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Controle biológico: conceitos gerais e objetivos Seção 3 de 6 A expectativa de vida dos seres humanos vem aumentado consistentemente nas últimas décadas. O melhoramento da assistência médica, assim como a maior disponibilidade de medicamentos para o tratamento das doenças, tem um papel de grande importância perante a melhora progressiva da saúde da população em nível mundial. Algumas doenças infecciosas, inclusive, já são consideradas erradicadas no mundo todo, como a varíola, por exemplo. Isso ocorreu graças ao desenvolvimento e avanço das vacinas, que, com os medicamentos, são o resultado de um amplo investimento da indústria farmacêutica. A fabricação de produtos farmacêuticos, portanto, é cada vez maior, e é um dos setores mais bem-sucedidos da economia global (DENYER e colaboradores, 2011). ASSISTA O filme O jardineiro fiel, de Fernando Meirelles, conta a história de um diplomata inglês que vive na África quando sua esposa é brutalmente assassinada. Na investigação do crime, descobre que sua luta é contra a ganância de uma grande empresa farmacêutica. Essa obra (2005) nos faz refletir sobre a indústria farmacêutica no cenário econômico mundial: até que ponto podemos ir para testar novos medicamentos? O que fazer para que seres humanos não sejam usados como cobaias? Qual a relação entre ética e ganhos econômicos? Qual o custo real do desenvolvimento de novos fármacos? O crescimento da indústria farmacêutica, contudo, bastante evidente nos últimos anos, veio acompanhado pelo aumento dos padrões de qualidade dos fármacos e da maior exigência das regulamentações. Tudo isso a fim de certificar que o produto obedeça um rigoroso processo de fabricação que garanta sua eficácia, estabilidade, segurança e boa qualidade, durante seu armazenamento e sua utilização. Clique nas setas para saber mais 1 Controle de qualidade Uma das ferramentas mais utilizadas para assegurar tais características aos medicamentos é o controle de qualidade, uma disciplina que aborda conhecimentos teóricos e práticos de diversas áreas da ciência, como: química, física, biologia e matemática, bem como as legislações sanitárias. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – (2019), o controle de qualidade é o conjunto de medidas destinadas a garantir, a qualquer momento, a produção de lotes de medicamentos e demais produtos que satisfaçam às normas de identidade, atividade, teor, pureza, eficácia e inocuidade. 1 2 2 Garantia da qualidade A garantia da qualidade representa não só um fator diferencial que contribui para a competitividade e sobrevivência da indústria no setor, por conferir credibilidade e solidez à empresa, mas também um pré- requisito legal, como evidenciado na Resolução RDC nº 17/2010, que dispõe sobre as boas práticas de fabricação de medicamentos. Tal legislação traz os principais aspectos do gerenciamento da qualidade na indústria de medicamentos; destacam-se os artigos 6º ao 12º nessa temática. 1 2 BOAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO E BIOSSEGURANÇA Um dos principais elementos necessários para o controle de qualidade é o laboratório de controle de qualidade de produtos farmacêuticos. O Quadro 1 resume dados relevantes para a implementação das boas práticas de laboratório. Quadro 1. Resumo dos aspectos de gestão, infraestrutura, materiais, equipamentos e outros dispositivos do laboratório de controle de qualidade de produtos farmacêuticos. Fonte: OMS, 2010. (Adaptado). Dentre os aspectos abordados na tabela, destaca-se a biossegurança. Trata-se de um termo bastante amplo e se refere ao conjunto de medidas voltadas à prevenção, controle, redução ou eliminação dos riscos presentes nas atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços que podem comprometer a saúde de seres humanos, animais, meio ambiente e qualidade dos trabalhos desenvolvidos (ABDI e colaboradores, 2015).No contexto dos laboratórios de controle de qualidade, a prevenção de acidentes é responsabilidade de todos. Os profissionais devem cumprir as normas estabelecidas pelo manual de biossegurança, visto que ele identifica os riscos e especifica as práticas e os procedimentos que minimizam ou eliminam esses problemas. A atividade requer o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como os ilustrados na Figura 1, e de proteção coletiva, que são necessários às operações. Além disso, todos os profissionais precisam participar de treinamentos e reciclagens periódicos. Por fim, caso ocorram acidentes, eles têm que ser comunicados e devidamente monitorados. Figura 1. Laboratorista usando EPIs (touca, luvas, óculos, máscara e jaleco) de forma correta durante o trabalho. Faz-se necessário ainda o uso de calçado de proteção (fechado e antiderrapante), além de evitar qualquer adorno ou acessório. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. As regras gerais para o trabalho seguro, em conformidade com as regulações nacionais e internacionais, considerando os procedimentos operacionais padrão, incluem (OMS, 2010): bullet Restringir o acesso de pessoas ao laboratório, somente para autorizadas; bullet As fichas com dados de segurança devem estar disponíveis para o pessoal antes de realizar as análises; bullet Todas as embalagens de substâncias químicas devem estar rotuladas e incluir advertências destacadas quando aplicável; bullet Deve-se proibir fumar, comer e beber no laboratório; bullet Deve-se evitar trabalhar sozinho ou em jornadas prolongadas de trabalho; bullet Os cabos elétricos e equipamentos devem estar providos de alimentação e isolamento adequados; bullet Disponibilizar kits de primeiros socorros e promover a capacitação dos usuários em segurança, emergência e combate ao incêndio. Existem quatro níveis de biossegurança para as atividades que envolvem tanto microrganismos infecciosos quanto animais de laboratório. Os níveis são designados em ordem crescente, pelo grau de contenção formado por instalações, equipamentos de segurança, procedimentos e práticas laboratoriais, necessárias para permitir o trabalho seguro com agentes de risco para seres humanos, animais e ambiente. O Quadro 2 sintetiza tais agentes (considerando microrganismos e animais), as práticas, os equipamentos de segurança (barreiras primárias) e as instalações (barreiras secundárias). // Quadro 2. Resumo dos níveis de biossegurança (NB) recomendados para agentes infecciosos e para animais vertebrados infectados naturalmente ou experimentalmente utilizados em laboratório. Clique para fazer download do quadro abaixo: quadro2.png 1.4 MB DICA Os laboratórios para controle de qualidade de produtos farmacêuticos geralmente