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Professora Mestra Mylena Mikaellen Beraldo POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira Bruna de Lima Ramos Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP B482p Beraldo, Mylena Mikaellen Políticas públicas da educação básica / Mylena Mikaellen Beraldo. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 93 p. : il. Color. 1. Educação básica - Brasil. 2. Educação e Estado. 3. Política pública. I. Centro Universitário Unifatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 379.81 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTORA Professora Mestra Mylena Mikaellen Beraldo Possuo graduação em Pedagogia (UNESPAR-2019). Sou mestre em Edu- cação e Formação Docente (UNESPAR - 2022) e tenho especialização em Di- dática e Metodologia do Ensino Básico e Superior (UNIFATECIE - 2022). Atualmente sou orientadora de trabalho de conclusão de cur- so (TCC) da graduação de Pedagogia da Instituição de Ensino Supe- rior UniFatecie e professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Pesquisadora no Grupo de Estudos e Pesquisas em Estado, História, Políticas e Educação. Cadastrada no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq (GEPEHPE/UNES- PAR/CNPQ). Esse projeto está vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Estado, História, Políticas e Educação (GEPEHPE) e propõe investigar as questões históricas que envolvem as políticas educacionais atuais, mais especificamente aquelas voltadas para a educação pré-escolar e fundamental. O objetivo geral da proposta é estudar a educação da criança a partir da BNCC, relacionando-a com as transformações históricas ocorridas no atual processo de produção e de reprodução material e intelectual da vida humana. CURRÍCULO LATTES http://lattes.cnpq.br/1015592934947784 http://lattes.cnpq.br/1015592934947784 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caros alunos e alunas! Sejam bem-vindos à disciplina de Políticas Públicas da Educação Básica! Escre- vemos esse material pensando em motivá-los a compreender o movimento educacional que o nosso país percorreu, visto que sempre esteve pautado por relações políticas. Além disso, o estudo dessa disciplina tem o objetivo de possibilitar conhecimentos que permitam a compreensão, a análise e a interpretação das políticas públicas, identificando como se organiza a legislação da educação básica, a partir da reflexão crítica, no contexto histórico da sociedade brasileira. Na unidade I começaremos a nossa jornada identificando as concepções e os prin- cípios que embasam os conceitos de Política e Estado. Essa noção é necessária para que possamos promover a formação de um cidadão crítico, apto para viver ativamente na so- ciedade onde está inserido. Na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a concepção dos as- pectos legais da Educação Básica no Brasil. Para isso, vamos detalhar como ocorreu o Manifesto dos Pioneiros da Educação no Brasil; identificar qual a função social da escola; realizar um breve histórico das Leis de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n. 4024/1961; Lei n. 5692/71; e ressaltar as atribuições da Constituição Federativa do Brasil de 1988 para a educação. Depois, na unidade III vamos tratar especificamente da nova Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional n. 9394/96 e os avanços que ela dispõe sobre o direito à edu- cação. Em seguida, ainda nesta unidade, voltaremos o nosso olhar para a compreensão do financiamento da educação brasileira, abrangendo: salário educação, Fundeb e FNDE. Na unidade IV vamos entender o papel dos profissionais da Educação Básica, dan- do ênfase nos planos de cargos e carreira, aspectos da formação inicial e continuada. Para compreender esse processo formativo evidenciaremos as políticas públicas de educação contemporânea brasileira, pautada pelo documento norteador da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e Avaliação da Educação Básica: SAEB. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer essa jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nos- so material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE 1 Concepções e Princípios: Conceitos e Definições de Política e Estado UNIDADE 2 Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil UNIDADE 3 Financiamento da Educação Brasileira: Salário Educação, Fundeb e Fnde UNIDADE 4 A Função Social da Escola: A Educação e a Formação dos Profissionais da Educação 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . Plano de Estudos • Compreensão contextual: teoria e conceito sobre política. • Diferentes tipos de política. • Formação do cidadão para viver em sociedade. • Função do Estado. Objetivos da Aprendizagem ● Conceituar e contextualizar a política; ● Compreender como ocorre a formação do cidadão; ● Estabelecer a função do Estado. 1UNIDADEUNIDADECONCEPÇÕES CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADOPOLÍTICA E ESTADO Professora Mestra Mylena Mikaellen Beraldo INTRODUÇÃO UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO 7 Nesta unidade seremos apresentados a diversos conceitos chaves para o desenvolvimento de projetos de instalações elétricas. Iniciaremos nossos estudos sendo apresentados aos conceitos base para o desenvolvimento de um projeto de instalações elétricas. Passando sobre como iniciar um projeto, normas base, e uma lista de tópicos aos quais você deve estar ciente de que deve verificar durante a execução do seu projeto. Após isso, compreenderemos os critérios de fornecimento de energia elétrica, seja em tensão secundária, ou primária, conheceremos também o cálculo de demanda e finalizaremos a unidade entendendo sobre tarifação de energia elétrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 COMPREENSÃO CONTEXTUAL: TEORIA E CONCEITO SOBRE POLÍTICATÓPICO 8 Você já parou para pensar na importância de compreender política? Já se perguntou o que é política? Já parou para refletir o quanto ela está presente em nossas vidas? Essas são questões que muitas vezes estão no nosso dia a dia, mas nos fechamos de forma que não buscamos nos aprofundarmos, deixando muitas vezes as nossas inquietações de lado, passando a viver em uma realidade da qual não entendemos o seu movimento dialético, ou seja, onde “[...] a realidade concreta é uma unidade contraditória e, movida por essa contradição, transforma-se em um permanente processo histórico de evolução e revolução” (BERALDO, 2022, p. 22). Essa realidade contraditória exposta pelo movimento dialético reflete os movimentos da sociedade capitalista, onde defende uma falsa consciência social aos cidadãos que só é combatida a partir da consciência de classe adquirida por eles. Dessa forma, compreender o movimento dialético da nossa sociedade visa identificar sua formação por meio de um caráter político, que vai desde a compreensão do seu trabalho material até a aquisição da sua consciência. Estudar Política torna-se então necessário, pois é por meio de sua compreensão que o indivíduo entende que é parte de uma sociedade, onde entra em contato com um primeiro grupo social, inicialmente é a família e em seguida é encaminhado para dentro de outras instituições sociais, como a escola e a igreja. Todos os espaços sociais pelo qual o indivíduo percorrerá ao longo da sua vida tende a revelar algumas características particulares, no entanto, apresenta algo em comum, que são as regras, elas irão impor sobre essa pessoa os seus direitos e deveres. Por essa razão é que podemos dizer que a política está presente em todos os lugares e é fundamental para a compreensão social. Molina (2004, p. 10) defende que a política é um “[...] conjunto dos mecanismos reguladores da totalidade social. Dessa forma, todas as sociedades são políticas e a política está sempre ligada ao modo de produção de cada sociedade.”. Assim, o autor ainda coloca que quanto mais complexa essa sociedade se tornar, em seus aspectos trabalhistas e sociais, maior será a complexidade política desse grupo. Ainda nesse contexto, Ribeiro (1998, p. 8) destaca que o termo política “[...] refere-se ao exercício de alguma forma de poder e, naturalmente, às múltiplas consequências desse exercício.”