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Livro PENSAMENTO CIENTÍFICO

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PENSAMENTO CIENTÍFICO 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
CONHECENDO A DISCIPLINA 
A disciplina de Pensamento Científico tem como objetivo proporcionar maior facilidade de 
compreensão da importância do conhecimento no mundo real, tanto na solução de problemas 
teóricos como práticos, favorecendo a identificação dos diversos tipos de conhecimentos, 
distinguindo suas principais particularidades e, principalmente, identificando seus limites para a 
solução de problemas cotidianos. 
 
Ao longo da disciplina, com base em exemplos objetivos, exploraremos as distinções entre o 
conhecimento vulgar e o científico, desconstruindo mitos popularmente aceitos sobre suas 
aplicabilidades e enfatizando seus desafios no mundo globalizado. 
 
Examinaremos também os diversos tipos de conhecimentos filosóficos existentes 
frequentemente associados com o científico, destacando seus aspectos valiosos e suas 
dificuldades que se refletem no estabelecimento de uma aceitação universal por parte de 
pesquisadores acadêmicos no campo da ciência e da filosofia. 
 
Finalmente, avaliaremos a relação entre o conhecimento filosófico e o religioso, com o objetivo 
de proporcionar clareza e entendimento profundo das consequências da aplicabilidade desses 
conhecimentos na realidade. 
 
O estudo desta disciplina favorecerá a fomentação de uma cultura intelectual mais sofisticada, 
contribuindo para melhores tomadas de decisão frente aos desafios globais, sobretudo na 
problemática da mudança climática e da saúde pública, e ajudando na resolução dos 
problemas pertinentes à vida cotidiana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NÃO PODE FALTAR 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
CONVITE AO ESTUDO 
Caro aluno, 
 
Observe o quanto o mundo real é baseado em dois principais pilares: ciência e tecnologia. 
Hoje, mais do que em outras épocas, a relação desses dois campos proporcionou inovação 
global e facilidade de acesso à informação. 
 
A inovação contribuiu para o rápido progresso tecnológico da sociedade, principalmente com a 
automatização provocada pelo uso de Inteligência Artificial, e o acesso à informação aumentou 
com a ascensão da Internet. Os mecanismos de buscas das grandes empresas, como o 
Google e o Bing, unificaram esses dois elementos e, com base em algoritmos cada vez mais 
refinados, proporcionaram a emergência de anúncios e resultados de buscas cada vez mais 
personalizados de acordo com os dados de acessos dos usuários. No entanto, o rápido 
progresso tecnológico não preparou cognitivamente a população para a avaliação crítica das 
informações recebidas nos meios digitais com acesso à Internet. 
 
Atualmente, em todo o mundo, enfrentamos o problema da fake news, que é um conceito em 
inglês para designar notícia falsa. A fake news atinge todos os setores da atividade humana, 
trazendo sempre algum dano real, como a consequência dos boatos do movimento antivacina, 
que contribuíram para que doenças até então erradicas no Brasil, como a febre amarela, 
voltassem à tona. 
 
A fake news se aproveita da falta de entendimento do grande público sobre o que é 
conhecimento e como avaliá-lo. Dessa forma, o indivíduo-alvo acaba não tendo o fundamento e 
as ferramentas necessárias para identificar o quão real é a informação recebida. 
 
Ao decorrer do livro, você será capaz não apenas de entender os diversos tipos de 
conhecimentos, mas também de identificar um tipo peculiar de crença psicológica que finge ser 
científica, geralmente sustentando narrativas fantasiosas ou sensacionalistas. 
 
O resultado será a compreensão da atividade científica, da importância de sua aplicação na 
vida cotidiana e do impacto que o falso conhecimento, elemento de estrutura das fake news, 
provoca na sociedade contemporânea. 
 
PRATICAR PARA APRENDER 
Você já precisou procurar alguma informação para a realização de um trabalho? É muito 
provável que sim. Qual o principal meio de busca para encontrar a resposta que você precisa? 
Provavelmente, você responderá Google, Bing ou algum outro site de pesquisas online. 
Diferentemente, nas gerações anteriores ao surgimento e popularização da Internet, as buscas 
eram realizadas através de bibliotecas, livros, sumarizações e enciclopédias. 
 
A Era da Informação trouxe uma enorme facilidade, no sentido de praticidade, do encontro de 
informações. No entanto, com o excesso de informações, é possível que não tenhamos acesso 
a algo verídico. Portanto, será necessário questionar: “As primeiras respostas do Google 
realmente são o conhecimento mais coerente frente à realidade?” 
 
Com o advento do mundo contemporâneo, o indivíduo que tem um conhecimento sólido em 
sua prática profissional é muito valorizado, mesmo sendo preciso que ele esteja disponível para 
aprender e atualizar sua formação profissional, exigindo cada vez mais uma busca por 
conhecimentos mais avançados em sua área de atuação. 
 
Pensar cientificamente é uma ótima maneira para garantir uma progressão de aprendizado, 
autocorreção e adaptação conforme a necessidade. Sendo assim, o profissional cientificamente 
orientado pensará nos meios de maximizar sua produtividade, levando em conta os impactos 
que o trabalho excessivo poderia causar em seu estado de saúde e, ao mesmo tempo, 
proporcionando maior capacidade de gestão na organização de tarefas em equipe. 
 
Em uma sala de aula, quatro estudantes são desafiados pelo professor de Filosofia a 
responderem a três questões, que são recorrentes ao longo da história da humanidade. 
 
De onde viemos? 
Para onde vamos após a morte? 
Por que estamos aqui? 
Cada aluno, em seu modus operandi, adota uma postura diferente em relação às respostas. 
Um vê o mundo a partir do (A) conhecimento científico; outro, do (B) religioso; o seguinte, do 
(C) filosófico e, por fim, o último, através do (D) senso comum. Diante dessa situação, a 
resposta de cada um é: 
 
Aluno A: Tudo se iniciou no Big Bang, e através de um processo de evolução por meio da 
seleção natural. Após a morte, nossa consciência não mais existe. Não há nenhum propósito 
especial, com base no que conhecemos através da ciência. 
 
Aluno B: Deus criou o Céu e a Terra tal qual está escrito na Bíblia. Para o paraíso ou inferno. 
Para atender aos desígnios de Deus. 
 
Aluno C: Qual é a origem do Universo? Qual é a melhor teoria científica? Podemos advogar 
pela defesa do Big Bang? É necessário submeter ao escrutínio da filosofia analítica a análise 
semântica das teorias científicas. Do mesmo modo, é necessário clarificar o conceito de morte, 
olhando pelas implicações do conhecimento científico. Essa pergunta traz problemas de ordem 
metafísica, portanto, é necessário analisar o significado do conceito de propósito. 
 
Aluno D: Depende do contexto. Um indiano, provavelmente, responderia com base em suas 
crenças culturais regionais, manifestando explicações de caráter hinduísta. Se fosse um 
japonês, provavelmente advogaria pelo zen budismo. Um brasileiro responderia conforme as 
crenças compartilhadas de sua região, por exemplo, existem regiões no Brasil onde há 
prevalência de mitos da origem da vida e do universo que têm uma relação intrínseca com 
crenças religiosas africanas, enquanto outras são fortemente influenciadas pelo catolicismo 
europeu. Nesse sentido, como foi explicado no texto, o conhecimento popular absorve sempre 
aspectos de outros conhecimentos quando incorporados fortemente pela cultura. 
 
Nessa interação, percebemos que cada aluno apresenta sua perspectiva pessoal frente às três 
grandes questões. Assim, recomenda-se instigá-los sobre as possíveis consequências das 
adoções de certos tipos de conhecimento e crenças para os desafios de sua vida diária e do 
mundo contemporâneo, tratando de fazê-los responder qual o melhor tipo de conhecimento 
para uma situação específica e como conciliá-lo com outros.Por exemplo, como a adoção de 
uma crença oriunda do conhecimento religioso poderia impactar em questões de saúde 
individual e coletiva? Qual consequência o conhecimento vulgar, aquele de senso comum, 
traria para a sociedade ao enriquecer mais rapidamente do conhecimento científico? A 
absorção do conhecimento científico, tanto no âmbito individual como coletivo, nos tornaria 
melhores tomadores de decisão? Essas questões, consequentemente, reforçariam a existência 
de diferentes tipos de conhecimentos no âmbito da vida cotidiana e fomentariam o pensamento 
crítico dos alunos. 
 
Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você recolhe, julga, 
maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação. 
 