se enquadram na classe de risco 2. Para verificar a classificação completa dos agentes biológicos quanto ao nível de biossegurança, acesse ao material produzido pelo Ministério da Saúde, (2017): “Classificação de risco dos agentes biológicos”. CLIQUE AQUI Em relação ao descarte de resíduos gerados no laboratório, necessita- se estar em conformidade com a Lei nº 12.305 de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, definindo os termos resíduos de serviços de saúde e os rejeitos como os “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/assets/X_t5AX-GNb0k0-BG_dYfEbjBldffVUp9r-quadro2.png https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/assets/X_t5AX-GNb0k0-BG_dYfEbjBldffVUp9r-quadro2.png https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/assets/X_t5AX-GNb0k0-BG_dYfEbjBldffVUp9r-quadro2.png https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/assets/X_t5AX-GNb0k0-BG_dYfEbjBldffVUp9r-quadro2.pnghttps://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/classificacao_risco_agentes_biologicos_3ed.pdf recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada”. VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS Além dos aspectos de gestão, infraestrutura, materiais, equipamentos e outros dispositivos, é fundamental priorizar os procedimentos de trabalho. Primeiramente, quanto ao recebimento de amostras, destaca-se a quantidade recebida (ela deve ser suficiente para a repetição de ensaios, se necessário); sua representatividade em relação ao lote, a realização de inspeção visual, registro, rotulagem e armazenamento adequados até o encaminhamento para análise. Os registros de análises têm que ser documentos com informações detalhadas sobre a amostra e o ensaio, incluindo os cálculos e os resultados. É importante que os métodos (procedimentos) analíticos usados na realização das análises sejam validados. A validação é a comprovação por meio de fornecimento de evidência objetiva de que os requisitos para uma aplicação ou uso específico pretendido foram atendidos. Algumas características consideradas na validação de métodos analíticos são: exatidão, precisão, especificidade e limite de detecção. Os ensaios devem ser feitos de acordo com a farmacopeia. Os ensaios biológicos, que são o alvo desta disciplina, conceituam-se como: “procedimentos destinados a avaliar a potência de princípios ativos contidos nas matérias-primas e preparações farmacopeicas, utilizando reagentes biológicos tais como microrganismos, animais, fluidos e órgãos isolados de animais” (ANVISA, 2010). Os resultados dos ensaios têm que ser avaliados estatisticamente, estimando-se a incerteza de medição e, em seguida, deve ser realizado um laudo de análise. GARANTIA DE QUALIDADE Assim, o sistema de gestão da qualidade necessita dirigir e controlar a organização no que diz respeito à qualidade (grau em que um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos). Essa gestão compreende atividades coordenadas focadas em demonstrar que os requisitos de qualidade são atendidos em um processo chamado de garantia da qualidade. A garantia e controle de qualidade do laboratório carecem incluir: 1 1 O comprometimento com as boas práticas (que devem estar descritas em um manual); a implementação do sistema de gestão da qualidade; 2 2 Uma declaração de que todo o pessoal envolvido nas atividades de ensaio está familiarizado com a documentação da qualidade e que implementa permanentemente suas políticas e seus procedimentos; 3 3 O atendimento aos requisitos dos regulamentos da habilitação na vigilância sanitária, representados, principalmente, pela Resolução RDC nº 11 de 2012. CONTINUE Assim como os laboratórios de microbiologia, aqueles que realizam atividades que envolvem doenças infecciosas com animais experimentais também são divididos em quatro níveis de biossegurança, como apresentado no Quadro 1. Essas quatro combinações de práticas, equipamentos de segurança e de instalações são denominadas de níveis de biossegurança animal (NBA) 1, 2, 3 e 4 e proporcionam níveis crescentes de proteção às pessoas e ao meio ambiente. O uso de animais de laboratório é um componente essencial para o avanço da ciência, tem-se registro dessa utilização desde a Grécia Antiga. Durante séculos, médicos e pesquisadores utilizaram animais para melhorar seus conhecimentos sobre como os vários órgãos e sistemas do corpo humano funcionavam, bem como para aprimorar suas habilidades cirúrgicas. O conhecimento obtido com tais testes tem sido fundamental para promover a saúde e o bem-estar humano e animal por meio da prevenção e cura de doenças, novos tratamentos e desenvolvimento de medicamentos e dispositivos. Além disso, a comunidade científica entende que o uso de animais é um privilégio confiado pela sociedade, por isso, ela está comprometida em garantir a saúde e o bem-estar desses animais. EXPLICANDO Animal de laboratório: qualquer vertebrado vivo não humano, das espécies classificadas no filo Chordata (animais que possuem como características exclusivas, ao menos na fase embrionária, a presença de notocorda, fendas branquiais na faringe e tubo nervoso dorsal único), subfilo Vertebrata (animais cordados que têm como características exclusivas um encéfalo grande encerrado em uma caixa craniana e uma coluna vertebral), como disposto na Lei nº 11.794, de 2008, que estabelece os procedimentos para o uso científico de animais. Cabe ressaltar que, quando o uso de animais for necessário, é fundamental planejar e conduzir os experimentos de acordo com os mais elevados princípios científicos, humanitários e éticos. É possível, sendo assim, diminuir o estresse e a dor causada a esses animais (NEVES, 2013). BIOTÉRIOS De acordo com a Resolução Normativa nº 20 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), de 30 de dezembro de 2014 (MCTIC, 2016a, p. 5), biotério: é a instalação na qual são produzidos, mantidos ou utilizados animais para atividades de ensino ou pesquisa científica. A instalação deve possuir infraestrutura adequada para atender aos requisitos ambientais, sanitários e de bem-estar animal para a espécie utilizada. São exemplos: instalações de roedores e lagomorfos, fazendas experimentais, canil, pocilga, baia, piquete, curral, galpão, granja, tanque para peixes etc. Além disso, a Resolução Normativa nº 6, de 10 de julho de 2012 estabelece que o coordenador de biotério “deverá ser profissional com conhecimento na ciência de animais de laboratório apto a gerir a unidade, visando ao bem-estar, à qualidade na produção, bem como ao adequado manejo dos animais dos biotérios” (BRASIL, 2012a, p. 13). O responsável técnico pelos biotérios “deverá ter o título de