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Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Sistema Cardiovascular Trombose Venosa Profunda A trombose venosa profunda (TVP) consiste na formação de trombos (coágulos) nas veias do sistema venoso profundo, acometendo, com maior frequência, os membros inferiores (80-95%) dos casos). Trombos são massas sólidas formadas na circulação por constituintes do sangue (plaquetas e fibrina), que podem levar à isquemia por obstrução vascular local ou embolia à distância. Suas complicações são variáveis, dependendo da extensão da trombose e do local acometido. Fisiopatologia O trombo é descrito como tendo: Cabeça - parte inicial aderente à parede da veia; Corpo - aderente lateralmente, parcial ou completamente, à parede da veia; Cauda - parte flutuante, livre na corrente sanguínea e unida ao corpo; É essa parte que pode desprender-se parcial ou totalmente, ocasionando a TEP. Quanto mais rápida for a organização, menor será o fragmento do trombo que se destaca, menor por conseguinte a gravidade da embolia. Quanto mais lento for o fluxo sanguíneo nas veias atingidas, maior é o crescimento do trombo, possibilitando a formação de caudas compridas e grossas que, quando se destacam, ocasionam embolias mais graves. Esses trombos podem desenvolver-se após uma agressão direta à parede venosa, como traumas, cateterismo ou injeção venosa, ou podem desenvolver-se sem qualquer lesão venosa aparente, em um indivíduo normal ou em pacientes submetidos a cirurgia, imobilidade ou repouso prolongado. A tríade de Virchow sugere que há 3 componentes importantes na formação do trombo: 1. Estase Venosa 2. Lesão Endotelial 3. Hipercoagulabilidade sanguínea Esses fatores podem exercer diferentes graus de influência, sendo possível que ajam isoladamente ou em associação com um dos outros 2 fatores. Assim, nos casos de trauma venoso direto, cateterismo, etc, o fator da lesão endotelial é sem dúvida a causa principal. Já nas tromboses espontâneas ou desencadeadas por imobilidade, embora os 3 fatores possivelmente participem, parece ser de fundamental importância a estase venosa e o estado de hipercoagulabilidade. Estase Venosa O paciente quando se encontra muito tempo em repouso (como no caso de pacientes acamados, seja por cirurgia ou por impossibilidade de se movimentar) fica com a musculatura relaxada, permitindo um maior volume sanguíneo acumulado nos membros inferiores, além da própria dilatação da parede venosa. Esses itens, associados à redução do DC no repouso e a não utilização dos mecanismos de retorno venoso da bomba venosa periférica, isto é, da contração dos músculos da panturrilha que auxiliam na impulsão do sangue no coração (seja durante o repouso, anestesia ou em paralisias), causam uma queda da velocidade de fluxo local e consequente instalação da estase sanguínea local. A diminuição do fluxo sanguíneo pode causar também uma alteração nas válvulas venosas, criando um turbilhonamento de sangue e causando um acúmulo de hemácias, leucócitos e plaquetas neste local. Portanto, a estase promovida pelo repouso prolongado é responsável pela ativação da agregação plaquetária e, consequentemente, pela ativação da cascata de coagulação neste local, permitindo que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo. Lesão Endotelial A lesão endotelial é trombogênica devido à ativação da cascata de coagulação. O endotélio vascular, em condições normais, impede a formação de trombos, sobre o qual não aderem plaquetas, nem leucócitos, nem ocorre ativação de proteínas coagulantes. Ele mantém o sangue em sua forma líquida através da produção de óxido nítrico (NO) e prostaglandina I2 (prostaciclina) -- responsáveis por inativar os receptores da plaqueta -- além da produção de ADP-defosfatase -- responsável por quebrar o ADP produzido pelas plaquetas. Portanto, essas substâncias impedem a adesão e agregação plaquetária local. Quando existe uma lesão endotelial com exposição do