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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Projeto Pós-graduação Curso Perícia e Auditoria Ambiental Disciplina Perícia Ambiental Tema Introdução à Perícia Ambiental Professor Rubens Corrêa Secco Introdução Neste tema, abordaremos a evolução histórica da tutela legal sobre o meio ambiente e a contextualização da Perícia Ambiental como ferramenta de investigação e mensuração de danos ambientais. Esta visão nos dará condições de compreender as finalidades e aplicações práticas da Perícia Ambiental, os mecanismos mais indicados para cada situação em que for solicitada, e nos facilitará o entendimento quanto às qualificações exigidas do Perito e Assistentes Técnicos. Faremos ainda uma abordagem introdutória sobre as ferramentas e metodologias periciais. A Perícia Ambiental é uma modalidade de Perícia Judicial que tem o Código de Processo Civil como seu marco regulamentador, prevista a partir do artigo 464. Esse será um dos documentos importantes para as reflexões deste tema, por isso acesse a legislação disponível a seguir: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm No material on-line, o professor Rubens Corrêa apresenta os tópicos deste tema. Acesse e consulte o vídeo! Problematização Vamos iniciar a reflexão sobre a Perícia Ambiental analisando um caso de possível dano ambiental, onde uma Perícia poderia ser aplicável. O caso será exposto agora e retomado durante o desenvolvimento de nossa conversa, inclusive nas próximas aulas. Ao final da disciplina, teremos montado todo o cenário desta Perícia Ambiental e definido as necessidades e formas de condução do trabalho, até a geração do Laudo Pericial e Elaboração dos Quesitos pertinentes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 O caso de estudo trata-se da seguinte situação: existe um terreno, de 2ha aproximadamente, localizado a 15 km do centro do município, em área pouco habitada. Foi construído um galpão em alvenaria de cerca de 1.000 m2. Nesse galpão, houve o armazenamento de produtos químicos, de alta toxicidade, nos estados sólido, líquido e pastoso, durante cerca de 10 anos. Após esse período, os produtos foram retirados do local e incinerados. Existe a informação de que o armazenamento não foi feito de forma correta, algumas embalagens não eram apropriadas e não havia bacias de contenção para deter vazamentos. Existem relatos da ocorrência de vazamentos de produtos, há então risco de contaminação do meio ambiente no local, entretanto, existem apenas relatos orais de pessoas que trabalharam no local ou presenciaram os acontecimentos. O único documento físico apresentado é um laudo de análise do solo e água do local, datado da época em que os materiais foram retirados dos galpões. O terreno foi isolado e hoje se encontra abandonado, tendo se passado 15 anos da data da retirada dos produtos do local. Como a cidade cresceu neste período de 25 anos, a área do entorno sofreu naturalmente um processo de urbanização e agora se encontra bem valorizada. O proprietário do terreno tem o objetivo de utilizar a área para construção civil ou vendê-la. Analisando o caso, temos então as seguintes questões: A área pode ser utilizada para o desenvolvimento de uma nova atividade, como construção civil? A nova ocupação da área poderia conter moradias? A requisição de uma Perícia Ambiental seria aplicável? Veremos ao longo de nosso estudo a resposta a essas e outras questões relativas a esse exemplo, pontuando passo a passo e buscando a formulação completa da solução do problema. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Introdução à Perícia Ambiental Contextualização Atual e Análise da Evolução Histórica da Tutela sobre o Meio Ambiente Para compreender as funções da Perícia Ambiental e em que situações ela é requisitada, é necessário analisar o surgimento da tutela do meio ambiente e seu desenvolvimento ao longo do tempo. Embora o ser humano tivesse instintivamente conhecimento de que o meio ambiente natural é essencialmente necessário para sua sobrevivência, apenas recentemente a proteção ambiental tornou-se matéria de preocupação tanto por parte das sociedades quanto pelos legisladores brasileiros. Anteriormente ao século XX havia uma verdadeira falta de consciência quanto ao dever de proteção e respeito à natureza. O desconhecimento quanto