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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Coma e Morte Encefálica Coma Redução persistente do nível de consciência, que é composta pelo nível de alerta + conteúdo. Níveis de alerta (indica o quão acordado ou alerta o paciente está): - Sonolência: adormece quando não estimulado, abertura ocular ao chamado; - Obnulação; - Torpor: acorda apenas com estímulos vigorosos, com respostas lentas ou inadequadas; - Coma: sem interação com o meio, ausência de resposta aos estímulos, não obedece a comandos Situações que podem levar um indivíduo a ter coma: Intoxicação exógena, alterações de glicemia, alterações de Na, alterações de hormônios tireoidianos, choques, meningite, hemorragia, lesão com efeito de massa (hidrocefalia), desidratação. Conteúdo: funções cognitivas e afetivas (memória, críticas, linguagem, afeto etc). Resumindo: o paciente que encontra-se em coma tem redução persistente da capacidade de interação com o meio e com a percepção de si mesmo. Associado a alterações do exame físico, como diminuição da resposta motora, alteração do ritmo respiratório, reações pupilares e movimentos oculares anormais. 1. Fisiopatologia do coma Lesões diencefálicas ou telencefálicas bilaterais. Lesões no tronco encefálico: acometimento da formação reticular ascendente ou das projeções retículo-talâmicas ou tálamo-corticais. Alterações metabólicas e hipóxia: alterações encefálicas difusas no metabolismo neuronal. 2. Etiologias do coma Causas tóxico/metabólicas: Intoxicações exógenas: álcool, barbitúricos, CO, opioides, BZD. Distúrbios metabólicos: anoxia, cetoacidose diabética, uremia, encefalopatia hepática, hipoglicemia, hipo/ hipernatremia. Infecções: meningite, encefalite, sepse. Choque circulatório. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Estado de mal epiléptico. Encefalopatia hipertensiva. Hipotermia. Causas estruturais: AVCi ou AVCh extensos. AVC do tronco encefálico. Abscesso cerebral, empiema subdural. Trauma: hematoma subdural ou extradural, contusão. Tumores cerebrais. Carcinomatose meníngea. Herniação cerebral. 3. Diagnósticos Diferenciais Síndrome do encarceramento (Locked-in Syndrome) Tetraplegia e incapacidade de fala, com nível de consciência preservado. Lesão aguda na região ventral da ponte (abaixo do núcleo do III nervo craniano), geralmente preservando movimentação ocular. Alterações psiquiátricas: catatonia, conversão. Fraqueza neuromuscular: crise miastênica, Guillain-Barré, uso de bloqueadores neuromusculares sem sedação adequada. 4. Avaliação objetiva do nível de consciência A avaliação mais objetiva da consciência é feita por meio da aplicação da escala de coma de Glasgow, que avalia 3 parâmetros de resposta: abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta motora. 5. Posturas patológicas Decorticação Lesão do trato corticoespinal ACIMA DO MESENCÉFALO (núcleo rubro), com desinibição do trato rubroespinal. - MMSS: Flexão do braço, punho e dedos com adução. - MMII: Extensão e rotação interna. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Descerebração Desinibição do trato vestibuloespinal e formação reticular da ponte, por lesão no tronco cerebral ENTRE A PONTE E O MESENCÉFALO. - MMSS: Extensão dos braços, adução e rotação interna, flexão do punho e dedos. - MMII: Extensão e rotação interna. 6. Alterações do ritmo respiratório 7. Avaliação Pupilar Avaliar tamanho, simetria e reflexo fotomotor direto e consensual bilateral. - Pupila puntiforme lesão da ponte. - Anisocoria lesão com efeito de massa na ponte ou III nervo. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C A. Pupilas normais. B. Pupilas mióticas e simétricas, com reflexos preservados: encefalopatia metabólica, intoxicação por opioides. C. Síndrome de Horner: miose e semiptose, com reflexos normais (lesões hipotalâmicas e de tronco encefálico – pupilas reagentes bilateralmente e miose ipsilateral à lesão). D. Pupila mesencefálica: médias e fixas 4-5mm (MMN: lesão Mesencefálica produz pupilas de tamanho Médio e Não reagentes a luz bilateralmente). E. Pupila tectal: pupilas dilatadas 5-6mm, com reflexos ausentes. F. Pupila pontina: pupilas mióticas (puntiformes), com reflexo preservado (PPP: lesão na Ponte, pupilas Puntiforme e reflexo Preservado). G. Herniação uncal e compressão do 3º nervo: midríase unilateral (anisocoria) e ausência de reflexo do mesmo lado. Sonda no meato acústico e coloca soro gelado ou aquecido = normal seria nistagmo. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 8. Abordagem Inicial do coma A conduta inicial deve ser baseada no ABC primário e secundário com avaliação de vias aéreas, respiração, hemodinâmica e após uma avaliação neurológica mais detalhada. A glicemia deve ser colhida no primeiro momento do atendimento. Em todos os pacientes em coma e que não haja uma causa metabólica conhecida (ex: hipoglicemia), deve ser realizada uma TC de crânio para descartar causa estrutural como hemorragia intracraniana ou tumor cerebral. - Cateter 8L/min em uma narina, tampa a boca e a outra narina. Quando a saturação ficar acima de 97% intubação. Suporte intensivo, monitorização de sinais vitais e estabilização, suporte ventilatório (IOT se ECG ≤ 8), coleta de exames. História e exame neurológico Escala de Coma de Glasgow e Avaliação pupilar e nervos cranianos altos. Correção de causas reversíveis Hiperventilação, manitol: se suspeita de HIC/herniação; Naloxona: intoxicação por opioide; Flumazenil: intoxicação por BZD; Antibiótico: meningite bacteriana. TC de crânio. Considerar EEG, coleta de LCR, RM (é a última que deve ser feita). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Estado Vegetativo Persistente Intermediário entre o coma e a consciência plena. Causado por lesões agudas em hemisférios cerebrais ou após coma prolongado, mantendo o quadro por pelo menos 1 mês. DDx: catatonia, locked-in. Paciente encontra-se vígil, porém inconsciente. Não apresentam fala, compreensão ou movimentação dirigida. Algumas funções do tronco podem persistir Movimentos oculares, Bocejo e espirros, Sorriso e Sono-vigília. Função motora comprometida com espasticidade e posturas anormais. Estímulos dolorosos provocam reações inespecíficas. Incontinência urinária e fecal. Estado Mínimo de Consciência Pacientes que não preenchem critérios para EVP, com alteração importante da consciência, porém mantendo mínima interação com o ambiente. Pode obedecer a alguns comandos, como responder sim ou não. Mutismo Acinético Vigil, mas incapaz de movimentar ou falar. Preservação de reflexos e não há espasticidade. Relacionado com lesões frontais mediais bilaterais, com grave comprometimento de função executiva. Morte Encefálica Ausência de atividade cerebral ou do tronco encefálico de forma complete e irreversível. Os únicos reflexos presentes são os arco-reflexos medulares (ex: cutâneo-abdominal, cutâneo-planar, cremastérico, reflexos osteotendinosos), que não dependem de atividade cerebral. É fundamental haver conhecimento da etiologia do coma, irreversibilidade do estado de coma, ausência de reflexos do tronco cerebral e apneia, ausência de atividade cerebral cortical. Critérios definidos ou atualizados pela Resolução 2173 do CFM, de 2017. Protocolo realizado por 2 médicos diferentes e capacitados, que não façam parte da equipe de captação de órgãos ou transplante: - Acompanhado ou realizado pelo menos 10 protocolos de ME ou feito curso de capacitação. - Um dos médicos deve ser especialista em: medicina intensiva adulto ou pediátrica, neurologia, neurocirurgia ou medicina de emergência. Pré-requisitos de ME: Evidência clínica de coma irreversível, com lesão encefálica de causa conhecida. Exclusão de situações confundidoras,como distúrbios metabólicos graves ou intoxicação. Observação hospitalar por no mínimo 6 horas ou 24 horas se causada for encefalopatia hipóxico-isquêmica. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Sinais vitais: Temperatura central > 35ºC. SO2 > 94%. PAS > 100mmHg ou PAM > 65mmHg (adultos). - Até 5 meses: > 60 ou > 43; - 5m a 2 anos: > 80 ou > 60; - 2-7 anos: > 85 ou > 62; - > 7 anos: > 90 ou > 65. Obs.: Em caso de paciente com SEDAÇÃO contínua, é necessário suspender a sedação e aguardar de 4 a 5 meias-vidas da droga utilizada (ou maior em caso de insuficiência hepática ou renal significativa). Ex: Midazolan tem meia-vida de 1 a 4 horas, então se o paciente fizer uso contínuo desse fármaco deve-se esperar de 5 a 20 horas. Necessário 2 exames clínicos que confirmem coma e ausência de respostas do tronco encefálico. Teste de apneia que confirme ausência de movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios. Exame complementar que comprove ausência de atividade encefálica. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Teste da apneia: Realizado uma única vez por um dos médicos. Ventilação com FiO2 de 100% por 10 minutos. - Gasometria: PaO2 > 200mmHg, PaCO2 35-45 mmHg. Desconectar ventilação mecânica e manter cateter de O2 no tubo traqueal a 6L/min. Ausência de movimentos respiratórios após 10 minutos. - Gasometria: PaCO2 > 55. Reconectar ventilação mecânica. Se hipotensão, hipoxemia ou arritmia cardíaca, colher uma gasometria antes e interromper o teste. Teste positivo: PaCO2 > 55mmHg e sem movimentos respiratórios, mesmo que em menos de 10 minutos. Teste inconclusivo: ausência de movimentos respiratórios, mas PaCO2 < 55mmHg. Teste negativo: movimentos respiratórios, independente do PaCO2. Exames Complementares: Realizado por médico especialista, pode ser feito antes ou após os testes clínicos. Ausência de perfusão encefálica: angiografia cerebral, DTC. Ausência de atividade metabólica encefálica: cintilografia, SPECT cerebral. Ausência de atividade elétrica encefálica: EEG. O horário do último exame clínico ou complementar será colocado na declaração de óbito ou declaração de morte encefálica.
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