subendotélio, plaquetas e glóbulos brancos rapidamente se acumulam sobre este, havendo também ativação dos mecanismos de coagulação. Essa disfunção pode levar também à diminuição na produção de substâncias vasoativas e inibidoras de agregação plaquetária, como prostaciclina e NO, e aumento na secreção de vasoconstritores e agregantes plaquetários. As plaquetas, ao liberarem ADP e tromboxana A2 recrutam e promovem a agregação de novas plaquetas. Forma-se trombina, que contribui para agregação de novas plaquetas e para a formação de fibrina (através da ativação dos fatores VII, IX e X) que dará consistência ao trombo, apreendendo os elementos celulares. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Nos casos de TVP espontânea ou secundária ao repouso, pós- cirurgia, etc, o processo inflamatório tende a surgir secundariamente à presença do trombo. A presença de leucinas, prostaglandinas, cininas e enzimas proteolíticas liberadas de leucócitos, plaquetas e da própria parede vascular podem contribuir para o aumento do processo inflamatório, para a extensão do trombo e para o desenvolvimento de sintomas clínicos. É possível que alguns sintomas gerais referidos no início do quadro de TVP, como mal-estar, febre e taquicardia, devam-se também à liberação dessas substâncias para a corrente sannguínea. Diversos fatores, como traumas, radiação, infecção, drogas, lesões térmicas, citocinas e anti-corpos, além de outros, podem ser responsáveis pela lesão do endotélio vascular saudável, causando exposição da matriz extracelular, produção de tromboxano A2 e ADP, adesão e agregação plaquetária, com formação de trombina (que estimula a agregação) e, por sua vez, a ativação da cascata de coagulação, com formação de fibrina através da ativação dos fatores VII, IX e X. O próprio trauma cirúrgico e a reação inflamatória com leucocitose podem ser suficientes para lesão do endotélio e pela consequente formação de trombos em pacientes pós- operatórios. Hipercoagulabilidade sanguínea O estado de hipercoagulabilidade ou trombofilia se trata do aumento de fibrina no sangue, que pode ser de origem genética ou adquirida. Ela inclui: Alterações genéticas que podem provocar ou facilitar o desenvolvimento de trombose, como: - Deficiência nos fatores que impedem a coagulação como a antitrombina, a proteína C e a proteína S. - Resistência à proteína C ativada, devido a mutação no fator V de Leiden (trombofilia mais comum). - Aumento de fatores de coagulação como fator VIII e XI. Aumento de fatores que promovem a coagulação e que podem estar elevados em determinados estados fisiológicos, patológicos e terapêuticos, como em gravidez e câncer, e com o uso de esteroides etc. Diminuição de anticoagulantes circulantes em estados fisiológicos e patológicos, por exemplo. Alterações hepáticas, ou por uso de medicamentos como estrógenos (ACO), antivitaminas K (no início do tratamento anticoagulante) e quimioterápicos. A diminuição da atividade fibrinolítica, como ocorre, por exemplo, no pós-operatório imediato. A pressão venosa aumenta em consequência da trombose venosa, aumento esse dependente do local e da extensão do trombo, da posição do membro envolvido em relação ao AD e da atividade muscular. Existem casos de aumento da pressão venosa em média 2,5x mais alta em pacientes com trombose do que em indivíduos normais quando em decúbito dorsal. O aumento da pressão venosa é responsável pela maioria das alterações fisiológicas locais, como aumento da pressão venular e capilar, responsável pelo acúmulo de líquido no meio intersticial e consequente edema. A obstrução venosa, levando ao aumento da pressão venosa, ocasiona distensão da parede da veia, fato que colabora na fisiopatologia da dor nos casos de TVP. A distensão de veias não envolvidas na trombose, seja superficiais ou profundas, deve-se ao aumento de fluxo nessas veias, que passam a atuar como circulação colateral. Nos membros inferiores, até 50% dos trombos localizados na