Carl Sagan, trecho do documentário Cosmos (1980). 
CONCEITO-CHAVE 
DOXA, O CONHECIMENTO VULGAR DA SOCIEDADE 
Desde Aristóteles, o conceito de conhecimento tem sido central no debate filosófico. 
Inicialmente, conhecimento era tratado como um tipo de crença racional, verdadeira e 
justificada. Crença, porque faria relação com um estado psicológico do sujeito; racional, porque 
envolveria o exercício de nossas faculdades cognitivas; verdadeira, porque faria alusão a 
objetos ou fenômenos da realidade; e, principalmente, justificada, porque requereria um 
conjunto de enunciados estruturados logicamente. Essa definição, porém, não dá conta dos 
diversos tipos de conhecimentos existentes, alguns dos quais serão tratados ao longo do livro. 
 
Para começar nossa jornada, vamos entender um pouco o conceito de conhecimento vulgar, 
também chamado senso comum ou saber popular. Etimologicamente, refere-se ao conceito 
aristotélico de doxa, ou simplesmente opinião. 
 
O conhecimento vulgar trata-se de um conhecimento que não quer nenhum tipo de exercício 
crítico, também não envolve nenhum tipo de verificação experimental. Geralmente, ele é 
transmitido culturalmente, de gerações a gerações, muitas vezes preservando mitos que eram 
aceitos em determinada época. Por exemplo, o mito de que o chinelo virado com a sola para 
cima traz azar, ou a ideia de que um trevo de quatro folhas traz sorte. No entanto, também é 
verdade que alguns ensinamentos transmitidos pelo conhecimento vulgar possam ser 
verdadeiros, como a ideia de não colocar a mão no fogo para não se queimar, ou mesmo não 
entrar em uma lagoa se não souber nadar, porque é possível se afogar. 
 
O conhecimento vulgar também pode se enriquecer do conhecimento científico, especialmente 
quando este último se torna bastante popularizado ao ponto de seu entendimento se tornar 
familiar por quase toda população. Por exemplo, a ideia de que certos alimentos, como carnes, 
são mais bem preservados quando congelados, evitando sua contaminação e exposição a 
microrganismos no ambiente aberto. 
 
Apesar de estabelecer uma pequena relação com o conhecimento científico, o conhecimento 
vulgar não é suficiente para explicar a realidade, exatamente por preservar em seu núcleo 
ensinamentos que podem ser falsos ou simplesmente mitos. 
 
CONHECIMENTO RELIGIOSO 
O conhecimento religioso pode se enriquecer do conhecimento vulgar, especialmente das 
tradições culturais e religiosas cultivadas ao longo do tempo. Por exemplo, na preservação dos 
mitos gregos de que os deuses reinavam nos céus, apropriada pelas religiões politeístas. 
 
Esse tipo de conhecimento requer um elemento-chave para alcançá-lo, ao menos da forma 
como defenderam diversos pensadores da Idade Média, que é a iluminação religiosa como 
método para conhecer a verdade ou a Deus. 
 
Essa iluminação religiosa seria como um sentimento de vislumbre por uma paisagem 
maravilhosa, como relatou o cientista Francis Collins (apud SHERMER, 2012) em sua 
experiência pessoal. É como um sentimento de inspiração e encantamento com algo 
notoriamente belo, diante do qual uma pessoa não encontra palavras para expressar tal 
sensação. No entanto, essas experiências religiosas podem ser despertadas mediante o uso 
de substâncias psicoativas, como alucinógenos ou antidepressivos, ou podem ser vivenciadas 
igualmente por qualquer pessoa que tenha apreço pela natureza, de modo que seu principal 
método não caracteriza uma forma autêntica e racionalmente justificada para conhecer a 
realidade. Por conta da subjetividade envolvida durante a iluminação religiosa, não é possível 
demonstrar que a observação pessoal produziu cenas reais no cérebro dessas pessoas. 
 
Outro método comumente cultivado na construção do conhecimento religioso é a 
hermenêutica. A hermenêutica é um tipo de filosofia subjetivista, como defendeu o cientista e 
filósofo argentino Mario Bunge, porque ela dependeria simplesmente da interpretação do autor 
para trazer à luz dos escritos bíblicos a extração de um suposto fato vivenciado em tempos 
remotos. 
 
A hermenêutica é uma abordagem problemática, pois ela não exige a investigação empírica da 
realidade, como a recolha de dados para contrastar fatos históricos bem documentados com a 
interpretação pessoal do hermeneuta ou teólogo. 
 
O hermeneuta e o teólogo são os responsáveis por construir esse tipo conhecimento, embora o 
primeiro contemple uma atividade mais geral, podendo abarcar o uso da hermenêutica para 
textos literários ou filosóficos. No entanto, como foi apontado anteriormente, o simples fato de 
invocar a subjetividade do interpretador, ao invés de fatos objetivos, lança um desafio na 
validade desse tipo de conhecimento. 
 
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO: EMPÍRICO E RACIONALISTA 
O conhecimento filosófico é amplo, abarcando diversos posicionamentos ao longo da história 
da filosofia, especialmente o empírico e o racionalista. Esse tipo de conhecimento também 
pode incluir o religioso, uma vez que a base de todo conhecimento são os pressupostos 
filosóficos. Noções de verdade, intuição, dedução, cognoscibilidade, crença, realidade, 
fenômeno, utilidade e outras são conceitos filosóficos indispensáveis em qualquer tipo de 
conhecimento. O conhecimento empírico pressupõe a cognoscibilidade dos fenômenos com 
base nas experiências sensíveis do sujeito, enquanto o racional pressupõe que o conhecimento 
já é derivado da mente do sujeito, independentemente de qualquer experiência empírica. 
 
David Hume e John Locke eram filósofos empiristas e, portanto, defendiam que a fonte de 
conhecimento derivava dos dados sensíveis. René Descartes, por outro lado, acreditava que o 
conhecimento eterno ou matemático poderia ser alcançado pelo simples uso da razão, sem a 
necessidade de qualquer experiência empírica. Embora seja verdade também que ele tenha 
defendido que uma junção de mais fatores era condição necessária para alcançar verdades 
absolutas ou irrefutáveis, por via de seu método cartesiano, que estabelecia, no mínimo, quatro 
condições, como evidência, análise, ordem e enumeração, ele deduzia que todos esses 
princípios eram alcançados mediante o uso da razão. 
 
Embora Descartes tivesse defendido o papel da razão como principal responsável pelo 
conhecimento absoluto, ele fez investigações empíricas durante toda sua vida, especialmente 
nos campos da anatomia e da fisiologia, contribuindo para uma descrição de partes do cérebro 
humano, como a glândula pineal, e especulando sobre sua real função no organismo. 
 
Houve também pensadores de grande importância da filosofia que tentaram unir os dois tipos 
de conhecimentos, sendo o mais famoso o filósofo Immanuel Kant, que lançou as bases de seu 
método racioempirista. Esse método consistia em tomar elementos que ele considerava 
verdadeiros do empirismo e do racionalismo. Kant apropriou-se do fenomenismo dos 
empiristas, em que a fonte de conhecimento se dá através dos fenômenos, e não da realidade 
em si. Kant acreditava que não poderíamos conhecer nada além das aparências, de modo que 
todo o mundo estaria subordinado a impressões ou dados sensíveis, tal como acredita Hume. 
Mais ainda, Kant buscouresgatar o apriorismo do racionalismo, argumentando sobre a 
plausibilidade de verdades independentes da experiência, que, segundo ele, estariam ali, 
prontas na mente. 
 
O racioempirismo kantiano levou a discussões calorosas no campo da filosofia e, junto com 
outros pensadores, inspirou posições bem diferentes entre si na filosofia – especialmente, a 
fenomenologia e o positivismo lógico. 
 
O incômodo com a posição de Kant é que ele havia se apropriado de elementos problemáticos 
de ambos os conhecimentos empírico e racionalista, não levando em consideração a própria 
ciência da época na elaboração de sua filosofia. Os astrônomos Galileu Galilei e Johannes 
Kepler, por exemplo, já investigavam a realidade além dos fenômenos limitados a dados 
sensíveis. Galileu estendeu sua percepção com um telescópio que ele havia aprimorado e 
descobriu três satélites de Júpiter, enquanto Kepler havia calculado a trajetória das elipses 
planetárias usando ferramentas matemáticas, hipóteses auxiliares e instrumentação de 
medidas. Isaac Newton, um dos maiores nomes da revolução científica, estabeleceu leis 
científicas que poderiam se aplicar a quaisquer objetos não diretamente observáveis, mas com 
velocidades menores do que a da luz. Isso, porém, não foi suficiente para ruir a possibilidade 
de unificação entre empirismo e racionalismo. 
 
No século XX, o cientista e filósofo Mario Bunge procurou unificar o empirismo com o 
racionalismo, resgatando o conceito de racioempirismo, mas se desvinculando das posições 
kantianas notoriamente emblemáticas. Bunge uniu a experiência empírica com a condição de 
exercê-la mediante uso crítico da razão como forma de investigar a realidade. Mais ainda, ele 
estabeleceu que seria necessária a unificação do realismo com o cientificismo proclamado dos 
filósofos da ala radical do iluminismo francês, sobretudo com Condorcet, para formular 
verdades mais profundas sobre o mundo. 
 
