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A crise do Estado de Bem-Estar Social
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social
Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”.
Um desequilíbrio perigoso
Talvez você ainda não tenha percebido, mas o que ocorreu a partir da mudança de modelo foi um desequilíbrio nas relações entre Estados, entre mercado e Estado e, consequentemente, entre Estado e indivíduo. Vamos ver por outra perspectiva:
A ascensão do neoliberalismo
Finalmente na década de 1990, não dava mais para esconder que o modelo de desenvolvimento capitalista da época estava em crise. Crise essa, que já se anunciava em grande parte do mundo, desde meados dos anos de 1970. Isso favoreceu a crítica dos economistas conservadores, neoliberais, que há tempos vinham combatendo o Estado de Bem-estar social.
A ofensiva neoliberal
Ao se contrapor ao Estado de bem-estar social, segundo os preceitos do Consenso de Washington, o neoliberalismo defendia a privatização dos serviços públicos, como educação, saúde e previdência, de forma a aliviar o Estado e tornar esses serviços competitivos no mercado. Desta forma, direitos conquistados transformaram-se em mercadorias adquiríveis no mercado.
Ao longo das duas últimas décadas, a intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas, com ênfase nos mercados financeiros mundiais e a formação de grandes blocos econômicos, têm aumentado a pobreza e aprofundado as desigualdades no mundo capitalista globalizado.
Sendo assim, a crise do Estado de bem-estar social está relacionada à construção de um novo modelo de capitalismo que, no afã de recuperar a lucratividade, contrapõe direito a investimentos e acumulação de capitais, e é responsável pela condução da reforma do Estado que tem provocado cortes substanciais no orçamento das políticas sociais dos países periféricos em benefício dos países centrais.
Olá! A partir dessa aula vamos começar a estudar as legislações brasileiras. Nesse capítulo, em particular vamos abordar as constituições. No vídeo acima, você vê o momento em Getúlio Vargas preside a solenidade de cremação das bandeiras estaduais, conforme determinação na nova Constituição de 1937, a Constituição do Estado Novo.
Aula 2: Evolução histórica da política educacional e seus reflexos
Passeio pela história
A Constituição é a lei que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Através do estudo dos textos constitucionais que o Brasil já viveu, podemos perceber a importância que a educação ocupou em diferentes momentos da nossa história. Você verá, a partir de agora, como cada Constituição que o Brasil conheceu tratou a questão educacional
1891 – A primeira Constituição Republicana
A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país, e como decorrência exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891.
A Constituição de 1934
 Longos debates entre educadores e um movimento social crescente começava a invadir a sociedade brasileira, exigindo reformas no país, sobretudo no campo educacional, a partir dos anos de 1920. A criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. O capítulo II do texto legal abordou a questão educacional incorporando sugestões e idéias levantadas por intelectuais e professores da época, já apresentadas no Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932.
1937 – A Constituição do Estado Novo
Estado Novo foi o nome dado por Getúlio Vargas à ditadura que instalou no Brasil a partir de 1937, que correspondeu a um longo período de autoritarismo e repressão. Em todas as áreas sociais, particularmente na educação, houve um enorme retrocesso. As conquistas apresentadas na Carta Constitucional anterior (1934), que nem chegaram a ser colocadas em prática, foram totalmente abandonadas na nova lei.
A Constituição de 1946
Em 1945, a longa Era Vargas chega ao fim. Uma nova Carta Constitucional foi redigida para acompanhar os novos tempos. Tempos democráticos que se instalavam na vida brasileira, e que traziam alguns direitos sociais. Quanto à educação, o antigo debate dos Pioneiros de 1932 é recuperado em relação a alguns temas.
Esta aula busca apresentar e discutir o longo processo de elaboração da primeira lei de diretrizes e bases, destacando os grupos envolvidos no debate e os interesses em questão, além de caracterizar os principais temas aprovados.
O sentido da Lei nº. 4024/61: a elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases
Retomando nosso percurso...
Você está lembrado da aula passada? Pois então, naquele momento você foi convidado a fazer um passeio histórico sobre a presença da educação nas Constituições. Nesta aula voltaremos a falar sobre o tema da Constituição de 1946 para que possamos aprofundar o nosso debate sobre o processo que desencadeou a elaboração da Lei 4024/61, que foi a primeira LDB que o Brasil produziu.
Esse momento histórico foi marcado pelo fim do governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do Estado Novo). Instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição que representasse essa nova fase política. A título de curiosidade, no vídeo ao lado você vê cenas do “exílio voluntário” de Getúlio Vargas após sua saída do poder, bem como o tom “pomposo” pelo qual o narrador trata o então senador Getúlio. Mais tarde, ele voltaria ao poder.
Os resultados
A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional ficara determinado, entre outras questões, como já vimos anteriormente, que a educação era entendida como um direito de todos. Vamos ver o trecho da lei?
Art. 5º - Compete à União: 
(...)
 XV - legislar sobre: 
(...)
 d) diretrizes e bases da educação nacional;
O processo de elaboração
A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a discussões e polêmicas bem distintas.
Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação.
De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani. Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia internacional, e de oposição às forças de Vargas.
E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo Capanema, filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças getulistas.  
O Ministro Mariani representando os interesses do governo, apresentou um projeto que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do deputado GustavoCapanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. 
O deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento.
Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como “Substitutivo Lacerda”.
Segundo período
Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele momento, girou em torno da questão das verbas públicas. Vamos ver como foi?
A primeira lei de diretrizes e bases
A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes:
1) Dos fins da educação – o desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma perspectiva democrática de acordo com o momento histórico.
2) Do direito à educação – estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do tipo de educação a ser oferecida.
3) Da liberdade de ensino – todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos.
4) Da administração do ensino – afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e atribuiu competências ao Conselho Federal.
5) Dos sistemas de ensino – criou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais.
6) Dos recursos para a educação – instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas públicas, abrindo espaço para o setor privado.
Essa aula tem como finalidade debater e caracterizar o momento em que as leis 5540/68 e 5692/71 foram criadas, os interesses governamentais e as principais características da legislação. No vídeo acima, você vê diversas cenas que marcaram esse período na história brasileira.
Aula 4: As reformas educacionais da ditadura militar
Introdução
	
