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Artigo publicado na edição 65 w w w . r e v i s t a m u n d o l o g i s t i c a . c o m . b r j u l h o e a g o s t o d e 2 0 1 8 Assine a revista através do nosso site 28 www.revistamundologistica.com.br M :: artigo Leonardo Caixeta de Castro Maia Doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) na área de operações, é professor da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Federal de Uberlândia e desenvolve pesquisas nas áreas de sustentabilidade, avaliação de nível de serviço e terceirização de processos. João Henrique Lopes Guerra Trabalhou como engenheiro na Embraer, possuindo mestrado e doutorado em Engenharia de Produção. Professor da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Federal de Uberlândia, desenvolve pesquisas nas áreas de gestão de operações e gestão da cadeia de suprimentos. Medição de desempenho na área de suprimentos A medição de desempenho da área de suprimentos é uma parte crucial do seu processo de gestão (van Weele, 2010) Modifi cando a frase original do famoso guru da qua- lidade, William Edwards Deming, pode-se dizer que “aquilo que não se mede, não se conhece, e aquilo que não se conhece, não se gerencia”. A medição de desem- penho é o “arroz com feijão” (atividade básica) de todo gerente ou, pelo menos, deveria ser. Afi rmar que uma área pode ser gerenciada sem indicadores de desempe- nho revela que, provavelmente, o gerente não domina a “arte da gerência” ou é responsável por uma área muito tranquila e previsível. Em ambos os casos, ele deveria se preocupar, porque, no primeiro caso, o seu emprego pode estar em risco e, no segundo, a sua área talvez não tenha muita importância na empresa (seria ela uma candidata à terceirização?). Áreas tipicamente mais “nervosas”, como é o caso de operações, suprimentos e logística, invariavelmente, precisarão de um sistema de medição de desempenho. O que se busca neste artigo é oferecer recomenda- 29 De maneira simples, a efi cácia tem a ver com o alcance das metas estabelecidas, já a efi ciência tem a ver com a quantidade de recursos utilizada para o alcance das metas estabelecidas.” cia. É interessante notar que essas palavras, tão ouvidas nos corredores e nas salas de reunião das empresas com frequência são empregadas com signifi cados distorcidos ou tratadas indistintamente (outra “campeã de audiência” do signifi cado distorcido, na prática das empresas, é a palavra “otimizar”). De maneira simples, a efi cácia tem a ver com o alcance das metas estabelecidas, podendo ser interpre- tada com o a razão entre o resultado alcançado (real) e o planejado. Quão efi caz a sua área tem sido? Ou seja, quanto das suas metas alcançou, 85%? Já a efi ciência tem a ver com a quantidade de recursos utilizada para o alcance das metas estabelecidas, podendo ser in- terpretada como a razão entre os recursos consumidos e os planejados. Quanto a sua área consumiu de recur- sos, em relação ao que foi planejado, ao buscar alcançar as metas estabelecidas, 110%? No fi nal, é isso que um bom sistema de medição de desempenho lhe informa- rá: o quão capaz você é, como gerente, de alcançar os seus objetivos (efi cácia), consumindo o mínimo possí- vel de recursos (efi ciência). OS RISCOS DE IMPLANTAR UM SISTEMA DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO SEM O DEVIDO CUIDADO É importante fi car atento a alguns riscos (adaptado de Baily et al., 2008). Se você não realiza a medição de desempenho na sua área de suprimentos e o seu diretor não lhe cobra isso, provavelmente, ele não dê muita importância para a sua área (ou talvez ele não dê muita importância a você.). Porém, considere que o seu diretor dê importância para a sua área e solicite que você estabeleça um sistema de medição de desem- penho. O problema existe quando o gerente não encara o pedido como uma oportunidade de melhorar a área (e a empresa) e acaba defi nindo alguns indicadores sem critério, apenas para “cumprir a tabela”, para fazer logo ções, que poderão ajudar um ge- rente de Suprimentos a estabele- cer um bom sistema de medição de desempenho, em sua área. POR QUE MEDIR O DESEMPENHO DA ÁREA DE SUPRIMENTOS? Há várias razões, embora