médico veterinário, com registro ativo no Conselho Regional de Medicina Veterinária da Unidade Federativa em que o estabelecimento esteja localizado e assistir os animais em ações voltadas ao bem-estar e cuidados veterinários” (BRASIL, 2012a, p. 13). A estrutura física e ambiente de biotérios que serão abordados se fundamentam na Resolução Normativa nº 15, de 16 de dezembro de 2013 (MCTIC, 2016b), para roedores e lagomorfos, sendo os animais mais utilizados em laboratórios. Tais instalações e ambiente são elementos essenciais para limitar as variações fisiológicas que podem alterar a saúde, o bem-estar e os ensaios realizados com animais, além de propiciarem a segurança das pessoas envolvidas. O projeto do biotério deve considerar a abrangência das atividades e dos objetivos institucionais, a espécie animal e o número de animais que será alojado. As instalações básicas de um biotério compreendem: área administrativa, de recepção de animais/quarentena, de depósitos (insumos, materiais limpos, equipamentos, rejeitos), de higienização, de serviços, salas de animais, sala de procedimentos, eutanásia e vestiários. É importante considerar a escolha correta dos materiais a serem usados na construção do biotério de forma a oferecer as condições adequadas para o funcionamento eficiente e facilitar a higienização dos ambientes. O controle das variáveis ambientais dentro dos biotérios também é fundamental tanto para a produção e manutenção dos animais de laboratório quanto para a equipe de técnicos que nele trabalha e para a validade das pesquisas. O ambiente deve assegurar um padrão sanitário nas colônias, ao mesmo tempo que promove o bem-estar dos animais. Devem ser controlados o nível de ruídos, fontes de vibração, iluminação, temperatura, umidade, ventilação, exaustão e qualidade do ar. A Tabela 1 apresenta o espaço mínimo recomendado para alocação dos roedores mais comumente utilizados em laboratório. É importante observar que animais maiores podem necessitar de espaços maioresque os apresentados na tabela para o desenvolvimento apropriado. Tabela 1. Recomendações de espaço mínimo para roedores alojados em grupos. Fonte: NRC, 2011. (Adaptado). Considerando os animais em experimentação, as vias de administração de medicamentos e de eutanásia são: oral (Figura 2), subcutânea (injeção sob a pele do animal), intramuscular (injeção no músculo esquelético, geralmente o quadríceps), endovenosa (Figura 3), intraperitoneal (injeção na cavidade peritoneal, entre os órgãos abdominais). De acordo com a Resolução Normativa nº 30 do CONCEA, de 02 de fevereiro de 2016, eutanásia é o modo de matar o animal sem dor e com mínimo estresse. O método deve ser tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado, sua escolha depende da espécie envolvida, da idade e do estado fisiológico dos animais, bem como dos meios disponíveis de contenção, da capacidade técnica do executor, da quantidade de animais e do protocolo de estudo estabelecido. A técnica ideal deve induzir a uma rápida perda de consciência no animal, sendo irreversível, reproduzível, confiável, simples de administrar e segura para o operador. Clique nas setas para saber mais CONCEITO 3 RS A partir do século XIX, houve um aumento no número de animais utilizados em experiências com a ascensão da ciência biomédica moderna. Em 1959, com a publicação do livro The principles of humane experimental technique pelos pesquisadores William Russell e Rex Burch, iniciou-se o movimento de proteção aos animais usados em pesquisa, representando um marco na discussão sobre a utilização desses animais em experimentos. Tal movimento estabeleceu os princípios de Russell-Burch de “redução, substituição e refinamento” no uso de animais, conhecidos como princípio ou conceito dos 3 Rs (reduction, refinement, replacement). Apesar de antigo, esses princípios ainda se mantêm bastante presentes nos meios científicos e acadêmicos em nível mundial. Sinteticamente, deve haver reflexão para tentar reduzir o número de animais por procedimento experimental em um estudo, substituir o uso de animais sempre que possível e aprimorar os métodos já descritos para minimizar o desconforto animal. Os princípios, assim, precisam ser incorporados ao design e condução de atividades de laboratório que envolvam animais, destacando que o custo e a conveniência não devem ter precedência sobre esses princípios. Clique nos botões para saber mais Redução – A redução (reduction) reflete a obtenção de nível equiparável de informação com o emprego de menos animais. Ela pode ser baseada na estratégia de busca ativa na literatura especializada, a fim de não duplicar ensaios realizados; é importante que haja estímulo à publicação de resultados negativos para que o banco de dados seja o mais abrangente possível, contemplando todos os estudos já realizados. Também é essencial conservar a qualidade genética, sanitária e ambiental dos animais, o que possibilitará uma diminuição no número de animais utilizados, visto que os resultados apresentarão uma menor dispersão. Por fim, sempre que possível, necessita-se compartilhar os mesmos animais para diferentes ensaios. Refinamento – O refinamento (refinement) promove o alívio ou a minimização da dor, sofrimento ou estresse do animal. Várias abordagens podem ser utilizadas para melhorar os protocolos experimentais, seja prevenindo, seja aliviando esses danos: Utilização de técnicas apropriadas no manuseio dos animais, assim como o uso de analgésicos e anestésicos em experimentos potencialmente dolorosos; Capacitação adequada antes de executar qualquer ensaio; As cirurgias devem ser feitas de forma asséptica, evitando infecções e estabelecendo cuidados pós- cirúrgicos adequados. Idealmente, realizar uma única cirurgia por animal. Substituição – A substituição (replacement) estabelece que um determinado objetivo seja alcançado sem o emprego de animais vertebrados vivos. Como exemplo, é possível citar a utilização de: animais invertebrados, embriões de vertebrados, microrganismos, órgãos e tecidos isolados de animais, cultura de tecidos e células (técnicas in vitro), sistemas físico-químicos mimetizantes de funções biológicas e simulação de processos fisiológicos em computadores. Considerando todos esses aspectos, é imprescindível fazer uma avaliação do custo-benefício do uso de animais nos ensaios, refletindo sobre o grau de dano a que o animal será submetido e a intensidade do benefício que será adquirido com os resultados do ensaio. Torna-se fundamental, portanto, destacar a importância de se trabalhar com uma vida, por isso, é essencial conhecer bem o comportamento de cada espécie e suprir todas as necessidades