O realismo é a filosofia que advoga a existência de um mundo independente do sujeito 
(realismo ontológico) e que ele pode ser conhecido (realismo epistemológico), mesmo que 
indireta e parcialmente, enquanto o cientificismo é a posição segundo a qual a ciência pode 
produzir o conhecimento mais profundo e verdadeiro da realidade, em comparação com outras 
formas de conhecimentos, como o religioso proveniente da iluminação religiosa ou mesmo do 
interpretacionismo hermenêutico. Porém, diferente da concepção caricata difundida sobre o 
conceito de cientificismo, ele não é uma posição preconceituosa e nem autorrefutável, mas 
uma atitude esperada de qualquer pesquisador interessado em investigar a realidade e que 
acredita que o progresso científico é possível e desejável. Mais ainda, o cientificismo é um tipo 
de filosofia que enriquece a ciência, favorecendo a investigação científica, em vez de focar a 
atenção exclusiva na contemplação excessiva de leituras sagradas ou de ideias do próprio 
indivíduo, como faziam os filósofos irracionalistas e teólogos, que negligenciaram séculos de 
progressos científicos. O cientificismo, hoje, está entrelaçado com o realismo, dando origem à 
posição conhecida como realismo científico. 
 
O realismo científico é a filosofia que admite que podemos tratar teorias científicas como 
descrições ou representações verdadeiras do mundo, mesmo que sejam, por vezes, 
incompletas. É a posição mais defendida dentro da filosofia da ciência, em comparação com 
sua concorrente antirrealista. O antirrealismo, por sua vez, evita fazer uso de afirmações ou 
teorias que não correspondam diretamente à observação pura da realidade, desconsiderando o 
progresso contínuo provocado pela física de partículas ao estudar acontecimentos ou 
elementos que são imperceptíveis diretamente à nossa experiência sensível ou mesmo a 
teorização ou modelagem matemática de fenômenos macrossociais que escapam da 
observação individual do pesquisador sociológico. 
 
Em resumo, o conhecimento filosófico é amplo, contemplando posições muitas vezes 
compatíveis ou relacionáveis com a ciência, enquanto outras vezes apresentando um tipo de 
conhecimento totalmente oposto ao científico. Sua característica mais fundamental é o 
exercício de análise lógica dos enunciados e das teorias científicas, geralmente realizadas por 
filósofos analíticos ou filósofos da ciência. Seu mérito reside no fato de que ele alimenta 
tacitamente a ciência em um processo de feedback positivo, proporcionando um vocabulário 
mais refinado para a ciência e, ao mesmo tempo, alimentando seu repertório de problemas 
com os novos dados da investigação científica. 
 
ASSIMILE 
No mínimo, existem quatro tipos de conhecimentos, cada qual com sua utilidade e aplicação no 
mundo real. 
O conhecimento filosófico também tem uma relação de absorção com outros tipos de 
conhecimentos, principalmente com o científico, contribuindo para o fornecimento de um 
tratamento conceitual adequado e o levantamento de problemas sobre a realidade. 
Apenas o conhecimento científico possui um mecanismo de autocorreção com o qual ajuda a 
ciência a se ajustar cada vez mais à realidade. 
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO 
O conhecimento científico é um tipo de conhecimento sui generis, ou seja, uma classe de 
conhecimento único em sua forma. Esse tipo de conhecimento levou séculos para que fosse 
desenvolvido e teve a participação de diversos filósofos ao longo da história, especialmente o 
egípcio Ibn al-Haytham e o filósofo inglês Robert Grosseteste, além de figuras notoriamente 
conhecidas como Francis Bacon, Galileu Galilei e David Hume. 
 
Haytham é considerado o primeiro cientista, porque aplicou métodos empíricos de investigação 
para estudar a óptica, sobretudo os efeitos da luz. Grosseteste, por outro lado, é uma figura 
comumente negligenciada em livros históricos, mesmo tendo importância central no 
desenvolvimento das bases do método científico. Por outro lado, a literatura vigente considera 
apenas as contribuições de Bacon, Galileu, Hume e Descartes. 
 
Bacon advogava pela noção de conhecimento intuitivo, ou seja, a ideia de que, com base em 
observações particulares, era possível realizar generalizações. Galileu, por outro lado, é 
conhecido por realmente ter aplicado um método científico para a investigação de objetos 
celestes, indo além do que os empiristas defendiam, ao usar o raciocínio abstrato, a 
imaginação e a instrumentalização adequada para ultrapassar suas experiências sensíveis. 
Hume, porém, limitava-se a propor um método atrelado à percepção, de modo que se 
fôssemos levar ao pé da letra sua posição, não seria possível algo como biologia molecular, 
cosmologia e principalmente mecânica quântica, já que essas disciplinas transcendem a pura 
percepção do investigador científico. 
 
Descartes, no entanto, conciliou um aspecto importante que Hume também defendia, o 
chamado ceticismo metodológico. O ceticismo metodológico é a posição que nos permite 
duvidar de certas conjecturas ou hipóteses que não foram submetidas à prova. Essa posição é 
basicamente uma dúvida razoável, nunca absoluta, na falta de boas evidências. Em resumo, 
essa é a posição que norteia toda a atividade científica ainda hoje. 
 
Com base numa compreensão mais profunda da realidade, os filósofos do século XX tentaram 
caracterizar de forma objetiva o conhecimento científico, buscando delimitá-lo de outras formas 
de conhecimentos, sendo a figura mais importante dessa atitude o filósofo austríaco Karl 
Popper. 
 
REFLITA 
O que torna o conhecimento científico confiável? 
Como o conhecimento filosófico pode contribuir com o conhecimento científico? 
De forma satisfatória, é possível estabelecer um critério de demarcação entre ciência e 
pseudociência, indo além das concepções propostas no século XX? 
Karl Popper (2013) tentou propor um critério de demarcação entre ciência e não ciência (onde 
se incluem artes, filosofia e pseudociência), com o objetivo tambémde responder ao problema 
de Hume. Sua ideia era de que nenhuma observação é suficiente para confirmar uma teoria, 
que bastaria um contraexemplo para demonstrar sua falsidade. Analogamente ao exemplo 
mais tipicamente usado, o fato de observar cisnes brancos em uma região não permite fazer 
uma generalização apressada de que todos os cisnes são brancos, pois a observação de um 
cisne negro refutaria a teoria. Então, Popper lançou a condição de que toda teoria, para ser 
científica, deveria ser passível de falseabilidade ou falseacionismo, ainda mais porque 
contribuiria para seu refinamento. A falseabilidade é a condição de que teorias devem ter a 
capacidade de serem provadas falsas em alguma circunstância. 
 
Popper argumentava que a confirmação trivial não assegurava uma boa teoria, utilizando a 
psicanálise como exemplo de caso para mostrar que a observação do analista geraria uma 
confirmação excessiva, embora não suficiente para avaliar seu grau de verdade. Mais ainda, 
ele argumentou que a falta de condições de refutação da teoria psicanalítica seria um elemento 
vital para sua fossilização, como o caso do inconsciente freudiano, que admite a existência de 
três instâncias psíquicas ou entidades desencarnadas (id, ego e superego), mas que nunca é 
clarificado se são conceitos meramente simbólicos ou objetos tão reais quanto axônios, 
neurônios, sinapses e partículas. 
 
Com seu critério de demarcação, Popper foi duramente criticado pelos filósofos irracionalistas, 
sobretudo Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn (2017) defendeu que existiam, no mínimo, 
duas ciências: a normal e a extraordinária. A normal é a ciência acerca da qual existe 
minimamente um consenso estabelecido entre a comunidade científica. Em seguida, dentro da 
ciência normal, segundo Kuhn, ocorre uma crise sem precedentes, ocasionada por uma nova 
descoberta, passando a existir a dificuldade de estabelecimento de um consenso. Quando essa 
nova descoberta se consolida, ocorre uma revolução científica, dando início à etapa de uma 
nova e extraordinária ciência, rompendo com velhas concepções de mundo. Pense, por 
exemplo, na revolução científica ocasionada pela emergência da teoria da relatividade geral, 
que, embora seja sempre lembrada como fruto do trabalho de Albert Einstein, também teve a 
contribuição de outros grandes nomes da física, como Henri Poincaré. A relatividade provocou 
uma reação de incerteza na comunidade científica por conta de sua aceitação total ao longo de 
anos e das limitações físicas agora evidentes das teorias newtonianas para o estudo de objetos 
de grande massa. Isso, porém, não significa que a relatividade geral demoliu a física de 
Newton. Isso também não sustenta a defesa de Kuhn de que não existe algo como progresso 
científico. A teoria da relatividade e o uso da mecânica de Newton têm permanecido de pé 
ainda hoje, sendo a última responsável pela possibilidade de envio de foguetes ao Espaço. 
 