algumas sejam questionáveis: “porque meu chefe mandou” é uma dessas. É fun- damental reconhecer a importância de um sistema de medição de desem- penho e seus benefícios. Considere, então, as boas razões (van Weele, 2010). Primeiro, a me- dição de desempenho subsidia a to- mada de decisão. São os indicadores de desempenho que apontam onde o gerente deve atuar, onde ele precisa alocar os seus recursos, o que ele tem de priorizar. Segundo, a medição de desempenho ajuda a melhorar a comunicação e o relacionamento entre as áreas da empresa: os indicadores mostram se a área de suprimentos está atendendo bem as outras áreas (ope- rações, por exemplo, um cliente interno comum de su- primentos) e se a área de suprimentos está sendo bem atendida pelas outras áreas (logística, por exemplo, res- ponsável por trazer os materiais para a empresa). Se os indicadores de desempenho revelarem algum problema entre as áreas, os gerentes envolvidos podem sentar, conversar e estabelecer um plano de ação con- junto, integrado. Terceiro, a medição de desempenho mostra se as ações dos funcionários (os trabalhos que eles realizam) estão surtindo o efeito desejado e, nesse contexto, serve como um meio motivador. De fato, é muito comum os mecanismos de incentivo de funcio- nários (recompensas, participação nos lucros e resul- tados, promoções etc) serem atrelados ao sistema de medição de desempenho da área. Há outro motivo importante (van Weele, 2010). Um bom sistema de medição de desempenho, quando ob- servado de uma perspectiva mais ampla, sem se ater a indicadores específi cos, informa ao gestor qual é a situação da sua área, em termos de efi cácia e efi ciên- 30 www.revistamundologistica.com.br o que o chefe mandou. Nesse caso, provavelmente, o gerente medirá o de- sempenho por medir, ou seja, os indicadores não servi- rão para nada, não gerarão qualquer ação de melhoria. É a típica situação em que a medição de desempenho acaba sendo um fim em si mesma e não um meio para se alcançar um fim (a melhoria de processos). O efeito da medição de desempenho se limitará ao ato do es- tagiário pregar gráficos coloridos na sala do gerente. No entanto, cuidado, pois há outro risco: indicadores escolhidos sem critério podem mostrar apenas o lado ruim e menos importante da área ou revelar apenas as falhas e não o sucesso. Com isso, a área pode ser pe- nalizada, devido à adoção de indicadores que não são adequados, que não mostram ou mostram apenas parte daquilo que deveriam mostrar. Como, então, implantar um bom sistema de medi- ção de desempenho? ESCOLHA INDICADORES RELACIONADOS AOS CRITÉRIOS DE DESEMPENHO QUE SÃO IMPORTANTES PARA A SUA EMPRESA De uma maneira didática, Corrêa (2010) explica que medir o desempenho significa quantificar o resultado das ações. O autor exemplifica com o caso de um pit stop de Fórmula 1: um processo em que 18 pessoas participam realizando um conjunto de ações. Seria o custo importante, nesse caso? A observação de que são alocadas três pessoas para trocar cada pneu e quatro pessoas para reabastecer o carro sugere que esse não é o critério de desempenho prioritário. Sem dúvida, o critério de desempenho mais importante é a velocida- de. Por isso, o desempenho da equipe é quantificado (resumido) por meio do indicador que mede a duração do pit stop. Portanto, o gerente deve estabelecer indi- cadores levando em conta os critérios de desempenho, que são mais importantes para o segmento de mercado que a sua empresa atua ou para a linha de produtos que está sob a sua responsabilidade. Porém, note que essa recomendação exige que se compreenda com mais pre- cisão o que é um “critério de desempenho”. Van Weele (2010) defende que as decisões na área desuprimentos não podem ser tomadas de forma isolada e nem buscar a melhoria apenas do seu próprio desem- penho. Ao contrário, as decisões e planos dessa área de- vem apoiar as estratégias superiores da empresa (aque- las definidas pela alta direção). Uma das maneiras de alcançar isso é o gerente identificar qual é ou quais são os critérios de desempenho que devem ser perseguidos pela sua área, de tal forma que ela possa contribuir de maneira efetiva para a empresa alcançar os objetivos estabelecidos em suas