da forma mais adequada possível. Inclusive, ressalta-se que o não cumprimento das orientações estabelecidas no Guia brasileiro de produção, manutenção ou utilização de animais em atividades de ensino ou pesquisa científica pode incorrer em sanções administrativas e penais, caso aconteçam maus-tratos. MÉTODOS ALTERNATIVOS Os métodos alternativos podem ser definidos como qualquer método que visa reduzir, refinar ou substituir (parcial ou totalmente) o emprego de animais vivos na pesquisa biomédica, ensaios ou ensino. São exemplos desses métodos os modelos matemáticos, simulação em computador e sistemas biológicos in vitro. Segundo a Resolução Normativa nº 17, de 3 de julho de 2014 (CARVALHO, 2015, n.p.), o método alternativo é “qualquer método que possa ser utilizado para substituir, reduzir ou refinar o uso de animais em atividades de pesquisa”; sendo que o método alternativo validado se refere àquele: cuja confiabilidade e relevância para determinado propósito foram determinadas por meio de um processo que envolve os estágios de desenvolvimento, pré-validação, validação e revisão por especialistas, o qual está́ em conformidade com os procedimentos realizados por Centros para Validação de Métodos Alternativos ou por estudos colaborativos internacionais, podendo ter aceitação regulatória internacional (CARVALHO, 2015, n.p.). O método alternativo reconhecido “é o método alternativo validado que foi reconhecido pelo CONCEA” (CARVALHO, 2015, n.p.). Na Resolução Normativa nº 18, de 24 de setembro de 2014, constam os 17 métodos alternativos para o uso de animais em atividades de pesquisa no Brasil, agrupados nesses sete desfechos: bullet Para avaliação do potencial de irritação e corrosão da pele; bullet Para avaliação do potencial de irritação e corrosão ocular; bullet Para avaliação do potencial de fototoxicidade; bullet Para avaliação da absorção cutânea; bullet Para avaliação do potencial de sensibilização cutânea; bullet Para avaliação de toxicidade aguda; bullet Para avaliação de genotoxicidade. Controle de qualidade de material de acondicionamento e embalagem Seção 5 de 6 No cenário global atual, é praticamente impossível visualizar a existência de qualquer empresa farmacêutica sem a embalagem, visto que a produção de medicamentos em larga escala não teria utilidade caso eles não fossem embalados adequadamente. A embalagem é essencial, desse modo, para que o medicamento fabricado permaneça em sua forma original com todas as especificações de qualidade e de segurança desejadas durante o prazo de validade especificado. De maneira geral, deve-se considerar que as embalagens necessitam atender a uma séria de regulações, estando em conformidade com as boas práticas de fabricação e com o controle de qualidade da indústria farmacêutica, bem como atendendo às demandas do mercado. Por outro lado, as embalagens oferecem proteção (contra deterioração, vazamento, contaminação e crescimento microbiano), estabilidade e qualidade, auxiliando na identificação do produto e atuando como uma ferramenta para atrair o cliente, o que pode impactar na venda do medicamento. A Figura 4 apresentaa ilustração de diversos tipos de embalagem, destacando diferentes formatos e colorações. Figura 4. Ilustração do produto final disponível para comercialização. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. MATERIAIS DE ACONDICIONAMENTO E EMBALAGENS [a embalagem] é o invólucro, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinado a cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter, especificamente ou não, os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, os cosméticos, os saneantes e outros produtos (ANVISA, 2010, p. 42). O termo “embalagem primária” diz respeito àquela que mantém contato direto com seu conteúdo. “Considera-se material de embalagem primária: ampola, bisnaga, envelope, estojo, flaconete, frasco de vidro ou de plástico, frasco-ampola, cartucho, lata, pote, saco de papel e outros” (ANVISA, 2010, p. 42), alguns desses ilustrados na Figura 5. Não deve haver qualquer interação entre o material da embalagem primária e o conteúdo capaz de alterar a concentração, a qualidade ou a pureza do material acondicionado. A embalagem secundária se refere àquela que: [...] possibilita total proteção do material de acondicionamento nas condições usuais de transporte, armazenagem e distribuição. Considera-se embalagem secundária: caixas de papelão, cartuchos de cartolina, madeira ou material plástico ou estojo de cartolina e outros (ANVISA, 2010, p. 42). Ainda de acordo com a Anvisa (2010): [...] compreende-se por material de embalagem o recipiente; envoltório; invólucro; ou qualquer outra forma de proteção, removível ou não, usado para envasar; proteger; manter; cobrir; ou empacotar, especificamente, ou não, matérias-primas; reagentes e medicamentos (ANVISA, 2010, p. 47). Figura 5. Diversas embalagens podem ser utilizadas para armazenar medicamentos, fabricadas com diferentes tipos de materiais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Há uma classificação para embalagens terciárias, elas geralmente não são vistas pelos consumidores, pois são removidas pelos varejistas antes que os produtos sejam expostos para venda. Essa embalagem, porém, tem papel crucial durante o transporte dos produtos do fabricante até os distribuidores ou comerciantes, protegendo o produto dos danos que podem ocorrer. Exemplos de materiais desse tipo de embalagem são: caixas de madeira e de papelão. Uma das principais características das embalagens é garantir a estabilidade do produto contra prejuízos e perigos ambientas. Alguns desses fatores englobam: luz, temperatura, umidade, microrganismos, partículas e gases atmosféricos. Existem também os riscos mecânicos, como: compressão, vibração, abrasão, perfuração e choque. Além disso, é importante proteger o produto contra perda ou ganho de água e redução de qualquer componente da formulação. É fundamental que os materiais da embalagem não reajam com o produto, preservando-os durante todo o prazo de validade. Os materiais comumente usados para embalar produtos farmacêuticos são plástico, vidro, metal e borracha (Figura 5). O Quadro 3 apresenta os tipos de matérias-primas que podem ser empregados na produção de embalagens de medicamentos, além da principal utilização. A escolha do material depende de vários fatores, entre eles: o tipo de medicamento, o grau de proteção exigido, a adequação do método de envase, o requisito de esterilização, a compatibilidade entre medicamento e material de embalagem, a conveniência do paciente e o custo da embalagem. Esses materiais são utilizados isoladamente ou em combinação, servindo