musculatura da panturrilha apresentam resolução espontânea e, aproximadamente 15% evoluem até acometer a veia femoral. Além disso, aTVP ocorre com maior frequência no membro inferior esquerdo. Tal fato encontra justificativa na própria disposição anatômica, uma vez que a artéria ilíaca direita, ao cruzar a veia ilíaca esquerda, pode, ocasionalmente, comprimi- la. A compressão da veia ilíaca esquerda além de diminuir o lúmen do vaso, predispõe a estase sanguínea, favorecendo a formação de trombos neste membro. Classificação A TVP nos membros inferiores é dividida de acordo com a localização: Proximal: quando acomete veia ilíaca / femoral / poplítea. Distal: quando acomete veias localizadas abaixo da poplítea. Essa diferenciação entre TVP proximal ou distal tem importância prática, pois já se comprovou que a probabilidade de uma EP grave ser causada por uma TVP distal é baixa. Entretanto, é importante também se fazer o diagnóstico da TVP distal e tratá-la precocemente, pois 6 a 31% das TVP distais podem evoluir para uma TVP proximal. Fatores de Risco A TVP é considerada uma doença multifatorial em que fatores genéticos interagem entre si e com fatores ambientais, levando ao desencadeamento da doença. Isso explica por que algumas pessoas têm a doença sem que nenhum fator externo possa ser determinado, ou se encontram apenas fatores muito discretos, mesmo em idade muito jovem, enquanto outros pacientes, mesmo colocados em situação de alto risco de TVP, não a desenvolvem ou a desenvolvem em fase tardia da vida. Idade: a diminuição da resistência da parede venosa, com a idade, pode propiciar a dilatação da veia e, consequentemente, a diminuição da velocidade do fluxo sanguíneo, facilitando o desenvolvimento da trombose. Além disso, foi encontrada menor atividade fibrinolítica nas veias da perna em indivíduos de mais de 65 anos, podendo ser um fator a mais para esse desenvolvimento. Imobilização superior a 3 dias; Tromboembolismo venoso prévio: A ocorrência prévia de TVP aumenta de 3 a 4 vezes o risco de TVP em pacientes submetidos à cirurgia. Obesidade: A obesidade parece ser um fator de risco para o desenvolvimento de TVP em pacientes acamados, possivelmente devido à dificuldade de mobilização do paciente e, talvez, a uma diminuição da atividade fibrinológica que ocorreria em obesos. Varizes: foi encontrada TVP 2x mais frequentemente em portadores de varizes do que em não portadores. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Cirurgia de grande porte nas últimas 4 semanas: quanto maior a operação a que foi submetido um paciente, maior o risco de TVP. Viagens com duração superior a 4 horas nas últimas 4 semanas; Fraturas em MMII; Anestesia: mais frequente em pacientes submetidos à anestesia geral do que à peridural ou raquidiana. Infecção: a infeccção em pacientes cirúrgicos também constitui fator de risco para desenvolvimento de TVP. Neoplasias: pacientes com câncer tem 4x mais risco de desenvolver TVP do que os sem câncer e em cerca de 6x nos casos tratados com quimioterapia. Cerca de 50% dos pacientes com câncer e 90% dos com metástase apresentam anormalidade de um ou mais exames de coagulação, principalmente aumento dos fatores de coagulação. ICC e/ou IAM: esses pacientes apresentam 2 ou 3x mais TVP diagnosticada do que os sem insuficiência. Essa maior frequência é resultado do aumento da pressão venosa central, da diminuição da velocidade de circulação sanguínea, da diminuição de mobilidade do paciente e, talvez, da hipoxia tecidual. Gravidez e puerpério: na gravidez o risco se dá principalmente pela estase sanguínea causada pela compressão uterina. Já após o parto, a incidência de TVP é muito maior que durante a gravidez. Fatores que possivelmente influem nesse aumento de frequência incluem diminuição de atividade fibrinolítica no último trimestre de gravidez e no início do trabalho de parto, liberação de tromboplastina tecidual no momento da separação placentária e estase venosa por contração