Feyerabend (2011), por outro lado, foi ainda mais radical e sentenciou que não existe algo 
como método científico e que, na ciência, “tudo vale”, de modo que não existiriam regras para 
serem seguidas, a ponto de, segundo ele, os cientistas diversos romperem com os protocolos 
de investigação para formularem suas ideias. Feyerabend foi seduzido por essa visão por conta 
de sua descrença na medicina científica e a suposta experiência de cura por uma curandeira, o 
que o levou a relativizar o status epistemológico da medicina em seus trabalhos. Sua posição 
ficou conhecida como anarquismo epistemológico. Embora essa seja a visão que mais 
prevalece na academia, ela é falsa, porque ignora que não existe ciência sem método científico 
(ou seja, sem regras minimamente estabelecidas e/ou procedimentos experimentais de 
investigação, principalmente de acordo com os princípios da pesquisa bioética) e, 
principalmente, sem ethos (ou código de conduta) tacitamente aceito pela comunidade 
científica. Uma ciência sem método não seria capaz de investigar a realidade em todos os seus 
níveis, também não seria capaz de progredir ao longo dos anos e, mais importante, sem ethos 
tanto a verdade como a mentira teriam pesos igualmente válidos dentro da comunidade 
científica. 
 
O ethos da ciência foi primeiramente clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton 
(1968). Ao investigar a comunidade científica, ele identificou alguns princípios que norteavam a 
pesquisa científica, sendo eles: comunismo epistêmico, universalismo, desinteresse, ceticismo 
coletivo e originalidade. 
 
O comunismo epistêmico enfatiza que o conhecimento científico é propriedade de todos, 
portanto, ele deve ser sempre acessível; o universalismo advoga que todos os cientistas, 
independente de sua etnia ou localização geográfica, podem contribuir com a ciência; o 
desinteresse destaca que os cientistas devem agir conforme a comunidade, de acordo com os 
interesses coletivos, sempre acima dos interesses pessoais; o ceticismo coletivo determina que 
as reivindicações científicas devem ser submetidas à análise crítica da comunidade; e, 
finalmente, a originalidade diz respeito à ideia de que as demandas científicas devem contribuir 
com a novidade, seja na formulação de novos problemas, dados ou teorias. A suspensão do 
ethos leva ao florescimento da pseudociência. 
 
O conceito de pseudociência, de antemão, exige uma compreensão do que é a ciência. No 
entanto, nenhum filósofo havia sido capaz de conceituar a ciência de forma adequada, 
deixando sempre espaço para que reivindicações não científicas se passassem como ciência. 
O filósofo Mario Bunge (2010) mostrou que a concepção popperiana de ciência deixava espaço 
para que reivindicações parapsicológicas fossem tratadas como ciência, simplesmente porque 
satisfaziam o critério de falseabilidade. Porém, como Bunge enfatizou, o que torna um campo 
científico não é sua condição de falseabilidade, mas uma série de princípios, entre os quais 
estão incluídos um fundo de conhecimento, uma base formal, uma epistemologia realista, uma 
ontologia materialista, um ambiente livre de pesquisa e, principalmente, a prática de um ethos 
entre membros da comunidade científica. Nesse sentido, Bunge (2014) define a ciência como 
um sistema de ideias caracterizados como um conhecimento sistemático, racional, exato, 
verificável e, portanto, falível, sendo uma representação conceitual do mundo. Além disso, 
quando um campo falha em satisfazer a maior parte dos princípios de cientificidade, ele pode 
ser considerado pseudocientífico. 
 
A pseudociência, consequentemente, pode ser conceituada de forma oposta à ciência, como 
sendo um sistema de crenças subjetivas, irracionalistas ou puramente intuicionistas, inexata, 
inverificável e, portanto, dogmática, pois ela não submete à prova suas crenças, não exige uma 
linguagem clara, precisa e objetiva, nem um vocabulário articulado de ideias inter-relacionadas, 
e, quando se mostra falha, como na hipótese da existência do inconsciente freudiano da 
psicanálise ou das ondas psi da parapsicologia, ela permanece estagnada no tempo, não 
atualizando suas crenças à luz de novas evidências. 
 
Em resumo, o conhecimento científico é um tipo especial de conhecimento, que possui em seu 
aspecto central a revisão constante de hipóteses e teorias científicas, sempre submetendo à 
prova conjecturas e, mais ainda, proporcionando a melhor representação da realidade em 
todos os seus níveis (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.). Por ser um 
tipo de conhecimento antidogmático por princípio, ele não deve ser confundido com a 
pseudociência, em que, em sua característica mais essencial, o livre debate de ideias é 
substituído pelo culto à autoridade e pela salvação contínua de crenças falsas, por conta do 
sentimento de incerteza provocado pelo mal entendimento da ciência. 
 
EXEMPLIFICANDO 
O conhecimento vulgar (ou senso comum) absorve todosos tipos de conhecimentos ao longo 
dos anos. No entanto, ele pode conservar em seu núcleo crenças falsas sobre a realidade. Por 
sua vez, o conhecimento religioso possui, ao menos, duas abordagens principais, como a que 
é baseada na iluminação religiosa e a interpretacionista, advogada por teólogos ou 
hermeneutas. De forma semelhante ao conhecimento vulgar, esse tipo de conhecimento pode 
manter ideias falsas em seu núcleo, sobretudo por focar sua abordagem mais no indivíduo 
subjetivo do que na investigação da realidade externa. 
O conhecimento filosófico é amplo em sua forma, sendo difícil delimitá-lo. Por essa razão, ele 
pode ser desenvolvido em uma relação de dependência do conhecimento científico, como 
também é possível fazê-lo de forma independente. No entanto, sua característica mais 
fundamental tem sido a clarificação dos conceitos utilizados em diversos tipos de 
conhecimentos. Além disso, ele é um tipo de conhecimento que permite fazer certas 
generalizações sobre a realidade. Por exemplo: todos os objetos existentes são materiais; 
todos os objetos reais possuem propriedades físicas, como energia; a realidade é um grande 
sistema emergente e material; as leis da natureza revelam a impossibilidade da existência de 
entidades desencarnadas, como almas, espíritos, inconsciente freudiano ou cérebros 
dualísticos. 
O conhecimento científico é único em sua forma. É o tipo de conhecimento que produz o 
entendimento mais profundo e verdadeiro sobre a realidade, indo além das percepções 
empiristas, a partir do momento que destaca o importante papel da teorização e modelagem 
para representar a realidade com base nas evidências. Sua característica mais fundamental é o 
mecanismo de autocorreção, que permite corrigir imprecisões e, então, refinar cada vez mais 
as explicações sobre o mundo. Por sua natureza particular, é um conhecimento antidogmático 
por princípio. 
No decorrer do livro, foram exemplificados os diversos tipos de conhecimentos existentes, bem 
como os desafios que cada um deles enfrenta. Também foi explicado como diferentes tipos de 
conhecimentos podem ser relacionados com outros, como na relação recíproca entre o 
conhecimento filosófico e o científico, em que um enriquece o outro, proporcionando um 
aumento gradual do conhecimento na esfera da atividade humana. Dessa forma, espera-se 
que, com base nessa introdução, você tenha a capacidade de distinguir os diversos tipos de 
conhecimentos, bem como de procurar aprofundar seu conhecimento ao longo dos anos. 
 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
A falseabilidade é o princípio filosófico no qual uma teoria, para ser considerada científica, deve 
ser capaz de realizar predições que sejam possíveis de serem provadas falsas em alguma 
circunstância. Um exemplo bastante difundido para expressar a ideia é a observação de um 
grupo de cisnes brancos não ser suficiente para afirmar que todos os cisnes são brancos, já 
que a observação de um cisne negro refutaria a afirmação. 
 
Qual o primeiro filósofo a propor a falseabilidade como um critério de demarcação para a 
ciência? 
 
a. David Hume. 
b. Karl Popper. 
c. Francis Bacon. 
d. René Descartes. 
e. Robert Grosseteste. 
Questão 2 
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos coletivos que norteia a comunidade 
científica. Esses princípios foram percebidos, pela primeira vez, pelo sociólogo da ciência 
Robert K. Merton, que destacou seus aspectos principais. 
 
Quais princípios formam o ethos da ciência? 
 
a. Autoritarismo - universalismo - niilismo - desinteresse - originalidade. 
b. Comunismo - universalismo - ceticismo - desinteresse - originalidade. 
c. Socialismo - relativismo - ceticismo - interesse - familiaridade. 
d. Dogmatismo - irracionalismo - individualismo - interesse - falsidade. 
e. Comunismo - absolutismo - ceticismo - desinteresse - originalidade. 
Questão 3 
A pseudociência é conhecida por conta de sua marginalidade frente ao conhecimento científico 
do momento, de modo que ela não segue nenhum critério objetivo de investigação e nem 
sequer cultiva uma comunidade crítica para a análise de suas ideias. 
 