estratégias superiores. Dito isso, a pergunta é: quais seriam os critérios de desempenho que poderiam ser buscados pela área de suprimentos? Há áreas de suprimentos que selecionam fornece- dores ou compram baseadas no preço mínimo (des- de que, claro, sejam atendidas determinadas especifi- cações), pois as suas respectivas empresas atuam em mercados cuja competição ocorre em termos de preço. Nesse caso, o critério de desempenho que a área de su- primentos deve priorizar é o custo. Há outras situações, especialmente aquelas envolvendo produtos diferen- ciados, oferecidos a segmentos específicos de clientes, em que a área de suprimentos priorizará a qualidade. Isso significa que a área de suprimentos estará dis- posta a selecionar um fornecedor com preço mais alto, desde que receba em troca um serviço ou item com nível de qualidade superior, que contribuirá para di- ferenciar o produto da empresa em relação à concor- rência. Há áreas de suprimentos que podem priorizar a confiabilidade dos fornecedores, por exemplo, em termos de atendimento dos prazos de entrega e quan- tidades combinadas. Possivelmente, essas áreas perten- çam a empresas, cujos clientes não admitem atrasos e, devido a isso, elas prefiram trabalhar com fornecedores muito confiáveis. Há, também, aquelas que priorizam a flexibilidade: o mercado em que atuam é tão dinâmico, que elas fre- quentemente são forçadas a alterar a quantidade pedi- da e os prazos de entrega, mesmo para as ordens de compra que já foram emitidas. Nesse caso, uma base de fornecimento flexível aceitará as alterações sem impor penalização. Nesse grupo, também estão aquelas em- presas que demandam itens que não são padronizados, portanto, necessitando de fornecedores flexíveis, que atendam às especificações mais customizadas. Outras empresas podem priorizar a velocidade, sele- cionando fornecedores com lead times mais curtos, tal- 31 vez porque os seus clientes, após formalizarem um pe- dido, não estejam muito dispostos a esperar um prazo de entrega longo para receber os seus produtos. Esses seriam os critérios de desempenho mais tradicionais. No entanto, com as transformações que estão sendo vivenciadas nos negócios, não seria nenhuma heresia acrescentar à lista alguns critérios de desempenho mais “contemporâneos”. Por exemplo, empresas que produ- zem produtos complexos dependem enormemente (e cada vez mais) do desenvolvimento tecnológico dos seus fornecedores, para conseguirem agregar novos re- cursos e funcionalidades a cada novo modelo lançado. Portanto, que tal incluir a inovação (a busca constante pela evolução tecnológica, mas sustentada pela base de fornecedores) à lista? A preocupação com as questões ambientais e sociais, hoje, é tal que a sustentabilidade também poderia ser considerada um critério compe- titivo, buscado pela área de suprimentos. Observe que já há várias linhas de produtos com forte apelo susten- tável e, não tenha dúvida, essa característica influencia decisivamente os processos de seleção e gestão dos for- necedores. Veja alguns exemplos para ilustrar o conceito de critério de desempenho. Vá até a seção de bebidas de qualquer supermercado e escolha duas cervejas. A pri- meira pode ser aquela de uma marca não muito conhe- cida, com preço muito em conta, que você costumava comprar nos churrascos da época da faculdade, quando morava em república e o dinheiro era curto. A segunda pode ser aquela artesanal especial que você só compra quando, uma vez por ano, algum amigo de longa data lhe faz uma visita. Você acredita, sinceramente, que as áreas de suprimentos dessas duas empresas operam e tomam as decisões baseadas nos mesmos critérios de desempenho? Outro exemplo, qual critério a área de suprimentos da Bic provavelmente prioriza e a da Montblanc? Agora veja o caso dos fabricantes de smartphones. Coloque-se na posição de diretor de Suprimentos da Apple para a linha de iPhones. A empresa inicia o desenvolvimen- 32 www.revistamundologistica.com.br to dos modelos que serão lançados daqui a dois anos (os modelos que serão lançados antes, provavelmente, já estão em fase relativamente avançada de desenvol- vimento) e você é envolvido. Com certeza, você estará sempre preocupado com