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DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES Módulo: INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS SUCESSÕES E HERANÇA JACENTE TEMA 07 – Comentários sobre as Jurisprudências divergentes sobre os assuntos abordados neste módulo. 1. TEMA 498 do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – STF O Supremo Tribunal Federal firmou tese de repercussão geral sobre a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil. Tendo sido o julgamento realizado 2017 e dois processos foram julgados em definitivo, dando origem aos Temas 498 e 809. O Tema 809 teve origem no Recurso Extraordinário n. 878.694/MG, com relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso; que teve início em agosto de 2016, já havendo desde então sete votos pela inconstitucionalidade da norma, na linha do proposto pela relatoria. Votaram nesse sentido os Ministros Luiz Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e Cármen Lúcia, além do próprio Ministro Barroso. Após um pedido de vistas do Ministro Dias Toffoli, o processo retomou em 2017, tendo esse último julgador concluído pela constitucionalidade da norma. Entenderam os Ministros que não havia as justificativa constitucionais para o tratamento diferenciado entre o casamento e a união estável. O Ministro Marco Aurélio pediu novas vistas, unindo também o julgamento do Recurso Extraordinário n. 646.721/RS, que versava sobre a sucessão de companheiro Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 homoafetivo, do qual era Relator, justamente o segundo processo; e deu origem ao Tema 498. Em 2017 entenderam, e firmaram a tese, de que não há razão para a distinção entre a união estável homoafetiva e a união estável heteroafetiva, na linha do que fora decidido pela Corte quando do julgamento da ADPF 132/RJ, em 2011. Mas no que concerne ao tratamento diferenciado da união estável diante do casamento, decidiram não haver qualquer inconstitucionalidade, devendo ser preservado o teor do artigo 1.790 do Código Civil. Entenderam que pelo artigo 226, § 3º da Constituição Federal possibilitar a conversão da união estável em casamento; reconheceram a hierarquia entre as duas entidades familiares. Ensina Flávio Tartuce: O Supremo Tribunal Federal (STF) afirmou que a Constituição prevê diferentes modalidades de família, além da que resulta do casamento. Entre essas modalidades, está a que deriva das uniões estáveis, seja a convencional, seja a homoafetiva. Frisou que, após a vigência da Constituição de 1988, duas leis ordinárias equipararam os regimes jurídicos sucessórios do casamento e da união estável (Lei 8.971/1994 e Lei 9.278/1996). O Código Civil, no entanto, desequiparou, para fins de sucessão, o casamento e as uniões estáveis. Dessa forma, promoveu retrocesso e hierarquização entre as famílias, o que não é admitido pela Constituição, que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia, respeito e consideração. (TARTUCE, 2018) Portanto, as famílias passaram a ter valores diferentes, quando a Constituição Federal equiparou as famílias, não permitindo mais qualquer forma de preconceito e desigualdade. A hierarquização entre entidades familiares mostra-se incompatível com a Constituição; e o artigo 1.790 do Código Civil de 2002 quando revoga as Leis 8.971/1994 e 9.278/1996 e discrimina a companheira, ou companheiro, dando-lhe direitos sucessórios inferiores aos conferidos à esposa ou marido entra em contradição com os princípios da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade na modalidade de proibição à proteção deficiente e da vedação ao retrocesso. Mas com a finalidade de preservar a segurança jurídica, o entendimento sobre a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil deve ser aplicado apenas aos Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 inventários judiciais em que a sentença de partilha não tenha transitado em julgado e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública. A tese final firmada, para os devidos fins de repercussão geral, foi aquela conhecida desde então foi que no sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. Em suma, a tese da repercussão geral aplica-se, sim, aos processos de inventário em curso, desde que não haja decisão transitada em julgado, sem pendência