Quais são as características fundamentais da pseudociência? 
 
a. Originalidade, ceticismo, racionalismo e claridade conceitual. 
b. Falsidade, dogmatismo, relativismo e claridade conceitual. 
c. Originalidade, ceticismo, racionalismo e obscurantismo. 
d. Falsidade, subjetivismo, dogmatismo e obscurantismo. 
e. Falsidade, obscurantismo, ceticismo e claridade conceitual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
BUNGE, M. Caçando a Realidade: a luta pelo realismo. Tradução de Gita K. Guinsburg. [S.l.]: 
Editora Perspectiva, 2010. 
 
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014. 
 
BUNGE, M. Las pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.l.]: Editora Laetoli, 2014. 
 
BUNGE, M. In Defense of Realism and Scientism. Annals of Theoretical Psychology, Boston, v. 
4, p. 23-26, 1986. Springer US. Disponível em: https://bit.ly/3b59Qg3. Acesso em: 24 nov. 
2020. 
 
BUNGE, M.; SCHLÖTTER, P.; RAYNAUD, D.; ROMERO, G. E.; MOLINA, E.; PIEVANI, T.; 
LARRINAGA, V. J. S.; ELÍAS, C.; CAMPO, A. C.; FISAC, M. Á. Q. Elogio del Cientificismo. 
Tradução de Gabriel Andrade. [S.l.]: Editora Laetoli, 2017. 
 
DESCARTES, R. Discurso Sobre o Método. [S.l.]: Editora Vozes de Bolso, 2018. 
 
FEYERABEND, P. Contra o Método. 2. ed. [S.l.]: Editora Unesp, 2011. 
 
KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. [S.l.]: Editora Perspectiva, 2017. 
 
MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica. 
[S.l.]: Editora Zahar, 2016. 
 
MERTON, R. K. Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968. 
 
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013. 
 
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. 
[S.l.]: Editora Companhia das Letras, 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
SEM MEDO DE ERRAR 
Para resolver o problema, é necessário entender o contexto histórico e filosófico por trás da 
origem de cada tipo de conhecimento, destacando os aspectos fundamentais que levaram à 
sua aceitação ou rejeição, fazendo analogias ou experimentos mentais (ou seja, imaginando 
circunstâncias nas quais certos tipos de conhecimentos poderiam ser aplicados, levando em 
consideração seus possíveis impactos na esfera da vida cotidiana) para reforçar a 
aprendizagem. 
 
Um caminho para levar à resolução da situação-problema consiste na utilização da analogia do 
conhecimento científico com a atividade política, entendendo suas principais diferenças, mas 
destacando seus aspectos de interdependência. Por exemplo, embora a ciência dependa da 
política para uma série de condições, sobretudo no direcionamento de recursos para suas 
atividades, ela não é decidida de modo semelhante, de modo que a ciência não advoga pela 
democracia para chegar a um consenso, mas opera com base nos estudos e na qualidade da 
evidência resultante da investigação da realidade, confrontando muitas vezes uma visão 
dominante dentro da ciência, ou mesmo crenças políticas e religiosas individuais dos próprios 
cientistas, até a aceitação plena de teorias mais bem confirmadas, como ocorreu 
historicamente no processo de aceitação da teoria da evolução de Charles Darwin e sua 
implicação filosófica e política no contraste com o criacionismo bíblico, e na emergência da 
mecânica quântica, da qual alguns físicos, como Albert Einstein, resistiram-se a aceitar a 
natureza indeterminística da realidade. 
 
Isso significa que muitas vezes seremos confrontados com visões que entram em desacordo 
com nossas preferências políticas, ideologias e crenças religiosas, mas isso não é umsinal de 
que devemos abrir mão do conhecimento científico. Na verdade, devemos trabalhar 
criticamente para absorvê-lo da melhor forma possível, especialmente para ajustar nossas 
crenças e visões de mundo à realidade. Pense, por exemplo, no caso das Testemunhas de 
Jeová e o embate notório em questões de ordem filosófica, sobretudo ética, e de saúde 
pública, que norteiam as ciências da saúde, no que se refere à rejeição de práticas e cuidados 
médicos relacionados ao uso da técnica de transfusão de sangue por seus seguidores. A 
rejeição do conhecimento científico levaria essas pessoas a permanecerem em sofrimento, a 
adoecerem progressivamente, simplesmente porque não conseguiram conciliar suas crenças e 
visões de mundo com o conhecimento científico. 
 
O conhecimento vulgar também está enraizado em diversas concepções equivocadas do 
mundo, principalmente nas que trazem algum dano não apenas à humanidade, mas à natureza 
e aos animais. Por exemplo, a crença social compartilhada de que gatos pretos trazem azar, o 
que instiga o comportamento de maus-tratos contra animais, simplesmente porque a população 
não teve acesso ao conhecimento científico para entender a origem e a consequência dos 
mitos ao longo da história. Apenas o conhecimento científico pode elucidar essas questões, 
mostrar seus impactos no mundo real e avaliar o quão realistas são as crenças culturais ou 
religiosas mais bem difundidas. Em outras palavras, o conhecimento científico enriquece a 
cultura e alimenta a sociedade, contribuindo para que o senso comum se afaste cada vez de 
concepções equivocadas do mundo. 
 
Um elemento-chave que contribui para a absorção do conhecimento científico pelo senso 
comum é entender que a formulação desse tipo de conhecimento que se dá através da 
construção das teorias científicas não surge espontaneamente do nada, nem de forma isolada 
com a pura observação de um fenômeno, mas se baseando em um problema e um fundo de 
conhecimento anterior. Contrastar a ciência e a pseudociência também ajuda a entender os 
aspectos que influenciam os grupos humanos. Evidenciar o princípio de abertura às novas 
ideias que o conhecimento científico proporciona e sua característica de testar ideias que não 
nos parecem razoáveis à primeira observação, como quando estamos pensando em comprar 
um carro usado e fazemos perguntas sobre a condição atual do automóvel, contribui para 
ajustar nossa visão de mundo a uma posição mais crítica e realista. Mais ainda, a 
consequência fundamental do senso comum absorver a ciência é, a curto prazo, a formação de 
melhores tomadores de decisões. 
 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
A CIÊNCIA E A SAÚDE MENTAL 
Uma pessoa cientificamente orientada, responsável pela análise da gestão da equipe de uma 
empresa, poderia identificar que a saúde e a qualidade de vida no trabalho (QvT) estão 
prejudicadas no setor em que trabalha, o que refletiria diretamente na queda dos índices de 
rendimento e produtividade da equipe. Como o conhecimento científico poderia auxiliar na 
resolução desse problema? 
 
RESOLUÇÃO 
A própria pessoa com competências científicas, sobretudo em psicometria aplicada às 
organizações, poderia pôr em prática seu conhecimento para verificar a possível solução do 
problema, ou mesmo indicar a contratação de um consultor científico mais especializado. Em 
um exemplo específico, pode ser que um colega ou chefe seja responsável por boa parte 
dessa queda da QvT. Então, o consultor poderia desenvolver estratégias eficazes, baseadas 
no conhecimento científico, para aumentar o nível da QvT. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NÃO PODE FALTAR 
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
PRATICAR PARA APRENDER 
Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico diferenciado em 
comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual diversas grandes potências 
reservam uma parcela de seu PIB para investir em ciência e tecnologia, mas não encontrou 
nenhuma explicação dentro de um contexto histórico apropriado que detalhasse as principais 
características do conhecimento científico. 
 
Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico, bem como 
explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de conhecimento ser único em 
sua espécie. Por causa dessa dificuldade de entendimento da ciência, você, em alguma parte 
de sua vida, perguntou: “Por que os cientistas estudam planetas distantes em vez de 
concentrarem seus esforços em problemas sociais vigentes, como a desigualdade social, a 
extrema pobreza e a desnutrição?” ou “Por que investir milhões de dólares em pesquisas 
básicas?” 
 
Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível responder que 
diversos esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história da Era Espacial 
contribuíram direta e indiretamente para o surgimento de tecnologias usadas no dia a dia, como 
travesseiros, painéis solares, satélites artificiais, detectores de fumaça e muitos outros. Poderia 
também ser respondido que uma compreensão profunda da genética levou ao desenvolvimento 
de alimentos transgênicos, que são ricos em proteínas, contribuem para a redução do uso de 
agrotóxicos e auxiliam diretamente no combate à desnutrição em países do continente africano. 
 
Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a cultura à 
medida que revela como as características do conhecimento científico auxiliam no progresso 
tecnológico, principalmente na produção de vacinas em contextos de pandemias, como a da 
Gripe Espanhola e do novo coronavírus (SARS-CoV-2). 
 
Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o objetivo 
de atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a primeira disciplina 
é a Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a Sociologia (atribuída ao aluno 
B) e a terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao aluno C). 
 
Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina atribuída a 
eles para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas bases analisando a 
possível compatibilidade com os resultados da ciência. 
 
Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a que cada 
aluno chegou: 
 
A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados disponíveis 
das melhores agências espaciais. 
A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além disso, a 
sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional, realizar predições sobre 
fenômenos sociais com alto nível de acurácia. 
A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência, porque suas 
principais hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais ainda, algumas alegações sobre 
possíveis entidades ou objetos não podem ser testadas ou demonstradas empiricamente. Ela 
também tem outro ponto falho, que consiste na ausência de uma formalização lógica adequada 
da qual seja possível a extração objetiva do significado de um conceito central no campo. 
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a psicanálise ainda 
mantém um local prestigiado em universidades públicas e particulares, sendo que ela falha em 
cumprir os requisitos mínimos esperados de um campo que alega produzir conhecimento 
científico. 
 
Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas pseudociências, 
como a psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia, mesmo não cumprindo 
requisitos esperados de uma atividade que preza pela verdade? 
 
A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de 
interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a 
fazerperguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos 
céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político 
ou religioso que aparecer. 
 
Carl Sagan, entrevista de 1996. 
CONCEITO-CHAVE 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE, FALIBILIDADE E 
QUESTIONABILIDADE 
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é um 
conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em comparação 
com outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto central é seu princípio de 
sistematização, que é basicamente a forma como seus enunciados são estruturados 
logicamente, evitando confusões da linguagem ordinária, como contradições lógicas e 
polissemia. 
 
A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não entrem em 
contradição ao longo de uma explicação a respeito de algum fenômeno da realidade, evitando 
a utilização de jargões desnecessários e, por vezes, incompreensíveis, como sentenças que 
fazem parte de muitos sistemas filosóficos dos chamados filósofos do irracionalismo, como 
Friedrich Hegel e Martin Heidegger. 
 
A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que qualquer 
discurso ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico, contrariando a 
crença popular de que a dialética é um elemento indispensável na atividade científica. Isso 
ocorre desde o surgimento da ciência moderna, admitindo tacitamente o Princípio da Não 
Contradição de Aristóteles, que assegura que afirmações contraditórias não podem ser 
verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a ciência evita o uso de proposições contraditórias, 
como “esse círculo é quadrado”, “toda verdade é uma mentira” e “tudo é relativo”. 
 
A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus primórdios a ideia 
de que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a ideia de que todas as coisas 
que existem possuem uma contraparte ou uma entidade oposta (por exemplo, partículas e 
antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo Hegel buscou desenvolver a dialética dentro 
de seu sistema filosófico, admitindo alguns pressupostos da tese original, como a ideia de que 
existe uma unidade dos opostos e a noção segundo a qual todas as coisas mudam. No 
entanto, Hegel foi muito pouco claro sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que 
até hoje não existe um consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica, que 
romperia com o Princípio da Não Contradição da ciência moderna; uma ontologia das coisas; 
ou simplesmente ambas. Apesar do extenso debate filosófico sobre a dialética, ela não 
conseguiu ganhar espaço em nenhuma ciência natural, social ou biossocial – nem mesmo na 
ciência formal, com a lógica e a matemática. 
 
Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que todo 
discurso científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de dogmatismo, como a 
estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade. Esse conceito está presente na 
tese do filósofo da ciência Karl Popper (2013), que estipulou que a falseabilidade ou 
refutabilidade é a condição para refinar cada vez mais hipóteses e teorias científicas. 
 
Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses iniciais ou 
primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas não é um critério de 
demarcação satisfatório para produzir conhecimento científico. Na verdade, mesmo que alguns 
cientistas considerem que a ciência siga o modelo popperiano, nenhum filósofo da ciência 
considera-o como um critério satisfatório – especialmente porque a pseudociência também 
mantém um nível de conciliação com o respectivo critério de demarcação. 
 
A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo também 
com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade, produzindo um 
conhecimento diferenciado em comparação com os outros, sendo então mais profundo e 
verdadeiro. Essa posição também é admitida por filósofos científicos – ou seja, filósofos que 
estão em dia com os resultados da ciência e tecnologia –, que assumem que a ciência produz 
um tipo de conhecimento mais profundo e verdadeiro. 
 
A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto de questionabilidade ou ceticismo, que 
significa dúvida metodológica e consiste na adoção do ceticismo científico, que é o princípio 
segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser questionadas de forma metódica, 
responsável e cientificamente orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de 
ceticismo conhecido como radical, em que tudo deve ser questionado, que advoga por um 
questionamento absoluto, irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A 
questionabilidade promovida na ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de 
evidências razoáveis à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e 
útil para o desenvolvimento da ciência. 
 
O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é a posição 
que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O negacionismo da 
ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, entrando em cena quando a 
ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está em desacordo por alguma razão 
política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de negacionismo da ciência incluem a negação 
de efetividade das vacinas, a rejeição da circunferência da Terra, a depreciação das 
consequências das mudanças climáticas e a resistência em aceitar a evolução biológica das 
espécies através do processo de seleção natural. 
 
OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E EXPLICABILIDADE 
No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser confundido 
com objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn Rand. A objetividade se 
refere à pretensão clara e objetiva na formulação de enunciados científicos, evitando o 
subjetivismo interpretativo, que é a noção segundo a qual é possível a extração de diversas 
interpretações e múltiplos significados de um determinado texto. Por conta de a linguagem 
científica ser diferente da linguagem ordinária, principalmente pela sua construção lógica e 
sistematização, o subjetivismo não faz parte das proposições científicas. 
 
A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o acúmulo gradual 
de conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de uma estrutura desordenada 
que desmorona a cada nova revolução científica, como defendeu de forma irresponsável o 
filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn. Segundo Kuhn (2017), a ciência muda como a 
moda, de modo que o objetivo da ciência não seria mais a verdade. No entanto, essa 
concepção ignora que todas as revoluções científicas são sempre parciais, que elas nunca 
rompem totalmente com o conhecimento anterior, como é o caso da mecânica clássica de 
Newton, que, mesmo após o surgimento da teoria da relatividade geral e da mecânica quântica, 
ainda permanece válida para calcular a trajetória de objetos terrestres e continua sendo usada 
para enviar foguetes ao espaço. 
 
A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa característica positiva 
da ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e da biologia molecular, revelando 
um panorama ainda mais abrangente sobre a evolução das espécies, explicando até a origem 
de certos traços comportamentais nos seres humanos modernos. No entanto, a ciência não 
progride apenas com base em experimentos, ela precisa de racionalidade. 
 
A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas formas, pelo 
menos: a ideia de que todo discurso científicoé debatível de forma organizada (com o exercício 
do uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é um alicerce na construção do 
conhecimento científico. A primeira ideia pressupõe tacitamente características anteriormente 
explicadas, como as noções de sistematização e de objetividade, de modo que apenas com 
uma linguagem compreensível, logicamente e objetivamente coerente, é possível discutir 
racionalmente conhecimentos e problemas científicos, enquanto a segunda exprime a ideia de 
que a construção de conceitos lógicos e formais serve para representar objetos que possuem 
existência concreta, material e real na realidade, como campos, partículas e cérebros. 
 
De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência formal da 
lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são necessários sempre 
símbolos e expressões matemáticas não apenas para representar objetos, mas também para 
quantificar os dados oriundos da investigação científica. Até mesmo a filosofia contemporânea, 
como a filosofia analítica e a filosofia científica, trata o raciocínio lógico-matemático como 
essencial para a produção de conhecimento filosófico. No entanto, o conhecimento científico 
busca trabalhar com o raciocínio formal visando fornecer uma explicação mais adequada com 
base nos dados e nas evidências da investigação científica, de modo que não é um mero 
exercício lógico destituído de valor empírico. 
 
A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade revela o 
aspecto de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a realidade, ou algum de 
seus níveis em particular (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.), os 
cientistas não teriam qualquer motivo para investigar o mundo e produzir conhecimento 
científico. A explicabilidade, portanto, refere-se simplesmente ao papel da ciência em investigar 
o mundo e prover conhecimentos cada vez mais profundos sobre as coisas. 
 