aos fenômenos naturais e o impacto do homem no meio em que vivia acarretavam em uma falsa certeza de inesgotabilidade daqueles recursos naturais até então abundantes (Jaques, 2014). A partir da Revolução Industrial e da introdução das premissas do Capitalismo, o qual pressupunha a produção em massa e uso indiscriminado dos recursos naturais, começaram a aparecer sinais de que a exploração desmedida poderia trazer desequilíbrio ao meio ambiente, o que poderia no futuro vir afetar a sociedade. Entretanto, naquela época, não havia uma consciência formada de que os desequilíbrios ambientais estariam sendo causados pelo homem, acreditando-se na capacidade de regeneração total do meio ambiente, muito embora tivesse havido um grande desenvolvimento das ciências até o século XIX, sobretudo da física e da biologia, matérias que, teoricamente, subsidiariam a construção de conceitos concretos sobre o tema. De acordo com o exposto por Soares (2003), nenhum grande pensador teria ousado antepor aos ideais do progresso do homem a necessidade de conservação da natureza e pelos mesmos motivos, ninguém teria interesse em CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 condicionar o desenvolvimento industrial e comercial das nações a valores relacionados ao equilíbrio ambiental. Assim, podemos concluir que a preocupação com o bem-estar do homem advindo da necessidade da proteção ambiental só viria a ter importância como matéria política e legal a partir do século XX, discutida principalmente em convenções internacionais. Sobre esse ponto, sugerimos que faça uma pesquisa sobre a Conferência de Estocolmo de 1972 e sua importância para a legislação ambiental brasileira a partir da introdução do pensamento ambientalista e da problemática ambiental, além de suas contribuições para outras Conferências, como a Rio 92. No âmbito do direito ambiental brasileiro, podemos dizer que até 1981 não havia um conceito formado sobre a definição legal de meio ambiente, o que prejudicava a sua tutela. Embora a Lei no 4.717/1965 tenha sido o primeiro diploma a destacar questões do Direito Material Fundamental, somente com a edição da Lei Federal nº 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, foi conferida legitimidade à matéria ambiental, estabelecendo, pela primeira vez a definição, em seu artigo 3º, §1º, que meio ambiente é, sob a égide do conceito legal: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as formas”. A lei definiu ainda os conceitos de degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais, o que representou um grande impulso na evolução da tutela ambiental no país. Além dessa Lei havia ainda o Código Florestal de 1965, o Código da Caça, o Código das Águas, o Código de Mineração e outras leis esparsas que disciplinavam a matéria ambiental, tornando-a de difícil manuseio (Sirvinskas, 2003). A instituição da Lei 6.938/81 conferiu ao Ministério Público, empresas públicas, fundações entre outras, legitimidade para a proposição de ações de responsabilidade civil e penal por danos ambientais. Contudo, somente em 1985, com a criação da Lei 7.347, a qual veio disciplinar a ação civil pública de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, as ações civis públicas tornaram-se constantes e eficazes.Nesse ponto aparece a primeira perspectiva da Perícia Ambiental como ferramenta de proteção legal ao meio ambiente, quando, em seu art. 8º, §1º, a lei 7.347/85 atribui aos organismos públicos e particulares a obrigação de atender às requisições de informações, exames ou Perícias, com vistas à instrução de procedimentos de investigação de mensuração de danos ambientais. Ainda, com a Lei 9.605/1998 de Crimes Ambientais, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas, o meio ambiente passou a ser protegido administrativa, civil e penalmente. No material on-line, o professor detalha a evolução histórica do entendimento da necessidade de manutenção da qualidade ambiental. Caracterização da Perícia Ambiental, Conceitos Aplicáveis, Importância, Necessidade e Fatores para sua Requisição Já vimos que a Perícia Ambiental foi introduzida na legislação ambiental brasileira como ferramenta de investigação ou esclarecimento acerca de danos ambientais, para possibilitar a tutela deste bem no arcabouço legal do país, administrativa, civil e penalmente. Agora, vejamos o que é uma