de recurso. Contudo, havendo sentença ou acórdão aplicando o artigo 1.790 do Código Civil, esse deve ser revisto em superior instância, com a subsunção do artigo 1.829 do Código Civil. Em relação aos inventários extrajudiciais pendentes, as escrituras públicas devem ser elaboradas com o novo tratamento dado pelo Supremo Tribunal Federal – STF, mas valem desde que a sucessão tenha sido aberta a partir de 11 de janeiro de 2003, conforme determina o Artigo 2.041 do Código Civil. Algumas questões, contudo, ficaram pendentes no julgamento do STF: a primeira delas diz respeito à inclusão ou não do companheiro como herdeiro necessário no Artigo 1.845 do Código Civil. O julgamento nada expressa a respeito da dúvida, contudo dos votos prevalecentes, especialmente o do Relator do primeiro processo, a conclusão parece ser positiva. Ensina Flavio Tartuce sobre os efeitos relativos a isso: Como consequências, alguns efeitos podem ser destacados. Vejamos apenas três deles, pela dimensão inicial deste artigo: a) incidência das regras previstas entre os arts. 1.846 e 1.849 do CC/2002 para o companheiro, o que gera restrições na doação e no testamento, uma vez que o convivente deve ter a sua legítima protegida, como herdeiro reservatário; b) o companheiro passa a ser incluído no art. 1.974 do Código Civil, para os fins de rompimento de testamento, caso ali também se inclua o cônjuge; c) o convivente tem o dever de colacionar os bens recebidos em antecipação (arts. 2.002 a 2.012 do CC), sob pena de sonegados (arts. 1.992 a 1.996), caso isso igualmente seja reconhecido ao cônjuge. (TARTUCE, 2018) Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Assim, o julgamento gerará alguns efeitos quando se trata dos companheiros; e ainda trouxe três correntes doutrinárias interpretativas a decisão do Supremo Tribunal Federal – STH: A primeira corrente é ampliativa, entendendo que houve equiparação total para o casamento e a união estável, não podendo ter tratamento diferenciado entre os institutos. São defensores dessa corrente o Professor Zeno Veloso e a Professora Maria Berenice Dias. Por outro lado, a segunda corrente é restritiva, e é defendida por Mário Luiz Delgado. Aqui entende-se pela não equiparação do casamento à união estável, salvo para fins de adequação do regime da sucessão legítima. Mario Luiz Delgado entende que o artigo 1.845 do Código Civil é norma restritiva de direito, e, portanto, não comporta interpretação ampliativa. Entende, que aqueles que optam por viver em união estável pretende usufruir de mais liberdade; inclusive para dispor de maior extensão dos seus bens por testamento. Por fim, a terceira corrente é a intermediária, entendendo pela equiparação do casamento à união estável, com a inclusão do companheiro entre os herdeiros necessários. Para os defensores dessa corrente, como Flavio Tartuce, não faz sentido o companheiro, incluído no rol do Artigo 1.839 do Código Civil, não concorrer com os descendentes e ascendentes, que são herdeiros necessários, sem que o companheiros sejam também assim considerados. Quanto ao direito real de habitação do companheiro, também não mencionado nos julgamentos, mas é possível entender que é possível na linha do que vinham reconhecendo a doutrina e a jurisprudência superior. Nesse sentido, os acórdãos mais recentes: O Código Civil de 2002 não revogou as disposições constantes da Lei n. 9.278/96, subsistindo a norma que confere o direitoreal de habitação ao companheiro sobrevivente diante da omissão do Código Civil em disciplinar tal matéria em relação aos conviventes em união estável, consoante o princípio da especialidade” (STJ, AgRg no REsp 1.436.350/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/04/2016, DJe 19/04/2016). Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Assim, a jurisprudência vem entendendo pelo direito real de habitação aos companheiros. Mas somente o tempo vai dizer as consequências e os posicionamentos dos tribunais nas questões não decididas pelo Supremo Tribunal Federal –STF que consequentemente se entrelaçam com o tema de repercussão geral. 