ASSIMILE 
O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de modo que seu discurso é 
universalmente compreensível. 
O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas evidências da realidade. 
Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou razoável, que é 
orientado pela evidência. 
REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E VERIFICABILIDADE 
O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas 
características. Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas o 
conhecimento científico tem como preocupação a revisibilidade de seus conceitos e teorias 
mediante a investigação científica. Enquanto o conhecimento religioso admite múltiplas 
interpretações de um texto como igualmente válidas, o que importa no conhecimento científico 
é a compatibilidade de seu corpo de conhecimento com as evidências, independente do que 
um cientista pensa a respeito. Pelo mesmo motivo, a ciência não deve ser comparada com a 
política, pois seu conhecimento não é decidido como verdadeiro mediante uma votação por 
decreto ou escolha da população. O conhecimento científico é tratado como verdadeiro quando 
os resultados de uma investigação apontam numa determinada direção. 
 
Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo, como 
quando um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos éticos da pesquisa 
científica - e quando a ciência tem liberdade para investigar problemas que contradizem 
anseios políticos. Por exemplo, quando os cientistas sociais podem estudar livremente os 
impactos das desigualdades sociais nas populações de baixa renda, ou quando o objeto de 
estudo são os efeitos sistêmicos das mudanças climáticas, que, normalmente, contradizem 
interesses privados de empresas ou políticos. Contraexemplo: quando os cientistas são 
impedidos de investigar por conta de sua nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos 
judeus durante a emergência do nazismo na Alemanha, ou quando os pesquisadores são 
perseguidos pelo governo com a desculpa de serem infiltrados de uma potência mundial rival 
ou advogarem por uma suposta ideologia contrária à aceita pelo Estado, como aconteceu no 
caso dos geneticistas de plantas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
(URSS). 
 
Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo de 
construção do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência passada é 
traduzida em conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a política, embora sejam 
atividades completamente distintas, dependem de uma relação amigável para prosperarem, 
seja para promover a investigação científica fornecendo recursos financeiros do Estado, seja 
para usar os resultados científicos na elaboração de políticas públicas mais justas. 
 
A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de progresso, 
justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são considerados, não apenas 
para refletir sobre os desafios metodológicos e epistemológicos da ciência, mas também para 
aumentar o rigor necessário durante a avaliação dos trabalhos que são submetidos para 
revistas científicas. Mais ainda, os resultados negativos na ciência, com base no olhar 
sociológico, podem revelar aspectos que foram negligenciados sistemicamente durante a 
época de aceitação ou implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de 
ideias pseudocientíficas, que já não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a 
eugenia e o darwinismo social, levou ao extermínio de judeus, negros, pobres e pessoas com 
deficiência, sob o pretexto de “busca pela pureza genética”. 
 
A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio de verificabilidade da ciência, 
que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria deve ser passível de 
ser colocada à prova. No entanto, o conceito de verificabilidade requer um contexto adequado 
por conta de sua polissemia. 
 
A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap, durante a 
emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era formado por um grupo 
de cientistas e filósofos interessados nos problemas filosóficos, históricos e sociológicos da 
ciência. A despeito dos mitos que circulam sobre o círculo, eles defendiam teses bastantes 
heterogêneas, tinham preocupações políticas e sociais sobre a atividade científica, não eram 
ingênuos e nem reducionistas (não reduziam todo o conhecimento às ciências naturais) e 
buscavam uma linguagem universal para a ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou 
imensamente conhecida ao ponto de ser tratada equivocadamente como representativa de 
todo o círculo. 
 
A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e somente se, 
existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não existisse alguma possibilidade 
de verificação, a proposição seria considerada como destituída de sentido e significado e, 
portanto, ela não faria outra coisa a não ser trazer pseudoproblemas. Essa tese foi duramente 
golpeada, justamente por outro filósofo que era simpatizante do círculo, mas que não fazia 
parte dele: Karl Popper. 
 
Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para proposições, além de 
diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica (2013), 
argumentando que a condição de verificabilidade não é suficiente para que uma proposição ou 
teoria seja considerada científica, mas simplesmente a condição de sua possível refutação. 
Para Popper, uma teoria é científica se, e somente se, existir alguma circunstância que permita 
sua refutação. Se não existir nenhuma circunstância passível de refutação, a teoria não é 
considerada científica.Com isso, Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese: o 
falseacionismo. 
 
REFLITA 
Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos fenômenos da realidade, 
o que torna a ciência um campo confiável? 
Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade contemporânea, por que é 
importante adotar o ceticismo científico? 
Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento científico? 
FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE 
A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também contempla 
disciplinas que lidam com aspectos formais do método científico, que usam seu aspecto de 
racionalidade para investigar problemas matemáticos, lógicos e semânticos. Para clarificar 
essa abrangência, é necessária uma distinção rápida sobre esses dois tipos de ciências: a 
ciência fática (ou factual) e a ciência formal. 
 
Como explica o filósofo Mario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su Filosofía (2014), 
a ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos, partículas, animais, 
pessoas), adequa-se aos fatos e possui consistência empírica (como a física, a química, a 
biologia, a psicologia, a sociologia), enquanto a ciência formal lida com entes ideais (como 
números, conceitos, axiomas), adequa-se a um conjunto de regras e possui consistência 
racional (como a lógica e matemática). No entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal 
normalmente se cruzam em um processo de enriquecimento contínuo. 
 
A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização, 
formalização e objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento científico se torna 
mais exato, porque evita-se a ambiguidade e a armadilha da linguagem ordinária. Desse modo, 
justifica-se a definição de Bunge (2014) da ciência como um tipo de conhecimento sistemático, 
racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo a melhor reconstrução conceitual do 
mundo do qual fazemos uso. 
 
Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos são 
passíveis de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer pesquisadores ao redor do 
mundo. Mais ainda, os resultados podem ser traduzidos na linguagem ordinária com o objetivo 
de visar à popularização da ciência e ao enriquecimento cultural através da atividade de 
divulgação científica. 
 
EXEMPLIFICANDO 
O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual permite a extração de 
proposições objetivas. 
O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade, adequando sua 
metodologia científica para o estudo de cada nível (físico, químico, biológico, psicológico, social 
e artificial). 
O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas teorias às evidências, 
corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto questionador frente a uma gama de hipóteses 
sobre o mundo. 
Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características revelam o 
porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais profundo, verdadeiro 
e confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto autocorretivo seja uma sentença de 
risco, o que levaria a duvidarmos cada vez mais do nível de verdade e profundidade desse tipo 
de conhecimento, ignora-se que a requerida compatibilidade das teorias com as evidências é o 
que aproxima a ciência da descrição mais precisa o possível da realidade. 
 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a atividade 
intelectual. O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan escreveu uma obra chamada O 
Mundo Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve exemplos de aplicação do 
ceticismo científico na vida cotidiana. O ceticismo, argumenta Sagan, é uma ferramenta 
indispensável para não deixar enganar a nós mesmos. 
 
Qual é a definição de ceticismo científico? 
 
a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar 
algum fenômeno. 
b. Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores. 
c. A negação absoluta do conhecimento científico. 
d. Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e 
afirmações destituídas de boas evidências. 
e. A crença religiosa no poder da ciência. 
Questão 2 
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No entanto, 
essa posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de Viena e nem com 
o falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper. 
 
O que significa verificacionismo? 
 
a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência. 
b. Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos. 
c. Um critério ético para a ciência. 
d. Um axioma matemático. 
e. Uma lógica não clássica. 
Questão 3 
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o objetivo de 
proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados científicos. Seu uso evita a 
ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o entendimento conceitual e impede a contradição 
no conhecimento científico. A dialética, por outro lado, tolera contradições e ambiguidades da 
linguagem ordinária. No entanto, ela ainda é considerada por muitos como uma ferramenta 
essencial para a ciência, os quais acabam ignorando suas implicações com o Princípio da Não 
Contradição de Aristóteles e defendendo que ela serve como uma técnica de comparabilidade 
entre ideias aparentemente distintas, a partir da qual, de alguma forma, seria possível a 
extração de uma nova ideia ou hipótese. 
 
Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética? 
 
a. Friedrich Hegel. 
b. Friedrich Nietzsche. 
c. Martin Heidegger. 
d. Aristóteles. 
e. Heráclito. 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014. 
 
CARNAP, R. The Logical Structure of the World and Pseudoproblems in Philosophy. [S.l.]: 
Editora Open Court, 2003. 
 
MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica. 
[S.l.]: Editora Zahar, 2016. 
 
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013. 
 
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. 
[S.l.]: Editora Companhia de Bolso, 2006. 
 
 
 
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
 
 
 
SEM MEDO DE ERRAR 
Para resolver o problema, é necessário pensar nas circunstâncias sociais que moldam a 
administração e gestão universitária. 
 
Desse modo, pode-se concluir que a pseudociência mantém algum nível de prestígio e lugar na 
universidade, não por razões teóricas ou níveis de verdade, mas simplesmente pela pressão 
social exercida pelos próprios praticantes da disciplina, de modo que a simples existência de 
grupos fechados, onde apenas profissionais certificados da área sejam tolerados, contribui para 
o impedimento da livre circulação de ideias sobre os problemas que o campo enfrenta. 
 