como ingrediente principal para a construção da embalagem primária. Os materiais mais usados são plásticos e vidros (AMARJI e colaboradores, 2018). Quadro 3. Tipos de matérias-primas que podem ser utilizados na produção de embalagens de medicamentos. Fonte: WHO, 2002. (Adaptado). Em geral, os plásticos são polímeros sintéticos de alto peso molecular e sensíveis à temperatura. Assim, considerando a embalagem de produtos farmacêuticos, poucos materiais plásticos apresentam a resistência necessária à temperatura para poderem ser autoclavados. Exemplos desses polímeros são: cloreto de polivinil, polipropileno de poliestireno, policarbonato, polipropileno, tereftalato de polietileno (PET), olefinas cíclicas, poliamida (nylon). Esses polímeros termoplásticos são leves e mecanicamente quase tão fortes quanto os metais. Como o vidro, eles oferecem propriedades transparentes com espessura relativamente menor, conseguindo armazenar o produto por muito tempo. Ao contrário dos polímeros termoplásticos, ureia-formaldeído, fenol-formaldeído, resinas epóxi (epóxidos), os poliuretanos são polímeros termoendurecíveis. Os materiais plásticos oferecem liberdade de design. Durante a síntese plástica, os polímeros termoplásticos mencionados são utilizados com uma quantidade substancial de plastificante, cargas e antioxidantes etc. Esses ingredientes, nesse sentido, podem migrar do plástico para o produto, o que é bastante prejudicial; os componentes do medicamento também não devem ser adsorvidos pelo plástico. A seleção do material plástico, portanto, é crítica, e o recipiente de plástico escolhido não deve interagir com o medicamento. O vidro é principalmente um material inorgânico (isto é, sílica) ou sua mistura com outros materiais como óxido de cálcio, de alumínio, de sódio, de boro, de bário, de magnésio e de potássio. Há vários tipos de vidro disponíveis em diferentes cores. Dependendo do requisito do medicamento, diferentes modelos de embalagens de vidro são utilizados (por exemplo, garrafas de vidro para xaropes, soluções, suspensões, comprimidos e para injeções unitárias ou multidose). Com base no seu grau de resistência química ao contato com a água (isto é, resistência à hidrólise), os recipientes de vidro são classificados em quatro tipos. 1 1 Borossilicato altamente resistente (vidro tipo I): contém sílica (80%), óxido bórico (10%) e pequenas quantidades de óxido de sódio e óxido de alumínio; 2 2 Soda-cal moderadamente resistente (vidro tipo II): contém sílica (75%), óxido de sódio (15%), óxido de cálcio (10%) e pequenas quantidades de óxido de alumínio, de magnésio e de potássio; 3 3 Soda-cal altamente resistente (vidro tipo III): é fabricada a partir de vidro tipo II que sofre a desalcalinização; 4 4 Soda-cal para uso geral (vidro tipo IV): apresenta baixa resistência hidrolítica, não pode ser autoclavado. CURIOSIDADE A cor do vidro é determinada pelos seguintes componentes: fluoretos ou óxido de estanho (branco); óxidos de cobalto, cobre, ferro e níquel (preto); óxido de níquel e de titânio (cinza); óxido de neodímio (roxo); óxido de cobalto ou de cobre (azul); cromato de ferro ou óxido de cobre (azul-esverdeado); óxido de ferro e crômico (verde); óxido crômico ou sulfeto de cádmio (amarelo-esverdeado); óxido de urânio, ferro/manganês, ou de prata (amarelo); óxido de ferro e enxofre ou dissulfeto de ferro (âmbar); sulfeto de cádmio, manganês, ouro metálico, óxido de cobre, cloreto de ouro (vermelho). Vários medicamentos podem ser embalados em recipientes com o metal como material básico. Estanho, alumínio, aço inoxidável e chumbo são os metais empregados na fabricação desses recipientes. Algumas vantagens do uso de metal em comparação com o plástico e vidro são: rigidez, ser inquebrável, leveza em comparação com o vidro e impermeabilidade à umidade e aos gases, sendo resistentes a flutuações extremas de temperatura. Suas principais limitações, no entanto, incluem: o custo e a tendência à reação com determinados produtos químicos. Entre todos os metais, o estanho tem menos reatividade e é considerado quimicamente inerte. Por causa da sua inércia, vários recipientes de metal são revestidos internamente com estanho. Além de estanho, são utilizados recipientes revestidos com polímero termoplástico.Recipientes de metal revestido de vidro também é uma das opções para melhorar a inércia química da embalagem. O fechamento é um componente crítico de um sistema de embalagem, em geral, o material aproveitado para esse fim é de plástico ou de borracha. A borracha é um material vulcanizado de elastômeros com aditivos apropriados. Esses elastômeros podem ser de fontes naturais ou sintéticas e produzidos por polimerização de adição ou por polimerização de condensação. O fechamento é capaz de ser utilizado como prova de violação (demonstrando que o medicamento já foi aberto) e ser resistente a crianças, ou seja, deve possuir um mecanismo que exija uma habilidade não comum para esse grupo de pessoas. Um dos pré- requisitos principais do sistema de fechamento é garantir a segurança e a proteção do produto perante os fatores ambientais. A opção por embalagens não contaminantes do tipo dose única ou dispensers ajudam a minimizar essa interferência dos fatores ambientais no produto. Percebe-se, dessa forma, que as embalagens têm como função primordial a proteção do medicamento, mas também facilitam a identificação, manuseio, abertura, fechamento, armazenamento, proporcionando melhor experiência ao paciente. Além disso, diferentes tipos de materiais são usados de acordo com requisitos específicos de cada embalagem para o medicamento a que se destina. TESTES PARA AVALIAÇÃO DE MATERIAIS DE EMBALAGENS Os principais testes disponíveis para avaliar os materiais de embalagem são: físico, identificação, dimensão/medição, volume do recipiente, volume da dose, extração e microbiológicos. Os testes físicos se baseiam nas alterações físicas que podem ser facilmente detectadas por observação visual ou microscopia óptica, são exemplos dessas alterações: descoloração, deformação, quebra, vazamento. O teste de identificação confirma a qualidade dos componentes da embalagem em relação às especificações. Ele é feito por meio de testes químicos usando instrumentos sofisticados, como: cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), cromatografia gasosa (GC) e ressonância magnética nuclear (NMR). As dimensões internas e externas das embalagens devem estar dentro dos limites aceitáveis para que qualquer material da embalagem seja eficaz para o uso pretendido. As dimensões dos subcomponentes da embalagem são geralmente medidas por calibrador vernier ou por microscopia. A