o custo, mas será essa a sua maior preocupação? Quais novas tecnologias estão sendo desenvolvidas e por quem (por quais empresas)? Quais provavelmente gerarão mais apelo no consumi- dor? Quais delas seriam viáveis para o novo lançamen- to (em termos técnicos, de prazo e custo)? Em quais tecnologias os concorrentes estão apostando? Se o critério de desempenho mais importante para a sua empresa é a qualidade, isso significa que, no seu sistema de medição de desempenho, esse critério re- ceberá um tratamento diferenciado. Isso não significa que você desprezará os indicadores que mensurem o custo ou o desempenho dos fornecedores, em termos de prazo de entrega, pois todos os critérios de desem- penho que são importantes para a sua empresa devem influenciar a escolha dos indicadores. O cuidado que você deve ter é garantir que o critério prioritário esteja representado no seu sistema de medição de desempe- nho por um conjunto robusto de indicadores. O geren- te que não conhece os critérios de desempenho que são importantes para a sua empresa não tem como garantir que receberão a devida atenção no sistema de medição de desempenho. DEFINA E PERSIGA O ALVO Para vários dos indicadores que selecionar, será ne- cessário estabelecer uma meta. A meta representa o padrão, a partir do qual os valores reais de cada indi- cador serão comparados. Você está abaixo ou acima da meta? O quão longe você está da meta e por quê? Há algumas referências tipicamente adotadas para o esta- belecimento das metas, como o histórico (dados passa- dos), outras unidades ou áreas da organização, outras empresas cujos dados estão disponíveis (lembre-se que você pode lançar mão de um benchmarking sempre que possível) etc. Deve-se ter muito cuidado na escolha das metas. Elas têm de ser, ao mesmo tempo, factíveis e desafia- doras. Se você estabelecer metas muito fáceis de serem alcançadas, isso poderá se traduzir em comodidade na sua equipe. Na prática, estará patrocinando a manuten- ção do status quo e é provável que, com o tempo, veja-se diante da situação indesejável, que foi citada anterior- mente, quando a medição de desempenho se transfor- ma em um fim em si mesma, deixando de ser um meio para se alcançar um fim. Por outro lado, metas muito ambiciosas poderão gerar frustração na sua equipe, minando um dos prin- cipais combustíveis da força de trabalho: a motivação. Uma estratégia que pode ser adotada para a definição das metas é ilustrada na Figura 1. Imagine um conti- nuum, em que as palavras “muito fácil” e “impossível” estão em seus extremos opostos. Comece com uma meta mais factível do que desafiadora e, com o tem- po, evolua para a direita. Se e quando a equipe mostrar competência, maturidade e confiança, considere a pos- sibilidade de estabelecer algumas metas que sejam mais desafiadoras do que factíveis. O comprometimento da equipe está intrinsecamen- te relacionado ao estabelecimento de metas equilibra- das (desafiadoras, mas que também sejam factíveis). A questão é que, para o chefe, uma meta pode parecer estar equilibrada, mas talvez os seus funcionários não concordem. Assim, na medida do possível, procure negociar as metas com os líderes de sua equipe, afinal, são elesque devem “comprar a ideia”, “assinar embaixo”. Porém, cuidado: há uma diferença enorme entre nego- ciar e impor. Se o objetivo é garantir um compromisso verdadeiro, então, a negociação será sempre mais efeti- va do que a imposição. Outra maneira de conquistar o comprometimento da equipe é atrelar os mecanismos Figura 1: A escolha da meta de um indicador de desempenho. M U IT O F Á C IL IM PO SS ÍV EL FACTÍVEL CONTINUUM DESAFIADORA META 33 de incentivo dos funcionários ao sistema de medição de desempe- nho da área (conforme discutido anteriormente, essa é uma estratégia comum). A MEDIÇÃO DE DESEMPENHO DEPENDE DO PAPEL DESEMPENHADO PELA ÁREA DE SUPRIMENTOS, NA EMPRESA Se você olhar para o interior das empresas, notará que, em muitas delas (especialmente as pequenas), não existe uma área de suprimentos formalizada, apesar delas compra- rem muitos itens. Em outras, essa área até existe, mas a sua função é bastante operacional. Em outras ain- da, a área de suprimentos é tão estra- tégica, que