Ao impedir que profissionais de outros campos relacionados tenham direito ao debate, como 
psicólogos experimentais, neurocientistas cognitivos e biólogos evolutivos, revela-se o 
indicador de dogmatismo, que está presente em qualquer pseudociência e visa impedir o 
fomento da crítica científica responsável com o objetivo não apenas de análise dos problemas 
de um campo, mas também de procurar ajustar suas hipóteses aos melhores dados 
disponíveis da investigação comportamental. 
 
Revelados seus aspectos opostos ao do conhecimento científico, justifica-se que um campo ou 
disciplina não se constitui de um saber científico autêntico. Então, é necessário também 
procurarsaber as motivações que os envolvidos na prática teriam apenas para manter o ensino 
de psicanálise em instituições de educação, como a questão da remuneração excessiva 
envolvida e a reputação da qual gozam em certos setores universitários e da grande mídia. 
 
AVANÇANDO NA PRÁTICA 
ANÁLISE DA SUPOSTA REIVINDICAÇÃO CIENTÍFICA POR COACHES 
O mundo empresarial está repleto de “choaches profissionais”, que são sujeitos que alegam 
dedicar-se ao desenvolvimento cognitivo, comportamental e organizacional da classe 
trabalhadora por meio de técnicas que devem ser aplicadas diariamente para maximizar a 
capacidade de trabalho. O coaching, porém, não é uma profissão regulamentada e, 
constantemente, choca-se com o mesmo tipo de problema que é tratado por profissionais 
certificados, como psicólogos, psiquiatras, técnicos de administração e de gestão de empresas. 
Os coaches, de forma rotineira, fazem uso do jargão científico, alguns reivindicam até que suas 
ideias são compatíveis com a física quântica, com o objetivo de enfatizarem que suas técnicas 
possuem respaldo da ciência. Com base no que você aprendeu ao longo do livro, como alguém 
poderia saber se as reivindicações dos coaches são realmente baseadas em evidência? 
 
 
RESOLUÇÃO 
O primeiro indicativo de que o coaching não é baseado em evidência é a falta de 
regulamentação profissional para um campo que reivindica técnicas para a saúde mental, a 
segurança e a gestão no trabalho. 
 
O segundo indicativo é o excesso de autodenominados coaches que alegam possuir técnicas 
próprias e/ou originais baseadas em ciência, porque uma técnica testada não é um produto 
“original”. Uma técnica baseada em ciência geralmente é aperfeiçoada ao longo do tempo, por 
mais de uma pessoa, de modo que sua originalidade individual é extirpada pelo enriquecimento 
da contribuição coletiva da ciência. No entanto, os coaches não alegam que sua técnica foi 
produto de estudo colaborativo da ciência, embora reivindiquem o status de cientificidade. 
 
O terceiro indicativo é a busca por papers, ou seja, artigos científicos que são publicados em 
revistas acadêmicas especializadas. Esses papers passam por um processo de revisão por 
pares, que é basicamente um processo de crítica responsável feita por pesquisadores 
independentes para avaliar a consistência dos dados com a hipótese proposta e procurar 
possíveis indicações de fraudes e/ou falhas metodológicas ao longo da estrutura do trabalho 
submetido. Se o coaching, por exemplo, não tem trabalhos publicados em revistas 
especializadas com alto fator de impacto, confirmando assim suas principais hipóteses, então o 
campo é qualquer coisa, exceto ciência e técnica baseada em evidência. 
 
O quarto indicativo é o apelo à física quântica, uma falácia lógica contemporânea, que consiste 
em reivindicar a autoridade da teoria quântica para supostamente embasar alguma afirmação 
extraordinária. Pelo fato de a física quântica possuir uma matemática complexa, ela geralmente 
acaba sendo mal compreendida pelo público leigo, de modo que hoje coaches e outros 
pseudocientistas a invocam para explicar qualquer coisa sobre o mundo. A física quântica, no 
entanto, não lida diretamente com aspectos comportamentais dos seres humanos e nem 
endossa qualquer alegação de autoajuda individual e empresarial. Ela também não diz nada 
sobre o pensamento alterar a realidade. Normalmente, a física quântica lida com o estudo de 
objetos pequenos, como campos e partículas elementares, bem como algumas de suas 
aplicações para estudar fenômenos biológicos (como a bússola magnética dos pássaros) e 
químicos. Essas concepções equivocadas da teoria quântica surgem de uma confusão 
envolvendo o conceito de observador (uma noção propagada pelo documentário 
pseudocientífico Quem Somos Nós, de 2004), que, contrariamente à crença popular e ao 
significado da linguagem ordinária, não significa consciência, pensamento ou seres humanos, 
mas, sim, instrumento de medida – ou seja, o aparato técnico que faz a medição da partícula. 
Então, quando um suposto profissional diz que a física quântica explica o comportamento, a 
sociedade, a mente, ou que ela alega que o pensamento pode mudar realidade, significa que 
essa pessoa não entende de física quântica ou está sendo bem mal-intencionada para vender 
alguma receita milagrosa e, consequentemente, falsa. 
 
Por conta desses indicativos, é razoável supor, com um grande nível de certeza, que a 
disciplina reivindicada, como o coaching (autoajuda empresarial), constitui um exemplo de 
campo não baseado em evidência. Mais ainda, em razão de o campo apelar à ciência para 
justificar suas alegações que carecem de evidências (ou simplesmente são falsas), é seguro 
sentenciar que o coaching constitui um exemplo de pseudociência. 
 
 
 
 
 
 
NÃO PODE FALTAR 
COMO AGIR COM ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
PRATICAR PARA APRENDER 
Provavelmente, em algum momento de sua vida, você já pensou sobre as possíveis 
consequências éticas do uso de animais na pesquisa científica, ou mesmo sobre os 
experimentos nazistas com humanos. Com base nesses exemplos, é possível que você tenha 
considerado que a ciência poderia estar isenta de princípios éticos, ao menos é o que algumas 
pessoas defendem. 
 
No entanto, será que a ciência é um “tudo vale”, em que reflexões sobre a ética e a saúde dos 
indivíduos ou animais de laboratórios não são consideradas? Será que a ética representa um 
empecilho para o desenvolvimento pleno da ciência? Até que ponto devemos estar cientes da 
importância dos postulados éticos que norteiam a pesquisa científica? 
 
Na corrida não apenas por um entendimento profundo sobre doenças emergentes, mas 
também pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, certos protocolos éticos 
desempenham sua importância na investigação científica. Além disso, a ética, enquanto campo 
de investigação, tem conseguido acompanhar a ciência com o objetivo de enriquecê-la ao 
estudar seus potenciais problemas éticos. 
 
Com base no estudo recíproco entre ciência e ética, alternativas cada vez mais humanísticas 
para o estudo em laboratório têm sido apresentadas, com o objetivo de evitar o uso e o teste 
desenfreados com animais. Mesmo o campo da tecnologia, que mantém uma relação bilateral 
com a ciência, também tem levado em consideração o raciocínio ético, principalmente ao 
pensar nas possíveis consequências sobre o desenvolvimento de armas e robôs 
automatizados em um contexto de guerra. 
 
Aqui, convido você a concentrar-se nos fundamentos éticos da pesquisa científica, analisando 
seus possíveis impactos e benefícios no desenvolvimento da ciência. 
 
Um grupo de cientistas quer investigar o cérebro humano e, para isso, eles lançam uma ficha 
de inscrição solicitando voluntários para sua pesquisa. A pesquisa é apresentada como tendo 
grande potencial para a área da saúde, com o objetivo de testar um futuro medicamento para a 
doença de Alzheimer. No entanto, a ficha de inscrição não diz nada sobre os possíveis riscos 
aos voluntários ao serem submetidos ao teste experimental. Em resumo, não há avaliação dos 
riscos sendo apresentada para os voluntários. 
 
Mesmo na ausência de protocolos de riscos, diversos voluntários assinam a ficha de inscrição 
com o objetivo de contribuírem para a ciência. Então, o grupo de cientistas inicia sua pesquisa 
neurocientífica. 
 
No experimento, os cientistas dividem seus voluntários em dois grupos: o grupo A e o grupo B. 
O grupo A recebe uma droga com potencial de reparar danos nas células cerebrais e 
maximizar a memória, enquanto o grupo B recebe placebo. Quem está incumbida de ministrar 
os comprimidos é uma enfermeira voluntária. 
 
No decorrer do experimento, o grupo A começa a relatar cefaleia, náuseas, vômitos, diarreias e 
perda de apetite. O grupo B, no entanto, relata apenas uma sensação de relaxamento. Então, 
após

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