém, alguns autores, como a própria Padilha (2000) e Marcellino (1987), optam pela utilização do termo “tempo liberado” ou “tempo dispon ível”, por entenderem que o tempo não é verdadeiramente livre, liberto de normas sociais, de coações. Por exemplo: um trabalhador só pode ir ao shopping depois que sair de seu horário de trabalho e, muitas vezes, só irá se tiver dinheiro para gastar em compras, no cinema, comendo algo que goste na praça de alimentação. Ele também só irá se não estiver muito cansado, se tiver dinheiro para o ônibus que o leve até lá, ou para o combustível do seu carro, caso tenha. Portanto, podemos observar, a partir desse exemplo, que uma pessoa é acometida por uma série de fatores condicionantes que interferem no seu cotidiano e em suas escolhas de lazer, como o estado de espírito (casada ou não), fatores econômicos e � nanceiros, sociais, e até mesmo de gênero (se for uma mulher e tiver que cuidar da casa, dos � lhos, não conseguirá ir ao shopping). Um trecho de Padilha (2004, p. 221) expressa bem essa discussão, e nos faz re� etir sobre as considerações de tempo de trabalho, tempo de não trabalho e tempo livre, em nossa sociedade: A tese que alguns autores defendem (ADORNO, 1995; FROMM, 1963; MÉSZÁROS, 1989; ANTUNES, 1999; PADILHA, 2000) é a de que a lógica do capital rege não apenas o tempo de trabalho, mas também o tempo de não- trabalho e que, dessa forma, não há nada naturalmente livre no tempo fora do trabalho. Pensar o tempo livre (e as atividades de lazer) como um tempo que possui automaticamente as qualidades de alegria, liberdade, felicidade e descanso é reforçar uma concepção conservadora (como a funcionalista, por exemplo) da sociedade considerando-a harmoniosa, equilibrada e fornecedora de remédios para os eventuais males sociais; uma concepção de sociedade que vê a ‘cura’ da alienação e do cansaço do trabalho no tempo de lazer. Isso não quer dizer, no entanto, que o tempo livre seja um tempo em que se encontram mais brechas de autonomia que no tempo de trabalho. O tempo livre pode ser um tempo de alienação e consumismo, mas também pode ser um tempo de re� exão e praxis. É preciso lembrar, no entanto, que as formas de ocupações e usos do tempo livre são variadas entre as distintas classes sociais e entre frações de uma mesma classe, lembrança esta que nos atenta para os riscos de se pensar uma sociedade homogênea em que todos são iguais e em que todos têm oportunidades iguais, seja de trabalho, seja de vivência do tempo livre. As considerações apontadas por Padilha (2004) nos fazem re� etir sobre a de� nição do tempo livre como tempo de alienação e consumo, mas também na possibilidade de pensá-lo como tempo para re� exão e práxis. 23WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O artigo intitulado Signifi cado do tempo livre para adolescentes de classe popular de Castella Sarriera et al. (2007) apresenta uma discussão a respeito do signifi - cado do termo tempo livre para adolescentes, em que se destaca a dissonância entre as crenças e os conhecimentos sobre o tempo livre e as práticas dos ado- lescentes. A fi gura a seguir é um esboço da discussão sobre os signifi cados do tempo livre realizada pelos autores do artigo: Figura 5 - Signifi cados do tempo livre. Fonte: Castella Sarriera et al. (2007, p. 723). 24WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. MAS, AFINAL, O QUE É LAZER? Após a discussão sobre os diferentes tempos e, entendendo que é no tempo livre ou tempo liberado/disponível do trabalho que o lazer das pessoas ocorre, passamos agora para o entendimento das diferentes conceituações de lazer. No decorrer dos tempos, o lazer, assim como outros termos, foi se modi� cando e ganhando novas características e entendimentos. No livro intitulado Dicionário crítico do lazer, Gomes (2004a) apresenta as diversas concepções existentes a respeito do termo lazer, e a� rma que esta é uma concepção complexa. Primeiramente, a autora apresenta as ideias inicias que foram recorrentes no Brasil, na primeira metade do século XX, quando o lazer era compreendido como uma fração de tempo, situado no tempo livre. Segundo a autora, [...] o lazer era entendido como um fenômeno decorrente das conquistas trabalhistas, materializado na forma da limitação da jornada de