infl uencia diretamente os rumos e a posição competitiva da empresa. Evidente- mente, os sistemas de medição de desempenho reais refl etem esses diferentes tipos de área. Assim, entre as empresas que mensuram o desem- penho dos seus processos, encontrar-se-á desde áreas que adotam alguns poucos indicadores (geralmente relacionados às atividades mais burocráticas, tal como a emissão dos pedidos) até áreas que utilizam um am- plo e sofi sticado conjunto de medidas, que monitoram os seus principais processos, inclusive, aqueles que contemplam o relacionamento com as outras áreas da empresa e com os membros da cadeia de suprimentos. Você, gerente de Suprimentos, em conjunto com os seus superiores, deverá avaliar qual é a alternativa mais adequada para a sua empresa. Independentemente da sua área desempenhar um papel mais operacional ou estratégico, nada impede que adote uma abordagem evolutiva, na implantação do sistema de medição de desempenho. Em vez de “abraçar o mundo”, comece com alguns indicadores e, com o tempo, vá melhorando e aperfeiçoando o seu sistema até alcançar o estágio que atenda aos interesses da sua empresa (levando em conta o papel que ela es- pera da sua área). Implantar um sistema de medição de desempenho implica em mudanças e estas costumam gerar desconforto e desconfi ança. A abordagem evolu- tiva é um método prudente e menos radical de começar a fazer as coisas de forma diferente (e melhor) na sua área. SISTEMA DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO: NEM ESTÁTICO, NEM MUITO DINÂMICO O seu sistema de medição de de- sempenho evoluiu e chegou ao es- tágio que você desejava? Excelente, mas não o trate como imutável. As empresas são dinâmicas e, muitas vezes, estão inseridas em ambientes ainda mais dinâmicos. Então, pode ser vantajoso ou necessário refl etir parte desse dinamismo no sistema de medição de desempenho. Infelizmente, não é raro observar empresas que adotam exatamente o mesmo conjunto de indicadores há 10, 15 anos ou mais, sem que o gerente e sua equipe realizem, de tempos em tem- pos, uma análise crítica, com o objetivo de avaliar se ele ainda consegue mensurar o desempenho da área, em termos de efi ciência e efi cácia. Os indicadores atuais ainda são os mais adequados? Todos eles são claramen- te compreendidos pela equipe? Quais indicadores não fazem mais sentido ou pouco subsidiam, em termos práticos, a tomada de decisão? Quais indicadores de- vem ser inclusos e qual a razão? Por outro lado, essa fl exibilidade, que deve ser ine- rente aos sistemas de medição de desempenho, não pode ser confundida como uma autorização, para que os indicadores sejam trocados frequentemente. Se isso estiver ocorrendo na sua empresa, é sinal de que o seu sistema de medição de desempenho, provavelmente, não foi adequadamente concebido (já dizia Baltasar Gracián, tudo o que se faz às pressas é desfeito com a mesma rapidez). Se os indicadores de desempenho per- duram, isso não necessariamente é ruim, mas pode ser um (bom) sinal de que eles medem adequadamente o que deveriam medir e apenas aquilo que é importante. As empresas são dinâmicas e estão inseridas em ambientes ainda mais dinâmicos. Pode ser vantajoso ou necessário refl etir parte desse dinamismo no sistema de medição de desempenho.” 34 www.revistamundologistica.com.br Note, porém, que uma coisa é a empresa manter os seus indicadores de desempenho, porque eles cumprem in- tegralmente o seu papel, outra completamente diferen- te é mantê-los por pura comodidade, porque o gerente e sua equipe nunca se deram ao trabalho de revisá-los. Qual é a situação da sua empresa? Avaliar criticamente o sistema de medição de de- sempenho uma vez por ano é mais do que suficiente. Se houver proposta de alterá-lo (por exemplo, mudar algum indicador), avalie os prós e os contras, as van- tagens e desvantagens. Se a decisão for pela alteração, esta deverá estar fortemente embasada. Mudanças fre- quentes podem significar indecisão ou falta de rumo da gerência, além de confundir os funcionários, gerando desconfiança e frustração. Lembre-se que a confiança dos funcionários nos indicadores é construída ao longo do tempo. Porém, se você decidiu realmente mudar e está seguro