. Para esse autor, tudo o que é imposto a determinado grupo social é um ato de política. Mas o que seria esse poder que regula a nossa sociedade? Quando pensamos em política, imediatamente nos vem à cabeça a palavra “poder”, para Ribeiro (1998) o poder está mais relacionado ao aspecto de persuadir as pessoas nas inter-relações do que com um mero cargo empregatício. Estabelecer essa significação para o poder torna-se base para compreender a fundo os preceitos que baseiam a política. Afinal, “[...] se a Política tem a ver com o poder e se o poder visa a alterar o comportamento das pessoas, é evidente que o ato político possui dois aspectos que aparecem de pronto: a) um interesse; b) uma decisão.” (RIBEIRO, 1998, p. 9). O autor relaciona-os da seguinte forma: a) se alguém deseja influenciar ou modificar o comportamento das pessoas, esse alguém tem um interesse que deseja ver implementado pela modificação pretendida, seja ele ditado por conveniências pessoais, de grupo, religiosas, morais etc; b) o objetivo configurado pelo interesse só pode ser conseguido por uma decisão que efetivamente venha a alterar o comportamento das pessoas — seja esta decisão imposta, consensual, de maioria etc (RIBEIRO, 1998, p. 9). A concepção de política se modula por meio dos interesses que vão sendo transformados em objetivos por quem detém o poder, logo, esses objetivos vão conduzindo as tomadas de decisões. Diante então de toda exposição feita por Ribeiro (1998), a política passa a ser vista como com o estudo que relaciona a prática e a teoria voltada para a concentração de interesses, com a finalidade de alcançar os objetivos de determinados grupos sociais. Complementando a concepção de políticas idealizada por Ribeiro (1998, p. 16) ela não se distingue de nós, pois “[...] é a condução da nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade.” Agora que você já entendeu o conceito de política, vamos voltar a nossa atenção para os processos de formação política que desenvolveram os aspectos de globalização da economia do Brasil. Mas o que será que é essa globalização? Qual a sua influência na educação? Já sabemos que a política possui um papel de reguladora da sociedade, exposta à grupos sociais pelas ideologias dominantes, ou seja, por meio do “poder” existente nas relações sociais. Diante disso, vamos dar ênfase na política internacional que foi uma influenciadora ativa na política brasileira e nos demais países da América Latina e do Caribe. 9UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO É a partir da ação da política internacional que se constitui um programa de globalização, com o intuito de unificar a economia de diversos países com um só ideal político. Esses processos vão estabelecer a organização política, promovendo a reprodução do capital no Brasil. Dale (2004, p. 436) estabelece a globalização como: [...] um conjunto de dispositivos político-econômicos para a organiza- ção da economia global, conduzido pela necessidade de manter o sis- tema capitalista, mais do que qualquer outro conjunto de valores. A adesão aos seus princípios é veiculada através da pressão económica e da percepção do interesse nacional próprio. Assim, Beraldo (2022, p. 56) contribui que “[...] o processo de globalização promove mudanças no contexto educacional,pois passa a idealizar uma educação unificada independentemente das diferenças culturais existentes em cada país.”. Aqui a educação deixa de ser vista apenas como um processo de formação intelectual e passa a ser identificada como aparelho de reprodução das ideologias dominantes. Partindo da globalização e da nova estrutura socioeconômica dos países periféricos, estão concentradas as políticas econômicas do Banco Mundial. De acordo com Shiroma, Evangelista e Moraes (2007, p.61) “[...] o Banco Mundial é um organismo multilateral de financiamento que conta com 176 países mutuários, inclusive o Brasil”. Para Frigotto (1996) o Banco Mundial é um auxiliador externo no processo de globalização pois estabelece políticas educacionais para todos os 176 países inseridos nesse programa. No entanto, pare para pensar, por que um banco estaria preocupado com as questões educacionais? Para responder essa pergunta, Shiroma, Evangelista e Moraes colocam que: [...] a educação, especialmente a primária e a secundária (educação básica), ajuda a reduzir a pobreza aumentando a produtividade do trabalho dos pobres, reduzindo a fecundidade, melhorando a saúde, e dota as pessoas de atitudes de que necessitam para participar plenamente na economia e na sociedade (SHIROMA; EVANGELISTA; MORAES, 2007, p. 63). Podemos identificar que o Banco Mundial estabelece a formação do indivíduo para atuar em um novo contexto social, marcado pela década de 1990, onde deve atender aos princípios do mercado de trabalho de forma ativa na sociedade. Assim, a educação passa a ser vista como uma das instituições formativas mais importantes para o desenvolvimento econômico, objetivando a redução da pobreza. Por fim, ao refletirmos sobre o conceito de política percebemos o quanto ela está presente em nossas vidas, seja por meio dos interesses pessoais ou dos grupos sociais do qual nós estamos inseridos. Esses interesses se transformam em objetivos que totalizam nas tomadas de decisões. 10UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Identificamos anteriormente que a política faz parte de um processo de regulação social alinhado ao poder, assim, conseguimos compreender que a sociedade de um modo geral produz política, uma vez que ela está inteiramente ligada ao modo de produção materiais e imateriais existentes nos grupos sociais. Portanto, torna-se necessário distinguir os diferentes tipos de políticas que estão direcionadas para diferentes grupos sociais, totalizando na formação do cidadão para a década de 90. Nos voltamos então para a definição das seguintes políticas: políticas públicas; políticas sociais e políticas educacionais. Para compreender a definição de políticas públicas em sua totalidade devemos identificar que esta ocorre por meio da ação do Estado para cumprir com os seus deveres perante a sociedade. Com isso, cabe reforçar que uma política pública tem as suas atribuições voltadas para a sociedade de uma forma coletiva. Seguindo essa concepção, são desenvolvidos planos de ações e programas que buscam estruturar a sociedade, como: saúde e educação, promovendo a organização do país. Com base nisso, Souza (2003) define políticas públicas como um: Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e/ou entender por que e como as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente). Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão os resultados ou as mudanças desejadas no mundo real (SOUZA, 2003, p. 13). UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 DIFERENTES TIPOS DE POLÍTICAS TÓPICO 11 As políticas públicas enquanto responsabilidade do Estado promovem a manutenção de diferentes organismos a partir de decisões relacionadas à política implementada. No entanto, Höfling (2001) considera que essa política não deve ser reduzida a uma mera política estatal. Lima (2018, p. 30) esclarece que “[...] essas políticas públicas, quando relacionadas ao campo da educação, costumam ser entendidas de forma mais restritiva, uma vez que as políticas públicas educacionais regulam e orientam os sistemas de ensino, instituindo a educação.” Nesse sentido, podemos então dizer que a educação está inserida na política pública de uma sociedade? A resposta é sim! O desenvolvimento educacional de um grupo social ao ser imposto requer ações cuja responsabilidade é direcionada ao Estado e aos demais organismos que interferem diretamente na esfera política de determinado povo. Molina e Rodriguez (2022, p. 43) afirmam que “[...] dentro da conjuntura capitalista, o Estado é um agente regulador, que se utiliza de políticas sociais para garantir a manutenção das relações capitalistas em sua totalidade.” Complementando, as políticas sociais podem ser identificadas também como as políticas que abrangem o desenvolvimento da educação, saúde, previdência, habitação, saneamento entre outros. Assim, para Höfling (2001, p. 31) “as políticas sociais – e a educação – se situam no interior de um tipo particular de Estado. São formas de interferência do Estado, visando a manutenção das relações sociais de determinada formação social.”