uterina e vasodilatação. O risco de TVP é maior após cesárea do que após parto normal. ACO ou reposição hormonal no pós menopausa: o uso de estrógeno causa diversas alterações hemodinâmicas como o aumento dos níveis de fatores de coagulação, redução dos níveis de antitrombina, resistência à proteína C, alterações da viscosidade sanguínea e da parede vascular, entre outros. Parece, entretanto, que seu desenvolvimento está mais ligado ao uso de doses altas de estrógenos. Vários trabalhos sugeriram que doses baixas desse hormônio, como as usadas atualmente em vários ACO, possam acarretar menor risco a suas usuárias. Grupos Sanguíneos: as pessoas não portadoras do grupo sanguíneo O (genótipos IAIA, IAIB e IBIB) têm risco maior de trombose e embolia do que os portadores de O (IAi, IBi, ii). Isso se deve ao fator de terem níveis plasmáticos mais altos de fator VIII, proteína crucial no processo de coagulação. Quadro Clínico A sintomatologia da TVP é variável, podendo distinguir-se 3 tipos clínicos: Indeterminado: nesse tipo, o paciente não apresenta qualquer sintoma característico. Geralmente o paciente é acamado, podendo apresentar taquicardia, taquipneia e mal estar geral. Localizado: Além dos sintomas gerais igual ao indeterminado, surgem no local da trombose ou no território drenado pela veia comprometida, dor, edema, alteração da temperatura e da cor da pele e ingurgitamento das veias superficiais. A dor é de intensidade variável e súbita, que piora com a movimentação e melhora com repouso e elevação do membro comprometido. O edema unilateral é o sinal mais característico da trombose venosa aguda, aparecendo na maioria dos casos. Localiza-se na região imediatamente abaixo da trombose e, quando esta acomete ambas as veias ilíacas ou a veia cava inferior, o edema chega ao períneo, à região glútea e aos membros inferiores. Também há o aumento da temperatura no membro ou no local comprometido. A alteração de cor mais frequente é a cianose, em razão da estase venosa. Quando ocorre trombose em veias profundas, o retorno venoso passa a ser feito pelas veias superficiais, as quais ficam muito ingurgitadas. Tromboembólico: Nesse tipo, fragmentos do trombo se desprendem e se alojam no pulmão, ocasionando a embolia pulmonar. As manifestações gerais e locais, juntam-se às pulmonares. Êmbolos pequenos localizam-se nas artérias pulmonares mais periféricas, provocando dor do tipo pleurítico, ou seja, em pontada, intensa e relacionada com os movimentos respiratórios, dispneia e tosse. Diagnóstico Ao iniciar a investigação clínica para o diagnóstico de TVP devemos investigar o início dos sintomas e se este está relacionado a alguma situação de risco, como um paciente acamado, pós operatório, cateterismo prévio, viagens longas ou traumas locais. Muitas vezes a TVP pode surgir espontaneamente, mas a associação às situações de risco tornam o diagnóstico mais provável. Uma vez feita a suspeita de TVP, deve-se realizar exames complementares para confirmação diagnóstica, uma vez que o quadro clínico da trombose pode ser brando em TVPs distais. Portanto, a história clínica e o exame físico não são suficientes para confirmar ou excluir o diagnóstico. É necessária uma complementação com métodos de imagem, fluxo ou bioquímicos. → FLEBOGRAFIA / VENOGRAFIA É um procedimento no qual um raio-x das veias é realizado após a injeção de um contraste numa veia, usualmente do pé. O contraste deve ser injetado constantemente através de um catéter, o que configura o procedimento como invasivo. Devido a isso, ela tem sido realizada cada vez menos nos hospitais para auxílio diagnóstico. Além disso, ela possui suas limitações, pois deve ser realizada em centro cirúrgico, necessita do uso de contraste (podendo ocasionar reações alérgicas) e é contraindicada em gestantes. → ULTRASSOM VENOSO COM DOPPLER COLORIDO Hoje é, sem dúvida, o método de escolha na maioria dos casos de suspeita clínica de TVP. Contribuiu para isso o fato de que os equipamentos