disso, tudo bem. Dissemine a informação na equipe e justifique. RECURSOS HUMANOS: COMPETÊNCIAS Os indicadores de desempenho que você escolher demandarão, periodicamente, um trabalho que tipi- camente engloba: coleta, análise e registro dos dados, investigação das causas dos problemas e definição de ações. Portanto, esse trabalho deverá ser planejado e sua carga dimensionada. As atividades de coleta e re- gistro dos dados são mais operacionais, por isso, de- vem ser realizadas da maneira mais eficiente possível (de forma simples e rápida), idealmente por meio de um processo automatizado (com a ajuda de um sistema de informação, por exemplo). Dedique tempo e esforço para realizar as outras atividades, pois são elas que, de fato, farão a diferença na sua área. Porém, você preci- sa ter consciência que essas outras atividades exigirão algumas competências da sua equipe (ou seja, dos fun- cionários que, direta ou indiretamente, dedicados ou não, estarão envolvidos com o sistema de medição de desempenho). Veja uma ilustração. Suponha que você adotou um indicador de desempenho para acompanhar a evolução do número de ordens de compra recebidas em atraso. Esse indicador, assim como muitos outros encontra- dos na prática, “indica” (mostra) o problema, mas não revela a causa. Quem é o principal responsável pelos atrasos? Seriam os fornecedores ou os operadores lo- gísticos, ou os compradores, que estariam emitindo os pedidos sem respeitar os prazos combinados? Por que os atrasos ocorrem? Embora o ideal seja definir os in- dicadores que facilitem a identificação das causas dos problemas, o fato é que, muitas vezes, será difícil ope- racionalizar os indicadores que forneçam prontamente essa informação. Daí a necessidade da sua equipe saber interpretar o significado dos indicadores, saber anali- sar criticamente os dados coletados (tratando-os, se for necessário), saber investigar cuidadosamente as causas dos problemas (buscando evidências e aplicando ferra- mentas, tais como o Gráfico de Pareto, o Diagrama de Causa-Efeito etc) e saber estabelecer ações precisas de melhoria. O domínio dessas competências não é sim- ples e nem rápido de ser alcançado, na prática, mas é algo que não poderá protelar. Sem uma equipe treina- da, dificilmente, o seu sistema de medição de desempe- nho alcançará os benefícios esperados. PROPOSTA DE INDICADORES A seguir (Quadro 1), é apresentada uma proposta de indicadores de desempenho que um gerente pode adotar na área de suprimentos, após fazer as devidas adaptações para o contexto da sua empresa. Os indica- dores foram divididos em categorias (11, no total), com o propósito de facilitar a identificaçãode semelhanças ou permitir comparações entre os indicadores de uma mesma categoria. Porém, as categorias não são nem de longe rígidas (indicadores de uma categoria poderiam pertencer a outras). Os indicadores propostos permitem que diferentes níveis de agregação sejam considerados, conforme suge- rido entre os colchetes. Assim, por exemplo, um mes- mo indicador pode mensurar um aspecto do trabalho de um comprador específico ou da área como um todo. Note que alguns indicadores utilizam a tão disseminada e conhecida Classificação ABC (ver, por exemplo, Cor- rêa, 2010), que divide os itens em três grupos, de acordo com a importância (valor): classe A (poucos itens, muito importantes), classe C (muitos itens, pouco importantes) e classe B (grupo intermediário). Os indicadores devem ser monitorados ao longo do tempo. 36 www.revistamundologistica.com.br QUADRO 1: PROPOSTA DE INDICADORES DE DESEMPENHO PARA A ÁREA DE SUPRIMENTOS CATEGORIA INDICADORES CO TA Ç Ã O , R EQ U IS IÇ Ã O D E CO M PR A E P ED ID O D E CO M PR A • Cotações em aberto [total geral por comprador ou fornecedor]; • Prazo médio (em dias) para a resposta de cotação [total geral por comprador ou fornecedor]; • Quantidade ou porcentagem de pedidos de compra emitidos em regime de urgência (ou seja, sem respeitar o lead time dos fornecedores) [por comprador e por fornecedor]; • Tempo médio (em horas ou dias) para transformar uma requisição de compra em pedido de compra [média geral ou por comprador]; • Quantidade de requisições ou pedidos de compra em aberto [por comprador e por fornecedor]; • Custo de um pedido de compra (em R$ por pedido) [total da área, por tipo de item ou classe de item: A, B e C]; • Quantidade ou porcentagem de pedidos cancelados ou que sofreram alterações de data (an- tecipação ou postergação) ou quantidade [por fornecedor]; • Porcentagem de pedidos de compra manuais (papel) e digitais [total geral]. Q U A LI D A D E • Número de itens ou porcentagem dos itens recebidos ou identificados na produção com não conformidade (ou seja, que não atendam à especificação) [por fornecedor]; • Quantidade de itens ou valor (R$) do estoque de itens em quarentena [por fornecedor]; • Quantidade de itens ou valor total (R$) dos itens em reparo [por fornecedor e por origem da causa do problema: fornecedor ou a própria empresa]; • Porcentagem de fornecedores que possuem certificação (International Organization for Stan- dardization (ISO) 9001, ISO 14001 etc) [total geral]; • Percentual de pedidos de compra emitidos a fornecedores que possuem certificação (ISO 9001, ISO 14001 etc) [total geral]. ES TO Q U E • Valor total (R$) em estoque [por fornecedor, comprador, tipo de item ou classe de item: A, B e C]; • Giro e cobertura do estoque [por fornecedor, comprador, tipo de item ou classe de item: A, B e C]; • Valor (R$) do estoque que não possui movimentação (giro zero) [por fornecedor ou compra- dor]; • Valor (R$) do estoque que não possui demanda futura prevista (itens obsoletos) [por fornece- dor ou comprador]; • Estoque real (R$) versus estoque planejado (R$) (este último baseado no plano de produção da empresa e nas políticas de planejamento dos itens: lote de compra, lead time e estoque de segurança) [total geral ou por classe de item: A, B e C]; • Valor (R$) do estoque de segurança planejado [total geral por fornecedor, comprador ou classe de item: A, B e C]; • Valor (R$) ou porcentagem do estoque gerenciado pelos fornecedores (Vendor Managed In- ventory) [total geral e por fornecedor]; • Valor (R$) ou porcentagem do estoque em regime de consignação [total geral e por fornece- dor]. 37 AT EN D IM EN TO • Quantidade de ordens de fabricação (OF) paradas por falta de item comprado [total geral]; • Quantidade de itens comprados em falta [total geral e por fornecedor]; • Quantidade ou porcentagem de pedidos de compra recebidos antecipadamente (early), no prazo (on time) ou em atraso (late) [total geral por comprador ou fornecedor]; • Quantidade ou porcentagem de pedidos de compra com data de entrega renegociada, por solicitação do fornecedor [total geral e por fornecedor]. C U ST O (P R EÇ O ) D O S IT EN S • Preço pago pelo item versus preço (médio ou mínimo) praticado no mercado fornecedor (para controle do custo dos itens classe A, por exemplo) [por item]; • Valor (em R$) dos itens comprados como uma porcentagem do custo do produto final (ob- servação, essa informação permite classificar os itens e os fornecedores em classes A, B ou C) [por item ou fornecedor]; • Reajuste (%) para mais ou para menos no preço dos itens (para controle do custo dos itens classe A, por exemplo) [por item]. PR O FI SS IO N A L D E CO M PR A S • Quantidade de itens ativos [por comprador e por classe de item: A, B e C]; • Valor total (R$) das compras [por comprador e por fornecedor]; • Quantidade ou porcentagem de horas gastas pelos profissionais de compras em cada tipo de atividade (processo de compra e de desenvolvimento de novos produtos, negociação e gestão de contratos, gestão de risco, ações conjuntas com os fornecedores para o desenvolvimento de competências ou melhoria de desempenho etc) [total por tipo de atividade]; • Número de análises make or buy realizadas [total geral ou por equipe]. O RÇ A M EN TO • Gastos reais versus gastos planejados [total geral]; • Gastos por tipo (salários, viagens, telefone, materiais de escritório, desenvolvimento de forne- cedores etc) [total por tipo de gasto]. FO R N EC ED O R • Quantidade ou porcentagem de fornecedores (ou de itens comprados ou pedidos de compra emitidos a fornecedores) sem o contrato de fornecimento [total geral]; • Quantidade ou porcentagem de fornecedores domésticos (com planta no Brasil) e estrangei- ros (com planta no exterior) ou