. Ainda para esse autor, as políticas sociais referem-se às: [...] ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefí- cios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais pro- duzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais (Höfling, 2001, p. 31). Neste sentido, a educação é inserida no contexto das políticas públicas e sociais, pois ela é vista como um meio formativo capaz de desenvolver o cidadão como um sujeito ativo para o novo século, superando todas as disfunções da sociedade. Desenvolve-se assim princípios responsáveis pelo desenvolvimento dos educandos caracterizado pelas políticas educacionais, esta, por sua vez, é a responsável pela organização dos sistemas brasileiros de ensino. Para compreendê-la em sua totalidade, Lima (2018, p. 30) ressalta alguns pontos a serem considerados, como: históricos, econômicos, políticos e culturais. A concepção histórica é identificada como um aspecto dominante na organização educacional, uma vez que a educação enquanto ato político possui a sua estruturação pautada no período histórico no qual determinada sociedade se encontra. Por exemplo, no início do século XX, onde a educação passou por modificações para formar indivíduos que atendessem à industrialização social. Assim, Lima destaca que: 12UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO Essas ações são reforçadas a partir das ideias do Manifesto dos Pio- neiros da Escola Nova, de 1932, e da própria Constituição de 1934, que coloca a prioridade e a obrigatoriedade no ensino primário a to- dos. Devido à necessidade de apoiara expansão industrial e a cres- cente urbanização e de erradicar o analfabetismo que assolava mais da metade do público adulto na época, foram criadas as primeiras campanhas voltadas para a alfabetização desse público (LIMA, 2018, p. 31). Após o processo de redemocratização do ensino brasileiro, entram em ação os aspectos econômicos que também afetam a organização educacional. Nesse sentido, cabe ao gestor organizar como os recursos serão destinados aos programas voltados para a educação. Para complementar, temos o contexto político que, como já falamos anteriormente, se faz presente nas políticas públicas e educacionais, pois Lima (2018, p. 32) destaca que “[...] elas envolvem os embates entre os posicionamentos ideológicos que compõem os movimentos políticos presentes no País”. Devemos ter claro em nossa mente que esse contexto político vai além das questões político-partidárias, pois as políticas educacionais estão amparadas por movimentos sociais cujo objetivo é a promoção de direitos comuns para alunos inseridos na educação básica e superior. O Brasil é um país multicultural e, por isso, possui os aspectos culturais inseridos nas políticas públicas educacionais. Lima (2018, p. 33) destaca que os pressupostos culturais “[...] podem retratar a cultura hegemônica da sociedade, representando o poder de algum grupo específico que, a partir de sua articulação, consegue impor seu modelo educacional.”. É importante identificar quais são os aspectos culturais que envolvem o nosso entendimento para a importância de compreender as diferentes culturas existentes em nosso país, pois é assim que o ensino se desenvolve, pautado na igualdade de acesso educacional. Contudo, devemos agora voltar os nossos estudos para compreender: Qual a formação pretendida após a globalização para que o cidadão possa viver plenamente em sociedade? Essa é a questão que buscaremos responder em nosso próximo tópico. 13UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Olá aluno (a), nesse momento cabe refletirmos sobre a seguinte questão: qual a formação pretendida após a globalização para que o cidadão possa viver plenamente em sociedade? Historicamente, passam a propor um novo modelo educacional que seja capaz de reduzir os índices de pobreza nos países globalizados, de acordo com Lima (2018, p. 14-5) “[...] as políticas públicas educacionais precisam ser focadas na realidade brasileira e devem ser definidas de acordo com os grupos sociais a que se destinam, bem como ao tipo de relação que têm com as demais políticas públicas.”. Como você pode ver, a política influencia profundamente o cenário educacional, assim como a vida de cada indivíduo que está inserido nesse grupo social. Por isso, é muito importante que você enquanto futuro professor compreenda essa realidade que está exposta a diversas mudanças. Então, vamos lá: a UNESCO[1], assim como o Banco Mundial, também influenciou na organização política de vários países que ainda buscavam o seu desenvolvimento, essa influência esteve amparada pelos processos educacionais, desde as últimas décadas do século XX até os dias atuais. UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 FORMAÇÃO DO CIDADÃO PARA VIVER EM SOCIEDADE TÓPICO 14 Beraldo (2022, p. 58) estabelece que “a UNESCO colabora para o desenvolvimento da educação em aspectos como a formação de professores, a construção de escolas, na disponibilização de materiais que são necessários para promover a educação, propagando a cultura humana.”. Assim, podemos compreender que tanto a UNESCO quanto o Banco Mundial se efetivaram com base em um caráter humanitário, uma vez que seus objetivos estavam pautados na erradicação do analfabetismo nos países globalizados. Partindo disso, é importante que você, aluno (a), compreenda que é a partir das últimas décadas dos século XX que a educação será vista como a base formativa da sociedade brasileira, constituindo-se como pauta nas questões sociais e políticas. Após 1990 a educação assume o compromisso de estabelecer o caminho pelo qual os indivíduos irão se desenvolver, por meio de um ensino sistematizado que seja capaz de aprimorar as aptidões necessárias para o seu conhecimento ao longo da vida. Com base nesse quadro ideológico caracterizado pela Reforma do Estado, a educa- ção deveria formar um novo cidadão que atendesse aos pressupostos da época, ou seja, um cidadão ativo e apto para o trabalho. Beraldo (2022, p.59-60) destaca que: [...] ficam estabelecidos aos brasileiros direitos e deveres a serem exercidos perante a sociedade, uma vez que a educação deve estar voltada para a formação de um novo homem criativo, autônomo, empreendedor, capaz de contribuir para a solução dos problemas sociais, desenvolvendo competências e habilidades práticas. Então, cabe a nós reforçar que nesse contexto político e histórico a educação é a grande responsável pela formação dos cidadãos. Você já se perguntou como ou quem 15UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO [...] a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), caracterizada como uma agência especializada das Nações Unidas (ONU) com sede em Paris, fundada no ano de 1946 com o objetivo de garantir a paz por meio da cooperação intelectual entre as nações. O seu papel foi desenvolvido por intermédio de áreas de conhecimento como: Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura, Comunicação e Informação. Buscando contribuir para a reconstrução de países no pós-guerra e, no final do século XX, passou a desenvolver políticas que, do seu ponto de vista, visam a estabelecer o bem-estar social e a paz mundial por meio da educação. Para isso desenvolve até os dias atuais projetos de cooperação formativa em parceria com os governos de Estados e municípios (BERALDO, 2022, p. 58). estabeleceu os direitos e deveres que foram base para a formação dos novos cidadãos? Pois bem, para responder a essa questão devemos voltar novamente a nossa aten- ção para a UNESCO, que colaborou com a elaboração da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. A Comissão Internacional sobre a Educação foi coordenada pelo francês Jacques Delors, onde o objetivo se voltou para a organização do contexto educacional. Na visão de Delors (1996), a formação desse novo cidadão deveria estar pautada na paz e liberdade social, pois nesse século a educação deveria ser a promotora da igualdade, eliminando todos os aspectos de pobreza e marginalização existentes nos países globalizados. O Relatório que citamos acima não buscou estabelecer a educação como um “remédio milagroso”, mas como uma “porta de oportunidades” que se abria para os indivíduos inseridos no novo século, “[...] como uma via que conduza a um desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autêntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões, as guerras” (DELORS, 1996, p.11). Nesse contexto político, a formação humana esteve pautada no saber fazer, sendo refletida através da educação, onde buscava-se a formação da pessoa enquanto um in- divíduo, grupos e nações. Delors (1996) destaca algumas tensões para o século XXI que deveriamser superadas por meio da formação humana a partir da publicação do Relatório, entre elas: A tensão entre o global e o local: tornar-se, pouco a pouco, cidadão do mundo sem perder as suas raízes e participando, ativamente, na vida do seu país e das comunidades de base. A tensão entre o universal e o singular: a mundialização da cul- tura vai-se realizando progressiva mas ainda parcialmente [...]