2. VEDAÇÃO DO PACTO SUCESSÓRIO Pelo pacto sucessório, uma pessoa organiza a sua sucessão de acordo com outros interessados, ou estes, em combinação com tal pessoa, transferem ou abdicam de seus direitos. Contudo, no Brasil não é possível a realização de pacto sucessório no Brasil, pela expressa proibição legal do artigo 426 do Código Civil: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.” Assim, o pacto sucessório distingue-se do testamento, pois este é fruto da vontade única do testador, enquanto aquele se trata de uma reunião de vontades. Não se confunde, também, com a partilha que o ascendente faz para os descendentes, conforme o artigo 2.018 do Código Civil. Essa proibição é uma tradição secular do nosso ordenamento jurídico, que condena à renúncia prévia, em pacto antenupcial ou contrato de convivência, de qualquer direito sucessório por parte de cônjuges ou companheiros. Afirma-se ser nula a manifestação de vontade relativa a direitos hereditários futuros, em face da vedação legal à disposição contratual de herança de pessoa viva de que trata o artigo 426 do Código Civil. A temática parecia superada, mas ressurgiu nos debates acadêmicos, notadamente depois que o cônjuge sobrevivente; e talvez o companheiro, foi promovido à categoria de herdeiros necessários, sem que tal decisão legislativa e jurisprudencial contasse com qualquer adesão social, forçando as famílias conjugais a recorrerem a arranjos contratuais para fazer prevalecer a própria autonomia patrimonial. Ensina Mário Luiz Delgado: Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 É a hipótese, por exemplo, em que as partes convencionam, em pacto antenupcial ou em contrato de união estável, que nenhum dos pactuantes concorrerá com os descendentes ou ascendentes do outro, afastando, assim, a regra de concorrência dos incisos I e II do artigo 1.829, e que, aberta a sucessão pelo falecimento de qualquer deles, todo o seu patrimônio reverterá exclusivamente para os respectivos descendentes ou ascendentes. Nessas situações, a doutrina ainda majoritária tem reputado inválida a cláusula de renúncia, enquadrando-a entre os chamados pacta corvina, cujo vício não admitiria suprimento ou confirmação. (DELGADO, 1 Assim, ainda, é inválido o pacto sucessório, seja no pacto antenupcial, seja no contrato de união estável. Questiona-se, contudo, se a mera renúncia ao exercício futuro do direito concorrencial, ou seja, do direito de concorrer com descendentes ou ascendentes quando da futura sucessão do parceiro, esbarraria na vedação prevista no artigo 426. Mário Luiz Delgado entende que não, sob os seguintes argumentos: Entendo que não. Já escrevi em outras oportunidades que a interpretação do artigo 426 do CC/2002 tem sido “hiperbolizada” a ponto de atingir situações não abrangidas em seu conteúdo restritivo, limitado, conforme o próprio discurso normativo que veicula, aos pactos dispositivos ou “de hereditate tertii”, mas não abrangente dos pactos renunciativo e aquisitivo.2 Assim, a restrição não seria absoluta e a interpretação do Artigo 426 do Código Civil deve ser necessariamente restritiva, de modo a abranger apenas a proibição expressa na dicção da lei, qual seja, a de se contratar a herança de pessoa viva, sem participação dessa pessoa. 1 DELGADO, Mário Luiz. Da renúncia prévia ao direito concorrencial por cônjuges e companheiros. 2019. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2019-abr-07/processo-familiar- renuncia-previa-direito-concorrencial-conjuge-companheiro> Acesso em 10/07/2022. 2 DELGADO, Mário Luiz. Da renúncia prévia ao direito concorrencial por cônjuges e companheiros. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2019-abr-07/processo-familiar- renuncia-previa-direito-concorrencial-conjuge-companheiro>. Acesso em 10/07/2022. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Portanto, o que está vedado de forma expressa no Código Civil é a cláusula contratual que tenha por objeto a “herança” de pessoa diversa das partes contratantes. Segundo Mário Luiz Delgado: Não existe qualquer restrição à renúncia de direitos futuros. Quando o Código Civil quis proibir a renúncia a direito futuro, ele o fez expressamente, como no caso do artigo 556, que proíbe ao doador renunciar antecipadamente ao direito (futuro) de revogar a doação por ingratidão. (DELGADO, 2019) 3 Portanto, se fosse ínsito ao sistema a impossibilidade de renúncia a direito futuro, a proibição do artigo 556 seria despicienda. Quando o legislador quis proibir os pactos dispositivos também o fez expressamente, como o Artigo 