de US são de uso universal, estando presentes Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO na maioria dos hospitais e promovem diagnóstico não invasivo, praticamente semcontraindicações ou efeitos deletérios. O teste da compressibilidade venosa é o critério mais confiável e simples para verificação da TVP em fase aguda, de modo que a não compressibilidade venosa é indicativo de um trombo intraluminar. Esse critério tem sido o mais usado para o diagnóstico da TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98% em nível proximal. A tecnologia duplex ou eco-Doppler incorpora à US o Doppler pulsado e promove uma avaliação simultânea da imagem do vaso (modo B) e das características do fluxo. O uso do mapeamento duplex a cores ou o eco-Doppler a cores tem possibilitado melhor avaliação do fluxo vascular e torna o exame mais rápido e fácil, propiciando melhor visualização das veias e facilitando a identificação dos trombos parcialmente oclusivos e das veias de menor calibre. → EXAME LABORATORIAL: D-DÍMERO O exame utilizado é o Teste D-dímero. Apresenta alta sensibilidade, mas pouca especificidade para o diagnóstico da TVP. O D-dímero é um dos produtos da degradação da fibrina. Está presente em qualquer situação na qual haja formação e degradação de um trombo, não sendo, portanto, um marcador específico de TVP, podendo estar elevado em situações fisiológicas ou patológicas diversas, como: idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia e processos inflamatórios e/ou infecciosos. Devido a isso, o D-dímero não deve ser usado de forma isolada. A dosagem do D-dímero deve ser utilizada em pacientes de baixa probabilidade clínica para TVP, já que não apresenta 100% de sensibilidade. Já em pacientes com alta probabilidade pré-teste para TVP ou EP a utilidade é questionável e não exclui doença tromboembólica. → TC e RM Útil para pacientes com suspeita de TVP, em que o Eco-Doppler não pode ser realizado, seja por limitação técnica ou suspeita de anomalia venosa. Podem auxiliar no diagnóstico de trombose das veias cava inferior, superior e seus ramos, nas quais têm demonstrado boa sensibilidade e especificidade. Tromboembolismo Pulmonar É uma síndrome clínica caracterizada pela presença de trombos que ocluem artérias pulmonares ou suas ramificações, levando a uma grande variedade de manifestações clínicas, que dependem, em grande parte, do tamanho do êmbolo e do estado geral da circulação. A grande maioria (95%) desses trombos são vindos de uma TVP de MMII. Existem também outros tipos de embolismo pulmonar não causados por trombos, como a embolia gordurosa, gasosa ou tumoral que podem ocorrer apesar de serem muito menos comuns. Epidemiologia O TEP apresenta elevada prevalência e uma alta taxa de mortalidade, motivo pelo qual já legitima o início do tratamento quando existe um elevado grau de suspeita da doença. Além disso, a sua sintomatologia inespecífica faz com que muitos casos de TEP sejam subdiagnosticados. Nos últimos anos, houve uma crescente preocupação na criação de protocolos de profilaxia em virtude da alta prevalência desse evento no ambiente hospitalar, nos pacientes internados. A incidência de TEP aumenta com a idade, principalmente nas mulheres. Além disso, a sua mortalidade também é subestimada, uma vez que há evidências de que parte dos casos de morte súbita de origem cardiovascular sejam causados por TEP. OBS1: O sítio venoso mais envolvido no TEP é a região iliofemoral. Fisiopatologia A patogênese do TEP envolve os fatores que predispõe à ocorrência de TVP (os elementos da Tríade de Virchow) e migração de êmbolos para os pulmões. → O trombo ascende dos MMII (mais comum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. → O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência, pode haver uma dilatação de câmara direita (e consequente ICC direita). → O bloqueio do fluxo causado pelo êmbolo aumenta a pressão da artéria pulmonar, além de diminuir o débito cardíaco. → A