Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
83 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 Mecanismo de parto (NAS APRESENTAÇÕES CEFÁLICAS FLETIDAS) Introdução O mecanismo de parto é um conjunto de fe- nômenos ativos e passivos que o feto sofre du- rante sua passagem pelo canal de parto. A maioria dos processos são passivos, ou seja, não são por própria vontade do feto. Variedade de posições Os bebês estão na posição cefálica em 96,5% dos casos. Ponto de reparo: occipício Ponto de referência: lambda Linha de orientação: sutura sagital Tempos do mecanismo de parto Há 6 tempos principais do mecanismo de parto. • Insinuação: Para ajudar na insinuação há 3 mecanismos. Flexão cefálica Assinclitismo e sinclitismo Cavalgamento do crânio fetal • Descida • Rotação interna • Desprendimento cefálico • Rotação externa • Desprendimento do ovóide córmico Insinuação Definição: passagem do diâmetro biparietal (9,5 cm) pelo estreito superior. O diâmetro biparietal é o maior diâmetro. • PRIMIGESTA: Nas primigestas, o encaixe do bebê ocorre cerca de 15 dias antes do parto, quando o ponto de referência está no nível das espi- nhas isquiáticas (ponto zero de De Lee). A gestante pode sentir uma maior pressão na bexiga, maior facilidade para respirar etc No exame de toque do final da gravidez é possível identificar a insinuação. • MULTÍPARA: O colo dilata, as contrações aumentam, a bolsa rompe e, somente depois, há a insinua- ção do feto. Essa é uma grande diferença na insinuação entre a primigesta e a multípara. Fatores que contribuem para a insinuação • Correta flexão cefálica • Assinclitismo e sinclitismo • Cavalgamento do crânio fetal Flexão cefálica Para que possa haver insinuação e passar pelo canal de parto, o feto precisa diminuir seus diâmetros do crânio. Quando o feto realiza a flexão cefálica, es- tará substituindo os diâmetros maiores do crâ- nio por diâmetros menores. O menor diâmetro fetal é o suboccipitobreg- mático (precisa fletir para alcançar esse diâ- metro e conseguir passar pela bacia). 84 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 Começa com o diâmetro occipitofrontal (12 cm) → flete a cabeça e passa para o diâ- metro subocciptofrontal (10,5 cm) → ao fletir completamente chega ao diâmetro suboc- ciptiobregmático (9,5 cm) • INCIDÊNCIA DE APRESENTAÇÕES E PO- SIÇÕES: Em 2/3 dos casos encaixa pelo diâmetro transverso, esquerdo ou direito. Mas a posição esquerda é a mais comum. Portanto, a apresentação e posição mais in- cidente é OET. Na maioria das vezes encaixa pelo diâmetro transverso, direita ou esquerda. Em 60% das gestantes o feto direciona sua sa- tura sagital para o diâmetro transverso da ba- cia. • TEORIA DE ZWEIFEL: A força da contração está empurrando o feto para ↓. Por outro lado, o assoalho pélvico está funcionando como se fosse uma resistência, o resultado dessa força é a flexão cefálica. Insinuação (assinclistismo e sinclitismo) Assinclitismo e sinclitismo: inclinação lateral do polo cefálico para que uma das metades do crânio desça antes da outra. É a inclinação lateral de um osso parietal para que uma das metades do crânio desça antes da outra. O feto vai descer com um parietal, normal- mente começa pelo posterior e, depois, pelo anterior. • TIPOS: ✓ Assinclitismo posterior: É quando o parietal que desce primeiro é o posterior. Quando isso acontece, a satura sa- gital está mais próxima da pube. É o mais frequente, acontece em 75% dos ca- sos, porque a musculatura é boa. Então, a musculatura segura o feto e o joga mais para trás, consequentemente, o osso parietal é o que desce primeiro. ✓ Sinclitismo: Sutura sagital está na mesma distância entre a pube e o sacro, porque quem vai descer depois é o parietal anterior. 