. A tensão entre tradição e modernidade tem origem na mesma pro- blemática: adaptar-se sem se negar a si mesmo, construir a sua auto- nomia em dialética com a liberdade e a evolução do outro, dominar o progresso científico [...]. A tensão entre as soluções a curto e a longo prazo, ten- são eterna, mas alimentada hoje em dia pelo domínio do efê- mero e do instantâneo, [...]. As opiniões pretendem respostas e soluções rápidas, quando muitos dos problemas enfrentados ne- cessitam de uma estratégia paciente, que passe pela concerta- ção e negociação das reformas a executar. As políticas educati- vas são, precisamente, uma área em que esta estratégia se aplica. A tensão entre a indispensável competição e o cuidado com a igualdade de oportunidades, [...] A Comissão ousa afirmar que, atualmente, a pressão da competição faz com que muitos responsá- veis esqueçam a missão de dar a cada ser humano os meios de poder realizar todas as suas oportunidades [...]. A tensão entre o extraordinário desenvolvimento dos conhe- cimentos e as capacidades de assimilação pelo homem. [...] É necessário, pois, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação básica que ensine a viver melhor, atra- vés do conhecimento, da experiência e da construção de uma cultura pessoal. [...] a tensão entre o espiritual e o material. [...] Cabe à educação a 16UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO nobre tarefa de despertar em todos, segundo as tradições e convic- ções de cada um, respeitando inteiramente o pluralismo, [...]. Está em jogo — e aqui a Comissão teve o cuidado de ponderar bem os termos utilizados — a sobrevivência da humanidade (DELORS, 1996, p. 14-5). Com essa colocação podemos entender que este Relatório buscou atualizar o con- ceito de educação para atender aos desafios que o novo século impunha sobre a formação humana, buscava-se a promoção então da educação ao longo da vida capaz de reforçar a cooperação entre os diversos grupos sociais existentes. Voltado para a finalidade da educação, o Relatório salienta que “[...] a sua realização, longa e difícil, será uma contribuição essencial para a busca de um mundo mais habitável e mais justo” (DELORS, 1996, p. 16). No entanto, como essa formação humana deveria estar organizada? Quais os prin- cípios formativos que a embasam? Delors (1996, p. 89) ressalta que a educação ao promover a formação humana deve estar embasada em quatro pilares que são a base do conhecimento. Nesse contexto his- tórico, “[...] a educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro.”. A educação formadora deveria apresentar o mundo aos alunos, assim como os seus movimentos sociais por meio de quatro aprendizagens identificadas na qualidade de pilares da educação, sendo eles: [...] aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da com- preensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via es- sencial que integra as três precedentes (DELORS, 1996, p. 90). Com base nisso, querido aluno (a), conseguimos identificar que o Relatório defende que os quatro conhecimentos citados devem estruturar o ensino, buscando desenvolver os alunos tanto em seus aspectos práticos quanto cognitivos, para que assim o indivíduo tenha suporte para atuar ativamente na sociedade. Compreendemos que a formação do cidadão para esse período histórico deveria se efetivar por meio da educação, capacitando-os para lidar com as transformações advindas da sociedade. Delors (1996, p.92) esclarece que “[...] o processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer experiência. Neste sentido, liga- se cada vez mais à experiência do trabalho, à medida que este se torna menos rotineiro.”. Resumindo, conseguimos observar a promoção da paz idealizada pela UNESCO a partir da organização educacional que a mesma promove para o novo século, ao valorizar a educação ela está pensando no bem estar das gerações futuras. Desse modo, a educação passa a ser reorganizada para atender aos novos pressupostos da década de 90, a sua reestruturação é pautada pelos aspectos políticos 17UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO e econômicos, mas qual o papel do Estado perante todas essas mudanças políticas e educacionais? Conto com vocês para que juntos possamos identificar a função do Estado no fazer político e na promoção de uma educação gratuita e de qualidade. 18UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Olá, aluno (a), vamos dar sequência em nossos estudos com o seguinte questionamento: qual o papel do Estado perante todas essas mudanças políticas e educacionais? Já refletimos sobre a concepção de políticas e também sobre como foi pensada a formação cidadã para o século XXI, partimos agora para compreender qual o papel do Estado no desenvolvimento social dos indivíduos. Assim, para dar continuidade é importante termos claramente o conhecimento da diferenciação entre Estado e governo. Nesse sentido, Höfling (2001) destaca que: [...] é possível se considerar Estado como o conjunto de instituições permanentes – como órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico necessariamente – que possibilitam a ação do governo; e Governo, como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período (HÖFLING, 2001, p. 31). Partindo da compreensão de Estado, é importante destacar que este não deve ser reduzido a uma mera burocracia, uma vez que ele é o responsável por colocar as políticas sociais em prática desde a sua implementação até a manutenção. Por políticas sociais podemos entender as ações que visam o bem estar da sociedade, voltadas especialmente para a distribuição de benefícios implementados pelo Estado que visam a diminuição das desigualdades e o desenvolvimento econômico previstos desde meados do século XX. UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 FUNÇÃO DO ESTADO TÓPICO 19 No interior da concepção capitalista, o Estado é identificado como um órgão regulador que, ao utilizar as políticas sociais eleva e garante cada vez mais as relações capitalistas. Assim, o Estado no aspecto capitalista cuida “[...] não só de qualificar permanentemente a mão-de-obra para o mercado, como também, através de tal política e programas sociais,procuraria manter sob controle parcelas da população não inseridas no processo produtivo (HÖFLING, 2001, p. 33). Nesta reflexão podemos entender que a educação enquanto política social está situada no interior dos Estados sendo uma das maiores promotoras das relações sociais existentes no neoliberalismo. Nesse sentido, Molina e Rodrigues ( 2020, p. 24) destacam que “[...] o Estado se utiliza da promulgação de políticas públicas de cunho social para naturalizar suas ações perante a massa popular.”. Por movimento neoliberal podemos compreender um “[...] conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defendem a não participação do Estado na economia, entendendo que a partir da liberdade no comércio haverá o crescimento econômico e social de um país” (LIMA, 2018, p. 32). Além disso, em um ambiente neoliberal ocorre a ênfase na globalização, ou seja, efetivam a ideia das privatizações, onde as decisões, na maioria das vezes, são tomadas por agências reguladoras. Höfling (2001, p. 37) destaca ainda que: Para os neoliberais, as políticas (públicas) sociais – ações do Estado na tentativa de regular os desequilíbrios gerados pelo desenvolvimento da acumulação capitalista – são consideradas um dos maiores entraves a este mesmo desenvolvimento e responsáveis, em grande medida, pela crise que atravessa a sociedade.”