formulação tem um volume de preenchimento definido no material de embalagem que geralmente visa fornecer a quantidade rotulada suficiente ao paciente em uma única dose ou em doses divididas uniformemente. O volume em cada embalagem deve ser uniforme durante a fabricação de lotes com limites aceitáveis rígidos. Desse jeito, cada formulação deve ter o volume em um recipiente dentro do limite especificado/aceitável. Deve-se também testar o volume de entrega, que depende dos componentes da embalagem, com as características da formulação de viscosidade e tensão superficial. Esse volume garante a dose unitária terapêutica fornecida ao usuário com a via de administração pretendida. Os materiais que compõem as embalagens são produzidos a partir de diversas substâncias químicas que podem migrar para o medicamento. É importante, portanto, realizar testes desses extraíveis para avaliar a potencial toxicidade dessa migração durante a administração do medicamento. Os testes microbiológicos precisam ser feitos pelo menos nas embalagens primárias, mesmo não havendo um padrão regulamentar exigido. A Tabela 2 apresenta uma sugestão de critério de conformidade de embalagem primária, mostrando os valores máximos possíveis para a contagem microbiana aeróbia total. Os microrganismos Escherichia coli, Salmonella spp., Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae têm que estar ausentes nessas embalagens (GOVERDE, 2020). Tabela 2. Exemplo de critérios de aceitação para embalagem primária. Fonte: GOVERDE, 2020. (Adaptado). O material da embalagem desempenha, pois, um papel importante para manter a formulação segura e inalterada. Ele carece evitar interações, toxicidade, deterioração ou instabilidade da formulação, sendo compatível com as formulações e durável. Por isso, existem diversos regulamentos para esses materiais a fim de confirmar a segurança e a qualidade, baseados em parâmetros regulatórios de biocompatibilidade (material inerte), propriedades físico-químicas e compatibilidade embalagem-medicamento. Tais materiais são monitorados e aprovados pelas autoridades reguladoras, visando à proteção dos consumidores, das empresas e da sociedade como um todo (AMARJI e colaboradores, 2018). O descumprimento dessas recomendações e diretrizes regulatórias resulta na qualidade comprometida do medicamento e na retirada do respectivo medicamento do mercado. Exemplos de tais casos são a retirada do medicamento graças a uma embalagem defeituosa, mal embalada, com rotulagem incorreta. Para evitar recalls, é essencial que se faça o controle de qualidade adequadamente. Essa fermenta é a parte das boas práticas de fabricação relacionada à amostragem, especificações, ensaios, organização, documentação e procedimentos de liberação que garantem que os testes necessários e relevantes sejam realmente executados e que os produtos não sejam liberados para uso nem para venda até que sua qualidade seja considerada satisfatória. O controle de qualidade não se limita às operações do laboratório, mas deve estar envolvido em todas as decisões conexas à qualidade do produto. Na cadeia de produção, o controle de qualidade das embalagens contém vários pontos críticos. Os requisitos básicos para esse controle envolvem: bullet Instalações adequadas, pessoal treinado e procedimentos aprovados devem estar disponíveis para amostragem, inspeção e teste de matérias-primas, materiais de embalagem e produtos intermediários, a granel e acabados; bullet Os métodos dos testes devem ser validados; bullet Registros carecem ser feitos demonstrando que todos os procedimentos de amostragem, inspeção e teste necessários foram realmente realizados e que quaisquer desvios foram totalmente registrados e investigados; bullet Os produtos acabados têm que estar em conformidade com as legislações vigentes, e os ingredientes que apresentam a pureza exigida, devem estar na embalagem adequada e rotulados corretamente. O departamento de controle de qualidade também terá outras obrigações, como: estabelecer, validar e implementar todos os procedimentos de controle de qualidade, avaliar, manter e armazenar os padrões de referência, garantir a rotulagem correta dos reagentes, padrões e outros materiais de sua utilização, garantir que a estabilidade dos ingredientes ativos e medicamentos seja monitorada, participar da investigação de reclamações relativas à qualidade do produto e participar do monitoramento ambiental (BRASIL, 2010, n.p.). Além disso, todas as operações devem ser realizadas de acordo com os procedimentos descritos e, quando necessário, registradas. Por fim, é importante salientar o aspecto ambiental. Após a utilização completa da formulação farmacêutica, o material da embalagem se torna um resíduo e, portanto, carece ser descartado de maneira apropriada, conforme a Tabela 3. O aumento do consumo de medicamentos, observado globalmente, acarretou a formação de uma maior quantidade de resíduos dessas embalagens. Cada vez mais, recursos naturais e de energia são necessários para a produção de tais produtos, e, caso o descarte não seja adequado, outros potenciais perigos ao meio ambiente podem ocorrer – como a contaminação química. Tabela 3. Métodos de descarte de embalagens não contaminadas. Fonte: WHO, 2002. (Adaptado). Controle microbiológico de ambientes Seção 6 de 6 A vigilância ambiental é uma ferramenta empregada para avaliar o efeito dos controles no ambiente de fabricação. Um processo paraavaliar a sala limpa e outros ambientes controlados de uma instalação farmacêutica pode servir como um complemento do programa de garantia de qualidade microbiana dos medicamentos. O sistema de controle, junto ao programa de monitoramento ambiental de superfície e ar, deve ser bem implementado com base científica e regulatória do controle microbiano para a fabricação de medicamentos certos. Tal programa de monitoramento ambiental de rotina é um aspecto crítico do controle dessa indústria. CONTROLES DE ESTERILIDADE O objetivo do sistema de controle é garantir a esterilidade, dentro dos limites designados, de todos os itens, meios, fluidos de enxágue e equipamentos usados em teste de esterilidade. Os sistemas de controle que acompanham todas as análises de esterilidade abrangem equipamentos, meios e soluções, pessoal e controle ambiental, que se divide em: Clique nos botões para saber mais Controles de meios abertos – Tubos dos meios usados na análise de esterilidade são expostos ao ambiente durante a realização do teste; Placas de Petri com ágar – São expostas ao ambiente por um período que não exceda uma hora, apenas durante a análise. Depois, essas placas devem ser incubadas por 48 horas a 35 °C (para