1.793 do Código Civil, que proíbe a cessão de direitos hereditários antes da abertura da sucessão; mas não há nenhuma disposição que proíba, por exemplo, a renúncia a direitos hereditários antes da abertura da sucessão. Para entender a disposição do Artigo 426 do Código Civil é preciso distinguir herança e sucessão. Sucessão constitui o direito por força do qual a herança é devolvida a alguém, já a herança refere-se ao acervo de bens transmitidos por ocasião da morte. Portanto, é possível concluir que a vedação do ordenamento jurídico brasileiro alcança a herança, ou seja, o acervo de bens, mas não o direito sucessório em si. Assim, a pactuação sobre o acervo de bens ou sobre bens determinados e que integrariam a “herança” estariam vedadas. Mas não o estariam a renúncia ao direito de suceder alguém ou a renúncia ao direito concorrencial pelo cônjuge ou pelo companheiro. Portanto, por esse argumento não há nada que impeça, em regra, a renúncia dos direitos concedidos por lei, salvo se contrariar a ordem pública ou se for em prejuízo de terceiro, o que não ocorre na específica hipótese do direito à concorrência sucessória do cônjuge ou companheiro. 3 DELGADO, Mário Luiz. Da renúncia prévia ao direito concorrencial por cônjuges e companheiros. 2019. <https://www.conjur.com.br/2019-abr-07/processo-familiar-renuncia-previa- direito-concorrencial-conjuge-companheiro>. Acesso em 10/07/2022. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Assim, o que é válido é a renúncia ao direito concorrencial na hipótese em que o cônjuge é chamado a suceder em conjunto com descendentes ou ascendentes. Rolf Madaleno afirma que herdeiro necessário tem natureza distinta de herdeiro concorrente e que o cônjuge e o convivente não são herdeiros necessários quando concorrem com descendentes ou ascendentes, mas herdeiros eventuais, irregulares. Assim a legítima atende na ordem de chamada do Código Civil, primeiro aos descendentes, em segundo plano aos ascendentes e na terceira convocação ao cônjuge ou convivente, e só quando os herdeiros vocacionados se apresentam nesta ordem de chamamento é que podem ser considerados legitimários, não em posição concorrente, pois nesta se apresentam cônjuge e convivente como beneficiários de um direito familiar que tem o intuito protetivo, que lhes reserva um direito certo e determinado. E este direito familiar protetivo trata-se, conforme o jurista, de um benefício vidual, do qual cônjuge e sobrevivente podem abdicar. Para ele, a renúncia hereditária por antecipação não abarca qualquer gesto de cobiçae expectativa pela morte do titular dos bens; haja vista que a prévia abdicação não traz nenhum benefício ao herdeiro renunciante. Além disso, entende que a renúncia não restringe a liberdade de testar, pelo contrário, a amplia ao permitir afastar um herdeiro irregular de um planejamento sucessório. A grande maioria da doutrina, a exemplo de Zeno Veloso, Giselda Hironaka, José Fernando Simão, Euclides de Oliveira, Luiz Paulo Vieira de Carvalho, Flávio Tartuce, entende não ser possível essa renúncia, pois ela implicaria pacto sucessório, legalmente proibido pela dicção do artigo 426, do Código Civil. Essa doutrina mais conservadora defende que a renúncia à herança antecipada por cônjuge ou companheiro, especialmente por meio de um contrato, ainda não é possível no atual sistema, pois o artigo 1.655, do Código Civil, estabelece que será nula de pleno direito a previsão inserida no pacto antenupcial que contravenha disposição absoluta em lei, entendida a violação de normas cogentes ou de ordem pública. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 E observa-se que é nesse sentido que o Superior Tribunal de Justiça - STJ decide com vedação de retrocessos sociais e vai contra a possibilidade da renúncia prévia de herança, ao negar ultratividade ao pacto antenupcial que valeria apenas e tão somente para disposições em vida, mas não no post mortem: STJ: Recurso especial – Direito das sucessões – Inventário e partilha – Regime de bens – Separação convencional – Pacto antenupcial por escritura pública – Cônjuge sobrevivente – Concorrência na sucessão hereditária com descendentes – Condição de herdeiro – Reconhecimento – Exegese do art. 1.829, I, do CC/02. Avanço no campo sucessório do código civil de 2002 – Princípio da vedação ao