. 20UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO Com base na concepção capitalista, te convido para fazer a seguinte reflexão referente ao papel do Estado perante a educação: Nestes termos, entendo educação como uma política pública social, uma política pública de corte social, de responsabilidade do Estado – mas não pensada somente por seus organismos. As políticas sociais – e a educação – se situam no interior de um tipo particular de Estado. São formas de interferência do Estado, visando a manutenção das relações sociais de determinada formação social (HÖFLING, 2001, p. 31). A partir das mudanças deliberadas na função do Estado por conta do contexto neoliberal, as instituições de ensino passam a ser vistas com outros olhos, ou seja, são improdutivas sob a ótica mercadológica. Vai se perdendo o caráter da construção dos direitos sociais, dando abertura para atender às necessidades do mercado de trabalho. Com base nisso, podemos afirmar que as modificações impostas não se restringiram aos conteúdos, mas sim às políticas que delineiam o sistema educacional, como as formas de gestão, de controle e de financiamento da educação. Vamos juntos analisar em nossa próxima unidade como se deu a reforma do sistema educacional no Brasil que buscou promover a solução de problemas por meio da mobilida- de social. 21UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos esta unidade com a reflexão voltada para a compreensão da concepção de políticas e formação cidadã. Com base nisso, conseguimos identificar que fazemos parte de uma sociedade cujo movimento é dialético, ou seja, uma sociedade capitalista e contraditória, onde suas transformações buscam embasar o desenvolvimento do capital. Partindo desse pressuposto, evidenciamos que o conceito de política está para além dos aspectos partidários, pois a política está inserida em nosso cotidiano por meio de nossas ações. Destacamos a política enquanto um conjunto dos mecanismos reguladores da totalidade social, sendo ela caracterizada pelo exercício de poder. Por isso, podemos dizer que estudar política é necessário e importante, pois é através de sua compreensão que o indivíduo adquire a percepção de que todas as suas decisões completam interesses e que esse por sua vez faz parte de um grupo social. É por meio da polarização política que o Brasil se desenvolve, garantindo o seu espaço na agenda de globalização dos países que buscavam a reprodução do capital. Com a unificação dos países que almejam o mesmo ideal político no século XX, foi pensando sobre a necessidade de promover novos aspectos formativos para o cidadão do novo século. Nessa nova formação ganha ênfase o Relatório promovido pela UNESCO no ano de 1996, com a direção de Jacques Delors, onde a formação humana deveria estar embasada em quatro pilares do conhecimento, sendo eles: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver junto e aprender a ser. Nesse contexto social, a educação deveria formar o homem para além do ambiente escolar, ou seja, este indivíduo deveria estar apto para atuar ativamente na sociedade por meio do mercado de trabalho e isso, na visão da UNESCO, apenas ocorreria se o ensino estivesse correlacionado com a prática. Por fim, cabe reforçar que nesse contexto político e histórico neoliberal o Estado possui ações mínimas e a educação, mesmo com todas as suas formulações, ainda é a grande responsável pela formação dos cidadãos. UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO 22 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o material indicado abaixo e faça suas reflexões. HOFLING, Eloísa de Mattos. Estado e políticas (públicas) sociais. Cad. CEDES, v. 21, n. 55, p. 30-41, nov. 2001. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccedes/a/pqNtQNWnT- 6B98Lgjpc5YsHq/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 14 out. 2022. RESUMO: Para melhor compreensão e avaliação das políticas públicas sociais implemen- tadas por um governo, é fundamental a compreensão da concepção de Estado e de política social que sustentam tais ações e programas de intervenção. Visões diferentes de socie- dade, Estado, política educacional geram projetos diferentes de intervenção nesta área. Este texto objetiva trazer elementos que contribuam para a compreensão desta relação, enfocando autores que se aproximam da abordagem marxista e da neoliberal sobre o tema. MOLINA, A. A.; RODRIGUES, A. A. Estado, Políticas Públicas e Formação Docente no Brasil: direcionamentos a partir do início do século XXI. 2020. Ensino Em Revista, 27(1), 40–67. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/emrevista/article/view/52744. Acesso em: 14 out. 2022. RESUMO: A educação e a formação docente precisam ser compreendidas a partir de uma vertente totalizante, estabelecendo-se uma relação com a economia e a política, cuja fina- lidade é perceber as contradições e as ideologias presentes nas políticas educacionais em geral. Partindo desse princípio, o objetivo deste estudo é apontar o papel do Estado nas políticas públicas para a educação no Brasil a partir do inicio do século XXI, enfatizando as políticas destinadas à formação docente. Para atender tal proposto, a pesquisa se pautou em um estudo bibliográfico, por meio de uma concepção teórica pautada no materialismo histórico e dialético. Os resultados mostraram que as políticas públicas destinadas à for- mação docente no Brasil estão imbricadas com a forma de organização e de administração do governo federal, consequentemente com as determinações socioeconômicas e políticas que regem as ações governamentais do país. UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO 23 https://www.scielo.br/j/ccedes/a/pqNtQNWnT6B98Lgjpc5YsHq/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/ccedes/a/pqNtQNWnT6B98Lgjpc5YsHq/?format=pdf&lang=pt https://seer.ufu.br/index.php/emrevista/article/view/52744 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Políticas públicas e educação Autor: Caroline Costa Nunes Lima; Pablo Bes; Alex Ribeiro Nu- nes; Simone de Oliveira; Glória Freitas. Editora: SAGAH EDUCAÇÃO S.A. Sinopse: O estudo das políticas públicas e sua interface com a educação proporciona aos futuros professores a compreensão crítica das políticas educacionais, dos fundamentos teóricos das políticas, de aspectos essenciais da organização e da legis- lação da educação brasileira. Neste livro estão reunidos alguns temas relevantes para reflexão pelos futuros professores em sua prática educativa, temas esses que também podem ser um ponto de partida para a formação depesquisadores nessa área. A necessidade de interlocução com outros campos do conhecimento científico faz da disciplina de políticas públicas e educação uma disciplina ímpar. Além de compreender as di- ferentes concepções e matrizes teóricas jurídico-normativas e dialéticas, a forma como estão estruturados os capítulos deste livro permitem analisar o contexto da prática política em educa- ção no cotidiano escolar. Trata-se de uma leitura enriquecedora para quem busca uma prática refletida e transformadora. FILME/VÍDEO Título: Escritores da Liberdade Ano: 2007 Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell aposta em métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhe- cimento e reconhecendo valores. UNIDADE 1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE POLÍTICA E ESTADO 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Conceitos e Definições do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova no Brasil. • Breve histórico das Leis de Diretrizes e Bases da Educação – Lei n. 4024/61; Lei n. 5692/71. • Constituição Federativa do Brasil de 1988. • A nova LDB e os avanços quanto ao direito à educação. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar o Manifesto dos Pioneiros da Educação no Brasil; • Analisar as políticas públicas que organizam a legislação da educação básica; • Estabelecer a importância da Constituição Federativa do Brasil de 1988; • Compreender a nova LDB e os avanços quanto ao direito à educação. 