quantidade ou porcentagem de itens comprados ou pedidos de compra emitidos a fornecedores domésticos e estrangeiros [total geral]; • Quantidade de itens ativos por fornecedor [por fornecedor e por classe de item: A, B e C]; • Quantidade de pagamentos pendentes e seus respectivos valores (R$) [por fornecedor ou comprador]; • Porcentagem de pagamentos no prazo feitos a fornecedores [por fornecedor ou comprador]; • Quantidade ou porcentagem de fornecedores contemplados no processo de avaliação de for- necedores [total geral]; • Quantidade de fornecedores que participam do processo de desenvolvimento de novos pro- dutos [total geral ou por produto final]; • Quantidade de fornecedores por produto final [total por produto final]; • Quantidade ou porcentagem de mudanças (trocas) de fornecedores na base de fornecimento [total geral ou por produto final]. 38 www.revistamundologistica.com.br IT EN S CO M PR A D O S • Quantidade ou porcentagem dos itens com mais de um fornecedor, quantidade ou porcenta- gem dos itens com fornecedor alternativo e quantidade ou porcentagem dos itens com forne- cedor único ou exclusivo [total geral ou por classe de item: A, B e C]; • Diferenças nas políticas de planejamento adotadas (lotes de compra, lead times, estoques de segurança etc) [por fornecedor, tipo de item ou classe de item: A, B e C]; • Variação (média e desvio padrão) do lead time real dos itens [por item ou fornecedor]; • Quantidade ou porcentagem dos itens geridos por estrutura centralizada da área de supri- mentos e quantidade ou porcentagem dos itens geridos por estrutura descentralizada [total geral]; • Quantidade ou porcentagem dos itens gerenciados por tipo de sistema de controle de estoque (revisão contínua, reposição periódica, Material Requiriment Planning (MRP), Just in Time/ Kanban, Vendor Managed Inventory etc) [total geral por tipo de sistema]; • Quantidade ou porcentagem dos itens por modal de transporte [por classe de item: A, B e C]. PR EV IS Ã O D A D EM A N D A • Quantidade ou porcentagem dos fornecedores que recebem regularmente a previsão de de- manda (forecast) da empresa [total geral]; • Consumo planejado(quantidade ou R$) dos itens comprados versus consumo real (quantida- de ou R$) [total geral, por fornecedor ou item]; • Valor total (R$) comprado versus valor (R$) correspondente à previsão de demanda enviada aos fornecedores [por fornecedor ou tipo de item]; • Volume de alterações realizadas na previsão de demanda enviada aos fornecedores [total por fornecedor]. IN TE R FA C E CO M A S O U TR A S Á R EA S • Número de reclamações (formais ou não) dos gerentes de outras áreas, com relação aos pro- cessos ou desempenho da área de suprimentos [total por área]; • Número de reclamações da área de suprimentos, com relação aos processos ou desempenho das outras áreas [total por área]. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscou-se, neste artigo, oferecer recomendações que poderão ajudar um gerente de Suprimentos a es- tabelecer um bom sistema de medição de desempenho na sua área. O que deve ficar claro é que não existe a maneira mais correta de medir o desempenho de uma área, simplesmente, porque as empresas são diferentes e estão inseridas em ambientes (micro e macro) tam- bém distintos. Assim, a melhor maneira de medir o desempenho dependerá do contexto específico de cada empresa e suas idiossincrasias: em qual negócio ela atua, quais produtos ela vende, a estrutura da sua ca- deia de suprimentos, qual o papel desempenhado pela área de suprimentos dentro da empresa etc. É por isso que o gerente precisa ter competência, sensibilidade e, também, criatividade para definir o melhor conjunto de indicadores. Espera-se que as recomendações apresentadas aju- dem o gerente de Suprimentos a alcançar o objetivo final de um sistema de medição de desempenho: a me- lhoria da eficácia e eficiência da sua área. Referências BAILY, P. et al. Procurement: principles and management. 10. ed. Hampshire: Prentice Hall, 2008. CORRÊA, H. L. Gestão de redes de suprimento. São Paulo: Atlas, 2010. VAN WEELE, A. J. Purchasing and Supply Chain Management. 5. ed. London: Cengage Learning, 2010.
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