85 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 Portanto, funciona da seguinte forma na mai- oria das vezes: o feto começa a descer com o parietal posterior primeiramente (assincli- tismo), depois troca para o sinclitismo (mesma distância), para depois continuar descendo o anterior. ✓ Assinclitismo anterior: Desce primeiro o parietal anterior. Sutura sagi- tal estará mais próxima ao sacro. Nas multíparas, a musculatura é mais flácida. Por isso, pode ser que desça primeiro o parie- tal anterior (apenas em algumas multíparas). • ASSINCLITISMO – TEORIA DE SELHEIM: De acordo com a teoria de Selheim, se há uma elipse que precisa passar por um con- duto menor, essa elipse precisa se dividir em duas para conseguir passar. É exatamente isso que o feto faz, primeira- mente passa um parietal (divide a passagem dos parietais), para depois passar o outro. • CAVALGAMENTO DO CRÂNIO FETAL: Além da flexão e do as- sinclitismo, há fenômenos plásticos, como o caval- gamento. Os ossos occipital e fron- tal se encaixam embaixo dos ossos parietais. Além disso, a borda de um osso parietal se encaixa em- baixo do outro. Dessa forma, pode-se reduzir o diâmetro bipa- rietal e suboccipitobregmático de 0,5 a 1 cm. Descida Definição: passagem do polo cefálico do es- treito superior para o inferior. • GRAUS DE DESCIDA (DE LEE): Feto insinuado: quando o lambda atinge o plano zero de De Lee (espinhas isquiáticas) ✓ Quando o feto está em -1 indica que está a 1cm de sofrer a insinuação. ✓ Quando está em +1 indica que o polo ce- fálico está a 1 cm abaixo das espinhas is- quiáticas. ✓ Bebê nasce quando está em +5. Depois de encaixar, ou seja, quando o feto chega no zero (insinuação total no estreito su- perior) pode-se confirmar que o estreito supe- rior é bom, mas ainda não se sabe o estreito médio e inferior. o Móvel: > -3 cm. o Ajustada ou fixada: -3, -2, -1 cm. o Insinuada: 0 cm. o Fortemente insinuada: +1, +2, +3 cm. o Baixa: +4 ou +5 cm. • CANAL DE PARTO: O canal de parto é um cilindro na forma de “J”, não é fácil de passar. Por isso que precisa de todos os mecanismos, de flexão, cavalgamento etc., para conse- guir atingir o estreito inferior da bacia. 86 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 Rotação interna Definição: mecanismo no qual o diâmetro an- teroposterior do polo cefálico irá coincidir com o maior diâmetro do estreito inferior da bacia. O maior diâmetro do estreito médio da bacia é o anteroposterior (sacro médio púbico - 12 cm), enquanto o menor diâmetro é o trans- verso (bi-isquiático). O feto não consegue nascer transversal- mente, porque o maior diâmetro da bacia é anteroposterior, ou seja, o feto precisa rodar 90º para conseguir nascer. Portanto, para conseguir passar pelo estreito médio é neces- sário que a sutura sagital do bebê se alinhe com o diâmetro anteroposterior da bacia (maior diâmetro). A rotação interna termina quando o feto atinge o assoalho pélvico → para occipitopú- bica na maioria das vezes (o feto nasce olhando para cima). Uma contração uterina ineficiente ou um feto muito grande podem atrapalhar a rotação do feto. • ANTERIOR: Traz o ponto de referência fetal (occipício) para a frente, junto a pube → occipitopubica. • POSTERIOR: O ponto de referência fetal (occipício) roda para trás, em direção ao sacro. 45º nas anteriores (OEA e ODA). 90º nas transversas (OET e ODT). 