2UNIDADEUNIDADEASPECTOS LEGAIS ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASILBÁSICA NO BRASILProfessora Mestra Mylena Mikaellen Beraldo INTRODUÇÃO Você já se perguntou quais caminhos a educação brasileira percorreu para ser reconhecida em sua organização atual? A fim de compreender essa questão, iremos nos colocar diante da organização educacional brasileira desde os seus primórdios. Nessa unidade vamos compreender como se deu o movimento social do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova no ano de 1932, movimento este que revolucionou a compreensão da educação enquanto meio de formação humana. Partindo de um olhar crítico, vamos juntos acompanhar as principais linhas normativas que regem o caráter educacional brasileiro. O importante nessa nossa caminhada é que você, aluno (a), compreenda que as mudanças previstas na educação estão inteiramente ligadas ao movimento social existente. Vimos anteriormente que as políticas públicas são essenciais para a organização do fazer pedagógico, uma vez que essa trabalha para o desenvolvimento de melhorias voltadas para o cidadão. Cabe agora, compreender quais são os pilares normativos que dispõe direitos e deveres sobre a formação humana. Quando estudamos as normas voltadas para a educação, além de levar em consideração o momento histórico no qual a mesma foi promulgada, devemos compreender também qual o tipo de cidadão pretende-se formar. Dessa forma, vamos analisar a formação social a partir da Lei de Diretrizes e Bases da educação e da Constituição Federal de 1988. Convido você para analisar criticamente todas as mudanças sociais e compreender como a política influencia diretamente a organização educacional, visando a formação de um cidadão ativo na sociedade. BONS ESTUDOS. UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. 26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para compreender os principais aspectos que totalizaram na organização educacio- nal brasileira, vamos inicialmente nos dispor a identificar qual foi o papel do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova na formação humana para a década de 30. Este movimento liderado pela Escola Nova totalizou na construção de um documento escrito, majoritariamente, por Fernando de Azevedo e assinado por 26 educadores, dentre eles dois signatários importantes para o âmbito educacional, como: Anísio Spinola Teixeira e Cecília Meirelles, no dia 19 de março de 1932, intitulado como “A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo”. De acordo com Vidal (2013, p. 579), o Manifesto lutava pelo “[...] movimento de renovação educacional brasileiro, como se indica em seu próprio título. Vinha a público no âmago das disputas pela condução das políticas do recém-criado Ministério da Educação e Saúde no Brasil (1930) e seu texto exibia um triplo propósito”. O documento visa promover uma nova organização para o sistema educacional brasileiro pautado nos aspectos da Escola Nova. Cunha e Souza (2011, p.853) esclarecem que “[...] o escolanovismo, tanto no Brasil quanto em outros países, apresentou grande dispersão de temas e abordagens”, dentre eles estão as formações idealizadas para formar um novo cidadão. Podemos identificar abaixo: • formação da personalidade integral do educando, tendo em vista não apenas o desenvolvimento de atributos individuais, mas especialmente a reordenação da sociedade, o que caracteriza uma educação socializadora/civilizadora; • aproveitamento das experiências cotidianas dos alunos sem desprezar os conteúdos das matérias escolares, o que se materializa por meio da renovação dos métodos de ensino; • redirecionamento da mentalidade dos professores, envolvendo novas concepções morais e sintonia com os avanços da modernidade, em que se incluem as contribuições das ciências à educação e a universalização do acesso à escola (CUNHA; SOUZA, 2011, p. 853). UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA NO BRASIL TÓPICO 27 Diante dos itens apresentados na citação acima conseguimos identificar a supervalorização da experiência do aluno em prol do seu desenvolvimento social e intelectual. Este movimento de reorganização educacional buscou, além de promover mudanças voltadas para o público discente, redirecionar a formação de professores a fim de promover a universalização do ensino. O Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932) divulgou propósitos a serem seguidos, inicialmente, esse documento evidenciou a necessidade de estabelecer a modernização do sistema educativo brasileiro, assim como da sociedade no geral. Vidal (2013, p. 579) destacaque “[...] além da laicidade, da gratuidade, da obrigatoriedade e da coeducação, o Manifesto propugnava pela escola única, constituída sobre a base do trabalho produtivo, tido como fundamento das relações sociais”. Nesse contexto, o Estado estava ao centro da organização educacional, sendo ele o principal responsável pela qualidade do ensino. É importante, aluno (a), que você compreenda que a Escola Nova se diferencia do ensino tradicional, uma vez que o seu desenvolvimento está pautado na organização científica e exploratória da escola, ou seja, encaram a experiência do aluno como sendo um meio qualitativo capaz de gerar mudanças intelectuais. No entanto, apesar de muita luta, Vidal chama a nossa atenção para o seguinte aspecto: Foi somente a partir dos anos 1980 que o Manifesto começou a ser revistado pela investigação acadêmica e que foram questionados seus dispositivos discursivos. Os pioneiros emergiram como um grupo cuja coesão não era fruto da identidade de posições ideológicas, mas estratégia política de luta, conduzida no calor das batalhas pelo controle do aparelho educacional (VIDAL, 2013, p. 580-90). Assim, as atenções voltaram-se para os escritos apresentados no Manifesto durante o final do século XIX e início do século XX, onde buscaram compreender como reduzir o vazio educacional discutido no documento. Para o documento, desde a década de 30 a finalidade da educação estava voltada para a formação ideal do homem, girando em torno da concepção da vida em sua plenitude. Para compreender o teor pedagógico no qual o Manifesto estava embasado, Vidal (2013, p. 581) nos mostra que “[...] a Escola Nova evidenciou- se como fórmula, com significados múltiplos e distintas apropriações constituídas no entrelaçamento de três vertentes: a pedagógica, a ideológica e a política”. Com base na vertente pedagógica, a precarização de conceitos utilizados permitiu que a Escola Nova reunisse diferentes tipos de educadores em prol de um mesmo objetivo, por exemplo, os educadores católicos e liberais voltados para uma educação ativa e universal. Seguindo o aspecto da vertente ideológica cabe destacar que, nesse momento, a educação é vista como um meio de formação e unificação social, ou seja, promovendo a transformação da sociedade atendendo as necessidades de diferentes grupos sociais. Logo na dimensão política, promove-se o ideal de que a Escola Nova passará a ser vista na qualidade de renovação social e educacional. 28UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. Diante disso, te convido a fazer a seguinte reflexão voltada para os objetivos estabelecidos no Manifesto: Não deixa de ser elucidativo perceber o Manifesto como parte do jogo político pela disputa do controle do Estado e de suas dinâmicas, e, portanto, como elemento de coesão de uma frente de educadores que, a despeito de suas diferenças, articulava-se em torno de alguns objetivos comuns, como a laicidade, a gratuidade e a obrigatorieda- de da educação. Mas não foi apenas isso. O documento também foi representante de um grupo de intelectuais que abraçava um mesmo projeto de nação, ainda que com divergências internas. O expediente da organização de frentes, aliás, foi comum no final dos anos 1920 e no início da década de 1930, constituindo-se na estratégia utilizada para a conjugação de forças em torno de um ideal comum (VIDAL, 2013, p. 584). Ora, então este documento também pode ser encarado como uma jogada política? Sim, aluno (a), cabe a nós compreender que a educação mantém a sua organização embasada nos pressupostos políticos do contexto no qual estão inseridos. Dessa forma, colocando o Estado enquanto responsável pela reorganização do ensino, assumem a direção política educacional, buscando habilitar uma nova formação social. Com base nisso, o Manifesto (1932) salienta que: A nova doutrina, que não considera a função educacional como uma função de superposição ou de acréscimo, segundo