Perícia Ambiental em seu conceito teórico. O Código de Processo Civil estabelece, no artigo 156, que o juiz será assistido por Perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. A Perícia é conceituada, a partir desta premissa, como um exame ou vistoria de caráter técnico e especializado. É uma avaliação que necessita ser conduzida por um profissional com conhecimento técnico acerca de determinado assunto, para esclarecimento de algum fato ou valoração de um dano ocorrido. De acordo com Cunha e Guerra, (2000) a Perícia Ambiental é o exame realizado por técnico ou pessoa de comprovada aptidão e estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo, que com um deles tenha relação ou CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 dependência, a fim de concretizar uma prova ou oferecer o elemento que necessita a justiça para poder julgar. Para Lazari et al. (2007), a Perícia é o meio de prova destinado a esclarecer o juiz sobre circunstâncias relativas aos fatos conflituosos, que envolvem conhecimentos técnicos ou científicos que não competem ao julgador. Analisando esses conceitos, verificamos que a Perícia Ambiental se aplica em ações judiciais sobre o meio ambiente em que há necessidade da averiguação da existência de fatos danosos e da extensão destes efeitos prejudiciais por profissionais que tenham conhecimentos técnico-científicos especializados, sendo seu objetivo final esclarecer tecnicamente a existência (ou não) e a extensão de dano ambiental em um determinado litígio. As Perícias Ambientais podem ser solicitadas por um juiz, pelo Ministério Público, pelas partes ou eventualmente por algum terceiro interessado no caso. No material on-line, o professor fala sobre a caracterização da Perícia Ambiental. Classificação, Aplicações, Tipos de Perícias Ambientais Conforme vimos anteriormente, a necessidade de produzir uma prova pericial está baseada na sistemática adotada no Código de Processo Civil (CPC) nos artigos 156 e 464, quando se verifica uma necessidade de esclarecimentos técnicos ou aprofundamento da instrução, onde um profissional especializado fará o exame dos fatos da causa e transmitirá o conhecimento ao magistrado, por meio de um parecer. Ainda neste mesmo dispositivo legal tem-se que a Perícia pode ser classificada em exame, vistoria e avaliação, sendo que cada uma dessas provas periciais tem um objetivo específico: a. Exame: este tipo de Perícia destina-se a inspeção ou análise de pessoas, coisas (livros, documentos, papéis em geral), ou semoventes (bens móveis), entre outros; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 b. Vistoria: para a produção de prova pericial neste item, o Perito deve inspecionar locais ou bens imóveis (terrenos, prédios, propriedades); c. Avaliação: geralmente a avaliação é requerida quando há necessidade de estimar valores e quantificar monetariamente determinado bens ou danos. A Perícia pode ainda ser classificada como judicial, extrajudicial e informal: A Perícia Judicial ocorre nos autos do processo, a requerimento das partes em litígio ou decretada pelo juiz. A Perícia Extrajudicial é aplicada nas situações em que é dispensável a presença do Estado através do Poder Judiciário. É um acordo, ajustado entre as partes onde o processo é instruído com o laudo de um Perito o qual, regra geral, conta com a confiança recíproca. É chamada Perícia Informal ou alternativa a que se dispensa a confecção e apresentação do laudo pericial, sendo que o juiz apenas ouve o Perito e os assistentes técnicos em audiência. A prova pericial pode ainda ser dispensada pelo juiz, conforme o CPC, quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem sobre as questões de fato pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes. Além disso, o juiz tem livre convencimento e não está adstrito a conclusão do laudo pericial. No material on-line, o professor fala sobre as classificações, aplicações e tipos de Perícia Ambiental. Perito: Qualificação Necessária do Perito Ambiental e dos Assistentes Técnicos, Funções e Responsabilidades O Perito Ambiental é declarado como auxiliar da justiça no artigo 149 do Código Civil. Como o juiz pode não ter o conhecimento técnico ou científico específico para a dedução judicial de determinado fato ou causa, ele pode CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 solicitar a atuação de