detecção de bactérias) e cinco dias a 25 °C (para detectar a contaminação por fungos); Controles dentro de um isolador – Ao realizar o teste de esterilidade dentro de um isolador, se ele tiver sido projetado para permitir uma conexão a um amostrador de ar e contador de partículas, essa amostragem pode ser realizada durante a análise da amostra, em vez das duas amostragens ambientais descritas acima. Se o isolador não puder acomodar um amostrador de ar e/ou contador de partículas ou os instrumentos não estiverem disponíveis, os controles ambientais de meio aberto e placas devem ser usados. MONITORAMENTO AMBIENTAL O monitoramento ambiental é complementar a um programa de garantia de esterilidade e é empregue para avaliar a eficácia dos controles microbianos utilizados na fabricação de produtos farmacêuticos. Para assegurar um ambiente controlado consistentemente aceitável, um programa abrangente de controle ambiental necessita ser apoiado por: bullet Projeto e manutenção das instalações; bullet Sistemas de documentação e registros estabelecidos; bullet Procedimentos de higienização validados e executados de maneira adequada; bullet Controles de processo confiáveis (com ênfase nos períodos adequados para higienização); bullet Boas práticas de higiene (pessoal) e higienização (superfícies); bullet Controles efetivos de acesso à área da indústria; bullet Controle de contaminação; bullet Coleta e análise consistente de amostras (ênfase na seleção dos locais de amostragem ambiental); bullet Programas efetivos de treinamento, certificação, qualificação e avaliação; bullet Garantia de qualidade de materiais, instalações e equipamentos. Em suma, um programa de monitoramento ambiental precisa estabelecer os locais a serem amostrados, a frequência dos ensaios, os níveis de alerta e de ação. Os tipos de equipamentos, calibração, operação e manutenção carecem ser considerados. A amostragem, nesse sentido, tem que contemplar as superfícies, o ar, o pessoal e a água, enfatizando as áreas críticas: por exemplo, onde se realiza o envase asséptico. A Instrução Normativa nº 35, de 21 de agosto de 2019, estabelece os quatro graus de limpeza na fabricação de medicamentos estéreis: Clique nas abas para saber mais GRAU AGRAU BGRAUS C E D A zona para as operações de alto risco como, por exemplo, a zona de envase, onde estão os reservatórios de tampas, ampolas abertas e frascos-ampolas e onde são feitas conexões assépticas. Normalmente, essas condições são fornecidas por uma estação de trabalho com fluxo de ar unidirecional ou isolador. Os sistemas de fluxo de ar unidirecional devem fornecer uma velocidade de ar homogênea na faixa de 0,36 a 0,54 m/s (valor de referência) medida na posição de trabalho das estações de trabalho com fluxo de ar unidirecional abertas. A manutenção do padrão de fluxo de ar unidirecional deve ser demonstrada e validada. Um fluxo de ar unidirecional e com velocidades mais baixas pode ser usado em isoladores e caixas com luva; A ISO 14644, referente a salas limpas e ambientes controlados associados, descreve um método para determinar o número mínimo https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.5152.87665/content/_5273314_1/scormcontent/index.html de locais que devem ser amostrados. Esse número pode ser calculado pela equação 1: Onde: N: é o número mínimo de locais de amostragem (precisa ser arredondado para um número inteiro); A: é a área da sala limpa em m2. Várias técnicas de amostragem conseguem ser aproveitadas para o monitoramento ambiental, sendo que as mais usadas são as de controle de ar e de superfícies. A fim de analisar superfícies, uma das abordagens mais comuns é a de suabe (Swab), que se caracteriza pela amostragem de uma área conhecida de uma superfície qualquer. É importante destacar que, caso a amostra seja coletada após a higienização, necessita ser utilizado um meio com neutralizante, para que o desinfetante não interfira no resultado da análise, contribuindo para diminuição dos microrganismos potencialmente presentes. Uma alternativa aos suabes são as placas de contato (Rodac), essas placas são praticamente iguais às placas de Petri, exceto pelo ágar que se sobressai na placa, ou seja, após a abertura da placa, é possível perceber que o ágar se desloca para fora da base, então, basta encostar na superfície desejada para realizar a amostragem (processo semelhante à utilização de um carimbo); assim, não é necessário usar o suabe, pois a amostra já estará em contato com o meio de cultura – sendo preciso apenas fechar a placa e incubar em estufa. Para a amostragem de ar, pode-se usar a abordagem passiva ou ativa. A técnica de sedimentação (amostragem passiva) se baseia em expor as placas de Petri (com o meio de cultura escolhido) ao ar pelo tempo de até quatro horas (EUDRALEX, 2008). Na amostragem ativa ou impressão em placa, contudo, há necessidade de um equipamento (Figura 6) que captura o ar do ambiente, colocando sobre o ágar da placa de Petri todas as partículas capturadas (inclusive, os microrganismos); dessa forma, a quantidade de ar que foi amostrada é conhecida, o que torna o ensaio reprodutível. Figura 6. Equipamento de monitoramento da qualidade do ar. A placa de Petri contendo o meio de cultura desejado é colocada dentro do equipamento, que capturará o ar, além de “imprimi-lo” no ágar. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. CONTAMINAÇÃO MICROBIANA A qualidade microbiológica das matérias-primas é capaz de afetar profundamente a qualidade dos produtos acabados. Assim, para alcançar a qualidade desejada do produto acabado, as matérias- primas têm que ser monitoradas e controladas. Devem ser realizados testes nas matérias-primas que precisam atender às especificações apropriadas; algumas vezes, o tratamento é necessário para atingir esses níveis de qualidade adequados. O controle microbiológico de matérias-primas farmacêuticas visa excluir qualquer microrganismo que possa resultar em deterioração do produto ou prejudicar o paciente. Além disso, os contaminantes em matérias-primas não só são importantes porque podem contaminar o produto diretamente, mas também porque podem contaminar a fábrica, causando problemas futuros, tanto para os produtos quanto para os pacientes. Tais microrganismos, quando se estabelecem dentro da fábrica, são difíceis de erradicá-los, resultando na contaminação contínua ou intermitente do produto, ficando,dessa forma, complexa sua detecção. O objetivo desse controle microbiológico é garantir ao fabricante que as matérias-primas utilizadas não representam direta ou indiretamente um risco para o produto e para o consumidor. Cabe ressaltar que nem todos os produtos