a qual o educan- do é "modelado exteriormente" (escola tradicional), mas uma função complexa de ações e reações em que o espírito cresce de "dentro para fora", substitui o mecanismo pela vida (atividade funcional) e transfere para a criança e para o respeito de sua personalidade o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da educação (MANI- FESTO, 2006, p. 195). Diante da citação acima, cabe destacar que o Manifesto defende os processos mentais como funções vitais do ser humano. Nesse sentido, cabe à escola desenvolver este ser humano por meio de uma educação funcional "[...] favorável ao intercâmbio de reações e experiências [...]" (MANIFESTO, 2006, p. 196). Assim, o aluno irá se desenvolver naturalmente, sendo levado ao caminho do mercado de trabalho conforme os seus interesses e necessidades. O Manifesto (2006, p.1996) considera uma nova concepção de escola a ser desenvolvida, que vai contra as concepções passistas das escolas tradicionalistas, nesse sentido a base dessa nova escola deve estar pautada na “[...] atividade espontânea, alegre e fecunda, dirigida à satisfação das necessidades do próprio indivíduo”. A educação pautada nos princípios citados acima influência em uma reorganização da educação pública, visando as necessidades dos alunos e do Estado. Sendo assim, Vidal traz essas reflexões para dos dias hoje, ressaltando que: 29UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. Reler o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova nos dias de hoje implica percebê-lo como peça política do debate educacional situado no início dos anos 1930, indiciando os grupos em disputa e o movimento, operado pelo texto, de ressignificação das propostas educativas e dos objetos em confronto com o propósito explícito de orientar as políticas educativas do novo Ministério da Educação e Saúde. Implica também compreendê-lo como monumento da memória educacional brasileira, muitas vezes revisitado pelos próprios pioneiros ao longo do tempo como estratégia de legitimação de intervenção no campo educacional. Esvaziado das condições de emergência, o Manifesto sobreviveu como uma carta de princípios pedagógicos, como um marco em prol de uma escola renovada, mas principalmente em defesa da responsabilidade do Estado pela difusão da educação pública no país (VIDAL, 2013, p. 586). Com essa colocação, Vidal (2013) reforça o momento em que o Estado se tornou o responsável pela organização da educação brasileira, pautado em um aspecto político e social. Podemos destacar a luta pela educação gratuita, laica e de qualidade, capaz de formar todos os cidadãos para atuar enquanto um cidadão ativo, independente de sua classe social. Cabe destacar, querido (a) aluno (a), que o Manifesto dos Pioneiros da Educação não é considerado como uma reforma, mas sim como a iniciativa de mudança educacional, alienando-a aos aspectos políticos e sociais. Nesse sentido, veremos no próximo tópico um breve histórico do realinhamento normativo brasileiro, destacando os principais conceitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 4024/1961 e Lei n. 5692/71). Conto com você, para que juntos possamos entender como os aspectos normativos vêm promovendo a educação brasileira até os dias atuais. 30UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O movimento social estabelecido após o desenvolvimento escolanovista promove uma renovação no contexto educacional brasileiro, totalizando em uma educação pautada no desenvolvimento do aluno por meio de suas experiências e bem-estar social. Para nortear essa nova concepção educacional foi promulgada no ano de 1961, durante o governo de João Goulart (1961-1964), a primeira Lei de Diretrizes e Bases da educação n° 4024/1961, cujo principal objetivo estava caracterizado pela promoção de uma educação nacional com base nos princípios de liberdadee nos ideais de solidariedade humana. Como exposto no Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932) o ensino deveria se voltar para a formação vital do indivíduo, garantindo o desenvolvimento da aprendizagem por meio de suas experiências. Nesse sentido, a LDB n° 4024/61 é promulgada no intuito de redefinir e organizar o ensino brasileiro. Assim, a educação deveria abranger os seguintes aspectos: a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem; c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional; d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua participação na obra do bem comum; e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades do meio; f) a preservação e expansão do patrimônio cultural; g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça (BRASIL, 1961). UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 BREVE HISTÓRICO DAS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO – Lei n. 4024/61; Lei n. 5692/71 TÓPICO 31 A educação torna-se, a partir desta Lei, direito de todos, podendo ocorrer no ambiente escolar ou no próprio lar do aluno. Cabe, nesse momento, ao Estado a obrigação de fornecer os recursos necessários para que esta educação seja efetivada na instituição primária, médio e superior. De acordo com o “Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância” (BRASIL, 1961). A finalidade dessa educação está voltada para “o desenvolvimento do raciocínio e das atividades de expressão da criança, e a sua integração no meio físico e social” (BRASIL, 1961). O presente documento estabelece em seu Art. 26 que “[...] o ensino primário será ministrado, no mínimo, em quatro séries anuais” (BRASIL, 1961), podendo ser estendido para até 6 anos. Já em seu Art. 33 o documento prevê a organização para o ensino médio, promovendo a formação do adolescente que já finalizou o ensino primário. Desse modo, o Art. 34 esclarece que “o ensino médio será ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial, e abrangerá, entre outros, os cursos secundários, técnicos e de formação de professores para o ensino primário e pré-primário”. Cada ciclo estabelecido para o ensino médio deverá ser composto por disciplinas e práticas educativas, tanto obrigatórias quanto optativas. No entanto, para realizar a matrícula na 1ª série do ciclo colegial será exigida conclusão do ciclo ginasial. Dessa forma, o ensino médio se organiza com base nos seguintes itens: I - Duração mínima do período escolar: a) cento e oitenta dias de trabalho escolar efetivo, não incluído o tempo reservado a provas e exames; b) vinte e quatro horas semanais de aulas para o ensino de disciplinas e práticas educativas. II- cumprimento dos programas elaborados tendo- se em vista o período de trabalho escolar; III- formação moral e cívica do educando, através de processo educativo que a desenvolva; IV- atividades complementares de iniciação artística; V- instituição da orientação educativa e vocacional em cooperação com a família; VI - frequência obrigatória, só podendo prestar exame final, em primeira época, o aluno que houver comparecido, no mínimo, a 75% das aulas dadas (BRASIL, 1961). Com base nisso, fica a cargo da instituição de ensino organizar o ano letivo junta- mente com profissionais qualificados, com base na realização das disciplinas obrigatórias e facultativas, promovendo o desenvolvimento do aluno em sua totalidade. As disciplinas facultativas poderiam ser escolhidas pelo próprio estudante, levando em consideração os seus interesses e a sua experiência. 32UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. No ciclo ginasial eram ministradas as disciplinas de línguas estran- geiras modernas, música (canto orfeônico), artes industriais, técnicas comerciais e técnicas agrícolas, enquanto no colegial eram oferecidas as de línguas estrangeiras modernas, grego, desenho, mineralogia e geologia, estudos sociais, psicologia, lógica, literatura, introdução às artes, direito visual, elementos de economia, noções de contabilidade, biblioteconomia, puericultura, higiene e dietética (SOUZA, 2008, p. 234). A nova LDB promoveu uma reorganização no sistema educacional brasileiro, de modo que, disciplinas que anteriormente eram vistas como obrigatórias passaram a ser optativas colocando os profissionais da educação frente a uma nova concepção educacional. Voltado para a organização do ensino superior, a LDB 4024/61 considera em seu Art. 66 que “[...] o ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, e a formação de profissionais de nível universitário.” (BRASIL, 1961). Sendo assim, a LDB 4024/1961 pretendia uma nova formação para o profissional da educação em seu Art. 52, onde “o ensino normal tem por fim a formação de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares destinados ao ensino primário, e o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relativos à educação da infância.”