trabalho, das férias e � ns de semana remunerados, que constituem (ainda hoje) os períodos de tempo institucionalizados para os descansos, passatempos e diversões. Em virtude deste aspecto, freqüentemente a palavra lazer vinha precedida do vocábulo ‘horas’, enaltecendo a preocupação em desenvolver, nestes momentos, atividades recreativas para a população (GOMES, 2004a, p. 119). A partir dessa compreensão, o lazer é entendido de forma restrita como tempo subtraído da jornada de trabalho, tempo que sobra das ocupações. Gomes (2004a) a� rma que essa compreensão foi alvo de re� exões, principalmente a partir da segunda metade do século XX. Um dos importantes autores, na área do lazer, que amplia esse entendimento, é o francês Jo� re Dumazedier. A partir de pesquisas realizadas na França nas décadas de 1950 e 1960, seus trabalhos foram amplamente difundidos, fazendo com que o pensamento desse autor se tornasse uma grande referência nos estudos do lazer em diferentes áreas do conhecimento até os dias de hoje. Dumazedier amplia o entendimento restrito do lazer como tempo que sobra das ocupações e passa a de� ni-lo como conjunto de ocupações, ou seja, como a prática de determinadas atividades. Nas palavras do autor, trata-se de [...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações pro� ssionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 1979, p. 34). Gomes (2004a) destaca que essa compreensão de lazer, para Dumazedier, perpassa um sistema de características, ou caracteres, especí� cos e constituintes do lazer, sendo eles: 25WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 6 - Caracteres do lazer, segundo Jo� re Dumazedier. Fonte: Gomes (2004a, p. 120). A partir da concepção de Dumazedier, Gomes (2004a) destaca que outros autores passaram a de� nir o termo de modo semelhante ou próximo às ideias desse autor: Camargo (1986) de� ne o lazer como um conjunto de atividades prazerosas, voluntárias, gratuitas e liberatórias; e Requixa (1980) o conceitua como ocupação não obrigatória, a partir da escolha pessoal, que propicia recuperação e desenvolvimento pessoal e social. Outro autor que de� ne o lazer e é, de forma recorrente, citado em estudos sobre o assunto, é Nelson Carvalho Marcellino. Segundo Gomes (2004), nas primeiras obras do autor brasileiro Nelson Marcellino, encontram-se as ideias de Dumazedier. A autora ainda destaca que um ponto marcante das obras de Marcellino é a crítica em relação às chamadas abordagens funcionalistas do lazer:No seu entender, tais abordagens são conservadoras, disciplinadoras, visam à manutenção do status quo, mascaram injustiças sociais e funcionam como válvulas de escape das tensões. Como as abordagens funcionalistas procuram ajustar o indivíduo de forma acrítica ao contexto em que vive, incentivam o consumismo em relação ao lazer (GOMES, 2004a, p. 121). Pautado neste contexto de análise do lazer, Marcellino amplia o entendimento do termo como mero conjunto de ocupações, e passa a de� ni-lo como: “[...] cultura – compreendida em seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no ‘tempo disponível’. A ‘disponibilidade de tempo’ signi� ca possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa” (MARCELLINO, 1987, p. 31). A partir dessa de� nição, o lazer é entendido, para este autor, como um momento em que as pessoas podem realizar certas atividades ou não fazer nada, em um sentido contemplativo, considerado a partir do termo ócio, visto em uma conotação positiva. As de� nições anteriores de lazer não abordavam essa consideração, uma vez que os autores apontados anteriormente escreveram a partir de um contexto que fazia com que as pessoas considerassem o ócio – não fazer nada – como algo ruim. 26WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Por isso, o lazer era de� nido como praticar certas atividades, já que o “não fazer nada” era visto a partir de uma conotação ruim. Como discutido anteriormente, ainda hoje, no século XXI, o não fazer nada é abolido, é visto como ruim no senso comum. É por isso que o termo ócio é pouco recorrente em nosso cotidiano. Além de apresentar a concepção de lazer para diversos autores, Gomes (2004a) também apresenta sua própria consideração. Ao entender que o lazer não é um fenômeno típico advindo somente da