obstrução também provoca a liberação de mediadores inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. → A oclusão pode desencadear uma isquemia do parênquima pulmonar irrigado pela artéria obstruída. OBS2: A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. As consequências clínicas do tromboembolismo pulmonar se resumem da seguinte forma: 1. Quando vasos menores sofrem oclusão, os resultados são menos catastróficos e podem ser clinicamente silenciosos (corresponde a 60-80% dos casos). A circulação brônquica sustenta a viabilidade do parênquima Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO pulmonar afetado, e a atividade fibrinolítica leva à dissolução completa da massa embólica. 2. Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar (cerca 3/4 de todos os infartos afetam os lobos inferiores). Nesses casos, há uma resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Cabe lembrar que os pulmões são oxigenados não apenas pelas artérias pulmonares, mas também por artérias brônquicas e diretamente pelo ar nos alvéolos. Logo, a necrose isquêmica (infarto pulmonar) é mais exceção do que regra, ocorrendo em somente 10% dos pacientes com tromboembolia. Ocorre apenas no caso de comprometimento da função cardíaca ou da circulação brônquica, ou então nos casos em que a região pulmonar está subventilada como resultado de doença pulmonar subjacente. 3. Em 5% dos casos, ocorre morte súbita, ICC direita ou colapso cardiovascular (choque). Estas consequências graves surgem tipicamente quando mais de 60% da vascularização total do pulmão encontra-se obstruída por um êmbolo grande ou por múltiplos êmbolos pequenos. Nesses casos, o paciente falece por: (1) hipóxia aguda, por queda na perfusão pulmonar; (2) colapso circulatório, por: (a) queda no DC, por falta de enchimento do átrio esquerdo; (b) falência aguda do VD. Fatores de Risco Além de todos os fatores de risco de TVP, existem outros que podem estar associados à embolia não trombótica (apesar de serem incomuns), como: - Presença de corpos estranhos, principalmente pelo uso abusivo de drogas injetáveis; - Bolhas de gás no sangue por manipulação inadequada de equipos venosos ou variações abruptas da pressão atmosférica. - Presença de partículas de gordura, em indivíduos com traumatismos em locais com abundante tecido adiposo ou medula óssea gordurosa; - Líquido amniótico, após trabalho de parto prolongado; - Pacientes com TEP prévia (30% de chance de reincidência); Quadro Clínico A sintomatologia do TEP é inespecífica apresentando um amplo espectro clínico que vai de pacientes hemodinamicamente instáveis a paciente que cursam com sintomas gerais, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e retarda o início da terapêutica. SINTOMAS O sintoma mais prevalente nos pacientes com TEP é a dispneia, seguido pela dor torácica de caráter pleurítico e tosse, que pode se apresentar seca ou com hemoptise. A febre está presente em 18 a 50% dos casos de TEP com infarto pulmonar. OBS3: A ausência desses sinais não exclui o diagnóstico de TEP. SINAIS Sinais que podem estar presentes nos pacientes com TEP são: - Taquicardia (visto no eletrocardiograma, na forma sinusal); - Taquipneia; - Hipotensão (PAS <90); - Distensão jugular; - Hiperfonese de B2 na ausculta cardíaca (sugere existência hipertensão pulmonar); - Sibilos na ausculta respiratória; - Murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência de atelectasias); - Sinais de TVP como edema assimétrico em MMII que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor (sinais flogísticos) no local. - Cerca de 20 a 30% dos pacientes com TEP apresentam síncope e parada cardio-respiratória; Tratamento Profilático A terapia profilática pode incluir anticoagulantes, deambulação precoce para pacientes em pós-operatórioou em pós-parto, uso de meias compressivas, compressão intermitente da panturrilha e exercícios de perna isométricos para pacientes acamados. Aqueles que desenvolvem embolia