. Assim, de acordo com Saviani (1991): Com o escolanovismo, o que ocorreu foi que a preocupação política em relação à escola refluiu. De uma preocupação em articular a escola como um instrumento de participação política, de participação democrática, passou-se para o plano técnico-pedagógico. [...]. Passou-se do ‘entusiasmo pela educação’, quando se acreditava que a educação poderia ser um instrumento de participação das massas no processo político, para o ‘otimismo pedagógico’, em que se acreditava que as coisas vão bem e se resolvem no plano interno das técnicas pedagógicas. [...]. A Escola Nova vem transferir a preocupação dos objetivos e dos conteúdos para os métodos e da quantidade para a qualidade (SAVIANI, 1995, p. 62). Saviani (1995) esclarece na citação acima alguns aspectos voltados exclusivamente para a educação proposta no interior da escola nova. Entretanto, o autor evidencia a sua crítica voltada para o escolanovismo onde a participação social e política sobressaía a formação humana, assim “[...] quando a burguesia acenava com a escola para todos (é por isso que era instrumento de hegemonia), ela estava num período capaz de expressar os seus interesses abarcando também os interesses das demais classes.” Passando por esse momento histórico, já no governo de Emílio Garrastazu Médici, temos a readequação da Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 em sua reorganização buscou fixar Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º grau e outras providências. Este documento atualizado trouxe o ensino de 1º e 2º grau pautado pelo objetivo de proporcionar ao aluno a formação amparada no desenvolvimento de suas potencialidades 33UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. como elemento de autorrealização. Com isso, uma educação eficaz era aquela que preparava o indivíduo, qualificando-o para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. Partindo dessa flexibilidade do ensino, Saviani (1995) salienta que: Uma outra "descoberta" da Lei nº 5.692 foi a reformulação curricular atravésde atividades, áreas de estudos e disciplinas, determinando que o ensino, nas primeiras oito séries, se desenvolvesse predomi- nantemente sob a forma de atividades e áreas de estudo. Ora, essas atividades e áreas de estudos são outra maneira de diluir o conteúdo da aprendizagem das camadas populares; e todos sabem que isso efetivamente ocorreu e vem ocorrendo (SAVIANI, 1995, p. 65). Assim, para o autor a nova LDB 5692/71 dilui o conteúdo educacional para as camadas populares. Contudo, reforça a importância dos conteúdos fundamentais mediados no ensino sistematizado, pois essa é a única maneira de formar um indivíduo crítico. Para Saviani (1995), o domínio da cultura por parte de diferentes grupos sociais é um instrumento indispensável para que esses grupos se adentrem nas organizações políticas. De acordo com a LDB 5692/71, o ensino de 1º grau se destina à formação da criança e do pré-adolescente, variando em conteúdo e métodos segundo as fases de desenvolvimento dos alunos. Assim, constituirá uma duração de oito anos letivos e compreenderá, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades (BRASIL, 1971). Por outro lado, o ensino do 2° grau está voltado para a formação plena do adolescente, em seu Art. 22 coloca que “o ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar efetivo, respectivamente.”. Assim, quanto ao 2° grau fica estabelecido na LDB 5692/71 os seguintes itens: a) a conclusão da 3ª série do ensino de 2º grau, ou do correspondente no regime de matrícula por disciplinas, habilitará ao prosseguimento de estudos em grau superior; b) os estudos correspondentes à 4ª série do ensino de 2° grau poderão, quando equivalentes, ser aproveitados em curso superior da mesma área ou de áreas afins (BRASIL, 1971). Diante disso, a formação do ensino superior, especialmente para professores do 1º e 2º graus “[...] será feita em níveis que se elevem progressivamente, com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de desenvolvimento dos educandos.” (BRASIL, 1971). Em seu Art. 30 a LDB 4692/61 estabelece como formação mínima para o exercício do magistério: 34UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação espe- cífica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena. Diferente da LDB 4024/1961 onde o ensino normal tinha como objetivo a formação de professores, nessa reformulação o Art. 30 visa estabelecer a formação superior necessária para cada profissional da educação, assim como a modalidade em que o mesmo deve atuar. Diante de toda a redemocratização do ensino ao longo da história educacional brasileira, conseguimos observar como iniciou as tendências de organização do ensino, pautado em um novo ideal, cujo desenvolvimento humano deve estar voltado para atender aos pressupostos do mercado de trabalho. A partir da promulgação da LDB 5692/71 tínhamos uma base para a estruturação da educação. Contudo, a partir da década de 1980, a partir de diversos movimentos sociais tem- se a necessidade de democratizar o ensino por meio da construção de uma nova Constituição Federal que assegure todos os grupos sociais a uma educação gratuita e de qualidade. Partindo dessa necessidade, visitaremos em nosso próximo tópico como se efetivou a construção da Constituição Federal, conto com vocês para que juntos possamos analisar o documento que rege o nosso país. 35UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Como vimos anteriormente, nas últimas décadas do século XX, a educação passou por diversas mudanças em seus aspectos organizacionais. Dessa forma, constituiu-se como uma pauta importante nos debates de formação social a criação de uma Constituição Federal para o Brasil. Foi no governo de José Sarney, no ano de 1988 que foi promulgada a Constituição Federal do Brasil. De acordo com Beraldo (2022, p. 59) este documento “[...] trouxe para os cidadãos uma importante reformulação no ensino brasileiro, definindo aspectos importantes sobre como o mesmo deveria se desenvolver.” Para o âmbito educacional, a Constituição Federal estabelece em seu Art. 205 que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. A educação com base neste documento deve ser promovida com a colaboração da sociedade visando o pleno desenvolvimento do indivíduo, assim como o seu preparo para o exercício da cidadania e para o mercado de trabalho. Desse modo, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; UNIDADE 2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 TÓPICO 36 VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal; IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida (BRASIL, 1988). Todos os aspectos supracitados colaboraram para a efetivação da melhoria educacional no Brasil prevista desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação. Assim, a instituição de ensino deverá abranger as novas concepções formativas determinadas pela Constituição Federal de 1988, garantindo os direitos sociais estabelecidos aos brasileiros por meio de um ensino gratuito. Nesse momento, aluno (a), é necessário que tenhamos em mente que essa normatização ocorreu após o processo de globalização que estudamos na Unidade I, onde as concepções neoliberais efetivaram novas estruturas normativas com base no desenvolvimento social. Para Beraldo (2022, p. 59) “a Constituição de 1988 representa um avanço significativo em termos dos direitos de cidadania. Por essa razão, foi denominada de Constituição Cidadã”. Nesse aspecto ideológico, a educação é vista como forma de desenvolver um cidadão criativo, autônomo, empreendedor, capaz de contribuir para a solução dos problemas sociais, desenvolvendo competências e habilidades práticas. Com isso, o Art. 208. propõe que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para
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