Idade Moderna, a partir da restrita demarcação dos tempos de trabalho e de não trabalho, Gomes (2003, 2004a) a� rma que o lazer é um fenômeno que acompanha a trajetória da humanidade, ou seja, é um fenômeno que sempre existiu, carregado de características próprias de cada contexto. A autora a� rma que, na atualidade, ele é institucionalizado com características próprias que, por um lado, contribui para o mascaramento das contradições sociais, mas, por outro, pode representar uma possibilidade de resistência e questionamento à ordem social vigente. A partir destas re� exões, Gomes (2004a, p. 223) de� ne o lazer como “[...] dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações”. Ao entendê-lo como uma dimensão da cultura – campo de produção humana em várias perspectivas –, ela considera que o lazer está inserido na realidade das pessoas, assim como outras dimensões da vida humana, como a educação, a família, o trabalho, entre outras. Assim, o lazer compreende o ócio e a vivência de inúmeras manifestações da cultura, como as festas, os passeios, os esportes, as formas de artes, os jogos, as brincadeiras, as danças e inúmeras outras possibilidades. Todas essas possibilidades perpassam quatro elementos, que, segundo Gomes (2003, 2004a), são importantes na conceituação do lazer, quais sejam: Segundo Gomes (2004a, p. 222), o termo cultura, para Marcellino (1987), é “[...] um conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que, produzidos so- cialmente, envolvem simbolização e, por sua vez, defi nem o modo pelo qual a vida social se desenvolve. Implica, segundo o autor, reconhecer que a atividade huma- na está vinculada à construção de signifi cados que dão sentido à existência. A análise da cultura não pode se restringir ao produto, englobando também o modo como esse produto foi socialmente elaborado. Você conseguiria indicar qual foi a última vez que não fez nada? E paralelamente a essa primeira pergunta, conseguiria citar um exemplo de ócio no seu cotidiano? 27WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 7 - O lazer a partir dos quatro elementos inter-relacionados. Fonte: Gomes (2004a, p. 124). Até aqui apresentamos algumas das diferentes formas de conceituar o lazer. Salientamos que são somente algumas e que foram aqui brevemente apresentadas. Para um maior aprofundamento, você pode realizar a leitura completa dos textos e livros referenciados, procurando re� etir e buscar suas próprias considerações. Um bom exercício seria tentar identi� car a concepção com a qual você mais se identi� ca. No livro Lazer, trabalho e educação, a autora Gomes (2008) discute a respeito das relações historicamente produzidas entre lazer, trabalho e educação, a partir dos valores e signifi cados incorporados pelo lazer em nosso contexto. A referência desse livro está ao fi nal da apostila. Aprecie sem moderações! Figura 8 – Livro Lazer, trabalho e educação. Fonte: Gomes (2008). 28WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS DOS TERMOS RECREAÇÃO E LÚDICO Continuando nossas discussões nesta segunda unidade, após re� etirmos sobre os entendimentos dos diferentes tipos de tempo (tempo de trabalho, tempo de não trabalho, tempo livre e tempo liberado) e as diferentes concepções de lazer, vamos apresentar agora algumas conceituações dos termos recreação e lúdico. Para discutirmos sobre o termo recreação, vamos nos pautar em Waichman (2004), que aborda algumas aproximações conceituais, a partir do diálogo com alguns autores. O primeiro deles é Medeiros (1969 apud WAICHMAN, 2004), que a� rma que a atividade é o elemento essencial da recreação; atividade escolhida e praticada pelo próprio sujeito em suas horas livres, considerando que qualquer atividade pode ser recreativa, desde que o sujeito a veja assim, por sua própria vontade, com a � nalidade de prazer. Outro autor apontado por Waichman (2004) é Loughlin (1971), que de� ne recreação como vivência não obrigatória, de vontade própria, que não cause frustrações. A� rma ainda que as atividades recreativas acontecem de modos diferentes de acordo com a cultura da sociedade envolvida. Concordando com estas de� nições, Waichman (2004) destaca elementos determinantes para a conceituação do termo recreação, sendo eles: a temporalidade, a ação e a