precisam ser estéreis, portanto, as especificações adotadas necessitam refletir o tipo de matéria-prima, o tipo de produto, seu método de fabricação e uso pretendido. A qualidade do ambiente de fabricação será influenciada por muitos fatores. Compreender essas influências é parte essencial de um programa de controle ambiental. Elas chegam a ser divididas em quatro categorias básicas: instalações, equipamentos, pessoal e higienização. O tipo e a frequência do monitoramento microbiológico das superfícies físicas dependerão da suscetibilidade do produto à contaminação microbiana, da escala de fabricação e do tipo de planta e de processo. As superfícies físicas que entram em contato direto com o produto devem ser monitoradas com mais frequência que aquelas que não estão em contato direto com o produto. Superfícies de contato direto carecem ser examinadas quanto à presença de microrganismos deteriorantes e patogênicos. Superfícies indiretas têm que ser monitoradas para determinar os níveis de microrganismos ambientais. Qualquer aumento desses níveis predeterminados pode ser considerado uma indicação de um potencial problema microbiológico, afetando a qualidade e a segurança do produto, logo, pode-se exigir uma revisão da frequência dos testes e dos protocolos de higienização. O monitoramento do ar também precisa ser realizado rotineiramente. A frequência dele é determinada pelo tipo de atividade realizada na área. Mais uma vez, a frequência e os padrões devem ser estabelecidos pelos padrões internos. Os métodos mais usados, tanto para análise de superfície quanto do ar, foram explicados no tópico anterior. Em síntese, o monitoramento ambiental é uma ferramenta de controle e feedback para monitorar e validar os procedimentos de limpeza e higienização. Os microrganismos que normalmente causam problemas de contaminação em produtos farmacêuticos são as bactérias e os fungos. As bactérias são unicelulares e procarióticas (com material genético disperso pelo citoplasma, ou seja, sem carioteca), sendo que Pseudomonas é provavelmente o grupo de microrganismos mais comumente isolado desses ambientes, particularmente Pseudomonas fluorescens e P. cepacia. Outras bactérias que também podem ser encontradas são: Enterobacter, Klebsiella e esporos de Bacillus, menos frequentes, Serratia, Citrobacter, Acinetobacter, Proteus e Staphylococcus. Na Figura 7, encontra-se uma placa de Petri com multiplicação de diversas bactérias presentes no ar de uma empresa; como o meio de cultura utilizado foi ágar nutriente, não é possível fazer a identificação dessas bactérias, apenas a contagem total delas. Figura 7. Colônias bacterianas de diferentes cores, tamanhos e formatos. Amostra de ar em ágar nutriente. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. Os fungos, eucariotos (núcleo delimitado pela carioteca), são divididos em: leveduras, que são unicelulares, cujo principal contaminante é Candida, e os bolores, também conhecidos como fungos filamentosos ou mofos, que são pluricelulares, sendo que os mais relacionados a produtos farmacêuticos são: Aspergillus e Penicillium. A Figura 8 apresenta cinco placas de Petri com multiplicação de diversos bolores e leveduras presentes no ar de uma empresa, coletados em diferentes áreas, o meio de cultura utilizado não permite a identificação desses fungos, mas é possível perceber que a contagem depende da área coletada. Figura 8. Multiplicação de fungos presentes no ar em placas de Petri. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2020. A maioria desses microrganismos tem requisitos de crescimento muito simples e é adaptável a uma série de ambientes, o que facilita sua disseminação. Além disso, é capaz de ocorrer a formação de biofilmes microbianos, comunidades de microrganismos, formados por bactérias e/ou fungos, que são estruturas de resistência microbiana tanto a antibióticos quanto a desinfetantes. A Figura 9 detalha o processo de formação e dispersão dos biofilmes. Figura 9. Biofilmes microbianos. 1: microrganismos planctônicos (de vida livre) se aderem à superfície. 2: microrganismos aderidos começam a secretar exopolissacarídeos (EPS). 3: desenvolvimento do biofilme. 4: biofilme maduro. 5: dispersão do biofilme, microrganismos planctônicos são liberados do biofilme maduro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/09/2020. A partir da década de 1960, vários produtos farmacêuticos não estéreis começaram a ser associados a microrganismos potencialmente patogênicos: Pseudomonas sp., Klebsiella sp., Serratia sp., Salmonella sp., Clostridium sp. (GRAEVENITZ, 1977). Atualmente, a qualidade microbiológica desses produtos melhorou, visto que existe uma maior conscientização dos perigos pela indústria, hospitais e órgãos reguladores. Contaminações ocasionais, no entanto, continuam a ocorrer, por isso, são necessárias melhorias contínuas tanto na formulação quanto na produção higiênica, de modo a não colocar os pacientes em risco. Os responsáveis pela produção, distribuição e administração de medicamentos, dessa forma, devem permanecer para sempre vigilantes. Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Nesta unidade, apresentamos as noções fundamentais do controle biológico de produtos farmacêuticos. Começamos nossa trajetória pelas boas práticas de laboratório, enfatizando a biossegurança. Os temas de validação de métodos analíticos, bem como os animais de laboratório (incluindo métodos alternativos) também foram abordados. Durante nosso estudo, discutimos ainda sobre a garantia e o controle de qualidade – tanto no nível de embalagens quanto no de monitoramento ambiental. Foram apresentados, inclusive, os principais testes realizados para avaliação. Dessa forma, contribuímos para a capacitação do estudante, visando à atuação em um laboratório de controle de qualidade na indústria farmacêutica. Controle biológico: conceitos gerais e objetivos Controle de qualidade Garantia da qualidade BOAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO E BIOSSEGURANÇA // Quadro 2. Resumo dos níveis de biossegurança (NB) recomendados para agentes infecciosos e para animais vertebrados infectados naturalmente ou experimentalmente utilizados em laboratório. VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS GARANTIA DE QUALIDADE BIOTÉRIOS CONCEITO 3 RS MÉTODOS ALTERNATIVOS Controle de qualidade de material de acondicionamento e embalagem MATERIAIS DE ACONDICIONAMENTO E EMBALAGENS TESTES PARA AVALIAÇÃO DE MATERIAIS DE EMBALAGENS Controle microbiológico de ambientes CONTROLES DE ESTERILIDADE MONITORAMENTO AMBIENTAL CONTAMINAÇÃO MICROBIANA SINTETIZANDO
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