135º nas posteriores (OEP e ODP). • ROTAÇÃO INTERNA ANTERIOR: • ROTAÇÃO INTERNA POSTERIOR: Em alguns casos, ao invés de rodar para frente, pode rodar para trás. Assim, fica em occipitosacra, o parto se torna mais difícil (feto nasce olhando para baixo). Desprendimento cefálico Definição: movimento de deflexão ou exten- são da cabeça fetal para que ocorra a exte- riorização do maciço frontal (na ordem: bregma, fronte, glabela e mento). Ou seja, o feto precisa fazer o movimento de deflexão no momento do nascimento. Terminadaa rotação interna, a cabeça se desprende do EI graças à retropulsão do cóc- cix (amplia o diâmetro antero-posterior de 9,5 cm para 11 cm) E o suboccipício servirá como superfície de apoio para ajudar o feto a realizar esse movi- mento (se encaixa embaixo da sínfise púbica – hipomóclio). 87 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 Além disso, terá juntamente a retropulsão do cóccix, em que o cóccix se contrai para aju- dar na retroflexão (amplia o diâmetro antero- posterior de 9 para 11 cm). A contração do períneo também ajuda nesse processo. • APÓS ROTAÇÃO ANTERIOR: O diâmetro suboccipitobregmático (10,5 cm) é o primeiro a aparecer. E à medida que o feto vai defletindo a cabeça, passa o diâme- tro suboccipitofrontal (9,5 cm), por último o di- âmetro suboccipitomentoniano (10,5 cm) e ocorre o desprendimento fetal. • APÓS ROTAÇÃO POSTERIOR: Quando o feto está no diâmetro posterior é mais complicado, porque ele precisará ven- cer a parede posterior da pelve, que apre- senta um diâmetro maior. Essa situação é menos comum do que a an- terior. Rotação externa Definição: movimento de restituição, por vol- tar o occipício ao lado materno que ocupava no interior do canal de parto. Depois de desprender, ainda falta a passa- gem dos ombros, e para que isso ocorra, o bebê precisa rodar 90º externamente. Se era uma posição esquerda, vai voltar para a esquerda. E se era uma posição direita, vai voltar para a posição direita. Essa situação se chama movimento de resti- tuição. Se não souber qual posição o feto estava, es- perar que o bebê irá rodar para o lado certo com a ajuda das contrações. Caso saiba a posição anterior, pode ajudar o movimento. Desprendimento do ovóide córmico Definição: exteriorização da cintura escapu- lar e pélvica do feto. Assim que o feto roda, tem o ombro anterior e posterior. Primeiramente é feito o movi- mento de abaixamento do polo cefálico, as- sim, o ombro vai ficar imediatamente abaixo da sínfise púbica, seguida por um momento de elevação para liberar o ombro posterior e, por último, abaixa novamente para libera- ção do resto do feto. Isso ocorre em condições normais. • DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS: • APRESENTAÇÕES CEFÁLICAS DEFLETI- DAS: Deve-se lembrar que o feto pode estar defle- tido. Na defletida de segundo grau, o maior diâ- metro é o occipitomentoniano que tem 13 – 13,5 cm. Não pode ter um parto vaginal, por- que o diâmetro não passa pelo estreito supe- rior da bacia (o transverso médio tem 12 cm). ↓ Indicação clássica de cesárea 88 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 • DISTOCIA BISACROMIAL (OMBRO): É uma emergência obstétrica. A cabeça consegue passar, mas o ombro fica preso. Acontece quando o tempo entre os desprendimentos cefálicos e a liberação do ombro > 60 segundos (na média, ocorre em 28 segundos) ou necessidade de mano- bras para terminar o parto. Incidência de 0,2 a 2% dos casos. Aumenta progressivamente com o peso fetal (fetos macrossômicos). 