liberdade. Em relação à temporalidade, o autor destaca que o tempo em que ocorre a recreação, as atividades recreativas, é fundamental; portanto, deve haver um tempo liberado das obrigações para que a recreação, de fato, ocorra. Em relação ao segundo elemento, a ação, o autor a� rma que diz respeito à ocorrência de tais atividades, ou seja, a recreação é pautada em uma ação intencional. E, por � m, há o último elemento, que é a liberdade, pois o sujeito é quem deve optar em realizar ou não, a � m de sentir satisfação. Abordando estes elementos, recreação é de� nida por Waichman (2004, p. 25) como “[...] uma atividade (ou conjunto delas) que possui lugar em um tempo liberado de obrigações exteriores; o sujeito elege (opta, decide); e provoca-lhe prazer (diversão, entretenimento, alegria)”. Waichman (2004) nos apresenta ainda os três principais modelos teórico-práticos da recreação: o recreacionismo, a animação sociocultural e a recreação educativa. Vamos agora buscar entender cada um deles. O primeiro modelo é o recreacionismo, que considera a recreação como uma junção ou repertório de atividades que divertem e descansam os sujeitos ao � nal do dia de trabalho, nos � ns de semana ou durante as férias. Os pro� ssionais que atuam com a recreação, a partir deste enfoque, devem ter um amplo repertório de atividades, mas não precisam se interessar profundamente por elas. O único ponto necessário é que as atividades sejam su� cientes para prover a diversão a � m de compensar a fadiga e o cansaço das pessoas. Portanto, o pro� ssional mais quali� cado neste tempode modelo é aquele que tem mais tempo de prática e mais recursos técnicos (WAICHMAN, 2004). O segundo modelo destacado por Waichman (2004) é a animação sociocultural. Esse modelo surgiu na França, a partir dos estudos advindos da Sociologia do Lazer, por volta de 1950, com Dumazedier. Inicialmente, passou a ser utilizado como metodologia para educação de adultos, tendo como característica principal a preocupação e a necessidade de uma educação popular e uma participação social que levasse aos indivíduos o conhecimento e a compreensão do meio em que viviam, bem como as ações coletivas capazes de transformar esse meio. As atividades propostas, portanto, tinham esse caráter progressista, democrático e humanista. 29WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Contudo, o foco não é a atividade em si, como no recreacionismo, e sim os indivíduos e as trocas sociais e culturais que podem ocorrer entre eles, e deles com o meio. Para isso, o animador sociocultural deve estabelecer sua prática, objetivando educar para o lazer e pelo lazer, sendo este o meio que se utiliza para chegar à educação, como também a � nalidade da educação. A partir de uma abrangência cultural, tal modelo abre um campo de atuação a animadores socioculturais de diferentes formações, não se restringindo apenas a uma área de intervenção. Possui um signi� cado educativo por buscar mudanças de atitude das pessoas, tornando suas ações conscientes. Dessa forma, critica a sociedade instituída, mas vai além, promovendo novos valores, questionamentos e ações. Diferentemente do recreacionismo que, ao propor atividades com o � m nelas mesmas, contribui para o conformismo, a animação sociocultural constitui-se como um “[...] modelo de análise da realidade que desenvolve métodos e técnicas a favor de uma mudança social, cultural e individual” (WAICHMAN, 2004, p. 29). O último modelo apontado por Waichman (2004) é a recreação educativa, um enfoque menos utilizado e conhecido no âmbito da recreação. É considerada pelo autor como recente e complexa, pois ocorre de forma não favorável à manutenção da sociedade consumista atual. O modo como autores que discutem recreação agregam atividades recreativas à educação não é o mesmo que o enfoque da recreação educativa trata. Recreação educativa, portanto, é “[...] um modelo pedagógico, a uma teoria da educação a qual corresponderá um modelo didático” (WAICHMAN, 2004, p. 30). No decorrer das atividades – jogos, brincadeiras, dinâmicas etc. –, este enfoque leva os sujeitos a serem protagonistas, pensarem sua prática tanto dentro da própria atividade quanto no contexto em que estão inseridos. Pensar e atuar faz parte desse processo, tornando-se criativo e