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"Atualmente, o companheiro é herdeiro necessário? Justifique". A sucessão do companheiro era abordada no Código Civil pelo artigo 1.790, que dizia que a companheira ou o companheiro participaria da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições estipuladas em quatro incisos: no caso de concorrência com filhos comuns, teria direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho. No caso de concorrência com descendentes só do autor da herança, teria direito à metade do que coubesse a cada um daqueles. Se concorresse com outros parentes sucessíveis, teria direito a um terço da herança apenas. E, não havendo parentes sucessíveis, teria direito à totalidade da herança. Até que, no dia 10 de maio de 2017, com o julgamento do Recurso Extraordinário n. 878.694, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional o artigo 1.790 e a diferenciação no recebimento da herança entre cônjuge e companheiro. A tese aprovada para fins de repercussão geral foi a seguinte: “No sistema constitucional vigente é inconstitucional a diferenciação de regime sucessório entre cônjuges e companheiros devendo ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido no artigo 1829 do Código Civil.” O artigo 1.829 preconiza que a sucessão legítima defere-se na seguinte ordem: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais. Como consequência, no citado artigo 1.829, onde se lê “cônjuge”, deve-se ler e compreender “cônjuge ou companheiro”. Essa foi a leitura feita pelo STF à luz da Constituição Federal, equiparando-se o companheiro ao cônjuge na ordem de vocação hereditária. Em que pese o STF ter declarado que é inconstitucional o art. 1.790, não havendo mais distinção entre a sucessão do cônjuge e do companheiro, há divergência quanto à classificação do companheiro como herdeiro necessário ou não. Os herdeiros necessários são aqueles arrolados no artigo 1.845 do Código Civil: – os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Pertence a essa classe de herdeiros, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima (conforme artigo 1.846 do Código Civil). Portanto, essa parte não poderá ser objeto de disposição em testamento, tampouco poderão ser afastados da sucessão legítima, por testamento, os herdeiros necessários, salvo nos casos de deserdação previstos em lei. Pois bem, é um dos entendimentos doutrinários, representado pelo doutrinador Flávio Tartuce, que, embora o STF não tenha determinado expressamente que o companheiro passará a integrar o rol de herdeiros necessários, existe uma indicação positiva dos julgadores neste sentido, diante dos fundamentos apresentado em seus votos e, portanto, o companheiro seria SIM herdeiro necessário. De outro lado, existe o argumento de que mesmo que o companheiro passe a figurar ao lado do cônjuge na ordem de sucessão legítima (conforme o artigo 1.829 do Código Civil), o rol dos herdeiros necessários é taxativo, o que impede interpretações que ampliem a norma restritiva. O companheiro não se tornou herdeiro necessário, pois o STF não se manifestou, em momento algum, sobre a aplicação do art. 1.845 à sucessão da união estável. Ainda, a equiparação feita pelo STF limitou-se às regras relativas à concorrência sucessória e cálculo dos quinhões hereditários facultativos para que os companheiros não fiquem em desvantagem aos colaterais. Segundo Mário Delgado, o artigo 1845 é nítida norma restritiva de direitos, pois institui restrição ao livre exercício da autonomia privada e, conforme normas ancestrais de hermenêutica, não se pode dar interpretação ampliativa à norma restritiva.
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