50% dos casos ocorrem em fetos com peso < 4000g. Existe quase um consenso de que para fetos maiores do que 4 kg se prefere fazer cesari- ana, para não correr o risco, mas mais de 50% dos casos de distocia os fetos não apre- sentam macrossomia. Portanto, é preciso saber realizar as mano- bras em qualquer parto. Porque qualquer parto corre esse risco. Encravamento do ombro anterior acima da pude ou do ombro posterior acima do pro- montório. Macrossomia fetal e DM materno tem risco maior. • DIAGNÓSTICO: ✓ Face pletórica (vai ficando roxo) ✓ Rotação externa difícil (mais lento) ✓ Dificuldade em abaixar ou erguer om- bros. Sinal da tartaruga: não visualiza o ombro do feto e este fica indo e voltando, não conse- gue retirar o ombro debaixo da sínfise púbica. Essa situação precisa ser resolvida em 5 minu- tos, e há procedimentos para resolver esse problema: ALEERTA (procedimentos que aju- dam na saída do bebê). A: ajuda L: levantar as pernas (McRoberts) E: externa (pressão suprapubica: Rubin I) E: episiotomia (avaliar necessidade) R: remover o braço posterior (Jacquemier) T: toque (manobras internas: Rubin II/Woods) A: alterar a posição (Gaskin: 4 apoios) A: ajuda (assistência extra) • Avisar a paciente • Assistência extra: enfermagem, aneste- sia, pediatria • Controlar o tempo (30 a 60 segundos a cada passo) → acidose L: levantar a perna (Manobra de McRoberts) • Cada pessoa le- vanta a perna de um lado da paciente (abdução) • Esse mecanismo isolado pode resolver até 40% dos casos de distocia de ombro. Efeito da manobra de McRoberts: ANTES X DEPOIS Ajuda no desprendimento do ombro. Eleva a sínfise púbica cerca de 9 mm e apro- xima 28 mm, o que melhora a eficiência da contratilidade uterina e ajuda no desprendi- mento do ombro. Geralmente, essa manobra é feita junta- mente com a pressão suprapubica. E: externa – pressão suprapúbica (Rubin I) Exerce uma pressão sobre o lado em que está o ombro do bebê (pressão intermitente), vi- sando empurrar o ombro para o diâmetro obliquo, porque é maior. O índice de sucesso com a associação dessas duas primeiras manobras é em torno de 60%. E: episiotomia Não ajuda na saída do ombro, mas pode aju- dar em relação as manobras que serão feitas (para ter campo). Em geral, a episiotomia é feita para ter campo para fazer as próximas manobras, principalmente quando se tem falha na ma- nobra de McRoberts e suprapúbica falham. 89 ANA PAULA – XXII OBSTETRÍCIA – ATD1 R: retirar o braço posterior (manobra de Jac- quemier) Colocar a mão embaixo da apresenta- ção/embaixo do polo cefálico, segura o braço, pinça e traz pela face anterior do tó- rax. Com isso, o diâmetro que era bisacromial é substituído pelo diâmetro axilo-acromial, ou seja, o diâmetro fica menor. T: toque (manobras inter- nas: Rubin II ou Woods) Rubin II: introdução dos dedos de uma das mãos na vagina, atrás do ombro anterior do feto, e empur- rando o ombro em dire- ção do tórax do feto. Manobra de Woods: consiste na pressão na face anterior (sobre a clavícula) do ombro posterior fetal com o auxílio de dois dedos, com o intuito de rodá-lo 180°. A: alterar a posição (Gaskin: 4 apoios) É uma manobra muito boa, pode inclusive ser a primeira manobra a ser feito. Facilita muito a saída, mas a paciente não pode estar anestesiada. • ETAPA FINAL (outras manobras): ✓ Fratura de clavícula. ✓ Zavanelli (pedir para o anestesita fazer um relaxamente uterino, desfaz a rota- ção externa, empurra o feto de volta para o canal de parto e faz uma cesá- rea) ✓ Sinfisiotomia • COMPLICAÇÕES APÓS MANOBRAS: Maternas: Lacerações perineais de 3º ou 4º grau (3,8%). Atonia uterina com hemorragia (11%). Rotura uterina. Fetais: Lesões do plexo braquial (17%) – transi- tória ou permanente Fratura de clavícula (10%). Fratura de úmero (4%). Para a prova: 1. Como definir insinuação 2. Quais são os tempos do mecanismo de parto 3. O que é rotação interna e externa 4. Se está em defletida de 2º grau porque não pode nascer em parto vaginal 5. Sequência de manobras que devem ser feitas na distocia de ombro
Compartilhar