independente. Figura 9 – Recreadores em ação. Fonte: Associação Master (2017). Esses enfoques são possibilidades de consideração da recreação a partir de três vieses diferentes. Ao longo da trajetória histórica, como discutimos na primeira unidade da disciplina, a recreação foi, por vezes, utilizada como atividade compensatória a partir do seu caráter técnico e operacional, por mais que a origem etimológica do termo esteja voltada ao sentido lúdico, criativo, de diversão. Mas, como bem sinalizado por Marcassa (2004), é necessário compreendermos que a recreação se consolidou e foi apropriada como um saber-instrumento por diferentes instituições sociais, como a escola, o lazer, a família, a igreja. Estas instituições sociais tornaram a recreação uma manifestação com características e qualidades que podem ser ajustáveis aos diferentes contextos e situações sociais. 30WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Concordando com o autor, entendemos que cabe a cada um de nós, que pretendemos atuar com a recreação, re� etirmos se é assim que ela deve permanecer, ou quais as possibilidades que temos de construir novas e ricas experiências pedagógicas envolvendo a recreação (MARCASSA, 2004). Talvez os dois últimos modelos de recreação, apresentados por Waichman (2004) nos parágrafos anteriores, sejam meios para essa construção. Estamos chegando ao � nal desta unidade e, para � nalizá-la, o último conceito que será discutido é o do termo lúdico. Segundo Gomes (2004b), lúdico é um termo corrente, empregado no vocabulário da língua portuguesa, porém não é uma palavra conhecida em outras línguas. No senso comum e nos dicionários da língua portuguesa, o signi� cado do termo lúdico é voltado à imaginação, aos jogos, brinquedos e divertimentos voltados às atividades infantis, à fase da infância. O seu emprego corrente reforça a crença de que pessoas de outras faixas etárias, preocupadas com as “coisas sérias” da vida, não teriam tempo para as atividades lúdicas. Por esse motivo, e a partir do seu suposto caráter inútil-improdutivo, a palavra “lúdico” é, de forma recorrente, somente ligada ao imaginário infantil. Esse entendimento está ligado a todas as outras discussões aqui realizadas, voltadas principalmente à oposição clássica entre trabalho e tempo livre e todas as signi� cações que esses termos carregam. Porém, o lúdico possui uma signi� cação muito mais ampla. Faz parte da essência do ser humano e, portanto, precisa ser reconhecido e valorizado de forma mais abrangente. Passamos então a veri� car como esse termo é conceituado por alguns autores. Para Pimentel (2003), o lúdico pode ser de� nido como o estado de espírito que faz com que uma pessoa se divirta espontaneamente e de forma prazerosa, a partir do equilíbrio entre o mundo interior e o exterior. Cavallari e Zacharias (2000, p. 14), em um sentido bastante próximo ao de� nido por Pimentel (2003), a� rmam que o “Lúdico é tudo aquilo que leva uma pessoa somente a se divertir, a se entreter, a se alegrar, a passar o tempo, sendo um momento espontâneo e estimulado”. Ao se pautar em autores que buscam re� etir sobre signi� cados mais ampliados para o termo lúdico, Gomes (2004b) passa a considerá-lo como uma forma de expressão humana, como uma forma de linguagem. Assim como possuímos diferentes formas de nos expressar, por meio da linguagem oral, da linguagem corporal, a autora a� rma que o lúdico, sendo entendido como linguagem humana, pode manifestar-se de diversas formas, seja de forma oral, escrita, gestual, visual, artística, entre outras, e ocorrer em diferentes momentos da vida, seja no trabalho, na escola, na família, na política etc. Gomes (2004b) a� rma que o lúdico é, de forma equivocada, relegado somente à infância, em nossa sociedade, e considerado como sinônimo de certas manifestações culturais, como danças, músicas, festividades, jogos, brinquedos, dentre outros. Mas ela a� rma: “[...] as práticas culturais não são lúdicas em si. É a interação do sujeito com a experiência vivida que possibilita o desabrochar da ludicidade” (GOMES, 2004b, p. 145). Portanto, o lúdico pressupõe a valorização e apropriação expressiva do processo vivido, e não do produto desse processo. É no ato, nas ações que o lúdico se manifesta, e não no produto delas. Nas palavras da autora, “[...] mesmo quando não se obtém o resultado almejado (por exemplo, torcer ou integrar um time que não sai vitorioso de uma partida), prevalece o pensamento de que a vivência valeu a pena, sendo mantido o desejo de repeti-la e conquistar novos desa� os” (GOMES, 2004b, p. 145). Assim considerado, o lúdico pode e existe em qualquer contexto, não importa o momento nem a idade das pessoas envolvidas, uma vez que faz parte da condição humana. 31WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Tarja Branca: a revolução que faltava, direção de Cacau Rhoden, 2014. O fi lme, em forma de documentário, mostra imagens de brincadeiras, de manifestações populares brasileiras e entrevistas com artistas, pesquisadores, psicólogos, psica- nalistas, terapeutas, pedagogos e pessoas que brincam em geral. O documentário passa a ideia de que o prazerda brincadeira deve ser estimulado desde cedo para que, na vida adulta, as pessoas continuem brincando. Figura 10 – Documentário Tarja Branca. Fonte: Maria Farinha Filmes (2019). 32WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você teve a oportunidade de entender um pouco mais sobre conceitos importantes para o entendimento do lazer, recreação e jogos, uma vez que, compreendendo os conceitos, é possível ampliar o entendimento desses assuntos aplicados à Pedagogia. Em um primeiro momento, foram abordadas de� nições relacionadas aos diferentes tempos. São eles: o tempo total, dividido em tempo de trabalho, tempo de necessidades básicas vitais e o tempo livre. Este último, mais importante para nossa discussão, também foi subdividido: tempo livre relacionado à liberdade, ao ócio ou ao prazer, dependendo da escolha do sujeito. Em um segundo momento, a de� nição de lazer foi abordada. Levando-se em consideração a amplitude do tema, optamos pela subdivisão tradicional, que trabalha com a ideia de um lazer, pensando em quatro principais características (caráter desinteressado, caráter liberatório, caráter hedonístico, ou seja, a busca pelo prazer, e o caráter pessoal). Normalmente, uma atividade, para ser caracterizada como atividade de lazer, perpassa essas características. Finalmente, compreendemos que, para a caracterização das atividades de lazer, a partir de uma abordagem mais nova que a citada anteriormente, quatro elementos podem estar inter- relacionados, sendo eles: o tempo, o espaço-lugar, as manifestações culturais e as ações realizadas. Esses conhecimentos vão permitir que você compreenda melhor os próximos desenvolvimentos de nossa disciplina. Vamos avançar? 3333WWW.UNINGA.BR UNIDADE 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 34 1. O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO .............................................................................. 35 2. O BRINCAR, O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA .............................................................................. 36 3. O BRINCAR E AS BRINCADEIRAS NA ESCOLA .............................................................................................. 39 3.1 AS BRINCADEIRAS CANTADAS ...................................................................................................................... 39 3.2 O RECREIO DIRIGIDO ......................................................................................................................................41 3.3 O BRINCAR E AS BRINCADEIRAS À LUZ DAS DISCIPLINAS ESCOLARES ................................................ 42 3.4 A OBSERVAÇÃO DAS BRINCADEIRAS INFANTIS PARA DIAGNÓSTICO DA REALIDADE ......................... 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................... 