um auxiliar, o qual tem a função de levar elementos de convicção, que dependem de conhecimento especial técnico, sobre fatos relevantes da causa, devendo o Perito cumprir as determinações do juiz no tempo e modo por ele estabelecidos. Isso ocorre especialmente em matérias ambientais, em situações em que informações e documentos não são suficientes para elucidar o caso e comprovar a existência de dano, fazendo-se necessária a produção de prova técnica, produzida por profissional especializado na área ambiental. Dependendo da abrangência e da complexidade dos fatos a serem avaliados, o juiz pode nomear mais de um Perito e assistentes técnicos. Conforme já vimos, a atividade pericial em meio ambiente é regida pelo Código de Processo Civil, da mesma forma que as demais modalidades de Perícias. Entretanto, em razão das especificidades das questões ambientais, as Perícias Ambientais também são amparadas pela legislação ambiental vigente no país. O artigo 156, §1º, do CPC, elucida que os Peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados, portanto necessitam de formação de nível superior e registro no conselho de classe competente e, no caso das Perícias Ambientais, estejam capacitados na matéria ambiental através de formação universitária ou especialização. Devem ser pessoas idôneas, comprovar sua especialidade através de uma certidão expedida pelo órgão de classe em que estão inscritos e estarem registrados em um cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Uma lista de Peritos passíveis de nomeação, bem como sua capacidade técnica e área de conhecimento, fica disponível na vara ou na secretaria para consulta de interessados. As partes que integram uma causa judicial têm o direito de nomear Assistentes Técnicos para acompanhar o processo e a atuação do Perito nomeado pelo juiz. Esses assistentes devem ser profissionais legalmente habilitados na matéria a ser julgada e sua função principal é defender o interesse CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 da parte que o contratou para o deslinde do processo da forma mais favorável possível, dentro dos limites da legalidade e da razoabilidade. O Assistente acompanha o desenrolar da prova pericial, podeapresentar sugestões, criticar o laudo do Perito nomeado pelo juiz e apresentar as hipóteses possíveis, desde que técnica e juridicamente sustentáveis, colaborar com os advogados das partes na elaboração de quesitos para esclarecimento concernentes ao objeto da Perícia e fatos discutidos na ação. A sua contratação ocorre pela parte, ou pelas partes com objetivo de assistir aos trabalhos periciais e orientar essa parte em caso de necessidade, podendo tais assistentes emitirem pareceres técnicos. Diferentemente dos Peritos, os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimentos ou suspeição, como ressalta o Art. 446, §1º, do CPC, o que lhes permite ter parentesco com a parte ou trabalhar sem o recebimento de honorários. Além dos Assistentes Técnicos das partes, existe uma outra modalidade de assistente técnico, que é o Assistente Técnico do Perito ou Perito Assistente. Para essa função também é preciso possuir curso superior, registro em conselho de classe e habilidades técnicas relacionadas à natureza da Perícia. A existência de Peritos Assistentes em uma causa pode ocorrer de duas formas: ou é nomeada uma equipe de Peritos pelo juiz, ou o Perito nomeado admite um Perito assistente para o desenvolvimento de seu trabalho, o que irá contribuir para produção da prova pericial, possibilitando que não reine absoluto o entendimento de um Perito apenas, mas um consenso, e ainda haja facilidade e divisão dos trabalhos que poderão ser realizados em menor espaço de tempo para produção do laudo pericial. A posição de Perito Assistente é uma ótima oportunidade para os profissionais que têm pouca experiência na execução de Perícias, pois no desempenho dessa função vão adquirir habilidades, conhecimento jurídico e experiência na produção de provas periciais. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 A função do Perito é produzir a Prova Pericial, o que pode ser feito através da confecção de um laudo pericial ou através da resposta a quesitos elaborados pelo juiz, pelo Ministério Público, pelas partes ou por terceiros eventualmente interessados nos autos. Conforme assegura o Código Civil em seu artigo 473, § 3º, para o desempenho de sua função, o Perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como complementar o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias e outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da Perícia. Cabe neste momento observar que a elaboração do laudo é responsabilidade do Perito, sendo que, a partir da liberdade que o Perito e o assistente técnico dispõem para realizar o laudo ou o parecer, utilizadas as ferramentas aplicáveis e fundamentado na produção de provas idôneas, o laudo pericial – objeto final da Perícia Ambiental – apresentará: I – A exposição do objeto da Perícia; II – A análise técnica ou científica realizada pelo Perito; III – A indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV – Resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. No material on-line, o professor traz mais detalhes sobre as qualificações, funções e responsabilidades do Perito Ambiental! Introdução à Metodologia Utilizada em Perícias Ambientais Independente da metodologia aplicável ao caso ou escolhida pelo Perito para produção das provas pertinentes e confecção do Laudo Pericial, o processo segue a dinâmica apresentada na sequência. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Inicialmente, acontece a nomeação do Perito (art. 465 do CPC): “o juiz nomeará o Perito especializado no objeto da Perícia, e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo”. Logo após a nomeação, o Perito deve estudar os autos e elaborar uma proposta de honorários. Se não houver impedimentos, ciente da nomeação, o Perito apresentará a proposta de honorários, o seu currículo com a comprovação da especialização pertinente ao objeto da causa e seus contatos profissionais. As partes podem neste mesmo tempo indicar seus assistentes técnicos e elaborar quesitos a serem apreciados pelo Perito do juiz. Após a nomeação, o Perito deve retirar pessoalmente o processo no cartório da vara em que esse foi nomeado e iniciar os trabalhos da Perícia propriamente dita. A partir desse momento são feitos os contatos com os assistentes técnicos e os procedimentos para a realização da Perícia: análises de informações técnicas e documentos, laudos, vistorias, averiguação de fatos, visitas, entrevistas, coleta de testemunhos, registros fotográficos, análises laboratoriais, reuniões, enfim, o que for pertinente para o levantamento de provas acerca da causa. Essa fase do processo é também chamada de diligência e estará em curso até a entrega do laudo pericial, o que é feito em Cartório, juntamente com a devolução do processo. Após a entrega do laudo pelo Perito, as partes o analisam e os assistentes técnicos podem apresentar pareceres técnicos ou quesitos adicionais e de esclarecimento sobre o laudo pericial, podendo inclusive o juiz intimá- los a comparecer em audiência para prestar esclarecimentos. O juiz pode também determinar a realização de nova Perícia, quando a matéria não lhe parecer suficientemente esclarecida, como está previsto CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 no art. 480 do CPC, o qual em seu § 3º observa que a segunda Perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz apreciar livremente o valor de uma e outra. Na sequência, o juiz faz a apreciação da prova pericial de acordo com o disposto no art. 371 do CPC, indicando na sentença as razões da formação de seu convencimento, apresentando os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo Perito. Revendo a problematização Após estudar o conteúdo, vamos retomar as questões em relação à situação problema apresentada no início do tema: a área em questão pode ser utilizada para o desenvolvimento de uma nova atividade, como a construção civil? A nova ocupação da área poderia conter moradias? A requisição de uma Perícia Ambiental seria aplicável na resposta a essas questões? Considere as alternativas a seguir: a. Sim, a área pode ser utilizada para qualquer finalidade, visto já terem se passado 15 anos desde que os resíduos foram retirados do local, por isso, possíveis contaminantes de solo e água presentes naquela época já foram totalmente degradados. O local encontra-se livre de contaminação, pois como é sabido o meio ambiente possui capacidade de regeneração e recuperação de danos ambientais, especialmente em longos períodos de tempo. Não há necessidade de requisitar