Logo após a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases, o Brasil mergulhou em um novo momento político quando se instalou, em 1º de abril de 1964, através de um Golpe de Estado, outro governo autoritário, fase conhecida como Ditadura Militar. Foram anos marcados por uma intensa repressão que perseguia opositores, cassando e torturando políticos; e impedia os movimentos sociais, inclusive a organização de estudantes que lutavam contra a ditadura.
Uma nova Constituição vai ser redigida e outorgada à sociedade pelo governo militar. Esta foi a sexta Carta Constitucional do Brasil. Nela, os direitos dos cidadãos são restringidos, o Executivo Federal concentrava poderes, além de ser eleito de forma indireta pelo Congresso Nacional.
In verbis...
No capítulo sobre educação, o direito de todos a ela é reafirmado, apesar de também ficar expresso que o ensino é livre à ação da iniciativa privada, que continua a ter acesso a incentivos e facilidades financeiras dos cofres públicos, como disposto na Constituição anterior. Conforme escrito na Carta:
 
Art. 168. A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§1º. O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos poderes públicos.
§2º. Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos poderes públicos, inclusive bolsas de estudo.
Esse momento histórico exigiu alterações na legislação educacional. Não foi elaborada nova Lei de Diretrizes e Bases, mas sim duas leis que reformaram alguns aspectos da LDB vigente. Uma tratou de modificar os ensinos primário e secundário enquanto outra abordou o superior. As diretrizes básicas, estabelecidas pela lei 4024/61 (os 5 primeiros títulos), não são alteradas, demonstrando a continuidade da ordem socioeconômica mantida pelo golpe.
A lei 5540/68
	A reforma do ensino superior tinha por finalidade a desmobilização dos estudantes universitários. Para tanto, instituiu o sistema de créditos que obrigava os alunos a realizarem a matrícula por disciplinas, o que impedia a formação de grupos nas mesmas turmas, como no tradicional curso seriado, dificultando a organização de grupos de pressão.
A repressão aos estudantes foi uma ação constante ao longo desse período.
	