44 BRINQUEDO, BRINCADEIRA, BRINCAR E JOGO NO ÂMBITO ESCOLAR PROF.A DRA. PAULA CAROLINA TEIXEIRA MARRONI PROF.A MA. ANDRESSA PELOI BERNABÉ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: RECREAÇÃO E JOGOS 34WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Conforme visto nas unidades anteriores, este estudo de Recreação e Jogos está dividido em quatro unidades. Nas unidades anteriores, observamos os aspectos históricos da recreação e dos jogos para podermos compreender melhor os termos que foram apresentados na segunda unidade, tais como defi nições de recreação, jogos e de termos que fazem parte das teorias do lazer, como lazer, tempo de trabalho, tempo livre, tempo liberado, semilazer. Esta unidade pretende revelar como o brincar, o brinquedo, o jogo e a recreação são apresentados dentro do panorama de desenvolvimento infantil e suas relações com o ambiente escolar. Finalmente, na próxima e última unidade, as Teorias dos Jogos são aprofundadas, de modo a capacitar os profi ssionais da educação a atuar com base nesse conteúdo. O jogo, o brinquedo, a brincadeira e o brincar são alvo de uma série de estudos de diversas áreas do conhecimento e, por essa razão, a educação faz uso de uma gama de elementos para trazer fundamentos teóricos para as atividades relacionadas ao brincar. Esta unidade, portanto, apresenta algumas dessas visões e pretende tratar como o jogo e o brincar podem fazer parte do processo de desenvolvimento da criança para além do senso comum, porém englobando também o ato de brincar e da ludicidade inerente ao ser humano, independentemente de sua idade. Para isso, primeiramente, relembraremos conceitos anteriormente explicitados para relacioná-los com o brincar e a ludicidade inerente aos seres humanos. Em seguida, apresentaremos os conceitos de brinquedo e de brincar. Finalmente, traçaremos apontamentos a respeito do brincar no desenvolvimento infantil e a relação da educação com o brincar e os momentos para a brincadeira na escola. Haverá um momento especial para as brincadeiras cantadas, importante fonte de atividades para a educação. 35WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DO SER HUMANO Figura 1 - Arte rupestre. Fonte: Aidar (2019). Segundo Camargo (1998), a diversão e o lúdico são traços de todas as sociedades conhecidas em todas as épocas, que podem acontecer a qualquer momento da vida do indivíduo, esteja ele trabalhando, se alimentando ou cumprindo qualquer tarefa. Observando a Figura 1, podemos notar a expressão de um grupo de humanos que pode ter, durante toda a sua trajetória na civilização, construído momentos de diversão, mesmo em um período de busca pela sobrevivência. Se considerarmos a ludicidade como elemento que, ontologicamente, pode fazer parte da história do homem desde sempre, como pungência interior pelo brincar, podemos perceber que a brincadeira e o brincar, enquanto expressão concreta da ludicidade, não são atos exclusivos das crianças. Os adultos podem brincar, uma vez que também podem expressar sua ludicidade. Considerar brincadeira uma ação própria somente do mundo infantil é excluir sua potência educativa em outras fases do desenvolvimento e também sua potência formativa e outras potencialidades já apresentadas na unidade anterior, como vivenciar cultura no tempo livre, descansar desenvolvendo habilidades, integração com outras pessoas, entre outras. Uma boa pergunta a ser feita para você começar a refl etir a respeito do brincar no desenvolvimento do ser humano é: você acredita que brincar é coisa de criança? Somente de criança? Adultos podem brincar? Qual a relação dos adultos com o brincar? 36WWW.UNINGA.BR RE CR EA Çà O E JO GO S | U NI DA DE 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O que buscamos salientar aqui, em resumo, e que consideramos muito importante, é que, mesmo que estejamos abordando a brincadeira, o brinquedo, o jogo e o brincar no desenvolvimento infantil, não podemos deixar de levar em consideração que a ludicidade é inerente ao homem e que ela existe na vida adulta, muitas vezes substituída por outras expressões que não o brincar, mas que não necessariamente o excluem. Tendo isso em mente, vamos compreender melhor como se diferenciam os brinquedos e as brincadeiras. 2. O BRINCAR, O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA Você já parou para pensar como de� nir o brincar, o brinquedo e a brincadeira? O que você considera um brinquedo? Existe diferença entre eles? Figura 2 - Amarelinha. Fonte: Como educar seus � lhos (2019). Vamos propor um exercício: imagine uma brincadeira infantil comum, como a amarelinha. Você consegue observar valores que podem ser trabalhados nessa brincadeira? Quais deles você observa? As regras traçadas podem variar? Se que- bradas, o que acontece? Que tipo de ensinamento isso pode trazer para
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