uma Perícia Ambiental. b. Sim, a área pode ser utilizada para construção civil, inclusive de moradias. Entretanto, o proprietário precisa fornecer ao comprador informações que comprovem que os produtos químicos armazenados no local, que eventualmente poderiam causar dano ambiental, foram removidos e destinados corretamente através de incineração. Devem ser fornecidos inventário dos produtos armazenados, certificado de destinação correta CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 fornecido pela empresa que incinerou os produtos e imagens fotográficas do local, demonstrando que a área está limpa e livre de qualquer tipo de contaminante. Não há necessidade da requisição de Perícia Ambiental. c. Não há como determinar se e para que fins a área pode ser utilizada, como construção de moradias, sem a avaliação criteriosa da existênciade dano ambiental e da extensão deste dano. As partes (o proprietário da área, o potencial comprador) ou eventualmente algum terceiro interessado no caso deve solicitar um profissional qualificado para realizar uma Perícia Ambiental e produzir um Laudo Técnico sobre a contaminação ou não da área, em função do armazenamento dos produtos químicos perigosos no local. Para conferir o feedback das alternativas, consulte o material on-line! Síntese Nesse tema, conhecemos o histórico da Perícia Ambiental e sua inserção no contexto atual, entendendo que ela é prevista no Código de Processo Civil como mecanismo de apoio ao juiz em sua tomada de decisão. Como o magistrado não precisa ter o conhecimento técnico das questões de controle e qualidade ambiental, danos ambientais e consequentes perdas ocasionadas por esses danos, é necessário que um profissional habilitado e qualificado avalie o dano ambiental, sua origem e consequências, elaborando uma prova pericial que possa subsidiar a tomada de decisão do juiz quanto ao litígio julgado. Essa figura é a do Perito Ambiental, que se vale de seu comprovado conhecimento técnico para auxiliar a justiça em casos de discussões acerca da manutenção da qualidade ambiental. Por fim, confira o vídeo de síntese do professor no material on-line! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Referências Cunha, S. B.; Guerra, A. J. T. Avaliação e pericia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 284p. Jaques, M. D. A tutela internacional do meio ambiente: um contexto histórico. Veredas do Direito, Belo Horizonte: 2014, v.11, n.22, p.299-315. Lazari, A. C.; Coutinho, L. E.; Heinen, M. I.; Maidana, M. H.; Maurer, R. R. Da prova pericial - comentários aos arts. 420 a 439 do CPC. 2007. Disponível em: http://www.tex.pro.br/home/artigos/71-artigos-nov-2007/5732-comentarios- aos-arts-420-a-439-do-cpc. Acesso em 13 de abril de 2016. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm Melo, R. F.; Brito, L. T. L.; Giongo, V.; Angelotti, F. M. Pesticidas e seus impactos no meio ambiente. Embrapa Semiárido, 2010. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/89981/1/Roseli.pdf OAB. Novo código de processo civil anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015. Pimenta, A. S.; Vital, B. R.; Nunes, G. S.; Jordão, C. P. Contaminação de pintores profissionais por metais pesados provenientes de tintas e vernizes. Química Nova,17(4), 1994. Disponível em: http://quimicanova.sbq.org.br/imagebank/pdf/Vol17No4_277_v17_n4_(1).pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 RDC 306/04 - Resolução da Diretoria Colegiada, RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/10d6dd00474597439fb6df3fbc4c67 35/RDC+N%C2%BA+306,+DE+7+DE+DEZEMBRO+DE+2004.pdf?MOD=AJP ERES Sirvinskas, L. P. Manual de direito ambiental. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Soares, G. F. S. A proteção internacional do meio ambiente. Imprenta, Barueri: Manole, 2003, 204p. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Atividades Historicamente, observa-se que a tutela legal sobre o meio ambiente foi sendo aprimorada em decorrência do contexto social e se modificando. No contexto social entre o final do século XIX e início do século XX, a proteção ambiental como matéria política e legal era: a. Muito importante, sendo a proteção ambiental objeto de vasta legislação, inclusive considerada avançada em comparação às leis vigentes em outros países. b. Eficiente, visto que o arcabouço legal e institucional da época era uma ferramenta eficiente para coibir as ações lesivas ao meio ambiente. c. Pouco significativa, pois a produção em massa pressupunha o uso dos recursos naturais de forma não regrada, visto que imperava na época a ideia de que o meio ambiente possuía capacidade de regeneração total, não havendo necessidade de preocupação com sua proteção legal. d. Pouco significativa, pois o conhecimento científico alcançado na época, especialmente na física e na biologia, assegurava a certeza da inesgotabilidade dos recursos naturais, os quais até hoje são muito abundantes. Após a estruturação da legislação ambiental brasileira, ocorrida a partir dos anos 1980, o meio ambiente passou a ser protegido administrativa, civil e penalmente. Surge então a Perícia Ambiental como: a. Ferramenta para instrução de procedimentos de investigação na determinação da ocorrência de danos ambientais advindos de condutas consideradas lesivas ao meio ambiente, bem como a mensuração destes danos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 b. Ferramenta para a implantação de planos de gestão que versavam sobre o meio ambiente e tinham como função principal a proteção ambiental e a prevenção da ocorrência de danos. c. Ferramenta de ordenamento jurídico com objetivo de solucionar os problemas decorrentes da degradação ambiental, instituída devido a necessidade da criação de uma hierarquia para a tutela do meio ambiente. d. Ferramenta instituída para coibir as ações lesivas ao meio ambiente, como através da aplicação de multas em decorrência de dano, uma vez que o arcabouço legal da época conferia ao juiz as funções de Perito ambiental. O Código de Processo Civil prevê o uso da Perícia Ambiental como ferramenta de produção de prova técnica ou científica em um litígio em qual das seguintes situações? a. Quando o dano ambiental não estiver previsto na legislação pertinente como dano passível de ser indenizado pelo causador. b. Quando uma das partes tiver situação financeira adequada para arcar com a remuneração do Perito indicado pelo juiz. c. Quando o convencimento do juiz acerca de determinado fato, no decorrer da causa, precisar da produção de uma prova que dependa de conhecimento técnico ou científico. d. Quando o dano ambiental for causado por um Perito ambiental no exercício da sua profissão e para julgamento da causa for necessária a valoração desse dano. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 A solicitação de uma Perícia Ambiental em determinado litígio acontece quando existem circunstâncias e fatos conflituosos, que envolvem conhecimentos técnicos ou científicos que não competem ao julgador. A quem cabe a solicitação de uma Perícia ambiental judicial acerca de um dano ambiental? a. Ao advogado do réu e ao oficial de justiça, uma vez que a Perícia judicial só pode ser solicitada após a condenação do réu. b. Ao juiz, ao Ministério Público, às partes ou a um terceiro com interesse no caso. c. À sociedade civil organizada, visto que a Perícia é solicitada através de ação popular e tem função de esclarecer a sociedade sobre um possível dano que afeta a comunidade. d. Somente ao Ministério Público, pois a Perícia judicial tem o objetivo de investigar se a decisão tomada pelo juiz foi correta. A função do Perito Ambiental é produzir uma prova técnica a ser utilizada em um determinado litígio, chamada Prova Pericial, que pode ser um laudo pericial ou um laudo com respostas a quesitos. Para exercer a função de Perito Ambiental em uma causa judicial, é necessário: a. Que o profissional tenha curso superior em Perícia Ambiental ou Auditoria Ambiental, registro em conselho de classe e esteja inscrito em um cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. b. Que o profissional tenha formaçãode nível superior em Direito, registro na OAB e conhecimento na matéria ambiental. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 c. Que o profissional seja idôneo e tenha participado de no mínimo 40 horas de Perícias ambientais como assistente técnico, não sendo necessária formação superior. d. Que o profissional seja legalmente habilitado, tendo formação de nível superior, registro no conselho de classe e esteja capacitado na matéria ambiental objeto da causa. Para conferir o feedback das atividades, consulte o material on-line!
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