pulmonar devem receber terapia anticoagulante (heparina, varfarina, trombolíticos...) Diagnóstico Em decorrência da inespecificidade do quadro clínico, utilizamos pré-testes diagnósticos (Escore de Wells) para determinar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação, buscando assim reduzir a mortalidade do quadro. Afinal, é muito importante iniciar o tratamento anticoagulante o quanto antes em casos de alta probabilidade, e o resultado dos exames complementares poderia atrasar essa terapêutica. GASOMETRIA ARTERIAL A gasometria arterial é um exame de sangue que é coletado a partir de uma artéria, com o objetivo de avaliar os gases presentes no sangue, como o oxigênio o gás carbônico. Pacientes com TEP apresentam perfusão inadequada e tenta compensar hiperventilando, que pode levar a uma diminuição da PCO2 no sangue. Como são achados inespecíficos não Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO podemos utiliza-los isoladamente para fechar o diagnóstico de TEP, podendo ainda vir NORMAL em alguns casos. RX DE TÓRAX A radiografia de tórax apresenta baixa sensibilidade e especificidade para a avaliação de TEP e na maioria das vezes se apresenta sem alterações. As principais alterações que podem ser encontradas na radiografia de tórax de paciente com TEP são: - Sinal de Westermark: é a consequência da obstrução do vaso, ou seja, são áreas de hipoperfusão pulmonar; - Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar, causado pelo desvio do sangue da artéria obstruída para outra região; - Sinal de Hampton: é alteração clássica da TEP na radiografia, corresponde a área de infarto ou hemorragia pulmonar, que forma necrose e área de atelectasia podendo ou não estar associada a derrame pleural. ECG O ECG pode apresentar-se normal na maioria dos pacientes ou cursar com achados inespecíficos dentre eles a taquicardia sinusal e alterações no segmento ST. O padrão S1Q3T3 é altamente sugestivo de sobrecarga de VD, mas apesar de ser considerado um achado clássico de TEP, apresenta baixíssima sensibilidade. CINTILOGRAFIA O exame consiste na inalação de albumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. O exame compara a perfusão com a inalação: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar em diagnóstico de TEP. O diagnóstico de TEP pela cintilografia consiste em: • Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica → TEP • Baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal → Exclui TEP • Baixa ou intermediária probabilidade cintilográfica → para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame; OBS: A especificidade desse exame é inferior a Angiografia pulmonar. Sendo assim, é ideal para os casos em que não seja possível realizar a angio como pacientes com alergia à contraste ou insuficiência renal. ANGIOGRAFIA PULMONAR Padrão ouro para diagnóstico de TEP. Apresenta como maiores qualidades ser um exame pouco invasivo, com aquisição rápida e imagens de ótima qualidade, avaliando a presença de TEP com alta sensibilidade e especifidade, apresentando sensibilidade acima dos 96% nos pacientes com alta e intermediária probabilidades de TEP. Ele possibilita melhor avaliação de veias abdominais e torácicas, como as veias ilíacas, cava, supra-hepáticas etc. Também é possível avaliar o parênquima pulmonar, a pleura e o mediastino (identifica infarto pulmonar, derrame pleural, aumento de câmara cardíaca direita). Apresenta suas desvantagens por ter alto custo, exposição à radiação e o fato do contraste ser contraindicado em pacientes com alteração da função renal e histórico de alergia. ARTERIOGRAFIA PULMONAR É um exame invasivo considerado método padrão ouro para o diagnóstico da TEP. O uso de contraste iodado permite avaliar a circulação pulmonar. Apesar de ser considerada padrão ouro, a arteriografia pulmonar é reservada aos casos em que outros métodos não confirmaram TEP e a suspeita clínica permanece alta.
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