A lei 5540/68 também determinou que as disciplinas passassem a ser agrupadas por departamentos, deixando de se organizar por cursos, reforçando o caráter da fragmentação. Por fim, estabeleceu o vestibular unificado, desarmando as crescentes demandas, sobretudo dos estudantes secundaristas, por mais vagas nas universidades públicas.
A lei 5692/71
Esta legislação é frequentemente chamada de lei de diretrizes e bases de forma errônea. Contudo, ela não pode ser confundida, pois se refere exclusivamente a dois segmentos da educação, que correspondem ao que nos dias atuais chamamos de educação básica.
A lei 5692 não tratava, também, dos objetivos gerais e finalidades da educação para o país. Ela era específica para dois segmentos do ensino. Clique na lei para ler o documento original.
	
A referida lei foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo Presidente Médici, que tinha por objetivo adequar o ensino ao momento político instaurado pelo Golpe de 1964, e às necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir.
General Emílio Garrastazu Médici, que ficou no poder entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974.
A lei 5692/71: oficialização do ensino supletivo
O ensino profissionalizante tinha o objetivo de atender à formação de mão-de-obra no sentido de garantir o suporte para a ampliação do parque industrial brasileiro, em reposta aos preceitos liberais de divisão internacional do trabalho. Para isso, foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo.
CAPÍTULO IV - Do Ensino Supletivo 
Art. 24. O ensino supletivo terá por finalidade: 
a) suprir a escolarização regular para os adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria;
b) proporcionar, mediante repetida volta à escola, estudos de aperfeiçoamento ou atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte.
Parágrafo único. O ensino supletivo abrangerá cursos e exames a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos Conselhos de Educação.
Ainda na lei 5692/71
A Lei 5692/71 também introduziu algumas propostas, que contribuíram para o debate pedagógico, a saber (clique nas caixas):
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Sugerimos que você assista ao filme “O que é isso, companheiro?”, dirigido por Bruno Barreto e lançado no Brasil em 1997. O filme é baseado no livro homônimo escrito por Fernando Gabeira. Trata da história de um grupo de estudantes que se incorporaram ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), cujo maior êxito foi o de ter elaborado e executado o seqüestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
A finalidade da ação era de usar tal diplomata como moeda de troca para a liberação de diversos presos políticos que foram exilados. Na tela ao lado, você vê uma das cenas do filme. Não deixe de assistir!
O objetivo dessa aula é o de debater o processo de elaboração da atual Constituição, levando em conta a conjuntura político-econômica da época, ao mesmo tempo em que busca identificar os interesses nacionais envolvidos durante o processo. Vamos apresentar o momento histórico em que a Constituição de 1988 foi elaborada e promulgada, e debater os principais aspectos educacionais definidos pelo texto constitucional. No vídeo acima, você vê o momento em que a Constituição foi promulgada, pelas mãos de Ulisses Guimarães.
Aula 5: A política educacional brasileira na transição democrática: a carta de 1988
O papel de cada esfera
	
A União, estados, distrito federal e municípios devem proporcionar o acesso à cultura, á educação e à ciência, e que todas as esferas têm competência para legislar sobre educação, desde que respeitadas as diretrizes e bases fixadas em seu texto. Apresenta, ainda, como dos municípios, a prioridade quanto à responsabilidade de manter programas para os níveis pré-escolar e ensinofundamental (cabendo à União complementar recursos, em casos de dificuldades dos municípios).
Art. 211 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino (...).
§ 2º - Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. 
§ 3º - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. 
§ 4º - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.
Outras considerações
	
A Constituição de 1988 assegura ainda o direito à educação dos povos indígenas, garantindo que o ensino se realize em língua materna e na língua portuguesa. Permite, dessa maneira, a integração dos povos à sociedade brasileira, preservando sua cultura.
Verbas públicas destinadas à educação 
	
Quanto à aplicação das verbas públicas, a Constituição estabelece que cabe à União aplicar no mínimo 18%, enquanto que os municípios e estados devem investir no mínimo 25% cada. Podemos considerar essa vinculação dos recursos como um avanço, pois predetermina uma parcela do orçamento que deve ser aplicada em educação.
Comentário final sobre o tema da aula
Como vimos, a Carta de 1988 consagrou alguns direitos sociais, resultado de intensas lutas que animaram durante muitos anos a sociedade brasileira, algumas iniciadas ainda antes da Ditadura Militar. A questão é que, assim que o texto foi publicado, mobilizações de setores contrários aos direitos aprovados começaram a se fazer notar, e buscavam caminhos para o retrocesso, seguindo premissas neoliberais. Esse tema vamos abordar com detalhes nas aulas seguintes.

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