retrocesso social – 1. O art. 1.829, I, do Código Civil de 2002 confere ao cônjuge casado sob a égide do regime de separação convencional a condição de herdeiro necessário, que concorre com os descendentes do falecido independentemente do período de duração do casamento, com vistas a garantir-lhe o mínimo necessário para uma sobrevivência digna – 2. O intuito de plena comunhão de vida entre os cônjuges (art. 1.511 do Código Civil) conduziu o legislador a incluir o cônjuge sobrevivente no rol dos herdeiros necessários (art. 1.845), o que reflete irrefutável avanço do Código Civil de 2002 no campo sucessório, à luz do princípio da vedação ao retrocesso social – 3. O pacto antenupcial celebrado no regime de separação convencional somente dispõe acerca da incomunicabilidade de bens e o seu modo de administração no curso do casamento, não produzindo efeitos após a morte por inexistir no ordenamento pátrio previsão de ultratividade do regime patrimonial apta a emprestar eficácia póstuma ao regime matrimonial – 4. O fato gerador no direito sucessório é a morte de um dos cônjuges e não, como cediço no direito de família, a vida em comum – As situações, porquanto distintas, não comportam tratamento homogêneo, à luz do princípio da especificidade, motivo pelo qual a intransmissibilidade patrimonial não se perpetua post mortem – 5. O concurso hereditário na separação convencional impõe-se como norma de ordem pública, sendo nula qualquer convenção em sentido contrário, especialmente porque o referido regime não foi arrolado como exceção à regra da concorrência posta no art. 1.829, I, do Código Civil – 6. O regime da separação convencional de bens escolhido livremente pelos nubentes à luz do princípio da autonomia de vontade (por meio do pacto antenupcial), não se confunde com o regime da separação legal ou obrigatória de bens, que é imposto de forma cogente pela legislação (art. 1.641 do Código Civil), e no qual efetivamente não há concorrência do cônjuge com o descendente – 7. Aplicação da máxima de hermenêutica de que não pode o intérprete restringir onde a lei não excepcionou, sob pena de violação do dogma da separação dos Poderes (art. 2º da Constituição Federal de 1988)– 8. O novo Código Civil, ao ampliar os direitos do cônjuge sobrevivente, assegurou ao casado pela comunhão parcial cota na herança dos bens particulares, ainda que os únicos deixados pelo falecido, direito que pelas mesmas razões Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 deve ser conferido ao casado pela separação convencional, cujo patrimônio é, inexoravelmente, composto somente por acervo particular – 9. Recurso especial não provido – (STJ – REsp nº 1.472.945, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, T3, J. 23/10/2014). Alguns notários têm permitido na lavratura do pacto antenupcial, que as partes exteriorizem essa vontade de não participarem da sucessão um do outro, mas deixam claro, no entanto, que eles têm conhecimento de que esse desejo não tem respaldo legal no momento, pelo menos não de acordo com a doutrina majoritária. Essa solução mostra-se razoável, pois no futuro pode a legislação ser modificada, assim como foi em Portugal, ou, ainda, pode a maioria da jurisprudência e da doutrina passarem a entender possível tal abdicação a essa concorrência sucessória por parte dos cônjuges. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663 Bibliografia DELGADO, Mário Luiz. Da renúncia prévia ao direito concorrencial por cônjuges e companheiros. 2019. <https://www.conjur.com.br/2019-abr-07/processo- familiar-renuncia-previa-direito-concorrencial-conjuge-companheiro>. Acesso em 10/07/2022. DELGADO, Mário Luiz e JÚNIOR, Jânio Urbano Marinho Júnior. Posso renunciar à herança em pacto antenupcial?. Disponível em <https://ibdfam.org.br/noticias/6905/%C3%89+poss%C3%ADvel+renunciar+%C3%A 0+heran%C3%A7a+em+pacto+antenupcial%3F+Confira+em+artigo+da+Revista+Ci ent%C3%ADfica+do+IBDFAM.> Acesso em 10/07/2022. TARTUCE, Flávio. STF encerra o julgamento sobre a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil. E agora?. 2018. Disponível em <https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/465526986/stf-encerra-o-julgamento- sobre-a-inconstitucionalidade-do-art-1790-do-codigo-civil-e-agora.> Acesso em 10/07/2022. Camila Lopes Anacleto Miranda - 10514954663